CORPO E ALMA

Do livro “Cabala Para o Estudante”

Antes que eu esclareça este grande assunto, é importante para eu declarar que, ainda que todos os leitores pareçam considerar impossível clarificar e trazer este assunto a mente humana, exceto confiando em conceitos abstratos, filosóficos, como é normalmente o caso em tais escrutínios, desde o dia que foi descoberta a sabedoria da Cabalá e me dediquei a isto, me distanciei da Filosofia abstrata e todos seus ramos, como o Leste do Oeste. Tudo o que escrevo daqui em diante será de uma perspectiva puramente científica, em precisão completa, e por meio de
reconhecimento simples de coisas práticas e úteis.

Ainda que eu mencione suas palavras baixo, será apenas para indicar a diferença entre o que a mente humana pode evocar e o que pode ser compreendido usando os conceitos da Torá e da profecia, que estão baseados em fundamentos práticos (como mostrei na “Essência da Sabedoria da Cabalá”).

Também gostaria de clarificar profundamente os termos “corpo” e “alma”, como eles realmente são, já que a verdade e o juízo são uma e a mesma coisa. Isto é porque a verdade está disponível para qualquer um, mas somente por meio do espírito da Santa Torá e ao remover todos os conceitos distorcidos que têm raízes entre as pessoas. Estes conceitos provêm principalmente de métodos abstratos, entre os quais o espírito de nossa Santa Torá foi completamente eliminado.

TRÊS MÉTODOS NOS CONCEITOS DE CORPO E ALMA

Em geral, vemos que todos os métodos que abundam no mundo sobre os conceitos de corpo e alma, se resumem em três:
1) O Método da Fé

O método da fé afirma que tudo o que existe é o espírito, ou a alma. Eles creem que existem objetos espirituais separados uns dos outros pela qualidade, sendo chamados “as almas das pessoas”, e que existem independentemente, antes que se vistam em um corpo humano. Depois, quando o corpo morre, a morte não se aplica a ela, já que um objeto espiritual é um objeto simples. Desde seu ponto de vista, a morte é só uma separação dos elementos que compreendem o objeto.

Isto é possível com objetos físicos, compostos de vários elementos, que se desintegram com a morte. No entanto, a alma espiritual, a qual é um objeto extremamente simples, desprovida de qualquer complexidade, não pode ser
separada de nenhuma forma, já que esta separação anularia sua existência. Portanto, a alma é eterna e existe para sempre.

O corpo, como eles entendem, é como uma veste sobre este objeto espiritual. A alma espiritual se veste dentro dele e o usa para manifestar suas forças: as boas qualidades e todos os tipos de conceitos. Além disso, ela proporciona ao corpo vida e movimento, guardando-o de qualquer dano. Assim, o corpo em si é inerte, inanimado e não contém nada mais que matéria morta, como vemos, uma vez que a alma o abandone – quando ele morre – e todos os sinais de vida que vemos nos corpos humanos nada mais são que manifestações dos poderes da alma.

2) O Método dos que Acreditam na Dualidade

Aqueles que acreditam na dualidade pensam no corpo como uma criação completa, erguido, vivente, e nutrido, preservando sua existência em tudo o que é necessário. Não necessita de ajuda de qualquer objeto espiritual.

No entanto, o corpo não é considerado a essência do homem. A essência primordial do homem é a alma que percebe, que é um objeto espiritual, como na visão dos adeptos do primeiro método. A diferença entre estes dois métodos reside somente no conceito do corpo.

Seguindo o desenvolvimento extenso em fisiologia e psicologia, eles descobriram que a Providência assegurou todas as necessidades da vida dentro da máquina do corpo em si mesmo. Isto, desde seu ponto de vista, restringe o papel da funcionalidade da alma dentro do corpo unicamente a conceitos e virtudes de tipo espiritual. Assim, enquanto eles acreditam em dualidade, em ambos os métodos juntos, eles dizem que a alma é a razão do corpo, isto é, que o corpo é um resultado, que se deriva da alma.

3) O Método dos Opositores

Neste método, se nega a realidade espiritual, e só se reconhece a fisicalidade. Seus defensores negam completamente a existência de qualquer tipo de objeto espiritual abstrato dentro do corpo. Eles demonstraram evidentemente que a mente do homem, também, é só um produto do corpo, e eles representam o corpo como uma máquina eletrônica com fios que se estendem desde o corpo até o cérebro, operando pelo contato com as coisas externas.

Além disso, estes enviam suas sensações de dor ou prazer ao cérebro, e o cérebro instrui o órgão o que fazer. Tudo é executado pelos fios e cordas construídas para esta tarefa. Eles distanciam o órgão da fonte de dor e o aproximam a fonte de prazer. Assim, eles esclarecem todas as conclusões dos acontecimentos da vida.

Igualmente, o que sentimos como conceitos e racionalidades dentro de nossas mentes não são mais que imagens de ocorrências corpóreas dentro do corpo.

E a preeminência do homem sobre todos os outros animais é que nossas mentes se desenvolveram até o ponto que os acontecimentos de todo o corpo são representados em nossos cérebros como imagens que experimentamos como conceitos e racionalidades.

Portanto, a mente e todas suas deduções são apenas produtos que se estendem dos acontecimentos do corpo. Além disso, há defensores do segundo método que estão completamente de acordo com este, mas adicionam o objeto
espiritual, eterno, chamado “a alma que se veste dentro da máquina do corpo”. Esta alma é a essência do homem, e a máquina do corpo é só sua vestimenta. Assim, apresentei em termos gerais tudo o que a ciência humana concebeu até agora em conceitos de “corpo” e “alma”.

O SIGNIFICADO CIENTÍFICO DO CORPO E ALMA SEGUNDO NOSSA SANTA TORÁ

Agora explicarei este assunto segundo nossa Santa Torá, conforme nossos sábios nos explicaram. Já escrevi em vários lugares que não há nem uma só palavra de nossos sábios, nem sequer na sabedoria profética da Cabalá, que dependem de bases teóricas. Isto é assim porque é um fato conhecido que o homem é naturalmente incrédulo, e cada conclusão que a mente humana julga certa, a julga incerta depois de algum tempo. Portanto, redobra os esforços de seu estudo e inventa outra inferência, e a declara como certa.

Mas se for um estudante genuíno, andará ao redor disto por toda a vida, já que a certeza ontem se tornou a dúvida de hoje, e a certeza de hoje se tornou a dúvida de amanhã. Assim, é impossível determinar qualquer conclusão definida por mais de um dia.

REVELADO E OCULTO

A ciência de hoje entendeu suficientemente que na verdade não há certeza absoluta na realidade. No entanto, nossos sábios chegaram a esta conclusão milhares de anos antes. Portanto, em relação a assuntos religiosos, eles nos guiaram e proibiram não apenas de tirarmos quaisquer conclusões baseadas na teoria, mas também nos
proibiram de sermos ajudados por tais teorias, inclusive na forma de negociações.

Nossos sábios dividiram a sabedoria em dois tópicos: revelado e oculto. A parte revelada contém tudo o que conhecemos de nossa consciência direta, assim como os conceitos construídos sobre a experiência prática, sem qualquer ajuda do escrutínio, como nossos sábios disseram, “um juiz só tem o que seus olhos veem”.

A parte oculta contém todos aqueles conceitos que escutamos de pessoas confiáveis ou que adquirimos por nós mesmos através de um entendimento geral e a percepção deles. No entanto, não podemos abordá-los o suficiente para criticá-los com uma mente sã, com o conhecimento franco. E isto é considerado como “oculto”, sobre o qual nos aconselharam aceitar as questões com “fé simples”. E em tudo o que se refere à religião, fomos estritamente proibidos até mesmo de contemplar assuntos que poderiam motivar-nos a esquadrinhá-los e estudá-los.

No entanto, estes nomes, “revelado” e “oculto”, não são nomes permanentes, que se aplicam a uma certa classe de conhecimento, como pensam os ignorantes.

Pelo contrário, eles se aplicam apenas à consciência humana. Portanto, alguém que se refere a todos estes conceitos que já descobriu e já chegou a conhecer através da experiência real como “revelado”, e considera todos os conceitos que ainda devem ser reconhecidos desta forma como “oculto”.

Assim, ao longo das gerações, todas as pessoas teriam estas duas divisões. A parte revelada será permitida para estudo e pesquisa, já que se fundamenta em uma base verdadeira, e a parte oculta está proibida inclusive um pingo de escrutínio, posto que não se tem nenhuma base real.

PERMITIDO E PROIBIDO NA UTILIZAÇÃO DA CIÊNCIA HUMANA

Por isso, nós, que seguimos os passos de nossos sábios, não somos permitidos a usar a ciência humana, exceto com o conhecimento que foi provado por experiências reais, e de cuja validez não temos dúvida. Portanto, não podemos aceitar nenhum princípio religioso dos três métodos supramencionados, e ainda mais em relação a conceitos de corpo e alma, os quais são conceitos fundamentais no assunto da religião como um todo. Somente podemos receber conceitos das ciências da vida tomadas de experimentos dos quais nenhum homem pode duvidar.

Claramente, tal prova não pode ser encontrada em qualquer assunto espiritual, mas somente em assuntos físicos, estabelecidos pela percepção dos sentidos. Portanto, somos permitidos a usar o terceiro método, até um certo ponto.

Ele se ocupa somente em assuntos do corpo, em todas aquelas deduções que foram provadas por experimentos, e que ninguém duvida. O resto dos conceitos, que combinam a razão de seu método e outros métodos, estão proibidos para nós. Quem os usa, viola o dito, “Não te envolvas com os ídolos”.

Contudo, este terceiro método é estranho e repugnante ao espírito humano. Não existe nenhuma pessoa realmente educada capaz de aceitá-lo. Isto é assim porque segundo eles, a forma humana do homem foi borrada e dissipada. O homem se converteu em uma máquina que anda e trabalha por outras forças. Segundo eles, o homem não tem nenhuma liberdade de escolha, se não que é impulsionado pelas forças da natureza, e todas nossas ações são compulsivas. Portanto, o homem não tem recompensa ou punição , já que nenhum juízo, punição, ou recompensa se
aplica a alguém que não tem nenhuma liberdade de escolha.

Tal coisa é completamente impensável, e não só para os religiosos, que creem em recompensa e punição, já que acreditam em Sua Providência, que todas as forças da natureza são dirigidas por Ele, lhes assegura que tudo tem uma causa boa e desejável. Contudo, este método é ainda mais estranho aos olhos dos que não são religiosos, que acreditam que todos são deixados às mãos de uma natureza cega, sem sentido nem propósito. Estes seres inteligentes são como brinquedos em suas mãos, que estão perdidos, e quem sabe onde? Portanto, este método foi desapreciado e é inaceitável ao mundo.

Mas você deve saber que todos os métodos daqueles que concebem a dualidade vieram somente para corrigir este erro supramencionado. Por esta razão, decidiram que o corpo, que é somente uma máquina, segundo o terceiro método, não é, de forma alguma, o verdadeiro homem. A verdadeira essência do homem é algo totalmente diferente – invisível e imperceptível aos sentidos. É uma entidade espiritual, vestida e oculta dentro do corpo. Este é o “eu” do homem o “self”. O corpo e todas as coisas dentro dele são consideradas possessões do Eu eterno e espiritual, conforme eles escreveram.

No entanto, por sua própria admissão, este método é equivocado, posto que eles não podem explicar como é que uma entidade espiritual, a alma ou o eu, pode mover o corpo ou decidir algo sobre ele. Isto é porque seguindo a precisão filosófica em si mesma, o espiritual não tem nenhum contato com o físico. Não tem absolutamente nenhum impacto nele, como eles próprios escreveram.

A ACUSAÇÃO CONTRA O RAMBAM (MAIMÔNIDES)

No entanto, independente desta questão, seu método foi proibido entre Israel, conforme explicado acima. É importante saber que toda a acusação contra Rambam pelos Sábios de Israel, e o julgamento severo de queimar seus livros, não foi porque eles tinham alguma dúvida da justiça e piedade do próprio Rambam. Pelo contrário,
foi somente porque ele usou a Filosofia e a metafísica, que estavam em seu auge nesta época, como ajuda para seus livros. O Rambam quis salvá-los, mas os sábios não estavam de acordo com ele.

Não é preciso dizer que, hoje nossa geração já reconheceu que a Filosofia metafísica não tem um conteúdo verdadeiro que mereça que alguém lhe dedique seu tempo. Por isso, certamente está proibido que qualquer um tome qualquer ideia de suas palavras.

A ESSÊNCIA DA RELIGIÃO E SEU PROPÓSITO

Do livro “Cabala Para o Estudante”

Neste artigo eu gostaria de resolver três questões:

A. Qual é a essência da religião?
B. Se o propósito da religião é alcançado neste mundo ou no Mundo Vindouro?
C. Se seu propósito é beneficiar o Criador ou Suas criaturas?

À primeira vista, qualquer um que leia minhas palavras pode não entender as três questões que eu coloquei como o assunto deste artigo. Vá e pergunte para qualquer um, quem não sabe o que é a religião? Muito menos que a recompensa e punição sejam esperadas em sua maior parte para o Mundo Vindouro? Sem falar na terceira questão, já que todos sabem que ele existe para o benefício da humanidade, para nos guiar à bondade e felicidade. O que mais há para se adicionar a isso?

E de fato não há nada para se adicionar a isto. Porém, já que todos sabem estas três coisas e todos aprendem desde a infância ao ponto onde não há nada para adicionar ou explicar sobre elas pelo resto de suas vidas, isto apenas mostra a ignorância destes assuntos elevados, especialmente já que eles são a fundação que carrega todo o peso da religião.

Então me diga, como é possível que um jovem de doze ou quatorze anos de idade já tenha uma mente pronta para entender estas três questões detalhadas, e tão suficientemente que ele não precise acrescentar quaisquer outros conceitos ou conhecimento destas questões para o resto de sua vida?

Por é aqui que reside o problema! Esta suposição precipitada é a fonte de todas as conclusões tolas e imprudentes que preencheram o ar de nosso mundo nesta geração e nos levaram ao ponto onde a próxima geração quase escorregou debaixo de nossas mãos.

O BEM ABSOLUTO

Para não sobrecarregar meus leitores com longas explicações, eu baseei isto em tudo que eu escrevi nos artigos anteriores e especificamente no artigo “Matan Torá” (A Entrega da Torá). Todos estes artigos são uma introdução ao assunto elevado perante nós. Aqui, eu falarei o mais breve e simples quanto possível para que todos possam
entender.

Primeiro, nós devemos compreender que o Criador é “O Bem Absoluto”, isto é, Ele não pode possivelmente causar a ninguém qualquer tristeza. Este é o conhecimento básico, já que uma mente saudável vê claramente que a base de todos os malfeitores pode ser definida como o Desejo de Receber.

