O Cabalista (1)
Do livro “O Cabalista”
Para Michael Laitman.
O professor da nossa geração
VARSÓVIA – FIM DO SÉCULO XIX – NOITE.
UM SOLITÁRIO POSTE DE LUZ ILUMINA A RUA VAZIA. VENTO E CHUVA SOPRAM AO LONGO DAS RUAS DESERTAS.
DE REPENTE, UM HOMEM GRITA. UMA VOZ DE MULHER RESPONDE IMEDIATAMENTE:
– Simcha, o que aconteceu?!
CHUVA CAI SOBRE UM PRÉDIO DE DOIS ANDARES; DENTRO, UMA JANELA NO SEGUNDO ANDAR ESTÁ MAL ILUMINADA.
Uma voz de mulher: Não me assuste! O que você sonhou?
A voz de Simcha: Você dará luz a um filho.
Uma voz de mulher: Você sonhou com o nosso menino?! Fale!
SALA. NOITE. UM LIVRO ABERTO ESTÁ SOBRE A MESA.
A voz de Simcha: Seis letras saíram deste livro e formaram uma palavra.
Uma voz de mulher (esgotada):
Tudo porque nós mantemos este livro em nossa casa. Rabino Feldman lhe pediu para levá-lo tão longe quanto possível… O mais distante que você pudesse… .
A MÃO DE UMA MULHER AVANÇA SOBRE O LIVRO, MAS A MÃO DO HOMEM TOCA NO LIVRO E IMPEDE QUE AS MÃOS DELA O ALCANCE.
A voz de Simcha: O Criador irá sacudir a mão deste menino.
ASSIM QUE ELE ACABA DE FALAR ESTAS PALAVRAS, HÁ UMA BATIDA FORTE NA JANELA. AGORA É A MULHER QUE GRITA.
UM PÁSSARO BRANCO ESTÁ DESCANSANDO NO PARAPEITO DA JANELA.
ELE LEVANTA VÔO, PAIRA SOBRE UM BANCO, E DESAPARECE NA ESCURIDÃO DA NOITE.
UM HOMEM VESTIDO COM UM CASACO PRETO ESTÁ SENTADO LÁ FORA NO BANCO NO MEIO DA CHUVA. ÁGUA ESTÁ CAINDO SOBRE SEU CHAPÉU EM UM LIVRO ABERTO EM SUAS MÃOS.
O HOMEM LEVANTA A CABEÇA E OLHA PARA A JANELA NO SEGUNDO ANDAR. ELE SE PARECE COM BAAL HASULAM EM SEUS ÚLTIMOS ANOS.
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Ambientação
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EM CINCO DE SETEMBRO, 1886, UM FILHO NASCE NA FAMÍLIA DE SIMCHA HALEVI ASHLAG.
AS MÃOS DE UMA MULHER LEVANTAM O PEQUENO BEBÊ ENRUGADO.
O BEBÊ CHORA DE MANEIRA SILENCIOSA, COMO SE SUSPIRANDO, DEPOIS PARA E FICA QUIETO.
Uma voz de mulher: Olhe para ele, ele não está chorando. Sacuda-o!
PAREDES BRANCAS RODOPIANTES… TETO BRANCO… JANELAS… ROSTOS TURVOS DE MULHERES
Uma voz de mulher: O que você está olhando? O que ele está olhando? O que ele vê naquela parede?
Uma segunda voz de mulher (silenciosamente):
Ou talvez por de trás dela?
O RECÉM-NASCIDO ESTÁ SILENCIOSAMENTE DEITADO NO BERÇO OLHANDO PARA O TETO COM OLHOS SÁBIOS DE UM ADULTO.
UMA SINAGOGA – MANHÃ.
O RABINO FELDMAN CURVA-SE SOBRE A CRIANÇA.
A FACA DA CIRCUNCISÃO BRILHA BREVEMENTE EM SUA MÃO. UM MOMENTO DEPOIS, ELE JOGA O PREPÚCIO SOBRE A AREIA.
ELE OLHA PARA O BEBÊ EM DESCONCERTO. O BEBÊ NÃO ESTÁ CHORANDO.
RABINO FELDMAN O ERGUE E ENTREGA AO PAI DELE, CONCLUINDO O SERVIÇO COM AS PALAVRAS:
-… e que ele seja conhecido em Israel como… (olha para Simcha)
Simcha: Yehuda Leib.
Rabino Feldman:
***
***
Yehuda Leib, filho de HaLevi Ashlag (e acrescenta) – a criança que não chora.
CASA DA FAMILÍA ASHLAG. MANHÃ. YEHUDA AOS TRÊS ANOS SENTADO À MESA.
SEU PAI ESTÁ OLHANDO PARA ELE DE LONGE.
O DEDO PEQUENO DE YEHUDA MOVE-SE AO LONGO DAS LINHAS DE UM LIVRO ABERTO. A VOZ DE YEHUDA É OUVIDA:
– “Esses portões têm uma fechadura e uma abertura estreita para inserir a chave”. Diz-se a respeito daquele segredo: “No princípio, Deus criou…”
YEHUDA E SEU PAI ESTÃO DESCENDO A RUA. YEHUDA ESTÁ SEGURANDO MÃO DE SEU PAI.
A VOZ DE YEHUDA ECOA ENQUANTO DESAPARECE NA DISTÂNCIA:
– “A chave é uma mestra de seis portões, ela trava e destrava seis portões”. “No princípio Deus criou os céus e a terra”.
ELES ENTRAM NA SINAGOGA PASSANDO POR UMA LONGA FILEIRA DE LIVROS ANTIGOS, E ABORDAM O RABINO FELDMAN, QUE ESTÁ VIGIANDO DE PERTO.
Simcha: Eu preciso de seu conselho, honorável rabino. Yehuda, você pode ir e procurar livros.
YEHUDA CAMINHA EM DIREÇÃO AOS LIVROS.
ENQUANTO ELE ESTÁ ANDANDO OUVIMOS SEU PAI SUSSURRAR:
Estamos muito preocupados com ele. Às vezes temos a sensação de que ele é mais velho do que nós.
YEHUDA ESTÁ ANDANDO AO LONGO DAS ESTANTES, EXAMINANDO AS CAPAS PRETAS DOS LIVROS.
O OLHAR DO RABINO FELDMAN ESTÁ FIXO NELE.
DE REPENTE YEHUDA PARA PRÓXIMO DE UM LIVRO VELHO E ESFARRAPADO.
RABINO FELDMAN PULA E RAPIDAMENTE CAMINHA NA DIREÇÃO DO GAROTO, PARANDO ATRÁS DELE. ELE SUSSURRA:
O Livro do Zohar… Eu vejo.
ELE VIRA-SE E CAMINHA DE VOLTA RAPIDAMENTE. ELE PARA PRÓXIMO A UMA JANELA E CHAMA SIMCHA.
Rabino Feldman: Você confirma que você tem O livro do Zohar em sua casa?
Simcha (sob o olhar penetrante do Rabino Feldman):
Sim, eu confirmo. É um presente do pai da minha esposa.
Rabino Feldman: Alma infeliz! Esconda-o, o mais distante quanto possível.
RABINO FELDMAN TRAZ O ROSTO DELE MUITO, MUITO PERTO DO ROSTO DE SIMCHA E SUSSURRA:
Eu quero que seu filho seja um judeu, e este livro vai levá-lo para longe do caminho da Torá. Ele não entende o que está escrito lá, ele entende? Ele não entende, certo?
Simcha: Eu tenho a sensação de que ele entende.
O OLHAR DO RABINO FELDMAN SE VOLTA À YEHUDA.
YEHUDA ESTÁ LUTANDO PARA SEGURAR O LIVRO PESADO EM SUAS MÃOS, ABERTO NAS PRIMEIRAS PÁGINAS.
ELE LÊ, SÍLABA POR SÍLABA, MOVENDO SEUS LÁBIOS:
– Todos os dias a voz apela a todas as pessoas no mundo: “Depende de você. Separe uma parte do que é seu para o Criador”…
Rabino Feldman: Bobagem. Se os adultos não podem dominá-lo, o que pode esta criança entender? Quantos anos ele tem?
Simcha: Três anos.
RABINO FELDMAN VÊ YEHUDA VIRANDO A PÁGINA E OUVE A SUA VOZ:
– “Há fogo, água e ar, os três primeiros dias da criação”.
Rabino Feldman (diz suspirando):
Esconda o livro, o mais rápido possível! Agora!
***
***
CASA DA FAMÍLIA ASHLAG. NO QUARTO DE YEHUDA.
SIMCHA ESTÁ EM PÉ NUMA CADEIRA EMPURRANDO O LIVRO NO OUTRO EXTREMO DA ESTANTE MAIS ALTA.
ENTÃO OLHA SOBRE SEU OMBRO, SALTA DA CADEIRA, E SAI DO QUARTO.
HEIDER.1 MANHÃ.
SHMUEL, O PROFESSOR, ESTÁ ANDANDO AO LONGO DO CORREDOR ENTRE FILEIRAS DE MESAS LONGAS COM PEQUENAS CRIANÇAS SENTADAS ATRÁS DELAS. SEUS PÉS OSCILAM ACIMA DO CHÃO, E SEUS OLHOS ACOMPANHAM A PONTA DA VARA DO PROFESSOR.
MONOTONAMENTE REPETINDO DEPOIS DELE, AS CRIANÇAS RECITAM UMA CITAÇÃO DA PORÇÃO SEMANAL DA TORÁ:
– “Tera viveu setenta anos e gerou Abrão, Naor, e Harã. Agora, estes são os registros das gerações de Tera. Tera gerou Abrão, Naor, e Harã. Harã gerou Lot”…
SECRETAMENTE, YEHUDA TIRA UMA MAÇÃ DE SEU BOLSO. A PONTA DA LONGA VARA DO PROFESSOR BATE NA MÃO DELE IMEDIATAMENTE.
YEHUDA GRITA E A MAÇÃ ROLA PELO CHÃO.
O PROFESSOR TRAZ A PONTA DA VARA PRÓXIMA AOS LÁBIOS DE YEHUDA.
O professor: Ache forças para beijar a vara que lhe bate, Yehuda.
YEHUDA SE AFASTA.
O professor (firmemente):
Nesse caso, Yehuda, você terá que pedir ao Criador força para beijá-la.
A VARA PROTELA EM FRENTE AOS OLHOS DE YEHUDA. YEHUDA ABAIXA SUA CABEÇA, MAS O PROFESSOR NÃO CEDE. A PONTA DA VARA TOCA OS LÁBIOS DE YEHUDA NOVAMENTE.
O professor (insistindo):
Bem, faça isso!
YEHUDA DESISTE.
ELE BEIJA A PONTA DA VARA, E ESTA IMEDIATAMENTE VOA SOBRE AS CABEÇAS DAS CRIANÇAS.
O PROFESSOR AFASTA-SE.
AS CRIANÇAS MONOTONAMENTE RECITAM:
– “Tera viveu setenta anos, e gerou Abrão, Naor, e Harã”…
YANKELE,2 AMIGO DE YEHUDA SENTA-SE AO SEU LADO.
ASSIM QUE O PROFESSOR AFASTA-SE, YANKELE APANHA A MAÇÃ A COLOCA DE VOLTA NO BOLSO YEHUDA.
***
VARSÓVIA. O BAIRRO JUDEU. YEHUDA E YANKELE ESTÃO ANDANDO RUA ABAIXO ALTERNANDO MORDIDAS EM UMA MAÇÃ.
YEHUDA ARRASTA YANKELE PARA A ESQUINA, E DEPOIS DE ALGUNS PASSOS ELES CHEGAM À ENTRADA DE UMA LOJA DE APARÊNCIA ESTRANHA.
LIVROS REVESTEM AS PAREDES DO CHÃO AO TETO NA LOJA MAL ILUMINADA.
