SENTINDO UM OUTRO MUNDO
Do livro “O Livro Aberto”
Os conceitos espirituais são independentes de tempo, espaço e movimento. É por isso que não podemos imagina-los, porque tudo que sentimos existe num contexto de tempo e espaço, e em algum tipo de movimento. Nosso universo, por exemplo, existe em um determinado espaço. Imaginemos: se removermos tudo do universo, o que sobrará? Na espiritualidade não existem corpos, não existe tempo, movimento ou espaço. É por isso que não existe nada em comum entre a espiritualidade e a estrutura de nossa natureza ou nossa emoção. Podemos examinar algo que não sentimos? Por que os Cabalistas dizem que a Cabalá é uma ciência ou uma sabedoria, se o tópico do qual ela trata é inconcebível aos nossos sentidos? Como podemos falar de algo que sequer podemos imaginar? Como podemos compreender o que está escrito nos livros de Cabalá, se a espiritualidade é algo que não podemos começar a imaginar, e como os Cabalistas no entanto a explicam, e com termos do nosso mundo?
Os Cabalistas são pessoas que foram dotadas com a oportunidade de sentir um outro mundo. Apenas aqueles que vêem, sentem e o entendem, são chamados Cabalistas, porque recebem conhecimento e sensações “daquele” mundo.
Mas, porque somos incapazes de sentir qualquer coisa que esteja fora do tempo, espaço e movimento, não podemos sentir o mundo espiritual, e portanto vivemos como cegos. É como se o mundo espiritual existisse sem conexão com nossas emoções. Contudo, está aqui! E, apesar de não podermos imaginar um mundo sem tempo, espaço e movimento, precisamos no entanto aceitar o fato de que esses termos não existem no mundo espiritual. Mas, como então podemos dizer algo sobre o mundo espiritual? Como que um Cabalista pode nos contar algo sobre o mundo espiritual, se este não possui nenhuma das coisas que temos em nosso mundo? Além do mais, sentimos o nosso mundo apenas através do tempo, espaço e movimento, e todos os nossos termos provém de nossos cinco sentidos. É assim que criamos nosso vocabulário. Não podemos medir nossos sentimentos, que são algo pessoal, particular; não podemos saber se é bom ou mau, abundante ou insignificante; nós medimos tudo isso em relação a nós mesmos, em relação a nossos desejos pessoais no momento da medição, desprovidos de qualquer valor absoluto.
Além disso, sabemos por experiência que nossos sentimentos podem mudar, e qualquer criatura sente seu mundo de maneira diferente. Estou enfatizando “seu mundo” de propósito, porque cada um de nós tem seu próprio mundo e não podemos comparar e ver quão idênticas são nossas emoções. Todas as criaturas – inanimadas, vegetativas, ou animais – sentem o mundo de maneira diferente. Cientistas descobriram que cada tipo de animal tem sua própria estrutura sensorial, cada espécie vê uma imagem do mundo completamente diferente. Se, por exemplo, pudéssemos nos conectar com extraterrestres, como poderíamos comparar nossas impressões do mundo? Todo nosso discurso é baseado no que sentimos, que já inclui nossos valores subconscientes de “bom e mau” com relação a cada objeto. Representamos algo como “bom” ou “mau” dependendo de como sentimos nós mesmos. Isso é suficiente para nosso “pano de fundo”; compreendemos um ao outro.
Podemos conversar apenas se sentimos que a diferença de pensamento e cultura, ou de modo de vida, não excedem os limites de um consenso geral baseado em percepções comuns. Mas, além dessas limitações em nossos sentidos, porque existem impressões pessoais, mesmo aquilo que podemos sentir é apenas invenção de nossa imaginação e não há como dizermos quão absoluto isso é.
Nossa visão, por exemplo, retrata algo que afeta nossos olhos, então esta impressão limitada e pessoal é incrementada na cabeça, e o que recebemos de volta de nossas mentes já é sentido como algo que existe fora de nós. É assim que percebemos tudo que podemos ver.
Todas as outras impressões externas também são aceitas em relação aos nossos sentidos, na dependência de suas limitações. Não podemos conhecer e sentir o mundo exterior dentro de nós; apenas uma determinada quantidade de influência em nossos sentidos, mas isto não é nada mais do que o reflexo de nossos sentidos a alguns dos fatores externos que eles sentem. Temos de entender que nossa linguagem bela, rica e criativa descreve apenas uma minúscula porção da realidade, pela qual somos impressionados de alguma maneira. Mas se este é o caso, como podemos descrever em nossa própria linguagem, que é baseada em sensações individuais de nosso mundo, os vários conceitos do mundo espiritual? Mesmo se tomarmos a palavra mais pura de nosso mundo – luz – que parece estar mais perto da espiritualidade, veremos que ela também se refere a uma idéia corpórea tal como a luz do sol, ou a uma mente iluminada, que não tem nada a ver com a Divindade.
A propósito, a luz é o fenômeno mais mal interpretado até em nosso mundo, a despeito de todas as teorias físicas. Foi o RAMBAM que escreveu que todo o nosso universo está abaixo da velocidade da luz, e que acima daquela velocidade existe um outro mundo. Numa outra explicação dessa palavra, a descrevemos como prazer, ou como a iluminação da mente. Mas, se escolho minhas palavras de acordo com minhas emoções e as passo para outra pessoa, que por sua vez as interpreta de acordo com sua compreensão, como podemos comparar as sensações que atribuímos à mesma palavra? Qual é a base comum através da qual podemos comparar nossas informações sensoriais? E, porque não podemos comparar nossas emoções com precisão alguma (e quem sabe se a psicologia e a psiquiatria chegarão alguma vez a essa compreensão), somos compelidos a utilizar termos sem antes comparar as emoções que trazem a nós. Não é necessário que minhas emoções sejam as mesmas que as suas. O que eu faço desperta algo similar em você… e essa é toda a linguagem dos Cabalistas.
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