CAPÍTULO 10

Do livro “Sabedoria Maravilhosa”

PERCEBENDO O ESPIRITUAL

A nossa percepção do espiritual é na verdade uma mudança nos nossos sentidos. Mesmo uma mudança insignificante nos nossos sentidos irá modificar significativamente a nossa percepção da realidade e do nosso mundo. Tudo o que nós sentimos é chamada a Criação. Assim como nossas sensações são subjetivas, o quadro que nós construímos também é subjetivo.

Como nós mencionamos antes neste livro, cientistas tentam constantemente, expandir os limites dos nossos sentidos (com microscópios, telescópios, todo o tipo de sensores, e assim por diante), mas todas estas ajudas não mudam a essência de nossas percepções. É como se estivéssemos aprisionados pelos nossos órgãos sensoriais. Toda a informação recebida entra através dos nossos cinco órgãos sensoriais: visão, audição, tato, olfato e paladar.

Toda a informação que recebemos em nossos sentidos passa por um tipo de processo interno que é sentido e acessado segundo um algoritmo: isto  é melhor ou pior para mim? Do Alto, nos é dada a oportunidade de criar um sexto órgão dos sentidos. Cabala ensina que a única coisa criada é o desejo de  sentir prazer e desfrutar. Os nossos cérebros são destinados somente ao desenvolvimento dessa sensação, medindo-a corretamente. O cérebro é uma ferramenta auxiliar, nada mais.

O resultado de estudar Cabala corretamente é uma abrangente e completa percepção do verdadeiro universo, tão clara, e tão mais nítida do que a nossa atual percepção do mundo. A percepção de ambos os mundos, nos dá uma inteira e compreensiva imagem, incluindo a força mais poderosa, O Criador, que rege o universo inteiro. Se nós estudarmos corretamente, usando fontes autenticas num grupo de pessoas com idéias idênticas, e sobre o comando de um autentico professor, nós podemos mudar qualitativamente os nossos  órgãos das sensações e descobrir o mundo espiritual e o nosso Criador.

Nosso estado inicial é tal, que não entendemos nem percebemos que algo está escondido de nós. No entanto, se nós começarmos a apreciar este fato durante o nosso estudo é sinal que avançamos na direção certa.

Depois de algum tempo, começamos a sentir uma Força Superior que estabelece contato conosco, nos coloca em situações diferentes, e as causas e efeitos dessas situações se tornam mais claras.

Eu começo a pensar, “Esta específica situação foi-me enviada pelo Criador para que eu possa deixá-la passar” ou “Talvez nessa situação, eu deveria me comportar diferente”. Este tipo de analise e autocrítica é exatamente o que nos transporta ao nível de Humano. Agora nos tornamos mais do que um mero animal que caminha com duas pernas. O beneficio aqui, é que quando começamos a sentir o Criador, nós somos capazes de ver quais de nossas ações são proveitosas para nós e quais são prejudiciais.

Quando compreendemos as causas e efeitos de certa ação, sabemos qual  será proveitosa para nós. Sabendo isso, naturalmente não faremos algo que nos traga um castigo, mas faremos sempre o que nos trouxer uma  recompensa. Então a revelação do Criador nos traz a chance de nos comportarmos corretamente em qualquer situação e receber beneficio máximo dessa situação. Essa pessoa é chamada uma “pessoa justa”. O justo percebe o Criador, a recompensa para todo o bem, assim como uma recompensa adicional por não ter violado um mandamento.

A pessoa justa é aquela que justifica o Criador. Ao longo do nosso caminho, como realizamos cada vez mais correções, recebemos mais e mais Luz. Esta Luz Interna é a nossa percepção do Criador. Com cada nova revelação do Criador, ascendemos à escada espiritual, um degrau de cada vez. Com os nossos “pés espirituais” firmes nesse degrau, nós então recebemos uma nova porção de Luz.

