Beresheet (No Princípio)

Do livro “Divulgando Uma Porção”

(Gênese, 1:1 – 6:8)

Sumário da Porção:

Beresheet (No Princípio) é a primeira porção na Torá (Pentateuco). Ela conta a história da criação do mundo em seis dias, e o resto no sétimo dia. Ela fala sobre a criação do homem, sua chegada ao Jardim do Éden, e a criação da mulher. Esta porção também narra as histórias do pecado da Árvore do Conhecimento, Caim e Abel, as gerações de Caim a Lameque, as dez gerações de Adão a Noé, a corrupção que engoliu suas gerações, e a esperança renovada emergiu com o nascimento de Noé.

 

Comentário

Beresheet contém mais histórias que qualquer outra porção na Torá. De muitas maneiras é também a mais profunda, pois ela discute a base do nosso ser, a criação da alma. A alma comum foi criada a partir da vontade de receber deleite e prazer, ou simplesmente, “a vontade de receber”. Essa vontade é o núcleo da alma, e é afetada por seis qualidades: Chéssed, Gvurá, Tiféret, Netzach, Hod    e Yessód. Estas qualidades penetraram a substância — a vontade de receber — e a desenharam em sincronia com a força superior, o Criador. A razão porque o homem é chamado “Adam” é que a palavra vem de Adamah, do versículo, Adameh la Elyon (“Eu serei como o mais alto”, Isaías, 14:14). Isto se refere à similaridade de Adam ao Criador — a doação sublime, amor sublime — a força superior que o deu à luz.

Adam é a estrutura da alma que é igual em forma ao Criador, e ela está em Dvekút (adesão) com Ele no Jardim do Éden. Um jardim significa “desejo”, e o jardim é a parte da criatura, a substância de Adam — ele é a vontade de receber. Éden marca o grau de doação, o grau de Biná. Adam, que está no grau de Biná, está no Jardim do Éden.

Isto não pertence ao nosso mundo ou ao universo que conhecemos, mas em vez disso à alma comum que o Criador criou. Bem desde o início, a alma comum atravessou uma preparação especial, “o pecado”, porque no seu começo ela era parte da força superior. Isto significa que a alma não tinha autoridade própria, nada em seu nome, ou qualquer sensação de existência independente. Neste sentido, a alma era como um embrião no ventre de sua mãe — por um lado, ela existe, por outro lado, ela é parte de sua mãe e cada uma das suas ações é governada por essa entidade superior.

Tal é a estrutura da alma. Enquanto ela existe no Jardim do Éden, o próprio jardim não permite independência. “Independência” significa que uma pessoa está além do controle de outrem, em um estado de se preparar para assumir autocontrole. A estrutura da alma é a criatura, o ser criado.

A palavra, Nivrá (criatura), vem da palavra, Bar (fora). Em prol de permitir à estrutura da alma na realidade se tornar uma criatura, ela deve ser retirada e removida do Criador. Em outras palavras, ela deve se tornar oposta ao Criador, e esta oposição é obtida através do pecado.

 

Explicando o Pecado

A alma consiste de duas forças: Caim e Abel. Abel quer existir ao elevar o Hével (sopro/vapor), ou seja, a Luz Refletida, ou doação, a força doadora. Caim é o oposto, querendo atrair todos os prazeres, todas as luzes, para dentro, para a alma.

Caim — a qualidade que atrai prazer, a luz para si mesmo, e não pelo bem do Criador, atrai-a até que Abel, o desejo de doar, desaparece. Este ato é chamado “Caim matando Abel. “

O Kli (vaso) da alma que recebe luz não pelo bem do Criador se quebra em pedaços, pedacinhos de desejos egocêntricos. Cada tal desejo é uma alma individual que se torna envolta em um embrulho semelhante a uma Klipá (casca/pele). Durante o processo de formação destas almas quebradas, quedas e descidas adicionais ocorrem pelos graus espirituais. Elas trazem-nos para aonde nos encontramos neste mundo, cada um de nós sendo uma parte da alma comum e singular que foi criada.

É precisamente porque estamos desconexos uns dos outros pelos nossos egos — imersos na vontade de receber em vez de na vontade de doar — que temos uma oportunidade de corrigir. Porque já fomos corrigidos no passado, podemos começar hoje a corrigir a ruína e pecado que tomou lugar no passado. Embora não sejamos nós que tenhamos cometido o pecado, nossas almas estão preparadas no interior para nos permitir levar a cabo a correção.

