MATÉRIA E FORMA NA SABEDORIA DA CABALÁ

Do livro “Cabala Para o Estudante”

A ciência em geral tem duas divisões. A primeira é chamada o conhecimento da matéria e a segunda é chamada o conhecimento da forma. Não há nada no mundo que não consista de matéria e forma.

Por exemplo, a madeira é a matéria da mesa e o formato da mesa é a forma. A matéria, madeira, é a base para a forma que é a mesa. Similarmente, a palavra mentiroso tem matéria, uma pessoa, e a mentira em si é a forma. A matéria, que é a pessoa, é a base para a forma que é a mentira, ou seja, alguém que é usado para Mentiras. O mesmo é verdade para todas as coisas.

A ciência, que por sua natureza lida com os detalhes da realidade, também é dividida em duas divisões: o conhecimento da matéria e o conhecimento da forma. O conhecimento da ciência que está lidando com a natureza das matérias da realidade com ou sem forma é chamado Conhecimento da Matéria. Este conhecimento é baseado na experiência, isto é, em provas e analogias tomadas da experiência prática. Estas experiências são tomadas como uma base segura para conclusões verdadeiras.

A segunda divisão da ciência lida com formas abstratas das matérias sem se importar em si com a própria matéria. Elas eliminam os aspectos de verdade ou mentira na forma da matéria, que são as pessoas que as carregam. Os cientistas lidam unicamente com os valores de importância, ou falta deles, nestas formas de verdade  e mentira, tais como elas possam ser, cada uma de acordo com sua própria essência nua, como se elas não fossem englobadas por qualquer matéria. Isto é chamado o Conhecimento da Forma.

Este conhecimento não é baseado em qualquer experiência prática, pois formas abstratas como estas não entram na experiência prática. Elas não são parte   da realidade prática. A forma abstrata é tomada unicamente da imaginação. Apenas  a imaginação pode formá-la, embora não seja a realidade  prática.

Portanto, todo conhecimento científico deste tipo é construído unicamente sobre a base do processo de pensamento profundo. Não é tomado da experiência prática, mas unicamente do dar e receber do processo de pensamento profundo.

Toda a alta filosofia é deste tipo. Portanto, uma grande porção dos pensadores modernos a abandonaram. Eles não estão satisfeitos com o dar e receber construído em um processo de pensamento profundo, porque em sua opinião, isto cria uma base incerta. Eles condiram apenas a base prática como  certa.

A Cabalá também é dividida em duas categorias: O estudo do material e o estudo do abstrato. Mas existe uma distinção importante entre a Cabalá e a ciência secular. Na Cabalá, mesmo o estudo da forma é construído inteiramente sobre um estudo de entendimento prático, isto é, na base de experiência  prática.

OCULTAÇÃO E REVELAÇÃO DA FACE DO CRIADOR

Do livro “Cabala Para o Estudante”

A segunda ocultação a que os livros se referem como “ocultação dentro da ocultação”, significa que a pessoa não pode ver nem mesmo as costas do Criador.  Ao invés, esta diz que o Criador a abandonou e a desconsidera completamente. Ela atribui todos os sofrimentos que sente ao destino cego e a natureza, uma vez que os caminhos da Providência se tornam tão complexos aos seus olhos estes a levam a negação.

Isto significa (descrição) que uma pessoa ora e dá caridade pelos seus problemas, mas não recebe qualquer resposta. E precisamente quando ela para de orar pelos seus problemas, ela é respondida. Sempre que ela supera, acredita na Providência e melhora suas ações, a sorte se distancia dela e impiedosamente se retira. E quando ela nega e começa a piorar suas ações, ela se torna bem sucedida e se sente muito aliviada.

A pessoa não encontra seu sustento de forma apropriada, mas enganando os outros ou profanando o Shabat. Ou, todos os seus conhecidos que guardam a Torá   e as Mitzvot (mandamentos) sofrem de pobreza, doenças e são desprezados pelas pessoas. Estes observadores das Mitzvot parecem para ela mal educados, naturalmente desmiolados e tão hipócritas que ela mal pode ficar entre eles sequer por um minuto.

Reciprocamente, todos os seus conhecidos perversos, que zombam de sua fé, são bem sucedidos, prósperos e saudáveis. Eles não conhecem a doença, são inteligentes, virtuosos e de bom temperamento. São despreocupados, confiantes e tranquilos o dia todo, todos os dias.

Quando a Providencia arranja as coisas deste modo para uma pessoa, isto é chamado de “ocultação dentro da ocultação”. Isto porque então a pessoa cai sobre seu próprio peso e não consegue continuar a fortalecer a crença de que a sua dor vem do Criador por alguma razão oculta. Finalmente, ela fracassa, torna-se herética   e diz que o Criador não está cuidando de Suas criações, e tudo que transpira, transpira pelo destino e pela natureza cega. Isto é não enxergar até mesmo as costas.

DESCRIÇÃO DA OCULTAÇÃO DA FACE
  1. Sofrendo tormentos tais como falta de renda, problemas de saúde, desgraças, fracasso em realizar seus próprios planos, e insatisfação emocional tal como evitar atormentar o seu
  2. Orando sem ser respondida. Declinando quando melhora suas próprias ações, e tendo sucesso quando as piora. Obtendo seu sustento de forma imprópria: enganando, roubando, ou profanando o Shabat.
  3. Todos os seus conhecidos honestos sofrem pobreza, doenças, e degradações de todos os tipos, e seus conhecidos perversos zombam dela todos os dias e sucedem na saúde, riqueza e levam uma vida despreocupada.
  4. Todos os seus conhecidos justos que guardam Torá e Mitzvot parecem cruéis, egoístas, estranhos ou naturalmente estúpidos e mal-educados, mesmo no Jardim do Éden, e ela não pode ficar entre eles nem mesmo por um

Uma ocultação (descrição): Sua Face não é revelada; isto é, o Criador não se comporta em relação a pessoa de acordo com Seu Nome – O Bom que Faz o Bem. Ao invés, é o contrário – ela é afligida por Ele ou sofre com renda pobre, e muitas pessoas querem cobrar suas dívidas dela e tornar sua vida mais amarga. Todo seu dia é preenchido com problemas e preocupações. Ou, ela sobre de problemas de saúde   e desrespeito das pessoas. Todo plano que começa fracassa por completo, e ela está constantemente frustrada.

Desta maneira, é claro que ela não vê a Boa Face do Criador, isto é, se ela acredita que o Criador é aquele que faz estas coisas a ela, ou como punição por transgressões ou para a recompensar no final. Isto segue o verso, “quem o Senhor ama, Ele corrige”, e também, “o justo começa com sofrimento, já que o Criador deseja eventualmente dá-lo grande paz”.

Porém, ela não falha em dizer que tudo isto veio a ela por destino cego e pela natureza sem qualquer razão e consideração. Ao invés, ela se fortalece em acreditar que o Criador, com Sua Orientação, lhe causou tudo isto. Isto é, no entanto, considerado ver as costas do Criador.

 

DESCRIÇÃO DA REVELAÇÃO DA FACE

Mas uma vez que ela tenha completamente descoberto a especiaria – a Luz que ela exala em seu corpo – através do fortalecimento da fé no Criador, ela se torna digna da Orientação com Sua Face revelada. Isto significa que o Criador se comporta com ela como é digno ao Seu Nome, “O Bom que Faz o  Bem”.

Assim (descrição), ela recebe abundantemente o bem e grande paz do Criador e está sempre satisfeita. Isto é porque ela obtém seu sustento com facilidade e ao máximo, nunca passando por problemas ou pressões, não conhece a doença, é altamente respeitada pelas pessoas, facilmente conclui qualquer plano que vêm a sua mente, e sucede em tudo que faz.

