A LINGUAGEM DOS CABALISTAS

Do livro “O Livro Aberto”

Palavras e letras provêem um código que aponta para o objeto espiritual e para sua situação exclusiva. Quando um Cabalista lê o que outro Cabalista escreveu, pode reconstruir o texto e sentir exatamente o que seu colega Cabalista queria dizer, da mesma maneira que um músico pode reconstruir uma peça musical, que foi escrita por um outro compositor há 500 anos atrás, através de notas, ou, da mesma maneira que representamos os sinais matemáticos com símbolos que são números.

Suponhamos que encontremos uma criatura do espaço sideral, e que ela  fale nossa língua, ou seja, ela usa nossas palavras, mas o conteúdo que ela atribui a elas é completamente diferente; podemos ainda chamá-la de “nossa língua”? Para aprende-la teríamos de saber o que essa criatura quer dizer com aquelas palavras conhecidas. Os Cabalistas também podem transmitir o conhecimento uns aos outros em nossa língua, mas nas palavras há um conteúdo completamente diferente que aponta para uma sensação, um ato ou uma obtenção do resultado “correto”. E isso é porque eles possuem sensações em comum e uma base em comum para estas realizações. A linguagem deles em nosso mundo é a linguagem dos ramos, na qual cada nome aponta para um objeto espiritual específico que simboliza.

Quando os Cabalistas utilizam um nome de nosso mundo, eles vêem a raiz do mundo superior que permanece atrás dele de maneira bem clara. A completa diferença entre nós e os Cabalistas é que, quando lemos os livros de Cabalá, vemos imagens de nosso mundo diante de nossos olhos que são completamente diferentes daquilo que o Cabalista que escreveu queria expressar, enquanto que quando um Cabalista lê o livro, ele vê as raízes espirituais do mundo superior nas palavras. É por isso que muitas vezes encontramos em livros de Cabalá palavras que parecem inapropriadas para termos espirituais, tais como: beijo, coito, abraço, vagina, útero. É claro que o significado espiritual delas não é o significado espiritual  que atribuímos às palavras em nosso mundo. Mesmo uma pessoa não familiarizada com a sabedoria da Cabalá concordará facilmente que esta área está acima de nossa razão. De acordo com nosso entendimento, a espiritualidade não pode advir de tais desejos egoístas desprezíveis e do uso de uma linguagem mundana como essa, então como é que encontramos expressões tão “vulgares”que quase nunca usamos mesmo em nossa vida cotidiana?

A questão é que: uma vez que os Cabalistas escolheram as palavras da “linguagem dos ramos” para a descrição dos objetos espirituais, eles não podem trocar uma palavra por outra ao seu bel prazer. Eles devem usar as palavras que indicam precisamente aquelas raízes superiores, e não podem abandonar sequer uma única palavra só porque parece vulgar ou imprópria. Da mesma maneira que dois fios de cabelo não podem crescer da mesma raiz, assim dois ramos não podem originar-se da mesma raiz espiritual. Toda criatura tem a sua própria raiz superior, e não pode ser substituída por outra.

Cada objeto em nosso mundo possui uma raiz superior que tem o mesmo nome. Não podem existir duas raízes diferentes com o mesmo nome, assim como duas criaturas separadas em nosso mundo não podem ter o mesmo nome, porque são diferentes no mínimo em alguma coisa, senão seriam a mesma coisa. Cada objeto ou fenômeno da natureza precisa ter um nome específico e, uma vez que tenha sido dado, aquele não pode ser chamado por nenhum outro nome.

Se trocássemos as palavras “obscenas” por outras, quebraríamos a firme conexão entre o ramo e sua raiz superior. Não saberíamos qual objeto relacionaríamos a qual palavra escrita, porque não existe outra ciência no mundo com uma correlação tão perfeita entre a raiz e o ramo. Os Cabalistas são pessoas que atingem aquelas raízes; eles percebem claramente aqueles “fios” que não podemos, que ligam a raiz ao seu ramo abaixo.

Do começo ao fim da criação, existe um processo contínuo de correção e elevação, em conformidade com um plano que desce do mundo superior e que  nos ordena tudo. Toda criatura percorre seu próprio caminho nesse processo coletivo, e nenhum “eu” desaparece neste processo. Ele pode adotar diferentes formas, mas sempre se mantém.

É claro que num sistema complexo assim você não pode trocar um nome por outro. Para escolher uma “linguagem código” exata é preciso que seja aplicável sob qualquer condição – ou seja, sempre usar a palavra que aponta para sua raiz superior, como nos livros autênticos de Cabalá. As pessoas que escreveram esses livros atingiram as raízes e estavam em tais níveis espirituais dos quais nos proveram com definições precisas. É por isso que sua linguagem descreve os mundos superiores com absoluta precisão. Aprendemos com isto que livros que são escritos por pessoas que se auto-intitulam “Cabalistas” são inúteis e apenas enganam e desviam o leitor do entendimento e do avanço no caminho certo.

Todos os termos que encontramos em livros de Cabalá, tais como: beijo, coito, vestir/ornar, expansão, carne, circuncisão, etc.; todos falam das raízes superiores e de maneira alguma sobre processos terrestres. Elas são chamadas assim simplesmente porque é impossível encontrar outro nome que apontará para aquela raiz superior em nossa linguagem, e não porque os processos nas raízes superiores de alguma maneira se assemelham aos do nosso mundo. Não devemos imaginar corpos sublimes se unindo ou se beijando.

Por causa disso, é bastante difícil para uma pessoa, que não sabe como traduzir as palavras para a linguagem espiritual, ler os livros de Cabalá, e isso se aplica à Torah (Bíblia) também. Nas lendas e na Torah e principalmente no Cântico dos Cânticos (que parece falar do amor conforme o entendemos) é bastante difícil distinguir entre o significado comum que atribuímos às palavras e o significado espiritual delas, porque existe uma sólida conexão entre as palavras e nossas emoções. (A propósito, é mais fácil para aqueles dos quais a língua materna não é  o hebraico, porque eles não conectam diretamente as palavras hebraicas com suas emoções).

Com o tempo, aquela conexão é rompida no estudante e, gradualmente, ele cria uma nova conexão, de acordo com o seu trabalho e esforço para sentir os conceitos espirituais que permanecem por trás da linguagem dos ramos. Um leitor comum da Bíblia, ou da Guemará, não pode simplesmente se libertar do significado familiar das palavras que ele conhece, que de fato existem para coisas que são completamente desconhecidas para ele. O problema todo é que a Torah é compreendida corretamente apenas por um punhado de pessoas, contudo a própria Torah declara: “A Torah toda é os nomes do Criador.” Mas o que isso significa?

Damos nome a um objeto de acordo com seus atributos, depois de os ter atingido e de saber qual é sua essência. Quando um Cabalista ascende com seus sentimentos ao mundo espiritual, ele começa a sentir a revelação do Criador, de Suas ações, de Seus atributos, do Próprio Criador, e ele dá nome ao que ele sente. Apenas uma pessoa que pode sentir o Criador pode dar nome a Ele. O nome não resulta da leitura de um livro. O Cabalista chama o Criador por um nome quando não O sente menos do que sentimos algo em nosso mundo.

É por isso que a expressão: “A Torah toda é os nomes do Criador” significa que a revelação da Torah é apenas para aqueles que se elevam em suas sensações espirituais e podem sentir o Criador.

A luz que o Cabalista recebe é chamada de Torah. Apenas as pessoas que atingem as raízes, ou seja, os Cabalistas, podem perceber facilmente o que está por trás das palavras da Torah. É assim também que nossos livros sagrados são  escritos, esse é o porquê deles serem sagrados. Eles falam da Divindade, sobre o mundo do Criador.

Um Cabalista é chamado de acordo com o nível mais alto que ele atinge – a revelação mais alta do Criador que ele atinge define seu nome. Por exemplo: aprendemos que um partzuf (um objeto espiritual) é chamado de acordo com o  tipo de luz em sua cabeça. Se for a luz da sabedoria, é um partzuf da sabedoria (Hochma), se a cabeça contém a luz da misericórdia, ele é chamado de partzuf Bina. Em nosso mundo também, chamamos a pessoa de acordo com sua maior realização, por exemplo: Professor, Doutor, etc.

É quase impossível entender os livros de Cabalá, porque eles foram escritos com termos do nosso mundo. É dito sobre o primeiro homem que foi criado pelo Criador, que ele era um ladrão, sobre a esposa de Moisés – “mulher vulgar”, sobre Labão (que é na verdade a luz da sabedoria, a luz superior), que era um “impostor”. Simplesmente não compreendemos o real significado espiritual por trás das palavras já conhecidas. Toda língua possui sua própria raiz, assim como tudo em nosso mundo, mas há com certeza uma diferença entre uma raiz espiritual e a outra. No final da correção, aquelas diferenças espirituais desaparecerão, mas, até então, existirão raízes superiores e raízes inferiores, mais importantes e menos importantes.

O mundo é construído como uma pirâmide espiritual, e, até o final da correção, não seremos todos iguais em relação ao mundo espiritual, e não poderemos determinar a posição de uma pessoa que se envolve na correção espiritual por sua aparência. Aquele que está mais próximo de adentrar o mundo espiritual pode ter um caráter pior, mas está mais familiarizado com seus atributos, com a inferioridade de sua natureza. Aqueles que estão mais distantes  da entrada do mundo espiritual têm atributos mais agradáveis. Precisamos lembrar que estamos apenas falando de pessoas que estão trabalhando em sua correção espiritual. Com relação a uma pessoa que não está estudando Cabalá não há nada a dizer em qualquer caso, porque elas ainda não podem sentir nada real, porque não possuem uma escala espiritual para se compararem. Por esta razão, há uma diferença entre a espiritualidade das raízes superiores e os ramos em nosso mundo. Então, qualquer língua pode ser escolhida como linguagem dos ramos?  De fato, toda língua possui sua própria raiz superior, mas o hebraico é a única língua da qual conhecemos o código espiritual. O mundo foi criado por suas  letras, e toda palavra expressa a essência do objeto.

É por isso que a Torah foi “dada” em hebraico. Nos mundos superiores não existem letras, mas os atributos espirituais nos foram descritos na forma de letras hebraicas.

O ARI, o grande Cabalista de Zefat (cidade hebréia), descreveu o mundo espiritual através de dez sefirot. Ele explicou as razões para tudo que acontece no mundo espiritual através de uma tela e da luz superior, o que permite que qualquer iniciante estude Cabalá. Antes do ARI, todos os livros eram escritos na linguagem  das  lendas  ou  midrash,  como  o  Zohar.  Até  então,  os  Cabalistas escreviam seus livros como uma história que contava sobre o que percebiam no mundo espiritual, e não como uma descrição científica do que acontece lá, por meio da extensão da luz de cima para baixo, ou das cinco fases no vaso e a tela que se reveste sobre ele. Você poderia dizer com certeza que existiram Cabalistas que atingiram níveis mais elevados que aquele do ARI, mas ele foi o primeiro ao qual foi dada permissão de cima para transmitir para nós toda a sabedoria da Cabalá. Baal HaSulam, Rabino Yehuda Ashlag, interpretou todas as partes dos escritos do ARI que precisavam ser privadas de termos de tempo, espaço e movimento.