Finalmente, alcançamos um nível onde o resultado final  não  tem absolutamente nada a ver conosco. Pode ser bom ou mau para nós, mas continuamos a praticar aquele mandamento espiritual. Quando finalmente alcançarmos esse nível, veremos o Criador como uma bondade total e cada uma de Suas ações como sendo perfeita. Isto tudo acontece por alcançarmos certo grau na revelação do Criador.

Á medida que avançamos ao longo dos 6.000 degraus, nós percebemos que tudo o que o Criador nos faz e aos nossos amigos humanos, provem do desejo interminável de deleitar todos os seres criados.

Somos então dominados por um sentimento interminável de gratidão e desejo de agradecer ao Criador.

Todas as nossas ações espirituais são diretamente direcionadas para dar ao Criador. Em outras palavras, fazemos mais e mais para agradar ao Criador.  Isto é chamado de “condição de amor eterno e interminável pelo Criador”. Quando alcançamos este estagio, entendemos que o Criador só nos desejou o bem no passado.

No nosso corrente estado não corrigido, esta condição é virtualmente desconhecida. Na verdade nós culpamos o Criador por tudo que nos acontece, por chegarmos atrasados ao jogo da escola de nossos filhos, até ás grandes tragédias de nossas vidas. Nós temos tendência para culpar o Criador por não conseguirmos o que queremos. Foi o Criador que nos colocou em apuros e nos trouxe magoa.

O que descobrimos depois é que, a Luz do Supremo é consistente e imutável, mas quando essa Luz entra num desejo antagônico, ou seja, oposto, isso faz surgir em nós um sentimento antagônico. Espiritualidade é percebida nessa extremidade, entre as condições positivas e negativas que experimentamos.  No fundo, não devemos temer qualquer situação, mesmo que ela pareça ser negativa.

Muitas vezes, quando começamos os estudos da Cabala, de repente descobrimos problemas que eram previamente desconhecidos. Isto é porque aceleramos o processo de nosso crescimento espiritual. Se não tivéssemos iniciado os nossos estudos, levaríamos anos para percorrer um caminho que agora percorremos em meses, ou mesmo semanas.

Se, durante os nossos estudos e trabalho com os nossos amigos, ouvirmos corretamente, ou seja, com a intenção correta, começaremos a nos sentir mais e mais “cientes” daquilo que ouvimos e aprendemos, e prestaremos mais atenção. Iremos estudar o processo da criação, a progressão do mundo espiritual de Cima para baixo, com o fim de atrairmos essa Luz espiritual descrita no material que estudamos. Quando fazemos isso corretamente, essa Luz limpará gradativamente os nossos Kelim auto-centralizados, corrigindo-os  e convertendo-os assim em Kelim altruístas.

Quando estudamos com outras pessoas, muitas vezes encontrarmos estudantes que estudam há anos, aprendendo junto com estudantes que começaram a estudar alguns meses antes. No entanto, são ambos capazes de progredir no estudo sem dificuldade. É surpreendente como os estudantes de hoje, vêm com um desejo ainda maior de entender tudo. A razão para isso, é que as suas almas estão mais experientes, e estão mais bem preparadas para o processo.

Por que estudamos em grupo? Porque isso nos possibilita utilizar um recurso muito especial da Cabala. Ao estudar o material com outros que têm a mesma intenção, nos vinculamos com o desejo do grupo. Este vínculo permite tornarmo-nos humildes com respeito, criando um tipo diferente de aceleração. Uma pessoa que estuda num grupo, pode certamente atingir níveis espirituais após algumas horas, ao passo que estudando sozinha poderia levar anos.

 

Assim sendo, temos na realidade duas formas de acelerar a obtenção de nosso objetivo. Primeiro, é o estudo da Cabala, o qual move os nossos esforços em direção ao objetivo, de um processo inconsciente para um  processo consciente. Depois, temos o grupo, que acelera drasticamente o processo consciente. Usando esta técnica combinada, nós poderemos avançar espiritualmente literalmente milhões de vezes mais rápido do que  se tivéssemos tomado o processo inconsciente.