E quando ela deseja algo, ela ora e é instantaneamente respondida, pois Ele sempre responde tudo que ela pede dEle, e nem uma única oração é negada. Quando ela se fortalece com boas ações, ela sucede ainda mais, e quando é negligente, seu sucesso  proporcionalmente diminui.

Todos os seus conhecidos são honestos, de boa renda e saúde. Eles são altamente respeitados aos olhos das pessoas e não tem quaisquer preocupações. Eles estão em paz todos os dias e sempre. Eles são inteligentes, confiáveis, e tão graciosos que ela se sente abençoada de estar entre eles.

Por outro lado, todos os seus conhecidos que não seguem o caminho da Torá são pobres de sustento, preocupados com pesadas dívidas, e não conseguem achar descanso até mesmo um único momento. Eles estão doentes, em dor, e desprezíveis aos olhos das pessoas. Eles parecem a ela estúpidos, grosseiros, perversos e cruéis com as pessoas, enganadora e tão bajuladores que é intolerável estar entre eles.

Seu Nome nos mostra que Ele é benevolente com todas Suas criações em todas as formas de benefício, suficiente para todo tipo de receptor dentre Israel. Certamente, o prazer de um não é como o prazer de outro. Por exemplo, aquele que engaja na sabedoria não desfruta honra e riqueza, e aquele que não engaja na sabedoria não desfruta de grandes realizações e invenções na sabedoria.  Assim, Ele dá riqueza e honra a um, e maravilhosas realizações na sabedoria a  outro.

Seu pedido para se tornar forte na crença em Sua Orientação sob o mundo durante o período de ocultação a leva a contemplar os livros, a Torá, e a atrair de lá  a Luz e a compreensão de como fortalecer sua fé na Sua Orientação. Estas iluminações e observações que ela recebe através da Torá são chamadas “a especiaria da Torá”. Quando elas são recolhidas a uma certa quantidade, o Criador tem misericórdia dela e derrama sobre ela o espírito do Alto, isto é, a Grande Abundância.

DESCRIÇÃO DA REVELAÇÃO DA FACE
  1. Recepção abundante do bem e paz, e obtenção de seu sustento com facilidade e ao máximo. Nunca sente escassez ou problemas de saúde, é respeitada onde quer que for, e com sucesso e facilmente realiza qualquer plano que venha à sua mente.
  2. Quando ora, é imediatamente respondido. Quando melhora seus caminhos, é muito bem sucedido, e quando piora seus caminhos, perde seu sucesso.
  3. Todos os seus conhecidos que andam no caminho certo são ricos, saudáveis, não conhecem a doença, são altamente respeitados pelas pessoas, e habitam em paz e tranquilidade. E os conhecidos que não seguem o caminho certo são de renda pobre, cheios de problemas e dores, são doentes, e repugnantes aos olhos das pessoas.
  4. Considera todos os conhecidos justos como inteligentes, sensatos, bem educados, confiáveis, e tão graciosos que é mais agradável estar entre eles.

 

A LIBERDADE

Do livro “Cabala Para o Estudante”

Charut (gravado) nas pedras”; não pronuncie Charut (gravado), mas ao invés Cherut (liberdade), para nos  ensinar  que  eles  atingiram  liberdade  do  Anjo da Morte.”

Midrash Shemot Raba, 41:7

 

Estas palavras precisam ser clarificadas, porque como a recepção da Torá tem relação com a libertação da humanidade da morte? E além disso, uma vez que eles tenham atingido, através da recepção da Torá, um corpo eterno, onde a morte não se aplica, como eles o perderam novamente? Pode algo eterno se tornar  ausente?

 

LIVRE ARBÍTRIO

Para entender o conceito sublime da “liberdade do Anjo da Morte”, precisamos primeiro entender o conceito de liberdade como é normalmente entendido pela humanidade.

De um modo geral, a liberdade é considerada uma lei natural que se aplica à todos os viventes, como podemos ver com os animais que estão em nosso cuidado que morrem quando nós os privamos de sua liberdade. E esta é uma prova clara que a Providência não permite a escravidão de qualquer ser vivente. Não é por nada que a humanidade tem lutado há centenas de anos pela liberdade do indivíduo em certos níveis.

Porém, este conceito, que é expresso pela palavra “liberdade”, permanece obscuro, e se nós nos aprofundarmos no significado mais profundo desta palavra, quase nada permanecerá dela. Porque antes de você poder entender a liberdade do indivíduo, você precisa assumir que todo indivíduo tem a característica chamada “liberdade, isto é, ele pode agir de acordo com seu próprio livre arbítrio.

PRAZER E DOR

Quando observamos as ações de um indivíduo, e encontramos que elas são uma obrigação e são impostas sobre o indivíduo, e que ele não tem escolha a não ser fazê- las. Isto é como um alimento em uma panela no fogão que não tem escolha a não  ser cozinhas, já que a Providência atrelou todos os viventes com duas rédeas: prazer   e dor.

Os animais não têm livre arbítrio para escolher a dor ou rejeitar o prazer. E a superioridade da humanidade sobre os Animais é que a humanidade pode olhar em direção à uma meta distante. Ele pode escolher aceitar um certo nível de sofrimento através de sua escolha do prazer ou benefício que virá para si no futuro.

Mas a verdade é que isto é nada mais que mera contabilidade, que parece ser comercial. Nós estimamos o prazer ou benefício futuro para saber se há vantagem sobre a dor e sofrimento que passamos, para que concordemos em assumir sobre  nós para percorrer nesse meio tempo. Isto é apenas uma questão de subtrair a dor e sofrimento do prazer esperado, e algo extra é deixado.

Afinal, nós somos atraídos apenas pelo prazer. E assim ocorre que algumas vezes nós causamos o nosso sofrimento quando o prazer esperado não é maior do que a dor que sofremos por ele. Portanto, nós estamos “em déficit”, assim como os mercadores.

Em última análise, não há diferença entre a humanidade e os animais, e portanto não há livre arbítrio consciente. Pelo contrário, há uma força que atrai a pessoa para um prazer disponível em qualquer forma e repele a pessoa da dor. E através do poder destas duas forças, a Providência nos guia por onde quer que ela queira sem pedir nossa permissão.

Além disso, mesmo a natureza do prazer ou o benefício não é inteiramente determinada pelo livre arbítrio do indivíduo, mas, pelo contrário, pela vontade dos outros: como eles querem, e não ele. Por exemplo, eu me sento, eu me visto, eu falo, eu como. Eu faço todas estas coisas não porque eu quero sentar desta maneira, me vestir desta maneira, falar desta maneira ou comer desta maneira. Mas porque os outros querem que eu sente, me vista, fale ou coma desta  maneira.

Tudo isto é determinado pela vontade e gosto da sociedade, não pelo meu próprio livre arbítrio. Além disso, eu normalmente faço estas coisas contra minha vontade, porque eu preferiria me comportar em simplicidade, sem fardos ou limitações, mas eu estou escravizado em grilhões de ferro em todas as minhas ações, através dos gostos e condutas dos outros, que são a sociedade.

Se isto é assim, então me diga onde está meu livre arbítrio? E por outro lado, se nós assumirmos que não há livre arbítrio, então todos nós somos nada mais que um tipo de máquina que é controlada pelas forças externas que nos obriga a agir de certa maneira. Isto significa que cada um de nós está aprisionado na prisão da Providência, que através de seus dois grilhões do prazer e dor, nos empurra e puxa para onde quer que ela queira de acordo com a sua vontade, para que não haja egoísmo no mundo.