Como então, Baal HaSulam refinou a linguagem a um determinado nível que agora não há lugar para a materialização da espiritualidade? Ele “apenas” explicou as dez sefirot, e nada mais. As primeiras nove sefirot descrevem como o Criador se relaciona com a criatura, e a última sefirah é Malchut – a própria criatura. Não há nada em toda a criação além da inclusão do Criador na criatura.

No seguinte exemplo tentaremos entender melhor o que é a “linguagem  dos ramos”. Por exemplo: alguns cientistas medem um determinado nível de influência que o mundo externo tem sobre uma determinada pessoa, através de instrumentos que eles conectam aos órgãos sensoriais e ao coração dela, que é o vaso de recepção dela para a reação. Desta maneira, constroem tabelas e gráficos que expressam a dependência entre as reações internas dela e os estímulos externos. Depois, conectam a fonte de sinais elétricos ao corpo dela e os enviam à sua mente, como se viessem da fonte real. A pessoa não sente nenhuma diferença, ela recebe os sinais como se viessem da fonte verdadeira. Eles dão nomes técnicos aos experimentos: você envia este e aquele sinal e obtém esta e aquela reação. É assim que um dicionário científico é criado. É assim também que Cabalistas- cientistas agem. Eles realizam experimentos com o efeito da luz do Criador (a única fonte de todas as emoções) sobre eles mesmos, e depois descrevem suas reações.

O Cabalista é tanto o pesquisador como o objeto sendo pesquisado ao mesmo tempo. É por isso que ele pode descrever seus sentimentos nos termos de uma ciência exata, e não apenas através de uma expressão emocional tal como  uma poesia ou uma música. É por isso que a Cabalá é chamada de “a sabedoria da verdade”, ou a “Torah da verdade”.

Em uma pessoa em nosso mundo que ainda não atingiu o mundo espiritual existe um vaso espiritual em seu coração chamado de “ponto negro”. É um ponto espiritual que não está fisicamente no coração, mas é apenas sentido através dele. Se uma pessoa estuda Cabalá com os professores corretos, ela lentamente começa  a desenvolver aquele ponto para se tornar um vaso completo, um partzuf espiritual. É como se ela expandisse aquele ponto, o inflasse e criasse um espaço nele, no qual depois ela receberá a luz espiritual – a sensação do Criador. A sensação do Criador é chamada de “luz” e o partzuf espiritual é o “vaso” que pode recebe-la. O tamanho do partzuf determina o nível espiritual do Cabalista. Um nome na Cabalá tal como Moisés é usado para indicar um nível, que Moisés, o Cabalista, atingiu. Qualquer um que atingir aquele nível também será chamado por aquele nome. A Cabalá não lida de maneira alguma com uma descrição do corpo físico. Apenas a medida da revelação do Criador determina a estatura do nível espiritual de um Cabalista. Quando um Cabalista lê um livro de Cabalá, ele sabe o que precisa fazer para se elevar espiritualmente. As ações que ele realiza no corpo espiritual são chamadas de “mitzvot”. Elas são ações espirituais – “desejos do Criador” que precisamos seguir para atingirmos a luz e sentirmos o Criador.

É por isso que os livros do Baal HaSulam podem ser estudados sem nenhum perigo de se materializar os conceitos espirituais, sem se imaginar objetos físicos que agem um sobre o outro. Não afetamos o mundo espiritual através do cumprimento físico das mitzvot. Não existe conexão entre nossas ações físicas e o mundo espiritual. A severidade da proibição da idolatria se refere à materialização da espiritualidade e não ao curvar-se diante de algum pedaço de madeira ou pedra. Tais coisas sequer são um tópico para discussão. A idolatria é a materialização dos termos espirituais, como se forças espirituais se vestissem em nosso corpo, ou num pedaço de carne. Por causa desse perigo houve a proibição do estudo da Cabalá. Baal HaSulam transmitiu a sabedoria em seus livros de uma tal maneira que qualquer um pudesse entende-la sem materializar os conceitos espirituais. Antes da sua época, as pessoas ainda não estavam prontas para aceita- la, e a Cabalá foi escondida. De fato, o propósito do desenvolvimento da humanidade é leva-la a sentir e a aceitar que existem coisas que não podemos sentir, mas que existem; que são invisíveis, contudo grandiosas, que pode haver existência além do tempo e do espaço.

Isso preparará a humanidade para o pensamento de que uma coisa como a espiritualidade, que não é sentida e nem pode ser descrita, pode todavia existir. Nossa experiência coletiva é tão grandiosa neste momento que estamos mais dispostos do que nunca a aceitar que tudo é possível.

SENTINDO UM OUTRO MUNDO

Do livro “O Livro Aberto”

Os conceitos espirituais são independentes de tempo, espaço e movimento. É por isso que não podemos imagina-los, porque tudo que sentimos existe num contexto de tempo e espaço, e em algum tipo de movimento. Nosso universo, por exemplo, existe em um determinado espaço. Imaginemos: se removermos tudo do universo, o que sobrará? Na espiritualidade não existem corpos, não existe tempo, movimento ou espaço. É por isso que não existe nada em comum entre a espiritualidade e a estrutura de nossa natureza ou nossa emoção. Podemos examinar algo que não sentimos? Por que os Cabalistas dizem que a Cabalá é uma ciência ou uma sabedoria, se o tópico do qual ela trata é inconcebível aos nossos sentidos? Como podemos falar de algo que sequer podemos imaginar? Como podemos compreender o que está escrito nos livros de Cabalá, se a espiritualidade é algo que não podemos começar a imaginar, e como os Cabalistas no entanto a explicam, e com termos do nosso mundo?

Os Cabalistas são pessoas que foram dotadas com a oportunidade de sentir um outro mundo. Apenas aqueles que vêem, sentem e o entendem, são chamados Cabalistas, porque recebem conhecimento e sensações “daquele” mundo.

Mas, porque somos incapazes de sentir qualquer coisa que esteja fora do tempo, espaço e movimento, não podemos sentir o mundo espiritual, e portanto vivemos como cegos. É como se o mundo espiritual existisse sem conexão com nossas emoções. Contudo, está aqui! E, apesar de não podermos imaginar um mundo sem tempo, espaço e movimento, precisamos no entanto aceitar o fato de que esses termos não existem no mundo espiritual. Mas, como então podemos dizer algo sobre o mundo espiritual? Como que um Cabalista pode nos contar   algo sobre o mundo espiritual, se este não possui nenhuma das coisas que temos em nosso mundo? Além do mais, sentimos o nosso mundo apenas através do tempo, espaço e movimento, e todos os nossos termos provém de nossos cinco sentidos.  É  assim  que  criamos  nosso  vocabulário.  Não  podemos  medir nossos sentimentos, que são algo pessoal, particular; não podemos saber se é bom ou mau, abundante ou insignificante; nós medimos tudo isso em relação a nós mesmos, em relação a nossos desejos pessoais no momento da medição, desprovidos de qualquer valor absoluto.

Além disso, sabemos por experiência que nossos sentimentos podem mudar, e qualquer criatura sente seu mundo de maneira diferente. Estou enfatizando “seu mundo” de propósito, porque cada um de nós tem seu próprio mundo e não podemos comparar e ver quão idênticas são nossas emoções. Todas as criaturas – inanimadas, vegetativas, ou animais – sentem o mundo de maneira diferente. Cientistas descobriram que cada tipo de animal tem sua própria estrutura sensorial, cada espécie vê uma imagem do mundo completamente diferente. Se, por exemplo, pudéssemos nos conectar com extraterrestres, como poderíamos comparar nossas impressões do mundo? Todo nosso discurso é baseado no que sentimos, que já inclui nossos valores subconscientes de “bom e mau” com relação a cada objeto. Representamos algo como “bom” ou “mau” dependendo de como sentimos nós mesmos. Isso é suficiente para nosso “pano de fundo”; compreendemos um ao outro.

Podemos conversar apenas se sentimos que a diferença de pensamento e cultura, ou de modo de vida, não excedem os limites de um consenso geral baseado em percepções comuns. Mas, além dessas limitações em nossos sentidos, porque existem impressões pessoais, mesmo aquilo que podemos sentir é apenas invenção de nossa imaginação e não há como dizermos quão absoluto isso é.

Nossa visão, por exemplo, retrata algo que afeta nossos olhos, então esta impressão limitada e pessoal é incrementada na cabeça, e o que recebemos de  volta de nossas mentes já é sentido como algo que existe fora de nós. É assim que percebemos tudo que podemos ver.

Todas as outras impressões externas também são aceitas em relação aos nossos sentidos, na dependência de suas limitações. Não podemos conhecer e sentir o mundo exterior dentro de nós; apenas uma determinada quantidade de influência em nossos sentidos, mas isto não é nada mais do que o reflexo de nossos sentidos a alguns dos fatores externos que eles sentem. Temos de entender que nossa linguagem bela, rica e criativa descreve apenas uma minúscula porção da realidade, pela qual somos impressionados de alguma maneira. Mas se este é o caso, como podemos descrever em nossa própria linguagem, que é baseada em sensações individuais de nosso mundo, os vários conceitos do mundo espiritual? Mesmo se tomarmos a palavra mais pura de nosso mundo – luz – que parece estar mais perto da espiritualidade, veremos que ela também se refere a uma idéia corpórea tal como a luz do sol, ou a uma mente iluminada, que não tem nada a ver com a Divindade.

A propósito, a luz é o fenômeno mais mal interpretado até em nosso mundo, a despeito de todas as teorias físicas. Foi o RAMBAM que escreveu que todo o nosso universo está abaixo da velocidade da luz, e que acima daquela velocidade existe um outro mundo. Numa outra explicação dessa palavra, a descrevemos como prazer, ou como a iluminação da mente. Mas, se escolho minhas palavras de acordo com minhas emoções e as passo para outra pessoa, que por sua vez as interpreta de acordo com sua compreensão, como podemos comparar as sensações que atribuímos à mesma palavra? Qual é a base comum através da qual podemos comparar nossas informações sensoriais? E, porque não podemos comparar nossas emoções com precisão alguma (e quem sabe se a psicologia e a psiquiatria chegarão alguma vez a essa compreensão), somos compelidos a utilizar termos sem antes comparar as emoções que trazem a nós. Não é necessário que minhas emoções sejam as mesmas que as suas. O que eu faço desperta algo similar em você… e essa é toda a linguagem dos Cabalistas.

A LINGUAGEM DO MUNDO ESPIRITUAL

Do livro “O Livro Aberto”

Se, mesmo no mundo espiritual, somos incapazes de expressar nossas emoções um ao outro, como então podemos utilizar a linguagem para descrever a espiritualidade? Além do mais, o mundo espiritual é um mundo de desejos, ele não ocupa espaço ou tempo, apenas desejos sem qualquer substância. Além disso, os Cabalistas nos contam que essas emoções são bastante precisas e portanto requerem uma linguagem completa e exata para descreve-las.

