Capítulo 7

Do livro “Sabedoria Maravilhosa”

O MÉTODO DE ESTUDO DA CABALA

Uma vez reconhecida dentro de si, aquela ardente pergunta que exige respostas, você também deve ter um desejo inicial pelo Criador. Se ele está lá, você não precisa de mais nada! Se você foi dotado com esse desejo, desse momento em diante todo o processo está nas suas mãos, porque todas as forças que lhe são necessárias já se encontram na sua alma. Só é preciso desenvolvê-las, e esse é o seu trabalho. Fazer isso está em seu poder, porque o seu próprio corpo foi criado especificamente para permitir que você atinja o propósito da criação. Portanto, ninguém pode dizer que é incapaz, que circunstâncias o impediram de atingir o objetivo para o qual nasceu, neste mundo.

Se você está nos estágios iniciais de seus estudos, deve ler bastante, mas apenas o que pode entender. Leia bastante e não pare. Evite partes difíceis, porque aquilo que você pode entender com facilidade hoje, irá ajudá-lo mais tarde a entender as partes mais difíceis.

O material de aprendizagem da Cabala é dividido em duas partes:

1. O estudo da criação dos mundos, os Partzufim e as Sefirot, a gradação dos níveis de ocultação do Criador. Esta parte é crucial para o nosso entendimento do sistema da criação e suas ações. É estudada na seguinte ordem: Prefácio à Sabedoria da Cabala, O Estudo das Dez Sefirot, trechos selecionados do Zohar e do livro A Árvore da Vida. Este material deve ser estudado de maneira sistemática.

2. A ascensão da alma através dos níveis dos Mundos Espirituais, de baixo para cima. O estudante deve ler e reler livremente as partes que são de maior interesse. São estudadas por meio de artigos e cartas. Não foram escritas na mesma linguagem do livro O Estudo das Dez Sefirot, mas na linguagem das emoções, da ética, da análise das ações, etc. Não é a sabedoria da Cabala realmente, mas como é utilizada para a ascensão da alma. Você irá ler sobre isso nos livros de Baal HaSulam e de Rabash, como também nos livros de Dr. Michael Laitman.

O estudo inclui uma familiaridade com o material, ou seja, um examinar sistemático do material para ser capaz de encontrar referências. Isto é necessário, porque as pessoas que estudam a Cabala e ascendem espiritualmente estão sob contínuas mudanças, e devem selecionar o material que lêem de acordo com o estado em que se encontram no momento.

Milhares de livros foram escritos durante a história da Cabala, mas o Rabash nos instruiu a estudar apenas por meio destas fontes:

Os escritos de Rav Shimon Bar-Yochai

Os escritos de Ari

Os escritos de Baal HaSulam

Sugiro que os novos estudantes comecem a estudar estas fontes. Depois, quando tiver absorvido o material, você será capaz de entender outros escritores. Isto lhe dará uma base sólida, a partir da qual você examinará outras fontes para ver se elas também lhe servem.

No Bnei Baruch, os novatos são fortemente recomendados a utilizar apenas um determinado número de fontes selecionadas. Isto é assim, porque, apesar de tudo no mundo apontar para o Criador, nós somos incapazes de ver isso. A fim de vermos isso, nós devemos conhecer a direção certa e ter uma abordagem correta em relação à realidade, aprender os princípios do Plano Universal e as leis de seu desenvolvimento, seu objetivo, e as limitações da nossa percepção.

É importante notar que não desvalorizamos outras fontes, de maneira nenhuma. Muitos Cabalistas estavam num nível ainda mais alto do que o de Rav Shimon Bar-Yochai ou o do Ari. Contudo, eles não tinham permissão para escrever, ou se tinham, era com menores implicações, destinando-se aqueles que já se encontravam nos Mundos Superiores.

Os artigos que estudamos baseiam-se muito no comentário chamado de Escada. O Rav Yehuda Ashlag (Baal HaSulam) chamou aos seus comentários de Zohar de HaSulam (A Escada), porque lendo-os, somos ajudados em nosso mundo a subir a escada rumo ao Criador, abrangendo todos os níveis entre os degraus. Esse é o propósito da criação. Note que os comentários do Zohar apenas podem ser entendidos, após estudarmos todas as suas introduções.

Alguns estudam a Cabala apenas por causa do conhecimento. Aspirar simplesmente por “conhecer” é maravilhoso, embora não deva ser apenas uma aspiração pelo conhecimento, mas por sentir: para compreender o material estudado a partir do seu interior, de descobrir quem o seu “eu” é, e onde se situa dentro de si aquilo que os livros descrevem. Afinal de contas, tudo o que é escrito, é escrito de dentro, a partir da compreensão pessoal dos escritores.