Isso significa que do furioso Desejo de Receber bondade e gratificar a si mesmo, a pessoa atende seu desejo ao ferir os outros, devido ao Desejo de Receber por gratificação própria. Assim, mesmo se a pessoa não encontrar qualquer gratificação para si mesma, ninguém faria o mal aos outros. E se nós algumas vezes encontrarmos alguém ferindo os outros sem qualquer Desejo de Receber gratificação própria, ele faz isso apenas por um velho hábito que veio originalmente do Desejo de Receber. Este hábito o livra de qualquer nova razão, como sabemos.

Do que nós entendemos acima, se tornou claro que o Criador é perfeito e completo, e não precisa que ninguém complete Ele. Isto é porque Ele precede tudo.

Como resultado também é clarificado que o Criador não tem Desejo de Receber. E já que o Criador não tem Desejo de Receber segue-se que Ele não tem motivo para prejudicar alguém. Esta é a própria simplicidade.

Não apenas isto, mas é simples e óbvio para nós que o conhecimento básico é que o Criador tem um Desejo de Compartilhar bondade com os outros – Seus criados – que nos é provado pela grande Criação que Ele colocou diante de nós. Porque neste mundo existem seres sencientes, seres que sentem bem ou mal. Tudo que sentimos é causado pelo Criador. Quando nós percebermos claramente que a natureza do Criador é não prejudicar, como explicamos, nós precisamos perceber que tudo que recebemos do Criador é apenas bom, já que Ele criou seres pelo único
propósito de beneficiá-los.

Assim nós aprendemos que o Criador tem o Desejo de Compartilhar apenas bondade, e é inimaginável que haja mesmo um pingo de mágoa ou tristeza que venha dEle. É por isto que definimos o Criador como “O Bem Absoluto”. E agora que sabemos disto, vamos olhar para a realidade física que é guiada e supervisionada pelo Criador, e como Ele doa apenas bondade.

SUA SUPERVISÃO É PROPOSITADA

É claro para nós que todas as formas da natureza que nós vemos diante de nós, mesmo a menor criatura, podem ser categorizadas em quatro grupos: Inanimado, Vegetativo, Animado e Falante, tanto em geral quanto em particular. E dentro de cada criatura nós encontramos a supervisão propositada, um crescimento e desenvolvimento lento e gradual, baseado em causa e efeito, tal como o fruto em uma árvore, que é supervisionado com a intenção benéfica de terminar com um fruto atrativo e saboroso.

Pergunte a qualquer botânico por quantos estágios um fruto passa, de sua primeira aparição, até atingir seu propósito estando completamente maduro. Não só todos os estágios precedentes não mostram qualquer indicação da doçura e beleza do fruto maduro, mas ao invés, como se para nos irritar, eles indicam o oposto do
estágio final.

Quanto mais doce o fruto é no seu fim, mais amargo e feio ele é nas fases anteriores de seu desenvolvimento. E isto também é verdadeiro para o Animal e o Falante, já que o Animal que tem pouca inteligência no seu fim não é tão limitado ao longo de seu crescimento, ao contrário do homem, cuja inteligência é cada vez maior conforme amadurece e muito pequena quando está em seu primeiro desenvolvimento. Pois “um bezerro de um dia de idade pode ser chamado um boi”, isto é, ele tem a força para ficar em pé e andar e a inteligência para evitar o perigo,
que não está na natureza de um humano de um dia de idade, que é insensato e indefeso.

E se nós imaginarmos alguém que não está familiar com os caminhos deste mundo olhando para estes dois bebês, ele certamente diria que o bebê humano, mesmo após crescer, equivaleria a nada. Enquanto que ele diria que o bebê animal nasceu como um “novo Napoleão”, isto é, quando ele compara a inteligência do bezerro com a do insensato e indefeso bebê humano.

Deve ser óbvio que a supervisão do Criador da realidade que Ele criou é uma “Supervisão Propositada”, mesmo sem tomar os estágios graduais do desenvolvimento em consideração, já que estes estágios nos levam a não compreender seu propósito sempre aparecendo como o oposto deles mesmos em seu estágio final de desenvolvimento.

Destas coisas nós dizemos, “Ninguém é mais sábio que o experiente”, já que apenas uma pessoa experiente que tem a oportunidade de ver a criatura ao longo de seus estágios de desenvolvimento até sua conclusão, pode ser calma o suficiente para não temer as formas estranhas que a criatura toma ao longo dos estágios de seu desenvolvimento, e apenas acreditar que eventualmente elas atingirão a bela maturação e fruição. (A razão para este desenvolvimento obrigatoriamente gradual é claramente explicada na sabedoria da Cabalá, e este não é o lugar para entrar nisto.)

Aqui nós claramente explicamos os caminhos nos quais o Criador supervisiona nosso mundo, que é completamente propositado, em que o aspecto da bondade não é de forma alguma aparente até que o criado chegue em seu ponto
final de desenvolvimento, isto é, sua completude de forma e maturidade. E, pelo contrário, ele tende a assumir uma forma exterior de mau funcionamento de imperfeição. Então deve ser claro que o Criador compartilhar apenas bondade com Suas criaturas, mas esta bondade é supervisionada por Ele com Supervisão Propositada.

DOIS CAMINHOS: O CAMINHO DO SOFRIMENTO E O CAMINHO DA TORÁ

Nós explicamos que o Criador é o “Bem Absoluto’, e que nos supervisiona através de Sua natureza de absoluta bondade sem qualquer pitada de mal, e através do aspecto da Supervisão Propositada. Isto significa que a supervisão do Criador nos obriga a aceitar a ordem das situações, Causa e Efeito, até que sejamos capazes de aceitar o bem desejado e então atingiremos nosso propósito final, como um lindo fruto que está completamente maduro. E isto torna claro que este propósito é completamente assegurado para todos nós, pois se não, nós espalharíamos calúnias
sobre a supervisão do Criador, dizendo que ela não é suficiente para seu propósito, Deus proíba.

É por isto que os sábios disseram, “A Shechiná (Divina Presença) nos Mundos Inferiores é uma necessidade elevada”, isto é, já que a supervisão do Criador tem um propósito, que é nos levar a um ponto onde tenhamos Dvekút com Ele, para que Sua Presença habite entre nós. Isto é considerado uma “necessidade elevada”, quer dizer, se nós não atingirmos isto, nós espalharemos calúnias em Sua supervisão, Deus proíba.

Isto é similar a um grande rei que teve um filho em sua velhice, e ele o amava muito, e assim do dia de seu nascimento ele planejou boas coisas para ele e reuniu todos os livros preciosos e os mais sábios na terra e preparou uma escola de sabedoria para ele. E enviou construtores famosos e construiu para ele palácios de prazer, e reuniu todos os melhores músicos e cantores e construiu para ele casas de música, e chamou os melhores cozinheiros e padeiros para fazer os pratos mais deliciosos do mundo.

Mas quando o menino cresceu, ele se tornou um tolo, e não tinha nenhum interesse em estudar, e ele era cego e não podia ver a beleza das construções, e ele era surdo e não podia ouvir as vozes dos cantores e músicos, e ele sofria de diabete e não podia comer qualquer comida exceto pão de farinha grossa, uma situação perturbadora por todos os meios.

Isto poderia acontecer a um rei de carne e osso, mas não ao Criador, que com certeza não sofre de quaisquer contratempos acidentais, e portanto preparou dois caminhos de desenvolvimento para nós:

O Caminho do Sofrimento, que é a ordem de desenvolvimento da Criação, cuja natureza inerente é passar por estágios de desenvolvimento, um após o outro, através de Causa e Efeito, pelos quais nós nos desenvolvemos gradualmente até atingirmos o nível onde nós escolhemos o bom e rejeitamos o mal, e atingimos o propósito desejado pelo Criador.

Este caminho leva um longo tempo e é cheio de dor e sofrimento, e portanto o Criador nos preparou um caminho alternativo que é bom e agradável; O Caminho da Torá e Mitzvot, que nos permitiu atingir nosso propósito em um período curto e sem sofrimento.

Nós vemos portanto que nossa meta final é nos preparar para a adesão ao Criador, para que Ele habite dentro de nós. Esta meta é imposta em nós e nós não podemos nos desviar dela, já que a supervisão do Criador nos mantém a ela através dos dois aspectos do Caminho do Sofrimento e do Caminho da Torá, como nós explicamos. Porém, em termos da realidade prática, nós encontramos que a supervisão do Criador vem até nós através dos dois caminhos ao mesmo tempo, e os sábios os chamaram o Caminho da Terra e o Caminho da Torá.

A ESSÊNCIA DA RELIGIÃO É DESENVOLVER EM NÓS A CAPACIDADE DE RECONHECER O MAL

É por isto que os sábios dizem, “E por que o Criador se importa se nós abatemos pela garganta ou por trás do pescoço? Afinal, os preceitos foram dados unicamente em prol de purificar as pessoas” (Bereshit Raba, Capítulo 44), e esta purificação é explicada claramente no artigo “Matan Torá” (veja Item 12). Mas aqui eu explicarei a essência deste desenvolvimento, que é atingido através de viver a vida pela Torá e Mitzvot.

Saiba que isto tem a ver com o conceito de reconhecer o mal dentro de nós. Viver pelas Mitzvot e praticá-las na vida diária tem o poder de nos purificar lentamente e gradualmente, e os níveis de purificação são proporcionais ao nível de reconhecimento do mal dentro de nós.

O ser humano é naturalmente capaz de rejeitar e remover todas as coisas más dentro dele. E isto é igualmente verdade para todas as pessoas. Porém, a única diferença entre uma pessoa e outra é a capacidade de reconhecer o mal, já que uma pessoa mais avançada pode reconhecer um nível maior de mal e pode rejeitar e separar este mal de si a uma maior extensão. Enquanto que uma pessoa menos avançada reconhece um nível menor de mal e portanto pode rejeitar apenas uma pequena quantidade do mal, deixando a maioria da contaminação dentro de si, já
que ela não reconhece aquilo como contaminação de forma alguma.

E para não cansar o leitor, nós explicaremos os conceitos de bem e mal em geral, como explicado no artigo “Matan Torá” (veja Item 12). O mal não é nada mais que amor egoísta, outrora conhecido como egoísmo, que é o oposto da forma do Criador, que não tem Desejo de Receber para Si Mesmo, mas apenas compartilhar.

E como nós explicamos nos Itens 9 e 11, o nível de todo prazer e doçura que uma pessoa pode experimentar depende do nível de sua Similaridade de Forma com o Criador. Enquanto que o nível de sofrimento e impaciência que uma pessoa experimenta está em uma relação direta com sua falta de Similaridade de Forma com o Criador, leia os Itens 9 e 11 cuidadosamente. Portanto o amor egoísta é doloroso e detestado por nós, já que ele nos dá a forma oposta da do Criador.

No entanto, o ego não é sentido pelo vil e nós não detestamos ou sentimos dor da mesma maneira por todas as pessoas. Pessoas diferentes tem níveis diferentes disto, já que as pessoas selvagens, menos evoluídas, não veem seu egoísmo como um traço mal de forma alguma. Elas o usam abertamente sem qualquer vergonha, e não restringem-se de roubar e matar na frente de quem quer que esteja vindo. Enquanto que uma pessoa um pouco mais evoluída pode sentir um nível de mal em seu egoísmo, e pelo menos tem vergonha de usá-lo em público. Ela não rouba ou mata onde as pessoas podem ver, mas escondido ela carrega todos os seus desejos maus, certificando que ninguém os veja.

E aquele que é ainda mais avançado vê que seu egoísmo é tão vil que não pode tolerá-lo em si mesmo, e separa dele e o remove completamente a extensão que ele o reconhece tão claramente e nem deseja nem deriva prazer do trabalho dos outros. Então centelhas de amor pelos outros despertam dentro dele, e são chamados altruísmo, que é o traço de lutar pelo bem geral.

Estas centelhas também acendem dentro dele de acordo com a regra do desenvolvimento gradual, pois primeiro o senso de amor e servir as necessidades de sua família e amigos se desenvolve dentro dele, e disto está escrito: “Não ignore seus familiares” (Isaías 58:7). E conforme a pessoa se desenvolve mais, o traço de generosidade se estende a todos ao seu redor, os residentes de sua cidade ou nação, e assim continua a evoluir até que atinja o nível de amar toda a humanidade.

DESENVOLVIMENTO CONSCIENTE E DESENVOLVIMENTO INCONSCIENTE

Saiba que existem duas forças que nos compelem a escada mencionada acima até que atinjamos o topo dela no Céu, que é o propósito final de tornar nossa forma similar a do Criador. E a diferença entre estas duas forças é que uma nos impele “sem nossa consciência”, isto é, sem nossa escolha, nos empurrando em frente por trás. Isto é o que nós definimos como O Caminho do Sofrimento ou O Caminho da Terra.

Esta é a origem da teoria da ética, que é baseada no reconhecimento experiencial, isto é, através da compreensão prática que a teoria não é nada se não a soma dos danos que vêm perante nossos olhos através das sementes do egoísmo.

Estas experiências vêm até nós por acaso, isto é, quando estamos “inconscientes”, e não através da escolha, mas elas certamente atingem sua meta, já que nós sentimos a imagem do mal pois ela gradualmente se torna clara para nós. E
à extensão que reconhecemos seu dano nós podemos evita-lo e atingir um nível mais elevado na escada.

A segunda força nos compele “com nossa consciência”, isto é, através do poder de nossa escolha, e este poder nos atrai pela frente. Esta força é o que nós definimos como O Caminho da Torá e Mitzvot, já que ao nos aplicarmos às Mitzvot e ao trabalho do Criador para dar prazer ao Criador, nós encontramos este senso de reconhecimento do que é mal se desenvolvendo dentro de nós em uma velocidade incrível, como explicado no artigo “Matan Torá” no Item 13, leia isto cuidadosamente.

E aqui nos beneficiamos em dobro:

  1. 1. Nós não temos que esperar pelas experiências da vida para nos empurrarem por trás, já que o nível ao qual elas nos empurram é medido apenas pelo nível de dor e caos causado a nós pelo mal dentro de nós. Mas através do caminho do trabalho para o Criador, este mesmo reconhecimento se desenvolve dentro de nós sem o sofrimento e caos preliminar. Ao contrário, através do prazer e doçura que nós sentimos quando fazemos o trabalho puro para o Criador em prol de dar prazer a Ele nós desenvolvemos comensuravelmente a capacidade de reconhecer a inferioridade das centelhas do amor egoísta que nos previne de receber o doce sabor de compartilhar com o Criador, de tal forma que o reconhecimento do que é mal se desenvolve gradualmente dentro e nós através dos tempos de prazer e grande tranquilidade. Isto é, através da recepção do bem quando nós fazemos o trabalho do Criador para o senso de prazer e doçura que nós sentimos como resultado de tornar nossa forma similar a Sua.
  2. 2. E a segunda forma que nos beneficiamos é ao economizar o tempo, já que isto acontece para nós por nossa consciência, e nós temos a capacidade de nos aplicarmos mais e progredir tão rápido quanto desejarmos.