Como podemos expressar em nossa linguagem tais conceitos precisos como observações sutis na Divindade? Uma descrição do mundo espiritual é uma descrição da alma humana, uma descrição das fases de introdução da alma no Criador, e da crescente intensidade de suas emoções. A Cabalá divide a alma coletiva em partes, dá um nome a cada parte de acordo com seus atributos, e descreve os relacionamentos entre elas e o mundo exterior.

Esse é o poder da linguagem da Cabalá. Ela descreve emoções numa maneira precisa que até permite o uso de tabelas, gráficos e fórmulas. Podemos dizer que a sabedoria da Cabalá é a engenharia da alma. Mas como podemos superar as imprecisões de nossa língua para que a usemos em investigações precisas assim?

Experimente e atribua um símbolo exclusivo ao seu humor, compare-o graficamente com o humor de mais alguém, expresse todas as nuances de suas emoções em números: a dependência entre a falta de confiança e a fadiga, o seu humor quando você se sente faminto, a força dos medos durante o dia. Não podemos medir precisamente nossas emoções em nosso mundo. Por exemplo: a relação entre tocar um corpo quente e a reação do cérebro a isso depende, entre outras coisas, de fatores tais como o humor, a condição de saúde, a aptidão física e outros. Não podemos comparar por porcentagem, ou por qualidade ou quantidade, o prazer que obtemos da música ou de uma iguaria agradável. Se nossa linguagem é pobre, subjetiva e imprecisa desse jeito, por que os Cabalistas a adotaram para descrever as ações espirituais, e por que não inventaram uma linguagem especial, especialmente apropriada para esse propósito?

Na ciência comum, por exemplo, fazer mau uso de um termo leva a más interpretações. Um especialista que conhece a linguagem daquela ciência não entenderá de onde os resultados foram obtidos e irá considerar errada a  conclusão, e a pessoa que não conhece aquela linguagem irá considerar aquilo verdadeiro e cometerá erros. O mesmo se aplica à sabedoria da Cabalá: quando uma pessoa começa a descrever coisas que parecem estar acontecendo no mundo espiritual com palavras de nosso mundo, ou cria seus próprios termos, não podemos falar de qualquer nível de credibilidade.

É por isso que os Cabalistas escolheram a “linguagem dos ramos” para ser a linguagem da Cabalá. Essa linguagem é baseada no fato de que toda a criação em nosso mundo – inanimada, vegetativa, animal e falante, e tudo que acontece a elas no passado, presente e futuro, e toda a criação como objetos individuais e seus comportamentos, todos se desenvolvem a partir do Criador e descem através de todos os mundos espirituais, até aparecerem em nosso mundo. Tudo em nosso mundo começa necessariamente no mundo superior e então desce ao nosso mundo nível após nível. Por tudo em nosso mundo resultar do mundo superior, existe uma conexão específica entre a causa, que é a raiz no mundo superior, e o efeito em nosso mundo. Os Cabalistas são aqueles que encontram a conexão entre a raiz no mundo superior e o ramo neste mundo. Eles são aqueles que podem dizer com precisão o quê está conectado ao quê, porque vêem a raiz superior da qual aquela conexão provém, como também o resultado da raiz superior, o ramo que recebe do superior sem saber e é conduzido por ele. Por causa disso, os Cabalistas podem indicar as raízes com precisão através de suas conseqüências corpóreas (os ramos) em nosso mundo.

É por isso que a Cabalá recebeu o nome “a linguagem dos ramos” e o nome “a linguagem das raízes”. A raiz superior é chamada de acordo com o ramo e não  o contrário. Dessa maneira, os Cabalistas inventaram a linguagem que descreve de maneira precisa o mundo espiritual. É a única linguagem capaz de conectar o mundo espiritual ao nosso mundo com palavras que podemos entender.

Disso provém uma lei essencial sobre como se relacionar com os livros de Cabalá e com toda a Torah: precisamos lembrar de uma vez por todas que todas as palavras nos livros de Cabalá apenas são palavras de nosso mundo, mas não a interpretação que costumamos dar a elas em nossa linguagem. O que está por trás dessas palavras são objetos espirituais, raízes, que de maneira alguma pertencem ao nosso mundo. Precisamos sempre nos lembrar disso, para nunca nos confundirmos.

O PROPÓSITO DA REENCARNAÇÃO DE ACORDO COM O ZOHAR

Do livro “O Livro Aberto”

O livro do Zohar – um livro complexo e profundo – contém a sabedoria da Cabalá em sua inteireza. Ele nos fala sobre o caminho completo pelo qual a pessoa tem de passar desde o momento em que sua alma se encontra em um corpo físico; sobre o período em que a pessoa vive junto com a alma no mundo físico, e sobre como aquela termina sua vida, e continua a existir como alma sem corpo, e como esta desce a este mundo novamente. Portanto, vários ciclos de vida passam e nós o chamamos de “reencarnações” da alma.

O Zohar explica que propósito dessas reencarnações, desses retornos repetitivos a este mundo, é trazer o homem a um estado no qual sinta o mundo completamente, e não só este onde está vivendo neste momento.

O Zohar declara que além de nosso mundo existe um outro mundo – muito mais amplo – que apenas os Cabalistas, ou as almas que existem fora do corpo físico, podem sentir. O homem precisa chegar a uma situação na qual ele viva em ambos os mundos simultaneamente. Isso dá a ele a habilidade de ser mestre de  seu próprio destino, de planejar seu futuro e não ser influenciado pela vida e a morte do seu corpo biológico, mas ao invés disso de estar conectado com sua  alma.

O Zohar fala do caminho pelo qual cada alma tem de passar  separadamente, e do caminho pelo qual todas as almas passam como  humanidade, começando com a descida da alma ao corpo pela primeira vez, passando por todos os ciclos pelos quais esta alma passa, e terminando no estado onde alma, junto com o corpo, chega a um estado no qual o homem sente sua existência em todo o sistema da criação, e a vida e a morte cessam de existir para ele, e se torna parte ativa de uma completa eternidade. Essa é a situação à qual todos nós precisamos chegar.

A sabedoria da Cabalá afirma que a descida das almas aos nossos corpos prossegue por 6.000 anos, o que quer dizer que começou há 5763 anos atrás, e continuará por 237 anos. Nos anos que restam as almas precisam atingir todo o sistema da criação, aquela sublime forma de existência na qual o homem se identificará com  sua alma e não com seu corpo.

Todos os Cabalistas escreveram em seus livros sobre a singularidade da época em que vivemos. Eles falaram sobre como gradualmente, por milhares de anos, as almas descem e se vestem nos corpos de nosso mundo, acumulam uma certa quantidade de experiência e sobem de volta ao mundo superior. Depois elas descem de novo a este mundo para se vestirem em novos corpos, e assim por diante.

Assim, as almas gradualmente acumulam experiência que as faz vir estudar a sabedoria da Cabalá, através da qual elas atingirão o mundo superior. De acordo com os Cabalistas, isso acontecerá quando o último exílio dos judeus terminar. O ano 5755 (1995) foi marcado pelos Cabalistas como um ano bastante especial; um ano que é um alicerce histórico do qual começa uma mudança genuína no relacionamento do homem com o mundo, em seu relacionamento com a sabedoria da Cabalá, no relacionamento com seu destino.

Essa mudança é conseqüência de um processo de evolução pelo qual o homem tem passado que o compele a se comprometer com a liderança da criação, a ter um papel ativo nela, a ascender ao mesmo nível no qual será mestre e guardião do mundo todo. Se ele não aspirar por isso, então a lei coletiva da criação fará com que ele faça isso através de tormentos, que o forçarão a pensar sobre questões tais como: “Para que estou vivendo?” “Para que existo?” – e a examinar o propósito de sua vida e a perguntar por que está vivendo tão miseravelmente.

Assim, todos começarão a sentir essa questão, ardendo. Ela começará a nos irritar exatamente para nos fazer pensar sobre como controlar nosso destino. As pessoas nesta geração estão começando devagar, de acordo com o nível de desenvolvimento de suas almas, a chegar a uma situação na qual sentem uma grande necessidade de conhecer o propósito da vida. Tormentos, agonia e falta de confiança com relação ao futuro nos compelem a pensar sobre o sentido de nossas vidas. A dor nos pressiona a começarmos a aprender sobre a providência para nos tornarmos a parte mais ativa dela.

É sobre isso que a sabedoria da Cabalá fala, e este é o método que dá ao homem o conhecimento de como tudo que acontece em nosso mundo é gerado em um mundo superior e de lá se estende ao nosso mundo. Somos apenas testemunhas da imagem que se desdobra diante de nós conforme o Criador a planejou.

Se uma pessoa pode sentir o mundo superior, ela sabe o que vai acontecer adiantadamente, e a parte mais importante é que ela pode até determinar o que descerá a ela de cima. Ao estudar Cabalá, a pessoa adquire o conhecimento de como pode influenciar os eventos de sua vida.

Suponhamos, por exemplo, que aquela pessoa encontre uma determinada situação. Como deverá se relacionar com ela? Como deverá entender o que está acontecendo para se relacionar com isso de maneira correta, para que sua reação  se eleve e faça com que os eventos resultantes sejam mais agradáveis e melhores do que o atual?

Nós então vemos que a sabedoria da Cabalá nos ensina não apenas a testemunhar o que vai acontecer, mas ao mesmo tempo a reagirmos a isso para produzirmos bons resultados no futuro. É assim que o sistema de orientação funciona. Ou seja, a pessoa pode sentir o que está acontecendo com ela e o que precisa fazer para determinar sua situação futura.

É possível chegar a tal capacidade apenas através do estudo dos escritos  dos Cabalistas. Os Cabalistas são pessoas que sentem e que residem o mundo superior enquanto escrevem seus livros. Como resultado, as palavras que um Cabalista escreve quando está completamente imerso no mundo espiritual são selecionadas para determinadas ações espirituais superiores. Portanto, uma pessoa que as lê e as expressa, mesmo não entendendo sobre o que as palavras falam, porque ela não está no mundo superior, ainda assim, mesmo inconscientemente, desperta a luz superior sobre si mesma, a força superior que gradualmente a purifica e prepara para um estado no qual ela começa a ver e sentir aquilo sobre o qual ela lê. A leitura e o estudo a partir de livros especiais de Cabalá trazem a pessoa gradualmente a um estado no qual ela começa a sentir o mundo superior, porque é nisso que o estudo é baseado, e é por isso que os Cabalistas escrevem seus livros, para nos ajudar a progredir.

Mas, porque cada um de nós tem apenas um pequeno desejo de atingir o mundo superior, os estudantes de Cabalá formam um grupo para agruparem os desejos e assim aumentarem a influência da luz superior sobre eles, e com isso progridem mais rápido, ou seja, atingem mais depressa a situação na qual eles começam a sentir o mundo superior, e começam a guiar seus próprios destinos.

Assim, em todas as épocas, os Cabalistas têm estudado Cabalá em grupos tais como aqueles do Rabino Shimon Bar-Yochai, autor do livro do Zohar, e do sagrado ARI de Zefat.

SOBRE O MUNDO

Do livro “O Livro Aberto”

Este mundo existe há bilhões de anos, mas a Cabalá não fala de 6.000 anos que normalmente contamos em nosso mundo, mas de 6.000 níveis que descrevem a ascensão da alma de volta à sua raiz, para o lugar de onde veio.