Nenhum raciocínio no mundo nos ajudará a entender a espiritualidade porque ela se encontra acima da nossa razão e das nossas mentes. É por isso que não podemos senti-la. Os nossos sentidos podem apenas examinar coisas que eles captam e analisam um conhecimento que geralmente chamamos de “este mundo”. Para sentirmos o Mundo Superior devemos obter outros sentidos, que chamamos de “tela”. Apenas com uma tela podemos sentir o que está acima de nós, além das nossas sensações materiais, que os nossos sentidos naturais não podem detectar. Quando somos capazes de sentir o Mundo Superior, também recebemos uma mente e uma razão diferentes.

Primeiro, obtemos a sabedoria e a razão do Mundo Superior. Depois, começamos a senti-lo. A única maneira de obtermos uma tela é através da sabedoria da Cabala.

Portanto, quando lemos livros sobre a Cabala, os autores falam-nos exatamente a partir do nível que estão descrevendo. Não existe tempo na espiritualidade. Como diz o maior cabalista do nosso tempo, Rav Yehuda Ashlag: “… mas, como resultado do grande desejo e anseio por entender o que estão aprendendo, eles despertam sobre si mesmos, as luzes que circundam as suas almas” (Introdução ao Estudo das Dez Sefirot, item 155).

Como resultado do grande desejo de sentir o que estão estudando, os leitores despertam neles mesmos uma Luz circundante dos mesmos níveis espirituais sobre os quais estão lendo. O que é importante é a intenção. Mas o problema é que não podemos nos impor a intenção correta. Essa intenção deve vir do coração, desde que o coração a queira. Isto ocorrerá se houver uma necessidade por sentir algo superior, se as nossas almas tiverem se desenvolvido até ao ponto em que precisam do Criador, e não das coisas materiais deste mundo.

Por vezes, simplesmente não queremos estudar. Mas, na verdade é bom estudar quando você não sente vontade para isso. Nesses momentos, é melhor estudar a estrutura dos mundos. Estudar “contra você mesmo”, contra o seu estado de espírito atual, pode trazer bastantes benefícios.

Por exemplo, se estou desesperado, devo ler artigos sobre a ânsia pelo Criador. Temos de experimentar todas as emoções. Afinal de contas, somos feitos a partir de combinações de todos os sentimentos e atributos que existem no mundo. Na Cabala, você faz experiências em si mesmo.

Só a alma pode sentir os seus verdadeiros desejos. Nós mesmos não os sentimos. Podemos pensar que um determinado desejo está ardendo dentro de nós, mas na verdade podemos estar nos enganando a nós mesmos. Contudo, a alma é o que finalmente nos conduzirá ao nosso objetivo, assim como nos conduziu até aqui. Não foi por meio da nossa sabedoria ou do pensamento consciente que viemos a aspirar pela Luz Superior.

Para desenvolver os atributos necessários ao crescimento interno, é aconselhado: “Seja o que for que a sua mão alcance para fazer pela sua força, faça-o”. Isto significa que você deve fazer tudo o que puder para absorver o máximo de material possível. Leia, mesmo que seja apenas para enriquecer o seu conhecimento e vangloriar-se diante de seus amigos com relação a isso. Com o tempo, a grande quantidade de seus estudos dará frutos.

Isto também é verdadeiro no que se refere ao primeiro estágio de seus estudos. Para absorver o máximo de informação possível, é aceitável mentir para si mesmo e determinar objetivos, especificando benefício próprio. Mas depois, você compreenderá que os seus resultados dependem da qualidade do material, ou seja, da sua mentalidade e das suas intenções. É por isso que é dito: “A Luz nela corrige”. A intenção apropriada é o que nos leva à percepção.

Tudo o que atingimos e falamos, é sobre aquilo que sentimos dentro de nós. O que ouvimos, vemos e sentimos não são objetos externos, mas as nossas próprias reações àqueles objetos. Quando percebemos o Criador, compreendemos que, fora de nós, nada muda realmente. Nós é que mudamos internamente, e nos relacionamos com essas mudanças como se fossem externas.

As pessoas fazem todo o esforço para absorver tudo à sua volta e para entender o máximo que podem com o mínimo de esforço possível.

Neste estado como completos egoístas, experimentamos apenas as nossas reações internas. Mas, quando obtemos êxito em restringir as nossas intenções de agradar a nós mesmos, começamos a querer agradar ao Criador, a sentir o que está fora de nós, ou seja, o Criador, sem nos focar em nós mesmos.

Então, na medida em que desejamos “não para nós mesmos,” sentimos a Luz do Criador. Na medida em que vamos conhecendo o Criador, sentimos um desejo de dar a Ele, o que resulta no desenvolvimento de um laço recíproco entre nós e o Criador. Esta medida da revelação do Criador é chamada de “nível.” Nas nossas emoções, estes níveis são organizados em cinco grupos chamados de “mundos”. São as medidas da revelação e ocultação do Criador.

