ALGUMAS REFLEXÕES

Do livro “O Livro Aberto”

Até hoje, a forma de sociedade mais correta, com certeza foi o grupo de estudantes, do qual os membros estavam unidos por um desejo singular de obedecer a seu líder – o sábio, o rabino. Essa aspiração originava-se de um reconhecimento absoluto da retidão do rabino, e não do seu carisma – de suas conexões especiais com o Criador, ou do temor de Seus oficiais e exércitos.

Toda a história religiosa da humanidade testifica a inabilidade do homem de guardar, ou de exigir que os outros guardem os dez mandamentos, ou até de esperar que alguma vez eles serão guardados, sem saber de quem os recebemos. Apenas a revelação e a compreensão do Criador podem dar-nos o poder para guardarmos os mandamentos, e apenas na medida em que a pessoa entende o poder, a singularidade e a grandeza do Criador.

Os níveis em nossa habilidade de guardar os dez mandamentos são, de  fato, os níveis espirituais da revelação do Criador, da compreensão Dele, da ascensão espiritual, os degraus da escada, da escada de Jacó.

De outra maneira, se a sociedade humana quebra a parte essencial da observância dos mandamentos (não os observando através da compreensão do Criador, da revelação Dele pela criação), ela precisa encontrar uma justificativa para guardar os dez mandamentos em sua vida cotidiana, ou seja, a vida em si deve justificar a observância dos mandamentos.

O gerador da criação de leis e códigos da sociedade humana, tanto cíveis quanto criminais, é uma distorção do princípio da observância dos mandamentos. É por isso que apenas na última geração a humanidade será capaz de retornar à observância genuína das leis da natureza, que são perfeitamente compatíveis com nossa natureza e efetuam uma correção genuína.

Nenhuma lei poderá fazer com que as pessoas sigam todos os dez mandamentos em sua forma genuína, e é apenas a revelação do Criador que fará com que todos guardem os dez mandamentos espontaneamente.

O Baal HaSulam chama essa condição (em sua Introdução ao Talmud Esser Sefirot) de observar voluntariamente a palavra do “testemunho” de Deus, ou seja,  o Criador testemunha por meio de Sua manifestação ao homem, como num tribunal, que aquela pessoa não poderá errar mais, porque a revelação do poder e da grandeza do Criador obriga o homem a observar espontaneamente e naturalmente todos os mandamentos do Criador.

A substância da qual somos feitos é o desejo egoísta por prazer, e podemos apenas realizar aquilo que percebemos como benéfico para nós. É por isso que a revelação do Criador cria em nós uma outra decisão: de seguir Seu desejo; porque nos traria apenas o bem. Mas se a pessoa passa pelas fases do reconhecimento de sua natureza pecaminosa, e vê que sem aquela coerção ela vive em constante dor e sofrimento de geração a geração, ela é convencida de que qualquer decisão que vem a ela de cima, por mais difícil que seja, traz no final apenas o bem e é preferível a todas suas buscas e à liberdade fictícia que desfruta hoje.

Depois, desperta no homem uma exigência pelo Criador, para que surja diante dele como testemunha, ou, de fato, como garantia de que o homem apenas tomará o caminho certo de agora em diante e não cometerá mais esses amargos enganos, e assim não sofrerá por seus enganos.

Verifica-se que o desejo, como o entendemos em nossas vidas, em nosso entendimento corpóreo, foi dado a nós apenas para entendermos, logo que tenhamos descoberto toda a beleza fictícia e amarga dessa liberdade, que de fato não somos livres de jeito nenhum, porque seguimos nossos próprios desejos egoístas, o mal em nós, e não podemos nos libertar.

Se nos tornássemos escravos do altruísmo, para que ele nos controle da maneira que o egoísmo nos controla hoje, significando que inconscientemente trocaríamos uma escravidão por outra e o Criador substituiria uma natureza por outra, apesar de querermos exatamente uma passagem dessas, de um dono para outro, nós ainda obteríamos do Criador algo de uma qualidade diferente. Ele cria em nós um mecanismo de três linhas no qual usamos nosso egoísmo de outro  jeito, para a doação, após realizarmos a primeira restrição, uma vez que haja uma completa separação da aspiração por prazer.

