Hukat (O Estatuto)

Do livro “Divulgando Uma Porção”

(Números, 19:1-22:1)

 

Sumário da Porção

A porção, Hukat (O Estatuto), lida com a continuação da jornada de Israel, com o Mitzvá (mandamento) da vaca vermelha (novilha), as leis da impureza dos mortos e o episódio conhecido como Mei Merivá (águas de Meribá [Hebr.: discutir]). Neste episódio, os filhos de Israel queixam- se da falta de água e o Criador ordena Moisés a falar para a rocha. Contudo, em vez de falar, ele golpeia a rocha. Moisés e Arão são punidos por este ato ao serem banidos de entrar na terra de Israel. O povo de Israel alcança a terra de Edom e o rei de Edom proíbe-os de passarem pelo seu território.

Arão morre e Elazar, seu filho, sucede-o como alto sacerdote. O povo de Israel continua a queixar- se das dificuldades no caminho e o Criador envia-lhes cobras para os morder. Moisés faz uma cobra de cobre e mostra-a ao seu povo e qualquer um que veja a cobra de cobre é curado.

O povo de Israel alcança a fronteira da terra de Moabe e canta “o cântico do poço”. O povo combate com Siom, Rei dos Amoritas e Ogue, Rei de Basã. Israel vence e conquista sua terra.

 

Comentário

Esta história detalha a principal correção nas correções das almas. Porque nossas almas são inicialmente o desejo de receber e de desfrutar, em prol de as corrigir, devemos inverter a intenção desse desejo para a doação. Devemos corrigir nossas almas para terem uma direção de doar, de amar os outros, pela qual nos assemelharemos ao Criador. Isto dotará Dvekút (adesão) com o Criador, o propósito da Criação, para todo e cada um da nação. É por isso que precisamos nos misturar e nos tornarmos integrados com a força de doação, chamada Biná e com a força de recepção chama de Malchut.

Conectar as duas forças – as duas Sefirot supracitadas – resulta em quatro opções: Malchut em Malchut, Malchut em Biná, Biná em Biná e Biná em Malchut. Quando Biná está dentro de Malchut, essa é a força má pois Malchut governa Biná e quando isso acontece, todas as forças do mal emergem.

Embora estas forças possam ocasionalmente parecer boas, elas aparecem somente para nos atrair e atiçar, nos conduzindo para o mal. Essa é uma Klipá (casca/pele) especial, astuta e retorcida, que está em Malchut. É assim que Malchut adquire Biná e a usa. É também o porquê de ter sido dito que o mal pode existir no mundo somente se ele inicialmente aparecer como bem.

Inicialmente, as únicas forças que existem no Homem são inanimado, vegetativo e animado, ou seja, Malchut no nível de inanimado, vegetativo e animado. Esta é uma vontade de receber direta. Aqueles que possuem o poder de Biná dentro da vontade de receber tornam-se muito espertos e muito retorcidos. Tais pessoas sabem como aparentar dar aos outros e os servir, embora na realidade estejam a tirar dos outros e a usá-los tanto quanto possível. É assim que as forças negativas operam quando a força de doação é “tomada em cativeiro” pela força de recepção.

Inversamente, quando elevamos Malchut a Biná e nos tornamos incluídos nela – quando  queremos permear Biná e estar lá como servos, como um embrião no ventre da sua mãe – Biná é chamada “Ima (mãe) superior”. Nessa altura, queremos nos desenvolver somente pela integração, ao sermos dominados pelo poder de doação sob a “proteção” do poder do Criador. Estas são boas forças, que gradualmente pegam em pedaços do desejo egoísta e os corrigem.

A porção, Hukat, começa com a vaca vermelha, que corrige alguns dos desejos e corrompe outros. É esse pêndulo entre Biná e Malchut que purifica o impuro e corrompe o puro. Esse tópico é escrutinado por toda a porção em diferentes níveis, tal como as cinzas da vaca, o poço e o fosso.

O fosso é seco, absorvendo todas as coisas, mas permanecendo completamente vazio. Por outro lado, um poço está cheio de água. Isto compara-se a Biná em Malchut e Malchut em Biná. Se o poço está vazio, ele é Malchut. Se há água no poço, esse é o tipo certo de integração. E quando Malchut ascende a Biná, a deficiência de Malchut sobe a Biná, aos céus e traz água dos céus, que é a chuva.

Posteriormente, a serpente é mencionada. A serpente não é simplesmente a vontade de receber; ela é uma pessoa em quem há integração de Biná, oposta à qual há a serpente de cobre.

