SOBRE A ESTRUTURA DA CRIAÇÃO
Do livro “O Livro Aberto”
Para nós, isso ainda é um axioma. Apenas após a correção descobriremos e compreenderemos que existe uma força superior, um Criador, que doa para nós algo chamado de “luz”. Sentimos o Criador e a luz dentro de nós, o vaso espiritual. Algo preenche o vaso (o desejo por prazer, por deleite) – nós – justo com o prazer que chamamos de luz. Uma combinação de sensações de prazer nos permite imaginar o que o Criador quer de nós. O Criador é a origem da luz.
A luz é o prazer, e o Criador é a origem. Esses são os três fatores da criação. A sensação do Criador é chamada de luz. Assim, a criação pode perceber, mas não compreender inteiramente a perfeição do Criador, porque entende-la no sentido completo da palavra, não como entendemos em nosso mundo (superficialmente, com a mente), significa unir-se espiritualmente, consumar o contato espiritual com o Criador. Entender a perfeição do Criador significa ser perfeito, estar no mesmo nível espiritual que Ele. Se a criação foi feita de tal maneira que recebe prazer em atingir a perfeição espiritual do Criador, conclui-se que a perfeição e a criação não são a mesma coisa. A perfeição é a luz que dá prazer à criação, enquanto que a criação é apenas o desejo de receber prazer.
Se o Criador representa a perfeição espiritual, e quer criar algo, então a criação precisa existir fora dos atributos do Criador, ou seja, incompleta. Isso significa que o único atributo da criação é a falta de perfeição. Mas, se o Criador é perfeito, como Ele pode criar algo que é imperfeito? Ou seja, da mesma afirmação de que o Criador é completo e perfeito se origina a conclusão de que Ele não pode criar nada. Pois, qualquer coisa que Ele criar tem de ser incompleta, e se Ele cria algo incompleto isto significa que Ele mesmo é incompleto. Afinal, é impossível que algo incompleto se origine de algo completo.
Então, afinal, como o Criador criou a criação? Ele criou-a de uma tal maneira que pudesse enfatizar a perfeição Dele. Se o Criador quer dar prazer a alguém, aquele alguém precisa ascender ao nível espiritual do Criador, com todos os atributos da perfeição. Como isso pode ser feito? Por um lado, você tem de criar alguém, e por outro lado, criar aquele alguém de tal maneira que não exceda os limites da perfeição. O que se tem de fazer é criar algo que contradiga sua própria existência. A única maneira de fazer isso é criar uma criação incompleta, conferir a ela uma aspiração espiritual de atingir o nível de perfeição do Criador por si mesma. Se pudéssemos nos referir à criação apenas como um desejo de receber prazer, naturalmente compreenderíamos que ela não é completa. Então perguntaríamos – como que o Criador pôde criar tal coisa? Mas se olharmos para a criação assumindo que ela foi feita assim, de propósito, para que a partir desse atributo oposto compreendesse o estado de perfeição espiritual, então as peças se encaixarão.
Para que cheguemos ao nível espiritual do Criador, através do desejo de receber prazer, temos de saber como usar nosso vaso da mesma maneira que o Criador usa Seus atributos. A criação possui apenas uma coisa: a aspiração por prazer, enquanto que o Criador possui apenas a aspiração de doar.
Em tal caso, é possível atingir o nível espiritual do Criador apenas se corrigirmos nossa natureza. Mas, é impossível inverter nossa natureza para aquela do Criador porque elas se contradizem fundamentalmente. A natureza do Criador é doar, e a natureza da criação, receber. Para que sejamos capazes de ascender ao Seu nível espiritual, precisamos corrigir nossa natureza, ou seja, usar o vaso para doar. Como isso é feito? Quando o Criador preenche o vaso com Sua luz, Ele gera prazer nele, e, junto com isso, induz o surgimento do atributo de doação. É isso que diferencia o homem do restante da criação (espiritual e física). No restante da natureza – inanimada, vegetativa e animal, e em pessoas também (apesar de não todas, é claro) – há apenas o desejo de receber prazeres corpóreos e nada mais. Se obtêm o que querem, chamam isso de prazer. Se obtêm menos do que querem, chamam de dor. Resumindo, um prazer maior ou menor determina a situação de cada um deles.