Uma pessoa não pode alterar seus próprios desejos por prazer, de receber, de satisfazer suas necessidades materiais, morais e espirituais. Mas, em ser satisfeito para mim mesmo ou para o Criador está a completa diferença entre egoísmo e altruísmo. Antes da pessoa se separar do “para mim”, ela não pode entender que essa intenção foi dada a ela de cima. Não é uma intenção natural, mas algo que acompanha seu desejo por prazer.

E, adicionasse, o Criador, ao desejo de receber dela, a intenção “para Seu nome”, ela também começaria a usar seu desejo de receber prazer com essa nova intenção.

Esse estado de transição de “ter prazer na misericórdia”, no qual a pessoa recebe de cima a força para refrear-se de fazer quaisquer cálculos egoístas produz sua libertação espiritual. Após isso, a pessoa opta por um uso diferente de seu desejo de receber prazer: para o Criador. Se não fosse por esse novo elemento, o estado espiritual de “ter prazer na misericórdia”, o homem não se sentiria livre em seu desejo e intenção “para o Criador”.

Mas, exatamente por chegar a essa situação de “ter prazer na misericórdia”, ele pode escolher suas ações de maneira livre, completamente. E se escolher o altruísmo neste ponto, essa é uma decisão de livre escolha, e não para escapar do sofrimento. Uma pessoa não vende sua liberdade de escolha e sua liberdade de decisão por uma vida indolor, mas escolhe a liberdade voluntária e independentemente.

Cada geração passa para a próxima, a experiência coletiva que humanidade acumulou, além das realizações científicas e culturais. Esta recordação humana passa de geração a geração, da mesma maneira que a energia de uma semente apodrecida passa para o imaturo botão. Existe apenas transferência de memória, energia, e lembrança (reshimot). Toda substância está destinada a apodrecer, assim como o corpo do homem apodrece, e toda a informação passa para a alma que ascende. Então, após sua entrada em novos corpos, ela implementa essa memória acumulada.

Qual a diferença entre a transferência de informação por meio de uma semente, quando um jovem casal tem filhos, e a transferência de informação quando a alma da pessoa falecida se move para um novo corpo? Afinal, os pais ainda estão vivos, e seus filhos também. Então, que almas adentram os corpos dessas crianças pequeninas?

Em todas as gerações e em todos os povos existe um desejo enorme de passar o conhecimento acumulado para as próximas gerações, de passar o melhor, na maior parte, valores morais. As melhores realizações desse desejo não estão no estudo, não na educação, ele é realizado no “inanimado sagrado” (o religioso ortodoxo), à maneira antiga.

A transferência é executada por meio do “pacote espiritual”, e portanto, a melhor coisa que uma pessoa pode fazer para passar boas lembranças para a próxima geração é corrigir a si mesma, melhorar as qualidades de sua alma, certificar que ela deixe seu corpo na forma mais corrigida possível.

Então, vemos que o homem passa sua alma para a próxima geração, e nela ele passa tudo que é necessário, e não passa nada vitalmente importante através  de um sistema externo de valores, ou da educação, de nada que tenha a ver com este mundo. A transferência genuína existe apenas no nível espiritual, não no corpóreo.

Encontramos deformações no entendimento dos termos: humanismo e altruísmo, no cotidiano. Para ser preciso, uma má interpretação das palavras da Bíblia! As leis do Criador são propositadas, voltadas a um objetivo. Elas têm de ser estudadas em estreita relação com o propósito da criação, de outra maneira, elas são mal interpretadas e até contradizem umas às outras.

É por isso que para toda ação que realizamos, a justificação ou a desaprovação dela é apenas possível quando podemos aborda-la em relação ao propósito da criação, ou seja, em relação ao objetivo do Criador que escolhe agir  de uma determinada maneira. De outra forma, jamais seremos capazes de avaliar corretamente qualquer fenômeno do mundo.

Se formos sábios o suficiente para comunicar aos nossos descendentes esse ponto de vista sobre o mundo, sobre as ações deles, não por meio da ética  religiosa, mas criativamente e não por causa do medo da punição, eles estarão cientes da existência do Criador, da natureza, e se desenvolverão mais rápido espiritualmente , e chegarão à compreensão espiritual de que devemos e, de fato, podemos influenciar a providência.