Isto é porque não há ninguém que é livre e seja proprietário de si mesmo – eu não sou responsável por minhas ações e eu não sou aquele que as faz porque eu quero, pelo contrário eu sou forçado a fazê-las contra a minha vontade. A conclusão é que recompensa e punição deixam de existir.

Isto é muito peculiar, não só para os ortodoxos, que acreditam na Divina Providência e que de qualquer maneira tem certeza e confiança que Deus faz tudo isto pelo propósito bom e desejado. Mas é ainda mais estranho para aqueles que acreditam na Natureza, onde cada um de nós é aprisionado pelos grilhões da Natureza cega, onde não há consciência e nem plano apurado. E nós, os mais elevados dos seres, que têm sabedoria e conhecimento, somos como brinquedos nas mãos da Natureza cega que nos leva cativos, para quem sabe onde?

A LEI DA CAUSALIDADE

Nós devemos tomar tempo para entender este conceito importante. Isto é, como nós existimos neste mundo como uma entidade de egoísmo enquanto que cada um de nós sente que é um ser especial que age de acordo com sua própria vontade, independente de forças externas e desconhecidas, e como esta entidade de egoísmo se revela em nossa mente?

É verdade que existe uma conexão geral entre todos os detalhes da realidade que é posta diante de nós, que vai de acordo com a Lei da Causalidade, através da Causa e Efeito. Assim como isto é verdade ao geral, é também verdade para cada indivíduo em particular. Isto é, toda Criação no mundo, de todos os tipos – Inanimado, Vegetativo, Animado e Falante – é sujeito à Lei da Causalidade, através da Causa e Efeito.

Além disso, cada forma individual e tipo de comportamento da Criação, enquanto exista, é motivado pelas causas precedentes que o compelem a se comportar desta forma e não de outra. E isto é óbvio para qualquer um que observe os sistemas da natureza puramente cientificamente sem qualquer envolvimento pessoal. Nós precisamos analisar isto cuidadosamente para examiná-lo de todos os aspectos e ângulos.

 

QUATRO FATORES

Saiba que tudo que vem a existir às Criações do mundo é um resultado não da “existência a partir da ausência”, mas da “existência a partir da existência”. Isto é, através de uma entidade real que foi removida de sua forma anterior e vestida em sua forma atual.

Assim, nós precisamos entender que tudo no mundo possui Quatro Causas até vir   a existir. Todas quatro juntas determinam seu ser, e elas  são chamadas:

  1. A Fundação.
  2. As condutas de Causa e Efeito que são associadas com as características da Fundação e que não
  3. Suas condutas internas de Causa e Efeito, que mudam através do contato com forças
  4. As condutas de Causa e Efeito através das forças externas que influenciam de

E eu as explicarei uma por uma.

 

A)   A PRIMEIRA CAUSA: A FUNDAÇÃO, O PRIMEIRO  ASSUNTO

A “fundação” é a Primeira Substância relacionado a este ser, pois “não há nada novo abaixo do sol” (Eclesiastes 1:10). E tudo que acontece no nosso mundo não é “existência a partir da ausência”, mas “existência a partir da existência”. De modo que é uma entidade que despiu sua forma anterior e tomou uma forma diferente, diferente da forma que era anteriormente.

E esta mesma entidade que foi despida de sua forma anterior é definida pela palavra “Fundação”, que contém a forma potencial que será revelada no futuro e também a forma final do ser dado será determinada. Portanto, ela deve ser considerada a Primeira Causa em relação ao ser.

 

B)      A SEGUNDA CAUSA: CAUSA E EFEITO PROVENIENTES DAS CARACTERÍSTICAS DE SUA FUNDAÇÃO

Esta é a conduta da Causa e Efeito que se relaciona com as condutas da própria Fundação, que não muda. Por exemplo, um grão de trigo que foi decomposto na terra e se tornou uma semente plantada. Este estado de decomposição é chamado “Fundação”. Isto é dizer que a essência do grão de trigo se despiu de sua forma anterior, que é a forma de um grão de trigo, e tomou uma nova forma, a do grão decomposto do trigo, que é a semente chamada a “Fundação”, que não tem forma. Após se decompor no solo ela é capaz de assumir qualquer outra forma, a de um talo de trigo que pode crescer da Fundação, que é a semente.

É sabido a todos que esta Fundação não tomará a forma de qualquer outro grão, como a aveia, mas apenas a que se correlacione com sua forma anterior que ele se despiu – a do grão de trigo. Embora ela se difira de certas formas em termos de qualidade ou quantidade em termos do sabor ou beleza – onde em sua forma anterior era apenas um grão de trigo e agora é um talo de trigo com dez grãos de trigo – a forma básica, a do trigo, não muda.

Nós temos aqui um sistema de Causa e Efeito que se relaciona às condutas da própria Fundação e nunca muda, já que o trigo não produzirá aveia, como nós explicamos. E isto é chamado a Segunda Causa.

C)  A TERCEIRA CAUSA: CAUSA E EFEITO INTERNAS DA FUNDAÇÃO

Esta é a conduta da Causa e Efeito interna da Fundação, onde a mudança ocorre devido ao contato com forças externas em seu ambiente. Por exemplo, nós podemos encontrar que um grão de trigo que se decompôs no solo produz muitos grãos de trigo, alguns dos quais possam ser até mesmo maiores e melhores do que o grão original de trigo.

Segue-se que aqui nós temos forças ambientais adicionais que participam e combinam com o potencial oculto na Fundação. Esta Causa muda em qualidade e quantidade, que não existe na forma anterior do grão de trigo. Estes são os fertilizantes e minerais no solo, a chuva, o Sol, todos dos quais agem nele dando-lhe seu poder ao potencial imbuído na própria Fundação, que através das condutas de Causa e Efeito trazem a proliferação da qualidade e quantidade em sua manifestação.

Precisamos entender que esta Terceira Causa combina com a Fundação internamente, porque o potencial imbuído na Fundação é a mais forte, de forma que no fim todas as mudanças não se aplicam do reino do trigo, ou seja, as mudanças se aplicam apenas às espécies de trigo e não a outras espécies. Portanto, nós as definimos como “causas internas”, e elas são diferentes da Segunda Causa que não mudam de forma alguma. Isto não é verdade na Terceira Causa, que muda em termos de quantidade e qualidade.

 

D)   A QUARTA CAUSA: CAUSA E EFEITO POR FORÇAS EXTERNAS

Esta é uma conduta de Causa e Efeito através de forças externas que agem sob ele de fora. Isto significa que elas não têm relação direta ao trigo como o Sol ou a chuva. Estes são fatores estranhos, tais como outras plantas próximas a ele, ou acontecimentos externos tais como o granizo, o vento etc.

Assim, encontramos que estas Quatro Causas se combinam no grão do trigo ao longo de seu crescimento. E cada estado individual que o grão de trigo passa é determinado por todos os quatro. A qualidade e quantidade do trigo são determinadas por elas. Assim como com o trigo que nós descrevemos, a lei se aplica  a todo tipo de manifestação no mundo, mesmo pensamentos e  consciência.

Por exemplo, se nós descrevermos o estado mental de uma pessoa, tal como uma pessoa religiosa, ou uma pessoa secular, seja ela extremamente religiosa ou extremamente secular, ou medíocre, nós entendemos também que este estado é determinado pelas Quatro Causas acima mencionadas.

 

POSSESSÕES HEREDITÁRIAS

A Primeira Causa é a Fundação, que é a Primeira Substância. Já que uma pessoa é criada como “existência a partir da existência” isto é, do fruto das mentes de seus pais, nós encontramos um certo nível de similaridade ou duplicação, como a duplicação de um livro. Isto é dizer que quase todas as características encontradas nos pais e dos pais dos seus pais é duplicada no filho.