Mas, existem pessoas que começam sentir – junto com a sensação de prazer – uma sensação extra, aparentemente incompreensível. Elas começam a sentir que há uma força externa que as impulsiona e dirige. À primeira vista, elas não entendem o que essa força é e para onde as conduz, porém, finalmente ela se mostra como um desejo espiritual de doar. E quando aquele atributo começa a agir o homem perde sua tranqüilidade. É como se ele tivesse abandonado o mundo e sentisse uma necessidade de encontrar algo mais. Ele começa a criticar sua natureza, a si mesmo, a avaliar suas ações e pensamentos através desta outra natureza. Ele descobre que não pode corrigir sua natureza preliminar, mas pode dirigir seu desejo por prazer a outras direções, ou seja, para receber novos atributos – os atributos do Criador – através de sua própria natureza.
A luz dentro dele o faz compreender que existem duas intenções: para mim mesmo e para o Criador; e ele pode trabalhar com ambas.
Como isso ocorre? Pelo fato da luz trazer não apenas prazer, mas conferir uma sensação do doador, uma sensação de que o homem também pode doar. É por isso que uma pessoa começa a sentir que, através de sua aspiração de receber, ela pode trabalhar de ambas maneiras. As pessoas que vivem, trabalham e negociam em nosso mundo não podem entender que, de fato, não estão dando nada a ninguém, apesar de pensarem que doam, recebem, trocam. De fato, elas apenas recebem. Elas apenas não vêem a natureza oposta, da qual a essência é pura doação.
O homem pode entender sua natureza egoísta apenas quando ele começa a sentir a natureza altruísta do Criador. Antes de uma pessoa perceber isso, ela não possui o direito de ser chamada de Ser Humano.
Enquanto estamos em nosso mundo, vivemos através de nossa natureza egoísta. Quando sairmos para o mundo espiritual, entenderemos o que é o egoísmo espiritual, chamado de “casca”. Em nosso mundo, essa casca sequer existe, porque nosso egoísmo está num nível subconsciente. Assim fomos criados e assim vivemos. Quando o indivíduo começa a sentir o Criador, ele recebe a luz espiritual e começa a entender a natureza do Criador, e quão oposta ao homem ela é. Aqui já existe um dilema e liberdade de escolha. Se ele escolhe continuar a trabalhar como antes, isto é, recebendo prazer (agora ele está ciente de que recebe prazer), chamamos isso de receber “não para o nome Dela.” (Essa opção não existia no passado, ele apenas recebia prazer. Agora que existem duas opções diante dele e ele escolhe receber, isto é considerado uma casca, uma força maligna, contra o Criador, porque ele possui uma segunda natureza, também). E daí o homem começa a realmente receber para si mesmo. Mas se ele escolhe usar sua intenção para se assemelhar ao Criador, isto é chamado de receber “para o nome Dela”, ou seja, usar seu desejo preliminar por prazer numa direção oposta. Assim, o homem utiliza completamente o atributo de doação do Criador, através de seu desejo natural por prazer.
Assim, vemos que para utilizarmos nossa aspiração natural por prazer de maneira correta precisamos primeiro adotar o atributo do Criador, e então seremos capazes de fazermos uma escolha entre doar e receber, ou seja, entre a força boa e a força má. Nós podemos, num certo grau, fazer essa escolha agora mesmo. Mas, até que recebamos o atributo do Criador, estamos dentro da estrutura do egoísmo corpóreo, que nem é considerado egoísmo, porque ainda não possui o atributo que o contradiz.