Na história das águas da disputa (Meribá), há a rocha, o solo. Se estamos integrados em Malchut e falamos com ela no nível do deserto (o nível de Biná), suscitamos água dela. Inversamente, aqueles que golpeiam a rocha suscitam águas da disputa. Esta água é chamada ”águas de Gvurot”, que é dominada por Malchut. Furacões, dilúvios e tsunamis compartilham a mesma raiz que as forças dominadas por Malchut.

 

Perguntas e Respostas

Qual é o sentido da vaca vermelha?

A palavra, Adumá (“vermelha”) vem da palavra, Edom, ou seja, conectada à Adamá (terra). A vaca simboliza o poder de Biná, dando leite, que é um dos símbolos do festival de Shavuot no qual comemos lacticínios. Ela é um símbolo do poder de dar.

Contudo, quando conectada a Malchut, que é Edom, ela tem os poderes de se misturar com Malchut oposta ao poder de Biná. Quando a força de doação e a força de recepção – Biná e Malchut, estão juntas, tudo depende do indivíduo. Se desejamos ser corrigidos, alcançar a doação, combinar estas forças em uma combinação conhecida como “vaca vermelha” permite-nos suscitar a força da doação e nos tornarmos purificados.

Inversamente, se somos puros, a mistura de Biná e Malchut tem o efeito oposto. Nós precisamos entender que esta forma oposta é somente nossa descoberta que estamos em um bom grau. Isto é, nós descobrimos um desejo adicional com o qual não podemos trabalhar.

Qual é o sentido dos atos de purificação?

Estes são rituais, uma espécie de idolatria. Não é assim tão simples achar uma vaca vermelha, a queimar e então lidar com suas cinzas. A vaca vermelha não existe no nosso mundo, mas ainda procuramos.

Diz-se no passado, que realmente havia uma vaca vermelha no tempo do Templo, quando a nação inteira estava em um grau espiritual usando a sabedoria da Cabala. Está escrito, “Eles verificaram de Dan a Beer Sheva e nenhum ignorante (pessoa por corrigir) foi achada de Gevat a Antipris e nenhum menino ou menina, homem ou mulher foi encontrado que não fosse cuidadosamente versado nas leis da pureza e impureza (correções de acordo com a lei de Moisés) ”. *

Isto é, as leis de impureza e pureza (Tuma’á e Tahará, respectivamente) explicam precisamente o que significa trabalhar em prol de receber e o que significa trabalhar em prol de doar, com todos os desejos, todos os problemas e todas as comunicações com todos e com a Divindade.

No passado, a maioria das pessoas alcançavam realização completa com exceção de alguns poucos, como sabemos da história sobre as disputas que tomaram lugar tão longe no tempo como o Primeiro Templo. Aqueles que alcançaram um grau espiritual conheciam as leis de impureza e pureza: eles estavam no nível de conexão de Biná e Malchut, um nível conhecido como a “vaca vermelha (novilho) ”.

A Torá detalha uma ordem de correção e instruções de como corrigir a alma. Estas pessoas viviam por ela e corrigiram-se a si mesmas do estado do “Egito” para o estado de “recepção da Torá”, avançando pelo “deserto” e para a “terra de Israel”, nomes que representam graus espirituais.

Se Edom é Biná, porque o rei de Edom não deixou Israel passar?

A vaca vermelha é Biná. A terra de Edom é a conexão entre Biná e Malchut, como deve ser de acordo com os graus. O rei de Edom é um desejo que se senta dentro de nós. Embora o povo de Israel desejasse atravessar a terra de Edom, eles primeiro deveriam entrar pela Klipá (casca/pele) que está em Edom, o rei de Edom. Eles devem atravessar a mistura de Malchut e Biná no grau de Edom. Essa Klipá não os deixa passar. A passagem depende da correção – ora eles dão a volta a Edom, ou eles lutam e a atravessam.

É esse um desejo com o qual não conseguimos trabalhar?

Ele é o nosso próprio desejo. O Rei de Edom reside dentro de nós.

Moisés, o maior dos profetas, conduz a nação. Ele é a qualidade mais sublime do homem e parece que ele não faz aquilo que o Criador lhe mandou fazer.

De fato, não é que ele desobedeça ao Criador. Em vez disso, há a nação, ou seja, desejos individuais, há Moisés e há uma possibilidade de absorver “águas de Biná” ao elevar Malchut (a vontade de receber) para Biná. Dado o estado do povo nessa altura, Moisés não conseguiu reunir a força para atrair todos os seus desejos, que são chamados “povo” ou “nação”, para o nível de Biná. Assim, em vez de subir um grau e falar e agir lá, ele atua no grau de realizar ações. Esta foi sua transgressão.

