Teoria Quântica
Do livro “Cabala, Ciência e o Sentido da Vida”
Palestra do Dr. Jeffrey Satinover no Congresso Internacional de Cabala, Israel, abril de 2005
Esta palestra se concentrará em um campo que é considerado “ciência avançada”, mas que, em comparação com a Cabala, é na verdade bastante primitivo. Pense em uma pessoa que não sabe o que é uma noz e, de repente, vê uma casca de noz. Ela perde muito tempo estudando-a e por muitos anos assume que ela é um objeto completamente sem vida. Finalmente, após longos e extenuantes anos de pesquisa, ela examina os símbolos complexos na parte interna da casca e conclui que esta deve ser a casca de um objeto vivo, provavelmente contendo dentro dela um organismo vivo em desenvolvimento que não é a casca em si.
Assim como essa pessoa, a ciência moderna tem tido sucesso pesquisando o mundo físico por centenas de anos, assumindo que este mundo é toda a realidade. A premissa era de que o mundo físico era uma entidade sem vida, e que não havia nada além dele. A ciência concluiu recentemente que se nós examinássemos detalhadamente o mundo puramente físico, seríamos capazes de encontrar uma prova sutil de que o mundo físico é apenas uma casca que cobre uma entidade viva em seu interior.
Deixe-me tentar explicar a razão pela qual, especificamente, a teoria quântica moderna é um tipo de “ciência delimitador”. Há um amplo debate em torno da teoria quântica, por isso eu apresentarei apenas o que eu penso que está correto. Eu também recomendo que vocês estudem este tema por conta própria para saberem o que os outros pesquisadores encontraram, e depois tirem suas próprias conclusões.
Eu gostaria de salientar que a mecânica quântica e a ciência moderna não falam nada sobre a Cabala ou a espiritualidade. No entanto, elas falam que o mundo físico não é o fim. Elas provaram que existe algo além, mas não conseguem dizer nada sobre sua natureza. Eu penso que é de suma importância definir este ponto com precisão.
Todo o nosso conhecimento, juntamente com o imenso poder da teoria quântica e suas deduções sobre o mundo físico, faz-nos deduzir duas coisas:
- Deve haver algo além do mundo físico.
- Nós não sabemos nada sobre esse “algo” e não conseguimos pesquisá-lo através da ciência.
Muitas vezes nós queremos que a ciência sirva de instrumento na pesquisa da espiritualidade. Mas os melhores cientistas já perceberam que isto é impossível. A ciência pode servir de instrumento intelectual, levando-nos a concluir que há outra coisa. Em termos Cabalísticos, ela pode ser um barco que nos leva a conhecer o ponto no coração. A matemática mais complexa da mecânica quântica pode ser uma ferramenta que nos permite reconhecer a existência do ponto no coração. Mas a ciência não pode ir além desse ponto.
Deixe-me tentar fazer uma introdução fácil e breve da teoria quântica. Eu não usarei a matemática sofisticada e apresentarei somente termos que vocês provavelmente já ouviram antes. Se estes termos não faziam sentido antes, eu quero felicitá-los, porque eles não deveriam fazer sentido.
Os antigos Cabalistas diziam que é impossível imaginar a verdadeira natureza da realidade. A mecânica quântica contemporânea chegou a uma conclusão muito parecida. É impossível usar quaisquer termos ou imagens para compreender corretamente a natureza da realidade física. Por exemplo, muitos de vocês devem estar cientes da famosa declaração de que quando você entende a matéria corretamente, você entende que ela é ao mesmo tempo uma onda e uma partícula. Esta é uma declaração muito moderna, e talvez vocês estejam imaginando algo sobre ela, ou estejam estabelecendo uma pequena equação mental.
Na verdade, entretanto, esta não é senão uma linha de símbolos totalmente sem sentido. Não há como torná-los lógicos.
Eu já declarei anteriormente que a teoria quântica permite-nos compreender os limites da ciência contemporânea e declara que há “algo” além do próprio mundo físico. Para explicar isso, eu descreverei mais tarde um fenômeno surpreendente, cuja pesquisa está atualmente sendo desenvolvida, chamada “computação quântica”.
Além disso, eu relatarei um experimento genial que foi descrito de forma conceitual pela primeira vez na década de 1960, por Richard Feynman (1918-1988), um dos maiores físicos do século XX e prêmio Nobel em Física. Esta representação é, ainda hoje, a descrição mais concisa do mistério que rodeia a mecânica quântica. Mais tarde, este experimento foi executado com vários tipos de partículas. Eu oferecerei a minha explicação do porque que esta ciência demonstra o limite da Ciência, e porque ela aponta diretamente para a existência de “algo” além do mundo material objetivo.
