Capítulo 12

Do livro “Sabedoria Maravilhosa”

Conclusões

Todas as escrituras sagradas descrevem os sentimentos que nós esperamos viver. A mensagem é sempre a mesma: devemos preferir a espiritualidade do que as tentações do mundo material, e louvar ao Criador. O Criador não precisa dos nossos louvores, porque ele é totalmente isento de egoísmo.

A única coisa que Ele deseja é preencher cada um de nós com prazer. Isto é proporcional ao nosso desejo de escolher Ele entre todas as outras coisas, e às nossas aspirações para adquirir qualidades iguais às Dele. A glorificação do Criador é uma indicação da correta orientação do Kli. O prazer de se conectar com o Criador pode se tornar infinito, eterno e perfeito, e só pode ser restrito apenas pela intervenção do ego da pessoa.

Altruísmo é uma qualidade específica, um meio para corrigir o Kli. Egoísmo não nos traz nada de bom ou vale a pena. É obvio, que quanto maior ele for mais as pessoas se sentirão insatisfeitas. Os países mais desenvolvidos têm muitas vezes um numero alarmante de suicídio entre os jovens e velhos.

Pode-se dar tudo a uma pessoa, mas isto por vezes resulta da falta de apreciação do recipiente pelas coisas mais simples da vida. Apreço (Gosto) é sentido somente quando o sofrimento e o prazer entram em contato. A realização de um prazer sacia o prazer de receber algo. O mandamento do Criador de mudar a natureza egoísta do Kli para altruísta é dado para nosso benefício, e não para o Seu interesse.

A nossa presente condição é chamada de Olam Hazeh (Este Mundo), mas a nossa próxima condição é o Olam Haba (Mundo Vindouro). Este Mundo é o que sentimos no presente momento. O próximo mais elevado, sentimentos percebidos conduzirão à percepção do Mundo Vindouro.

Mesmo se cada estudante atendesse um curso curto de Cabala e depois fosse embora, esses estudantes ainda continuariam recebendo algo que se manteria vivo dentro deles. Cada um sabe dentro de si o que é a coisa mais importante na vida. As pessoas são todas diferentes. Algumas nasceram mais inteligentes, e são mais rápidas em adquirir sucesso nos negócios e na sociedade.  Frequentemente tornam-se ricas e começam a explorar os outros.

Outras nascem preguiçosas, crescem e se desenvolvem devagar. Elas não são muito afortunadas. Algumas podem até trabalhar muito mais do que os seus vizinhos espertos, mas conseguem pouco em retorno. Não podemos avaliar os esforços de cada um neste mundo, pois eles dependem de um grande numero de qualidades interiores com as quais nascemos. Não existem aparelhos que possam medir os esforços internos e morais de um individuo, nem os físicos.

Baal Sulam (Yehuda Ashlag) escreve que aproximadamente 10% das pessoas deste mundo são altruístas. Estas são pessoas que recebem prazer por ajudar outras pessoas. Tal como um egoísta pode até matar por não receber, um altruísta pode até matar por não poder dar. Dar é somente um meio de receber prazer para esta pessoa.

Tais pessoas são de certo modo, também egoístas, porque a sua intenção é receber algo como resultado da sua doação. Naturalmente, também elas deverão passar pela correção.

Em relação ao espiritual são todas iguais. Elas devem percorrer um longo caminho com o intuito de perceber o mal inerente dentro delas, por não serem genuinamente altruístas. Este é o momento em que elas percebem que são egoístas. Quanto mais grosseiro e egoísta for um individuo, mais perto estará de agarrar a oportunidade de se mudar para a espiritualidade. Neste caso, o egoísmo estará tão maduro quanto imenso.

Agora, mais um passo adiante é necessário: perceber que esse egoísmo é nocivo para nós. Devemos então implorar ao Criador, que mude a nossa intenção de receber para o nosso próprio bem, para, receber para o bem do Criador.

A qualidade da vergonha aparece em Malchut de Ein Sof (Reino do Infinito) quando percebe como Keter (Coroa), Behina Shoresh (Fase da Raiz), é. É a sensação do contraste acentuado entre a Luz e ele mesmo. Malchut não distingue a Luz, somente as características e propriedades que são despertadas nele pela Luz.

A Luz por si só não possui atributo nenhum. Qualquer atributo que Malchut sente, é o resultado da influência que a Luz exerce sobre ele. Todas  as reações do organismo humano são úteis e necessárias, quer falemos do organismo espiritual ou material.

O nosso egoísmo é muito esperto. Se existirem desejos impossíveis de satisfazer, ele os suprime para evitar sofrimento desnecessário. No entanto, no momento em que certas condições surgem, esses desejos reaparecem. O acima mencionado é verdadeiro mesmo para uma pessoa fraca, doente ou velha, que não possui nenhum desejo especial exceto um: se manter viva. O organismo suprime os desejos que não serão realizados.

A evolução do mundo está dividida em quatro estágios de Ohr Yashar quando Behina Aleph se torna em Bet ,Bet em Gimel e assim por diante. Mas quando Malchut de Ein Sof se forma, absorve todos os desejos dos Sefirot superiores, os quais vivem em Malchut e não mudam de nenhuma forma. O fato de outros mundos se formarem mais tarde, não testemunha a mudança dos desejos, mas sim o desenvolvimento das intenções.

Dependendo da intenção, diferentes desejos são ativados. Mas os desejos em si, não mudam. Nada novo do que já estava lá, é criado. É o mesmo com os pensamentos que temos hoje, mas que não tivemos ontem.

Eles já estavam lá, mas ontem eles estavam ocultos de nós. Tudo dentro de nós está num estado latente, e existe um tempo para a manifestação de cada ação. Nada de novo é criado.