Não que isto seja um atributo positivo ou negativo. É simplesmente nossa natureza. Não pode ser avaliado como um atributo positivo ou negativo. O Rabino Ashlag dizia que este mundo é como uma escola dos tempos antigos. Naquele tempo o papel era muito caro, então davam às crianças um quadro e um pedaço de giz para escrever até que aprendessem a escrever apropriadamente. E, antes de alguém aprender como escrever, ou seja, como se comportar, permanece sob condições restritivas, para que não possa causar dano algum. Se você comete um erro, ele pode sempre ser apagado e o quadro permanece limpo. Então nós, em nosso mundo, podemos fazer o que quisermos. Isto não será considerado como um pecado ou uma mitzvah (N.T.: preceito, mandamento), com relação ao mundo espiritual. Tudo que fazemos neste mundo (falando do ponto de vista da Cabalá, da evolução espiritual individual do homem) não pode sequer ser considerado em um nível espiritual. Está tudo abaixo do nível do mundo espiritual. Apenas quando uma pessoa começa a receber algo além do prazer físico, diferente à sua própria natureza, ou começa a sentir a ausência do atributo de doação, quando ela começa a entender que há algo mais, que é oposto à sua natureza, podemos começar a falar sobre dualismo, liberdade de escolha, sobre a habilidade de direcionar a natureza bestial egoísta na direção da natureza altruísta, sobre preferir uma coisa no lugar de outra coisa. Antes desse momento, a pessoa não é responsabilizada por qualquer coisa que faça, nada pode ser exigido dela, porque, de fato, ela não possui liberdade de escolha. Pecadores, justos, pecados e ações espirituais, todos esses começam apenas em um determinado nível espiritual. Nosso mundo é apenas um lugar de preparação através do qual adentra-se o mundo espiritual.
Como é possível adentrar o mundo espiritual? E faze-lo não após a morte, mas enquanto vivemos aqui? Começar a sentir o atributo do Criador, corrigir e dirigir os desejos atuais, nossos desejos naturais – isso é chamado: adentrar o mundo espiritual. O mundo espiritual significa a adoção dos atributos do Criador. De fato, é tudo bastante simples e não como imaginamos em fantasias infundadas. A recepção do atributo da percepção do Criador é chamada de mundo espiritual, ou de mundo superior, e é só isso! Quando começamos a sentir os atributos do Criador, significa que adentramos o mundo superior. O mundo físico não muda, ele permanece como era. Mas o homem sente forças adicionais dentro de si, porque agora recebeu uma segunda natureza.
Qual é a maneira mais rápida de atingirmos essa segunda natureza, de terminarmos essa “aula”, de aprendermos como escrever sem erros e adentrarmos o mundo espiritual? O que significa aprender como escrever sem erros? O Rabino Ashlag escreve que, a princípio, aqueles que estão prontos para isso são apenas aqueles que têm os sentimentos e intenções corretos, que já obtiveram a percepção do Criador e estão prontos para realizar ações espirituais, enquanto ainda agem neste mundo. Estas pessoas começam a entender que precisam descobrir o mundo espiritual, mas não através de especulações, previsões do futuro, análises do passado, etc., ou seja, coisas que pertencem ao nosso mundo físico. Isto não as interessa mais. O passado e o futuro do corpo físico são irrelevantes para elas. Elas começam a pensar sobre e a analisar algo superior a isso. Não sobre alienígenas de um outro planeta, nem sobre o destino, nada que se refira a este mundo, ao nosso corpo. Se elas obtém um estímulo além de todos esses desejos, isso significa que o Criador está chamando-as. Ele quer dota-las com a sensação de Seus atributos, para que possam usar seus desejos apropriadamente. Então, elas chegam a um nível espiritual que as habilita sair das sensações físicas de nosso mundo, dos desejos egoístas para as sensações do desejo do Criador, a aspiração espiritual de doar. Através do estudo da Cabalá em um grupo, com um professor e com os livros certos, é possível alcançar tais sensações.
Como isso pode ser feito? Já dissemos que, se uma pessoa já recebeu a luz do Criador em seu vaso, o Criador transmite Seus atributos com a luz (para os que não merecem, Ele apenas dá um espírito de vida que não inclui Sua luz espiritual).
Como que eu faço para o Criador passar seus atributos para mim? Digamos que eu tenha uma certa aspiração preliminar. Como que eu faço para o Criador transmitir Seus atributos para mim? Existem livros especiais para isso. Se os lermos, estendemos sobre nós mesmos a luz e assim recebemos determinadas sensações (algumas negativas, algumas positivas), apesar de neste meio tempo não podermos sentir essa luz. O Criador começa a transmitir gradualmente para nós pequenas quantidades de sensações da revelação e da compreensão de Sua intenção, do que o desejo espiritual de doar realmente se trata.
Por que Ele faz isso se escondendo e não de maneira aberta? Bem, se isso estivesse escondido de todos os outros, e apenas nós, os escolhidos, fossemos dignos daquela revelação, nós também manteríamos isso como segredo. E por que temos de esconder isso, por que está escondido de nós? Para que desejássemos aquele atributo de maneira genuína.