Porém, a diferença está no despir da forma. Assim como o grão de trigo não está pronto para brotar até que se decomponha no chão e seja despido de sua forma anterior, também a gota de sêmen da qual uma pessoa nasce não tem nada da forma de seus pais – apenas forças potenciais ocultas.

Os traços mentais dos pais se tornam meras tendências, que são chamados instintos, ou hábitos, e a pessoa nem mesmo sabe porque ela se comporta da forma que faz, porque estes são, de fato, forças ocultas que ela herdou de seus pais. Não apenas nossas propriedades físicas são herdadas de nossos pais, nós também herdamos propriedades espirituais deles. Nós herdamos as ideias espirituais e intelectuais de nossos pais, que passam de geração a  geração.

Disto surgem todos os tipos de tendências que são encontradas entre as pessoas, tais como a tendência de acreditar ou criticar, a tendência de estar satisfeito com uma vida materialista ou ser atraído a ideias espirituais e rejeitar a vida que não é desejada, ser avarento ou indulgente, corajoso ou  tímido.

Todas estas características vistas nas pessoas não são propriedades que elas adquiriram por si mesmas – elas são simplesmente características que foi herdade de seus pais e ancestrais. Como os psicólogos sabem, há um lugar especial na mente humana que guardam estas características inerentes, e é chamado de Môach HaMeoréch (medula alongada), ou o subconsciente, onde todas estas tendências são reveladas.

No entanto, como a consciência de nossos pais, que foi adquirida através de suas experiências, se tornaram meras tendências em nós, elas são como o grão de trigo que se despiu de sua forma anterior e foi deixado nu, e apenas suas forças potenciais estão prontas para assumir novas formas. Em nosso caso, as características podem tomar a forma de consciência, que são consideradas como a Primeira Substância e a Primeira Causa que nós chamamos de a Fundação, contendo todas  as tendências que são herdadas dos pais. Isto é chamado de “herança parental”.

Saiba que todas estas tendências, algumas vêm em uma forma negativa. Isto é, o oposto de sua manifestação em seus pais. Por esta razão, é dito que o que está oculto no coração do pai é revelado no filho  abertamente.

E a razão para isto é que a Fundação se despe de sua forma anterior para tomar uma nova forma. Portanto, ela pode estar muito próxima de perder as formas da consciência dos pais, como o grão de trigo que se decompõe no solo e se despe  de toda a forma que ele tinha como um grão de trigo. Porém tudo isto depende das outras Três Causas, como eu mencionei acima.

INFLUÊNCIA  DO AMBIENTE

A Segunda Causa é a conduta de Causa e Efeito que se relaciona diretamente com as propriedades da própria Fundação e que não mudam. Ou seja, retornando à nossa analogia do grão de trigo que se decompõe no solo, a Fundação está sujeita a forças ambientais tais como a terra, minerais, chuva, o ar e o Sol, como nós explicamos acima. Todas estas agem sobre a semente através de uma longa cadeia de Causa e Efeito, estado após estado, até que o trigo amadureça.

Então a Fundação retoma sua forma anterior, a do trigo, embora diferindo em qualidade e quantidade. Em um aspecto geral, não há mudança, o trigo não se torna aveia ou centeio. Mas certas mudanças individuais ocorrem em quantidade, isto é, de um grão de trigo crescem dez ou vinte grãos, e também em qualidade, o trigo pode ser melhor ou pior do que o grão-mãe do trigo.

Da mesma forma, o indivíduo como uma Fundação é determinado pelo ambiente, isto é, a sociedade, e ele é necessariamente influenciado por ela assim como o grão de trigo é influenciado por seu ambiente. A Fundação está apenas em sua forma básica, e portanto, através de um contato contínuo com seu ambiente e sociedade, ele é influenciado por eles gradualmente, através de uma série de situações, uma após a outra por ordem de Causa e Efeito.

Neste momento, as tendências que são parte de sua Fundação mudam e assumem aspectos conceituais. Por exemplo, se ele herda a tendência de ser mesquinho dos seus pais, quando ele crescer ele constrói para si mesmo um sistema de pensamentos e ideias que o permitem tirar a conclusão que é bom ser mesquinho. Nós já sabemos que mesmo se seu pai for generoso, ele pode ainda herdar a tendência oposta e se tornar mesquinho, já que o oposto é também herdado assim como a própria característica.

Ou ele pode herdar a tendência de ser mente aberta, e construir para si mesmo um sistema de pensamentos através dos quais ele atraia a conclusão que é bom para a pessoa ser livre.

Então de onde ela tira suas declarações e formas de discussão e debate? Ela tira todas elas de seu ambiente involuntariamente, já que eles influenciam suas opiniões e sabores através de uma série gradual de Causa e Efeito de tal forma que a pessoa pensa que elas são suas próprias inclinações que ela adquiriu através de seu livre pensamento.

Mas isto é também como o grão de trigo. Há uma parte geral dele que não deixa de ser a Fundação, isto é, no fim ele mantém as tendências que ele herdou. Eles são os mesmos como eram em seus pais, e isto é chamado a Segunda Causa.

HÁBITO  TORNA-SE SEGUNDA NATUREZA

A Terceira Causa é uma conduta de Causa e Efeito direta, que a Fundação passa e pela qual ela muda. Porque as tendências herdadas são mudadas pelo ambiente em ideias, elas agem nas mesmas direções que são determinadas por estas ideias. Por exemplo, um nascido mesquinho cuja tendência e mudada por seu ambiente em uma ideia que entende a mesquinhez de acordo com alguma definição  conceitual.

Vamos dizer que através desta definição conceitual ele assume que se protege através deste hábito para não ser dependente dos outros. Fazendo isto, ele atinge uma escala para sua mesquinhez, e agora ele é capaz de abandoná-la quando a realidade daquele medo não estiver presente.

Encontramos que, da característica que ele herdou de seus pais, ele mudou para melhor. Então algumas vezes ele pode desenraizar uma tendência negativa de dentro de si mesmo completamente, através do hábito, que tem a capacidade de se tornar uma segunda natureza.

Desta maneira, o poder do ser humano é mais forte do que o das plantas, já que a única mudança que um grão de trigo passa é em termos dos detalhes de suas características. Este não é o caso de um ser humano, que tem a capacidade de usar o poder da Causa e Efeito de seu ambiente e desenraizar uma tendência e transformá- la em seu oposto.

FATORES EXTERNOS

A Quarta Causa é a conduta de Causa e Efeito que afeta a Fundação através de coisas completamente estranhas e age sobre ela de fora. Isto significa que estas coisas não tem nada a ver com o sistema de crescimento da Fundação diretamente e afeta ele apenas indiretamente. Por exemplo, questões monetárias, encargos ou os ventos etc., que têm dentro de si mesmos uma série gradual de estados de Causa e Efeito, que fazem com que as ideias de uma pessoa mudem para melhor ou para pior.

Assim, eu estabeleci Quatro Causas Naturais que todo pensamento e ideia de cada ser humano é meramente um resultado. E mesmo se uma pessoa sentar e estudar algo por um dia inteiro, ela não pode adicionar ou mudar ao que estas Quatro Causas a proveram. Qualquer coisa que ela adicione é em termos de quantidade, dependendo se seus poderes mentais são grandes ou pequenos. Isto não é verdade em termos de qualidade, em que ela não pode adicionar nada, já que estas causas determinam para nós o caráter e a forma da mente e conclusões sem nossa volição, sem nos consultar. Desta forma nós estamos sujeitos a estas Quatro Causas, assim como a argila nas mãos do oleiro.