É impossível transformar duas coisas diferentes, uma na outra. Por exemplo, é impossível mudar natureza inorgânica em natureza orgânica, ou seres do reino vegetal em seres do reino animal, e assim por diante.

Classes intermediárias existem. Por exemplo, a meio da evolução entre o vegetal e o animal existem os corais. Entre o vegetal e o animal existe um animal chamado “O Cachorro do Campo”, que se alimenta do solo. O macaco está entre o reino animal e o humano. Pode não ser simplesmente um animal, mas ele também não é considerado um ser humano.

A única transformação que pode ocorrer é quando uma faísca divina  atrai o espiritual e cria o desejo de obter e alcançar algo superior. Então, neste estágio, esta criatura de duas pernas se torna um Homem verdadeiro. Existem muito poucas pessoas que podem ser chamadas de “Homem”, do ponto de vista Cabalístico.

O desenvolvimento da ciência e da tecnologia está destinado a chegar a uma eventual paralisação completa, que nos leva à conclusão que tal não é o objetivo principal. Mas primeiro que tudo, este estado de paralização completa tem de ser alcançado.

Cabalistas sempre organizaram grupos de estudantes. Sob nenhuma circunstância esses estudantes são avaliados ou comparados de acordo com o seu desejo de estudar. As pessoas são antecipadamente criadas com certos desejos e ninguém sabe o porquê de se ser criado dessa forma, ou o porquê  de os desejos de outrem serem ostentados de maneira diferente.

Antes da formação de um grupo permanente, seleção e graduação são feitas. Ninguém, exceto Chaim Vital, entendeu o Ari perfeitamente. O Ari, Rav Isaac Luria, viveu em meados do Século XVI e ensinou em Safed.

É sabido que Chaim Vital começou o estudo seguindo o novo método criado pelo Ari. Já existiam grandes Cabalistas nesse grupo do Ari, no entanto ele transmitiu exclusivamente tudo a Chaim Vital. A maneira como um mestre de Cabalá ensina, depende do tipo de almas que descendem a este mundo.

Antes do Ari, existiam outros sistemas e métodos de ensinar. Seguindo  a revelação da metodologia do Ari, é possível para todos estudar, só é necessário um desejo genuíno. Baal HaSulam, Rav Yehuda Ashlag, não modificou o sistema do Ari, ele somente o alargou. (o ampliou) Escreveu comentários mais detalhados dos livros do Ari e d’ O Zohar.

Desta maneira, aqueles da nossa geração, que queiram estudar Cabala e chegar perto do reino espiritual, podem entender a essência interna do material estudado e podem assim estabelecer uma analogia ao lerem a Bíblia (Os Cinco Livros de Moisés, Os Profetas e As Escrituras).

As almas que desceram a este mundo antes do Ari percebiam o espiritual de modo puramente extrínseco (algo que vem de fora). Depois da morte do Ari, almas começaram a descer, estudaram e analisaram-se a elas mesmas e o mundo espiritual por meio de um método espiritual e cientifico. É por isso, que os livros editados antes do Ari, são escritos como uma narrativa.

Os livros subseqüentes aos ensinamentos do Ari, como por exemplo: O Estudo dos Dez Sefirot foi escrito usando termos como Behinot, Partzufim, Sefirot e Olamot. Isto é uma engenharia psicológica, uma aproximação  cientifica à alma.

Cada ciência possui a sua própria linguagem. Se o Cabalista não é um cientista ele ou ela não será capaz de descrever os diferentes fenômenos usando a terminologia científica exigida. O Cabalista percebe as verdadeiras leis do universo, que são os alicerces da essência material e espiritual de todas as coisas.

Em que linguagem poderia alguém escrever a correlação entre dois objetos? E qual é o relacionamento entre objetos espirituais? Como se pode descrever a força espiritual que une este mundo inteiro?

Nenhuma formula específica, neste mundo, consegue transmitir isso tudo. No mundo espiritual, o Cabalista pode ser capaz de passar todas as suas percepções. Mas como podem essas percepções estarem disponíveis a um leigo? Mesmo que fosse possível, de alguma forma narrá-las, nada poderia ser aplicado no nosso mundo até que se mude a nossa natureza egoísta.

Se, as pessoas pudessem mudar os seus atributos para um nível superior, elas seriam capazes de se comunicarem entre elas numa linguagem espiritual e de realizarem ações espirituais. A pessoa recebe e sofre de acordo com o nível em que consegue suportar. Para se subir de nível espiritual, uma tela (Masach) é necessária, o que não é uma tarefa fácil.

Nós estamos presos num círculo vicioso, do qual não podemos escapar. Assim, ignoramos o que está além desse circulo. É por isso que a Cabala é chamada de “ciência oculta”, para aqueles que não sabem como funciona.

Na sua Introdução ao Livro d’ O Zohar, o Cabalista Baal HaSulam fala sobre os quatro níveis do conhecimento: I- Substancia II- Forma revestida em substancia, III- Forma Abstrata e IV- Essência. A ciência só pode estudar substancia e a forma revestida em substancia. Forma sem substancia é uma concepção puramente abstrata, e não se presta a uma analise apurada. A última, essência, que anima objetos e provoca reações, é desconhecida.

O mesmo se aplica ao mundo espiritual. Mesmo um grande Cabalista pode, enquanto estuda algo espiritual, perceber a substancia e a sua composição em qualquer forma, mas, nunca a forma sem a substância.

Finalmente, quando os Cabalistas atingem certo nível requerido, recebem um presente do Alto: a revelação dos segredos do Universo.

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