O Grande Despertar do Espírito Humano
Do livro “Interesse Próprio vs. Altruísmo na Era Global”
No início da Quarta Fase do desejo, a Terceira Fase é especial no sentido de que é a primeira vez que a Criação inicia o processo: ela “decide” receber (embora apenas um pouco), a fim de outorgar. Assim, quando a Terceira Fase do desejo surgiu na humanidade, as pessoas e as sociedades passaram a iniciar mudanças em praticamente todos os reinos da vida. Noções novas apareceram e as antigas reapareceram, e todos prosperaram sob as asas do Renascimento. Religião, ciência, tecnologia, arte, economia, política (interna e externa), filosofia e qualquer outro domínio da vida foi analisado e modificado, se não revolucionado.
Os conceitos humanos por trás da Carta Magna e do Habeas Corpus foram sendo adotados em toda a Europa e nos Estados Unidos, embora fossem muitas vezes arbitrariamente descartados frente aos interesses financeiros e políticos, tais como o colonialismo e a escravidão. O English Bill of Rights, de 1689, ou “Ato Declarando os Direitos e Liberdades do Sujeito e Definindo a Sucessão da Coroa”, promoveu mais adiante a ideia de que toda pessoa tem direito a certas liberdades básicas, incluindo a liberdade política e a liberdade de expressão. Colocado de outra maneira, o Bill of Rights permitiu a livre expressão do pensamento!
Do ponto de vista cabalístico, essas mudanças aconteceram, porque o novo e recém- surgido desejo da Terceira Fase chamava para uma recepção ativa de prazer. Assim, as pessoas se tornaram mais ativas em sua busca por melhoria de vida e em sua aspiração de autoexpressão e autodeterminação como indivíduos. Para realizarem seus sonhos, as pessoas começaram a desenvolver novas tecnologias, liberaram a política dos grilhões do feudalismo e estabelecerem a base para a economia moderna.
Na política global, os países mais fortes e mais ricos começaram uma busca fervorosa por novas terras no período que hoje é conhecido como “Era dos Descobrimentos”. Cristóvão Colombo, Vasco da Gama, Fernão de Magalhães e Giovanni da Verrazano foram apenas alguns dos muitos exploradores que descobriram novas terras, ampliando o domínio dos países a que serviram. Os exploradores não só descobriram novas terras e as mapearam, mas também abriram caminho para novas rotas comerciais, embora a maior parte desse “comércio” fosse realmente baseada na escravização dos povos indígenas e na exploração de recursos naturais. O resultado da Era dos Descobrimentos, porém, foi uma nova visão de mundo e o reconhecimento mútuo da existência de civilizações distantes umas das outras.
Como parte da nova visão de mundo nascida na Renascença, a Igreja Católica passou a ser atacada por luteranos, calvinistas, anglicanos e outros que desejavam liberalizar o Cristianismo e adaptá-lo a suas opiniões. O Liberalismo e o Humanismo floresceram no espírito do Renascimento e se esforçaram para verdadeiramente, pela primeira vez desde a Idade de Ouro grega, libertar o pensamento do homem. De fato, em toda a Europa parecia que o espírito humano estava despertando.
Atestando a nova visão de mundo estavam as descobertas revolucionárias de Galileu Galilei, que possibilitaram a Nicolau Copérnico afirmar que a Terra girava em torno do sol, e não o contrário, como se acreditava até então. E quando Francis Bacon estabeleceu o que se tornou “o método científico”, ainda hoje empregado, poderíamos seguramente declarar que a “revolução científica” estava em pleno vigor. Instituições para a melhoria do conhecimento natural, como The Royal Society of London, ou simplesmente The Royal Society, substanciaram o domínio da ciência sobre a mente e a imaginação das pessoas, assim como seus corações foram movidos por gigantes culturais, como Leonardo da Vinci, William Shakespeare e Claudio Monteverdi.
Hoje as pessoas muitas vezes citam um aumento exponencial no ritmo das mudanças. Ensaios como o de Kip P. Nygens ─ “Tecnologias emergentes e mudança exponencial: implicações para transformação do Exército”, publicado em 2002 por Questia Online Library, livros como Vivendo em meio ambiente: princípios, conexões e soluções (G. Tyler Miller e Scott Spoolman), ou o vídeo eye-opening do You Tube “Estamos vivendo em tempos exponenciais” são apenas três das numerosas tentativas para descrever o quão rápido o nosso mundo está mudando. Se levarmos em conta a mudança fundamental que ocorreu com o surgimento da Terceira Fase na evolução dos desejos, é evidente, porém, que o crescimento exponencial tem as suas raízes profundas nos conceitos e inovações que surgiram pela primeira vez no final da Idade Média e começo do Renascimento.
Nos capítulos 3 e 5, mencionamos o Item 38 da “Introdução ao Livro do Zohar”, em que Ashlag escreve: “O desejo de receber no reino animal… só pode gerar necessidades e desejos, na medida em que eles são impressos em apenas esta criatura.” O nível animal que Ashlag menciona corresponde à Terceira Fase no início dos quatro estágios que manifestam um nível elevado de desejo de receber em comparação com a Segunda Fase. Nesse nível, o desejo de receber “decide” por receber, em oposição à recepção automática e rejeição nos Estágios Um e Dois. Nesse sentido, é mais autônomo do que seus antecessores. Como resultado, a sua manifestação corpórea ─ animais ─ é mais ativa e autônoma do que o seu grau anterior na pirâmide ─ plantas. Da mesma maneira, quando o desejo de receber nos humanos chegou à Terceira Fase, foi solicitado um aumento na atividade e na aspiração por autonomia individual.
O início da nova era foi promissor. O zeitgeist, pelo menos entre os mais afortunados da sociedade, promoveu a liberação de mentes e corpos a partir de revoluções sociais, como o Iluminismo, o Bill of Rights (primeiro o inglês e depois a versão americana), o Humanismo, a Reforma e o Édito de Nantes. Com o acréscimo próspero da filosofia e da ciência, parecia que em breve todos poderiam desfrutar dos frutos do progresso.
Uma vez que na base de todas essas mudanças encorajadoras estava o desejo de receber prazer na sua forma quebrada e autocentrada (e num grau ainda maior do que antes), os Cabalistas responderam a essa explosão como a uma chamada para a ação. Os Cabalistas sentiram que, com as novas possibilidades oferecidas pela tecnologia e pela ciência, bem como com o desejo aumentado para a autoexpressão, um novo método de correção era necessário.
Assim, eles começaram a afirmar que era hora de sair e mostrar ao mundo a sabedoria há muito oculta do Zohar. Sem isso, afirmaram, o mundo não iria ver uma conclusão positiva no final da nova era. Nas palavras do Gaon de Vilna (GRA), que numerosos Cabalistas ecoaram, a “Redenção (do egoísmo) depende do estudo da Cabalá.”.
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