Esta correção é chamada “arrependimento”, constituindo um retorno a precisamente o estado onde estávamos enquanto no Jardim do Éden. Devemos nos apressar e alcançar esse estado, contudo, porque o mundo inteiro já está avançando para a conexão, um processo essencial de união e a percepção de nós mesmos como uma única alma. E finalmente, quando estamos todos em doação e amor mútuo, teremos sucesso em retornar à estrutura, o estado que mantivemos antes do pecado. Ao assim fazer, obteremos o estado em que estávamos enquanto no Jardim do Éden, e nos elevaremos uma vez mais acima da realidade deste mundo.

Nossa presente realidade desaparecerá porque ela só existe enquanto estamos imersos na vontade de receber em prol de receber. Quando temos a intenção de doar, contudo, não podemos mais existir na nossa presente realidade. Em vez disso, nossa existência se torna completamente espiritual e nos conduz de volta ao estado em que antes estávamos antes da nossa criação.

 

Perguntas e Respostas

Qual é o sentido da Criação e o que a precedeu?

“Criação” refere-se à criação do homem e do mundo. A criação do mundo precede à criação do homem por cinco dias. As qualidades, Chéssed, Gvurá, Tiféret, Netzach e Hod, são os primeiros cinco dias, e a qualidade chamada Yessód, a coleção dos anteriores cinco, é o sexto dia, Yessód liga todos eles juntos e se torna a Yessód (fundação) para a criação do homem. A sabedoria da Cabala descreve muitas ações que precedem à criação do mundo, tais como “existência a partir da existência” e “existência a partir da ausência”. Estas são duas forças que criam todos os estados: as quatro fases de Luz Direta, os mundos, Adam Kadmon e Atzilut. Contudo, não relacionamos estas ações ao nosso mundo porque a criação do nosso mundo e do homem estão ligadas somente ao mundo de Atzilut.

Qual é o Significado de Beresheet (No Princípio/Gênese)?

Na Cabala, a palavra Beresheet (no princípio/Gênese) não indica o primeiro ato que tomou lugar na Criação. Beresheet indica que a Criação começou dos céus e da terra, ou seja, de duas qualidades opostas. Céus é a qualidade de doação, e terra é a qualidade de recepção. Todos outros estados das criaturas deriva dessas duas qualidades.

Porque a Torá conta a história do meio e não do princípio?

A Torá conta-nos somente a parte que é relevante para nossa correção. É inútil aprender o que não pertence à nossa correção porque não a sentimos nem compreendemos, nem temos esses níveis ou qualidades. A estrutura da Criação é vasta, todavia aprendemos somente uma fração dela — aquela que é necessária para que nos organizemos a nós mesmos para o tempo presente. É exatamente assim que expomos as crianças ao mundo, como um processo gradual, lhes mostrando mais e mais do mundo enquanto elas amadurecem para que possam perceber e usar seu conhecimento para seu benefício.

O que é alma?

A alma é a vontade de receber que já está corrigida em doação. Embora sua natureza, sua substância, seja a vontade de receber prazer, acima dessa substância está uma correção que o homem faz — trabalhar pelo bem dos outros.

Se há somente duas forças na Natureza, a vontade de receber e a vontade de doar, onde está todo o resto?

Certamente, há somente duas forças, e graus das mesmas duas forças, ou seja, maneiras e níveis de conexão entre elas. Os graus relacionam-se aos níveis inerte, vegetativo, animado e falante.

As duas forças no nosso mundo se manifestam como forças positivas e negativas. Nós as conhecemos como “elétrons” e “prótons”, e suas várias combinações formam as diferentes substâncias. Estas substâncias não se tornam sólidas, ou seja, “imóveis”; elas também se tornam plantas, ou “vegetativas”.

Plantas possuem uma estrutura de absorção, emissão, metabolismo, e assim por diante. O próximo nível o nível “animado”, demonstra uma estrutura que se percepciona a si mesma como existindo, movendo e crescendo.

Posteriormente se desenvolve o nível “falante”, a estrutura do ser humano, único na história da Criação. Todavia, no fim, tudo é composto, nos vários estados de desenvolvimento, de elétrons e prótons.

O que é uma mulher e o que é um homem?

A vontade de receber dentro da alma é chamada “uma mulher”, e a vontade de doar dentro da alma é chamada um “homem” (Gever), da palavra Hebraica, Hitgabrut (superar), porque ela supera a vontade de receber.

 

Qual é o sentido e propósito das histórias de Beresheet?

As histórias de Beresheet não devem ser tomadas literalmente, como contos de um homem e mulher que pecaram, histórias de serpentes e maçãs, e assim por diante. Na realidade, as histórias descrevem as qualidades da vontade de receber e a vontade de doar.