É um pouco difícil explicar. Sinto que há um probleminha aqui. A questão é que transmitir os atributos para nós significa revela-los para nós. Se o Criador se revelasse para nós, receberíamos um prazer tão imenso que não seríamos capazes de nos concentrar em mais nada. Para prevenir distrações com este imenso prazer, e mesmo assim transmitir Seus atributos para nós – é por essa razão que o Criador esconde esses atributos e o prazer, e nos transmite eles de maneira secreta, para que não sintamos o prazer. Podemos apenas sentir o resultado.
Gradualmente, com o passar de vários meses de estudo da sabedoria da Cabalá começamos a sentir um desejo maior pela espiritualidade e a obter um entendimento melhor dela. Isso acontece bem devagar porque nossa natureza é feita de um número ilimitado de subsistemas, e precisamos ter todos eles corrigidos. Eles têm de adotar atributos que correspondem aos atributos que recebemos em nosso subconsciente, atributos que nunca sentiremos, que são na verdade atributos do segundo e terceiro nível. Todos esses subsistemas têm de tomar parte nesse processo de correção, e esse é o porquê desse processo durar tanto tempo. O tempo de correção na verdade depende do investimento, da quantidade de esforços que o homem faz. Sua habilidade de se aprofundar depende de si mesmo. O Criador apenas dá o desejo preliminar, mas dali em diante depende dos esforços do homem. Seria mais correto dizer que depende não apenas dos esforços do homem, mas de seu meio, aquele no qual ele se encontra para avançar rumo à espiritualidade.
No ensaio “A Liberdade”, Baal HaSulam escreve que a única maneira de implementarmos nossa liberdade de escolha é escolhendo e encontrando a sociedade correta, isso ajudará a pessoa a atingir o propósito da criação. O único fator que o homem pode alterar por si mesmo, e assim influenciar seu desenvolvimento espiritual, e de fato o mundo todo, é encontrar o ambiente que irá influencia-lo. Não há nada além disso. Todos os processos e todos os caminhos são predeterminados. O caminho para o Criador e os níveis espirituais pelos quais é preciso passar estão determinados. Você não pode mudar nada aqui, ou influenciar isso de maneira alguma. Após cada passo existe o próximo passo, e então o próximo passo, porque isso depende da estrutura interna da alma, que precisa se desenvolver. Essa estrutura é predeterminada e a única coisa que o homem pode escolher é a opção correta de ambiente: o homem está sob a influência da sociedade e a sociedade pode corrigi-lo.
Como que a sociedade pode mudar uma pessoa se nada pode ser mudado? Se os parâmetros preliminares e finais estão predeterminados, neste caso o que ainda pode ser mudado? Baal HaSulam responde que apenas a velocidade do progresso pode ser alterada. Esse é um parâmetro de grande valor. Por quê? Apenas pense em estar avançando de um nível para o próximo em um segundo, ou em um milhão de horas. Suponhamos que você tenha uma dor de dente por um milhão de horas, ou por um segundo. Nesse um segundo você realmente não sentirá nada. Mas se ela for prolongada por um milhão de horas, imagine só a dor! Este é um assunto sério. A pessoa pode acelerar seu progresso precisamente nessa proporção, se não, numa maior. Desta maneira, ela diminui as situações desagradáveis qualitativamente. Elas não podem ser evitadas porque também são predefinidas. Todos devem passar por elas. Mas podemos apressar a passagem e desta maneira sentir muito menos dor, ou até dor nenhuma. A livre escolha da sociedade, do ambiente do homem, pode afetar o avanço espiritual do homem.
Mas aqui devemos perguntar: estamos falando de que tipo de escolha? Escolhemos entre o caminho mais e o menos agradável? Nossa escolha está na dimensão egoísta? A questão é que escolhemos este caminho não porque ele nos faz sentirmo-nos bem. Escolher este caminho baseado em meus desejos egoístas não necessariamente indica progresso rápido. Avançar rápido é avançar com o poder do Criador, através de Seu atributo de doação.
