Revelado e Oculto
Do livro “Cabala, Ciência e o Sentido da Vida”
A diferença entre revelado e oculto nesse mundo e no mundo espiritual é somente em relação a nós. Tudo o que nós ainda não conhecemos – neste mundo, também – é chamado de “oculto”. Se o que é desconhecido torna-se conhecido, ele se torna revelado. Desse modo, a qualquer momento nós estamos tanto no revelado como no oculto. A diferença entre este mundo e o mundo espiritual está na maneira que adquirimos as formas e padrões da percepção da realidade.
O mundo espiritual é uma realidade onde os padrões para percebê-la não vêm naturalmente, de dentro de nós ou do ambiente. Como a realidade espiritual age de acordo com leis opostas à nossa lei natural, onde nós existimos atualmente, o mundo espiritual exige que invertamos nossas atitudes. Porém, onde poderemos encontrar a energia “oposta” para construir “formas opostas”. Se nós somos naturalmente formados para construir formas egoístas, como poderemos construir internamente alguma forma altruísta e perceber a realidade altruísta?
Tal inversão precisa de um processo especial, chamado Segula (mérito). Segula refere-se a um processo indireto que atravessa o Sistema Superior e depois retorna ao indivíduo. Ao utilizar os estudos Cabalísticos, a pessoa se aproxima do pensamento altruísta Superior. Esse Pensamento não age no desejo de receber, ou no ego, mas sim no ponto altruísta: o ponto no coração.
A equivalência de natureza entre o ponto no coração e o Pensamento Superior cria uma conexão entre eles e eles possuem a mesma natureza. O Pensamento Superior age nesse ponto e o molda em vários padrões, que nós percebemos como parecendo existir fora de nos, no mundo espiritual.
Na verdade, essas Formas não existem fora de nós, mas dentro de nós. Assim como a ilusão de que tudo que vemos nesse mundo está fora de nós, o mesmo ocorre no mundo espiritual. Porém, quando nós adquirimos mais Formas espirituais, nós conseguimos entender e conhecer o Pensamento que desenvolve e constrói essas Formas dentro de nós.
Durante o processo de conhecimento do Pensamento, nós construímos Formas internas que se tornam cada vez mais semelhantes ao Pensamento Superior. Ao fazer isso, nós nos igualamos a esse Pensamento até que ele se torne o “Eu” daquela pessoa, após o qual ela se eleva ao nível onde esse Pensamento originou-se.
Mundo Invertido
A Força Superior cria uma imagem completa da realidade dentro de nós: nossa natureza, personalidade, saúde, desejos e pensamentos e até mesmo nossos amigos, o país e o mundo em que vivemos. Tudo isso é preparado pela Força Superior. Tudo que acontece dentro de nós e à nossa volta tem a intenção de nos levar a uma única resolução: unir-nos a essa força.
Mas, se é assim que as coisas são, nós deveríamos perguntar: “Como pode essa Forca Superior supostamente benevolente criar essa realidade dura e amarga que vemos a nossa frente?”. A esse respeito, os Cabalistas dizem: “Aquele que acusa os outros, acusa com suas próprias falhas”. A imagem do mundo é totalmente pessoal e afetada pelo nível de correção das qualidades da pessoa.
No artigo, Ocultação e Revelação da Face, o Baal HaSulam explica o significado da mudança de perspectiva da pessoa, mudando-se suas ferramentas de percepção. Nesse artigo, o Baal HaSulam discute que perceber um fenômeno sob a perspectiva da correção é oposto à percepção de um fenômeno sob a perspectiva da corrupção. Através dos vasos egoístas, parece que os egoístas triunfaram; através dos vasos altruístas, parece que eles estão sofrendo. Mas será que essas pessoas realmente mudam? Elas vão da riqueza à pobreza, da benção a angustia? Além do mais, será que a nossa correção pode mudar o estado daqueles que nós observamos?
Aquele que sente a realidade espiritual e observa a realidade corporal, percebe seus eventos e incidentes de maneira distinta da pessoa que não sente a espiritualidade. Essa pessoa percebe apenas como as ações egoístas realizadas em nosso mundo são irreais, nocivas e criam um afastamento entre a Força Superior e aqueles que praticam a ação.
Quanto mais prazeroso e gratificante um fenômeno parece ser (no vaso egoísta), mais longe ele está da natureza da Força Superior aos olhos daquele que sente a realidade espiritual. Nesse estado, a pessoa perceberá isso com mais aflição, já e que isso a distancia da Força Superior e da qualidade da doação.
Fenômenos Contraditórios
Parece difícil acreditar que os investigadores concordassem com a declaração de que “nós criamos a imagem do mundo diante de nossos olhos”. Isto porque tal declaração significaria que não há mais nada para investigar, e os investigadores são geralmente vistos como pessoas que desejam mudar o mundo. Mas é impossível mudar o mundo usando o método tradicional de investigação. Até agora, a Cabala proporciona aos investigadores as ferramentas que os capacitarão a investigar a si mesmos e, desse modo, mudar o mundo.
Em outras palavras, a Cabala ajudará o investigador honesto a alcançar o que ele quer desde o início: mudar o mundo. Porém, a mudança será interna, não externa. A sabedoria da Cabala habilitará a ciência e a percepção humana a se desenvolverem à próxima fase, além do tempo, espaço e movimento. Nesse estagio, todos os fenômenos que hoje parecem contraditórios aos investigadores, se fundirão.