YEHUDA ADENTRA, PASSA POR UM ANCIÃO DORMINDO CONTRA A PAREDE E SENTA-SE NUMA GRANDE MESA DE MADEIRA EM FRENTE A UMA PILHA DE LIVROS.
ELE FOLHEIA AS PÁGINAS COMO SE AS FOTOGRAFASSE. YANKELE O OBSERVA COM UMA MISTURA DE ESPANTO E MEDO.
Yankele: Deus lhe deu tais poderes, Yehuda.
A PILHA DE LIVROS EM FRENTE A YEHUDA ESTÁ DESAPARECENDO RAPIDAMENTE. UM ÚLTIMO LIVRO PERMANECE.
-Eu não sei quem me deu, Yehuda resmunga.
Yankele: O Criador quer que você se torne um grande rabino para que você ensine aos outros.
Yehuda (abaixando o livro):
O que eu tenho para ensiná-los?
Yankele: Amar a Deus, a observar os Seus mandamentos, orar sinceramente, e a ser um judeu.
Yehuda: Quem lhe disse isso?
Yankele: Está escrito em todos os nossos livros.
Yehuda (irritado):
Eu não sei. Eu não sei o que está escrito nesses livros!
UMA ROUCA E VELHA VOZ VEM POR DETRÁS DE YEHUDA:
– O velho Salomão lhe preparou uma boa porção.
O VELHO SALOMÃO SE APROXIMA DAS CRIANÇAS, ARRASTANDO-SE AO LONGO DE SEUS CHINELOS VELHOS E GASTOS.
Salomão (em admiração): Como? Você já leu todos eles?!
Yehuda: Salomão, onde está…
Salomão (estende suas mãos):
O velho Salomão não tem este livro. Salomão procurou em toda parte, ele olhou em lugares que nunca tinha olhado antes.
ELE APONTA SEU DEDO PARA CIMA.
Lá em cima, na prateleira menos firme Salomão encontrou as cartas de Ramak.3 E lá (ele se vira bruscamente), no canto da aranha, ele encontrou o grande Ramchal.4
SALOMÃO PARA EM FRENTE À YEHUDA E ESTENDE SUAS MÃOS.
-Mas ele não pode encontrar O Zohar em lugar algum.
SALOMÃO SE VIRA ABRUPTAMENTE E COMEÇA A CAMINHAR AO LONGO DAS ESTANTES. ELE PARECE ESTAR FALANDO SOZINHO.
-Mas ele estava aqui, eu posso jurar! O velho Berele o trouxe para Salomão.
AO MESMO TEMPO EM QUE ELE SE SENTA À MESA ELE BATE SUAS MÃOS NELA.
-Berele disse a Salomão: “Guarde este livro para o pequeno Yehudale”.
A VOZ DE SALOMÃO CRESCE MAIS SUAVE.
– Então onde está? Eu estou lhe perguntando, Salomão, seu velho bobo!
SALOMÃO COMEÇA A FICAR QUIETO. YANKELE OLHA PARA TRÁS.
O VELHO ESTÁ DORMINDO EM SEU LUGAR.
YEHUDA ESTÁ PERDIDO NO LIVRO. TUDO DESAPARECE PARA ELE.
Yankele:
Eu tenho todos os tipos de pensamentos sobre Deus, também, Yehuda. Eu, também, tenho uma opinião.
YEHUDA NÃO RESPONDE.
Yankele continua: Não pense que não há outros como você YEHUDA ESTÁ QUIETO.
SUA MENTE ESTÁ EM OUTRO LUGAR. YANKELE SAI DA LOJA.
***
O BAIRRO JUDEU. DIA.
DEPOIS DE DAR APENAS ALGUNS PASSOS, YANKELE OUVE A VOZ DE SIMCHA CHAMANDO DO OUTRO LADO DA RUA.
Simcha: Onde está Yehuda? Você sabe onde ele está, Yankele?
YANKELE APRESSA O PASSO E VAI EMBORA FINGINDO NÃO OUVÍ-LO. SIMCHA O PERSEGUE, ATRAVESSANDO A RUA.
-“Onde está Yehuda?”- ele pergunta. “Ele não voltou da escola”.
-“O seu Yehuda está sentado numa livraria com um homem velho que murmura para si mesmo e está lendo livros proibidos.” Yankele responde abruptamente e com raiva.
***
A LIVRARIA.
UMA SOMBRA APARECE SOBRE YEHUDA, QUE ESTÁ PERDIDO NUM LIVRO.
A voz de Simcha: Vamos, Yehuda. Já basta.
YEHUDA OLHA PARA SEU PAI.
Simcha: Sua mãe e eu estamos preocupados com o nosso garoto!
A VOZ DE SALOMÃO É OUVIDA DO CANTO:
– Poupe-o de seu cuidado tolo. Ele tem estado sob os cuidados do Criador já há um longo tempo.
SIMCHA AGARRA A MÃO DE YEHUDA E BRUSCAMENTE O PUXA. ELES PASSAM POR SALOMÃO.
SALOMÃO FURTIVAMENTE TOCA NA ROUPA YEHUDA… E DEPOIS BEIJA SUA MÃO.
***
HEIDER. OS RAIOS DO SOL DA MANHÃ PARECEM ESTAR DANÇANDO SOBRE AS MESAS. YEHUDA É CERCADO POR UMA MULTIDÃO DE CRIANÇAS.
ELE TEM OS OLHOS VENDADOS.
Uma voz de criança: Página nove, linha treze do alto.
SEM UM MOMENTO DE HESITAÇÃO, YEHUDA RECITA DE COR UM TEXTO DA TORÁ:
– “E Deus viu que a maldade do homem seria maior na terra…”.
O DEDO DE UMA CRIANÇA SE MOVE AO LONGO DA LINHA DO TEXTO.
Alguém diz em admiração: Sim!
ELES VIRAM ALGUMAS PÁGINAS E OUTRA CRIANÇA CONTINUA:
-Página quinze, terceiro parágrafo de baixo.
Yehuda (imediatamente):
– “E eles disseram: Vinde, edifiquemos para nós uma cidade e uma torre cujo topo pode atingir o céu”…
As crianças (em espanto):
Uau!
DE REPENTE, YANKELE LEVANTA UMA AGULHA LONGA E A ESMAGA NO LIVRO – PRECISAMENTE NA LETRA KAF. A AGULHA PENETRA A PÁGINA DO LIVRO, PÁGINA APÓS PÁGINA.
Yankele: Tire a venda!
YEHUDA TIRA A VENDA E OLHA A LETRA KAF.
Yankele: Então?!
Yehuda: Samekh.
YANKELE VIRA A PÁGINA.
A LETRA “SAMEKH” ESTÁ ATRAVESSADA PELA AGULHA.
UM SUSSURRO ADMIRADO:
Correto.
As crianças (em uníssono):
Uauuuu!
Yankele: Próxima!
Yehuda: Het.
YANKELE VIRA A PÁGINA SEGUINTE… E TODOS VÊEM: A AGULHA ATRAVESSOU A LETRA “HET”.
-“Uauuu! Mais um!” pedem as crianças.
Yankele: Próxima!
Yehuda: Peh.
ELE VIRA A OUTRA PÁGINA. ELE ESTÁ CERTO, É “PEH”.
As crianças (gritando desenfreadas):
Uauuuu!
YEHUDA CONTINUA:
–Mem, Dalet, Aleph, Bet…
DEREPENDE A VOZ DE SHMUEL, O PROFESSOR, É OUVIDA.
-Muito bem, Yehuda!
O PROFESSOR ESTÁ NA PORTA OLHANDO PARA YEHUDA.
O professor: Muitos grandes Hassídicos5 conheciam a Torá tão bem que ela aparecia para eles nos sonhos, palavra por palavra, letra por letra. Você se tornará um grande Hassídico, Yehuda, se você puder trazer o seu grande “Eu” sob controle.
O PROFESSOR APROXIMA-SE DE YEHUDA E ACARICIA SUA CABEÇA.
– O Criador nos orienta da mesma maneira, Yehuda. Um dia você recebe a varinha, no dia seguinte – um doce.
O PROFESSOR TIRA UM PIRULITO COBERTO DE PEDAÇOS DE TABACO DE SEU BOLSO E DÁ À YEHUDA.
OS OLHOS DAS CRIANÇAS ESTÃO FIXOS NESSE DOCE, O QUAL LHES PARECE A COISA MAIS DELICIOSA DO MUNDO.
O professor: Tudo o que Ele faz é porque Ele nos ama.
O professor olha para a classe:
Aprendam a amá-Lo, crianças, e vocês verão que o nosso Deus está sempre com vocês sejam vocês bons ou ruins.
YEHUDA VÊ OS OLHOS DAS OUTRAS CRIANÇAS ARDENDO DE INVEJA E COLOCA O DOCE NA MESA, LONGE DELE.
O professor: Não, não, não, Yehuda. Coma-o. Você merece. E todos os outros ganharam o privilégio de assistir você comendo-o. Talvez a inveja deles faça com que eles conheçam a Torá, assim como você.
Yehuda: Para que conhecê-la desta maneira?
O professor: O que você que dizer?
Yehuda: Eu sei de cor, cada linha, cada palavra. E daí?
O professor: Bem, Yehuda, é estranho ouvir tal pergunta vindo de você. (Desconfiado) Você está fazendo isso de propósito? Eu tenho
uma sensação que você deseja verificar o meu conhecimento, Yehuda? Não faça isso.
Yehuda (muito claramente):
Eu realmente não entendo. Por que eu tenho que saber este livro de cor e salteado?
O professor: Para observar as leis e mandamentos, deve-se aprendê-los de cor.
Yehuda: Por que observá-los?
AS CRIANÇAS VOLTAM OS OLHARES DO PROFESSOR PARA YEHUDA, DEPOIS DE YEHUDA PARA O PROFESSOR. ELES ESTÃO COM MEDO.
O professor (firmemente):
Assim como para ser o povo escolhido (ele cita, levantando a ponta da varinha acima de sua cabeça): “Vocês serão para a mim um reino de sacerdotes e uma nação santa” (Êxodo, 19:6). Isto é o que está escrito: “E todo o povo respondeu em uma só voz e disse: ‘Todas as palavras que o Senhor tem falado nós faremos’.” (Êxodo 24:3). Você se lembra?
Yehuda: Sim, eu me lembro.
YEHUDA ESTÁ PÁLIDO, MAS NÃO DESVIA SEU OLHAR DO PROFESSOR.
O professor: O que é isso que você não entende, Yehuda?
Yehuda (silenciosamente): Eu não entendo… por que eu nasci.
UMA PAUSA SILENCIOSA. SHMUEL, O PROFESSOR, OLHA PARA YEHUDA.
O professor: Você nasceu para observar as leis de Deus Todo Poderoso.
Yehuda: Eu não entendo quem é Ele. O que é Deus?
O professor: Eu não entendo sua pergunta.
Yehuda: Eu nunca o vi. Com o que ele se parece?
O professor: Seus antepassados e Moisés o viram no Monte Sinai.
ELE CITA NOVAMENTE, ACENANDO COM SUA VARINHA:
“Moisés, em seguida, subiu, junto com Aaron, Nadav e Avihu, e setenta dos anciãos de Israel” (Êxodo, 24:1). “E viram o Deus de Israel” (Êxodo, 24:10).
O PROFESSOR DE REPENTE APONTA SEU DEDO PARA YEHUDA:
-Continue!
Yehuda: “E eles viram Deus, e comeram e beberam” (Êxodo, 24: 11).
O professor: Bem, você sabe tudo. Por que então você está fazendo perguntas?!
Yehuda: Eu não sei de nada. Eu não quero saber. Eu quero…
ELE FICA EM SILÊNCIO. SUA RESPIRAÇÃO SE TORNA RÁPIDA E SUPERFICIAL.
O professor (impacientemente):
Então?
Yehuda: Eu quero… sentir. Eu quero… encontrá-Lo. Vê-Lo!