A RELIGIÃO NÃO É PELO BENEFÍCIO DA HUMANIDADE, MAS PELO DO TRABALHADOR

Muitas pessoas cometem o erro de comparar nossa santa Torá à lei da ética, mas elas fazem isso porque elas nunca provaram a religião, e eu digo a elas: “Prove e veja que o Criador é bom” (Salmos 34:9). E a verdade é que ética e religião tem o mesmo propósito, o de elevar o homem da contaminação da limitação do amor egoísta e
conduzi-lo às alturas do amor pelos outros.

No entanto, os dois são tão diferentes quanto os Pensamentos do Criador e os pensamentos dos seres humanos, já que a religião é derivada do Pensamento do Criador, enquanto que a ética vem dos pensamentos da carne e sangue e as suas experiências de vida. Portanto, todas as diferenças entre eles são manifestadas tanto em prática quanto em termos da meta final, já que o reconhecimento do bem e mal que se desenvolve dentro de nós através de colocar a ética em ação é relativo ao sucesso da sociedade, como nós sabemos.

Mas não é verdade para a religião, onde o reconhecimento do bem e mal que se desenvolve dentro de nós através de nosso trabalho é relativo apenas ao Criador. Isto é, a Diferença de Forma até que atinja Similaridade com a Forma do Criador, que é chamada Dvekút (adesão), como nós explicamos no artigo “Matan Torá” nos Itens 9, 10 e 11 – leia isto cuidadosamente.

Os dois são tão diferentes quanto possível em termos da meta, já que a meta da ética é beneficiar a sociedade através da compreensão prática derivada da experiência. Mas eventualmente a meta não pode nos levar acima dos limites da
natureza. Portanto a meta da ética é sujeita ao criticismo, como sabemos, já que ninguém pode prover o benefício dela a qualquer indivíduo a tal extensão que ele é compelido a se negar pela felicidade da sociedade.

Isto não é verdade com relação a meta da religião, que assegura a felicidade da pessoa que se aplica a ela. Porque, como nós já provamos, quando uma pessoa chega ao amor dos outros ela atinge Dvekút com o Criador, que é leva-la a Similaridade de Forma com a do Criador. Uma pessoa passa de seu mundo estreito cheio de dores e obstáculos ao mundo amplo e eterno de compartilhar com o Criador e com Suas criaturas.

Você também encontrará uma diferença óbvia em termos de apoio, pois agir de acordo com a regra da ética é apoiado pela fundação de agradar as outras pessoas.

Isto é como um trabalho remunerado. E quando uma pessoa se acostuma com este tipo de trabalho, ela não pode atingir um nível mais elevado de ética porque ela está acostumada com o trabalho em que é bem recompensada pelas pessoas ao seu redor que a recompensa pelas suas boas ações.

Isto não é verdade daquele que se aplica a Torá e Mitzvot para dar prazer ao seu Criador sem qualquer recompensa, pois ela atinge níveis mais elevados de ética em proporção direta aos seus esforços. Já que ela não é recompensada ao longo do caminho, e estes “centavos” são acrescentados a uma grande soma, ela atinge uma segunda natureza que é compartilhar com seus próximos sem qualquer desejo de ganhar algo disto além de sua própria sobrevivência.

Vemos que ela é verdadeiramente libertada de todas as restrições que os humanos estão sujeitos da criação, porque quando uma pessoa rejeita algo que ela pode receber para si mesma e sua alma rejeita todas as luxúrias, prazeres corporais mesquinhos, honra e assim por diante, ela viaja livremente no mundo do Criador, e ela certamente nunca irá sofrer qualquer ferida ou problema, já que todos os problemas vêm até a pessoa por meio de seu Desejo de Receber inerente, entenda isto bem.

Assim, é claro que todo o propósito da religião é pelo benefício da pessoa que se adere a ela, e não para o benefício da humanidade. Embora todas as suas ações beneficiem a humanidade, é apenas o caminho para a meta elevada de tornar sua forma similar a do Criador. Juntamente com isto, também é claro que o propósito da religião é recompensado neste mundo, na vida da pessoa, como mencionamos acima no artigo “Matan Torá”, veja Item 6, sobre o propósito do indivíduo e do coletivo em geral.

No entanto, o conceito de recompensa no Mundo Vindouro é outro assunto, e eu explicarei ele em outro artigo, com a permissão de Deus.

O ENSINAMENTO DA CABALÁ E SUA ESSÊNCIA

Do livro “Cabala Para o Estudante”

O que é a sabedoria da Cabalá? Como um todo, a sabedoria da Cabalá diz respeito à revelação da Divindade, organizada no seu caminho em todos os seus aspectos – os que emergiram nos mundos e os que estão destinados a ser revelados, e de todas as maneiras que podem alguma vez aparecer nos mundos, até ao fim dos tempos.

O PROPÓSITO DA CRIAÇÃO

Uma vez que não há ação sem um propósito, é certo que o Criador tinha um propósito na Criação colocada perante nós. E a coisa mais importante em toda esta diversa realidade é a sensação dada aos animais – cada um deles sente a sua própria existência. E a sensação mais importante é a sensação mental, dada só ao homem, pela qual a pessoa também sente o que está no seu próximo – as dores e confortos.

Então, é certo que se o Criador tem um propósito nesta Criação, seu sujeito é o homem. Diz-se sobre ele, “Todas as obras do Senhor são por ele”.

Mas devemos ainda compreender qual foi o propósito pelo qual o Criador criou esta quota? Certamente, é para elevá-lo a um grau Superior e mais importante, para sentir o seu Deus como a sensação humana, que já lhe é dada a ele. E assim como a pessoa conhece e sente os desejos de seu amigo, assim também ela aprenderá as palavras do Criador, como está escrito sobre Moisés, “E o Senhor falou com Moisés face a face, como um homem fala ao seu amigo”.

Qualquer pessoa pode ser como Moisés. Indubitavelmente, qualquer um que examine a evolução da Criação perante nós irá ver e compreender o grande prazer do Operador, cuja operação evolui até que ela adquira uma sensação
maravilhosa de ser capaz de conversar e lidar com o seu Deus como alguém que fala com seu amigo.

DE CIMA PARA BAIXO

É sabido que o fim de uma ação está no pensamento preliminar. Antes que alguém comece a pensar sobre como construir uma casa, contempla o apartamento na casa, que é o propósito. Subsequentemente, examina o diagrama para o fazer adequado para esta tarefa.

Assim é com a nossa matéria. Uma vez que aprendemos sobre o propósito, é também claro para nós que todas as condutas da Criação, em toda a sua esquina, entrada, e saída, são completamente preordenadas pelo propósito de nutrir a espécie humana do seu centro, para melhorar suas qualidades até que ela possa sentir a Divindade tal como sente o seu amigo.

Estas ascensões são como degraus de uma escada, organizadas grau após grau até que seja completada e atinja seu propósito. E você deve saber que a qualidade e quantidade destes degraus são dispostos em duas realidades: 1) a existência de substâncias materiais, e 2) a existência de conceitos espirituais.

Na linguagem da Cabalá, eles são chamados “de Cima para baixo” e “de baixo para Cima”. Isto significa que as substâncias corpóreas são uma sequência da divulgação da Sua Luz de Cima para baixo, – da primeira fonte, quando uma medida de Luz foi cortada da Sua Essência, e foi restringida Tzimtzum após Tzimtzum (restrição após restrição) até que o mundo corpóreo fosse formado disso, com criaturas corpóreas na sua parte inferior.

DE BAIXO PARA CIMA

Posteriormente começa uma ordem de baixo para Cima. Estes são como os degraus da escada pela qual a raça humana se desenvolve e sobe para Cima até o propósito da criação. Estas duas realidades são explicadas em todos seus detalhes na Sabedoria da Cabalá.

NECESSIDADE DE ESTUDAR A CABALÁ

Um opositor pode dizer, “Desta forma, esta sabedoria é para os que já foram recompensados com uma medida de revelação Divina, mas que necessidade pode ter a maioria das pessoas em conhecer esta sabedoria sublime?”

Certamente, há uma opinião comum que o objetivo principal da religião e da Torá é apenas a purificação das ações, e tudo o que é desejado depende da observância das ações [práticas] das Mitzvot (mandamentos), sem quaisquer
acréscimos ou nada que possa resultar daí. Tivesse sido assim, aqueles que dizem que apenas estudar as ações reveladas e práticas é suficiente estariam certos.

Todavia, este não é o caso. Nossos sábios já disseram, “Porque o Criador deveria se preocupar se alguém abate na garganta ou atrás do pescoço? Afinal, todas as Mitzvot foram dadas apenas para purificar as pessoas”. Então, há um propósito além da observação das ações, e as ações são meramente preparações para este
propósito.

Então, claramente, se as ações não estão organizadas para o desejado objetivo, é como se nada existisse. E também está escrito no Zohar: “Uma Mitzvá (mandamento) sem Kavaná (intenção, direção) é como um corpo sem alma”. Então, a Kavaná, também deve acompanhar a ação.

Também, é claro que a Kavaná deve ser uma Kavaná verdadeira digna da ação, como nossos sábios disseram sobre o verso, “‘E eu afastar-te-ei das pessoas, para que sejas Meu’, para que tua separação seja por Meu Nome. Não venha alguém dizer, ‘Porco é impossível’. Ao invés, deixe que diga ‘é possível, mas o que posso eu fazer,
meu Pai no Céu me sentenciou.’”

Então, se alguém evita porco devido à abominação ou devido a certo mal corpóreo, esta Kavaná não ajuda em nada para isto ser considerado uma Mitzvá praticada, a menos que tenha uma Kavaná única e adequada de que a Torá
proibiu. Assim é com cada Mitzvá, e apenas então o corpo é gradualmente purificado ao praticar as Mitzvot, que é o desejado propósito.

Então, o estudo das condutas físicas não é suficiente; nós precisamos estudar aquelas coisas que produzem a Kavaná desejável, de praticar tudo com fé na Torá e no Doador da Torá, que há um Julgamento e há um Juiz.

Quem é tão tolo para não compreender que a fé na Torá e na recompensa e punição, que têm o poder de render esta grande coisa, requer muito estudo nos livros adequados? Então, até antes da ação, um estudo que purifica o corpo é
necessário, para crescer acostumado à fé no Criador, Sua Lei, e Sua Providência.

Nossos sábios disseram sobre isso, “Eu criei a inclinação ao mal; Eu criei para ela a Torá como uma especiaria”. Eles não disseram, “Eu criei para ela Mitzvot como uma especiaria”, já que “nosso fiador precisa ele próprio de um fiador”, pois a inclinação ao mal deseja licenciosidade e não deixará que ela pratique as Mitzvot.

TORÁ COMO UMA ESPECIARIA

A Torá é a única especiaria para anular e subjugar a inclinação ao mal, assim como nossos sábios disseram, “A Luz nela os corrige”.

A MAIORIA DAS PALAVRAS DA TORÁ SÃO PARA ESTUDO

Isto reconcilia porque a Torá fala extensivamente sobre partes que não dizem respeito à parte prática mas apenas ao estudo, ou seja, a introdução do MA’ase Bereshit (Ato da Criação) e todo o livro de Bereshit (Gênesis), Shemot (Êxodo), e a maior parte de Devarim (Deuteronômio), e, desnecessário é dizer, Agadá (lenda) e Midrashim
(comentários). Todavia, dado que eles são onde a Luz está armazenada, seu corpo será purificado, a inclinação ao mal subjugada, e ele chegará à fé na Torá e em recompensa e punição. Este é o primeiro grau na observação da obra, como explicado.

A MITZVÁ É UMA VELA, E A TORÁ É A LUZ

Está escrito, “Pois a Mitzvá é uma vela, e a Torá é a Luz” (Provérbios 6:23). Assim como alguém que tem velas mas nenhuma luz para as acender se senta no escuro, o que tem Mitzvot mas nenhuma Torá senta-se no escuro. Isto é porque a Torá é a Luz, pela qual a escuridão no corpo é iluminada e acendida.

NEM TODAS AS PORÇÕES DA TORÁ SÃO DE IGUAL LUZ

De acordo com o poder supramencionado na Torá, isto é, considerando a medida de Luz nela, é certo que a Torá deve ser dividida em graus, de acordo com a medida de Luz que o homem pode receber ao estudá-la. Claramente, quando alguém pondera e contempla palavras da Torá que pertencem à revelação do Criador a nossos pais, elas trazem ao examinador mais Luz que quando examina questões práticas.

Embora elas sejam mais importantes em respeito às ações, com respeito à Luz, a revelação do Criador a nossos pais é certamente mais importante. Qualquer um com um coração honesto que tentou pedir para receber a Luz da Torá admitirá isso.

NECESSIDADE E REVELAÇÃO DA EXPANSÃO DA SABEDORIA

Dado que o todo da sabedoria da Cabalá fala do segredo da revelação do Criador, naturalmente, não há ensinamento mais bem sucedido para esta tarefa. Foi para isto que os Cabalistas se direcionaram – organizá-la para que fosse adequada para o estudo.

E então eles estudaram nela até o fim do tempo da ocultação (foi concordado ocultá-la por uma certa razão). Contudo, isto foi apenas por certo tempo, e não para sempre, Deus proíba, como está escrito no Zohar, “Esta sabedoria está destinada a ser revelada no fim dos tempos, e até as crianças”.

Segue-se que a sabedoria supramencionada não está limitada à linguagem da Cabalá, pois a sua essência é uma Luz espiritual que emerge da Sua Essência, no segredo do que está escrito, “Podes tu enviar relâmpagos, para que eles possam ir, e dizer para ti: ‘Aqui estamos nós’”, referindo-se aos dois caminhos acima: de Cima para baixo e de baixo para Cima.

Estas questões e graus expandem-se de acordo com uma linguagem adequada para eles, e eles são verdadeiramente todas as essências, as criaturas, as pessoas e os costumes neste mundo, que são seus ramos. Isto é porque “Não há uma planta abaixo que não tenha um mazal (signo, anjo) que lhe golpeia e diz, ‘Cresça!’” Então, os mundos emergem um do outro e estão impressos de um para outro como um carimbo e sua impressão. E tudo o que está num está no outro, descendo até ao mundo corpóreo, que é seu último ramo, mas contém o mundo Acima dele como uma impressão de um carimbo.

Então, é fácil saber que podemos falar dos Mundos Superiores apenas por seus ramos corpóreos e inferiores, que se estendem deles, ou de suas condutas, que é a linguagem do Tanakh [Acrônimo para Torá Nevi’im Ketuvim (Pentateuco, Profetas e Escritos), que compreende todo o Antigo Testamento da Bíblia], ou pelos ensinamentos seculares ou por pessoas, que é a linguagem dos Cabalistas, ou de acordo com os nomes concordados. Esta foi a conduta na Cabalá dos Geonim desde a ocultação do Zohar.