Ás vezes ao estudarem o sistema dos mundos, os estudantes chegam ao ponto da criação de Malchut e da primeira restrição. Depois disso, eles param de entender e não conseguem fazer nenhum outro progresso. Na realidade, é um bom sinal se você não consegue entender as coisas mais simples. Isto significa que a sua alma pede para ser preenchida com a sensação do Criador. Isto suprime a necessidade por entendimento intelectual. Como resultado, você não preenche o seu cérebro porque a sua alma não deixa!

Contudo, sem uma tela, a alma não pode ser preenchida também. Como resultado, você tenta aprender, mas não consegue entender nada. De fato, este é outro bom sinal que mostra a sua necessidade interna por desenvolvimento espiritual.

Aqueles, cujas almas não os motivam rumo às sensações internas, mas rumo ao conhecimento, estudarão bem e ganharão uma quantidade tremenda de conhecimento. Contudo, as suas almas permanecerão vazias. Ao mesmo tempo, o conhecimento deles mostra-se superficial; não entendem os processos internos porque o Criador fez um Kli (recipiente) de desejo, e não um Kli de entendimento, assim o conhecimento da Cabala só pode resultar da análise emocional.

Na Introdução ao Estudo das Dez Sefirot, Rav Yehuda Ashlag escreve que, ao contrário de algo que exige talentos, memória, habilidades técnicas, agilidade, senso rítmico e força, o estudo da Cabala não exige talentos, porque todos os talentos são atributos do corpo que se encontra neste mundo. Por outras palavras, estes atributos pertencem à natureza deste mundo, que não está envolvida no alcance do Superior.

As pessoas muitas vezes desejam saber se ao estudarem a Cabala se tornarão mais espertas. Quando uma pessoa nasce, os seus desejos são muito pequenos. Depois, eles começam a se desenvolverem ligeiramente. A medida do desenvolvimento destes desejos determina a medida do desenvolvimento da mente. O cérebro pode se desenvolver apenas na medida necessária para satisfazer os nossos desejos. Mas, quando embarcamos no estudo da Cabala, os nossos desejos crescem e nos tornamos cada vez mais egoístas, e, portanto mais espertos. Mas não há necessidade para se preocupar: quando estuda, você obtém de Cima tudo o que precisa para o seu desenvolvimento. Você na verdade sentirá algo novo dentro de si – uma dádiva do Criador.

Por vezes, e após anos de estudo da Cabala, o objetivo das nossas vidas torna-se “rotina”. Aqueles pensamentos especiais parecem desaparecer, e às vezes é como se não houvesse movimento ou realizações. Às vezes, o próprio objetivo desaparece. Isto, na verdade, é temporário. É quando sentimos um vazio absoluto, o qual ocorre apenas quando nos esforçamos por compreender com toda a nossa força, que fazemos o verdadeiro progresso.

A nossa luta pode ocorrer debaixo das situações mais desesperadoras, e após anos de desapontamentos e de constantes despertares das nossas aspirações pelo objetivo. Então, gradualmente, torna-se claro que só o Criador pode mudar as nossas situações. Tal mudança pode ocorrer apenas pela nossa total devoção, apesar das cascas, ou seja, dos nossos desejos egoístas de obter prazer na Luz do Criador, nos dizem constantemente que ainda podemos fazer as coisas por nós mesmos. Só então, e sem nenhum aviso, vem a ajuda do Criador, como um sonho que se torna realidade, no momento menos esperado.

A coisa mais importante na Cabala é conseguir a tela, que você começa a cultivar por sua própria conta. A tela nasce e desenvolve-se em nós sem nenhuma intenção da nossa parte, porque não sabemos o que é. Todas as coisas novas que aparecem em nós são somente consequência direta dos nossos estudos.

Nós não conseguimos saber o que vai aparecer em nós no próximo instante. Será sempre algo estranho e novo, então como vamos saber disso antecipadamente? Como podemos prever?

“Novo” significa algo de um nível mais alto do que meu nível atual.

Portanto uma tela não pode ser cultivada intencionalmente.

Se, depois de algum tempo, lhe faltar prazer no seu ambiente de estudo, lembre-se que esse é um estado temporário. Continue estudando e a sua alienação da sociedade logo será substituída pela situação oposta: você sentirá que existem mais prazeres à sua volta do que jamais sentiu. Então, descobrirá um desejo de receber, maior do que antes dentro de você. Isto acontecerá para lhe dar algo para você corrigir.

Quando sentir falta de desejo por sucesso espiritual, leia bastante, e leia apenas o material que o seu professor sugerir, aquelas partes que o seu coração deseja. Em momentos assim, o meu professor sugeriu que eu dividisse o estudo entre o Prefácio à Sabedoria da Cabala, os artigos e cartas. Estude tudo o que é convidativo à sua alma.