Eu quero saber quem Ele é – o nosso Deus, se Ele existe. Eu quero saber o que está por trás de todas estas palavras.
O PROFESSOR OLHA YEHUDA COM A BOCA ABERTA. TODAS AS CRIANÇAS ESTÃO ATORDOADAS.
O professor (mal começando a perceber, muito lentamente):
Eu penso, Yehuda, que é melhor que você deixe a sala de aula. (E de repente grita) Fora! Saia fora!
***
VARSÓVIA. UMA RUA NO BAIRRO JUDEU. YEHUDA ANDA AO LONGO DA RUA.
ELE NÃO PERCEBE OS VENDEDORES DE RUA MONTANDO SUAS BANCADAS DE MERCADORIAS OU O VELHO MENDINGO DORMINDO NUMA POÇA OU O VIOLINISTA MALUCO TOCANDO COM UMA SÓ CORDA.
YEHUDA ESTÁ IMERSO EM SEUS PENSAMENTOS. ELE ATRAVESSA A ESTRADA E DE REPENTE OUVE UM GRITO:
-Uau! Opa!
A CABEÇA DE UM CAVALO PAIRA SOBRE ELE; O ROSTO DE UM COCHEIRO RUIVO APARECE POR TRÁS DELE.
Cocheiro: Você está cansado desta vida?!
YEHUDA VIRA PARA TRÁS, ASSUSTADO, E SAI CORRENDO PELA RUA. CARTAZES DAS LOJAS PASSAM COMO NUM RELÂMPAGO, OS OLHARES DAS PESSOAS O SEGUEM. ELE VIRA A ESQUINA E ESBARRA EM YANKELE. AMBOS CAEM NO CHÃO. SEM SE LEVANTAR, YANKELE SUSSURRA PARA YEHUDA:
-Não vai para casa. O professor está lá.
YEHUDA DÁ UM SALTO E SE LEVANTA, YANKELE O ACOMPANHA. YEHUDA TENTA PASSAR AO REDOR DELE.
YANKELE AGARRA A MANGA DA CAMISETA DE YEHUDA:
-Eu conheço um lugar não longe daqui. Nós podemos esperar lá.
YEHUDA SE LIVRA E VAI PARA CASA. YANKELE CORRE ATRÁS DELE.
ELE OLHA EM VOLTA E SUSSURRA, PRESSIONANDO SEU CORPO CONTRA A YEHUDA:
-Não há Deus. Eu estou com você, Yehuda.
***
CASA DA FAMÍLIA ASHLAG. YEHUDA ABRE A PORTA.
NO CANTO DISTANTE DA SALA, SEUS PAIS E SHMUEL, O PROFESSOR, ESTÃO SENTADOS JUNTOS.
O PROFESSOR GESTICULANDO COM AS MÃOS.
SUAS MÃOS PARAM NO AR QUANDO ELE VÊ YEHUDA.
YEHUDA PASSA POR ELES A CAMINHO DE SEU QUARTO, SEPARADOS POR UMA PAREDE FINA.
ELE SENTA-SE NA CAMA E OUVE AS PALAVRAS SUSSURRADAS DO PROFESSOR:
-Sim, eu os culpo. A quem mais deveria culpar?
YEHUDA DEITA E COBRE O ROSTO COM UM TRAVESSEIRO. HÁ SILÊNCIO.
ELE OLHA PARA UMA PENA DO TRAVESSEIRO QUE OSCILA PARA FRENTE E PARA TRÁS AO RITMO DE SUA RESPIRAÇÃO.
ELE OUVE PASSOS LEVES.
ALGUÉM ESTÁ SENTADO NA CAMA AO LADO DELE. A MÃO DE ALGUÉM REMOVE O TRAVESSEIRO DE SUA FACE.
YEHUDA VÊ SEU PAI COM SUA MÃE PARADOS PRÓXIMOS DELE. SEU PAI AJEITA O SEU COBERTOR.
SUA MÃE INCLINA-SE E O BEIJA.
YEHUDA DESESPERADAMENTE PLEITEIA COM SEUS OLHOS E SUSSURRA QUASE INAUDÍVEL:
-Eu não sei para o que eu estou vivendo.
SEU PAI OLHA PARA ELE, ATERRORIZADO:
-Você é nosso filho. Você tem apenas cinco anos, Yehuda! Você será para sempre o nosso filhinho amado. Ninguém pensa sobre tais coisas na sua idade!
YEHUDA SENTA-SE, INQUIETO, SE INCLINA EM DIREÇÃO A SIMCHA, E SUSSURRA, OLHANDO DIRETAMENTE EM SEUS OLHOS:
-Eu não quero viver.
SIMCHA OLHA DE VOLTA À SUA ESPOSA, QUE ESTÁ COBRINDO A BOCA COM A MÃO. SIMCHA SE VIRA PARA OLHAR O FILHO.
-Não há maior pecado, meu pobre, pobre menino. Não é fácil viver neste mundo, especialmente para nós judeus. Mas assim é o mundo que o Criador nos deu. As crianças estão destinadas a serem felizes neste mundo… (com angústia) Por que lhe roubaram a sua infância? Por que está tão maduro? Por quê?!
SUA MÃE SAI DO QUARTO. NÓS PODEMOS OUVIR O SOM DE SEUS SOLUÇOS ABAFADOS.
Simcha: Nós iremos ver o rabino Feldman amanhã e você vai dizer-lhe tudo. Durma um pouco agora. Durma e não pense em nada, além do Criador. Ele está sempre com você.
SIMCHA LEVANTA-SE.
A PORTA FECHA-SE ATRÁS DELE, E APENAS A LUA PROJETA UMA LUZ TÊNUE NO PARAPEITO DA JANELA, NA MESA, E NO LINHO BRANCO.
AS MÃOS DE YEHUDA DESCANSAM SOBRE O COBERTOR.
YEHUDA OBSERVA O CRESCENTE FRIO DA LUA ESPREITANDO O QUARTO, ENTÃO VOLTA SEUS OLHOS PARA O TETO.
O TETO ESTÁ COBERTO DE CÍRCULOS DE UMIDADE ACUMULADA.
UM PONTO NEGRO SE SOBRESSAI NO MEIO DOS CÍRCULOS.
Yehuda (contando os círculos):
-Um, dois, três, quatro…
ELE FECHA OS OLHOS.
DE REPENTE ELE BATE NA PAREDE, GEMENDO DE DESESPERO. A PAREDE FINA ESTREMECE COM O GOLPE.
AS ESTANTES PENDURADAS ACIMA DA CAMA ESTREMECEM, E LENTAMENTE UM LIVRO DESMORONA DO ALTO.
O LIVRO CAI EM YEHUDA, SUAS PÁGINAS BATENDO COMO UM ENORME PÁSSARO DE ASAS BRANCAS.
O LIVRO CAI EM CIMA DELE BEM DEVAGAR E COBRE INTEIRAMENTE O ROSTO DELE. CAI A NOITE.
YEHUDA SUSPIRA ALIVIADO. O ROSTO DELE ESTÁ ILUMINADO DE ALEGRIA PELA PRIMEIRA VEZ EM MUITO TEMPO.
PODEMOS OUVIR APENAS A RESPIRAÇÃO DO MENINO.
O ROSTO DE YEHUDA ESTÁ SOB O LIVRO. ELE VÊ AS LETRAS DE MUITO PERTO.
ELAS FLUTUAM FORA DE FOCO E PARECEM MUITO GRANDES.
YEHUDA CAUTELOSAMENTE LEVANTA O LIVRO. ELE O SEGURA COM OS BRAÇOS ESTICADOS.
SEUS LÁBIOS ESTÃO SE MOVENDO E NÓS O OUVIMOS SUSSURRANDO:
-… E ele disse: “Para aquele que quiser vir a mim, deixe que sejam os primeiros portões em seu caminho para mim. Quem entra nesses portões, entra”…
O MENINO ESTÁ LENDO.
A ESCURIDÃO DA NOITE É PERSEGUIDA PELA LUZ DA MANHÃ DO LADO DE FORA DA JANELA.
***
MANHÃ. BEM CEDO.
OS GARIS ESTÃO LIMPANDO AS RUAS.
UMA VELA ESTÁ QUEIMANDO NA JANELA DO SEGUNDO ANDAR DA CASA VELHA. É A VELA DO QUARTO DE YEHUDA.
OS SONS DA MANHÃ PERMEIAM O QUARTO: O RANGER DE UM CARRINHO, O GRITO DE UM COCHEIRO, O FARFALHAR DE VASSOURAS NA CALÇADA.
MAS YEHUDA NÃO OS OUVE.
ELE ESTÁ SENTADO NA CAMA LENDO O LIVRO ÁVIDAMENTE. A PORTA SE ABRE E SEU PAI ENTRA NO QUARTO.
YEHUDA LENTAMENTE OLHA PARA CIMA. ELE ESTÁ EM SILÊNCIO. SIMCHA SENTA AO LADO DE SEU FILHO E O ABRAÇA.
ELE VÊ O NOME DO LIVRO QUE SE ENCONTRA SOBRE OS JOELHOS SEU FILHO.
Simcha: Então, você o achou?
Yehuda: Sim.
Simcha: Você leu?
Yehuda: Sim.
Simcha: Todo o livro?
Yehuda: Sim.
Simcha: Você entendeu alguma coisa?
Yehuda: Eu entendi que ele contém todas as coisas.
SEU PAI VOLTA O OLHAR DELE PARA O LIVRO, E ENTÃO RETORNA À YEHUDA. ELE SUSPIRA.
***
-Ouvi dizer que você pode ficar louco por lê-lo, e que você não pode lê-lo até que você preencha-se com toda a sabedoria da sagrada Torá, e que você não pode aproximar-se dele antes dos 40 anos. As pessoas dizem um monte de coisas. Eu nunca tentei lê-lo. Você já leu e até mesmo entendeu alguma coisa. Você o abriu quando você tinha três anos. Eu fui obrigado a escondê-lo, então assim eu fiz. Mas você o encontrou novamente. Bem, acho que é assim que está destinado a ser.
MANHÃ. SINAGOGA.
SIMCHA E YEHUDA ESTÃO EM FRENTE DO RABINO FELDMAN.
Rabino Feldman: Então ele o encontrou afinal, e até mesmo entendeu alguma coisa?
Yehuda: Ele caiu sobre mim da prateleira de cima. Eu li e entendi apenas que é meu livro. Ele foi escrito para mim.
RABINO FELDMAN OLHA PARA YEHUDA POR MUITO TEMPO, ENTÃO GESTICULA PARA DUAS CADEIRAS VAZIAS AO LADO DE SUA MESA.
YEHUDA SENTA MAIS PERTO DO RABINO FELDMAN; SIMCHA SENTA-SE ATRÁS DELE.
Rabino Feldman: Eu quero dizer a você, Simcha, que há pessoas a quem você não pode restringir pela força. Você também não pode esconder nada deles. Eles dizem que tais pessoas têm um “ponto no coração”.6 O Criador trata essas pessoas de uma maneira especial. Eles, também, têm uma atitude especial para com o Criador.
RABINO FELDMAN VOLTA O OLHAR À YEHUDA.
Rabino Feldman: Como eles vêm a este mundo e como esse grande livro os encontra está além da nossa compreensão.
RABINO FELDMAN ESTÁ PERDIDO EM PENSAMENTO. SEU OLHAR DESFOCADO ESTÁ VAGANDO EM ALGUM LUGAR ATRÁS DE YEHUDA E SIMCHA.
Rabino Feldman: Eu apenas vi um desses homens em minha vida. Seu nome era Mehachem Mendel de Kotzk.7
RABINO FELDMAN BALANÇA A CABEÇA. SEUS OLHOS DE REPENTE SE ENCHEM DE LÁGRIMAS E SUA VOZ ESTÁ CHEIA DE MELANCOLIA:
-Uma alma verdadeiramente grande queimava dentro dele. Ele se esforçou para chegar ao Criador, deixando de lado qualquer coisa que se colocasse em seu caminho. Seus discípulos o seguiram, mas caíram ao longo do caminho, incapazes de suportar aquela chama ardente. Ele não tinha misericórdia, nem para si nem para eles. Ele queria somente o Criador.