 

LIVRE ESCOLHA

No entanto, quando examinamos estas Quatro Causas, nós encontramos que embora nós sejamos muito fracos para desafiar a Primeira Causa, que é a Fundação, nós ainda temos a capacidade e a livre escolha de nos proteger das outras Três Causas, através das quais a Fundação muda em termos de detalhe particular e algumas vezes também em geral. Ou seja, pelo hábito através do qual nós adquirimos uma segunda natureza, como explicado acima.

O AMBIENTE COMO UMA CAUSA

O significado desta proteção é que nós sempre podemos mudar nosso ambiente – nossos amigos, livros, professores e assim por diante. Da mesma forma, se uma pessoa herda um talo de trigo de seu pai, ele pode crescer dezenas de talos dele, isto é, apenas ao escolher um ambiente adequado para a “Fundação”, a terra rica que tenha todos os minerais e elementos que possam nutrir o trigo e ajuda-lo a crescer plenamente.

Isto também é verdade do trabalho de uma pessoa, ao melhorar as condições ambientais para que elas sejam condutivas ao crescimento. Um sábio pode fazer isto intencionalmente e escolher as melhores condições, e ele encontrará a benção. Enquanto que um tolo aceitará tudo que vier diante dele e sua semeadura será uma maldição e não uma benção.

Toda esta melhora e prosperidade dependem da escolha do ambiente quando semear a semente. Mas uma vez que a semente é semeada no lugar escolhido, a forma final do trigo já está determinada pelo nível de influência do ambiente.

Assim é o caso com nosso assunto, pois é verdade que não há livre arbítrio porque tudo é operado pelas Quatro Causas mencionadas acima. E nós somos forçados a pensar e refletir nos assuntos de acordo com eles, sem nem mesmo um pingo de poder para corrigir ou mudar, assim como o grão de trigo que foi semeado em seu ambiente.

No entanto, nós temos livre arbítrio para escolher um ambiente do princípio, através dos livros e guias que nos influenciam com boas ideias. E se nós não desejarmos fazer isto, e nós aceitarmos qualquer ambiente que apareça, e lermos qualquer livro que encontrarmos, nós certamente nos encontraremos em um ambiente negativo ou desperdiçaremos nosso tempo em livros inúteis, que são os mais abundantes e disponíveis. Através disto, ideias más e ruins são forças sobre nós nos levando a pecar e cometer más ações pelas quais seremos certamente punidos, não devido aos nossos pensamentos e ações ruins, sobre as quais não temos escolha, mas devido a não termos escolhido um bom ambiente, já que nós certamente temos uma escolha sobre isto, como nós explicamos.

Portanto aquele que faz um esforço para sempre escolher um bom ambiente é digno de louvor e recompensa. Aqui também, isto não é devido aos pensamentos e ações da pessoa, sobre os quais ela não tem escolha, mas devido aos seus esforços em adquirir um bom ambiente que lhe leve aos bons pensamentos e ações. É por isto que o Rabi Yehoshua Ben Perachia disse, “Faça para ti um Rav e compre um amigo” (Avot, Capítulo 1, Mishná 6).

 

A NECESSIDADE DE ESCOLHER UM BOM  AMBIENTE

Através disto você pode entender as palavras do Rabi Yosi Ben Kisma (Avot, Capítulo 6), que respondeu a um homem que lhe pediu para vir e morar em sua cidade, pelo qual ele pagaria milhares sobre milhares de moedas de ouro. Rabi Yosi Ben Kisma lhe respondeu, “Mesmo se você me desse toda a prata, ouro, pedras preciosas e jóias no mundo, eu não viveria se não em um lugar de  Torá”.

Pode parecer que estas palavras estão além de nossa simples compreensão. Como ele poderia deixar passar milhares sobre milhares de dinares de ouro por uma coisa tão pequena só porque ele não queria viver em uma cidade onde não haviam estudiosos da Torá, quando ele próprio era um grande sábio e não precisava aprender de ninguém? Este é um grande mistério.

No entanto, isto é algo muito simples, e deve se aplicar a todo e cada um de nós. Porque embora cada um de nós tenha uma “Fundação” própria, nosso potencial se manifesta apenas através de nosso ambiente, assim como a semente que é semeada no solo manifesta seu potencial unicamente através de seu ambiente que é o solo, a chuva e a luz do Sol.

Assim, nós vemos que Rabi Yosi Ben Kisma estava certo ao assumir que se ele deixasse seu bom ambiente que nós escolhemos, e fosse para um ambiente negativo e prejudicial, ou seja, para uma cidade sem Torá, não apenas sua sabedoria anterior deterioraria, os poderes remanescentes inerentes em sua Fundação que ainda não foram manifestados, permaneceriam ocultos. Eles não estariam mais em um ambiente adequado que os levaria de potencial para  realidade.

Como explicamos acima, apenas através da escolha do ambiente a pessoa pode governar sua vida, pela qual ela merece sua recompensa ou punição. Portanto, não há dúvida sobre um sábio como Rabi Yosi Ben Kisma, que escolheu  o bom e rejeitou o ruim, e não foi seduzido por coisas materiais, como é concluído, “Quando um homem morre, ele não é escoltado por prata, ouro, pedras preciosas ou joias, mas apenas pelo estudo da Torá e boas  ações”.

E assim os sábios nos instruíram: “Faça para ti um Rav e compre um amigo”. Isto é também verdade para os livros. Pois apenas esta é a sua vantagem ou desvantagem, isto é, sua escolha do ambiente. Porém, uma vez que tenha escolhido um ambiente, ela está sujeita a ele como a argila nas mãos  do oleiro.

 

O CONTROLE DA MENTE SOBRE O CORPO

Existem muitos estudiosos modernos que, após examinar o assunto mencionado acima e ver como a mente humana é como um fruto que cresce das experiências da vida, como explicamos anteriormente, vieram a conclusão que a mente não tem controle sobre o corpo de forma alguma. Apenas as experiências da vida que são gravadas nos neurônios físicos do cérebro controlam e ativam a pessoa. E a mente  de uma pessoa é como um espelho que recebe as imagens colocadas perante ele. E embora o espelho contenha estas imagens, ele não tem poder para agir sobre as imagens refletidas nele.

Assim também é a mente. Embora as experiências da vida, ao longo de todos os aspectos de Causa e Efeito, são percebidas e conhecidas pela mente, a mente em  si não controla o corpo e não pode movê-lo. Isto é, ela não pode leva-lo mais próximo daquilo que o beneficia nem distancia-lo daquilo que o prejudica, pois o espiritual e o físico estão completamente distantes um do outro. E não existem meios para trazê- los juntos para que a mente espiritual possa agir sobre e controlar o corpo, que é físico, como foi discutido extensivamente.

Mas seu ponto forte é também sua pedra de tropeço, pois a imaginação da pessoa serve a mente assim como um microscópio serve aos olhos. Sem um microscópio, os olhos não podem ver nada porque é muito pequeno. Mas uma vez que a entidade negativa é vista através do microscópio, o ser humano pode evitar aquele germe prejudicial.

Assim, nós vemos que o microscópio e não os sentidos causam as pessoas a agir para evitar o germe, porque os sentidos não podem detectar o germe. Da mesma maneira, a mente não controla o corpo completamente e distancia-o do mau e o leva próximo do bom. Ele faz isto em todos os casos onde o corpo é muito fraco para reconhecer algo benéfico ou prejudicial. Apenas a mente pode fazer  isto.