Por gerações, a perspectiva fundametal da ciência era compatível com aquela de Einstein. A percepção de Einstein ainda prevalece entre muitos cientistas, afirmando que não há nada além do mundo físico. Considerando que o cérebro é construído exclusivamente de partículas físicas, qualquer evento específico, ou seja, a interação de uma partícula com outra, é definido totalmente pela localização das partículas e seus movimentos no momento anterior. A mesma perspectiva se aplica a todos os eventos no mundo físico, incluindo os eventos em nossos corpos, mentes, pensamentos, e interconexões.
Em outras palavras, todo o universo físico é um mecanismo mecânico sem vida, desdobrando-se inevitável e fatalmente. Qualquer percepção que nós achamos ser nossa, a nossa própria percepção de nós mesmos como seres humanos conscientes e sensíveis, com nossas próprias intenções, (tudo aquilo que fazemos agora e no resto da nossa vida humana) é apenas uma ilusão. Não há amor, ódio, paixão ou satisfação. Nós somos partículas sem vida dentro de composições complexas que se desenvolvem ao longo do tempo.
Todo o nosso progresso na medicina se baseia inteiramente nessa perspectiva e, graças a ela, teve êxito. Muitos de nós devemos nossas vidas a ela. Esta perspectiva é muito atraente e não pode ser facilmente descartada.
No entanto, este princípio ataca brutalmente não apenas a nossa percepção de nós mesmos, mas a nossa necessidade de atribuir propósito e significado à vida. No entanto, por mais irritante que seja, uma grande parte do mundo funciona justamente dessa maneira mecanicista.
Muitos filósofos contemporâneos reconheceram que, embora esta visão tenha proporcionado grandes benefícios, ela impôs uma alarmante aflição sobre nós devido à crença de que a vida é, no final das contas, sem sentido.
Por exemplo, os nazistas aplicaram rapidamente esta perspectiva em diversas áreas e tornaram-se muito eficientes tanto como assassinos quanto cientistas. Muitas vezes, a atitude da medicina moderna para com as pessoas é fria e cruel, principalmente por causa da eficiência da perspectiva de que a vida não tem sentido.
A ciência da computação é um tipo de destilação extrema da perspectiva mecânica até a matemática e a lógica das interações mecânicas. A base científica para a ciência da computação moderna é a idéia de que uma entidade física pode existir em vários estados simultaneamente. O computador é composto de componentes que são baseados em “bits”, e contém uma quantidade enorme deles. O “bit” é uma entidade física que pode existir em um dos dois estados.
A mecânica quântica moderna leva em conta um fenômeno com implicações de longo alcance. Ela sustenta que pode haver entidades físicas existindo em dois estados simultaneamente. Acreditem em mim por um só momento – tal coisa realmente existe. Isto significa que se um computador padrão pode estar em n estados, um computador quântico pode estar em 2n estados ao mesmo tempo.
No laboratório da Universidade de Yale, nós construímos um dispositivo que contém 400 componentes desse tipo. Isto pode parecer um número relativamente pequeno, mas esse dispositivo pode gerar uma memória de 2400 bits. Este é um número tão grande que nem sequer podemos nem mesmo percebê-lo. Portanto, nós estamos falando sobre a construção de computadores com poder tão fantástico que poderiam literalmente fazer magia.
Como surgiu a hipótese de que dois estados diferentes poderiam existir simultaneamente? Aqui devemos mencionar um experimento conduzido por Richard Feynman cerca de cinqüenta anos atrás. Supondo que exista um tanque cheio de água contendo um dispositivo que se move para cima e para baixo. Esta ação cria ondas de duas fontes diferentes, fazendo com que as ondas cruzem seus caminhos.
Finalmente, o caminho de cruzamento das ondas criará um padrão conhecido como “padrão de interferência” (Figura 8). Este padrão é uma coleção do caminho de passagem das ondas. É um fenômeno muito bem conhecido e nós podemos facilmente calcular onde serão estes pontos de passagem.