Agora, nós também podemos entender como os nossos desejos se desenvolvem de forma gradual. Tendo se desenvolvido dos desejos por riqueza até os desejos por honra e poder, e finalmente ao desejo por conhecimento, agora chegou a hora do desejo pela espiritualidade, o desejo que induz a nossa exposição à sabedoria da Cabala.
Um cientista que estuda a sabedoria da Cabala se familiariza com a estrutura da Criação. Esse cientista ficará surpreso ao descobrir como a matéria está fortemente conectada às regras descobertas no mundo material. Posteriormente, essa congruência entre as leis espirituais e as leis materiais ajudará os investigadores a resolver problemas em todo campo da vida contemporânea.
Na ecologia, psicologia, ciência social e política, em todos os campos da ciência, nós nos deparamos com a ausência da “fórmula correta”. Antes, as coisas não costumavam ser tão complexas. No tempo de Newton, por exemplo, a descoberta de poucas fórmulas já era suficiente para explicar tudo. Mas hoje, nós subimos para um novo nível de investigação na matéria; nesse nível, falta-nos a fórmula que explica a conduta geral das coisas.
Se a ciência pretende envolver-se com os humanos e o mundo onde eles vivem, a Cabala declara que em todos os nossos campos de investigação, nós investigamos, na verdade, a nós mesmos, e não o mundo à nossa volta. Na física, química, psicologia, ecologia ou qualquer outra ciência, nós não investigamos o mundo exterior , mas sim nosso mundo interior, nossos vasos internos. A ciência moderna está descobrindo que a investigação tradicional já se esgotou. Tudo o que se necessita agora é ver que o mundo inteiro está realmente dentro de nós.
Uma Nova Ciência
A realidade que não podemos perceber hoje, a ignorância dos efeitos do pensamento, a incapacidade de se adaptar à sociedade e ao ambiente, é tudo conseqüência de uma premissa errada de que o mundo existe fora de nós. É por isso que não conseguimos formular regras claras e sustentáveis que forneçam um apoio seguro e confiável. Nós devemos entender que julgamos tudo desde dentro; se os investigadores concordassem, isso marcaria o começo de uma nova ciência.
A nova ciência facilitará o entendimento claro do mundo em que vivemos e fará uma conexão apropriada com a realidade. Para levar o método da correção à humanidade, nós devemos adotar o ponto de vista de que existimos dentro de nós. Evidentemente, mudar de atitude para com a percepção da realidade não é um problema fácil, especialmente com tantas mudanças fundamentais como as que enfrentamos hoje. No passado, quando novos métodos surgiam, eles sempre levavam tempo para serem aceitos.
O mais difícil de tudo é a transição para a nova percepção, pois de acordo com essa percepção, não há nada além do observador. Todas as percepções anteriores argumentavam que existe algo fora de nós com o qual nos conectamos, seja em pensamento ou em ação. É difícil de compreender o argumento de que o ser humano é a única criação do Criador, e que, além do observador, existe apenas a Luz Superior.
O entendimento de que tudo o que nós sentimos são fenômenos internos não é uma mudança psicológica. Pelo contrário, é uma mudança fundamental que nos obriga a investigar internamente. A pessoa não pode simplesmente concordar com a nova percepção, mas deve cultivar e melhorar suas qualidades internas para finalmente igualar suas formas com a Luz Superior do lado de fora. Quando as qualidades da pessoa mudam, e não são mais opostas às qualidades do Criador, a pessoa começa a descobrir o Criador. Nesse estado, a pessoa torna-se “transparente” com relação à Luz Superior, e a matéria humana (o desejo de receber) não age mais como uma divisória diante da Luz.
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A Cabala explica que nossas ferramentas de percepção são formadas por cinco partes: três dessas partes são chamadas de “vasos internos” e as outras duas são chamadas de “vasos externos”. Com os vasos internos nós sentimos a nós mesmos, e com os vasos externos nós sentimos o mundo à nossa volta. Os vasos externos criam a sensação de uma realidade externa porque eles são vasos incompletos, insuficientemente desenvolvidos.
Quando a pessoa corrigir completamente o seu vaso (incluindo os vasos externos), o mundo externo também será sentido como interno. Assim, o mundo exterior desaparecerá e se tornará uma simples Luz que preenche toda a realidade. Visto que a pessoa corrigida se igualou à Luz Superior em todas as qualidades ao anular todas as diferenças entre elas, essa pessoa agora está numa percepção recíproca com a Luz Superior. Esse estado é chamado de Dvekut (adesão), o estado onde a pessoa está totalmente integrada na Luz Superior.
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A diferença descoberta pelos físicos quânticos entre o comportamento da matéria como partícula e seu comportamento como onda equivale à diferença entre matéria (o desejo de receber) e Luz. Através da Cabala, a humanidade conhecerá a finalidade para a qual a matéria é obrigada a alcançar, ou seja, a equivalência da Forma entre a matéria e a Luz.
Quando esse momento chegar, não haverá diferença, a partir da nossa perspectiva, entre uma onda e uma partícula, ou entre a Luz e a matéria. Atualmente, nós somos incapazes de comparar duas coisas contraditórias e deixá-las sob o mesmo teto. Somente quando a pessoa determinar que a realidade está dentro e que não há nada fora, somente se ela se livrar da percepção do “eu” e “fora de mim”, é que esses opostos se tornarão um.
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