Os estados de espírito mudam freqüentemente no decorrer do caminho. Isto é natural e mostra que você está progredindo. Os artigos que você ler, mostrarão que os seus sentimentos e pensamentos são típicos de alguém que está progredindo. De manhã, antes do trabalho, estude A Ciência da Cabala (Pticha) durante uma hora e antes de dormir leia as cartas e artigos que falam do trabalho interno.

Quando você, como estudante da Cabala, sentir falta de entusiasmo, o que está sentindo é o começo da recepção dos seus novos valores e da sua reação a este fenômeno. Este período demora algum tempo; você não pode realizar mudanças significativas de uma só vez, porque a sua mente, os seus sistemas fundamentais, o seu sistema nervoso, e os relacionamentos recíprocos com o seu ambiente, fazem com que seja muito difícil fazer isso.

Se você sentir isso, a boa notícia é que você já começou o processo inicial de mudança interna. Continue estudando e fazendo perguntas. Você é apenas como qualquer outra pessoa que sente os efeitos iniciais do estudo correto no seu mundo interno. A pessoa que estuda a Cabala não desce de um estado anterior, mas sobe para um mais alto, portanto não há razão para desespero, muito menos para depressão.

Existe uma lei na natureza chamada de “a lei da equivalência de forma”. Esta lei faz com que objetos com atributos similares se aproximem, e objetos com atributos opostos se distanciem uns dos outros. Quando indícios de atributos espirituais surgem, esta lei começa a agir sobre nós na medida em que alcançamos estes atributos. Se você estudar o material de maneira correta, verá que várias pequenas mudanças acontecem dentro de si. Verá que está sendo conduzido, que existe uma alma dentro de si, e que algo o está afetando do exterior.

Verá que a sua alma e a Luz do Criador, que a afetam, estão conduzindo você, e não o seu cérebro físico. A sua mente contém conhecimento do presente, ao passo que, o futuro permanece desconhecido. Porém, mesmo antes do futuro lhe ser revelado, você quer fazer mais do que apenas fantasiar sobre ele; você quer agir como se estivesse nele, como se tivesse ascendido ao próximo nível de consciência.

Às vezes, após estudar por algum tempo, a pessoa pode desejar largar determinadas coisas em sua vida e devotar mais tempo ao seu trabalho espiritual. Mas externamente, você deve continuar a trabalhar e não mudar nada! Não importa o quanto o seu interesse diminui, você não deve seguir os seus desejos, mas o seu dever.

Quando estudamos a Cabala de maneira correta, a Luz circundante que é despertada trabalha as nossas almas e inicia o próximo estado espiritual. Esse estado irá chegar por si só, e substituirá o estado presente. Ao fazer esforços consideráveis no estudo da Cabala, a pessoa pode acelerar mudanças pessoais. Esta é de fato, a única liberdade de escolha que temos neste mundo.

Baal HaSulam escreve na Introdução ao Estudo das Dez Sefirot que o Criador repousa a nossa mão na boa sorte e diz-nos: “Escolha isto para você.” Portanto, onde está então a escolha? A escolha na verdade, é que, ou somos empurrados por trás, o qual sentimos como dor, ou corremos adiante por nós mesmos, á frente da dor. Esta é a nossa única liberdade de escolha.

Tudo o que acontece no nosso mundo, tudo o que as pessoas fazem, é tudo predeterminado, porque todas as nossas características e o nosso ambiente, tanto interno como externo, são predefinidos pelo Criador. A liberdade de escolha existe apenas para aqueles que desejam a espiritualidade, e apenas por meio de seus esforços pessoais.

Todo o estudante quer saber como acelerar o seu progresso espiritual e ao fazer isso, evitar a agonia. Você pode fazer isso das seguintes maneiras:

Leia os livros do Baal HaSulam, do Rabash e do Dr. Laitman.

Faça parte de um grupo cujo propósito é descobrir o objetivo da criação. Seja ativo e faça algo para os membros do grupo e para o líder espiritual.

Comece a escrever tudo o que você sabe sobre espiritualidade. Dessa maneira, você pode corrigir o seu nível espiritual atual de maneira mais rápida e criar uma necessidade por alcançar o próximo nível.
Faça parte de maneira ativa da disseminação da sabedoria da Cabala. Este é o meio mais eficaz de todos.

As pessoas frequentemente perguntam sobre as, assim chamadas, “más situações”. Na verdade, do ponto de vista Cabalístico, más situações não existem. O Criador nos dá todas as coisas com o único propósito de nos corrigir. Existe o Criador, nós e o que recebemos Dele.