Os 6.000 anos que os judeus contam são a extensão de tempo da descida e ascensão das almas. Ao final dos 6.000 anos, todas as almas deverão estar corrigidas e subir de volta à sua raiz. O mundo em si continuará a existir quando esses 6.000 anos terminarem.

O tempo é apenas uma sensação interna e não existe  por si só. A sensação de tempo é uma seqüência subjetiva de eventos que se concatenam por meio de causa e efeito. Baal HaSulam escreve no Talmud Esser Sefirot (O Estudo das Dez Sefirot) que tempo e espaço são termos que existem apenas em relação aos humanos, que, de fato, o tempo não existe.

No momento em que alguém cruza a barreira entre causa e conseqüência e começa a ascensão espiritual, o presente e o futuro se fundem  em uma coisa só. Até mesmo as leis da física começaram a revelar que existem processos nos quais o fim vem antes do começo, ou seja, que o tempo não passa de um conceito interno, psicológico dentro de nós.

A humanidade foi criada para descobrir seu estado mais elevado, o ponto mais elevado. A obtenção do objetivo depende de com o que nos identificamos: com nossa alma ou com nosso corpo? Isso determina nosso ponto de vista sobre a vida e nosso corpo.

Nossas almas estão unidas em conjunto. Quando uma pessoa descobre o mundo superior, percebe como é forte a união entre ela e as outras almas. No momento, tudo que podemos perceber é o nosso corpo, esse é o porquê de pensarmos que estamos divididos em vários corpos. Mas a alma é uma estrutura que existe em cada um de nós – a mesma alma dentro de todos nós, é por isso  que quando uma pessoa começa a se identificar com sua alma as muralhas entre ela e as outras almas desmoronam porque ela pode ver e sentir que possui algo em comum com todas as pessoas e todas as nações – um corpo espiritual coletivo.

Quando tudo finalmente estiver corrigido, todos estarão unidos em uma alma coletiva, sentindo aquele vínculo e vivendo nele. Se pudéssemos ver o estado futurístico, corrigido, veríamos que não há diferença entre uma pessoa e outra. Tornando-se conhecido ao homem, aquele fato começa a ditar seu ponto de vista ao mundo.

A Cabalá afirma que não é necessário ferir as pessoas para faze-las “boas”, morais, mas devemos abrir seus olhos para como a realidade é construída. Então, naturalmente, elas irão querer sentir-se bem do íntimo de sua natureza egoísta, e por essa razão não prejudicarão uma à outra. A humanidade precisa chegar exatamente a esse estado.

Tudo neste mundo foi criado com um propósito. Não existem coincidências. Todo nosso planeta e o universo inteiro foram feitos de substância corpórea, mas em precisa conformidade com as forças espirituais superiores. Cada detalhe é feito de forças, e cada força espiritual possui um objeto corpóreo que corresponde a ela. É por isso que o homem estuda o espiritual, porque é a origem do mundo corpóreo. O homem começa a entender porque tudo é ordenado como é, porque neste mundo tudo resulta do mundo espiritual.

Além do mais, qualquer força espiritual está ligada a sua conseqüência em nosso mundo. É por isso que quando ascendemos para o mundo espiritual e corrigimos alguma coisa lá, alteramos imediatamente a conseqüência que provém daquela coisa, aqui neste mundo.

Por toda a história da humanidade, a providência compeliu o homem a estudar o mundo à sua volta. Os animais não precisam perceber o mundo, apenas o homem, que precisa perceber o mundo à sua volta simplesmente para existir. O homem precisa descobrir o mundo que o circunda para melhorar sua situação, para sustentar a crescente população, para a alimentar e vestir. O homem precisa evoluir, desenvolver a ciência para saber como tirar proveito da natureza para seu próprio benefício. Sem a ciência, a humanidade teria sido incapaz de sobreviver e permaneceria no nível de não mais do que uma tribo primitiva até hoje. O homem precisa atingir um tal estado no qual é mestre de seu próprio destino, e a natureza não permitirá a ele que permaneça em seu nível bestial. A natureza o obrigará a participar ativamente da liderança do mundo. Essa é a diferença essencial entre o nível de “homem” e aquele de um “animal”.

Diferente da ciência convencional, a Cabalá permite que o homem perceba ou compreenda as forças espirituais apenas de acordo com o nível de correção interna do homem. É por isso que não existe o perigo que a você seja permitido estudar  Cabalá  se  você  for  impróprio  para  isso,  incorreto,  ou  seja,  se  tiver intenções “impuras”. Diferente de outras ciências, na Cabalá ninguém pergunta se você é bom ou mau, ou com que propósito você “invadiu” essa área, como você usará o conhecimento que está para obter, mas o princípio guia é abrir a porta, deixar você entrar e ver por si mesmo. Não existem comissões de investigação na Cabalá para ver quão leal uma pessoa é ao Criador, mas a pessoa adquire a habilidade de interferir na providência de acordo com sua correção. Apenas com os atributos corrigidos Dele, a pessoa pode começar a fazer parte da providência e a se tornar envolvida nas ações desta.

É por isso que é impossível tirar proveito das forças superiores e prejudica- las. Isso contradiz a própria natureza, ou seja, não existe a possibilidade de causar qualquer dano, porque logo que você corrigir sua intenção para melhor, mesmo apenas um pouquinho, você poderá manipular a força superior precisamente naquela medida. É por isso que não existem proibições sobre estudar Cabalá. Ela jamais pode ser usada para infligir dano, e em toda a história humana não existe um só testemunho de um ato como esse.

Os líderes do mundo não são pessoas livres mas são como fios condutores das forças superiores. Eles não podem ser culpados pessoalmente por suas ações, porque de uma forma ou de outra agem conforme lhes é ditado de cima – eles também não são escolhidos por nós. O homem possui a habilidade de escolher apenas quando adentra a espiritualidade, mas antes disso ele é como o resto da humanidade, como um “rebanho de animais.”

SOBRE A ESTRUTURA DA CRIAÇÃO

Do livro “O Livro Aberto”

Para nós, isso ainda é um axioma. Apenas após a correção descobriremos e compreenderemos que existe uma força superior, um Criador, que doa para nós algo chamado de “luz”. Sentimos o Criador e a luz dentro de nós, o vaso espiritual. Algo preenche o vaso (o desejo por prazer, por deleite) – nós – justo  com o prazer que chamamos de luz. Uma combinação de sensações de prazer nos permite imaginar o que o Criador quer de nós. O Criador é a origem da luz.

A luz é o prazer, e o Criador é a origem. Esses são os três fatores da criação. A sensação do Criador é chamada de luz. Assim, a criação pode perceber, mas não compreender inteiramente a perfeição do Criador, porque entende-la no sentido completo da palavra, não como entendemos em nosso mundo (superficialmente, com a mente), significa unir-se espiritualmente, consumar o contato espiritual com o Criador. Entender a perfeição do Criador significa ser perfeito, estar no mesmo nível espiritual que Ele. Se a criação foi feita de tal maneira que recebe prazer em atingir a perfeição espiritual do Criador, conclui-se que a perfeição e a criação não são a mesma coisa. A perfeição é a luz que dá prazer à criação, enquanto que a criação é apenas o desejo de receber prazer.

Se o Criador representa a perfeição espiritual, e quer criar algo, então a criação precisa existir fora dos atributos do Criador, ou seja, incompleta. Isso significa que o único atributo da criação é a falta de perfeição. Mas, se o Criador é perfeito, como Ele pode criar algo que é imperfeito? Ou seja, da mesma afirmação de que o Criador é completo e perfeito se origina a conclusão de que Ele não pode criar nada. Pois, qualquer coisa que Ele criar tem de ser incompleta, e se Ele cria algo incompleto isto significa que Ele mesmo é incompleto. Afinal, é impossível que algo incompleto se origine de algo completo.

Então, afinal, como o Criador criou a criação? Ele criou-a de uma tal maneira que pudesse enfatizar a perfeição Dele. Se o Criador quer dar prazer a alguém, aquele alguém precisa ascender ao nível espiritual do Criador, com todos os atributos da perfeição. Como isso pode ser feito? Por um lado, você tem de criar alguém, e por outro lado, criar aquele alguém de tal maneira que não exceda os limites da perfeição. O que se tem de fazer é criar algo que contradiga sua própria existência. A única maneira de fazer isso é criar uma criação incompleta, conferir a ela uma aspiração espiritual de atingir o nível de perfeição do Criador por si mesma. Se pudéssemos nos referir à criação apenas como um desejo de receber prazer, naturalmente compreenderíamos que ela não é completa. Então perguntaríamos – como que o Criador pôde criar tal coisa? Mas se olharmos para a criação assumindo que ela foi feita assim, de propósito, para que a partir desse atributo oposto compreendesse o estado de perfeição espiritual, então as peças se encaixarão.

Para que cheguemos ao nível espiritual do Criador, através do desejo de receber prazer, temos de saber como usar nosso vaso da mesma maneira que o Criador usa Seus atributos. A criação possui apenas uma coisa: a aspiração por prazer, enquanto que o Criador possui apenas a aspiração de doar.

Em tal caso, é possível atingir o nível espiritual do Criador apenas se corrigirmos nossa natureza. Mas, é impossível inverter nossa natureza para aquela do Criador porque elas se contradizem fundamentalmente. A natureza do Criador é doar, e a natureza da criação, receber. Para que sejamos capazes de ascender ao Seu nível espiritual, precisamos corrigir nossa natureza, ou seja, usar o vaso para doar. Como isso é feito? Quando o Criador preenche o vaso com Sua luz, Ele gera prazer nele, e, junto com isso, induz o surgimento do atributo de doação. É isso que diferencia o homem do restante da criação (espiritual e física). No restante da natureza – inanimada, vegetativa e animal, e em pessoas também (apesar de não todas, é claro) – há apenas o desejo de receber prazeres corpóreos e nada mais. Se obtêm o que querem, chamam isso de prazer. Se obtêm menos do que querem, chamam de dor. Resumindo, um prazer maior ou menor determina a situação de cada um deles.

Mas, existem pessoas que começam sentir – junto com a sensação de prazer – uma sensação extra, aparentemente incompreensível. Elas começam a sentir que há uma força externa que as impulsiona e dirige. À primeira vista, elas não entendem o que essa força é e para onde as conduz, porém, finalmente ela se mostra como um desejo espiritual de doar. E quando aquele atributo começa  a agir o homem perde sua tranqüilidade. É como se ele tivesse abandonado o mundo e sentisse uma necessidade de encontrar algo mais. Ele começa a criticar sua natureza, a si mesmo, a avaliar suas ações e pensamentos através desta outra natureza. Ele descobre que não pode corrigir sua natureza preliminar, mas pode dirigir seu desejo por prazer a outras direções, ou seja, para receber novos atributos – os atributos do Criador – através de sua própria natureza.

A luz dentro dele o faz compreender que existem duas intenções: para mim mesmo e para o Criador; e ele pode trabalhar com ambas.