Além disso, conforme a pessoa reconhece a existência da mente que lhe leva às conclusões certas através da experiência, ela também é capaz de adquirir conhecimento de outra pessoa confiável e aceita-lo como fato, mesmo se suas experiências da vida não sejam suficientes para revelar isto a ele. É como pedir conselho para um médico, a pessoa ouve e aceita seu conselho, embora entenda,  com sua própria mente, nada sobre isto. Assim, a pessoa usa as mentes dos outros e  é ajudada por elas não menos do que por sua própria.

Isto é o que nós explicamos acima, que existem dois caminhos da Providência que asseguram que o ser humano atinja a meta boa e final, que são:

O CAMINHO DA DOR E O CAMINHO DA  TORÁ

Nós aprendemos que toda a claridade que nós explicamos acima, que está no Caminho da Torá, vem daquelas sabedorias e clarezas que estão reveladas, manifestadas e reconhecidas pelo olho, após uma longa cadeia de eventos nas vidas dos profetas, homens de nome e podem ser usados por todos em sua completa extensão e atingem o benefício em fazer isto, como se eles fossem eventos que são parte de sua própria vida. Assim, é claro que através disto, a pessoa não precisa sofrer e passar por todas as experiências amargas para desenvolver para si mesma uma mente clara. Então uma pessoa é poupada do caos e também poupa tempo.

Isto é como um paciente que não quer seguir o conselho do seu médico até que entenda por si mesmo como este conselho a curará. Então ele começa a estudar medicina, e ele pode morrer de sua doença antes de conseguir aprender e entender  a arte da medicina.

Assim é O Caminho da Dor vs. O Caminho da Torá. Pois alguém que não acredita nele e aceita as ideias que a Torá e as profecias sugerem, sem entende-las, pode chegar apenas às mesmas ideias através de uma série de Causa e Efeito da experiência da vida. Isto acelera a capacidade da pessoa em desenvolver um sentido de reconhecimento daquilo que é mal, não através da escolha, como nós explicamos, mas através dos esforços da pessoa em adquirir um ambiente bom que a permita ter estes pensamentos e ações.

 

A LIBERDADE DO INDIVÍDUO

Agora chegamos a um entendimento completo e preciso da liberdade do indivíduo. No entanto, isto se aplica apenas à Primeira Causa, a “Fundação”, que é a Primeira Substância de cada pessoa. Isto é, em termos das tendências que nós herdamos de nossos pais e ancestrais, que distingue uma pessoa da outra.

Você pode ver que mesmo entre as milhares de pessoas que vivem no mesmo ambiente em que as Três outras Causas as afetam no mesmo nível, você não encontrará duas que compartilhem o mesmo atributo.

O motivo para isto é que cada uma delas tem sua própria Fundação única,  de acordo com sua própria essência, que é como a Fundação do grão de trigo, embora ela seja afetada significantemente pelas Três últimas Causas, ela ainda retém sua forma anterior de trigo e nunca pode assumir a forma de outras espécies.

A FORMA GERAL DO PROGENITOR NUNCA É  PERDIDA

Assim é neste caso. Cada Fundação que perde a forma anterior de seus pais, e assume uma nova forma através das Três Causas que a afetam e mudam significantemente, ainda retém a forma geral de seus pais e não as perde, e nunca assumirá a forma de outra pessoa que se assemelha a ela, assim como um grão de aveia não pode ser similar à forma do trigo.

Assim, nós vemos que cada uma das Fundações tem uma longa sequência de gerações de algumas centenas de gerações. E cada Fundação inclui a consciência de todas elas juntas, mas elas não são manifestadas da mesma forma em que elas são encontradas nos pais da pessoa, que está na forma de consciência, portanto despindo sua forma. Assim, a pessoa retém as formas básicas, que são chamadas “tendências”  e “instintos”, sem saber porque atua de uma certa maneira, como explicado acima. Assim, é inconcebível que duas pessoas tenham os mesmos  atributos.

Isto é assim devido a toda e cada fonte ser, em si mesma, uma longa sequência de gerações compreendidas de várias centenas de gerações, e a fonte inclui as concepções de todas elas. No entanto, elas não são reveladas nela das mesmas formas que elas apareceram nos ancestrais, isto é, na forma de ideias, mas apenas como formas abstratas. Portanto, elas existem nela na forma de forças abstratas chamadas “tendências” e “instintos”, sem ela conhecer sua razão ou porque ela faz o que faz. Assim, nunca podem haver duas pessoas com o mesmo atributo.

A NECESSIDADE DE PRESERVAR A LIBERDADE DO INDIVÍDUO

Saiba que esta é a única verdadeira posse do indivíduo, então ela não pode ser prejudicada ou alterada. Isto é porque todas estas tendências contidas na  “Fundação” eventualmente agirão e receberão formas de consciência, quando o indivíduo amadurece e tem sua própria mente, como explicado acima. E através do poder da Lei do Desenvolvimento, que governa esta cadeia de Causa e Efeito, que lhe compele sempre adiante, como explicado no artigo “A Paz”, nós encontramos que cada tendência eventualmente se transforma em uma consciência muito elevada, importante e inestimável.

Assim, encontramos que qualquer um que destrua e desenraize uma tendência de um indivíduo causa a perda de uma ideia sublime e maravilhosa, que era destinada a emergir e evoluir. Pois esta tendência nunca poderá emergia novamente em qualquer outra pessoa senão ela.

Aqui nós precisamos entender que quando uma tendência muda e assume a forma de uma consciência, diferenças de bom e mau não podem mais ser reconhecidas nela pois estas diferenças são aparentes apenas enquanto as tendências ou consciências ainda não estão maduras, e nada delas é reconhecível quando elas assumem a forma da verdadeira consciência. Isto será explicado nos próximos artigos com os devidos fundamentos e argumentos.

Disto, nós entendemos o terrível dano que as nações causam quando elas forçam seu domínio sobre as minorias, privando-as da liberdade sem as permitir exercer a sua forma de vida de acordo com suas tendências que elas herdaram de seus pais, elas são consideradas como assassinos de  almas.

E mesmo aqueles que não acreditam na religião e na Providência proposital podem entender o imperativo de proteger a liberdade do indivíduo através de seu entendimento dos sistemas da natureza. Isto é porque nós vimos como cada nação que caiu à ruína ao longo das gerações, caíram através de sua imposição sobre as minorias e os indivíduos. Fazendo isto, elas lhes superaram e destruíram. Assim, é claro para todos que não há como atingir a paz no mundo se nós não levarmos em conta a liberdade do indivíduo, pois sem isso, a paz não duraria e a destruição só pioraria.

Assim, nós claramente explicamos e definimos precisamente a entidade do indivíduo, excluindo tudo que vem da comunidade. Agora a questão é, onde está o próprio indivíduo? Porque tudo que nós dissemos até agora em termos do indivíduo só pode ser entendido em termos das propriedades do indivíduo que é o legado herdado pelos seus ancestrais.

Quem é que herda e possui estas possessões? Aquele que exige preservar suas possessões? Porque após todas as coisas que nós já explicamos, nós ainda não encontramos o ponto do “eu” do ser humano, aquele ponto do qual nós podemos examinar como uma unidade independente. E qual é o significado da Primeira Causa, que é uma longa série de milhares de pessoas, uma após a outra, de geração  a geração, que se combina para determinar o caráter do indivíduo como um herdeiro?

E qual é o significado das outras Três Causas, que são as milhares de pessoas existindo próximas uma da outra em uma única geração, quando no fim cada indivíduo será julgado em termos de uma única máquina comunitária que está sempre pronta para servir as necessidades e desejos da  comunidade?