Todos os mundos que o Criador criou inicialmente são apenas um desejo de receber prazer. Quando uma luz, mesmo muito fraca, penetra aquele desejo, ela adiciona outras nove intenções que pertencem ao Criador. O homem tem apenas um desejo – receber prazer. Os outros nove desejos evoluem sob a influência da luz dentro do homem. O homem é afetado pelas operações do Criador e recebe a combinação dos atributos do Criador – seus dez desejos. A pessoa precisa saber como implementar todos eles, tanto seu desejo natural por prazer como também os desejos que ela adotou do Criador. Como pode implementa-los, para que se torne como o Criador? Como isso pode ser feito? Ela pode fazer isso se corrigir seu desejo natural por prazer – sua décima sefirah, chamada Malchut – e transforma-lo para se assemelhar às nove sefirot anteriores – os atributos do Criador. Ou seja, ela toma aquela Malchut e tenta doar usando a intenção “para o Seu nome.” Então ela toma aquela Malchut e tenta fazer com que se assemelhe à sefirah de Hochma, e assim por diante. Existem nove atributos de doação do Criador, nove possibilidades. Usando vários tipos de desejos, a pessoa tenta cada vez se assemelhar a um determinado atributo do Criador, e dessa maneira adota todas as nove sefirot superiores, todos os atributos do Criador.
A parte de Malchut que não pode se assemelhar a nenhuma das nove sefirot, ou seja, não pode receber com a intenção “para o nome Dela”, é chamada de coração de pedra, e a pessoa não pode trabalhar com essa parte. A pessoa simplesmente isola estes atributos (desejos) e diz: “Não vou trabalhar com estes desejos!” Ela pode trabalhar em completa similaridade com o Criador em todos os outros desejos. Uma vez que a pessoa tenha corrigido suas nove intenções dentro de Malchut, permanece lá apenas a décima parte, que não pode ser corrigida, porque os atributos do Criador não a afetam. Essa parte não pode entender ou sentir a luz do Criador. Ela apenas sente o prazer, e não a origem, os atributos. Essa situação é chamada de “o fim da correção.” Significa que a pessoa corrigiu completamente suas intenções e atributos.
Essa parte da intenção, que ela não pôde corrigir e que por essa razão separou-se completamente da mesma e não fez uso dela durante a correção, é o desejo mais poderoso, mais natural.
Ao completar a correção de suas intenções, vem uma luz especial de cima que pode corrigir o “coração de pedra” para fazer com que se assemelhe ao Criador. É impossível imaginar como isso acontece. Apenas acontece que vem de cima uma luz tão poderosa que mesmo aquele desejo recebe a intenção “para o nome Dela”. Deste modo, todos os atributos do homem, todas suas possibilidades de se assemelhar ao Criador são realizadas, e ele se torna igual ao Criador. Mas, o que ele ganha com isso?
No princípio, logo quando foi criado, ele foi preenchido com a luz do Criador, mas não podia sentir os atributos do Criador. Foi criado e recebia prazer como resultado do desejo de doar do Criador. Agora, ele retorna àquele estado – isto é, recebe tudo que o Criador quer doar. Isso porque o Criador quer, e não ele mesmo, ou seja, essa estatura espiritual foi atingida também graças ao Criador. Além disso, por ter recebido os atributos do Criador e se tornado como Ele, ele transcende o nível espiritual de criação, o nível inicial em que nasceu, e atinge um nível superior: o do Criador. É por isso que ele pode obter a vida eterna, a perfeição e a compreensão absoluta – tudo que não podia obter enquanto permanecia dentro dos limites de sua própria natureza. Ele recebia os atributos do Criador, mas não se tornava como Ele. O Criador permite ao homem ascender do nível espiritual de criação ao nível espiritual do Criador, conferindo ao homem Seus atributos e dando prazer a ele.
Vemos que todo este processo é predefinido pelo Criador. Isso significa que Ele não criou algo inferior a Ele e que o caminho pelo qual o homem precisa passar é necessário para sua autodescoberta, para a recepção daquela sensação, porque de outra maneira ele não seria capaz de entender o nível espiritual do Criador. É por isso que ele inicia o caminho espiritual de uma situação oposta àquela do Criador. Esse caminho é necessário para que passemos por todos os níveis espirituais existentes, em todas suas situações, do começo ao fim da criação, de um estado completamente imperfeito à completa perfeição, para que ao chegarmos no nível da perfeição do Criador saibamos como apreciar e entender o prazer que vem junto com o nível espiritual do Criador.