Então, tornou-se claro que a revelação do Criador não é para ser divulgada de uma só vez, mas é uma questão progressiva que é revelada ao longo de um período de tempo, suficiente para a divulgação de todos os grandes graus que aparecem de Cima para baixo e de baixo para Cima. Em cima deles, e no fim deles, aparece o Criador.

É como uma pessoa proficiente em todos os países e pessoas no mundo, que não pode dizer que o mundo inteiro lhe foi revelado a ela antes que ela tenha completado o seu exame da última pessoa e do último país. Até que alguém
concretize isso, não alcançou o mundo inteiro.

Similarmente, a realização do Criador revela-se de maneiras preordenadas. O buscador deve alcançar todas essas maneiras tanto no Superior como no inferior. Claramente, os Mundos Superiores são os importantes aqui, mas eles são alcançados juntos pois não há diferença em suas formas, apenas na sua substância.

A substância de um Mundo Superior é mais pura, mas as formas são impressas de um para o outro, e o que existe no Mundo Superior existe necessariamente em todos os mundos abaixo dele, dado que o inferior é impresso por ele.

Saiba que estas realidades e suas condutas, que o buscador do Criador alcança, são chamadas “graus”, dado que sua realização é organizada uma sobre a outra, como degraus de uma escada.

EXPRESSÕES ESPIRITUAIS

O espiritual não tem imagem, logo ele não tem letras com que o contemplar.

Mesmo se nós declararmos em geral que ele é Luz Simples, que desce e se estende ao buscador até que se revista e o alcance na quantia suficiente para a Sua revelação, isto, também, é uma expressão emprestada. Isto é assim pois tudo o que é chamado “Luz” no mundo espiritual não é como a luz do sol ou a luz das velas.

Ao que nos referimos como Luz no mundo espiritual é emprestado da mente humana, cuja natureza é tal que quando uma dúvida é resolvida numa pessoa, descobre uma abundância de luz e prazer através do corpo. É por isso que algumas vezes dizemos “a luz da mente”, embora isto não seja assim. A luz que brilha nessas partes da substância do corpo que são impróprias para receber escrutínios resolvidos é certamente algo inferior à mente. Então, esses baixos, inferiores órgãos podem recebê-la e alcançá-la, também.

Todavia, para ser capaz de dar nome à mente com certo nome, nós chamamos-lhe “a luz da mente”. Similarmente, nós chamamos aos elementos da realidade dos Mundos Superiores “Luzes”, pois eles trazem os que os alcançam
abundância de luz e prazer ao longo do corpo, da cabeça aos pés. Por esta razão, nós podemos chamar ao que alcança “veste”, pois ele revestiu aquela Luz.

Nós podemos perguntar, “Não seria mais correto chamar-lhes pelos nomes usados no escrutínio, tais como observação e realização, ou de se exprimir a si mesmo com expressões que enfatizem os fenômenos da razão teórica?” A questão é que não é nada como as condutas dos fenômenos mentais teóricos, dado que a mente é um
ramo particular entre todos os elementos da realidade. Então, ela tem as suas próprias formas de manifestação.

Isto não é assim com os graus, pois eles são um todo completo, que contém todos os elementos que existem num mundo. Cada elemento tem as suas próprias formas particulares. Na maioria, a percepção das questões em graus é similar à percepção de corpos animais: quando se alcança certa essência, se alcança o todo
dela, do princípio ao fim.

Se nós julgarmos pelas leis da razão teórica, podemos dizer que ele alcançou tudo o que ele podia alcançar nessa essência, e mesmo que ele tenha contemplado durante outros milhares de anos, ele não poderia acrescentar a ela sequer um triz. Todavia, no princípio é muito similar a… isto é, que ele vê tudo mas não compreende nada do que vê. Porém, com o passar do tempo ele terá de alcançar questões adicionais, similares a Ibúr (concepção), Yeniká (amamentação), Môchin (idade adulta), e um segundo Ibúr. Nessa altura, ele começará a sentir e a usar as suas
realizações de todas as formas que desejar.

Contudo, na verdade, ele não acrescentou nada às realizações que ele tinha concretizado no princípio. É em vez disso como o amadurecimento: previamente ele era imaturo, então ele não podia compreendê-lo, e agora o seu amadurecimento foi completado.

Então, você vê a grande diferença das condutas dos fenômenos mentais. Por esta razão, as definições a que estamos acostumados a usar não serão suficientes para nós com fenômenos mentais. Somos compelidos a usar apenas as condutas que se aplicam a questões corpóreas, dado que suas formas são completamente similares,
embora sua substância seja absolutamente remota.

QUATRO LINGUAGENS SÃO USADAS NA SABEDORIA DA VERDADE

Quatro linguagens são usadas na sabedoria da verdade:

  1. A linguagem do Tanakh, seus nomes, e denominações.
  2. A linguagem da Halachá (Lei). Esta linguagem é muito próxima à linguagem do Tanakh.
  3. A linguagem das Hagadot (Lendas), que está muito longe do Tanakh por completo, dado que ela não tem qualquer consideração da realidade. Nomes estranhos e denominações são atribuídos a esta linguagem, e ela também não se relaciona a conceitos por meio de raiz e seu ramo.
  4. A linguagem das Sefirot e Partzufim. Em geral, os sábios tinham uma forte inclinação para ocultá-la dos ignorantes, dado que eles acreditavam que sabedoria e ética andam de mão dada. Então, os primeiros sábios
    esconderam a sabedoria na escrita, usando linhas, pontos, topos, e fins.

Foi assim que o alfabeto foi formado com as vinte e duas letras perante nós.

A LINGUAGEM DO TANAKH

A linguagem do Tanakh é a linguagem principal e rudimentar, perfeitamente adequada à sua tarefa, pois na maior parte, ela contém uma relação de raiz e ramo. Esta é a linguagem mais fácil de se compreender. Esta linguagem é também a mais antiga; ela é a Língua Santa, atribuída a Adam HaRishon.

Esta linguagem tem duas vantagens e uma desvantagem. A sua primeira vantagem é que é fácil de compreender, e até principiantes em realização imediatamente compreendem tudo o que precisam. A segunda vantagem é que ela
clarifica questões extensivamente e em profundidade, mais que em todas as outras linguagens.

A sua desvantagem é que ela não pode ser usada para discutir assuntos particulares ou ligações de causa e consequência. Isto é assim pois cada matéria precisa ser clarificada na sua mais completa medida, pois não é evidente por si mesma em mostrar a que elemento está se referindo, a não ser ao apresentar toda a questão. Então, para enfatizar o mais pequeno detalhe, uma história completa deve ser apresentada. É por isso que ela é indigna para pequenos detalhes ou para ligações de causa e consequência.

E a linguagem das Tefilot (orações) e Brachot (bênçãos) também é retirada da linguagem do Tanakh.

A LINGUAGEM DA HALACHÁ

A linguagem da Halachá (Lei) não é da realidade, mas da existência da realidade. Esta linguagem é retirada inteiramente da linguagem do Tanakh de acordo com as raízes das leis lá apresentadas. Ela tem uma vantagem sobre o Tanakh: ela elabora grandemente sobre cada questão e então aponta para as Raízes Superiores mais precisamente.

Contudo, a sua grande desvantagem, comparada à linguagem do Tanakh, é que ela é muito difícil de compreender. Esta é a mais difícil de todas as linguagens, e apenas um completo sábio, chamado “entrar e sair sem mal”, a alcançará. É claro, ela também contém a primeira desvantagem, pois ela é retirada do Tanakh.

A LINGUAGEM DA AGADÁ

A linguagem da Agadá (Lenda) é fácil de compreender através das alegorias que servem perfeitamente ao significado desejado. Em exame superficial, ela parece até mais fácil de compreender que a linguagem do Tanakh. Todavia, para completo entendimento, ela é uma linguagem muito difícil, pois ela não se confina a si mesma a falar em sequências de raiz e ramo, mas apenas de alegorias e maravilhosa sagacidade. Porém, ela é muito rica em resolver conceitos confusos e estranhos que dizem respeito à essência do grau no seu estado, por si mesmo, que não pode ser explicado na linguagem do Tanakh e da Halachá.

A LINGUAGEM DOS CABALISTAS

A linguagem dos Cabalistas é uma linguagem no completo sentido da palavra: muito precisa, tanto a respeito da raiz e ramo quanto da causa e consequência. Ela tem um mérito único de ser capaz de exprimir detalhes sutis nesta linguagem sem quaisquer limites. Também, através dela, é possível abordar a questão desejada diretamente, sem a necessidade de ligá-la ao que a precede ou que se segue a ela.

Porém, apesar de todos os sublimes méritos que você encontra nela, há um grande defeito nela: ela é muito difícil de alcançar, praticamente impossível, exceto de um sábio Cabalista e de um sábio que a compreenda com a sua própria mente.

Isto significa que até alguém que compreenda o resto dos graus de baixo para Cima e de Cima para baixo com a sua própria mente, ainda assim não compreenderá nada nesta linguagem até que ele a receba de um sábio que já recebeu a linguagem de seu professor face a face.

A LINGUAGEM DA CABALÁ ESTÁ CONTIDA EM TODAS

Os nomes, denominações, e Gematrias pertencem inteiramente à sabedoria da Cabalá. A razão pela qual elas são achadas nas outras linguagens, também, é que todas as linguagens estão incluídas na sabedoria da Cabalá. Isto é assim pois estes são todos casos particulares com os quais as outras linguagens devem ser assistidas.

Mas não se deve pensar que estas quatro linguagens, que servem para explicar a sabedoria da revelação Divina, evoluíram uma de cada vez, ao longo do tempo. A verdade é que todas as quatro apareceram perante os sábios simultaneamente.

Na verdade, cada uma consiste de todas as outras. A linguagem da Cabalá existe no Tanakh, tal como o ficar sobre a Tzur (rocha), os treze atributos da misericórdia na Torá e em Micá, e, a uma extensão, ela é sentida em todo e cada
verso. Existem também as Merkavot (carruagens) em Isaías e Ezequiel, e sobre todas elas O Cântico dos Cânticos, todos os quais são puramente a linguagem da Cabalá. Ela é similar a Halachá (Lei) e a Agadá (Lenda), e tanto o mais com a questão dos nomes indeléveis, que contêm o mesmo significado em todas as linguagens.

ORDEM DO DESENVOLVIMENTO DAS LINGUAGENS

Dentro de tudo há um desenvolvimento gradual, e a linguagem mais fácil de usar é uma cujo desenvolvimento está completado antes das outras. Então, os primeiros produtos estavam na linguagem do Tanakh, pois ela é a linguagem mais conveniente e foi prevalecente no momento.

Seguindo-a veio a linguagem das Halachot, dado que ela está completamente imersa na linguagem do Tanakh, também porque era necessário de forma a instruir às pessoas como implementar as leis na prática.

A terceira foi a linguagem das Hagadot. Embora seja achada em muitos lugares no Tanakh, também, é apenas como uma linguagem auxiliar pois a sua astúcia apressa a percepção das questões. Contudo, ela não pode ser usada como uma linguagem básica, pois lhe falta a precisão da raiz e seu ramo. Então, ela foi raramente
usada e assim não se desenvolveu.

E embora a Hagadá fosse usada extensivamente durante o tempo dos Tanaim e dos Amoraim, foi apenas em conjunção com a linguagem do Tanakh, para abrir as palavras de nossos sábios — Rabi… começou, etc., (e outros sufixos). Na verdade, o uso expansivo desta linguagem por nossos sábios começou depois da ocultação da
linguagem da Cabalá, durante os dias de Yochanan Ben Zakai e pouco antes, isto é setenta anos antes da ruína do Templo.

A última a evoluir foi a linguagem da Cabalá. Isto foi assim devido às dificuldades em compreendê-la: em acréscimo à realização, é preciso compreender o significado destas palavras. Então, até os que a compreendiam não podiam usá-la, pois na maior parte, eles estavam sozinhos na sua geração e não tinham ninguém com quem estudar. Nossos sábios chamaram a essa linguagem, MA’ase Merkavá, dado que ela é uma linguagem especial pela qual se pode elaborar sobre os detalhes da Herkev (composição) dos graus uma na outra, e não com qualquer outra.

A LINGUAGEM DA CABALÁ É COMO QUALQUER LINGUAGEM FALADA, E A SUA PREFERÊNCIA ESTÁ NO SENTIDO IMPLÍCITO EM UMA ÚNICA PALAVRA!

À primeira vista, a linguagem da Cabalá parece como uma mistura das três linguagens supramencionadas. Contudo, o que compreende como a usar descobrirá que ela é uma linguagem única em si e por si mesma do início ao fim. Isto não pertence às palavras, mas a seus significados. Esta é toda a diferença entre elas.

Nas primeiras três linguagens, não há praticamente qualquer significado a uma única palavra, permitindo ao examinador compreender o que a palavra implica. Apenas ao juntar umas poucas palavras, e por vezes assuntos, podem seu conteúdo e sentido ser compreendidos. A vantagem na linguagem da Cabalá é que toda e cada palavra nela divulgam seu conteúdo e significado ao examinador em absoluta precisão, não menos que em qualquer outra língua humana: cada palavra transporta a sua própria definição precisa e não pode ser substituída por outra.

ESQUECENDO A SABEDORIA

Desde a ocultação do Zohar, esta importante linguagem foi gradualmente esquecida, pois era usada por cada vez menos e menos pessoas. Também, houve uma cessação de uma geração, que o sábio receptor não a transmitiu a um receptor entendedor.

Desde então, houve um imensurável déficit.

Você pode ver evidentemente que o Cabalista Rabi Moshe de Leon, que foi o último a possuí-lo, com cuja mão revelou ao mundo, não compreendia uma palavra dele. Isto é porque nesses livros onde ele apresenta pedaços do Livro do Zohar, é claro que ele não compreendia as palavras, pois ele o interpretou de acordo com a linguagem do Tanakh. Ele confundiu o entendimento completamente, embora ele próprio tivesse maravilhosa realização, assim como suas composições demonstram.

Assim foi por gerações: todos os Cabalistas dedicaram suas vidas inteiras a compreender a linguagem do Zohar, mas não conseguiram descobrir suas mãos e pernas, dado que eles forçaram a linguagem do Tanakh sobre ele. Por esta razão, este livro foi selado perante eles, como foi com o próprio Rabi Moshe de Leon.

A CABALÁ DO ARI

Isto foi assim até à chegada de um Cabalista único, o Ari. Seu entendimento estava acima e além de qualquer barreira, e ele abriu a linguagem do Zohar para nós e pavimentou nosso caminho sobre ela. Não tivesse ele falecido tão novo, é difícil imaginar a quantidade de Luz que seria extraída do Zohar. O pouco com que fomos abençoados pavimentou um caminho e passagem, e verdadeira esperança que ao longo das gerações nosso entendimento cresceria finalmente para percebe-la na sua totalidade.