YEHUDA OLHA O RABINO FELDMAN INTENSAMENTE.
RABINO FELDMAN BALANÇA A CABEÇA:
Rabino Feldman: Não, Yehuda, ele não está mais entre nós. Pessoas dizem que ele nunca deixou o quarto dele durante os últimos vinte anos de sua vida. O que se passava lá dentro, ninguém sabe. Ele morreu sem dizer uma palavra, nem mesmo para seus alunos mais próximos.
RABINO FELDMAN FICA QUIETO. OLHA PARA YEHUDA, E ENTÃO PARA SIMCHA:
Rabino Feldman: Eu conheço um deles.
YEHUDA ANCIOSO SE INCLINA PARA FRENTE.
Rabino Feldman: Ele é um homem estranho, e minha palavra não significa nada para ele. Mas antes de decidirmos qualquer coisa, eu quero que o seu pobre pai saiba que ele está escolhendo uma vida de sofrimentos para você. Deixe que seu pai saiba disso e então decida.
YEHUDA OLHA SUPLICANTE PARA SEU PAI. SEU PAI OLHA PARA O RABINO FELDMAN. RABINO FELDMAN SE LEVANTA E CAMINHA NA DIREÇÃO DOS LIVROS.
ELE FINGE PESQUISÁ-LOS, OBSERVANDO O PAI E O FILHO COM O CANTO DO SEU OLHO.
SIMCHA FICA EM SILÊNCIO POR UM LONGO TEMPO. YEHUDA TAMBÉM ESTÁ EM SILÊNCIO.
UM MINUTO, DOIS, TRÊS SE PASSAM.
FINALMENTE, SIMCHA OLHA PARA O RABINO FELDMAN.
Simcha: Qual é o nome dele?
Rabino Feldman: Baruch.
Simcha: Como podemos encontrar este Baruch?
***
SIMCHA E YEHUDA ESTÃO ANDANDO POR UMA ESTREITA ESTRADA CAMPESTRE ENTRE UM CAMPO E UMA FLORESTA.
É PRIMAVERA; PÁSSAROS ESTÃO CANTANDO NO CÉU. A ESTRADA LEVA A UMA PEQUENA VILA.
SUAS PEQUENAS CASAS DE MADEIRA, ENEGRECIDAS PELA ÁGUA DA CHUVA, APARECEM NA DISTÂNCIA.
A CASA SOLITÁRIA ESTÁ NA BEIRA DA FLORESTA.
PARECE DESERTA. AS JANELAS ESTÃO COBERTAS COM TÁBUAS. SIMCHA VAI ATÉ A PORTA,BATE, MAS NINGUÉM RESPONDE. SIMCHA ANDA AO REDOR DA CASA, RETORNA PARA YEHUDA.
YEHUDA ESTÁ OLHANDO, COM SEUS OLHOS BEM ABERTOS PARA AS JANELAS COBERTAS. SIMCHA OLHA ATENTAMENTE NO MESMO LUGAR E DE REPENTE ELE VÊ ATRAVÉS DAS FISSURAS ENTRE AS TÁBUAS UM PAR DE OLHOS MUITO AZUIS SEGUINDO-O, ESTUDANDO-O DE PERTO.
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Ambientação
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SIMCHA ABRE A BOCA LIGEIRAMENTE, ESPANTADO; ELE QUER DIZER ALGO, MAS ANTES QUE ELE POSSA, A VOZ ALTA E AGUDA DE UM ESTRANHO DIZ:
-Eu quero uma dúzia de ovos, dois tomates, e um pão. A porta se abre. Deixe o pequeno judeu entrar, e você fique aí.
Simcha (indignado):
Não, eu entrarei com ele.
A Voz: Então ninguém entrará. Voltem de onde vocês vieram!
YEHUDA APERTA A MÃO DO PAI E OLHA PARA ELE SUPLICANTEMENTE.
Simcha (em dúvida):
Bem, como eu posso deixar você ir lá, sozinho?
ELE FICA EM SILÊNCIO DEPOIS DE VER OS OLHOS DE YEHUDA.
YEHUDA DÁ UM PASSO ADIANTE, ABRE A PORTA E DESAPARECE LÁ DENTRO. SIMCHA PRESSIONA-SE CONTRA A JANELA COBERTA.
ATRAVÉS DAS RACHADURAS ELE PODE VER UM QUARTO ESQUÁLIDO E UMA MESA GRANDE, FEITA GROSSEIRAMENTE, EM SEU CENTRO.
SIMCHA VÊ YEHUDA À MESA E O HOMEM VELHO DESGRENHADO, BARUCH, EM FRENTE A ELE.
SIMCHA PODE OUVIR A VOZ AGUDA DO VELHO.
-Não acredite em ninguém. Teste tudo você mesmo. Tudo o que eles chamam de fé lá fora é um absurdo.
SIMCHA BALANÇA A CABEÇA EM ANGÚSTIA.
Baruch: Eles lhe disseram que o Criador existe. Não acredite!
SIMCHA SE CONTORCE PARA VER DENTRO DA SALA ATRAVÉS DAS RACHADURAS E SEUS OLHOS SE ENCHEM DE LÁGRIMAS DE DESESPERO E MEDO.
SIMCHA VÊ BARUCH DEBRUÇANDO-SE SOBRE YEHUDA.
Baruch: Encontre-o você mesmo. Fé é um conhecimento do coração.
Sinta-o você mesmo! Entendeu?
Yehuda: Sim.
SIMCHA COBRE SEUS OUVIDOS COM AS MÃOS, DÁ UMA VOLTA, E RAPIDAMENTE SE AFASTA DA CASA.
NO QUARTO, BARUCH SE LEVANTA E COMEÇA A ANDAR EM CÍRCULOS EM TORNO DE YEHUDA, E DE REPENTE PARA NA FRENTE DE YEHUDA.
Baruch: Você já viu um homem se transformar em um pássaro?
Yehuda: Não, eu não vi.
Baruch: Você crê que possa acontecer?
Yehuda: Não, eu não creio.
Baruch: Você não acredita em milagres, Não é? Muito bem. Você está certo. Não faça isso.
O ROSTO DE BARUCH ESTÁ MUITO PERTO DO ROSTO DE YEHUDA.
DE REPENTE, ELE DA UMA VOLTA E CAMINHA ATÉ A PAREDE E PARA. YEHUDA O OBSERVA ATENTAMENTE.
ELE VÊ O OMBRO DIREITO DE BARUCH COMEÇAR A TREMER.
UM BARULHO DE PANO SENDO RASGADO. DIANTE DOS OLHOS DE YEHUDA, A CAMISA ESFARRAPADA DO VELHO ESTÁ SENDO RASGADA.
DE REPENTE, UMA ASA BRANCA BALANÇA E COMEÇA A FLUTUAR, COMO SE ESTIVESSE TENTANDO LEVANTAR BARUCH DO CHÃO.
YEHUDA CONGELA. ELE MAL RESPIRA, APAVORADO.
ENTÃO, A SEGUNDA ASA SURGE ATRAVÉS DA CAMISA, TREMENDO, COMO SE EM AGONIA.
***
ENTÃO AMBAS AS ASAS VIOLENTAMENTE BATEM NO AR, CAUSANDO FORTES RAJADAS DE VENTO.
AS RAJADAS RASGAM AS TEIAS DE ARANHA NOS CANTOS E ELEVAM O A VELHA POEIRA DO CHÃO; UM BALDE VAZIO RESSOA EM ALGUM LUGAR.
BARUCH SE VIRA PARA YEHUDA.
ATORDOADO, YEHUDA VÊ UM LONGO BICO ONDE O NARIZ DE BARUCH COSTUMAVA ESTAR, OLHOS COMO BOTÕES E UM TUFO DE PENAS AMARELA-AVERMELAHADAS EM CIMA DE SUA CABEÇA.
AS COSTAS DE YEHUDA SE CONGELAM DE MEDO.
ELE VÊ AS PERNAS DE BARUCH SE TRANSFORMAR NAS PERNAS FORTES E MUSCULOSAS DE UM GRANDE PÁSSARO.
O PÁSSARO-BARUCH GRITA E SE ESGUICHA PASSANDO POR YEHUDA PARA A JANELA SELADA.
AS TÁBUAS COBRINDO A JANELA SE QUEBRAM EM PEQUENAS LASCAS.
YEHUDA VÊ COMO UM GRANDE PÁSSARO BRANCO VOA PARA FORA DA CASA E, LENTAMENTE BATENDO SUAS ASAS PODEROSAS, SOBE EM DIREÇÃO DO SOL POENTE. ELE VOA RASANTE SOBRE SIMCHA, QUE ESTÁ CAMINHANDO NO CAMPO.
MAL TOCANDO A PONTAS DAS ÁRVORES, PÁSSARO-BARUCH VOA DA FLORESTA EM DIREÇÃO AO SOL.
YEHUDA NÃO CONSEGUE SE MEXER.
TUDO ESTÁ EM CAOS NA CASA.
NO CANTO, UMA ARANHA SE PENDURADA POR UM FIO EM UMA TEIA. TUDO É ABSOLUTA QUIETUDE.
DE REPENTE, TUDO FICA EMBAÇADO AOS OLHOS DE YEHUDA, E QUANDO A CENA RETOMA FOCO, YEHUDA VÊ O ROSTO DE BARUCH, AINDA PERTO DO DELE.
Baruch: Você viu?
Yehuda (sussurrando):
Sim, eu vi.
Baruch: Você crê agora?
Yehuda (tentando engolir o nó engasgado em sua garganta):
S-sim, eu creio.
Baruch: No quê você acredita, (Baruch se inclina) nesta besteira?!
Yehuda (gaguejando):
Mas eu… Eu vi…
Baruch: O que você viu?
Yehuda: Um pássaro.
Baruch: Um pássaro?
Yehuda: Um grande… pássaro.
Baruch: E se eu lhe disser que nada aconteceu, seu judeuzinho tolo?
Yehuda: Mas eu… o vi… eu mesmo. Você se transformou em… Baruch: E se eu lhe disser que o que você viu foi um truque?! Yehuda: Um truque?!
Baruch: Sim!Um simples abracadabra! Um truque barato!
Yehuda: Um truque?!
Baruch: Isso foi suficiente para levá-lo para longe do Criador.
AS MÃOS DE YEHUDA COMEÇAM A TREMER.
Baruch (como se não percebesse sua condição):
Você é fraco. Você caiu num truque barato e deu a isso uma grande definição: Fé.
AGORA OS LÁBIOS DE YEHUDA COMEÇAM A TREMER.
-Nunca mais faça isso, me escute! – Baruch de repente grita com ele. – Lembre-se! Você tem que tornar-se forte! E compreender – não há milagres neste mundo! Todos os milagres neste mundo nada mais são do que truques baratos!
BARUCH SE POSICIONA ACIMA DE YEHUDA.
-Truques! Você está escutando? O ROSTO DE YEHUDA ESTÁ CONGELADO DE MEDO.
SEUS OLHOS OLHAM PARA BARUCH SUPLICANTEMENTE.
DE REPENTE, BARUCH FICA MOLE E SE SENTA À MESA CANSADO. ELE OLHA NOS OLHOS DE YEHUDA.
-Eu conhecia muitos desses truques, – diz ele. – Eu podia manipular as pessoas como eu quisesse. E eu fiz. Esses tolos, eles foram hipnotizados e seguiam-me em qualquer lugar que eu os guiasse. Eu me tornei famoso. Fiz uma fortuna.
ELE PAUSA.