O caminho espiritual até o fim da correção é pavimentado com experiências e sensações negativas, a despeito de como olhamos para ele. Então onde está a diferença entre o caminho da Torah e o caminho da dor? O caminho da Torah é diferente não apenas na quantidade e na intensidade da dor. A questão é que quando a pessoa toma o caminho da Torah, ou seja, quando estuda a sabedoria da Cabalá e estende sobre si mesma a luz, ela entende que deve se referir à sua dor física como falta de habilidade de doar ao Criador. Ou seja, a dor é transformada de tormentos físicos para espirituais, isto é, dores de amor pelo Criador. É por isso que a pessoa não tem de passar por um ciclo sem fim de dores físicas para finalmente torna-las em dor espiritual. Ela estende sobre si mesma a luz do Criador com a ajuda dos livros certos, e começa a sentir exatamente o que é que lhe falta. Ela imediatamente chega ao tipo correto de tormento – tormento pela falta de espiritualidade. Portanto, ela é poupada de horríveis tormentos físicos.
Se uma pessoa tem o atributo de Malchut, o desejo de receber prazer, a luz a afeta de tal maneira que ela começa a receber as nove sefirot adicionais que são completamente separadas de Malchut. De fato, isto é mais uma questão psicológica, que pode ser claramente detectada em nosso mundo. Ao receber prazer de um determinado indivíduo, você gradualmente começa a querer ser como ele, você deseja adotar aquele atributo. Tudo isso porque o prazer e a adoção de um determinado atributo são a mesmíssima coisa.
O Criador mostra Suas dez sefirot ao homem; Ele mostra a ele exatamente como pode se deleitar no Criador. O homem sente não só o prazer, mas também sua origem, as nove sefirot do Criador. Eu vejo o anfitrião que prepara a refeição para mim, que me dá prazer, e também vejo porque Ele faz aquilo, reconheço Seu atributo. Desta maneira ele recebe, além do atributo original do deleite, Malchut, outros nove atributos por prazer. Agora ele aspira pelo Criador, aspira receber prazer através de todos estes atributos, o que significa que o prazer que ele quer agora é diferente. Mas, como é diferente? Onde está a diferença? Cada atributo traz com ele um tipo diferente de prazer: prazer da comida, de um filho, de uma caminhada no parque ou do descanso. Todos tipos de prazer. Não podemos encontrar algo completamente igual no mundo, porque, além do mais, são diferentes embalagens do mesmo prazer, apenas diferentes tipos de prazer. Mas no mundo espiritual existem diferenças evidentes. Isso significa que começo a entender que é possível receber prazer de várias maneiras, ou seja, Malchut divide- se em dez sefirot adicionais e sente que existem dez sefirot adicionais diante dela.
Como que Malchut, que recebe prazer das primeiras nove sefirot, começa a aspirar por se assemelhar a elas? O prazer vem antes de tudo mais. É a prioridade número um do vaso. Portanto, um vaso que ascende a um nível espiritual superior e recebe prazer, quer receber também todos os seus atributos. Então, por exemplo, se você estiver próximo de alguém que você admirou sua vida toda, você irá (gostando ou não) adotar seu comportamento característico, se tornar como ele. Por quê? Porque ele é mais importante que você. Você depende dele, sente prazer em estar próximo dele. Você quer receber, adotar todos seus atributos. Então você automaticamente se torna como ele.
Então, isto é possível afinal? É possível nas primeiras nove sefirot de Malchut, as nove sefirot que ela percebe. Mas a décima sefirah, Malchut em si, permanece inalterada. Naquela décima parte não existe a percepção de um Criador, um doador. Há apenas uma simples sensação de prazer. Ela tem de ser desligada e preservada. Não é usada até o fim da correção. Essa décima parte é “o coração d pedra”, a essência do homem. É o atributo natural do homem – o desejo ardente por prazer. Todas as outras parte não são egoístas assim. Elas são influenciadas pelo atributo do Criador e se tornam como Ele. E aquele atributo do homem, o anseio por prazer, é a última sefirah. Então, de fato, o homem não corrige seu próprio “eu”, sua própria essência. Ele corrige onde o Criador deu a ele a chance de ser vencido, assim por dizer, de se tornar como Ele. Apenas nessa área algo pode ser feito.