Como isso ocorre? Pelo fato da luz trazer não apenas prazer, mas conferir uma sensação do doador, uma sensação de que o homem também pode doar. É por isso que uma pessoa começa a sentir que, através de sua aspiração de receber, ela pode trabalhar de ambas maneiras. As pessoas que vivem, trabalham e negociam em nosso mundo não podem entender que, de fato, não estão dando nada a ninguém, apesar de pensarem que doam, recebem, trocam. De fato, elas apenas recebem. Elas apenas não vêem a natureza oposta, da qual a essência é pura doação.

O homem pode entender sua natureza egoísta apenas quando ele começa a sentir a natureza altruísta do Criador. Antes de uma pessoa perceber isso, ela não possui o direito de ser chamada de Ser Humano.

Enquanto estamos em nosso mundo, vivemos através de nossa natureza egoísta. Quando sairmos para o mundo espiritual, entenderemos o que é o egoísmo espiritual, chamado de “casca”. Em nosso mundo, essa casca sequer existe, porque nosso egoísmo está num nível subconsciente. Assim fomos criados e assim vivemos. Quando o indivíduo começa a sentir o Criador, ele recebe a luz espiritual e começa a entender a natureza do Criador, e quão oposta ao homem ela é. Aqui já existe um dilema e liberdade de escolha. Se ele escolhe continuar a trabalhar como antes, isto é, recebendo prazer (agora ele está ciente de que recebe prazer), chamamos isso de receber “não para o nome Dela.” (Essa opção não  existia no passado, ele apenas recebia prazer. Agora que existem duas opções diante dele e ele escolhe receber, isto é considerado uma casca, uma força maligna, contra o Criador, porque ele possui uma segunda natureza, também). E daí o homem começa a realmente receber para si mesmo. Mas se ele escolhe usar sua intenção para se assemelhar ao Criador, isto é chamado de receber “para o nome Dela”, ou seja, usar seu desejo preliminar por prazer numa direção oposta. Assim, o homem utiliza completamente o atributo de doação do Criador, através de seu desejo natural por prazer.

Assim, vemos que para utilizarmos nossa aspiração natural por prazer de maneira correta precisamos primeiro adotar o atributo do Criador, e então seremos capazes de fazermos uma escolha entre doar e receber, ou seja, entre a força boa e a força má. Nós podemos, num certo grau, fazer essa escolha agora mesmo. Mas, até que recebamos o atributo do Criador, estamos dentro da estrutura do egoísmo corpóreo, que nem é considerado egoísmo, porque ainda  não possui o atributo que o contradiz.

Não que isto seja um atributo positivo ou negativo. É simplesmente nossa natureza. Não pode ser avaliado como um atributo positivo ou negativo. O Rabino Ashlag dizia que este mundo é como uma escola dos tempos antigos. Naquele tempo o papel era muito caro, então davam às crianças um quadro e um pedaço  de giz para escrever até que aprendessem a escrever apropriadamente. E, antes de alguém aprender como escrever, ou seja, como se comportar, permanece sob condições restritivas, para que não possa causar dano algum. Se você comete um erro, ele pode sempre ser apagado e o quadro permanece limpo. Então nós, em nosso mundo, podemos fazer o que quisermos. Isto não será considerado como um pecado ou uma mitzvah (N.T.: preceito, mandamento), com relação ao mundo espiritual. Tudo que fazemos neste mundo (falando do ponto de vista da Cabalá, da evolução espiritual individual do homem) não pode sequer ser considerado em um nível espiritual. Está tudo abaixo do nível do mundo espiritual. Apenas quando uma pessoa começa a receber algo além do prazer físico, diferente à sua própria natureza, ou começa a sentir a ausência do atributo de doação, quando ela começa a entender que há algo mais, que é oposto à sua natureza, podemos começar a falar sobre dualismo, liberdade de escolha, sobre a habilidade de direcionar a natureza bestial egoísta na direção da natureza altruísta, sobre preferir uma coisa no lugar de outra coisa. Antes desse momento, a pessoa não é responsabilizada por qualquer coisa que faça, nada pode ser exigido dela, porque, de fato, ela não possui liberdade de escolha. Pecadores, justos, pecados e ações espirituais, todos esses começam apenas em um determinado nível espiritual. Nosso mundo é apenas um lugar de preparação através do qual adentra-se o mundo espiritual.

Como é possível adentrar o mundo espiritual? E faze-lo não após a morte, mas enquanto vivemos aqui? Começar a sentir o atributo do Criador, corrigir e dirigir os desejos atuais, nossos desejos naturais – isso é chamado: adentrar o mundo espiritual. O mundo espiritual significa a adoção dos atributos do Criador. De fato, é tudo bastante simples e não como imaginamos em fantasias infundadas. A recepção do atributo da percepção do Criador é chamada de mundo espiritual, ou de mundo superior, e é só isso! Quando começamos a sentir os atributos do Criador, significa que adentramos o mundo superior. O mundo físico não muda, ele permanece como era. Mas o homem sente forças adicionais dentro de si, porque agora recebeu uma segunda natureza.

Qual é a maneira mais rápida de atingirmos essa segunda natureza, de terminarmos essa “aula”, de aprendermos como escrever sem erros e adentrarmos o mundo espiritual? O que significa aprender como escrever sem erros? O Rabino Ashlag escreve que, a princípio, aqueles que estão prontos para isso são apenas aqueles que têm os sentimentos e intenções corretos, que já obtiveram a percepção do Criador e estão prontos para realizar ações espirituais, enquanto ainda agem neste mundo. Estas pessoas começam a entender que precisam descobrir o mundo espiritual, mas não através de especulações, previsões do futuro, análises do passado, etc., ou seja, coisas que pertencem ao nosso mundo físico. Isto não as interessa mais. O passado e o futuro do corpo físico são irrelevantes para elas. Elas começam a pensar sobre e a analisar algo superior a isso. Não sobre alienígenas de um outro planeta, nem sobre o destino, nada que se refira a este mundo, ao nosso corpo. Se elas obtém um estímulo além de todos esses desejos, isso significa que o Criador está chamando-as. Ele quer dota-las com a sensação de Seus atributos, para que possam usar seus desejos apropriadamente. Então, elas chegam a um nível espiritual que as habilita sair das sensações físicas de nosso mundo, dos desejos egoístas para as sensações do desejo do Criador, a aspiração espiritual de doar. Através do estudo da Cabalá em um grupo, com um professor e com os livros certos, é possível alcançar tais sensações.

Como isso pode ser feito? Já dissemos que, se uma pessoa já recebeu a luz do Criador em seu vaso, o Criador transmite Seus atributos com a luz (para os que não merecem, Ele apenas dá um espírito de vida que não inclui Sua luz espiritual).

Como que eu faço para o Criador passar seus atributos para mim? Digamos que eu tenha uma certa aspiração preliminar. Como que eu faço para o Criador transmitir Seus atributos para mim? Existem livros especiais para isso. Se os lermos, estendemos sobre nós mesmos a luz e assim recebemos determinadas sensações (algumas negativas, algumas positivas), apesar de neste meio tempo  não podermos sentir essa luz. O Criador começa a transmitir gradualmente para nós pequenas quantidades de sensações da revelação e da compreensão de Sua intenção, do que o desejo espiritual de doar realmente se trata.

Por que Ele faz isso se escondendo e não de maneira aberta? Bem, se isso estivesse escondido de todos os outros, e apenas nós, os escolhidos, fossemos dignos daquela revelação, nós também manteríamos isso como segredo. E por que temos de esconder isso, por que está escondido de nós? Para que desejássemos aquele atributo de maneira genuína.

É um pouco difícil explicar. Sinto que há um probleminha aqui. A questão é que transmitir os atributos para nós significa revela-los para nós. Se o Criador se revelasse para nós, receberíamos um prazer tão imenso que não seríamos capazes de nos concentrar em mais nada. Para prevenir distrações com este imenso prazer, e mesmo assim transmitir Seus atributos para nós – é por essa razão que o Criador esconde esses atributos e o prazer, e nos transmite eles de maneira secreta, para que não sintamos o prazer. Podemos apenas sentir o resultado.

Gradualmente, com o passar de vários meses de estudo da sabedoria da Cabalá começamos a sentir um desejo maior pela espiritualidade e a obter um entendimento melhor dela. Isso acontece bem devagar porque nossa natureza é feita de um número ilimitado de subsistemas, e precisamos ter todos eles corrigidos. Eles têm de adotar atributos que correspondem aos atributos que recebemos em nosso subconsciente, atributos que nunca sentiremos, que são na verdade atributos do segundo e terceiro nível. Todos esses subsistemas têm de tomar parte nesse processo de correção, e esse é o porquê desse processo durar tanto tempo. O tempo de correção na verdade depende do investimento, da quantidade de esforços que o homem faz. Sua habilidade de se aprofundar depende de si mesmo. O Criador apenas dá o desejo preliminar, mas dali em diante depende dos esforços do homem. Seria mais correto dizer que depende não apenas dos esforços do homem, mas de seu meio, aquele no qual ele se encontra para avançar rumo à espiritualidade.

No ensaio “A Liberdade”, Baal HaSulam escreve que a única maneira de implementarmos nossa liberdade de escolha é escolhendo e encontrando a sociedade correta, isso ajudará a pessoa a atingir o propósito da criação. O único fator que o homem pode alterar por si mesmo, e assim influenciar seu desenvolvimento espiritual, e de fato o mundo todo, é encontrar o ambiente que irá influencia-lo. Não há nada além disso. Todos os processos e todos os caminhos são predeterminados. O caminho para o Criador e os níveis espirituais pelos quais é preciso passar estão determinados. Você não pode mudar nada aqui, ou influenciar isso de maneira alguma. Após cada passo existe o próximo passo, e então o próximo passo, porque isso depende da estrutura interna da alma, que precisa se desenvolver. Essa estrutura é predeterminada e a única coisa que o homem pode escolher é a opção correta de ambiente: o homem está sob a influência da sociedade e a sociedade pode corrigi-lo.

Como que a sociedade pode mudar uma pessoa se nada pode ser mudado? Se os parâmetros preliminares e finais estão predeterminados, neste caso o que ainda pode ser mudado? Baal HaSulam responde que apenas a velocidade do progresso pode ser alterada. Esse é um parâmetro de grande valor. Por quê? Apenas pense em estar avançando de um nível para o próximo em um segundo, ou em um milhão de horas. Suponhamos que você tenha uma dor de dente por  um milhão de horas, ou por um segundo. Nesse um segundo você realmente não sentirá nada. Mas se ela for prolongada por um milhão de horas, imagine só a dor! Este é um assunto sério. A pessoa pode acelerar seu progresso precisamente nessa proporção, se não, numa maior. Desta maneira, ela diminui as situações desagradáveis qualitativamente. Elas não podem ser evitadas porque também são predefinidas. Todos devem passar por elas. Mas podemos apressar a passagem e desta maneira sentir muito menos dor, ou até dor nenhuma. A livre escolha da sociedade, do ambiente do homem, pode afetar o avanço espiritual do homem.

Mas aqui devemos perguntar: estamos falando de que tipo de escolha? Escolhemos entre o caminho mais e o menos agradável? Nossa escolha está na dimensão egoísta? A questão é que escolhemos este caminho não porque ele nos faz sentirmo-nos bem. Escolher este caminho baseado em meus desejos egoístas não necessariamente indica progresso rápido. Avançar rápido é avançar com o poder do Criador, através de Seu atributo de doação.