Todavia, você deve compreender a razão pela qual todos os grandes sábios que seguiram o Ari abandonaram todos os livros que eles tinham compilado nesta sabedoria e nos comentários do Zohar, e praticamente se proibiram a si mesmos de serem vistos, e dedicaram suas vidas às palavras do Ari. Isto não foi porque eles não acreditavam na santidade dos sábios precedendo o Ari; Deus proíba que pensemos assim. Qualquer um com olhos na sabedoria podia ver que a realização desses grandes sábios na sabedoria da verdade era imensurável. Apenas um tolo ignorante
duvidaria deles. Porém, sua lógica na sabedoria seguiu as primeiras três linguagens.

Embora cada linguagem seja verdadeira e digna no seu lugar, ela não é completamente digna, e bastante enganadora para compreender a sabedoria da Cabalá contida no Zohar usando estas ordens. Isto é assim pois ela é uma linguagem completamente diferente, dado que foi esquecida. Por esta razão, nós não usamos suas explicações, sejam as explicações do próprio Rabi Moshe de Leon, ou seus sucessores, pois suas palavras ao interpretar O Zohar não são verdadeiras, e até este dia temos apenas um comentarista – o Ari, e ninguém mais.

À luz do mencionado, segue-se que a interioridade da sabedoria da Cabalá é não outra que a interioridade do Tanakh, do Talmud e da Hagadá. A única diferença entre elas encontra-se nas suas explicações.

Isto é similar a uma sabedoria que foi traduzida em quatro línguas.

Naturalmente, a essência da sabedoria não mudou nada pela mudança da língua. Tudo o que temos que pensar é qual tradução é a mais conveniente para transmitir a sabedoria ao estudante.

Assim é a questão perante nós: a sabedoria da verdade, isto é a sabedoria da revelação da Divindade em Suas Condutas para as criaturas, como ensinamentos seculares, deve ser passada de geração em geração. Cada geração acrescenta um elo à sua anterior, e então a sabedoria evolui. Além do mais, ela torna-se mais adequada
para sua expansão no público.

Então, cada sábio deve passar a seus estudantes e às seguintes gerações tudo o que ele herdou na sabedoria de gerações anteriores, assim como os acréscimos com que ele mesmo foi recompensado. Claramente, a realização espiritual – pois é alcançada pelo que alcança – não pode ser passada a outro, e tudo o mais sendo escrito num livro.

Isto é assim pois objetos espirituais não podem vir em letras da imaginação ou que se pareça (e embora esteja escrito, “…e pelo ministério dos profetas Eu usei similaridades,” não é literalmente assim, Deus proíba).

ORDEM DE PASSAR A SABEDORIA

Então, como a pessoa que alcança pode transmitir as suas realizações às gerações e aos estudantes? Saiba que há apenas uma maneira para isto: por meio da raiz e ramo.

Todos os mundos e tudo o que os preenche, em cada um de seus detalhes, emergiram do Criador em Um, Único e Unificado Pensamento. E o Pensamento sozinho cascateou e criou todos os muitos mundos e criações e suas condutas, como explicado em A Árvore da Vida e no Tikuney Zohar.

Então, eles são todos iguais uns aos outros, como selo e impressão, em que o primeiro selo está impresso em todos. Como resultado, nós chamamos aos mundos mais próximos ao Pensamento sobre o propósito, “raízes”, e aos mundos mais afastados do propósito nós chamamos “ramos”. Isto é assim pois o fim da ação está no pensamento preliminar.

Agora nós podemos compreender o idioma comum nas Agadot (lendas) de nossos sábios: “e observa-o do fim do mundo até o seu fim”. Não deveriam eles ter dito, “…do princípio do mundo até o seu fim”? Mas existem dois fins: um fim de acordo com a distância do objetivo, isto é os últimos ramos neste mundo, e 2) um fim chamado “o propósito final”, dado que o propósito é revelado no fim da questão.

Mas como nós explicamos, “O fim de uma ação está no pensamento preliminar”. Então, nós encontramos o propósito no princípio dos mundos. Isto é ao que nos referimos como “primeiro mundo”, ou “o primeiro selo”. Todos os
outros mundos derivam dele, e é por isto que todas as criações — Inanimado, Vegetativo, Animado e Falante — em todos os seus incidentes existem na sua completa forma precisamente no primeiro mundo. E o que não existe lá não pode aparecer no mundo, dado que não se dá o que não se tem.

RAIZ E RAMO NOS MUNDOS

Agora é fácil compreender a questão das raízes e ramos nos mundos. Cada um dos diversos Inanimado, Vegetativo, Animado e Falante neste mundo têm as suas partes correspondências no mundo Acima dele, sem qualquer diferença na sua forma, mas apenas na sua substância. Então, um animal ou uma pedra neste mundo é uma matéria corpórea, e seu correspondente animal ou pedra no Mundo Elevado é uma matéria espiritual, ocupando nenhum lugar ou tempo. Porém, sua qualidade é a mesma.

E aqui devemos certamente acrescentar a questão da relação entre matéria e forma, que é naturalmente condicionada à qualidade da forma, também. Similarmente, com a maioria do Inanimado, Vegetativo, Animado e Falante no Mundo Superior, você descobrirá sua similaridade e semelhança no mundo Acima do Superior. Isto continua até o primeiro mundo, em que todos os elementos são completados, no segredo do que está escrito, “E Deus viu tudo o que Ele tinha feito, e, eis, era muito bom”.

É por isso que os Cabalistas escreveram que o mundo está no centro de tudo, para indicar o acima, que o fim da ação é o primeiro mundo, isto é o objetivo. Também, o afastamento do objetivo é chamado “a descida dos mundos de
seu Emanador” até a este mundo corpóreo, o mais distante do propósito.

Contudo, o fim de todos os corpóreos é gradualmente se desenvolver e alcançar o objetivo que o Criador designou para eles, isto é o primeiro mundo.

Comparado a este mundo, em que nós estamos, ele é o último mundo, isto é do fim da matéria. É por isso que parece que o mundo do objetivo é o último mundo, e que nós, pessoas deste mundo, estamos entre eles.

A ESSÊNCIA DA SABEDORIA DA VERDADE

Agora é claro que assim como a emergência das espécies vivas neste mundo e a conduta de suas vidas é uma maravilhosa sabedoria, a aparição da Shefá Divina no mundo, os graus e a conduta de suas ações se unem para criar uma maravilhosa sabedoria, muito mais do que a ciência da física. Isto é porque a física é mero conhecimento da disposição de um tipo particular existindo num mundo particular.

Ela é única para o seu sujeito, e nenhuma outra sabedoria é incluída nela. Isto não é assim com a sabedoria da verdade, dado que ela é conhecimento de todo o Inanimado, Vegetativo, Animado e Falante em todos os mundos com todas as suas instâncias e condutas, pois elas são incluídas no Pensamento do Criador, isto é, no propósito. Por esta razão, todos os ensinamentos do mundo, do menor deles até ao maior deles, estão maravilhosamente incluídos nela, pois ela equaliza todos os diferentes ensinamentos, os mais diferentes e mais remotos um do
outro, como o leste do oeste. Ela os faz todos iguais, isto é as ordens de cada ensinamento são compelidas a chegar por seus meios.

Por exemplo, a ciência da física está ordenada precisamente pela ordem dos mundos e Sefirot. Similarmente, a ciência da astronomia está ordenada por essa mesma ordem, e assim é com a ciência da música, etc. Então, nós descobrimos nela que todos os ensinamentos estão ordenados e seguem uma única ligação e uma única
relação, e elas são todas como a relação da criança ao seu progenitor. Então, elas condicionam uma à outra; isto é, a sabedoria da verdade é condicionada por todos os ensinamentos, e todos os ensinamentos são condicionados por ela.

É por isso que nós não descobrimos um único Cabalista genuíno sem conhecimento compreensivo em todos os ensinamentos do mundo, dado que eles os adquirem da própria sabedoria da verdade, pois eles estão incluídos nela.

O SEGREDO DA UNIFICAÇÃO

A maior maravilha sobre esta sabedoria é a integração nela: todos os elementos da vasta realidade estão incorporados nela, até que todos eles venham a uma única coisa – o Todo Poderoso, e todos eles juntos.

No princípio, você descobre que todos os ensinamentos no mundo estão refletidos nela. Eles estão ordenados dentro dela precisamente por suas próprias ordens. Subsequentemente, nós descobrimos que todos os mundos e ordens na
sabedoria da verdade em si mesma, se unem apenas sob dez realidades, chamadas “Dez Sefirot”.

Posteriormente, estas dez Sefirot organizam-se em quatro maneiras, que são o Nome de quatro letras. Depois disso, estas quatro maneiras estão incluídas na ponta da Yud, que implica o Ein Sóf (Infinito).

Desta maneira, o que começa na sabedoria deve começar com a ponta da Yud, e daí para as dez Sefirot no primeiro mundo, chamado “o mundo de Adam Kadmon”. De lá se vê como os numerosos detalhes no mundo de Adam Kadmon necessariamente se estendem por meio de causa e consequência, pelas mesmas leis que descobrimos na astronomia e física, isto é, leis constantes e inquebráveis que necessariamente derivam uma da outra, da ponta da Yud descendo até todos os elementos no mundo de Adam Kadmon. Daí eles são impressos um no outro dos
quatro mundos por meio de selo e impressão, até que cheguemos a todos os elementos neste mundo. Posteriormente, eles são reintegrados um no outro até que todos eles venham ao mundo de Adam Kadmon, então até as dez Sefirot, então até ao Nome de quatro letras, até à ponta da Yud.

Nós poderíamos perguntar, “Se o material é desconhecido, como podemos estudar e examina-lo?” Certamente, como tal você descobrirá em todos os ensinamentos. Por exemplo, quando estudando anatomia – os vários órgãos e como
eles se afetam um ao outro – estes órgãos não têm qualquer similaridade ao objeto geral, que é o completo, ser vivo humano. Contudo, ao longo do tempo, quando você cuidadosamente conhece a sabedoria, você pode estabelecer uma relação geral de todos os detalhes sob os quais o corpo é condicionado.

Assim é aqui: o tópico geral é a revelação da Divindade às Suas criaturas, por meio do propósito, como está escrito, “…pois a terra estará cheia do conhecimento do Senhor”. Porém, um novato certamente não terá conhecimento do tópico geral, que é condicionado por todos eles. Por esta razão, deve-se adquirir todos os detalhes
e como eles se afetam um ao outro, assim como suas causas por meio de causa e consequência, até que complete toda a sabedoria. E quando sabe cuidadosamente tudo, se ele tem uma alma purificada, é certo que ele será finalmente recompensado com o tópico geral.

E até se ele não for recompensado, é ainda assim uma grande recompensa adquirir qualquer percepção desta grande sabedoria, cuja vantagem sobre todos os outros ensinamentos é como o valor de seus tópicos, e como a vantagem do Criador sob Suas criações é valorizada. Similarmente, esta sabedoria, cujo sujeito é Ele, é de longe mais valiosa que a sabedoria cujo sujeito é Suas criaturas.

Não é por ser imperceptível que o mundo se abstém de contemplá-la. Afinal de contas, um astrônomo não tem percepção das estrelas e os planetas, mas apenas seus movimentos, que eles executam com maravilhosa sabedoria que é predeterminada em maravilhosa Providência. Similarmente, o conhecimento da sabedoria da verdade não está mais escondido que isso, pois até principiantes cuidadosamente compreendem os movimentos. Em vez disso, toda a prevenção foi porque os Cabalistas muito sabiamente a esconderam do mundo.

DAR PERMISSÃO

Estou contente que eu tenha nascido em tal geração em que é permitido divulgar a sabedoria da verdade. E caso você pergunte, “Como eu sei que é permitido?” Eu responderei que me foi dada permissão para divulgar. Até agora, as maneiras pelas quais é possível publicamente se empenhar e explicar totalmente cada palavra não foram reveladas a qualquer sábio. E eu, também, jurei por meu professor a não divulgar, como o fizeram todos os estudantes antes de mim. Contudo, este voto e sua proibição aplicam-se apenas a aquelas questões que são dadas oralmente de
geração a geração, até aos profetas e antes. Tivessem estes caminhos sido revelados ao público, elas causariam muito mal, por razões conhecidas apenas por nós.

Todavia, a maneira pela qual eu me empenho em meus livros é uma maneira permitida. Além do mais, eu fui instruído por meu professor a o expandir tanto quanto pudesse. Nós chamamos de “a maneira de revestir as matérias”. Você verá nos escritos de Rashbi que ele a chama desta maneira, “dar permissão”, e isto é o
que o Criador me deu na mais completa medida. Nós a consideramos dependente não na grandeza do sábio, mas ao estado da geração, como nossos sábios disseram, “Pequeno Samuel era digno, etc., mas sua geração era indigna”. Foi por isso que eu disse que eu ser recompensado com a questão de divulgar a sabedoria é devido à minha geração.

NOMES ABSTRATOS

É um grave erro pensar que a linguagem da Cabalá usa nomes abstratos. Pelo contrário, ela toca apenas o real. Certamente, existem coisas no mundo que são reais mesmo embora nós não tenhamos percepção delas, tal como o ímã e a eletricidade. Todavia, quem seria tão tolo para dizer que elas são nomes abstratos?

Afinal de contas, nós conhecemos cuidadosamente suas ações, e não poderíamos nos preocupar menos pois nós não conhecemos sua essência. No fim, nós nos referimos a elas como sujeitos seguros das ações que se relacionam a elas. E isto é um nome real. Até uma criança que está só aprendendo a falar pode nomeá-los, se ela simplesmente começar a sentir suas ações. Esta é a nossa lei: O que nós não alcançamos, nós não nomeamos.

A ESSÊNCIA NÃO É PERCEBIDA NOS CORPÓREOS

Além do mais, até as coisas que nós imaginamos que alcançamos por sua essência, tais como rochas e árvores, após exame honesto somos deixados com zero de realização na sua essência, dado que só alcançamos suas ações, que correm em conjunção com o encontro de nossos sentidos com elas.

NÉFESH

Por exemplo, quando a Cabalá afirma que existem três forças, 1) Corpo, 2) Néfesh Behemi (Alma Animal), e 3) Néfesh de Kedushá (Alma Sagrada), isto não se refere à essência da alma. A essência da alma é fluída; é ao que os psicólogos se referem como o “eu” e os materialistas como “elétrico” 1.

É um desperdício de tempo falar da sua essência, pois ela não está organizada para impressão através do toque dos nossos sentidos, como com todos os objetos corpóreos. Contudo, ao observar na essência deste fluido, três tipos de ações nos mundos espirituais, nós cuidadosamente distinguimos entre elas através de diferentes nomes, de acordo com suas operações reais nos Mundos Superiores. Então, não existem nomes abstratos aqui, mas em vez disso tangíveis no completo sentido da palavra.