DE REPENTE ELE COMEÇA A FALAR CLARAMENTE PARA QUE YEHUDA POSSA OUVIR CADA PALAVRA:
Baruch: Mas quanto mais eu estava me afundando nessa mentira, mais eu descobria um abismo entre o Criador e eu. Ele estava me deixando. Você está me ouvindo, Yehuda? Você me ouve?
Yehuda (sussurrando):
Sim.
Baruch: Fé é quando o Criador aparece para você. E você realmente O sente, da maneira que você me sente. Ele irá aparecer para você somente quando você parar de acreditar em toda essa baboseira: que algum milagre pode realmente acontecer aqui neste mundo, nesta terra. Não pode.
BARUCH PARA DE FALAR. ELE BALANÇA EM SUA CADEIRA E OLHA PARA YEHUDA.
Baruch: Por que você veio a mim? Por que a vida o tratava com dureza?
Yehuda: Eu estava em desespero.
Baruch: Como assim?
Yehuda: Eu não sabia porque eu estava vivendo.
Baruch: Você sabe agora?
Yehuda: Sim, eu sei.
Baruch: Então… Diga-me. Por que você está vivendo?
Yehuda (em dúvida):
Eu quero… Eu quero… (para de falar)
Baruch: Então?
Yehuda: Eu quero…
Baruch (impacientemente):
Então, o que você quer?
Yehuda (exala): Eu quero conhecê-Lo.
BARUCH PARA DE BALANÇAR SUA CEDEIRA E PERGUNTA:
-O quê?
Yehuda: Eu quero conhecê-Lo.
Baruch (silenciosamente):
Você quer conhecê-Lo?
Yehuda: Sim. Baruch (mais alto): Ele? Yehuda: Sim.
Baruch (com desdém): Você-ê-ê-ê… quer conhecer o Rei do Universo?
Yehuda (murmura): Sim.
Baruch (pressionando): Você inseto insolente, você-ê-ê-ê… pequena gota de
sujeira que acredita em toda a escória deste mundo?
O ROSTO DE BARUCH SE CONTORCE EM UMA CARETA. SUA BOCA SE ABRE PARA ENGOLIR AR EM GRANDES GOLES.
-Você quer conhecê-Lo?! Você sabe o que significa conhecê-Lo?! Você, conhecê-lo?!
YEHUDA ESTÁ QUIETO, TALVEZ POR MEDO OU PORQUE ELE NÃO SABE O QUE DIZER.
Baruch (assobia): Significa tornar-se digno dessa reunião. Digno! ELE PRESSIONA YEHUDA E NOVAMENTE LHE PERGUNTA DIRETAMENTE:
-E o que significa tornar-se digno de tal reunião? Os maiores, e mais sábios falharam! Os melhores dos melhores! Você sabia disso?
E SEM ESPERAR UMA RESPOSTA, ELE EXALA:
-O maior, o mais sábio … Aqueles que entregaram suas vidas a Ele… Ele não os aceitou!
BARUCH DE REPENTE FICA EM SILÊNCIO.
ELE NOVAMENTE VÊ O ROSTO ATERRORIZADO DE YEHUDA E SUAS MÃOS INFANTIS ERGUIDAS COMO SE EM DEFESA.
BARUCH SILENCIOSAMENTE LEVANTA-SE, ELEVANDO-SE SOBRE O MENINO. UM RATO ESTÁ CORRENDO PARA UM CANTO.
HÁ UM SILÊNCIO INCOMUM LÁ FORA.
-Você está assustado? – Baruch pergunta.
-Sim. Yehuda responde quase que inaudível.
– Bom. O primeiro mandamento é o medo. Mas você não deve temer a mim. Quem sou eu? Eu não sou nada. Tema a Ele!
BARUCH SENTA-SE E VOLTA SEU OLHAR FIXO EM YEHUDA PARA A MESA SUJA EM FRENTE A ELE.
ELE FORÇA A SI MESMO À FALAR:
-Você deve ter medo… de desapontá-Lo…
AS MÃOS DE BARUCH ENROLADAS NUMA TEIA DE VEIAS INCHADAS ESTÃO DESCANSANDO IMPOTENTES SOBRE SEUS JOELHOS. ELE SUSPIRA:
-Você não pode imaginar quão certo você está, Yehuda. Você descobriu o plano Dele. Mais do que qualquer outra coisa, Ele quer que todos nós digamos o que você acabou de dizer: “Queremos conhecê-Lo; não podemos viver sem Você, e tendo dito isso, faria qualquer coisa para que isso aconteça!”
ATRAVÉS DAS RACHADURAS NA JANELA É POSSÍVEL VER SIMCHA ANDANDO DE VOLTA EM DIREÇÃO À CASA.
ELE CHEGA PERTO E OLHA ATENTAMENTE PARA O INTERIOR.
ELE VÊ YEHUDA E BARUCH SENTADOS PACIFICAMENTE UM DIANTE DO OUTRO, E ELE TAMBÉM SE SENTA EM UMA PILHA DE LENHA DEBAIXO DA JANELA.
ELE SE BALANÇA SILENCIOSAMENTE COMO SE ESTIVESSE REZANDO. O SOL ESTÁ SE PONDO POR TRÁS DA FLORESTA.
DENTRO DA CASA, BARUCH, EM SILENCIO, ALCANÇA DEBAIXO DA MESA E PEGA UM
LIVRO VELHO COM UMA CAPA ESFARRAPADA. ELE COLOCA O LIVRO SOBRE A MESA E O COBRE COM A MÃO.
Baruch: Você conhece este livro?
Yehuda: Este é O Livro do Zohar.
Baruch: Você já o leu?
Yehuda: Sim, eu li.
Baruch: Você entendeu?
Yehuda: Não.
Baruch: Você o sentiu?
Yehuda: Sim, eu senti.
Baruch: O que você sentiu?
Yehuda: Calor.
Baruch: Isso é bom … Calor é muito bom. O Livro do Zohar é o maior livro da humanidade, embora as pessoas ainda não percebam isso. (Baruch está sendo contido e suave agora. Ele quer que Yehuda o ouça e o entenda.) Todos os livros sagrados, Yehuda, foram escritos por Cabalistas. Cabalistas vivem nos mundos espirituais, enquanto você, Yehuda, está aqui. Eles estão escrevendo para você, pessoalmente, pequeno Yehuda, de lá de cima. Lá em cima é a Luz, e aqui tudo é escuridão. Eles descrevem para você, Yehuda, o caminho para a luz.
BARUCH LEVA SEU ROSTO PRÓXIMO AO DE YEHUDA E SUSSURRA EM VOZ ALTA:
-Anseie por chegar perto Dele o tempo todo. Você está me ouvindo, Yehuda? Perceba que se você não conseguir, para mais nada valerá a pena viver.
BARUCH DE REPENTE ESPALHA SEUS BRAÇOS E PRONUNCIA MISTERIOSAMENTE:
-“Século II EC. Judéia está sob o domínio romano. Como cães, os romanos estão procurando por toda parte, cheirando cada trilha, rondando cada estrada, parando cada transeunte”.
***
DE REPENTE, UMA IMAGEM É EXIBIDA.
JUDÉIA DO SÉCULO II. ROMANOS ESTÃO CORRENDO COM SUAS ARMADURAS ECOANDO. AQUI ELES CAMINHAM NA FLORESTA, LEVANTANDO CADA ARBUSTO.
AQUI ELES ESTÃO PRESSIONANDO DOIS VELHOS JUDEUS CONTRA A PAREDE, SUAS LANÇAS PRESSIONANDO MAIS E MAIS A CARNE DELES.
A voz de Baruch: O que estes cães estão procurando? Eles estão caçando, na procura do Rabino Shimon bar Yochai,8 o aluno mais proeminente do grande Rabino Akiva.9
YEHUDA ESTÁ OLHANDO BARUCH,COM ATENÇÃO.
BARUCH, O GRANDE ATOR, PERSONIFICA TODOS OS PERSONAGENS EM SUA HISTÓRIA.
Baruch (mudando sua voz):
Rabino Akiva foi executado horrivelmente, publicamente torturado até a morte. Agora é a vez de seu discípulo principal, Rabino Shimon. “O Exxxxxecutem! O Executem diante da multidão!” – Gritam os simplórios. ” Despelem-no vivo e deixe que todos vejam como seu grande sábio geme, implorando por misericórdia! O seu graaann-de sábio”
UMA TRILHA SERPENTEIA ATÉ O LADO DE UMA COLINA, ESQUIVANDO-SE DAS ÁRVORES, ATRAVÉS DA FLORESTA E SUBINDO RIACHOS PEDREGOSOS, ESPREMENDO-SE ATRAVÉS DE PASSAGENS SINUOSAS, MAIS E MAIS ALTAS.
A voz de Baruch: Claro! Alguém disse aos romanos que o grande não é outro senão Rabino Shimon. Que ele, juntamente com seu grande filho, Elazar, estão minando o domínio romano. Estes cães romanos, cabeças de lata… só não sei como dois judeus miseráveis poderiam subverterem-se a grande bestialidade romana, o império, o poder! Eles não podem compreender isso, mas o sentem!
O CAMINHO PERDE-SE NA GRAMA ALTA E DE REPENTE REAPARECE DIANTE DA BOCA DE UMA CAVERNA.
-Mas seus temores se justificam. Naquele exato momento, em uma caverna apertada, úmida ao Norte da Terra de Israel, uma força poderosa está sendo desencadeada contra todo o mal que está e sempre estará sobre a face da terra.
UMA VELA QUEIMA PROFUNDAMENTE NA CAVERNA, MAL ILUMINA AS CARAS BARBUDAS DOS HOMENS SENTADOS LÁ DENTRO.
YEHUDA OUVE A VOZ DE BARUCH:
-Você vê a caverna?
Yehuda: Sim.
A voz de Baruch: Tem alguém lá dentro?
Yehuda: Sim. Tem dez homens. Eu os vejo.
A voz de Baruch: O que você acha que eles estão fazendo lá dentro?
Yehuda: Eles estão se escondendo dos romanos.
A voz de Baruch: Correto. E por que se escondem?
Yehuda: Eu não sei.
A voz de Baruch: Eles estão escrevendo o grande Livro do Zohar, é por isso que eles estão lá. (A voz de Baruch é calma e confiante.) Eles estão escrevendo o livro que descreve como o mundo inteiro,como cada pessoa pode sair da sujeira deste mundo, sair do ódio de um para com o outro, e aprender verdadeiramente, não para o seu próprio bem, Yehuda, mas verdadeiramente amar.
BARUCH SACODE A CABEÇA E TENTA ANIMAR SUA EXPLICAÇÃO COM GESTOS.
-Ame o seu próximo, ame o mundo toooooodo, ame a todos … Amor! E saiba, Yehuda, que o amor não é apenas uma palavra. Amar é não pensar em si mesmo, mas somente nos outros! É viver não só para o seu próprio bem, mas para o bem dos outros! Isso é amor.
OS OLHOS DE BARUCH ESTÃO ARDENDO; ELE ESTÁ SEM FÔLEGO DE TANTA ALEGRIA.
-Você entende, Yehuda, o quão sublime é isso? É assim tão elevado, meu filho! Faz minha cabeça girar! Basta imaginar, tudo aconteceu no século II, quando o mundo estava se afogando em sangue, quando as pessoas foram ceifadas por epidemias como folhas de grama. Foi uma época onde o poder, a fama e a riqueza eram os principais valores do mundo. No entanto, em um momento tão podre, dez magros, homens famintos estavam escrevendo um livro sobre amor, sobre o que tinham alcançado. Eles estavam escrevendo um livro sobre a sua conexão com o Criador, Yehuda.
BARUCH ESTÁ EM FRENTE A ELE, BALANÇANDO SUA CABEÇA, COMO SE MARAVILHADO COM SUAS PRÓPRIAS PALAVRAS:
-O que você dirá sobre isso, filho?!