Todos os mundos que o Criador criou inicialmente são apenas um desejo de receber prazer. Quando uma luz, mesmo muito fraca, penetra aquele desejo, ela adiciona outras nove intenções que pertencem ao Criador. O homem tem apenas um desejo – receber prazer. Os outros nove desejos evoluem sob a influência da  luz dentro do homem. O homem é afetado pelas operações do Criador e recebe a combinação dos atributos do Criador – seus dez desejos. A pessoa precisa saber como implementar todos eles, tanto seu desejo natural por prazer  como também os desejos que ela adotou do Criador. Como pode implementa-los, para que se torne como o Criador? Como isso pode ser feito? Ela pode fazer isso se corrigir seu desejo natural por prazer – sua décima sefirah, chamada Malchut – e transforma-lo para se assemelhar às nove sefirot anteriores – os atributos do Criador. Ou seja, ela toma aquela Malchut e tenta doar usando a intenção “para o Seu nome.” Então ela toma aquela Malchut e tenta fazer com que se assemelhe à sefirah de Hochma, e assim por diante. Existem nove atributos de doação do Criador, nove possibilidades. Usando vários tipos de desejos, a pessoa tenta cada vez se assemelhar a um determinado atributo do Criador, e dessa maneira adota todas as nove sefirot superiores, todos os atributos do Criador.

A parte de Malchut que não pode se assemelhar a nenhuma das nove sefirot, ou seja, não pode receber com a intenção “para o nome Dela”, é chamada de coração de pedra, e a pessoa não pode trabalhar com essa parte. A pessoa simplesmente isola estes atributos (desejos) e diz: “Não vou trabalhar com estes desejos!” Ela pode trabalhar em completa similaridade com o Criador em todos os outros desejos. Uma vez que a pessoa tenha corrigido suas nove intenções dentro de Malchut, permanece lá apenas a décima parte, que não pode ser corrigida, porque os atributos do Criador não a afetam. Essa parte não pode entender ou sentir a luz do Criador. Ela apenas sente o prazer, e não a origem, os atributos. Essa situação é chamada de “o fim da correção.” Significa que a pessoa corrigiu completamente suas intenções e atributos.

Essa parte da intenção, que ela não pôde corrigir e que por essa razão separou-se completamente da mesma e não fez uso dela durante a correção, é o desejo mais poderoso, mais natural.

Ao completar a correção de suas intenções, vem uma luz especial de cima que pode corrigir o “coração de pedra” para fazer com que se assemelhe ao Criador. É impossível imaginar como isso acontece. Apenas acontece que vem de cima uma luz tão poderosa que mesmo aquele desejo recebe a intenção “para o nome Dela”. Deste modo, todos os atributos do homem, todas suas possibilidades de se assemelhar ao Criador são realizadas, e ele se torna igual ao Criador. Mas, o que ele ganha com isso?

No princípio, logo quando foi criado, ele foi preenchido com a luz do Criador, mas não podia sentir os atributos do Criador. Foi criado e recebia prazer como resultado do desejo de doar do Criador. Agora, ele retorna àquele estado – isto é, recebe tudo que o Criador quer doar. Isso porque o Criador quer, e não ele mesmo, ou seja, essa estatura espiritual foi atingida também graças ao Criador. Além disso, por ter recebido os atributos do Criador e se tornado como Ele, ele transcende o nível espiritual de criação, o nível inicial em que nasceu, e atinge um nível superior: o do Criador. É por isso que ele pode obter a vida eterna, a perfeição e a compreensão absoluta – tudo que não podia obter enquanto permanecia dentro dos limites de sua própria natureza. Ele recebia os atributos do Criador, mas não se tornava como Ele. O Criador permite ao homem ascender do nível espiritual de criação ao nível espiritual do Criador, conferindo ao homem Seus atributos e dando prazer a ele.

Vemos que todo este processo é predefinido pelo Criador. Isso significa que Ele não criou algo inferior a Ele e que o caminho pelo qual o homem precisa  passar é necessário para sua autodescoberta, para a recepção daquela sensação, porque de outra maneira ele não seria capaz de entender o nível espiritual do Criador. É por isso que ele inicia o caminho espiritual de uma situação oposta àquela do Criador. Esse caminho é necessário para que passemos por todos os níveis espirituais existentes, em todas suas situações, do começo ao fim da criação, de um estado completamente imperfeito à completa perfeição, para que ao chegarmos no nível da perfeição do Criador saibamos como apreciar e entender o prazer que vem junto com o nível espiritual do Criador.

O caminho espiritual até o fim da correção é pavimentado com experiências e sensações negativas, a despeito de como olhamos para ele. Então onde está a diferença entre o caminho da Torah e o caminho da dor? O caminho da Torah é diferente não apenas na quantidade e na intensidade da dor. A questão é que quando a pessoa toma o caminho da Torah, ou seja, quando estuda a sabedoria da Cabalá e estende sobre si mesma a luz, ela entende que deve se referir à sua dor física como falta de habilidade de doar ao Criador. Ou seja, a dor é transformada de tormentos físicos para espirituais, isto é, dores de amor pelo Criador. É por isso que a pessoa não tem de passar por um ciclo sem fim de dores físicas para finalmente torna-las em dor espiritual. Ela estende sobre si mesma a luz do Criador com a ajuda dos livros certos, e começa a sentir exatamente o que é que  lhe falta. Ela imediatamente chega ao tipo correto de tormento – tormento pela falta de espiritualidade. Portanto, ela é poupada de horríveis tormentos físicos.

Se uma pessoa tem o atributo de Malchut, o desejo de receber prazer, a luz a afeta de tal maneira que ela começa a receber as nove sefirot adicionais que são completamente separadas de Malchut. De fato, isto é mais uma questão psicológica, que pode ser claramente detectada em nosso mundo. Ao receber prazer de um determinado indivíduo, você gradualmente começa a querer ser como ele, você deseja adotar aquele atributo. Tudo isso porque o prazer e a adoção de um determinado atributo são a mesmíssima coisa.

O Criador mostra Suas dez sefirot ao homem; Ele mostra a ele exatamente como pode se deleitar no Criador. O homem sente não só o prazer, mas também sua origem, as nove sefirot do Criador. Eu vejo o anfitrião que prepara a refeição para mim, que me dá prazer, e também vejo porque Ele faz aquilo, reconheço Seu atributo. Desta maneira ele recebe, além do atributo original do deleite, Malchut, outros nove atributos por prazer. Agora ele aspira pelo Criador, aspira receber prazer através de todos estes atributos, o que significa que o prazer que ele quer agora é diferente. Mas, como é diferente? Onde está a diferença? Cada atributo traz com ele um tipo diferente de prazer: prazer da comida, de um filho, de uma caminhada no parque ou do descanso. Todos tipos de prazer. Não podemos encontrar algo completamente igual no mundo, porque, além do mais, são diferentes embalagens do mesmo prazer, apenas diferentes tipos de prazer. Mas no mundo espiritual existem diferenças evidentes. Isso significa que começo a entender que é possível receber prazer de várias maneiras, ou seja, Malchut divide- se em dez sefirot adicionais e sente que existem dez sefirot adicionais diante dela.

Como que Malchut, que recebe prazer das primeiras nove sefirot, começa a aspirar por se assemelhar a elas? O prazer vem antes de tudo mais. É a prioridade número um do vaso. Portanto, um vaso que ascende a um nível espiritual superior e recebe prazer, quer receber também todos os seus atributos. Então, por exemplo, se você estiver próximo de alguém que você admirou sua vida toda, você irá (gostando ou não) adotar seu comportamento característico, se tornar como ele. Por quê? Porque ele é mais importante que você. Você depende dele, sente prazer em estar próximo dele. Você quer receber, adotar todos seus atributos. Então você automaticamente se torna como ele.

Então, isto é possível afinal? É possível nas primeiras nove sefirot de Malchut, as nove sefirot que ela percebe. Mas a décima sefirah, Malchut em si, permanece inalterada. Naquela décima parte não existe a percepção de um Criador, um doador. Há apenas uma simples sensação de prazer. Ela tem de ser desligada e preservada. Não é usada até o fim da correção. Essa décima parte é “o coração d pedra”, a essência do homem. É o atributo natural do homem – o desejo ardente por prazer. Todas as outras parte não são egoístas assim. Elas são influenciadas pelo atributo do Criador e se tornam como Ele. E aquele atributo do homem, o anseio por prazer, é a última sefirah. Então, de fato, o homem não  corrige seu próprio “eu”, sua própria essência. Ele corrige onde o Criador deu a  ele a chance de ser vencido, assim por dizer, de se tornar como Ele. Apenas nessa área algo pode ser feito.

A pessoa não pode fazer nada com sua própria natureza, que o Criador criou sendo existência da ausência (ou seja, que existe na criatura, mas não no Criador). A despeito disso, ela quer fazer algo com sua natureza. Como podemos ver que ela faz? Porque ela continua a trabalhar com todas as outras intenções que foram dadas a ela pelo Criador. Está disposta a fazer qualquer coisa, e é por isso que o Criador muda sua natureza. É como um jogo: “Eu irei te corrigir se você provar que realmente quer ser mudada”. O Criador dá ao homem a natureza das primeiras nove sefirot, a pessoa recebe-as e então o Criador muda sua natureza básica, que é a décima sefirah.

O princípio da conexão entre as primeiras nove sefirot do Criador e Malchut é ensinado logo quando a pessoa começa a estudar Cabalá. A conexão começa antes da primeira restrição. Mas, quando a pessoa começa a adquirir estes atributos em nosso mundo, a história é diferente, porque a alma da pessoa em nosso mundo já contém tudo. O mundo de Ein Sof e todos os níveis espirituais para se chegar lá já estão nela. Ela também inclui reshimot (lembranças) dos níveis espirituais, do mundo de Ein Sof até nosso mundo. Tudo isso faz parte da alma de cada um de nós, como um gene espiritual, um DNA.

Então, como o caminho se revela? A luz brilha sobre nós de cima, e ilumina o reshimo do nível espiritual à minha frente, e começo a aspirar por ascender a ele. Então a luz brilha sobre o próximo nível, e começo querer ascender ao próximo nível. O Criador doa a mim Seus atributos gradualmente, por fora, por dentro, por toda parte. Todos os níveis espirituais estão em nós, em um estado embrionário. A luz que brilha de cima nos faz querer subir de um nível espiritual para o próximo.

Uma questão paralela: “Pois não há sobre a terra alguém tão correto que só faça o bem e não peque jamais.” (Eclesiastes 7:20)

Existem vários versículos assim. A questão é que o caminho do justo é uma ascensão pelos níveis do mundo espiritual, e em cada um desses níveis a pessoa acumula egoísmo adicional, corrige-o e transforma-o em altruísmo e  assim justifica o Criador. É por isso que a pessoa é chamada de justo, porque ela sente que o Criador é correto (justo).

Nenhum nível é composto apenas da parte positiva.