Porque parece que ele foi punido?

Todas as punições na Torá são correções. Embora seja claro que um deva alcançar o nível de falante – um nível de conexão entre Malchut e Biná que é mais simples, curto e mais correto – nós não conseguimos achar outra maneira de correção, mas realizá-la de fato. Isso é similar a Moisés usar seu bastão.

Isso é como uma experiência, onde nos são dadas ferramentas para levar a cabo a tarefa, todavia devemos falhar?

Certamente nós temos de falhar. Embora pareça que somos punidos nas nossas correções, na verdade, não há punições.

Mas quando Moisés desejou entrar na terra de Israel, ele foi recusado.

É claro que ele foi recusado. A terra de Israel não é o grau de Moisés. Moisés é “o fiel pastor”, cujo mais alto grau é Biná. Deve haver uma melhoria aqui, que deve ser realizada pelos seus seguidores, aqueles que não são da geração do deserto, tais como Yeoshua.

De O Zohar: Eles Viajaram de Montanha para Montanha

“E Israel viajaram … e eles foram atrás da serpente inclinada que governava na terra de Edom”. Zohar para Todos, Zohar Chadásh, Hukat (O Estatuto), item 3

“Inclinada” significa que ela continuamente se torce e caminha à frente de uma pessoa, então é impossível discernir o que é bom e o que é mau nela.

Eles pareciam se ter “desviado” da montanha. Na verdade, eles não conseguiam subir a montanha devido aos pensamentos durante o caminho, as dúvidas na fé e na realização da doação mútua e unidade. E porque eles foram incapazes de alcançar, eles “deram a volta” a essa situação. Por um lado, não é o caminho certo. Por outro lado, se eles não tivessem circulado a montanha, não conseguem avançar acima dela. Por agora, este é o caminho – pelo endurecimento do coração. A correção é sempre feita sobre um desejo egoísta com o qual é muito difícil de lidar, mas após o qual um obtém abundância.

De O Zohar: Eles Viajaram de Montanha para Montanha

“Eles se queixavam de tudo – da Torá oral, da Torá escrita … pois não há pão, Torá oral, nem água, Torá escrita e as palavras da Torá oral eram triviais aos seus olhos”. Zohar para Todos, Zohar Chadásh,

Hukat (O Estatuto), item 3

“Triviais” significa que a Torá oral não era muito importante. Este era o problema, dado que a Torá oral chega até nós do alto, do grau de Zeir Anpin, enquanto a Torá escrita está em Malchut. Isto cria uma desconexão entre Zeir Anpin e Biná para a recepção, para receber a qualidade de doação. Também, está claro que eles não tinham a força e deste modo deram a volta ao Monte Horebe.

A respeito das serpentes, conhecemos a história da serpente e de Adão e a história de O Livro do Zohar sobre a serpente que morde o veado e se retira. Contudo, a porção diante de nós apresenta outro aspecto: uma serpente de cobre que cura qualquer um que a veja.

Nós curamos os defeitos em nós, nossos egos, de acordo com o modo como nos conectamos à serpente, pelo modo como olhamos para ela e retiramos dela a força que queremos. Esta é a vontade de receber que podemos extrair para nossos Kelim (vasos) e o desejo de doar para nossas intenções, pelo qual somos corrigidos.

Nosso avanço é de acordo com nossos egos, através de formas de serpentes – uma serpente inclinada ou uma serpente de cobre – que transformam todos esses desejos que presentemente se escondem dentro de nós e que são inicialmente cruéis e astutos, em prol de receber – da primeira serpente de Adão – em desejos com a direção de doar.

Agora, como então, não há nada pior que a cobra, o veneno, a força destrutiva. Devemos transformar o poder da serpente em uma força curativa, tal como no símbolo da medicina, porque curativo vem do mesmo lugar. É tudo uma questão de abordagem: se soubermos como usar essa força corretamente, ela é uma força curativa; se não soubermos como a usar corretamente, ela é uma poção da morte.

É a serpente um mensageiro do Criador?

A serpente é nossa vontade de receber que vem do Criador. A Torá, que é chamada “a poção da vida” e “a poção da morte”, também vem do Criador. Nos nossos desejos, intenções, todas as coisas e em detalhe, há o bem assim como o mal e nós podemos usá-los para o melhor ou para o pior.