A pessoa não pode fazer nada com sua própria natureza, que o Criador criou sendo existência da ausência (ou seja, que existe na criatura, mas não no Criador). A despeito disso, ela quer fazer algo com sua natureza. Como podemos ver que ela faz? Porque ela continua a trabalhar com todas as outras intenções que foram dadas a ela pelo Criador. Está disposta a fazer qualquer coisa, e é por isso que o Criador muda sua natureza. É como um jogo: “Eu irei te corrigir se você provar que realmente quer ser mudada”. O Criador dá ao homem a natureza das primeiras nove sefirot, a pessoa recebe-as e então o Criador muda sua natureza básica, que é a décima sefirah.
O princípio da conexão entre as primeiras nove sefirot do Criador e Malchut é ensinado logo quando a pessoa começa a estudar Cabalá. A conexão começa antes da primeira restrição. Mas, quando a pessoa começa a adquirir estes atributos em nosso mundo, a história é diferente, porque a alma da pessoa em nosso mundo já contém tudo. O mundo de Ein Sof e todos os níveis espirituais para se chegar lá já estão nela. Ela também inclui reshimot (lembranças) dos níveis espirituais, do mundo de Ein Sof até nosso mundo. Tudo isso faz parte da alma de cada um de nós, como um gene espiritual, um DNA.
Então, como o caminho se revela? A luz brilha sobre nós de cima, e ilumina o reshimo do nível espiritual à minha frente, e começo a aspirar por ascender a ele. Então a luz brilha sobre o próximo nível, e começo querer ascender ao próximo nível. O Criador doa a mim Seus atributos gradualmente, por fora, por dentro, por toda parte. Todos os níveis espirituais estão em nós, em um estado embrionário. A luz que brilha de cima nos faz querer subir de um nível espiritual para o próximo.
Uma questão paralela: “Pois não há sobre a terra alguém tão correto que só faça o bem e não peque jamais.” (Eclesiastes 7:20)
Existem vários versículos assim. A questão é que o caminho do justo é uma ascensão pelos níveis do mundo espiritual, e em cada um desses níveis a pessoa acumula egoísmo adicional, corrige-o e transforma-o em altruísmo e assim justifica o Criador. É por isso que a pessoa é chamada de justo, porque ela sente que o Criador é correto (justo).
Nenhum nível é composto apenas da parte positiva.
No processo de correção a pessoa precisa estar na parte negativa, nos desejos maus, nas cascas, no egoísmo. Quando está imersa no egoísmo é chamada de pecadora, ela comete pecados. Depois, quando se torna uma pessoa justa através da correção, é capaz de fazer o bem. Toda pessoa pecará o mesmo número de vezes que se tornará justa. E é assim em cada nível espiritual. Se ela não pecar, não terá nada para corrigir pelo qual se tornará justa. É assim que acontece. Como você pode perceber, estes termos são completamente diferentes dos usados em nosso mundo. A sabedoria da Cabalá trata de processos internos à alma, dentro de cada um de nós. Todos têm uma pessoa pecadora e uma justa dentro de si, que alternam em turnos. Cada nível espiritual é composto dessa combinação. Portanto, aquele que ascende mais alto cai mais fundo, e seus pecados são piores. Mas, então ele ascende mais alto ainda. Não há medo de pecados na Cabalá, porque é algo pelo qual a pessoa tem de passar em todos os níveis, antes de ser corrigida. É como é dito: “Pois não há sobre a terra alguém tão correto que só faça o bem e não peque jamais.” O pecado precisa vir antes da correção.
O que significa pecar? É uma fascinação completa pelo meu egoísmo, uma total identificação com ele, a ponto de apenas sentir meu próprio egoísmo, e de dentro dessa situação condenar o Criador conscientemente, e depois transcendo essa situação. Mas ainda permanece uma lembrança clara daquela situação; neste momento a pessoa começa a corrigir seus atributos, suas intenções, para o lado positivo, de outra maneira não pode haver correção. Apenas aquele que tem algo que precisa de correção pode ser corrigido.
As pessoas em nosso mundo têm uma concepção diferente dos termos justo e pecador, pois o Criador não pretende que elas façam um trabalho mais sério, porque elas não podem passar por uma correção completa.
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