No processo de correção a pessoa precisa estar na parte negativa, nos desejos maus, nas cascas, no egoísmo. Quando está imersa no egoísmo é chamada de pecadora, ela comete pecados. Depois, quando se torna uma pessoa justa através da correção, é capaz de fazer o bem. Toda pessoa pecará o mesmo número de vezes que se tornará justa. E é assim em cada nível espiritual. Se ela não pecar, não terá nada para corrigir pelo qual se tornará justa. É assim que acontece. Como você pode perceber, estes termos são completamente diferentes dos usados em nosso mundo. A sabedoria da Cabalá trata de processos internos à alma, dentro de cada um de nós. Todos têm uma pessoa pecadora e uma justa dentro de si, que alternam em turnos. Cada nível espiritual é composto dessa combinação. Portanto, aquele que ascende mais alto cai mais fundo, e seus pecados são piores. Mas,  então ele ascende mais alto ainda. Não há medo de pecados na Cabalá, porque é algo pelo qual a pessoa tem de passar em todos os níveis, antes de ser corrigida. É como é dito: “Pois não há sobre a terra alguém tão correto que só faça o bem e não peque jamais.” O pecado precisa vir antes da correção.

O que significa pecar? É uma fascinação completa pelo meu egoísmo, uma total identificação com ele, a ponto de apenas sentir meu próprio egoísmo, e de dentro dessa situação condenar o Criador conscientemente, e depois transcendo essa situação. Mas ainda permanece uma lembrança clara daquela situação; neste momento a pessoa começa a corrigir seus atributos, suas intenções, para o lado positivo, de outra maneira não pode haver correção. Apenas aquele que tem algo que precisa de correção pode ser corrigido.

As pessoas em nosso mundo têm uma concepção diferente dos termos justo e pecador, pois o Criador não pretende que elas façam um trabalho mais sério, porque elas não podem passar por uma correção completa.

A CABALÁ É UMA CIÊNCIA

Do livro “O Livro Aberto”

A sabedoria da Cabalá examina todo o sistema da criação como um só objeto. No momento podemos apenas perceber uma pequena parte dele que chamamos de “nosso mundo”, ou de “este mundo”. Como todas ciências exatas, a Cabalá requer experimentos, documentação de resultados, repetição de experimentos e a compilação e organização dos dados. É por isso que a sabedoria da Cabalá também é chamada de “ciência da Cabalá” – uma ciência, não uma religião.

A sabedoria da Cabalá não examina apenas os fenômenos da matéria, mas também aqueles do espírito na matéria. Dentro desse estudo, aprendemos como as forças espirituais superiores se estendem de cima para baixo até nosso mundo, onde elas se separam em vários fenômenos que chamamos de fenômenos físicos, químicos, biológicos e mentais.

Existe, de fato, apenas uma lei abrangente que todos estudam, que possui várias manifestações: na mecânica, na biologia, astronomia, música e assim por diante. Portanto, a divisão em campos do conhecimento é simbólica e superficial. Ela existe porque fomos feitos de tal maneira que não podemos examinar aqueles fenômenos como um todo, e ao estudarmos eles separadamente criamos diferentes campos do conhecimento. Mas, a verdade sobre esta questão é que tudo está interligado, porque o objeto examinado é comum a todos eles, e nós o dividimos apenas para fazer com que o estudo se torne mais fácil.

A sabedoria da Cabalá não diz respeito ao estudo deste mundo. Todas outras ciências são campos particulares que fazem isso. Com relação à Cabalá, a música, a biologia e a medicina são apenas fenômenos externos que provém daquela única lei interna da natureza.

A alma é receptiva apenas às emoções. Em nosso mundo, não podemos descrever nossos sentimentos de maneira precisa, geométrica. Sons, sabores, temores e prazer não podem ser documentados de maneira precisa.

A Cabalá nos dá a oportunidade de expressarmos de maneira precisa, matemática, a compreensão do mundo superior: os sentimentos, as sensações e as experiências de cada um de nós, de acordo com nossa situação, de acordo com os fatores que nos afetam. Aquelas situações internas são chamadas de “as situações da alma”.

Quando alguém muda sua situação, pode retornar à situação anterior de  sua alma. Isto significa que existe um jeito preciso de manipular, de mudar de  uma situação para outra de maneira científica – através de determinadas fórmulas, em situações pessoais. Isto também acontece quando lemos livros de Cabalá. Tendo uma “tela”, o leitor pode viajar conscientemente através dos mundos espirituais, dependendo do que o autor escreveu.

Tome como exemplo um livro de orações Cabalístico, escrito pelo RASHASH (Rabino Shalom Shabazi). Ele descreve de maneira simples: tome a luz de um nível espiritual e estenda-a para outro. Ascenda ao novo nível e leve a luz que está nele de um lugar para o outro. Disso, aprendemos que um livro de orações Cabalístico é na realidade um manual que explica como afetar o mundo superior, para que possa finalmente afetar meu próprio futuro. Qual é o sentido de uma pessoa rezar? Ela constrói condições melhores para o desenvolvimento de si mesma e de seu ambiente.

Encontramos esse livro Cabalístico de orações em lojas, mas ninguém entende sequer uma palavra dele. Existem instruções nele como em  qualquer outro manual. Ao estar funcionando em um nível espiritual, se você tiver o conhecimento e o poder, você pode realizar mudanças na providência de cima que está ativada sobre você, e com isso, mudar o mundo para melhor, e apenas para melhor.

É por isso que dizem que os judeus (os hebreus) conduzem o mundo. De fato, o judeu-hebreu (da palavra hebraica “ever” – que significa de além de) refere-se a alguém que passou para o mundo superior, que está “além de” nosso mundo, e por essa razão pode realmente conduzir o mundo.

Não há contradição entre as ciências conhecidas e a sabedoria da Cabalá. Muito pelo contrário, muitos de meus estudantes têm formações acadêmicas em ciências exatas.

A sabedoria da Cabalá tem todas as características de uma ciência: experimentação, testes, documentação, repetição de experimentos e reconstrução de fenômenos. De fato, ela inclui tudo que você encontra em outras ciências, mas de uma perspectiva mais ampla, porque ela inclui todos os campos da ciência dentro dela.

A sabedoria da Cabalá permite a obtenção (percepção) dos resultados apenas através da obtenção de um determinado nível espiritual. Ela é chamada de sabedoria oculta porque os resultados são obtidos apenas pelo pesquisador, através de sua “tela” (força da intenção). Ele não poderá comunicar os resultados do experimento que conduziu a outra pessoa se ela não tiver uma tela com exatamente a mesma força.

Realizar um experimento na Cabalá significa fazer mudanças dentro de você, sentir os resultados do experimento em você mesmo, em seu corpo, em seu desejo. Um físico pode realizar seus experimentos, a despeito de seus atributos e emoções; estes são irrelevantes ao experimento que ele conduz e não alteram o curso dele. Com um Cabalista, no entanto, ao querer realizar um experimento  num determinado nível, ele primeiro precisa se elevar àquele nível espiritual, agir com seus atributos espirituais, e com isso afetar os resultados do experimento e documenta-los em si mesmo.

Existem apenas ferramentas externas para expandir o poder de percepção de um cientista comum. Mas, na sabedoria da Cabalá, o Cabalista não tem outra ferramenta além da “tela” interna, que serve a ele como um sentido extra, um  sexto sentido, que é suficiente para que ele aja em todo o sistema da criação e o corrija. Por essa razão ele não precisa de nada além da tela.

A Cabalá não é diferente em relação a nenhuma lei. Ela corresponde às leis da natureza que conhecemos. Tudo que ela faz é revela-las em profundidade. Aparentemente dá continuidade às leis da física, química, ótica, eletrônica, etc., só que da perspectiva da alma. A ciência comum é uma parte da Cabalá, porque a Cabalá é uma ciência que descreve a lei básica da criação e suas conseqüências em nosso mundo.

Pelo fato da sabedoria da Cabalá lidar com o sistema da criação como um todo, passando por todos os mundos, incluindo o nosso, ela naturalmente inclui todas as outras ciências, inclusive a medicina, que é o conhecimento de nosso corpo biológico. Mas tudo isso é apenas possível desde que a pessoa atinja a espiritualidade e seja versada no mundo espiritual. Então a pessoa conhecerá de que maneira as forças espirituais descem ao nosso mundo e sustentam o corpo,  por que isso ou aquilo acontece com o corpo, qual é o problema com cada doença, etc. Para atingir este conhecimento, você tem de ser um Cabalista, porque você  não pode aprender isso apenas dos livros.

A REENCARNAÇÃO

Do livro “O Livro Aberto”

As almas descem aos corpos físicos de acordo com uma ordem fixa e predeterminada. Toda vez, elas retornam a este mundo em um corpo novo. As características físicas de cada geração são similares às daquela que a precedeu,  mas as almas de cada geração vêm ao mundo com experiência acumulada das gerações anteriores. Elas têm novos poderes que adquiriram durante sua estada  “lá em cima”.

É por isso que em cada geração existe uma série de desejos, objetivos de vida, que caracterizam aquela geração. Em cada geração, descem almas com novos desejos latentes. Os desejos determinam como a ciência, a cultura, a arte e os relacionamentos sociais daquela geração irão se desenvolver.

Tudo é determinado de cima, mesmo antes das almas descerem a este mundo e determinarem a direção do desenvolvimento daquela geração. Olhando para os atributos das almas que descem ao mundo, é possível prever todos os detalhes do desenvolvimento de uma determinada geração, incluindo todos os eventos importantes que acontecerão, até os últimos detalhes, pois, antes de mais nada, as informações espirituais nas almas incluem tudo!

Mesmo que determinada geração não desenvolva o desejo de descobrir a verdadeira realidade – o Criador, ainda faz um certo progresso naquela direção quando experimenta dor e tormentos que são enviados a ela pelo Criador. Portanto, cada geração acumula experiência ao relacionar-se com seu egoísmo e, como resultado, começa a sentir aquela dor. Mas, nesse ponto, ainda é uma dor inconsciente porque a verdadeira razão para ela, que deriva de nossa natureza egoísta, não foi compreendida até aquele momento.

Conseqüentemente, a memória acumulada do tormento de todas as gerações trará o entendimento de que recebemos benevolência apenas de cima. Quando sentimos aquela benevolência apenas através de nossos vasos egoístas, a sentimos como absoluta maldade! A evolução das gerações nos levará à percepção da verdadeira realidade!

Tipos diferentes de almas descem durante cada era histórica, porque precisam de tipos diferentes de providência. Elas precisam da providência que se adequará aos tipos de almas que estarão no mundo naquele momento.

É por isso que em cada geração existem pessoas que conduzem-nos ao progresso espiritual. Elas escrevem livros, estabelecem grupos de discípulos, tudo isso para nos transmitir o método que melhor se adequará ao tipo de alma atual, pelo qual a verdadeira realidade nos é revelada, e a atingimos.

Em seu “Prefácio ao Zohar”, Baal HaSulam escreve que as almas descem a este mundo por um período de seis mil anos. Em cada geração, as almas são caracterizadas por qualidades cada vez piores e mais grosseiras.