YEHUDA ESTÁ QUIETO. O QUE ELE POSSÍVELMENTE PODERIA DIZER A RESPEITO DAQUILO?!
ELE ESTÁ OLHANDO PARA BARUCH EM ADMIRAÇÃO, E BARUCH CONTINUA:
-Do que todos estes romanos têm tanto medo? É apenas um livro, apenas um livro sobre amor. Mas sentiram, Yehuda, eles sentiram que uma força tremenda estava sendo colocada dentro dele, uma força capaz de transformar este mundo sujo e injusto inteiramente.
BARUCH SE APROXIMA DE YEHUDA:
-E agora, responda-me, Yehuda. Como pode este livro possuir tal poder?
Yehuda (silenciosamente): Porque eles não estão escrevendo sozinhos.
Baruch (apontando um dedo à Yehuda):
Muito bem!
Yehuda: É porque… o Criador está escrevendo o livro com eles.
BARUCH ESTÁ OLHANDO PARA YEHUDA.
DA JANELA, SIMCHA ESTÁ OLHANDO PARA YEHUDA TAMBÉM. BARUCH MURMÚRA:
-A lição acabou. Leve-o embora.
***
***
UMA ESTRADA RURAL.
YEHUDA E SIMCHA ESTÃO SEGUINDO RUMO A UMA FLORESTA DISTANTE. SIMCHA ESTÁ CONSTANTEMENTE SE INCLINADO SOB YEHUDA E SONDANDO-O COM PERGUNTAS.
YEHUDA RESPONDE BREVEMENTE, PERDIDO EM SEUS PRÓPRIOS PENSAMENTOS. ESTÁ FRIO.
SIMCHA TIRA A SUA SOBRECASACA PRETA E COBRE OS OMBROS MAGROS DO SEU FILHO. YEHUDA NÃO SE OPÕE.
AS ABAS DO CASACO ARRASTAM NA ESTRADA MOLHADA.
OS OLHOS DE BARUCH OS ESTÃO SEGUINDO POR TRÁS DA JANELA COBERTA.
YEHUDA OLHA PARA TRÁS E VÊ A CASA DE BARUCH OSCILANDO, A SUA MADEIRA VELHA CHIANDO AO VENTO.
A CASA DA FAMÍLIA ASHLAG. YEHUDA ESTÁ DESCANSANDO NA CAMA. SIMCHA O COBRE COM UM COBERTOR.
ASSIM QUE A PORTA SE FECHA ATRÁS DE SIMCHA, YEHUDA DESLIZA PARA FORA DA CAMA E CORRE DESCALÇO PARA A MESA PARA PEGAR O LIVRO.
A PORTA SE ABRE IMEDIATAMENTE. SIMCHA ESTÁ DE PÉ NA PORTA.
A MÃE DE YEHUDA ESTICA SEU PESCOÇO POR TRÁS DE SUAS COSTAS.
Simcha: Nós concordamos que você vai dormir, não concordamos, Yehuda?
YEHUDA DEIXA O LIVRO SOBRE A MESA E RETORNA PARA SUA CAMA SEM DIZER UMA PALAVRA.
Simcha: Sua mãe e eu não suportaremos se você ficar louco.
YEHUDA FECHA SEUS OLHOS E VÊ…
***
SÉCULO II. JUDÉIA. CAVERNA.
O ROSTO DE UM HOMEM É ILUMINADO POR UMA VELA.
É DIFÍCIL DE SABER SUA IDADE POR CAUSA DE SUA BARBA.
ELE ESTÁ DITANDO ALGO PARA OUTRO HOMEM QUE É, OBVIAMENTE, MUITO MAIS JOVEM DO QUE ELE.
A voz de Baruch:
***
Rabino Shimon estava ditando, e o Rabino Abba estava escrevendo. Somente o Rabino Abba, poderia criptografar as palavras do Rabino Shimon. Você está se perguntando por que ele estava fazendo isso. Ele estava fazendo isso para que nenhum homem corrupto seja capaz de usá-lo incorretamente. O livro continha grandes poderes. Tremendos! E, no entanto, imediatamente após a sua conclusão, o livro sumiu por séculos.
MANHÃ, EM FRENTE DA CASA DE BARUCH.
SIMCHA SENTA-SE NA PILHA DE LENHA ABAIXO DA JANELA. ELE PODE OUVIR TUDO QUE ESTÁ ACONTECENDO DENTRO DA CASA.
O LIVRO DO ZOHAR ESTÁ DESCANSANDO SOBRE A MESA ENTRE BARUCH E YEHUDA. YEHUDA SENTA-SE, IMÓVEL, COM A BOCA MEIO ABERTA, OUVINDO BARUCH.
Baruch: Isto lhe interessa?
Yehuda: Sim, muito.
Baruch: Não, essa não é a palavra correta. Absolutamente não! “Interessante”, que tipo de palavra é essa? (Ele imita a si mesmo.) “In-te-res-san-te!” É a vida para você, Yehuda! Aqui, Yehuda, está escrito como você deve viver. Como você, Yehuda, pode alcançar o Criador, vir a ele e lhe dizer: “Eu, Yehuda, vim para Você! E o grande livro do Zohar levou-me a Você”.
***
SÉCULO X E.C. UM COLORIDO BAZAR ORIENTAL.
OS CHAMADOS AGUDOS DE VENDEDORES DO MERCADO ENCHEM O AR. A MULTIDÃO MOVE-SE PREGUIÇOSAMENTE ATRAVÉS DO MERCADO.
A voz de Baruch:
***
O livro desapareceu por séculos. As pessoas se esqueceram que ele já existiu. Ele apareceu novamente somente quando havia uma real necessidade.
DE REPENTE A MULTIDÃO NO MERCADO SE DESPERSA. UM MENINO DESCALÇO CORRE PELO MERCADO.
UM COMERCIANTE, SEM FÔLEGO E AOS GRITOS O ESTÁ PERSEGUINDO. ELE GRITA, TENTANDO RESPIRAR:
-Parem-no, parem-no!
ALGUÉM DERRUBA O MENINO, E ELE ROLA NA POEIRA. O MERCADOR O PERSEGUE E ENTÃO O LEVANTA. PÁGINAS DE PERGAMINHO CAEM DAS ROUPAS DO MENINO.
A voz de Baruch:
Surgiu no século X E.C. no mercado de Safed. Um menino estava vendendo as páginas do manuscrito para os comerciantes, que usavam as páginas para embrulhar as especiarias que eles vendiam. Muitas páginas foram perdidas dessa forma até que um sábio reconheceu nestes pergaminhos a coisa mais preciosa na Terra.
A CASA DE BARUCH
Baruch: É isso mesmo, Yehuda, O Livro do Zohar (ele levanta o dedo) foi usado para embrulhar figos e doces. (Com emoção) um belo exemplo da vida humana, Yehuda: superficial e falsa até o âmago. A beleza esconde o vazio. A sujeira esconde a sabedoria, a pobreza disfarça uma alma preciosa. Não se deixe enganar pela beleza, Yehuda, não seja levado por elogios.
Pesquise o significado interior atrás de todas as coisas. Aprenda a viver dessa maneira.
BARUCH NÃO DEIXA YEHUDA PONDERAR NISSO NEM POR UM SEGUNDO. ELE ABRE O LIVRO NA FRENTE DE YEHUDA.
ESTÁ ESFARRAPADO, ATÉ MESMO RASGADO EM ALGUNS LUGARES. ELE GENTILMENTE O ACARICIA.
Baruch (gentilmente):
Muitos tentaram resolver o seu mistério. As pessoas mais inteligentes do mundo atormentaram seus cérebros com ele até que um dia, a 400 anos atrás, nascia um menino. Ele se tornou conhecido como o santo ARI.10
BARUCH FICA SILENCIOSO E FIXA SEUS OLHOS EM YEHUDA. UM MINUTO SE PASSA.
BARUCH CONTINUA OLHANDO SILENCIOSAMENTE PARA O MENINO.
Yehuda: Por que você está olhando para mim desta maneira?
Foi ele quem transformou tudo ao redor. Aquele menino.
***
SÉCULO XV. UMA VELHA SINAGOGA NO CAIRO, EGITO.
UM MENINO DE 15 ANOS DE IDADE, VESTIDO COM UMA LONGA TÚNICA BRANCA, ESTÁ ORANDO.
OUTRAS DEZ PESSOAS ESTÃO ORANDO LÁ DENTRO.
UM DELES, UM VELHO ESTRANHO VESTIDO EM TRAPOS, PÕE-SE DE PÉ PRÓXIMO À JANELA.
ELE ESTÁ SE BALANÇANDO, DEBRUÇADO SOBRE UM LIVRO.
A voz de Baruch: O ARI tinha três anos quando ele veio para o Egito com sua mãe. Quando ele tinha 15 anos, ele viu um mendigo de aparência estranha em uma sinagoga. Ele era jovem e muito curioso.
O ARI APROXIMA-SE DO POBRE, FICA ATRÁS DELE, E OLHA SOBRE OS SEUS OMBROS PARA O LIVRO QUE O POBRE ESTÁ LENDO.
ELE OBSERVA QUE O POBRE ESTÁ SEGURANDO O LIVRO DE CABEÇA PARA BAIXO. NÃO É NEM LIVRO DE ORAÇÃO NEM É A TORÁ, MAS ALGUM OUTRO LIVRO EM ARAMAICO.11
O POBRE VIRA-SE PARA OLHAR PARA O ARI. O ARI DÁ UM PASSO PARA TRÁS EM HORROR.
DUAS CICATRIZES, EM VEZ DE DOIS OLHOS, ESTÃO OLHANDO PARA ELE.
***
A CASA DE BARUCH.
Baruch: Assim, O Zohar veio a ser possuído pelo ARI- a partir das mãos de um Marrano,12 cegado pela Inquisição espanhola. Ele o trouxe para o ARI passando através de toda a Europa e África, suportando sede, fome e exaustão apenas para passá-lo para o ARI. Verdade seja dita, ele foi obrigado a trazê-lo. Neste mundo, Yehuda, tudo é predeterminado.
***
CAIRO SÉCULO XV. UMA SINAGOGA.
O ARI ABRE O LIVRO E COMEÇA A LER AVIDAMENTE.
O POBRE CEGO ESTÁ DORMINDO NO BANCO AO LADO DELE, FINALMENTE EM REPOUSO. DEPOIS DE MUITAS NOITES SEM DORMIR, ELE ESTÁ SORRINDO EM SEU SONHO.
A voz de Baruch: Quando você descobriu O Livro do Zohar?
A voz de Yehuda: Ele caiu sobre mim quando eu tinha cinco anos.
A voz de Baruch: Ele “caiu” no ARI quando ele tinha quinze anos.
***
A CASA DE BARUCH.
BARUCH ESTÁ OLHANDO FIXAMENTE NO ROSTO DE YEHUDA MAIS UMA VEZ.
Yehuda: Por que você esta me olhando dessa maneira?
Baruch: Eu estou pensando em algo.
Yehuda: No quê?
Baruch: Talvez eu lhe diga depois… ou talvez você entenda por si mesmo.
***
SÉCULO XV. CAIRO.
O ARI ESTÁ ANDANDO PELA RUA COM O LIVRO ABERTO EM SUAS MÃOS. ALHEIO AO QUE O CERCA, ELE NÃO PODE PARAR DE LER.
ELE CAMINHA POR TODA A CIDADE SEM PARAR, EM DIREÇÃO À FLORESTA.
A voz de Baruch: O ARI se tornou o maior Cabalista, o maior de todos eles! Ele sabia tudo sobre nós, Yehuda, sobre todo o nosso lamentável mundo. Ele sabia que os novos tempos estavam por vir, que almas humildes estavam começando a descer para este mundo, e que, até o nosso tempo, toda a feiura humana viria à tona. Ele preparou um remédio para nós, um sistema de refinamento: a Cabalá do Ari. Ele “fabricou” este medicamento dentro das páginas deste livro, O Zohar.