VANTAGEM DO MEU COMENTÁRIO SOBRE OS COMENTÁRIOS ANTERIORES

Nós podemos ser assistidos por ensinamentos seculares em interpretar as questões na sabedoria da Cabalá, dado que a sabedoria da Cabalá é a raiz de tudo e eles estão todos incluídos nela. Alguns foram assistidos pela anatomia, como em, “então sem minha carne verei Eu Deus,” e alguns foram assistidos pela Filosofia. Ultimamente, há um uso extensivo da sabedoria da psicologia. Mas todos estes não são considerados verdadeiros comentários, dado que eles não interpretam nada na própria sabedoria da Cabalá, apenas nos mostram como o resto dos ensinamentos
estão incluídos nela. É por isso que os observadores não podem ser assistidos por um lugar, noutro lugar. …embora a sabedoria de servir Deus seja a mais próxima sabedoria à Cabalá de todos os ensinamentos externos.

E desnecessário é dizer, que é impossível ser assistido por interpretações de acordo com a ciência da anatomia, ou pela Filosofia. Por esta razão, eu digo que sou o primeiro interprete por raiz e ramo, e causa e consequência. Então, se alguém for entender alguma questão através de meu comentário, pode estar certo que em todo o lado que esta questão aparece no Zohar e nos Tikunim, ele pode ser assistido por ele, tal como com os comentários no literal, em que você pode ser assistido por um lugar para todos os outros lugares.

O estilo de interpretar de acordo com ensinamentos externos é uma perda de tempo pois não é nada mais que um testemunho à genuinidade de um sobre o outro. E um ensinamento externo não necessita de testemunho, pois a Providência preparou cinco sentidos para testemunhá-lo, e na Cabalá (independentemente) devese compreender o argumento antes de trazer testemunho ao argumento.

ESTILO DE INTERPRETAÇÃO BASEADO EM ENSINAMENTOS SECULARES

Esta é a fonte do erro do Baal Shem Tov: ele interpretou O Guia dos Perplexos de acordo com a sabedoria da Cabalá, e ele não sabia, ou fez de conta não saber, que a sabedoria da medicina, ou qualquer outra sabedoria, podia ser interpretada de acordo com a sabedoria da Cabalá não menos que a sabedoria da Filosofia. Isto é assim pois todos os ensinamentos estão incluídos nela e foram impressos por seu selo.

É claro, o Guia dos Perplexos não se referia a nada do que Baal Shem Tov interpretou, e ele não viu como… no Sefer Yetzirá *(Livro da Formação), ele interpretou a Cabalá de acordo com a Filosofia. Eu já provei que tal estilo de comentários é um desperdício de tempo, dado que os ensinamentos externos não precisam de testemunho, pois é inútil trazer testemunho à veracidade da sabedoria da Cabalá antes que suas palavras sejam interpretadas.

É como um acusador que traz testemunhas para verificar suas palavras antes que ele tenha explicado seus argumentos (exceto os livros que lidam com o trabalho de Deus, dado que a sabedoria de servir Deus verdadeiramente precisa de testemunhas à sua veracidade e sucesso, e nós devemos ser assistidos pela sabedoria
da verdade).

Contudo, todas as composições deste estilo não são um desperdício. Depois de cuidadosamente entendermos a sabedoria em si mesma, seremos capazes de receber muita assistência de analogias, como todos os ensinamentos estão incluídos nela, assim como as maneiras pelas quais as buscar.

SEGREDO PARA ATINGIR A SABEDORIA

Estas são as três ordens na sabedoria da verdade:

  1. A originalidade na sabedoria. Ela não requer assistência humana, pois ela é inteiramente a dádiva de Deus, e nenhum estranho interferirá com ela.
  2. A compreensão das fontes que se alcançou de Cima. É como uma pessoa que vê que o mundo todo está colocado perante seus olhos, e, todavia ela deve esforçar-se e estudar para compreender este mundo. Embora ela veja tudo com seus próprios olhos, há tolos e há sábios. Este entendimento é chamado “a sabedoria da verdade”, e Adam HaRishon foi o primeiro a receber uma sequência de conhecimento suficiente pelo qual compreender e maximizar com sucesso tudo o que ele viu e alcançou com seus olhos. A ordem deste conhecimento é dada apenas de boca a boca. E há também uma ordem de evolução onde cada um pode acrescentar ao seu amigo ou regredir (em que no primeiro discernimento cada um recebe igualmente sem adicionar ou subtrair, como Adam, em compreender a realidade deste mundo. Em vê-la, todos são iguais, mas isto não é assim em compreendê-la — alguns evoluem de geração em geração e alguns regridem). E a ordem da sua transmissão é por vezes chamada “transmitir o Nome Explícito”, e ela é dada sob muitas condições, mas apenas em palavras, não em escrita.
  3. Esta é uma ordem escrita. Ela é uma coisa completamente nova, dado que além de conter muito espaço para o desenvolvimento da sabedoria, através do qual cada um herda todas as expansões de suas realizações para
    as seguintes gerações, há outro poder magnífico nela: Todos os que se empenham nela, embora eles ainda não compreendam o que está escrito nela, são purificados por ela, e as Luzes Superiores aproximam-se deles. E
    esta ordem contém quatro linguagens, como nós explicamos acima, e a linguagem da Cabalá excede-as a todas.

ORDEM DE TRANSMITIR A SABEDORIA

A maneira mais bem sucedida para o que deseja aprender a sabedoria é de procurar um Cabalista genuíno e seguir todas as suas instruções, até que seja recompensado em entender a sabedoria na sua própria mente, este é o primeiro discernimento.

Posteriormente, será recompensado com sua transmissão boca a boca, que é o segundo discernimento, e depois disso, compreender na escrita, que é o terceiro discernimento. Então, terá herdado toda a sabedoria e seus instrumentos de seu professor com facilidade, e será deixado com todo o seu tempo para desenvolver e
expandir.

Contudo, na realidade há uma segunda maneira: através do seu grande anseio, as vistas dos Céus abrir-se-ão para ele e ele alcançará todas as origens por si mesmo. Este é o primeiro discernimento. Todavia, posteriormente deve-se ainda assim laborar e esforçar-se extensivamente, até que descubra um sábio Cabalista perante o qual possa se curvar e obedecer, e do qual receber a sabedoria por meio de transmissão face a face, que é o segundo discernimento, e então o terceiro discernimento.

E dado que não está ligado a um sábio Cabalista desde o início, as realizações vêm com grandes esforços e consomem muito tempo, deixando-o apenas com pouco tempo para se desenvolver nela. Também, por vezes o conhecimento vem depois do fato, como está escrito, “e eles morrerão sem sabedoria”. Estes são os noventa e nove por cento e aos quais chamamos, “entraram mas não saíram”. Eles são como tolos e ignorantes neste mundo, que veem o mundo colocado perante eles mas não compreendem nada dele, exceto o pão nas suas bocas.

Certamente, da primeira maneira, também, nem todos têm sucesso. Isto é porque a maioria, tendo alcançado, se torna complacente e deixam de se subjugar a si mesmos a seu professor suficientemente, pois eles não são dignos da transmissão da sabedoria. Neste caso, um sábio deve esconder a essência da sabedoria deles, e
“eles morrerão sem sabedoria”, “entrando mas não saindo”.

Isto é assim pois existem duras e rígidas condições em transmitir a sabedoria, que derivam de razões necessárias. Assim, muito poucos são altamente considerados o suficiente por seus professores para que eles os achem dignos desta coisa, e felizes são os recompensados.

1 Por “elétrico”, Baal HaSulam pretende dizer baseado em átomos.

A ESSÊNCIA DA SABEDORIA DA CABALÁ

Do livro “Cabala Para o Estudante”

Antes de eu começar a explicar a história da Sabedoria da Cabalá, que muitos já o fizeram antes de mim, eu achei necessário explicar claramente a essência desta sabedoria, que ao meu conhecimento poucas pessoas compreendem. E é claro não é possível falar da história de algo sem antes estarmos familiares com a coisa em si.

E embora este conhecimento seja amplo e mais profundo que o mar, eu ainda farei um esforço com toda a força e conhecimento que eu adquiri neste assunto para dar uma explicação original, e para iluminá-lo de todos os lados
suficientemente para qualquer um entender e chegar às conclusões corretas como elas realmente são, sem deixar espaço para meus leitores enganarem a si mesmos, como tão frequentemente acontece quando lemos coisas desta natureza.

EM TORNO DO QUE GIRA A SABEDORIA DA CABALÁ?

É claro que qualquer pessoa inteligente levantaria esta questão, e para dar uma resposta satisfatória, eu apresentarei uma definição fiel e precisa, já que esta sabedoria não é mais e nem menos que a ordem das Raízes que desdobram e evoluem através das leis de Causa e Efeito por leis absolutas e fias que conectam e visam a uma meta muito sublime, conhecida como “a revelação da Sua Divindade às Suas criaturas neste mundo”.

E isto envolve o raciocínio dedutivo do geral ao particular:

O “geral” significa toda a humanidade. É absolutamente necessário que toda a humanidade termine atingindo este desenvolvimento sublime, como está escrito, “Pois a terra ficará cheia do conhecimento de Deus, assim como as águas que cobrem o mar” (Isaías 11:9). “O homem não ensinará ao seu próximo ou a seu irmão, dizendo ‘Conhecei o Senhor!’, pois todos Me conhecerão, do menor ao maior deles” (Jeremias 31:33). E “Teu professor não mais se esconderá, e teus olhos verão teu professor” (Isaías 30:20).

O “particular”, significa que mesmo antes da perfeição de toda a humanidade, em cada geração isto se aplica também a indivíduos únicos, porque estes indivíduos em cada geração que merecerem atingir certos níveis em termos da
revelação da Divindade do Criador, eles são os profetas e os homens de nome, dos quais os sábios disseram, “Não há geração que não inclua pessoas como Abraão, Isaque e Jacó” (Bereshit Raba, Capítulo 74). Isto te mostra que a revelação da Divindade do Criador aparece em toda geração, de acordo com os sábios que são
qualificados para dizer isto e dos quais nós confiamos.

A MULTIPLICIDADE DOS PARTZUFIM, SEFIROT, E MUNDOS

No entanto, isto nos leva a questão: Visto que esta sabedoria tem apenas uma função especial e compreendida, porque existem uma multiplicidade de Partzufim, Sefirot e conexões intercambiáveis dos quais os livros de Cabalá estão cheios?

Se você tomar o corpo de uma pequena criatura, cujo único propósito é alimentar a si mesma para sobreviver neste mundo e propagar a si mesma, você verá que ela é composta de milhares e milhares de tecidos e ligamentos, conforme os fisiologistas e anatomistas encontraram, e centenas de milhares de partes que ainda não são conhecidas ao homem. Disto, você pode concluir quantos componentes e condutas existem que devem trabalhar juntos para revelar esta meta exaltada.

DUAS DIREÇÕES – DE CIMA PARA BAIXO E DE BAIXO PARA CIMA

Em geral, a sabedoria da Cabalá é dividida em dois sistemas de fluxo paralelos que são como duas gotas de água e não há diferença entre elas exceto que o primeiro sistema é atraído de Cima para Baixo até este mundo – enquanto que o segundo sistema começa neste mundo e vai de Baixo para Cima, exatamente de acordo aos mesmos caminhos e conexões que apareceram de sua primeira aparição e na revelação de Cima para Baixo.

O primeiro sistema é conhecido na linguagem cabalística como: “A ordem da evolução dos mundos, Partzufim e Sefirot” em todas as instâncias, seja permanente ou temporário. O segundo sistema é chamado: Uma pessoa que atinge isto precisa passar pelas mesmas condutas, caminhos e compreender todos os detalhes e todos os níveis gradualmente e precisamente de acordo com as leis que se aplicam a eles do momento quando eles foram emanados de Cima para Baixo.

Isto é assim porque a questão de revelar a Divindade do Criador não acontece de uma vez, assim como as coisas materiais são reveladas. Pelo contrário, elas aparecem ao longo de um período de tempo que depende da pureza daquele que os percebe, até que todos dos muitos níveis preordenados que apareceram de Cima para Baixo são revelados para ele. Estes níveis são ordenados e percebidos um após o outro e um acima do outro como degraus de uma escada, e é por isto que eles são chamados “degraus” (níveis).

NOMES ABSTRATOS

Muitas pessoas pensam que todos os mundos e nomes utilizados na Sabedoria da Cabalá são nomes abstratos. Isto é porque ela trata com Divindade e espiritualidade que estão além de espaço e tempo de modo que mesmo nossa imaginação não pode alcançá-los. Por causa disto eles chegaram à conclusão que todas estas palavras
descritivas são abstratas, ou mesmo mais elevadas e maiores do que nomes abstratos, já que para começar eles são completamente desprovidos de uma base imaginável.

Porém, isto não é verdade. Ao contrário, a Cabalá não usa nomes exceto em termos de sua realidade e atualidade. Isto é axiomático entre todos os sábios Cabalísticos. “Tudo que não podemos alcançar (compreender), nós não definiremos por um nome ou palavra”.

E aqui você precisa entender que a palavra “alcançar” (Heb: Hassagá) se refere ao último nível de compreensão, e isto vêm da passagem: “…se tua mão alcançar…” (Heb: Ki Tasig Yadcha) (Levíticos 14:22). Isto é, antes que algo se torne absolutamente claro, como se alcançado em suas próprias mãos, os Cabalistas não definem isto como “alcançado” mas ao invés usam outros termos tais como “entendimento” ou “educação”, ou “conhecimento” etc.

A REALIDADE DA SABEDORIA DA CABALÁ

A realidade física que percebemos com nossos sentidos também contém coisas reais que, embora nós não possamos perceber ou imaginá-las, tais como a eletricidade ou o magnetismo, conhecidos como Fluídos.

Porém quem se atreveria a dizer que estes nomes não são reais quando nós já sabemos e entendemos suas ações e manifestações? Nós realmente não nos importamos que não percebamos a essência disto, ou seja, o que é a eletricidade.

No entanto, este nome é muito real para nós como se a essência disto fosse percebida com nossos próprios sentidos. Tanto que até mesmo pequenas crianças estão familiares com a palavra “eletricidade” assim como elas estão com as palavras como “pão”, “açúcar” etc.

Além disso, se você quiser exercitar seu cérebro eu iria ainda adiante e diria que em geral, assim como nós não podemos perceber ou alcançar Deus de forma alguma, nós não podemos perceber qualquer aspecto criado em si, mesmo as coisas materiais que nós podemos tocar.

Isto significa que toda a nossa familiaridade com nossos amigos e parentes no mundo material é nada além do reconhecimento de suas ações ou manifestações, que originam na comunhão de nossos sentidos com eles. Estes são suficientes embora nós não tenhamos percepção da essência do objeto em si. Além disso, você não tem percepção mesmo da essência de si mesmo, e tudo que você sabe sobre si mesmo é nada além das ações que são a forma manifestada de sua própria essência.