É dito que “A Luz do Criador nos cansa”. A Luz mostra-nos quem e o que somos, que somos apenas minúsculos egoístas. Contudo, ela nos mostra as nossas fraquezas – a nossa escravidão ao nosso ego – apenas na medida que só suportamos o que vemos. Quanto mais nos desenvolvemos e nos corrigimos, mais óbvio se torna em como somos vis, e bem diferentes do Criador. Isto nos é mostrado para nos corrigir, para simplesmente reconhecer a nossa própria natureza, e rejeitá-la de seguida. Cada vez que lemos os livros certos, compreendemos mais e mais profundamente quem somos e quem é o Criador.

Qual é o propósito do estudo da Cabala? Quando começamos os nossos estudos, de acordo com o nosso progresso na vida, começamos a focar as nossas ações rumo ao objetivo, que é alcançar contato espiritual com o Criador. Ficamos sob a Sua Providência particular exatamente nessa medida, que é o propósito da nossa busca, apesar de a nossa busca ainda ser uma busca inconsciente.

Se lemos apenas livros autênticos sobre o mundo espiritual, se é isso que achamos interessante, já estamos sob a Providência particular do Criador. O Criador guia a todos, mas Ele guia-nos pessoalmente. Cada alma recebe a Luz do Alto com intensidade crescente, e, portanto se desenvolve de acordo com o propósito da criação. Isto é chamado de “Providência geral”. Mas quando ele nos tira do meio das massas para nos promover de maneira mais rápida e nos atrair em direção a Ele, isso é chamada de “Providência particular”.

Num estado de Providência particular, começamos a sentir ascensões e descidas. Estas serão expressas em nossa sensação do Criador ou em sua ausência, de acordo com os nossos atributos. Nós deixamos de ver a vida como os outros. Enquanto os outros dizem: “Graças a Deus, mais um dia se passou. Permaneci saudável e fiz algumas coisas”; nós, por outro lado, começaremos a avaliar-nos em grande detalhe.

Perguntaremos a nós mesmos: “Estou mais próximo do Criador hoje? Tenho um desejo por Ele?” Mesmo que as nossas respostas sejam negativas, elas serão, no entanto, um testemunho do nosso progresso.

Ao contrário de todas as religiões e filosofias, a Cabala afirma claramente e de forma inequívoca que a ascensão espiritual implica prazeres ampliados. O início do caminho inclui o estudo da Cabala, enquanto o leitor mantém um estilo de vida normal sem mudanças ou limitações. Mas, já que os nossos desejos influenciam os nossos atos, se queremos alcançar algo sublime, devemos agir de maneira adequada.

Assim, vemos que a correção é um processo que envolve o efeito da Luz Superior em nós. Não é um processo de restrição por coerção. Esta é precisamente a diferença entre a Cabala e a religião: a Cabala ativa o poder do Criador – não é uma força opressora do exterior. Portanto, quando recebemos mais e mais força do Alto, ela abre os canais para desejos maiores, que podem então, ser corrigidos e usados apropriadamente.

Nós não podemos viver sem prazer. Afinal de contas, a nossa própria essência é o desejo de receber deleite e prazer, e o propósito da criação é alcançar o prazer perfeito. Não há nada de errado com o prazer em si; devemos corrigir o seu objetivo, e não o desejo em si. Então, o que é que faço com os meus desejos? Quero uma casa grande e bonita; embora uma pequena sirva bem. Quero um carro novo, embora o velho ainda ande. Com relação ao meu emprego, ainda estou interessado em um que me traga mais responsabilidades. Tenho de remover estes desejos para criar espaço para mais estudo?

Tudo nas nossas vidas – nossas escolhas, os passos que damos nossas preferências, e o jeito como avaliamos as nossas vidas – são definidas pelo quão necessário sentimos que estas coisas são. É dito que “Tudo quanto o homem tem dará pela sua vida” (Jó 2:4). Por um lado, esta citação pode ser interpretada desta maneira: a pessoa sacrificaria tudo pela vida, pela saúde e pela possibilidade de continuar viva. Por outro lado, você pode dizer que

abriríamos mão de tudo (inclusive da vida) por algo sem o qual a nossa vida não teria sentido. Encontramos exemplos disto por toda a história. Mesmo na nossa época materialista, tudo depende da nossa apreciação pelos valores materiais como pelos espirituais. Estes valores mudam com o nosso desenvolvimento, fazendo a auto-coerção desnecessária.

Na Introdução ao Estudo das Dez Sefirot, Rav Yehuda Ashlag explica que no passado, no despontar da história, alguém que quisesse estudar a Cabala e iniciar-se na espiritualidade tinha de se restringir e viver miseravelmente a pão e água. Mas hoje, e após correções feitas no mundo por Cabalistas mais recentes, juntamente com o desenvolvimento das almas geração após geração, tudo o que é preciso para se alcançar o Mundo Superior, é o estudo da Cabala.