Todas as qualidades de doação e recepção sobre as quais lemos nesta porção da Torá são nossas fundações. Inicialmente, nossa alma é uma alma, um desejo preenchido até à borda com luz. Ela está em perfeita congruência com a luz, a vontade de doar, e está desta forma no grau de Jardim do Éden — o grau de Elokim (Deus).

Isto nada tem a ver com nosso mundo, nem com coisa alguma que vemos e sentimos aqui e agora. Todas as qualidades descritas na porção são forças da dimensão superior, da qual a alma declina em qualidade, todavia não tão baixo como o mundo corpóreo.

Todas as quedas da alma são preparações para nossa presente situação. Nós, juntamente com o universo, desenvolvemo-nos do estado no qual a alma quebrou e recebeu a vontade de receber, quando o ego começou a se desenvolver. Nós temos nos desenvolvido desse ponto em diante. Contudo, parece que nós temos nos desenvolvido somente em uma dimensão. Agora, de nossa geração em diante estamos começando a evoluir em uma maneira mais qualitativa, ascendendo no nosso desenvolvimento mental.

À medida que descobrimos a negatividade nas nossas vidas, estamos começando a sentir que a vida podia e devia ser melhor, que nosso desenvolvimento está nos conduzindo para um beco sem saída. Hoje quando estudamos a Torá, não a estudamos como um documento histórico, mas em vez disso visamos usá-la para nos ajudar a avançar para nossa designada meta. Isto é, temos de nos elevar uma vez mais ao nível, ao estado, e às qualidades que tivemos no Jardim do Éden. Esta é na realidade nossa meta.

Hoje, estamos experimentando muitas crises porque estas forças se divulgam a nós da depravação da nossa situação, e que devemos corrigir a nós mesmos e nos elevar. Esta porção da Torá, Beresheet, partilha luz nas nossas vidas, no mundo, e no processo irreversível que estamos atravessando.

Qual é a diferença entre o nosso tempo e o tempo de Noé?

No tempo de Noé, as pessoas não estavam conectadas como estão hoje. É verdade que sempre fomos egoístas, procurando ter sucesso e lucrarmos para nós mesmos. Contudo, no passado, a Natureza não nos pressionou como agora faz, e podíamos fazer o que quiséssemos.

A sabedoria da Cabala ensina-nos que temos avançado muito bem usando nossos egos para construir nossa sociedade. Contudo, agora alcançamos o fim da estrada, embora maioria de nós está por reconhecer. Os recursos do nosso planeta estão a diminuir, e nós estamos entrelaçados em uma rede que nos liga juntos contra nossa vontade. Reconhecemos que algo está impedindo nosso progresso e nos prevenir de fazer o que queremos. E quando não podemos continuar a nossa abordagem habitual para a vida, ficamos alarmados, e chamamos-lhe uma “crise”.

Hoje sentimos estas crises nos laços familiares, na nossa cultura, ciência e a economia. Temos o sentido de que não estamos mais em controle do mundo em que vivemos. Sempre corremos de acordo com os caprichos de nossos egos, mas agora não podemos. O mundo está nos cercando, nos forçando a nos tornarmos congruentes uns com os outros. Pouco a pouco, o estado que existia no Jardim do Éden está se manifestando, um estado no qual estamos ligados uns aos outros em garantia mútua. No Jardim do Éden estávamos conectados “como um homem com um coração”, como uma única família, uma única alma. Agora devemos alcançar esse estado, mas não estamos equipados para isso; estamos quebrados.

Como a história como aquela de Caim e Abel pode dar um exemplo?

A história de Caim e Abel não serve como exemplo de boas coisas. Desde o momento em que forças contraditórias apareceram em Adam, ele foi conduzido a pecar. Agora devemos regressar ao estado em que estávamos antes do seu pecado. Os estados que estamos experimentando hoje estão nos obrigam a fazê-lo. Não seremos capazes de escapar. A vida nos pressionará até que procuremos uma solução, e a solução será nos adaptarmos ao estado do infinito que existia quando todos estávamos conectados como um.

De O Zohar: O Mundo Foi Dividido em 45 Tipos de Cor e Luz

“Adam HaRishon seguiu a serpente abaixo, e desceu para conhecer tudo o que há abaixo. Isto é, ele desceu para estender a iluminação da esquerda do alto a tudo o que está abaixo, ao lugar de Malchut ausente, como a serpente, dado que a extensão da iluminação do Zivug (acasalamento) de cima para baixo é a proibição da árvore do conhecimento. Desta forma, porque ele veio para atrair de cima para baixo, ele foi prontamente anexo às Klipot (cascas/peles) “. Zohar para Todos, Beresheet, 2, item 287

É a serpente a causa de todos os problemas?