Isto significa que o indivíduo está sujeito aos dois  tipos de comunidade:

  1. Em termos da Primeira Causa, a pessoa está sujeita à comunidade massiva das gerações anteriores que vieram uma após a
  2. E em termos das outras Três Causas, a pessoa está sujeita à comunidade em que ela vive com aquela geração em

Esta é verdadeiramente uma questão universal, e por esta razão existem tantas pessoas que se opõem à aproximação mencionada acima, embora elas reconheçam   completamente   sua   validade.   E   elas   escolhem   as aproximações metafísicas, dualísticas ou transcendentais para visualizar uma entidade espiritual e como ela reside dentro do corpo humano como “a alma humana”, que é inteligente e opera o corpo, que é a essência do próprio humano e seu “eu”, ou ego.

Todas estas explicações devem ser suficientes, mas o problema é que elas não têm explicação científica para como um objeto espiritual pode ter qualquer tipo de contato com os átomos espirituais e físicos do corpo e portanto causando qualquer tipo de movimento. Toda a sua sabedoria é inútil para eles para encontrar qualquer coisa suficiente para preencher esta ampla e profunda coluna entre a entidade espiritual e o átomo corpóreo. Assim, a ciência não foi a lugar algum com todos estes métodos metafísicos.

O DESEJO DE RECEBER – EXISTÊNCIA A PARTIR DA AUSÊNCIA

Para tomar um passo adiante com este método científico, tudo que nós precisamos   é a sabedoria da Cabalá, pois todas as sabedorias no mundo são incluídas na sabedoria da Cabalá. E como eu expliquei (no meu comentário Panim Masbirot na questão das “Luzes Espirituais e Vasos” no livro A Árvore da Vida, ramo 1), qualquer coisa nova em termos da Criação que Ele criou “existência a partir da ausência”, somente se aplica a um conceito, que é definido como o Desejo de Receber.

Nenhuma outra coisa na Criação pode ser definida como “nova” pois elas não são “existência a partir da ausência”, mas, pelo contrário, “existência a partir da existência”. Isto é, elas derivam diretamente da Sua essência como a luz é derivada do Sol – não há nada novo sobre isto, aquilo que é contido na essência do Sol estende-se dele.

Isto não é verdade para o Desejo de Receber mencionado acima, que é totalmente novo. Isto é, antes da Criação não havia tal realidade, porque o Criador não tem nada a ver com o Desejo de Receber. Afinal, o Criador precedeu tudo, e do que ou quem Ele receberia? Portanto, este Desejo de Receber, que Ele criou como “existência a partir da ausência”, pode ser considerado como uma entidade completamente nova.

Isto não é verdade para nada além disto, nada mais pode ser considerado “novo” que pode ser chamado uma “criação”. Portanto, todos os vasos e objetos, sejam realidades espirituais ou mundos físicos, são considerados como substância espiritual ou física, cuja natureza é o Desejo de Receber.

 

DUAS FORÇAS NO DESEJO DE RECEBER: FORÇA DE ATRAÇÃO E FORÇA DE REPULSÃO

Além disso, dentro do poder que nós chamamos o Desejo de Receber, nós podemos distinguir entre dos poderes separados que são chamados:

  1. A força de atração.
  2. A força de repulsão.

A razão para isto é que cada vaso ou objeto que é definido pelo Desejo de Receber é limitado em termos de quantidade e qualidade do que ele pode receber. Portanto, vemos que tudo que está além do objeto ou da capacidade do vaso receber em termos de quantidade ou qualidade é considerado sendo contra sua natureza, e por causa disto ele as repele. Por definição ele é Desejo de Receber. Embora isto seja considerado força de atração, neste caso, necessariamente, ele também se torna força de repulsão, entenda isto bem.

 

UMA LEI PARA TODOS OS MUNDOS

Embora a sabedoria da Cabalá não mencione nada do nosso mundo físico, todos os mundos são sujeitos à uma lei (veja o artigo “A Essência da Sabedoria da Cabalá”, começando com: “A Lei de Raízes e Ramos”). Assim, nós também encontramos que qualquer uma de todas as essências que são encontradas em nosso mundo, isto é, seja Inanimado, Vegetativo, Animado, substância espiritual ou substância material, quando vamos determinar o “eu” e a individualidade de cada um deles em termos do que os torna diferentes um do outro mesmo na menor das partículas, é nada além do Desejo de Receber mencionado acima. Esta é toda a forma individual em termos da Criação renovada, e que o limita em termos de quantidade e qualidade como mencionado acima, e através disto deriva sua força de atração e força repulsão.

Mas qualquer coisa que contenha mais do que estas duas forças é considerada como a Shefá (abundância) de Sua essência, e esta Shefá é igual entre todas as criações. Não há nada novo sobre esta Shefá em termos da Criação, visto que é “existência a partir da existência” e ela não pode ser considerada como uma unidade individual, mas, pelo contrário, algo que é comum à todas as criações, grandes e pequenas. Porque cada uma recebe esta Shefá de acordo com as limitações de seu Desejo de Receber, esta limitação se torna aquilo que distingue um indivíduo do outro.

Assim, eu claramente defini de uma forma puramente científica o “eu” ou ego de cada indivíduo através da lógica científica que não pode ser desaprovada ou criticada, mesmo de acordo com os métodos materialistas fanáticos automáticos.

D agora em diante, nós não precisamos mais destes métodos imperfeitos mergulhados na metafísica. Claramente, não faz diferença se esta força, o Desejo de Receber, vem do material descoberto através da química ou do material que vem desta força, pois nós entendemos o ponto que apenas esta força, que é inerente em cada criatura e átomo como o Desejo de Receber de acordo com suas limitações, é a única coisa onde é separado e reconhecível do seu ambiente. Isto também se aplica para tanto um átomo individual quanto um grupo de átomos que formam um corpo.

E todos os outros aspectos em que encontramos mais do que este pode não têm nada a ver com esta partícula ou grupo de partículas em termos da individualidade, exceto em geral, que é a Shefá (abundância) que se estende à elas do Criador. Isto é o que todas as partes da Criação têm em comum, e esta não é uma questão de corpos individuais, como nós explicamos.

Agora nós podemos entender o conceito da liberdade do indivíduo, de acordo com a definição incluída na Primeira Causa, que nós chamamos a “Fundação”, em que todas as gerações anteriores, que são os ancestrais deste indivíduo, foram imbuídas em sua natureza, como discutimos anteriormente. De acordo com esta explicação a definição da palavra “indivíduo” é nada mais que a limitação do Desejo de Receber inerente neste grupo de  partículas.

Assim, vemos que todas as tendências que o indivíduo herdou de seus ancestrais não são nada além da limitação de seu Desejo de Receber, em termos da força de atração dentro dele ou da força de repulsão nele. Nós vemos que estas tendências à mesquinhez ou generosidade, se misturar com os outros ou ficar sozinho, e assim por diante.

Por isso, eles são manifestados como o ego, que luta por seu direito de existir. Assim, se nós destruirmos alguma tendência de um dado indivíduo, é como se nós tivéssemos cortado um de seus membros, e isto é verdadeiramente uma perda para toda Criação, pois não há nada e nunca haverá outro como ele, como explicamos acima.

Agora que nós claramente explicamos o direito justificável do indivíduo à liberdade de acordo com as Leis da Natureza, vamos ver como é possível manter isto na prática, sem violar as Leis da Ética ou diplomacia, e o mais importante, como nós o manteremos de acordo com nossa Santa Torá.

A REGRA DE SEGUIR A MAIORIA

Nossas escrituras dizem: “Siga a Maioria” (Êxodo 23:2) que significa que onde quer que haja uma diferença de opinião entre um indivíduo e um grupo, nós devemos decidir de acordo com a vontade do grupo. É claro que o grupo tem o direito de violar a liberdade do indivíduo.