Portanto, o ascetismo e as restrições que as pessoas costumavam praticar, hoje não são mais necessárias. Os Cabalistas atraíram a Luz Superior na nossa direção, sobretudo desde a época do Ari (século XVI). Como se diz: “A Luz nela corrige”; o que significa que o estudo da Cabala desperta uma iluminação invisível da Luz Superior que nos corrige.

Os Cabalistas explicam que o estudo da Cabala desperta esta iluminação dentro do discípulo, de maneira mais intensa do que qualquer outro estudo. Portanto, eles aconselham a quem queira alcançar a espiritualidade e o propósito da criação, a estudar a Cabala. É claro que você pode continuar construindo casas, comprando carros e dando presentes caros, mas é importante estudar regularmente, ler sempre que puder, e ler apenas os escritos de Cabalistas autênticos. Este estudo trará a você novas situações internas e novos valores, por meio dos quais você tomará futuras decisões.

Os interesses primários e secundários em sua vida mudarão gradualmente, mas esta mudança deve vir de dentro de si, e não por meio da coerção. Não deve haver coerção na espiritualidade, e a origem da coerção no nosso mundo são as cascas. A solução é continuar a estudar a Cabala, e ser você mesmo em todos os momentos. Com o tempo, a sua alma irá guiá-lo e dizer-lhe quanta energia aplicar na espiritualidade e quanto gastar nas atividades mundanas.

Quando começamos a estudar, por vezes sentimo-nos miseráveis porque não sabemos como mudar a nossa intenção. Não tenho pista alguma em como inverter isto, para que nada do que eu faça seja para meu ganho pessoal. Tais sentimentos são bons no começo de nossos estudos. Eles mostram que estamos progredindo rumo à espiritualidade, rumo à barreira, rumo às sensações do Mundo Superior.

Cada nível e cada situação espiritual que experimentamos, devem morrer ou desaparecer. Por outras palavras, devemos rejeitar o nível de crescimento anterior, como indigno do nosso novo estado. O mesmo se aplica às almas: uma nova vida só se inicia, depois da morte ter ocorrido e do processo de decomposição se ter completado.

Assim, a nossa situação atual termina quando se torna intolerável. O desejo de prosseguir para a próxima fase é formado a partir da intolerância do presente estado. Discordância com a situação atual traz com ela uma nova situação. Portanto, a nossa solução está em focar exclusivamente na quantidade e na qualidade de nossos estudos. Devemos ler bastante (quantidade), com o pensamento de que cada uma das palavras nos traga novos poderes e nos transforme de dentro (qualidade).

Apenas aqueles que descobrem a Luz na Cabala vêem que a sua força enfraquece. Isto é porque eles a estudam para receber força de Cima, para serem corrigidos, e para se assemelharem ao Criador. Não querem ficar no nível em que simplesmente satisfazem as suas necessidades corpóreas. Como dizem os nossos sábios: “Você é chamado de homem, e não aqueles que cometem idolatria”.

Aqueles que cometem idolatria são aqueles que adoram as suas más inclinações e que se curvam diante de seus egos. Você pode se curvar diante do Criador, ou diante de seu ego, porque existem apenas essas duas possibilidades. Curvar-se diante de alguma coisa indica o desejo por ela, ou pelo atributo que ela simboliza. Curvar-se diante do ego significa que a pessoa coloca o ego acima de si mesma; não existe desejo de suprimi-lo, mas de se alimentar dele. A rendição ao ego é chamada de “curvar-se diante de um deus estranho”. Na Cabala, isto é chamado de “idolatria”.

Se o estudante estuda a Cabala para se tornar um “humano”, a má inclinação vê que não encontrará nada aqui e as forças naturais enfraquecem. Mas nesse momento, a pessoa ainda não possui os poderes espirituais de doar, e, portanto ainda não é atraída pelo Criador, como não há ainda o conhecimento de quem Ele é.

Estar entre os dois mundos é o estado que causa a indiferença. É uma fase necessária. Após essa fase, o Criador aparece gradualmente. Objetivos espirituais mais elevados aparecem e a pessoa avança. Se um estudante sente cansaço que provém da falta de desejo genuíno pela espiritualidade, é importante entender que existem os trabalhos Lo Lishma (não para o nome Dela – não para o Criador) e Lishma (para o nome Dela – para o Criador). Trabalhar Lo Lishma é trabalho espiritual que primeiro envolve o trabalho com a intenção de para si mesmo. Para sentir que está trabalhando Lo Lishma (e nem todos conseguem sequer isso), você sente pelo menos levemente – como se à distância – o sentido de trabalhar Lishma, para que possa comparar os dois e compreender que está trabalhando Lo Lishma.