No século XX houve uma divisão entre as sociedades religiosa e secular. Essa divisão começará a se reduzir logo, porque os dois grupos estão começando a chegar ao entendimento do verdadeiro caminho. Esse caminho não é nem  religioso nem secular, é algo no meio, um caminho dourado, o caminho do Criador.

O egoísmo absoluto é expresso em cada nação através do automelhoramento, da elevada auto-estima, do referir-se à minha nação como  uma nação íntegra. Talvez estas imagens percam um pouco do seu poder em determinados períodos, porém mais tarde, a falta de fundamento para a auto- estima exagerada acaba causando agressão, motivada pela ausência de auto- estima.

As pessoas continuam reclamando sobre depressão, sofrimento, tormentos, e de fato, falta de alegria em suas vidas. Posso recomendar, assim como aquele sábio que (quando ouviu sobre a falta de espaço na casa de seu amigo) sugeriu  que deixasse o bode do quintal entrar. Depois de algum tempo ele sugeriu que o bode fosse novamente colocado lá fora.

Recomendo a todos aqueles em depressão: tapem seus olhos e ouvidos. Fiquem assim por alguns minutos até que sintam um forte desejo de ver e ouvir, sofram um pouco mais, e mais um pouquinho, e então removam a venda e os tapa ouvidos e vocês verão quão belo e maravilhoso este mundo é!

Você pode dizer que, basicamente, as teorias de Freud, Marx e Einstein são a  mesma  busca  pelo  Criador,  mas  não  de  maneira  direta,  e  sim  através  das contradições na sociedade, no homem, na ciência. Todos eles procuraram por algo perfeito, ou seja, pelo Criador, mas procuraram abaixo da barreira, em nosso mundo, contudo com o reconhecimento interno de que não existe solução em nosso mundo.

O entendimento e o reconhecimento do poder do Criador não é apenas que Ele é a única razão para tudo, que “Não há nada além Dele”, mas uma aspiração espiritual pelo mundo superior, um desejo de se unir a Ele, sendo que Ele é o único. Porque o entendimento de que o Criador é singular compele o homem a manter sua própria singularidade ao igualar seus atributos aos do Criador, para se unir a Ele.

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As diferenças da prática de ioga e outros métodos, em oposição à Cabalá, são que todos os outros métodos e religiões oferecem um método para a performance exterior, física, ou seja, atividades práticas, dietas, costumes, exercícios. Apenas a sabedoria da Cabalá não se ocupa com nenhuma ação exterior, mas toda a prática, do começo ao fim, se concentra na alma do homem, em seus pensamentos, aspirações espirituais, ou seja, uma prática espiritual interior.

Se a pessoa obedece às leis da natureza, e ao mesmo tempo tenta imaginar o Criador, ela sempre vê as diferenças entre si mesma, a egoísta, e o Criador, o altruísta. Essa comparação cria religiões no qual o homem é representado como tendo atributos opostos ao Criador, o desejo de receber, que certamente é oposto aos atributos do Criador, e então o caminho espiritual dele é dedicado à supressão de sua própria natureza e de sua liberdade de escolha.

Apenas aquele que pode imaginar toda a realidade feita apenas do Criador, e não do Criador e da criação, não verá as contradições entre si mesmo e  o Criador. Como resultado, sua abordagem, seu caminho para o Criador não terá como foco a batalha contra seus próprios atributos, mas a igual aceitação dos atributos seus e os do Criador.

Essa pessoa jamais fundamentará sua educação nas ameaças, coerções e limitações; por mais que esse caminho permita resultados visíveis em curto prazo, jamais guiará o homem à correção espiritual genuína. Assim que as condições mudarem, tudo entrará em colapso numa maneira horrível e distorcida.

Apenas uma mudança espiritual que a pessoa realiza voluntariamente, gradualmente, dentro de sua alma, como resultado da influência do grupo, do professor (o Cabalista), do ambiente próximo que ela livremente escolhe para  ficar, fará ela mudar. A influência do grupo é apenas tão eficiente quanto esteja cônscia de que precisa ser corrigida e por isso precisa aceitar o grupo como o fator influenciador máximo. Nessa medida o homem poderá também absorver do grupo a idéia de ascensão espiritual, e nessa medida será capaz de aspirar pelo Criador e acelerar sua ascensão espiritual, do caminho da pessoa comum para aquele dos poucos escolhidos. Para uma pessoa assim não existem limitações, apenas mudanças internas.

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