Agora você pode facilmente entender que todos os nomes e termos usados nos Livros Cabalísticos são reais e concretos, embora nós não tenhamos percepção do assunto, já que aqueles que lidam com eles estão completamente satisfeitos que eles têm uma escala de conhecimento absoluta e completa e estão completamente familiares com eles, isto é, com suas ações e manifestações que estão em parceria com a Luz Superior e com aqueles que a percebem.

Isto é mais do que suficiente, já que a regra é: “Tudo que se possa imaginar que vem da supervisão do Fazedor e se torna uma realidade da natureza é mais do que suficiente”. Assim como nenhuma pessoa sentirá necessidade de ter seis dedos, já que cinco são mais do que suficientes.

OS TERMOS CORPÓREOS E OS NOMES FÍSICOS NOS LIVROS CABALÍSTICOS

É claro para qualquer mente lógica que quando lidamos com conceitos espirituais, sem mencionar a Divindade, não existem palavras ou letras para descrevê-los, já que todo nosso vocabulário é composto de imaginação e sentidos. Como nós poderíamos utilizá-los onde nossa imaginação e sentidos não se aplicam?

Mesmo se tomarmos as palavras mais sutis que podem ser usadas nestes lugares, tais como “Luz Superior” ou mesmo “Luz Simples”, estas palavras também são derivadas de outras palavras como “luz do Sol”, ou “luz da vela” ou “luz da satisfação e prazer” que uma pessoa sente com uma nova revelação ou quando ela está aliviada de alguma dúvida. Então como elas podem ser usadas para descrever conceitos espirituais ou caminhos Divinos, já que elas apenas oferecem ao leitor o vazio e a falsidade, muito menos quando as usamos para descrever um conceito em
um debate filosófico, onde o sábio deve ser absolutamente preciso com suas definições?

Se o sábio falha e usa mesmo uma palavra imprecisa, ele confunde seus leitores e eles não irão entender nada que vier antes, ou depois ou aquilo que tem qualquer coisa a ver com a palavra, como é conhecido a qualquer um que lê livros de sabedoria.

Assim, você pode se perguntar como os Cabalistas podem usar palavras falsas para explicar as conexões da sabedoria. “Palavras falsas” não tem definição substancial já que “mentiras não têm pernas para andar”. Então primeiro precisamos conhecer a lei de “Raízes e Ramos” no relacionamento entre os mundos.

A LEI DE RAÍZES E RAMOS PELA QUAL OS MUNDOS ESTÃO RELACIONADOS

Os Cabalistas revelaram que existem quatro mundos, conhecidos como: Atzilut, Briá, Yetzirá e Assiá. Do mais elevado dos mundos, Atzilut, ao mundo físico e material que é chamado Assiá, as formas são absolutamente iguais em cada detalhe e manifestação.

Todas as ocorrências e manifestações que são encontradas no primeiro mundo são também encontradas no próximo mundo abaixo dele sem diferença alguma, e assim por diante com todos os mundos seguintes incluindo o mundo material.

Não há diferença entre eles exceto pelo nível em que eles estão, que é entendido apenas pela composição dos componentes da realidade de cada mundo particular. A composição dos componentes do primeiro mundo mais elevado é mais refinada que a dos mundos abaixo dele. E a composição dos componentes do segundo mundo é mais densa do que a do primeiro mundo mas mais refinada que a dos mundos abaixo dele, e assim por diante até o mundo que nós experimentamos.

Neste mundo material, a composição de seus componentes é mais densa e escura do que todos os mundos precedentes, porém, as formas dos componentes e todas as suas manifestações são exatamente iguais em todos os mundos tanto em qualidade quanto em quantidade sem qualquer mudança.

Isto pode ser comparado a um carimbo e aquilo que é carimbado. Todas as formas do carimbo em si são transferidas ao que está carimbado com todos os detalhes intactos. E assim é com os mundos. Cada mundo inferior é “carimbado” pelo mundo acima dele, e portanto todas as formas no mundo mais elevado são copiadas em sua qualidade e quantidade no mundo mais inferior também, assim não existe detalhe ou manifestação no Mundo Inferior que não é encontrado no mundo acima dele em forma idêntica, como duas gotas de água.

Eles são chamados “Raízes e Ramos”. O mesmo componente encontrado no Mundo Inferior é considerado o “Ramo” do componente correspondente a ele, e existindo no mundo acima dele, que é a “Raiz” do componente do Mundo Inferior.

Do mundo acima este componente é “carimbado” e passa a existir no Mundo Inferior.

Essa foi a intenção de nossos sábios quando disseram, “Não há uma planta abaixo que não tenha um mazal (signo, anjo) que lhe golpeia e diz, ‘Cresça!’” (Hashmatot HaZohar, Bereshit verso 1, Bereshit Raba Capítulo 10). Ou seja, que a raiz chamada mazal a força a crescer e receber todos os seus traços tanto em termos de qualidade como de quantidade, assim como o carimbo deixa sua impressão naquilo que ele carimba como declarado acima. Esta é a lei de “Raízes e Ramos”, que se aplica a todos os componentes e manifestação da realidade de cada mundo em
correlação ao mundo acima dele.

A LINGUAGEM DOS CABALISTAS É A LINGUAGEM DOS RAMOS

Isto significa que os ramos são determinados pelas raízes que são seu carimbo que deve existir no Mundo Superior. Porque não há nada que exista no Mundo Inferior que não venha do mundo diretamente acima dele, assim como um carimbo e aquilo que ele carimba como explicado acima, a Raiz no Mundo Superior requer seu Ramo no Mundo Inferior para se manifestar exatamente com a mesma forma e traço.

Como os sábios disseram, a mazal no Mundo Superior, golpeia a planta e a força a crescer de acordo com seu próprio design. E através disto nós encontramos que todo e cada ramo neste mundo define bem sua contraparte no Mundo Superior.

Assim, os Cabalistas encontraram um vocabulário preordenado de palavras suficientes para uma linguagem incrivelmente precisa para falar entre si mesmos, que os permite negociar com cada outra das raízes espirituais pertencentes aos Mundos Superiores. Ao mencionar apenas o ramo físico mais inferior deste mundo material, que é bem definido para nossos sentidos físicos, os ouvintes entendem por si próprios o que a Raiz superior correspondente, com sua contraparte, o Ramo materializado está relacionando-se com ela já que é sua impressão, como mencionado acima.

Desta maneira, todo componente e manifestação no mundo material se torna como um nome ou termo absoluto e bem definido por sua Raiz correspondente nos Mundos Superiores espirituais. E embora em seu estado espiritual eles não possam ser expressados em palavras através de seus ramos correspondentes que nós percebemos neste nosso mundo material, como explicado acima.

Esta é a natureza da linguagem falada entre os Cabalistas, através da qual eles compartilham seu completo entendimento espiritual um com o outro de geração à geração, tanto oralmente quanto em escrita, ao exato nível necessário para a discussão de seu estudo desta sabedoria. E eles entendem um ao outro completamente através de definições precisas que não podem ser mal compreendidas já que cada Ramo tem sua própria definição natural específica, indicando seu Ramo correspondente no Mundo Superior através desta definição absoluta específica.

Saiba que a Linguagem Cabalística dos Ramos é mais conveniente para explicar conceitos desta sabedoria do que qualquer outra linguagem. Como sabemos da lei do nominalismo pela qual o significado das palavras é confundido pelo uso das massas, as palavras perdem seu significado preciso através do uso excessivo, e assim se torna muito difícil para uma pessoa transmitir ideias precisas para o outro através da fala e escrita.

Isto não é verdade da Linguagem Cabalística dos Ramos, que é derivada dos nomes das criaturas e sua história que nós percebemos de acordo com as leis imutáveis da natureza. Nunca pode acontecer que um ouvinte ou leitor erre no
significado das palavras apresentadas a ele, já que as leis da natureza são absolutas sem exceção.

TRANSMISSÃO DA BOCA DE UM SÁBIO CABALISTA A UM RECEPTOR ENTENDEDOR

Assim escreveu o RAMBAN (Rabi Moshe ben Nachman) na introdução ao seu comentário na Torá e Rabi Chaim Vital escreveu o mesmo em sua Introdução à Árvore da Vida, Artigo sobre Os Passos: “Os leitores devem saber que eles não irão entender nem mesmo uma palavra do que está escrito nestes livros a menos que sejam transmitidas da boca de um Cabalista a um homem sábio que recebe e compreende por si só”. Também as palavras dos sábios: “A pessoa não deve estudar a Merkavá sozinho, a menos que seja sábia e possa entender ela por si só” (Talmud Babilônico, Chagigá 11b).

O significado destas palavras é claro, a pessoa deve receber da boca de um Cabalista. Porém, qual é a razão para a exigência que mesmo um estudante deve ser primeiro “sábio e entenda por si só”? Se ele não é, mesmo se for o homem mais justo no mundo, ele é proibido de ser ensinado? Além disso, se ele já é sábio e entende
isto por si só, por que ele precisa aprender dos outros?

Do que nós explicamos acima, você pode entender suas palavras claramente, já que foi explicado que nenhuma das palavras e expressões podem explicar os conceitos espirituais e Divinos que estão além do espaço e tempo ilusórios, então nós temos uma linguagem especial para estes conceitos, que é a Linguagem dos Ramos em relação a suas Raízes elevadas correspondentes.

No entanto, embora esta linguagem não apenas seja muito mais apropriada para seu propósito de discussão do estudo desta sabedoria do que as linguagens normais, como explicamos acima, isto apenas se aplica aos casos onde o próprio ouvinte é sábio e entende por si só. O ouvinte conhece e entende a correlação entre as raízes e seus ramos, porque estas correlações não se tornam claras de forma alguma do inferior ao superior, que significa que ao examinar os ramos inferiores é impossível tirar quaisquer conclusões sobre a forma de suas Raízes Superiores
correspondentes.

Muito pelo contrário, o superior nos ensina sobre o inferior. Primeiro a pessoa deve entender puramente as Raízes Superiores como elas são em seu estado espiritual além da imaginação, mas com percepção pura (como foi explicado na Seção acima – A Realidade da Sabedoria da Cabalá). Uma vez que entenda claramente as Raízes Superiores por si só, pode examinar os ramos físicos neste mundo e entender como cada ramo se relaciona a sua raiz correspondente no Mundo Superior, em todo aspecto de qualidade e quantidade.

E uma vez que a pessoa saiba e entenda tudo isto bem, ela tem uma linguagem em comum com seu professor, a Linguagem dos Ramos, através da qual o Cabalista pode transmitir todo seu estudo da sabedoria sobre os Mundos Superiores Espirituais, tanto o que recebeu de seus professores, quanto a expansão nesta sabedoria que ele próprio descobriu, já que eles agora têm uma linguagem comum e eles entendem um ao outro.

Porém, quando o estudante não é sábio e não pode entender esta linguagem do relacionamento de raiz e ramo por si só, é óbvio que o professor não pode explicar mesmo uma palavra desta sabedoria espiritual, muito menos discutir o estudo desta sabedoria com ele. Neste caso eles não tem linguagem em comum para usar, e eles são como aqueles que são mudos. Portanto, é evidente que não se deve ensinar a Merkavá, que é a sabedoria da Cabalá, exceto àquele que é sábio e compreende por si só.

Além do mais, nós precisamos perguntar: Se isto é assim, então como o estudante se torna sábio o suficiente para reconhecer os relacionamentos entre ramo e raiz se não for estudando as Raízes Superiores? A resposta é que nenhuma pessoa pode ajudar nisto. Nós precisamos da ajuda divina. Aquele que merece encontrar graça nos olhos de Deus será naturalmente preenchido com a sabedoria, entendimento e conhecimento, para ser capaz de atingir a percepção divina. Nenhum ser humano pode ajudar com isto, mas uma vez que a pessoa encontrar graça aos olhos de Deus e merecer esta percepção divina, estará preparada para vir e receber toda a gama da sabedoria cabalística da boca de um Cabalista, já que agora eles têm uma linguagem comum, e não de outra forma.

TERMOS ESTRANHOS AO ESPÍRITO HUMANO

De tudo que nós explicamos acima, você pode entender certas coisas que aparecem nos Livros Cabalísticos, nomes e definições que são muito estranhas ao espírito humano. Elas são muito comuns nos livros básicos de Cabalá, O Zohar, o Tikunei Zohar e os livros do Ari, que faz a pessoa perguntar porque estes sábios escolheram usar tais nomes inferiores para expressar estes conceitos elevados sagrados.

No entanto, uma vez que você entender as ideias mencionadas acima você entenderá a verdade do assunto, pois já foi clarificado que é impossível explicar esta sabedoria com qualquer linguagem no mundo exceto pela especial Linguagem dos Ramos em correlação às suas Raízes Superiores correspondentes.

Portanto, é óbvio que nós não podemos rejeitar qualquer ramo ou manifestação de um ramo devido ao seu nível inferior e não usá-lo para expressar a lição a ser aprendida dele em termos desta sabedoria, já que nenhum outro ramo pode tomar seu lugar.

Assim como dois fios de cabelos não podem brotar do mesmo folículo, dois ramos não podem se relacionar a uma raiz. Assim, se nós abandonarmos uma manifestação e não usarmos ela, nós não só perdemos o conhecimento espiritual com que se relaciona ao Mundo Superior, porque nós não temos outra palavra em lugar daquela que indica esta raiz, mas isto também interfere com todo o campo da sabedoria com tudo que a engloba, já que estamos perdendo um elo na cadeia de toda a sabedoria conectada com aquele conceito.

Portanto, vemos que isto cria um defeito em toda a sabedoria. Não há outra sabedoria entre as sabedorias do mundo em que conceitos são tão interconectados como Causa e Efeito, como na sabedoria da Cabalá, que é interconectada de um fim ao outro como uma longa cadeia, de forma que se uma peça do conhecimento estiver faltando, toda a Luz da Sabedoria se torna escuridão, já que todos os aspectos dela são fortemente conectados um ao outro assim como unificados absolutamente em um.

Agora não há necessidade de se perguntar porque nomes estranhos são usados, já que eles não têm liberdade de escolha ao usar estes nomes e não podem trocá-los. Ao invés, eles sempre foram necessários para se referir ao ramo ou manifestação exata que indica a raiz superior correspondente, como completamente necessário, e eles também tiveram que expandir nestas coisas até que eles fornecessem uma definição suficientemente precisa para seus companheiros leitores.

REVELANDO UMA PORÇÃO, OCULTANDO DUAS

Do livro “Cabala Para o Estudante”

Há uma expressão que os grandes sábios usam quando revelam algo profundo. Eles  começam seu discurso com as palavras: “Estou revelando uma porção ocultando duas”. Nossos antigos sábios eram muito cuidadosos para não utilizar palavras desnecessárias, assim como nos ensinaram que: “Uma palavra é uma rocha, e o
silêncio duas”. (Megilá 18a; e Introdução ao Zohar, verso 18).