Contudo, estas são apenas ações mecânicas. Não nos devemos enganar a nós mesmos pensando que alcançamos algo substancial. Então, gradualmente, devemos pedir ao Criador que plante em nós o poder de realizar uma ação espiritual autêntica, somente para Ele.

Tudo isto acontece gradualmente. Uma fraqueza física temporária é o resultado da transição de fazer coisas para si mesmo para, fazê-las para o Criador.

Às vezes, temos um forte desejo de compartilhar alguns dos nossos sentimentos recém-adquiridos com um amigo. Os estudantes nunca devem compartilhar as suas sensações e emoções internas com ninguém além do Criador ou do seu professor. Isto é porque as outras pessoas, mesmo sem querer, projetarão os seus egos em nós, e perderemos a nossa força mental por algum tempo. Embora devamos sentir um alívio temporário, perderemos temporariamente a nossa habilidade de subir a um nível mais elevado quando partilharmos as nossas sensações.

É bastante natural, nós falarmos apenas de nós mesmos. De qualquer forma, em nossas palavras, sempre incluímos nossos egos. Não importa se o ego está escondido ou descoberto: a coisa mais importante é não falar sobre as nossas sensações espirituais relativas ao Criador. Podemos falar sobre Sefirot, Partzufim e sobre a sabedoria da Cabala sem limites, contanto que não mostremos as nossas sensações, porque, ao fazê-lo, podemos prejudicar tanto a nós como aos nossos amigos. O mesmo se aplica aos nossos cônjuges, filhos, e até pessoas totalmente desconhecidas. Estude os livros, mas nunca fale sobre as suas sensações.

O estudo da Cabala não inclui apenas o trabalho com os livros. Ações físicas para beneficiar o grupo, organizar palestras e grupos de estudos de Cabala são mais benéficas do que o estudo em si. Servir o professor é mais benéfico do que estudar com ele. No seu “Discurso da Conclusão do Zohar”, Rav Yehuda Ashlag cita os antigos sábios Cabalistas: “Faça um Rav para si e compre um amigo”.

Em outras palavras, escolha uma pessoa que você acha importante e faça dela seu professor. Então, tente agradar a ele ou a ela. Seu professor é bastante importante para você. Ao agradar o seu professor, você vai se acostumar a fazer algo para os outros, e por meio da força do hábito você será capaz de fazer o mesmo pelo Criador. Ao ser espiritualmente próximo do seu professor, você receberá o nível no qual o professor aprecia o Criador. Isto lhe dará uma oportunidade de ao menos fazer alguma coisa pelo Criador, e de entrar no mundo espiritual desta maneira. Ao mesmo tempo, você obterá a sensação da grandeza do Criador e será capaz de avançar até à adesão completa com Ele.

Notar os pedidos de seus professores com o intuito de satisfazê-los, permite que você atinja semelhança espiritual com eles. Você será capaz de receber os pensamentos e o conhecimento deles, e acima de tudo, atingir o amor e atração deles, pelo Criador, que lhe darão a capacidade de se desenvolver e progredir espiritualmente. Porém, o estudo com o seu professor é sempre motivado pelo desejo de conseguir conhecimento individual, para si. Como resultado, o estudo não traz com ele, a proximidade espiritual do Criador. Por outras palavras, ao fazer coisas para o professor, você obtém os seus pensamentos, e ao estudar você obterá apenas as suas palavras.

Você só pode obter os seus pensamentos se a motivação de servir o professor vier do desejo de agradar ao professor, e não a si mesmo. Na situação oposta, quando a nossa motivação é o nosso desejo por gratificação própria, o objetivo é estudar e torna-se mais importante do que servir o professor.

Se o ambiente à nossa volta não enaltece a glória do Criador, como deveria, nunca seremos capazes de atingir um nível espiritual. Portanto, é sempre recomendado que nós, como estudantes, consideremos a nós mesmos como os mais baixos (espiritualmente), comparados ao nosso grupo. Isto permite ao estudante adotar o estado de espírito coletivo. Nosso ambiente é necessário para atingirmos o propósito da criação, é por isso que você deve “comprar um amigo”.

Esforços na circulação da Cabala ajudam a acelerar as mudanças mais do que qualquer coisa. As coisas vão mudar de qualquer jeito; a única questão é o quanto o processo vai demorar – um dia, um mês, a nossa vida inteira? O próximo nível está logo ali, e está em seu poder voar para ele agora mesmo! Isso só depende de nós e de ninguém mais!

Quando estudamos para alcançar o Mundo Espiritual, o tempo é de crucial importância, pois devemos nos acostumar com os conceitos e definições espirituais, e depois viver neles. Por “tempo”, queremos dizer que mudanças ocorrem em nós de uma maneira consistente e a uma grande velocidade. Não as sentimos, de fato, podemos sentir como se não estivesse acontecendo nada. Apenas depois, subitamente e de maneira bem profunda, compreenderemos todas as mudanças que ocorreram.