Existem algumas armadilhas a serem evitadas. Nos tempos atuais, a Cabala foi transformada numa moda passageira e corrompida, prometendo desde uma vida sexual melhor até como ganhar mais dinheiro. É claro, que os estudantes irão receber alguns benefícios espirituais pelos esforços, mas se a intenção  não é a de revelar o Criador, mas sim ter algum benefício mundano, eles então irão caminhar a passo de tartaruga.

Existem também fanáticos que na realidade não têm nenhuma idéia do verdadeiro propósito da Cabala. Nós os denominamos de “pseudo-Cabalistas”. Por essa razão, um estudante iniciante deverá estudar somente os textos autênticos  e  se  focar  num  estudo  altamente  direcionado,  num  grupo sério, liderado por um mestre. Na realidade existem vários estágios que passamos antes de descobrirmos a Cabala, mas os últimos estágios envolvem uma busca desesperada pelo espiritual.

Houve tempos em que o estudante se questiona se é aceitável estudar outros livros ou mesmo olhar para idéias diferentes que se dizem caminhos  espirituais, e a minha resposta é a mesma. Os Cabalistas sempre nos ensinaram que “Um deve fazer exatamente o que o coração lhe manda“. Pois, se outro conceito de espiritualidade está em sua mente, ele nem conseguirá chegar perto da concentração que será necessária para começar o estudo da Cabala de maneira apropriada. É muito melhor que uma pessoa tente  e consiga resolver essa questão agora, e depois, após algumas semanas, meses ou anos, regressar e trabalhar com a completa e correta intenção.

É importante encontrar fontes Cabalísticas autênticas,  cujos  conteúdos induzem pensamentos sobre o Criador e sobre o objetivo a alcançar. Então, não tenha duvida que irá alcançá-lo. A fonte que o desvia do verdadeiro objetivo, não trará nenhum beneficio. A Luz Circundante, Ohr Makif, é atraída de acordo com o seu desejo. A Luz não irá brilhar se o seu desejo não for direcionado ao objetivo genuíno.

Um exemplo disso sou eu mesmo. Tive o meu primeiro contato com a Cabala quando eu tinha uns 20 e poucos anos de idade. Eu sabia que estava procurando algo, mas não estava absolutamente certo do que era. Estudei durante uns tempos, mas depois parei e fui procurar outros caminhos para a espiritualidade que se diziam mais rápidos. Levou-me muitos anos a compreender sobre o que é a Cabala – achar uma forma de percebermos o espiritual. O termo Hebraico para isso é Hishtavut Tzura, equivalência  da forma. É precisamente este objetivo que precisamos alcançar, antes de começarmos seriamente tentar alcançar os mundos espirituais.

Veja, o mundo espiritual atravessa o mundo material e molda tudo o que existe nele. Em outras palavras, a raiz de tudo o que existe em nosso mundo começa no mundo espiritual. Ao entendermos essas raízes espirituais e a nossa interação com elas, poderemos estudar o nosso mundo corretamente, permitindo-nos evitar cometer muitos erros.

A maioria das pessoas ficam surpresas quando lêem o Talmud Eser Sefirot (O Estudo das Dez Sefirot) pela primeira vez e descobrem que o nascimento das almas é incrivelmente parecido com a concepção do ser humano no útero da mãe, incluindo o período da gestação, nascimento e amamentação.

Se o material fosse lido como uma novela, chegaríamos à conclusão que é  pura medicina. Começamos então, a compreender porque percebemos as consequências das leis espirituais de desenvolvimento, em nosso mundo.