A serpente é certamente a causa de todos os nossos problemas. A serpente representa todo e cada nosso pensamento e desejo de usar os outros ao máximo. Ela está sempre em nós, quer estejamos conscientes disso ou não.

Não é nossa culpa que sejamos assim. Estamos em falta somente com uma coisa: sermos passivos. Sofremos não porque nascemos egoístas ou indelicados, mas porque somos preguiçosos em nos corrigirmos a nós mesmos. É como se fossemos crianças que receberam certas qualidades à nascença e não podem ser culpadas por isso. Contudo, se uma criança pode fazer alguma coisa acerca desses traços, mas o evita fazer, a atitude da sociedade para com ela muda.

O que podemos fazer hoje?

Podemos começar a aprender sobre o novo mundo em que vivemos, onde nada funciona como antes: isto inclui a economia, indústria, comércio, família e educação.

Os jovens de hoje não sabem o que estudar — ou se devem estudar de todo. Eles não conseguem sequer decidir se devem ter filhos!

As pessoas estão face a um meio ambiente pouco claro, onde as coisas parecem enevoadas e imprevisíveis. Devemos examinar e aprender da Natureza o que está nos acontecendo, mas maioria das pessoas prefere não ouvir falar disso. Essa relutância deriva do ego, a serpente.

Enfrentamos um problema enorme. As pessoas ainda não são sérias o suficiente para que compreendam que grandes problemas nos esperam se não mudarmos. Desta forma, devemos circular a informação sobre o novo mundo e tornar as pessoas conscientes em prol de fazer as coisas mais fáceis para elas, antes que sofram as consequências.

Além do mais, se avançarmos antes de enfrentarmos esses golpes, seremos como crianças inteligentes que compreendem que inversamente vão sofrer. Logo, precisamos estudar mais e nos melhorarmos a nós mesmos, ou seremos forçados a estudar e melhorar, independentemente de nossa escolha.

O desafio é para todos nós, à medida que esta rede continua se fechando sobre nós, e quanto mais apertada se torna, mais dificuldades vamos experimentar. Economistas serão incapazes de afetar a crise econômica mundial, somente se todos nós nos unirmos podemos trazer mudança ao mundo. Se conseguirmos fazer isto, o sistema monetário, desemprego, indústria, saúde, e o resto dos sistemas serão reorganizados e melhorados. Sem essa mentalidade, nenhum sistema avançará favoravelmente.

 

Termos

Beresheet

Beresheet (no princípio) significa que o Criador criou seis qualidades e o homem. Dentro do homem estão todas as qualidades pelas quais se tornar semelhante ao Criador. Na realidade, esta é a obra da Criação — construir a substância, a vontade de receber. Estas qualidades permeiam a vontade de receber para que a estrutura bem como a alma alcancem o estado do Criador.

O Shabat (Sabat)

Esta é a correção final do Homem, quando ele retorna ao Jardim do Éden. É um estado no qual nos reunimos em uma única alma.

O Jardim do Éden

No Jardim do Éden, estamos todos em doação mútua, em completa garantia mútua.

A Mulher

A “mulher” é a vontade de receber dentro de nós, que devemos conectar com o homem dentro de nós para que a vontade de receber tenha a intenção de doar. Estamos imersos na nossa vontade de receber, um desejo que é inicialmente egoísta e que se destina a se assemelhar ao Criador, a doar sobre Ele.

A Serpente

A “serpente” é a inclinação ao mal, o anjo da morte. A serpente se tornará um anjo sagrado quando toda a vontade de receber for corrigida. *

A Árvore do Conhecimento

A “Árvore do Conhecimento” é a maior luz. Ela foi inicialmente recebida em prol de receber, assim causando a quebra da alma. No futuro, vamos receber essa luz, mas com a intenção de doar.

 

Sumário

Estamos verdadeiramente em Beresheet, no princípio. A humanidade está finalmente começando a compreender onde estamos, como estudos de sociólogos e outros cientistas sociais indicam. Esperemos que em breve percebamos que simplesmente nos devemos unir, que esta é a única maneira de construir um novo mundo corrigido. Assim fazendo, ganharemos benefícios físicos bem como espirituais.

É por isso que o ano começa com Beresheet, “no princípio”, pois ele contém tanto o fim como o princípio. Dentro desta porção, codificada na palavra Beresheet, está o inteiro processo que devemos, e vamos experimentar.

* “A serpente é a inclinação ao mal; ela é o anjo da morte” (Beresheet, 440).

“O Criador provê Suas correções a todos até que até o anjo  da  morte  retorne  a  ser  muito  bom”  (Zohar  para Todos, Mishpatim (Ordenanças), 165).

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