Este é o resultado daquelas pequenas mudanças internas que não sentimos. O nosso limiar de sensibilidade é bastante alto, e apenas de um determinado nível em diante começamos a sentir essas mudanças. Tudo o que passa por nós, deixa a sua marca em nossas almas, e, após algum tempo, a mudança aparece subitamente. Portanto, a coisa mais importante a se fazer é ler, o tempo todo, não importando o quanto absorvemos do texto.

Existem textos que devem ser lidos e relidos de acordo com o currículo geral, e existem textos que devemos ler apenas quando estivermos com disposição. Tais como as cartas ou artigos sobre a sensação do espiritual. É dito que, quando ascendemos, quando nos sentimos próximos do conteúdo, é bom ler apenas as coisas que tocam os nossos sentimentos; isto é, das quais o entendimento virá por meio de nossos corações. O problema para alcançar o espiritual é que não possuímos os sentidos corretos para fazê-lo. O espiritual pode ser obtido lentamente e gradualmente quando o coração o permite. Assim, existe o momento de usar o cérebro, e existe o momento de usar o coração.

Às vezes, quando simplesmente pegamos num livro de Cabala, imediatamente surgem vários tipos de distrações que “rastejam” pelas nossas mentes, até querermos largar nossos estudos. Mas assim que do Alto nos é enviada dor, devemos pegar um livro de Cabala, e nessa altura não teremos nenhum problema em nos concentrar nas suas palavras.

O desejo por prazer é tudo o que o Criador criou. Nos humanos, esse desejo é mais desenvolvido do que em todos os outros animais. O objetivo do Criador é que a humanidade seja como Ele: completa e eterna. Mas esse objetivo só pode ser alcançado através da influência do prazer ou da dor. Por sermos feitos para nos deleitar e sentir prazer, não podemos não sentir nada. Sentimos a falta de prazer como agonia. Quando o prazer vem, o aceitamos como natural, e o tomamos como adquirido, pensando: “Eu mereço”. Quando a dor vem, nos ressentimos e sentimos: “Não mereço isto”. Novamente, isto provém do fato de que nascemos de uma substância chamada de “desejo por prazer”.

Porque o Criador tem um desejo de doar às Suas criaturas, Ele nos criou com um desejo por prazer. Mas se fossemos influenciados apenas pelo prazer, por sermos exclusivamente feitos a partir de um desejo por prazer, seríamos tão egoístas que nos tornaríamos estúpidos. Assim, apenas a busca por prazer nos obriga a desenvolver. Para sermos levados ao desenvolvimento completo, ou seja, sermos como o Criador, há apenas uma opção: doar.

Quando recebemos prazer, achamos que o merecemos, mas logo que sentimos dor, começamos a procurar a sua origem. Deste modo, chegamos ao Criador gradualmente, a origem tanto do prazer como da dor. A dor cria em nós um desejo de encontrar a sua origem, de conhecer o Criador. De outra maneira, nunca conheceríamos o Criador e nunca seríamos capazes de nos igualar a Ele.

Se nos dizem que estudar a Cabala é bom para nós, como podemos nos fortalecer ao longo do caminho? O Criador nos envia perturbações para que ao superá-las aprendamos como nos aproximar Dele. E se as perturbações não nos trazem força suficiente para superá-las, são-nos enviadas mais agonias para nos obrigar a fazer um esforço extra para superá-las. Neste ponto, as perturbações não nos assustam mais, porque o medo da dor nos força a estar em alerta constante. E este é o caminho! Afinal de contas, você quer alcançar a coisa mais importante que existe, não apenas em nosso mundo, mas em qualquer lugar!

Ao estudarmos, surgem várias perguntas. É importante entender que uma pergunta é um Kli (recipiente), e o que importa é o Kli. Assim que estiver completo, a Luz (a resposta) o preencherá imediatamente. Se estamos prontos para a resposta, sentimos a Luz Superior na medida do amadurecimento do nosso desejo. Se não estamos prontos para a resposta, não sentimos a Luz.

A Luz Superior está em constante repouso. Está sempre dentro de nós. Apesar do fato da Luz e o Kli terem atributos opostos, quando a Luz preenche o Kli, eles se tornam como um todo, único. As respostas chegam precisamente onde existem perguntas.

O Criador e a criatura fundem-se num só atributo, embora a criatura não sinta isso. Os Cabalistas não escondem esta fusão; pelo contrário, eles a enfatizam. Fazem isso para que os outros compreendam que os seus esforços servem para ajudá-los a descobrir por eles mesmos o que está sempre no interior, mas que está oculto por causa do nosso atual estado corrompido.

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