Agora, deixe-nos imaginar um experimento semelhante, mas com partículas em vez de ondulações. Imagine uma pistola disparando partículas semelhante a projéteis em uma tela. Se nós colocássemos uma divisão entre o projétil da pistola e a tela, com uma pequena fresta nela, e atirássemos em direção à tela, apenas um fino raio de partículas penetrará a tela através da fenda. Conseqüentemente, as partículas sempre aparecerão em certo ponto previsível (Figura 9).
Se nós mudássemos o experimento um pouco e fizéssemos dois cortes na divisão em vez de um, nós esperaríamos que as partículas alcançassem dois pontos distintos na tela, assim como nós tínhamos um ponto distinto na tela quando havia apenas uma fenda. No entanto, se nós construíssemos o experimento corretamente, em uma determinada relação entre o tamanho das partículas e o tamanho das fendas, o resultado seria bastante diferente: descobriríamos que as partículas surgiriam ao longo de toda a tela, e não apenas em dois pontos previsto.
Como resultado, as partículas surgiriam até mesmo em espaços ao longo de toda a tela e em ambos os sentidos, indefinidamente. A quantidade de partículas em cada ponto diferiria, sendo mais abundante no centro e diminuindo gradualmente à medida que nos afastássemos do centro. A proporção entre o número de partículas surgindo em cada ponto cria um padrão de onda (figura 10). Como resultado, pode-se dizer que as partículas quânticas são tanto ondas quanto partículas, simultaneamente.
Isso levanta a questão: “O que é uma onda?”. Para simplificar como isso funciona, eu explicarei primeiro com precisão limitada, e depois corrigirei a imprecisão. Uma onda é a divisão de probabilidades para encontrar uma partícula em um determinado ponto ao longo da tela. Na verdade, a partícula da pistola projeta uma “onda de probabilidades móvel”, a probabilidade de que certa determinada partícula estará em um determinado local.
Agora, permitam que eu me corrija: quando nós medimos os números que descrevem a quantidade de partículas que surgiram em cada ponto da tela, nós obtemos um resultado matemático que não combina perfeitamente com uma onda de probabilidades móvel. Pelo contrário, ele é a raiz quadrada da probabilidade.
De fato, algumas raízes quadradas são negativas. A probabilidade de que algo aconteça no mundo real pode oscilar entre 0 e 1, mas não pode ser negativo. Em outras palavras, esta “coisa” que se expande no espaço não existe no mundo físico, mas ela ainda cria um impacto.
Mesmo se nós disparássemos uma partícula por semana, a probabilidade da distribuição permaneceria idêntica ao padrão de interferência das duas ondas que mencionamos acima. Na verdade, mesmo se disparássemos uma única partícula, desmontássemos o equipamento, o montássemos novamente anos mais tarde, e disparássemos outra partícula isolada, nós ainda teríamos exatamente o mesmo resultado (figura 11).
Este padrão de probabilidade é construído com precisão mecânica absoluta. Ele é tão surpreendente que parece estender-se além do tempo e do espaço. A estrutura desse fenômeno é predeterminada em um mecanismo perfeito, a sua matemática é conhecida com precisão total, e hoje este fenômeno nos auxilia na construção de surpreendentes e precisos dispositivos de computação.
Se nós disparássemos uma única partícula, seríamos capazes de prever com absoluta precisão matemática a probabilidade dessa partícula atingir um determinado ponto na tela. No entanto, a mecânica quântica diz, e este é o meu ponto principal, que nada no universo físico pode determinar exatamente onde essa partícula baterá.
Em outras palavras, quando você está olhando para milhões de partículas, algumas questões são determinadas com absoluta certeza matemática. No entanto, o local específico onde cada partícula pousará permanece indefinido por alguma coisa no universo físico.
Como resultado, alguns dos maiores físicos deduziram que há um elemento determinista no universo que opera exatamente como nós temos pensado. No entanto, há outro elemento operativo desconhecido delicadamente misturado na textura do universo que não interfere com o desdobramento da mecânica. É por isso que tudo parece mecânico aos olhos de quem não está observando de modo suficientemente aguçado.
No entanto, se observarmos com muito cuidado, veremos que qualquer desdobramento particular no universo é afetado por algo que não faz parte do universo. Além disso, já que a própria teoria requer um elemento que é essencialmente extra-universal, nós ficamos com um limite.
É por isso que alguns físicos proclamaram que a física quântica fosse uma ciência delimitadora, uma ciência que aponta para o limite que os seres humanos podem chegar ao pesquisar o universo físico. Em outras palavras, esses físicos afirmam que há algo além desse limite que a ciência nunca será capaz de identificar.
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