Está escrito que todos amavam Arão até mais do que amavam Moisés. O que é a qualidade de Arão dentro de nós e o que significa que algo morre?

Os sacerdotes estão no grau da ação; eles são o poder dentro de nós que na realidade executa as correções. Moisés é a única força que se conecta ao superior, ao próximo grau, à Divindade, enquanto Arão prepara as ações e as leva a cabo. É por isso que o seu trabalho inteiro é o Templo.

Então e seu filho, que foi nomeado depois dele? É este trabalho hereditário?

Há dois graus, tal como no nosso mundo há um costume que o filho herda tudo do pai. Assim é na realeza, até na biologia, nos genes.

Parece que a história se repete a si mesma: há uma vontade de receber que precisa correção e precisa receber a luz e se transformar da recepção na doação. Por que então há todas estas subtis diferenças, como se cada porção fosse uma história diferente por completo?

Certamente, a única coisa que foi criada é a vontade de receber. Esse desejo é usado de forma egoísta e a Torá descreve seu processo de correção. A vontade de receber contém 613 “sub-desejos”, todos os quais devem ser alterados de serem usados de forma egoísta para serem usados de forma altruísta – pelo bem dos outros, pelo amor pelos outros. Isto é chamado “observar 613 Mitzvot (mandamentos) ”. A Torá inteira consiste de instruções pelas quais podemos receber luz nestes desejos corrigidos, uma luz chamada “Torá”, ou “a revelação da Divindade”.

Deste modo, estas não são subtis diferenças, mas graus consecutivos que aparecem um de cada vez de um modo de causa e consequência. Em cada fase, corrigimos todos os 613 desejos de “No princípio” até a “Aos olhos de toda Israel”, as palavras finais do Pentateuco. Somente então o concretizamos e nos tornamos na realidade Israel – Yashar El (direito a Deus).

 

Termos

Mákom (lugar)

Um “lugar” é um desejo. Cada desejo é um lugar no qual algo aparece, seja bom ou mau.

Pureza

Este é o poder da doação.

Impureza

Este é o poder da recepção.

Morte

“Morte” é a incapacidade de trabalhar em prol de doar.

Água

“Água” é uma força que reanima a vontade de receber e transforma sua intenção da recepção para a doação.

Uma Rocha

Uma “rocha” é uma vontade de receber que precisa ser corrigida para que possa ser usada em prol de doar, ou seja que um pode usar a água que sai dela no ato da doação. Há dois modos de ação para realizar um ato de doação: 1) golpear a rocha, que são águas de Méribá (disputa) ou águas de Gvurot, 2) falante, que são águas de Chassadim (misericórdia), águas de doação, a água da vida.

Uma Fronteira

Uma “fronteira” é um lugar onde um deve parar a sua ação de doação por falta de força para a direcionar em prol de doar. Ele é um ponto onde um se deve restringir a si mesmo e se refrear de usar mais o seu desejo.

Uma Serpente

A vontade de receber egoísta que destrói uma pessoa e a consome é a “serpente”. A serpente existe no núcleo da vontade de receber existente em cada pessoa.

Curativo

“Curativo” é uma correção. Se usarmos a mesma serpente corretamente, em favor das vidas das pessoas, ela torna-se uma boa força. Está escrito, “Eu criei a inclinação ao mal, Eu criei para ela a Torá como tempero”, pois “a luz nela o reforma”, ou seja reforma a serpente. Isto é, a inclinação ao mal torna-se uma boa inclinação.

Herança

“Herança” é aquilo que recebemos de um grau superior, do pai ou do avô. Na espiritualidade, também, há graus. Nós recebemos força de um grau superior, uma força que nos deixa ascender; isso é chamado “herança”.

Este é o Estatuto da Lei

“As criaturas foram criadas com a natureza de serem receptoras … Uma vez que é impossível ir contra a Natureza, Ele nos deu o conselho que através da Torá e Mitzvot seremos capazes de transformar a natureza dentro de nós”. ** É por isso que as leis da Torá são consideradas leis somente quando a inclinação ao mal questiona … e então um precisa assumir sobre si mesmo tudo como um estatuto, que é Chassadim, doação, onde tudo é somente acima da razão, que é chamado “fé”.

 

* Rav Baruch Ashlag, Os Escritos do Rabash, vol. 3, “Este É o Estatuto da Lei, nº 2” p 1825.

** Talmude Babilônico, Maséchet Sanhedrin, p 94b.

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