Isto significa que se você tiver uma palavra que tem valor de uma rocha, saiba que não falar esta palavra vale duas rochas. Isto se refere a aqueles que proferem palavras desnecessárias que não tem conteúdo ou uso no contexto dado, e somente usam para construir uma linguagem mais atrativa ao leitor. Isto foi estritamente
proibido aos olhos dos nossos sábios, como é claro para quem examina suas palavras.

Então, nós precisamos prestar atenção para entender estas expressões que foram utilizadas por eles tantas vezes.

TRÊS TIPOS DE OCULTAÇÃO DA SABEDORIA

Existem três tipos de partes ocultas nos segredos da Torá, e cada uma tem sua própria razão de estar oculta. Elas são chamadas pelos seguintes nomes:

1) O Desnecessário
2) O Impossível
3) Os Segredos de Deus são para aqueles que O temem

Não existe nem mesmo um minúsculo detalhe desta sabedoria que não possa ser explicado por estas três frases, e eu os explicarei um de cada vez.

1. O DESNECESSÁRIO

Isto significa que nenhuma utilidade irá advir por sua revelação. Obviamente não há nenhuma grande perda ao fazer isto pois é só uma questão de ser cuidadoso, devese evitar àquelas ações definidas como “e daí?” que significa, “Quem se importa se eu fiz isto ou não, se não houve nenhum mal nisso?”

Você deve saber que o: “e daí?” é considerado pelos sábios como ser a coisa mais destrutiva de todas. Isto é porque todos os destruidores no mundo, aqueles que existem e irão existir, são o tipo de pessoa “e daí?”. Isto significa que eles ocupam a si mesmos e aos outros com coisas desnecessárias. Por esta razão, os sábios no passado não aceitavam nenhum estudante antes de eles estarem certos que ele seria cauteloso em seus caminhos, para que não revelasse o que não era necessário.

2. O IMPOSSÍVEL

Isto significa que a língua não os instiga a dizer nada a respeito de suas qualidades, devido à sua extrema sublimidade e espiritualidade. Nestes casos, quaisquer tentativas de colocá-los em palavras somente vão confundir o pesquisador e colocálo em um caminho falso, que é considerado o mais grave dos pecados. No entanto, revelar qualquer coisa nesta categoria requer uma especial “Permissão do Alto”, que é a segunda parte da ocultação da sabedoria. Mas mesmo essa permissão requer explicação.

PERMISSÃO DO ALTO

Isto é explicado no livro Sha’ar MA’amarei Rashbi (O Portão das Palavras do Rashbi) pelo Ari, na Parashat Mishpatim, página 100 do Zohar. Ele diz o seguinte, “Saiba que algumas das almas dos justos eram do tipo da Luz Circundante, e algumas do tipo da Luz Interior. Aquelas que eram do tipo da Luz Circundante tinham o poder de
falar dos segredos da Torá pela forma da ocultação e intimação, assim suas palavras seriam entendidas apenas pelos dignos de entendê-las.

A alma de Rabi Shimon Bar Yochai era do tipo da Luz Circundante. Por isso, ele tinha o poder de vestir as palavras e ensiná-las de forma que mesmo se ele ensinasse à muitos, apenas os dignos de entender entenderiam. É por isso que ele recebeu a “permissão” para escrever O Livro do Zohar.

A permissão não foi “concedida” para escrever um livro nesta sabedoria aos seus professores ou aos primeiros que precederam eles, mesmo que eles certamente fossem mais proficientes nesta sabedoria que ele. Este é o significado do que está escrito “Bar Yochai sabia como guardar seus caminhos”. Agora você pode entender a grande ocultação no Livro do Zohar, escrito pelo Rashbi, que nem toda mente pode entender suas palavras”.

Suas palavras em essência: A explicação dos assuntos na sabedoria da verdade não é dependente de qualquer tipo de grandeza ou pequenez do Sábio Cabalista.

Pelo contrário, é sobre a iluminação da alma dedicada a isto: a iluminação desta alma é considerada “recebida permissão” do Alto para revelar a Grande Sabedoria. Nós portanto aprendemos que aqueles que não foram recompensados com esta permissão não devem fazer clarificações nesta sabedoria, pois eles não podem vestir
estes assuntos sutis em palavras apropriadas de forma que os estudantes não falhem.

Por este motivo nós não encontramos um único livro na sabedoria da verdade que perceba O Livro do Zohar do Rashbi, já que todos os livros na sabedoria antes deste não são categorizados como interpretações da sabedoria. Ao invés, eles são meras intimações, sem qualquer ordem de causa e consequência, como é sabido àqueles que encontram o conhecimento, esta é a explicação de suas palavras.

Eu acrescentaria, baseado no que eu recebi através de livros e autores, que no tempo do Rashbi e seus estudantes, os autores do Zohar, até o tempo do Ari, nenhum dos autores entenderam as palavras do Zohar e dos Tikunim (correções) tão bem como o Ari. Todas as composições que precederam seu tempo eram meras alusões nesta sabedoria, incluindo os livros do sábio, Ramak (Rabi Moshe Cordovero).

E as mesmas coisas que foram ditas sobre o Rashbi podem ser ditas sobre o próprio Ari – ou seja, os antecessores do Ari não receberam Permissão do Alto para revelar as interpretações desta sabedoria, mas o Ari recebeu esta permissão. E também, isto não distingue qualquer grandeza ou pequenez, já que é possível que a virtude dos seus antecessores fosse muito maior que a do Ari, mas eles não receberam a permissão para fazer isto. Por este motivo, eles se abstiveram de escrever comentários que se relacionavam a sabedoria atual, mas estabeleceram breves
intimações que não eram de qualquer forma ligadas uma à outra.

Por este motivo, desde que os livros do Ari apareceram no mundo, todos aqueles que estudam a sabedoria da Cabalá deixaram suas mãos de todos os livros do Ramak, e todos os primeiros e grandes que precederam o Ari, como é sabido entre aqueles que engajam nesta sabedoria. Eles já anexaram suas vidas espirituais unicamente aos escritos do Ari de forma que os livros essenciais, considerados como interpretações próprias a esta sabedoria, são unicamente O Livro do Zohar, os Tikunim e seguindo eles, os Escritos do Ari (Kitvei HaAri).

3. OS SEGREDOS DE DEUS SÃO PARA AQUELES QUE O TEMEM

Isto significa que os segredos da Torá são revelados apenas por aqueles que temem Seu Nome, que guardam Sua Glória com suas mãos e almas, e que nunca cometeram qualquer blasfêmia. Esta é a terceira parte da ocultação desta sabedoria.

Esta parte da ocultação é a mais estrita, pois este tipo de revelação falhou muitos. Do meio daqueles saem todos os encantadores, murmuradores, e Cabalistas “práticos/mágicos”, que caçam almas com sua esperteza, e os místicos, que usam sabedoria seca que vem dentre as mãos dos estudantes indignos, para trazer benefícios corporais para si mesmos ou para os outros. O mundo sofreu muito disto e ainda está sofrendo.

Saiba que a raiz da ocultação foi apenas por esta parte. De lá os sábios tomaram um rigor excessivo ao testar seus estudantes, assim como eles dizem (Hagigá 13), “o princípio dos segredos são dados apenas ao chefe da corte, e para aquele que tem coração cuidadoso”, e “MA’ase Bereshit não é explorado em pares, nem é a Merkavá para ser explorada sozinho”. Existem muitos outros como estes, e todo este medo é pelo motivo acima.

Este é o motivo de existirem tão poucos que tenham sido recompensados com esta sabedoria, e mesmo aqueles que passaram por todos os testes e exames são jurados pelos mais sérios votos para não revelar nada destas três partes.

Não interpretem mal minhas palavras, onde eu dividi a Ocultação da Sabedoria em três partes. Eu não quero dizer que a sabedoria da verdade em si é dividida nestas três partes. Pelo contrário, eu quero dizer que estas três partes
decorrem de cada detalhe único desta sabedoria, já que elas são as únicas três maneiras de examinar esta sabedoria que são sempre aplicadas.

Contudo, aqui precisamos perguntar, “Se é verdade que a firmeza da ocultação da sabedoria é tão estrita, de onde todas as milhares de composições sobre esta sabedoria vem?” A resposta é que há uma diferença entre as primeiras duas partes da última parte. O cargo principal reside apenas na terceira parte acima, pelo motivo explicado acima.

Mas as duas primeiras partes não estão sobre proibição constante. Isto é porque algumas vezes uma questão no “desnecessário” é revertida, deixa de ser desnecessária por algum motivo, e se torna necessária. Também, a parte,
“impossível”, algumas vezes se torna possível. Isto é assim por dois motivos: ou por causa da evolução da geração ou por ser dada a permissão do Alto, como aconteceu ao Rashbi e ao Ari, e a pequenas extensões aos seus antecessores. Todos os livros autênticos escritos na sabedoria emergem destes discernimentos.

Este é o significado da expressão dos sábios, “Estou revelando uma porção ocultando duas”. Eles querem dizer que aconteceu que eles revelaram uma nova coisa que não foi descoberta por seus antecessores. E é por isto que eles implicam que estão apenas revelando uma porção, ou seja, estão revelando a primeira das três partes da ocultação, e deixando duas partes ocultas.

Isto indica que algo aconteceu, que é o motivo para esta revelação: ou o “desnecessário” recebeu a forma de “necessário”, ou eles receberam a “permissão do Alto”, como expliquei acima. Este é o significado da expressão, “Estou revelando uma porção”.

Os leitores destes tratos, que eu pretendo imprimir durante o ano, devem saber que eles são todos inovações, que não são introduzidos puramente como tal, em seu preciso conteúdo, em qualquer livro precedendo o meu. Eu os recebi diretamente “boca a boca” do meu professor, que foi autorizado para isto, ou seja, que ele, também, recebeu dos seus professores “boca a boca”.

E embora eu tenha os recebido sobre todas as condições de cobertura e vigilância, pela necessidade introduzida no meu ensaio, “Tempo de Agir”, a parte “desnecessária” se tornou invertida para mim e se tornou “necessária”. Assim, eu revelei esta porção com permissão completa, como expliquei acima. Ainda que eu mantenha outras duas porções como fui ordenado.

TEMPO DE AGIR

Do livro “Cabala Para o Estudante”

O Messias senta em um portão de Jerusalém e aguarda as pessoas dignas da redenção. Ele está acorrentado, e ele precisa de todas as pessoas para soltar suas correntes. Ele teve mais do que necessitava de adeptos piedosos, agora ele está fervorosamente buscando homens de verdade.

–Dos escritos de Rabi de Kotzk, Não há Nada Tão Completo como um Coração Quebrantado, p. 115

 

Por um longo tempo, a minha consciência me oprimiu com uma demanda para sair e criar uma composição fundamental sobre a essência do judaísmo, da religião e da sabedoria da Cabalá, e difundi-la entre o povo, para que as pessoas venham a conhecer e compreender adequadamente essas questões exaltadas em seu verdadeiro
significado.

Anteriormente, em Israel, antes do desenvolvimento da indústria de impressão, não havia livros enganadores entre nós em relação à essência do Judaísmo, assim como quase não haviam escritores que não tomavam responsabilidade por suas próprias palavras, pela simples razão de que na maioria dos casos, uma pessoa irresponsável não é famosa.

Portanto, se, por acaso, alguém se atrevesse a escrever tal composição, nenhum escrivão a copiaria, porque ele não seria pago pelo seu trabalho, que, na sua maior parte, era bastante considerável. Assim, tal composição estava condenada a ser perdida desde o início.

Naqueles dias, mesmo pessoas instruídas, não tinham interesse em escrever tais livros, pois a população não precisava desse conhecimento. Muito pelo contrário, eles tinham interesse em escondê-los em câmaras secretas porque “É a glória de Deus ocultar algo”. Fomos ordenados a ocultar a essência da Torá e do trabalho daqueles que não a precisavam, ou eram indignos dela, e para não degradála ao exibi-la nas vitrines das lojas para os olhos sedentos da ostentação, porque, assim, a glória de Deus exige.

Mas desde que a impressão de livros tornou-se popular, e os escritores não precisaram de escrivães, o preço dos livros foi reduzido. Isso abriu caminho para escritores irresponsáveis publicarem quaisquer livros que quiserem, por dinheiro ou pela glória. Mas eles não levam as suas próprias ações em conta e não examinam as consequências do seu trabalho.

Daquele momento em diante, as publicações do gênero supramencionado têm aumentado significativamente, sem qualquer aprendizado ou recepção da transmissão “boca a boca” de um Rabi qualificado, e até mesmo sem o conhecimento dos livros anteriores que trataram deste tópico. Tais escritores fabricam teorias a partir de suas próprias cascas vazias, e relacionam as suas palavras aos temas mais exaltados para assim retratar a essência da nação e seu fabuloso tesouro. Como tolos, eles não sabem como ser escrupulosos, nem tem uma forma de aprender isto. Eles instilam opiniões distorcidas para as gerações e, em troca de seus desejos mesquinhos eles pecam e fazem as nações pecar por gerações vindouras.

Recentemente, o seu fedor chegou às alturas porque eles enfiaram as suas unhas na sabedoria da Cabalá, não se importando com o fato que esta sabedoria foi trancada e acorrentada por trás de mil portas até hoje, que ninguém pode entender o verdadeiro significado até mesmo de uma única palavra dela, muito menos a ligação entre uma palavra e outra.

Isso porque em todos os livros genuínos que foram escritos até hoje, há apenas indícios que mal bastam para um discípulo instruído entender o seu verdadeiro significado, da boca de um Cabalista sábio e qualificado. E lá, também,
“a serpente faz o seu ninho, e coloca seus ovos, nascem os filhotes debaixo da sua sombra”. Nestes dias, tais conspiradores se multiplicam, e fazem tais maravilhas que causam desgosto aos que os observam.

Alguns deles chegam tão longe até presumir e assumir o lugar dos líderes da geração, e eles pretendem saber a diferença entre os livros antigos e dizer quais deles são dignos de estudo e quais não, pois são cheios de falsidades, e elas despertam desprezo e indignação. Até hoje, o trabalho de fiscalização havia sido limitado a um em cada dez líderes de uma geração, e agora o ignorante o abusa.

Portanto, a percepção dessas questões pelo público tem sido grandemente corrompida. Além disso, há uma atmosfera de frivolidade e as pessoas acham que um vislumbre em seu tempo livre é suficiente para o estudo de assuntos tão exaltados. Eles deslizam sobre o oceano de sabedoria e a essência do Judaísmo num vislumbre, como aquele anjo, e tiram conclusões baseadas em seu próprio humor.

Estas são as razões que me levaram a sair do meu caminho e decidir que é “tempo de agir” pelo Senhor e salvar o que ainda pode ser salvo. Assim, me encarreguei de revelar um pouco da essência verdadeira, que diz respeito à questão
acima, e difundi-la entre a nação.