***
A CASA DE BARUCH.
BARUCH GENTILMENTE ACARÍCIA O LIVRO.
-Não vai desaparecer mais, não. Sua hora chegou – o tempo do desespero. Ninguém pode jamais confundir o homem por algo, se não for pelo auto indulgente animal que ele é!
BARUCH BALANÇA SUA CABEÇA. ELE OLHA PARA YEHUDA.
-Sim, sim! Todos nós vivemos apenas para o nosso próprio bem, Yehuda, e só por isso, você entende , Yehuda? Apenas por causa do nosso egoísmo guerras são travadas, e mais guerras terríveis se seguirão. Doenças não serão curadas, e os médicos vão chorar derrotados; o sofrimento será insuportável, e as pessoas vão gritar por socorro!
BARUCH SENTA-SE E ABRE SUAS MÃOS.
-Mas não virá socorro algum.
BARUCH ESTENDE AS MÃOS DELE. ELE SE LEVANTA, CAMINHA ATÉ A PAREDE E LEVANTA SUA CABEÇA PARA O TETO. ELE OBSERVA COMO UMA ARANHA METODICAMENTE ESTÁ TECENDO SUA TEIA. ELE APONTA O DEDO DELE PARA A ARANHA.
Baruch: Esta aranha é tão velha quanto eu. Eu a chamo de Baruch.
ELE SE VOLTA PARA YEHUDA. SEUS OLHOS SE ENCONTRAM. ELE ENTENDE QUE ELE DEVE VOLTAR PARA A CONVERSA.
-Você quer saber como ajudá-los?
YEHUDA CONCENTE COM A CABEÇA.
-Quando eles pararem de acreditar em si mesmos, Yehuda, só então eles irão implorar por socorro.
ELE BATE O DEDO SOBRE A MESA E APONTA PARA O LIVRO.
-E eles encontrarão a ajuda aqui.
NOVAMENTE, ELE OBSERVA YEHUDA DE PERTO.
-Nossos sábios pais o enviaram para nós há muito tempo. Eles viram tudo, eles sabiam de tudo. Eles sabiam que esse livro iria encontrá-lo, Yehuda.
OUTRA LONGA PAUSA E UM SILÊNCIO TOTAL.
ATÉ MESMO BARUCH, A ARANHA, ESTÁ QUIETA EM SUA TEIA DEBAIXO DO TETO.
SIMCHA ESTÁ SENTADO SOB A JANELA, HIPNOTIZADO PELO SILÊNCIO PESADO DENTRO DA CASA. ELE ESTÁ SE ESFORÇANDO PARA OUVIR. ENTÃO ELE SE LEVANTA E TENTA OLHAR PARA DENTRO ATRAVÉS DAS RACHADURAS ENTRE AS TÁBUAS.
ELE OLHA MAIS PERTO, MAS ELE NÃO VÊ NINGUÉM. EM PÂNICO, ELE CORRE ATÉ À PORTA E FORÇA SUA ABERTURA. NÃO HÁ NINGUÉM NA CASA.
-Yehuda!
SIMCHA ARREMEÇA-SE DENTRO DA CASA, CORRENDO DE UM LADO PRO OUTRO, PROCURANDO EM CADA CANTO.
-Yehuda, filho!
E DE REPENTE ELE OUVE A VOZ CALMA DE BARUCH ATRÁS DELE:
-Para que tanto estardalhaço, Simcha?
SIMCHA SE VOLTA PARA ELE.
BARUCH E YEHUDA ESTÃO SENTADOS À MESA DE FRENTE UM PARA O OUTRO ASSIM COMO ANTES.
-O que aconteceu, Pai? – Yehuda pergunta como se nada tivesse acontecido.
-Eu… Eu estava procurando por você, eu estava batendo… – Simcha murmura – Ninguém estava aqui. Estava um silêncio. Eu me assustei.
Baruch: Não tenha medo, Simcha. Não há nada que você possa fazer agora. Vá lá fora, sente-se por um tempo. Eu quero fazer uma pergunta muito importante ao seu filho.
Simcha: Mas ninguém estava aqui.
Baruch: É o que você pensa? E em sua opinião, este mundo existe?
Simcha (irritado):
Eu não quero ouvir as suas baboseiras!
ELE CAMINHA ATÉ YEHUDA E PEGA A MÃO DELE:
-Yehuda, já está tarde. Vamos!
Baruch (acerbamente): Vá!
SIMCHA LARGA A MÃO DE YEHUDA,SE VIRA, E OBEDIENTEMENTE CAMINHA ATÉ A PORTA. ELE A ABRE E SAI.
SIMCHA SENTA EM SEU LUGAR SOB A JANELA E OUVE BARUCH DIZER:
-Então, Yehuda, responda-me, você reconhece o fardo que está colocando sobre seus ombros?
SIMCHA ESTÁ FIXO NOS TRONCOS DE LENHA.
ELE PODE OUVIR TUDO, MAS É INCAPAZ DE MOVER-SE.
Baruch: Você vai assumir uma enorme responsabilidade, não para si mesmo – quem é você, afinal? – Mas para o mundo inteiro. E você não vai sofrer por si mesmo, mas por todo o mundo. Você já pensou nisso, Yehuda? Você está tomando uma profunda e radical decisão aqui. É melhor pensar cem vezes antes de decidir.
SIMCHA TENTA SE LEVANTAR, MAS NÃO CONSEGUE.
CONTORCENDO-SE, ELE SE ARRASTA PARA O PARAPEITO DA JANELA USANDO SUAS MÃOS.
ELE QUER GRITAR AO SEU FILHO: “ESPERE! REPENSE! NÃO SE APRESSE!” MAS JÁ É MUITO TARDE.
-Eu pensei sobre isso. Eu quero. – Ele ouve a resposta de Yehuda.
EXAUSTO, SIMCHA ESCORREGA DA LENHA PARA A GRAMA MOLHADA. NA CASA, BARUCH ESTÁ OLHANDO À YEHUDA COM UM OLHAR FIRME.
Baruch (impiedosamente):
Se assim for, aqui está a sua primeira tarefa. Leve o poema do Ari. Não é um poema simples. Trata-se do início de todos os começos. Aqui está.
BARUCH, SEM OLHAR, ABRE O LIVRO NO LUGAR EXATO.
Baruch: Penetre-o. Submerja nele. Tente ouvir o professor, o grande ARI. Siga-o.
BARUCH LEVANTA A MÃO. YEHUDA A SEGUE COM OS OLHOS. LENTA E GRACIOSAMENTE BARUCH MOVE A MÃO DIANTE DELE, COMO SE DESENHASSE CÍRCULOS NO AR.
Baruch (ritmicamente, como se cantando):
– “Eis que, antes das emanações forem emanadas e as criaturas criadas, a simples Luz Superior encheu toda a existência. E não havia vazio, mas tudo estava cheio de uma Luz simples, sem limites”.
***
***
SIMCHA E YEHUDA ESTÃO CAMINHANDO SILENCIOSAMENTE AO LADO DE UM LAGO. O SOL JÁ ESTÁ SE PONDO.
VARSÓVIA APARECE À FRENTE.
PODEMOS OUVIR A VOZ INFANTIL DE YEHUDA, CONTINUANDO:
– “E quando de sua simples vontade veio o desejo de criar os mundos e emanar as emanações, para trazer à luz a perfeição de Seus feitos, Seus nomes, Suas denominações, que eram a causa da criação dos mundos, Ele então, restringiu-se, no meio, precisamente no centro. Ele restringiu a luz. E a luz se espalhou muito distante para os lados em torno desse ponto médio”.
CASA DA FAMÍLIA ASHLAG. NOITE. YEHUDA ESTÁ DORMINDO EM SUA CAMA.
SEU PAI, OBSERVANDO-O DA PORTA, SE APROXIMA E ESCUTA A RESPIRAÇÃO DE YEHUDA. ELE AJUSTA O COBERTOR E QUIETAMENTE SAI DO QUARTO.
ASSIM QUE A PORTA SE FECHA ATRÁS DELE, YEHUDA ABRE OS OLHOS. ELE RAPIDAMENTE SE LEVANTA, PEGA UM LIVRO DA ESTANTE E UMA LAMPARINA DO PARAPEITO DA JANELA, E SE AGACHA DEBAIXO DA MESA, COBERTA POR UMA LONGA TOALHA DE MESA QUE CHEGA ATÉ O CHÃO.
A LAMPARINA QUEIMA DEBAIXO DA MESA. YEHUDA ESTÁ LENDO O LIVRO.
PODEMOS OUVIR A SUA VOZ:
– “E a restrição tinha sido uniforme em torno do ponto central vazio, de modo que o espaço foi uniformemente circulado em torno dele.
Lá, após a restrição, depois de ter formado um vácuo e um espaço precisamente no meio da luz sem fim, um lugar foi formado, onde o emanado e o criado possam residir”.
NA JANELA, O LUAR DIMINUI, DISSOLVENDO-SE NA LUZ DO NOVO DIA. OS GARIS SAEM ÀS RUAS.
UM LEITEIRO PASSA PELA CASA, SUAS GARRAFAS CHACOALHAM. NÓS OUVIMOS O CANTO AGUDO DE UM GALO.
OS OLHOS DE YEHUDA ESTÃO FIXADOS NAS LINHAS NO LIVRO:
– “Em seguida, a partir da Luz Infinita, um único raio desceu, abaixou-se àquele espaço. E através desse raio, Ele emanou, criou, formou, e fez todos os mundos”.
***
UMA HEIDER (SALA DE AULA). CRIANÇAS ESTÃO SENTADAS EM FILEIRAS, INCLINANDO-SE SOBRE SEUS LIVROS. A LUZ DA MANHÃ PASSA COM DIFICULDADES PELAS PEQUENAS JANELAS, BRINCANDO COM A POEIRA COMO SE FOSSE PÓ DE OURO.
YEHUDA PARECE ESTAR LENDO A TORÁ, COMO OS OUTROS. MAS ELE NÃO ESTÁ.
SHMUEL, O PROFESSOR, SILENCIOSAMENTE SE APROXIMA POR DETRÁS DE YEHUDA. ELE PERCEBE AS PÁGINAS DE OUTRO LIVRO ESCONDIDAS DENTRO DO LIVRO DA TORÁ DE YEHUDA.
É O POEMA DO ARI, REESCRITO ORDENADAMENTE NA CALIGRAFIA DE UMA CRIANÇA.
YEHUDA ESTÁ IMERSO NA LEITURA E NÃO OUVE NADA. ELE SUSSURRA PARA SI MESMO:
-“E por esse feixe a Luz desceu até os mundos, todo e cada círculo de todos os mundos, que estão dentro do vazio, e cada círculo que está mais perto da Luz do infinito é maior e superior ao outro, e este mundo mundano e material é o ponto médio dentro dos círculos, dentro do espaço vazio”.
DE REPENTE UMA MÃO APARECE NA FRENTE DO ROSTO YEHUDA E AS PÁGINAS DESAPARECEM.
YEHUDA OLHA PARA CIMA.
AS PÁGINAS ESTREMECEM NAS MÃOS DO PROFESSOR.
ELE TRAZ AS PÁGINAS MAIS PERTO DE SEUS OLHOS MÍOPES E LÊ SUSPEITOSO.
– “Ele é tão distante do Infinito, mais do que todos os outros mundos, e é por isso que é tão humilde e material em sua corporeidade base já que ele reside no meio de todos os círculos”.
O professor: O poema do ARI. Eu vejo, Eu vejo.
YEHUDA SE LEVANTA.
O professor: Você pode explicar isso?
YEHUDA ESTÁ QUIETO.
O professor: Quem lhe deu isso?
YEHUDA PERMANECE QUIETO.
A CLASSE INTEIRA ESTÁ QUIETA TAMBÉM, IMÓVEL NA ANTECIPAÇÃO DE UM CASTIGO.
