A LINGUAGEM DO MUNDO ESPIRITUAL

Do livro “O Livro Aberto”

Se, mesmo no mundo espiritual, somos incapazes de expressar nossas emoções um ao outro, como então podemos utilizar a linguagem para descrever a espiritualidade? Além do mais, o mundo espiritual é um mundo de desejos, ele não ocupa espaço ou tempo, apenas desejos sem qualquer substância. Além disso, os Cabalistas nos contam que essas emoções são bastante precisas e portanto requerem uma linguagem completa e exata para descreve-las.

Como podemos expressar em nossa linguagem tais conceitos precisos como observações sutis na Divindade? Uma descrição do mundo espiritual é uma descrição da alma humana, uma descrição das fases de introdução da alma no Criador, e da crescente intensidade de suas emoções. A Cabalá divide a alma coletiva em partes, dá um nome a cada parte de acordo com seus atributos, e descreve os relacionamentos entre elas e o mundo exterior.

Esse é o poder da linguagem da Cabalá. Ela descreve emoções numa maneira precisa que até permite o uso de tabelas, gráficos e fórmulas. Podemos dizer que a sabedoria da Cabalá é a engenharia da alma. Mas como podemos superar as imprecisões de nossa língua para que a usemos em investigações precisas assim?

Experimente e atribua um símbolo exclusivo ao seu humor, compare-o graficamente com o humor de mais alguém, expresse todas as nuances de suas emoções em números: a dependência entre a falta de confiança e a fadiga, o seu humor quando você se sente faminto, a força dos medos durante o dia. Não podemos medir precisamente nossas emoções em nosso mundo. Por exemplo: a relação entre tocar um corpo quente e a reação do cérebro a isso depende, entre outras coisas, de fatores tais como o humor, a condição de saúde, a aptidão física e outros. Não podemos comparar por porcentagem, ou por qualidade ou quantidade, o prazer que obtemos da música ou de uma iguaria agradável. Se nossa linguagem é pobre, subjetiva e imprecisa desse jeito, por que os Cabalistas a adotaram para descrever as ações espirituais, e por que não inventaram uma linguagem especial, especialmente apropriada para esse propósito?

Na ciência comum, por exemplo, fazer mau uso de um termo leva a más interpretações. Um especialista que conhece a linguagem daquela ciência não entenderá de onde os resultados foram obtidos e irá considerar errada a  conclusão, e a pessoa que não conhece aquela linguagem irá considerar aquilo verdadeiro e cometerá erros. O mesmo se aplica à sabedoria da Cabalá: quando uma pessoa começa a descrever coisas que parecem estar acontecendo no mundo espiritual com palavras de nosso mundo, ou cria seus próprios termos, não podemos falar de qualquer nível de credibilidade.

É por isso que os Cabalistas escolheram a “linguagem dos ramos” para ser a linguagem da Cabalá. Essa linguagem é baseada no fato de que toda a criação em nosso mundo – inanimada, vegetativa, animal e falante, e tudo que acontece a elas no passado, presente e futuro, e toda a criação como objetos individuais e seus comportamentos, todos se desenvolvem a partir do Criador e descem através de todos os mundos espirituais, até aparecerem em nosso mundo. Tudo em nosso mundo começa necessariamente no mundo superior e então desce ao nosso mundo nível após nível. Por tudo em nosso mundo resultar do mundo superior, existe uma conexão específica entre a causa, que é a raiz no mundo superior, e o efeito em nosso mundo. Os Cabalistas são aqueles que encontram a conexão entre a raiz no mundo superior e o ramo neste mundo. Eles são aqueles que podem dizer com precisão o quê está conectado ao quê, porque vêem a raiz superior da qual aquela conexão provém, como também o resultado da raiz superior, o ramo que recebe do superior sem saber e é conduzido por ele. Por causa disso, os Cabalistas podem indicar as raízes com precisão através de suas conseqüências corpóreas (os ramos) em nosso mundo.

É por isso que a Cabalá recebeu o nome “a linguagem dos ramos” e o nome “a linguagem das raízes”. A raiz superior é chamada de acordo com o ramo e não  o contrário. Dessa maneira, os Cabalistas inventaram a linguagem que descreve de maneira precisa o mundo espiritual. É a única linguagem capaz de conectar o mundo espiritual ao nosso mundo com palavras que podemos entender.

Disso provém uma lei essencial sobre como se relacionar com os livros de Cabalá e com toda a Torah: precisamos lembrar de uma vez por todas que todas as palavras nos livros de Cabalá apenas são palavras de nosso mundo, mas não a interpretação que costumamos dar a elas em nossa linguagem. O que está por trás dessas palavras são objetos espirituais, raízes, que de maneira alguma pertencem ao nosso mundo. Precisamos sempre nos lembrar disso, para nunca nos confundirmos.

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