Cada geração precisa de sua própria correção. Durante os dois primeiros milênios, as almas que desciam eram de fato tão puras que sequer precisavam da Torah para cumprirem com sua parte. Elas evoluíam neste mundo sem qualquer necessidade por um meio de revelação e compreensão da espiritualidade. Foi um tempo de obtenção de experiências e tormento neste mundo. O fato de terem existido neste mundo foi suficiente para avançarem rumo à correção espiritual. A dor acumulada pressionou as almas a saírem daquela situação dolorosa. A força motriz do desenvolvimento humano é de fato o desejo de se livrar da dor.

Nos próximos dois milênios, elas precisaram apenas da Torah revelada e do cumprimento físico das mitzvot (N.T.: mandamentos, preceitos) para sua evolução espiritual.

Elas se relacionavam com as mitzvot como ações que tinham a ver com o mundo físico. O cumprimento mecânico das mitzvot foi suficiente para que fossem purificadas e avançassem rumo à correção.

Mas a compreensão do objetivo das almas não acaba aqui. O número de almas é limitado: existem 600.000 almas. Cada vez, as almas descem ao mundo para realizarem, novamente, um outro progresso espiritual.

Quando nos referimos a uma alma como grosseira ou não grosseira nos referimos à duração de tempo que resta até que ela atinja o fim da correção. A alma que precisa de maior correção é considerada mais grosseira.

A era do declínio das almas durou até o século XVI, e terminou quando o ARI escreveu que do seu tempo em diante o estudo da Cabalá não seria apenas desejável, mas um dever para cada um: homens, mulheres e crianças de todas as nações.

É explicado que as almas alcançaram um determinado grau de evolução, de maneira que cada alma, ao usar o sistema exclusivo que o ARI desenvolveu, será capaz de atingir a compreensão completa da realidade, a compreensão da origem da  luz  e  do  fim  de  sua  própria  correção.  Conseqüentemente,  todas  almas poderiam compreender o propósito para o qual vieram a este mundo, para desempenhar seu destino neste mundo.

Só essa condição, já necessita da compreensão da verdadeira realidade, que a sabedoria da Cabalá possibilita. Essa compreensão acontecerá apenas quando toda a humanidade encontrar as leis da verdadeira estrutura do mundo, a origem delas; nesse momento, o tormento e a dor desaparecerão do mundo.

Quando compreendermos como a realidade nos afeta e como nos relacionamos com ela, desistiremos de corromper o que não devemos; não perderemos as oportunidades de se fazer o que precisa ser feito, e todas nossas ações serão conscientes e corretas – de acordo com a lei do universo. Então, este mundo e o mundo que descobriremos coexistirão em completa harmonia.

Mas, neste meio tempo, somos apenas capazes de errar. Apenas em retrospecto podemos ver que corrompemos ao invés de corrigirmos. Hoje, não há como evitarmos o erro. A humanidade está num beco sem saída, e indo em frente infligindo dor e fazendo o mal cada vez mais.

Nossa dor continuará a aumentar até que finalmente toda a humanidade compreenda que há apenas um caminho: o caminho do crescimento espiritual. Precisamos compreender isso: não temos outra alternativa, além de começarmos a estudar as leis do mundo superior, experimenta-las e entende-las, pois somos uma parte inseparável dele.

Este entendimento mudará dramaticamente nossa situação, e nos fará atingir níveis espirituais mais elevados. Começaremos a agir de maneira consciente, a partir de uma perspectiva mais ampla, a compreender o objetivo  final e começaremos a trabalhar juntos, e não como indivíduos que não se importam com ninguém além de si mesmos.

A IDÉIA DE EVOLUÇÃO NA PERSPECTIVA DA CABALÁ

Do livro “O Livro Aberto”

Os Cabalistas que atingiram o nível espiritual da revelação e da absoluta compreensão afirmam que não há nada em nossa realidade além do desejo fundamental por prazer. Esse desejo é chamado de “criação”. Ele é feito pelo Criador (Sua luz), e é por isso que a criação sente a luz como prazer, porque foi criada por ela, enquanto que a ausência da luz do Criador é sentida como dores e tormentos de todos os tipos: dores físicas, doenças, fome e morte.

Portanto, somos apenas constituídos de sensações positivas e negativas. Nosso cérebro foi feito com o propósito exclusivo de nos auxiliar na satisfação de nossas necessidades, para compreendermos, entendermos e discernirmos entre desejos positivos e negativos, para encontrarmos a fonte deles e implementarmos  a habilidade de atingir prazer e conforto.

Toda ação na natureza inanimada objetiva a preservação de sua forma. Nas plantas, o propósito principal é o crescimento; nos animais: o movimento, os desejos sexuais, a família e a sociedade, e a continuação das espécies, como também o crescimento; no homem: além de tudo acima, surge a ganância e os desejos por honra, controle e conhecimento. Mas na base de tudo isso, existe ainda o desejo básico de obter prazer, e a mente é apenas uma ferramenta adicional, da qual o desenvolvimento depende exclusivamente do desejo de obter prazer. Pelo fato de que quanto mais ambiciosos somos, mais sofremos, somos forçados a evoluir tentando nos livrar da sensação de desconforto. Somos obrigados a evoluir e, conseqüentemente, a inventarmos coisas novas e a ficarmos mais espertos.

Se diminuirmos artificialmente a intensidade do desejo, o homem sente menos desconforto, menos dor pela sua inabilidade de realizar seus desejos e de satisfazer suas necessidades. Todas religiões, crenças e os diversos sistemas de “lavagem cerebral”, meditações, ioga e assim por diante, objetivam a limitação do desejo natural do homem. É assim que atraem as pessoas; existem apenas para isso. O homem diminui seus desejos, se sente melhor e sofre menos. Mas, a humanidade  não  fica  parada.  Com  o  passar  de  cada  geração,  as  almas  das gerações passadas descem a este mundo com um desejo mais forte pelo prazer, pela luz, pelo Criador; um processo que não existe nas outras partes da criação.

O desenvolvimento humano é dirigido diretamente ao aumento do egoísmo e à busca por prazer – esta é a essência de nossa natureza e de nossa evolução. Isso também é expresso em todos os outros níveis da criação, porque eles dependem do homem e são valorizados através do homem. É por isso que existe evolução e mudanças na natureza inanimada também, como nas plantas e animais, da mesma maneira.

Mas, apenas na alma humana os desejos aumentam de geração para geração, porque é o homem que, pelo plano da natureza, precisa finalmente obter um desejo espiritual de se conectar, de ter prazer na luz do Criador. É por isso que todos os outros métodos e religiões desaparecerão da face da terra. Hoje já podemos ver isto acontecendo: não podem mais prover as pessoas com o que necessitam, as soluções para os problemas, através da supressão dos desejos. Não possibilitam tranqüilidade genuína e perfeição.

É por isso que apenas uma antiga ciência judaica, a sabedoria da Cabalá, que não se baseia na supressão de desejos, na coerção e nem no afastar-se da sociedade, tem sido e permanece o único meio de obtermos paz, tranqüilidade espiritual, felicidade genuína e perfeição enquanto vivemos neste mundo. Portanto, dor e tormento preencherão nossas vidas e nos farão finalmente aspirar por redenção. É por isso que é dito que nas últimas gerações a sabedoria da Cabalá se tornará a ciência fundamental, e única. Afinal, o que impulsiona o homem a desenvolver a ciência, as artes e tudo mais, se não o desejo de se realizar, de aliviar seu impulso por prazer?

Vemos até como famílias são destruídas como resultado do crescente desejo de receber – o egoísmo. Assim que o homem sobe a um degrau acima dos animais

– como resultado do desenvolvimento de sua ambição por obter prazer – suas estruturas sociais e suas ligações com os outros mudam. Isto acontece porque, como é mencionado no Zohar, desta geração em diante as massas também podem começar a estudar as leis do mundo espiritual. É por isso que o homem não pode mais voltar “aos bons e velhos tempos”. O homem apenas poderá  conseguir aquilo por meio da correção do desejo adicional. Isto é possível apenas através do estudo da sabedoria da Cabalá. A coerção e a restrição de desejos são ineficientes, porque a lei superior do desenvolvimento não permite que ninguém destrua a si mesmo, seu desejo, mas ela o fará sofrer, buscar pelo caminho certo – como ser preenchido com a luz do Criador.

Você pode aprender sobre os processos evolutivos em nosso mundo através de livros escritos por cientistas, físicos, biólogos e outros. Mas o que realmente precisamos entender é como a evolução da alma acontece.

O SENTIDO DE MINHA VIDA

Do livro “O Livro Aberto”

Através dos tempos, o homem tem procurado respostas para as perguntas fundamentais da vida: Quem sou eu? Qual é o propósito de minha permanência aqui? Por que o mundo foi criado? Há vida após a morte?

Cada um de nós se esforça ao máximo para encontrar as respostas, à sua própria maneira e através das fontes de informação à disposição. Cada um de nós cria sua perspectiva única da vida, dependendo do que descobre e da confiança que deposita em sua fonte de informação.

A pergunta sobre o sentido de nossas vidas dá uma dimensão global aos nossos tormentos cotidianos. E de fato, por que estamos destinados a sofrer assim? Essa pergunta nos irrita de maneira implacável, privando-nos de satisfação  mesmo quando obtemos sucesso na satisfação de algum de nossos desejos mundanos.

Uma pessoa que vem a atingir o objetivo pelo qual aspira, rapidamente retorna à sensação de vazio e insatisfação. Em retrospecto, os esforços que ela investiu na obtenção do seu objetivo e a dor que ela experimentou no decorrer do caminho não proporcionam um senso de satisfação duradouro com tal realização.

Pelo fato de até hoje resposta alguma ter sido dada a estas perguntas, as pessoas continuam a procurar em diversas direções, inclusive em todos tipos de religiões e crenças. Meditações e exercícios de desenvolvimento físico e intelectual nos dão um alívio passageiro, mas não nos permitem encontrar a resposta à pergunta sobre a essência da vida e do sofrimento humano, e sobre qual é o nosso propósito neste mundo. Todos aqueles métodos nos acalmam, às custas da anulação de nossas necessidades e desejos.

Porém mais cedo ou mais tarde todos descobrem que não podem mais rejeitar a realidade. A humanidade procura continuamente por uma justificativa lógica para a nossa existência. O homem tem tentado investigar e interpretar a natureza por milhares de anos.

Os cientistas contemporâneos aprenderam que quanto mais progridem em sua pesquisa científica, mais obscura e difícil de compreender se torna a imagem do mundo que descobrem. Os livros científicos contemporâneos parecem-se cada vez mais com ficção científica, contudo ainda fracassam em prover-nos com uma resposta clara sobre a essência do sentido da vida.

A sabedoria da Cabalá oferece um método claro e comprovado para entendermos o sentido de nossas vidas e nosso objetivo no universo. Esse método enfoca o desenvolvimento da habilidade humana de perceber uma parte oculta da realidade. A palavra Cabalá se origina da palavra hebraica lekabel (receber), e expressa a aspiração humana por conhecimento superior, por sentir e perceber a imagem ampla e real do universo.

Os Cabalistas nos falam sobre métodos práticos que são baseados em sua própria experiência pessoal. Seus livros transmitem o método para investigarmos  a realidade daquele mundo, para atingirmos e encontrarmos a resposta para a questão da essência de toda a vida.