Horóscopos, astrologia, previsões, não têm nada a ver com Cabala. Eles estão relacionados com o corpo e com as suas propriedades animais para nos ajudar a sentir coisas diferentes. Cães e gatos também podem sentir a aproximação de um fenômeno natural. Nos tempos atuais, muitas pessoas correm para as técnicas da “Nova Era”, tentando mudar a si mesmas, suas vidas e seus destinos. De fato, o destino pode ser mudado, se você exercer uma influência em sua alma e aprender como controlar isso. Mas novamente, isto não tem nada a ver com a revelação do Criador, que é acerca dos desejos dentro de nós, e quem desejamos deleitar através deles.

Existe outro fenômeno único quando estudamos a Cabala. Assim que ficamos familiarizados com as leis do mundo espiritual, verificamos que entendemos mais facilmente as leis de nosso mundo. Ciências tais como Física, Química, Biologia, etc., na realidade se tornam mais simples e claras  quando examinadas pelo ponto de vista da Cabala. Um Cabalista sonha em ascender acima do presente nível, mas não em descer. Cabalistas podem perceber as raízes de desenvolvimento de todas as ciências, se eles o desejarem.

Baal HaSulam, Rav Ashlag, muitas vezes escreveram sobre a correlação entre a ciência espiritual e material. Um grande Cabalista, Vilna Gaon, gostava de fazer comparações entre leis espirituais e materiais. Ele, até escreveu um livro de Geometria. Conhecedor de um dos níveis mais elevados do  mundo espiritual, ele era capaz de mostrar uma ligação diretamente desse mundo até á ciência de nosso mundo.

Mas para aqueles como nós, que não temos a menor idéia do mundo espiritual, devemos ler esses livros, pronunciar as palavras, e tentar entender  o significado delas. Pronunciando somente essas palavras com o desejo correto no coração, nós estamos nos conectando invisivelmente com o mundo espiritual, atraindo Ohr Makif (Luz Circundante) do mesmo nível onde o autor estava.

Quando lemos os livros de Cabalistas genuínos, permitimos que a Ohr Makif nos conduza em frente.

A diversidade de níveis e tipos de almas Cabalistas é responsável pelos diferentes estilos dos trabalhos Cabalistas, assim como pelos vários níveis da intensidade da Luz que atraímos enquanto os estudamos. No entanto, a Luz emanada dos vários livros da Torah, incluindo, a sua parte especial, a Cabala, sempre existe.

O Cabalista Moisés escreveu um livro sobre a peregrinação de seu povo pelo deserto. Se nós só levarmos literalmente estas escritas como histórias, então o Torah não terá nenhum impacto sobre nós. Mas se a estudarmos a fundo e compreendermos o que realmente está lá descrito, Os Cinco Livros tornam-se uma revelação Cabalista, onde todos os níveis de entendimento do mundo espiritual são esclarecidos. Isto é exatamente o que Moisés queria transmitir.

O mesmo acontece com o Cântico dos Cânticos escrito pelo Rei Salomão.  Tudo depende de como é lido e interpretado. Pode somente parecer uma canção de amor ou uma revelação espiritual, que O Zohar descreve como a ligação mais alta com o Criador.

Nós criamos constantemente diferentes desejos, sejam eles quais forem. O nosso desenvolvimento depende do nível desses desejos. No começo, os nossos desejos estão no nível mais inferior, chamados desejos animalescos. Mais tarde, esses desejos são seguidos pelos da riqueza, honra, posição social e assim por diante. Num nível mais elevado estão os desejos pelo conhecimento, música, arte, cultura, etc. Finalmente, encontramos os desejos mais elevados pela espiritualidade. Tais desejos aparecem gradualmente nas almas depois de muitas re-encarnações neste mundo ou, como nós dizemos, com o desenvolvimento das gerações.

Primeiro, as almas que viviam exclusivamente na sua natureza animal, re- encarnaram em nosso mundo. As almas das gerações seguintes experimentaram desejos por dinheiro, honra e poder. Finalmente, esses  desejos deram lugar aos desejos pelas ciências e para algo mais elevado que  a ciência não pode prover. Descobrir esses desejos significa descobrir o caminho para perceber o espiritual.

 

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