O professor (em voz alta):
Eu não quero que esses textos circulem pela classe. Você está perdido, seus pais se renderam, mas minha meta é salvar o restante. Vá Yehuda (ele acena com a mão). Vá-se embora.
O PROFESSOR DÁ AS COSTA À YEHUDA E OUVE A VOZ DO MENINO:
-Me devolva as páginas.
O PROFESSOR ESTÁ IMÓVEL, ELE OLHA AO REDOR DA SALA DE AULA E DIZ SEM OLHAR PARA TRÁS:
O professor: Você está falando comigo?
Yehuda: Com você.
O professor: O quê?
ELE SE VOLTA DE REPENTE E SUA VARINHA ENCOSTA NO NARIZ DE YEHUDA.
O professor: O que você disse?!
Yehuda (teimosamente):
As páginas!
O professor (suspeitosamente):
É este um pedido ou uma ordem?
A CLASSE INTEIRA SEGURA O FÔLEGO EM PURO MEDO.
Yehuda: Me devolva as páginas. Essas são minhas páginas.
NOVAMENTE UMA PAUSA E UM LONGO SILÊNCIO.
O professor: Eu avisei aos seus pais – pessoas vão à loucura por causa disso. Bem, aconteceu. Eles vão chorar até os olhos se acabarem, os seus pais, quando você estiver espumando pela boca, medo e angústia viverão nos olhos deles para sempre! Quando este mundo se tornar o seu inferno.
YEHUDA ESTENDE SUA MÃO EM DIREÇÃO AO PROFESSOR. O PROFESSOR ESTÁ CALADO.
YEHUDA PEGA AS PÁGINAS DE SUA MÃO,VIRA-SE, E RAPIDAMENTE SAI DA SALA DE AULA.
***
A CASA DE BARUCH.
BARUCH ESTÁ ANDANDO DE UM LADO PARA O OUTRO. YEHUDA O ESTÁ OBSERVANDO.
A LUZ DO CREPÚSCULO PERMEIA A CASA ATRAVÉS DAS RACHADURAS DA JANELA COBERTA.
A voz de Baruch: Cinco mundos, cento e vinte e cinco graus, separam você Dele.
Ele está chamando você de lá de cima. O Seu apelo vem do mundo de Atzilut13: “”Volte, filho! Rompa as barreiras! Rompa as dúvidas, a dor, os altos e baixos. Eu estou esperando por você! Eu lhe amo! Ouça-Me, Eu estou pedindo! “Mas o Seu chamado se desvanece, ficando cada vez mais e mais fraco”. O orgulho do homem está no caminho. Somente uma pessoa com um coração partido pode ouvir a Sua voz.
BARUCH ESTÁ EM PÉ DE COSTAS PARA YEHUDA, OLHANDO PARA O SOL POENTE ATRAVÉS DAS RACHADURAS NA JANELA.
A voz de Baruch: Por que está quebrado? Porque o Criador está ausente de nosso mundo. Ele nos trancou no mundo dos desejos inferiores. Nós sofremos na angústia, o nosso sangue se derrama sobre esta terra suja por séculos. Por que Ele fez assim? Onde estava o Seu amor por nós? Onde estava Sua compaixão por estas humildes e ignorantes criaturas?
BARUCH VOLTA-SE PARA YEHUDA.
Yehuda: Ele nos ama.
Baruch: Quem lhe disse isso?
Yehuda: Eu posso sentir.
Baruch: O que você pode sentir, você gota de sujeira?
Yehuda: Eu posso sentir que eu sou uma gota de sujeira. E Ele… Ele é a luz, Ele é amor! Ele é tudo.
Baruch: Mas como poderia a Luz ter criado as trevas? Como o amor pôde ter criado o ódio? Como poderia Ele ter… Ele criou uma gota de sujeira? Tantas gotas como essas? Esta base de humanidade? Onde estavam Seus olhos? Diga-me! Você pode justificá-Lo, Yehuda?
YEHUDA ESTÁ PENSANDO E PODEMOS VER QUE ELE ESTÁ LUTANDO COM ESSAS QUESTÕES.
Yehuda: Eu não sei. Eu não sei ainda porque eu ainda não O conheci. Eu só posso senti-lo.
BARUCH SENTA-SE EM FRENTE À YEHUDA.
Baruch: Você não sabe?
Yehuda: Não, eu não sei.
Baruch (com grande urgência):
Você realmente não sabe?!
Yehuda: Eu não sei.
Baruch: Você está correto. Ele – o mais puro de todos – não poderia ter criado imundice. Assim como um leão não pode dar à luz a um rato, a perfeição não pode dar origem à imperfeição.
BARUCH ESTÁ EM SILÊNCIO, OBSERVANDO, YEHUDA.
ELE ESTÁ ESPERANDO QUE YEHUDA FAÇA UMA PERGUNTA, MAS YEHUDA NÃO ESTÁ PERGUNTANDO.
Baruch: Então, pergunte! Pergunte-me, por que Ele criou tudo isso?
Yehuda: Por quê?
Baruch: Simplesmente porque…Vamos lá, você já respondeu esta pergunta. Então?!
Yehuda: Eu não sei.
Baruch: Para que você, Yehuda, sim, você, de sua livre e espontânea vontade, decida, perceba que é insuportável existir em toda essa imundície; que você não pode aturar estar tão longe Dele, para que você, então, pleiteie do fundo do seu coração. Ele apenas presta atenção a tal oração. Ele quer que você venha a Ele por você mesmo, de sua livre vontade. E então você vai dizer-Lhe: “Aqui estou, eu venho a Ti através de meus próprios esforços, porque eu quero ser seu amigo”. E você vai fazer tudo por conta própria. De sua livre e espontânea vontade, Yehuda!
Yehuda: O que eu tenho que fazer para poder dizer isso?
BARUCH FALA CLARAMENTE, SECAMENTE E DISTINTAMENTE.
Baruch: Se você não faz contato com o Criador nesta vida, você não é nada.
Yehuda: Como eu posso conseguir isso? É por isso que eu vim a você.
YEHUDA DE REPENTE SE LEVANTA. ELEVANDO-SE SOBRE BARUCH, COMO SE ELES ESTIVESSEM INVERTIDO PAPÉIS. AGORA O PEQUENO YEHUDA ESTÁ FALANDO COM RAIVA E AUTORIDADE.
Yehuda: Eu estou de farto desta conversa vazia. Eu não tenho tempo para isso.
BARUCH OLHA PARA ELE EM ADMIRAÇÃO.
Baruch: Oh, como você me lembra alguém! Mas ele não tinha oito anos; ele tinha quarenta e oito!
Yehuda: Eu não preciso de todas essas histórias. Você tem que me guiar até Ele!
Baruch (rindo e apontando o dedo à Yehuda):
Sim, Mendel de Kotzk era assim mesmo: inflexível, intransigente.
E DE REPENTE ELE PARA DE RIR, VENDO QUE YEHUDA NÃO ESTÁ MAIS PARA RISADAS.
Baruch: Nós levávamos uma vida pacífica. Nós acreditávamos em Deus.
Disseram-nos que Ele existe e nós acreditamos. Nós seguimos as Suas leis, estudávamos a Torá. Mendel veio e rasgou a nossa pacífica vida. Ele nos fez abandonar este mundo e exigir outro. Ele gritou conosco, nos mostrou os punhos, e nos amaldiçoou. Mas nada saiu de nós. Ficamos os animais que éramos. (Ele suspira e ordena agudamente:) Senta, Yehuda.
YEHUDA SENTA-SE.
Baruch: Abra!
YEHUDA ABRE O LIVRO.
BARUCH COLOCA A MÃO SOBRE A PRIMEIRA PÁGINA E BATE COM O DEDO NA PRIMEIRA LINHA.
Baruch: A cura está aqui, Yehuda! Somente aqui! Aqui é onde a vida está. Você entende?
Yehuda: Sim.
Baruch: Bem, se você entende, então comece. Comece a procurar dentro de você, filho.
YEHUDA COMEÇA A LER LENTAMENTE.
O DEDO DA CRIANÇA TRAÇA AS LINHAS DO LIVRO.
A voz de Yehuda: “Um rio se expande do Éden…” O que é “rio”?
Baruch: “Rio” significa a sua prontidão de dar aos outros todas as coisas que você possui…
Yehuda: O que é Jardim do Éden? (Sorrisos) Deve ser algo muito, muito bom.
Baruch: Você está correto, filho! O Jardim do Éden é uma coleção dos seus melhores desejos. Os melhores! Amizade, amor, concessão… Esses desejos são plantados em você, filho, como árvores no chão. Eles são chamados “O Jardim do Éden,” e eles dão os frutos mais saborosos.
A NOITE CAI ATRÁS DA JANELA. A CASA VELHA RANGE COM O VENTO. A VELA NA MESA ILUMINA OS ROSTOS DE YEHUDA E BARUCH.
A voz de Yehuda “Aquele rio se enche e corre, ele entra no Jardim baixo e o irriga com águas do alto, saciando-o, trazendo frutos e sementes”.
SOMBRAS DAÇAM NOS CANTOS DA SALA.
AS MÃOS DE BARUCH ESTÃO FECHADAS EM PUNHOS APERTADOS. O DEDO DE YEHUDA VIAJA ATRAVÉS DAS LINHAS DO LIVRO.
1 Uma Heider (em hebraico: um quarto) é uma pequena sala de aula, o equivalente ao ensino fundamental para os judeus ortodoxos.
2 “Le” é um sufixo comum no nome de uma pessoa usado como um termo carinhoso.
3 Ramak – Rav Moshe Kordovero (1522-1570), um grande Cabalista. Viveu e ensinou em Safed (uma cidade de Cabalistas no norte de Israel). O título de Rav, ao contrário do título de rabino, será usado ao longo do livro para indicar aqueles que sejam não apenas um rabino ordenado, mas também um Cabalista.
4 Ramchal – Rav Moshe Chaim Luzzatto (1707-1747), um grande cabalista. Viveu e ensinou na Itália e na Holanda.
5 Hassídicos (pl. de Hassídico) – seguidores devotos.
6 Um ponto no coração é um tipo especial de vazio e falta de satisfação que aparece no coração de uma pessoa, obrigando essa pessoa a procurar respostas para as perguntas sobre o significado da vida. Esta é a maneira do Criador guiar alguém para ele.
7 Rabbi Menachem Mendel de Kotzk (1788 – 1859), um grande Cabalista que formou um dos grupos mais famosos de Cabalá.
8 Rabbi Shimon bar Yochai (também conhecido como Rashbi) escreveu com seus 9 alunos O Livro do Zohar.
9 O professor do Rabino Shimon e um grande sábio de sua época. Ele cunhou a máxima, “Ame ao seu amigo como à si mesmo.”
10 O ARI um acrónimo para Eloki (Divino) Rabino Itzhak (1534-1572), nasceu como Isaac Luria. Ele nasceu em Jerusalém, mudou-se para o Egito, mas trabalhou e ensinou em Safed durante os últimos 18 meses de sua curta vida. Ele fundou o que hoje é conhecido como Cabalá Luriânica, abordando a Cabalá de uma perspectiva científica. Como Rashbi, seus livros não foram escritos por ele, mas por seu discípulo principal, Rav Chaim Vital.
11 O Livro do Zohar foi escrito em aramaico. Em seu comentário Sulam (escada), Yehuda Ashlag traduziu o livro para o hebraico, bem como interpretou o significado das palavras para os leitores de hoje.
12 Marranos:Judeus de origem Espanhola que foram forçados a aceitar Cristandade durante a Inquisição Espanhola, mas secretamente continuaram a observar as tradições judaicas.
13 A palavra, Atzilut, é derivada da palavra hebraica Etzlo (no Seu lugar). Atzilut é o mundo que nós alcançamos quando somos corrigidos e descobrimos o Criador ao máximo.
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