No entanto, isto nos traz outra pergunta mais difícil. Porque parece que esta lei levaria à regressão, não ao avançamento da civilização, pois a maioria das pessoas é menos avançada e as avançadas são a minoria. E se nós sempre fizermos decisões  de acordo com a maioria, que são menos avançados e imprudentes, vemos que as opiniões e desejos dos sábios e das pessoas avançadas entre a sociedade, que sempre estão na minoria, não serão ouvidas ou levadas em conta. Assim, nós condenamos nossa civilização à regressão e ela não poderá tomar nem mesmo um passo afrente.

Nós explicamos no artigo “A Paz”, no parágrafo que começa com: “A Necessidade de ser Cuidadoso com as Leis da Natureza”, que já que nós somos ordenados pela Providência Divina a viver entre a sociedade, nós somos obrigados a observar todas as leis pertencentes à manutenção da sociedade. Se nós  formos mesmo um pouco negligentes, a NatureZATomará sua vingança de sua própria maneira, independentemente de entendermos as razões destas leis ou não, leia isto cuidadosamente.

Nós podemos ver que não há nenhuma ordem a vida em sociedade sem a Regra de Seguir a Maioria, que cobre cada argumento e infortúnio dentro da sociedade. Esta lei é o único meio para manter o direito da sociedade de existir. Como resultado, entendemos esta lei como parte das Mitzvot (mandamentos) Naturais da Providência, e nós devemos aceitar e observá-los meticulosamente, independente de nossa compreensão deles, assim como com o resto das Mitzvot da Torá, que são todas as Leis da Natureza e da Providência Divina, e que vem a  nós “de Cima para baixo”.

Eu já expliquei (no artigo “A Essência da Sabedoria da Cabalá”, começando com: “A Lei de Raízes e Ramos”) que toda a teimosia aparente nas condutas da natureza neste mundo é apenas porque elas se derivam das leis e regras dos Mundos Superiores Espirituais.

Através disto, você também pode entender que as Mitzvot da Torá não são nada além das leis e regras dos Mundos Superiores, que são as raízes de todas as condutas da Natureza neste nosso mundo. Portanto, as Leis da Torá e as Leis da Natureza neste mundo são sempre semelhantes como duas gotas d’água. E assim nós provamos que a Regra de Seguir a Maioria é uma lei tanto da Providência quanto da Natureza.

 

O CAMINHO DA TORÁ E O CAMINHO DO  SOFRIMENTO

Com tudo isto, nosso dilema sobre a regressão que vem como resultado desta lei ainda não é reconciliada com estas palavras. É nosso papel encontrar formas de consertar isto. Porém, a Providência não perde por causa disto, pois ela cerca a humanidade em dois caminhos: “O Caminho da Torá” e “O Caminho do Sofrimento”, de tal forma que ela assegura o desenvolvimento da humanidade e seu avanço contínuo em direção à meta. E não há nada que possa impedir isto (como explicado no artigo “A Paz” em “Tudo é Dado em Garantia”). Porém, guardar esta lei é uma obrigação natural, como nós explicamos.

O DIREITO DA MAIORIA DE VIOLAR A LIBERDADE DO INDIVÍDUO

Além disso, nós devemos perguntar se estas coisas se aplicam aos assuntos entre uma pessoa e seu próximo, em que nós podemos aceitar a Regra de Seguir a Maioria, pela obrigação da Providência, que exige que nós nos preocupemos constantemente com o sustento dos outros, como nós explicamos.

Porém, a Torá nos obriga a seguir esta Regra de Seguir a Maioria em desacordos sobre as questões que concernem o relacionamento entre um ser humano e o Criador também, embora parece que isto não tem relação com a manutenção da sociedade. Isto nos traz de volta à questão: Como esta lei pode ser justificável se ela nos obriga a aceitar a opinião da maioria, que como nós vimos, não é avançada, e rejeitar as opiniões das pessoas avançadas, que são sempre uma pequena minoria?

De acordo com o que nós provamos (no artigo: “A Essência da Religião e  Seu Propósito”, começando com “Desenvolvimento Consciente e Desenvolvimento Inconsciente”), toda a Torá e as Mitzvot foram dadas apenas para purificar Israel, isto é, para desenvolver em nós o reconhecimento do mal, que é inerente em nós desde o nascimento e definido em termos gerais como amor egoísta, e para chegar ao bem puro, definido como amor aos outros. Este é o único caminho para o amor ao Criador. E isto traz as Mitzvot sobre o homem e o Criador como sendo o meio mais poderoso para distanciar o homem do amor egoísta, que é prejudicial à sociedade.

Assim, é claro que também os casos de discordância sobre as questões que concernem às Mitzvot entre o homem e Deus se relacionam com o problema do direito da sociedade de existir. Portanto, elas também estão sujeitas à Regra de Seguir a Maioria.

Disto, nós podemos entender a prática de distinguir entre as Halachot (Leis da Torá) e Hagadá (histórias bíblicas), porque apenas na Halachá as leis se aplicam: Entre o indivíduo e a maioria, a decisão vai conforme à maioria, e este não é o caso com a Hagadá. As coisas encontradas na Hagadá são mais elevadas do que as coisas pertencentes à existência da sociedade, porque elas falam das condutas das pessoas nas questões entre o homem e Deus, que não tem influência na existência e felicidade física da sociedade.

Portanto, a maioria não tem justificação ou direito de rejeitar ou nulificar a opinião do indivíduo. Isto não é verdade nas Halachot que tratam do cumprimento das Mitzvot da Torá, todas as que se aplicam à existência da sociedade. Pois não há forma de manter a lei e a ordem exceto através da regra de Seguir a Maioria, como nós explicamos.

A VIDA SOCIAL TEM UMA LEI: SIGA A  MAIORIA

Agora que nós clarificamos os assuntos sobre a liberdade do indivíduo, há uma pergunta importante a se fazer: Onde a maioria recebe o direito de violar a liberdade do indivíduo e negá-lo da coisa mais preciosa, a liberdade, quando parece como se isto pudesse ser descrito apenas como uma opressão  física?

Porém, nós já explicamos claramente que esta é uma lie natural e uma obrigação da Providência. E porque a Providência obriga cada um de nós a viver entre sociedade, nós devemos concluir que cada um dos indivíduos é obrigado a assegurar a existência e felicidade da sociedade. Isto não pode acontecer a menor que a lei e ordem sejam asseguradas através da Regra de Seguir a Maioria, em que a opinião do indivíduo não é ouvida ou contada.

Assim, é claro que esta é a origem do direito e justificação da maioria para violar a liberdade do indivíduo contra sua vontade e subjuga-lo. Portanto, segue-se que em todos os assuntos que não pertencem à manutenção da vida material da sociedade, a maioria não tem qualquer direito ou justificação para roubar a liberdade do indivíduo. E se eles fizerem isso, eles são ladrões e violadores que preferem a força física para forçar os direitos e justiça no mundo. Neste caso, a obrigação da Providência não se aplica ao indivíduo, forçando-o a ser subjugado à vontade da maioria.

NA VIDA ESPIRITUAL A REGRA É: “SIGA O  INDIVÍDUO”

Nós vemos que em termos da vida espiritual, o indivíduo não é obrigado pela Lei Natural de ser sujeito de qualquer forma à sociedade, pelo contrário, neste caso a  Lei Natural obriga a maioria a se subjugar ao indivíduo. E como explicado no artigo “A Paz”, existem dois caminhos pelos quais a Providência nos envolve e nos circunda para nos levar à meta final:

  1. O Caminho do Sofrimento, que nos desenvolve não estando conscientes.
  2. O Caminho da Torá e Sabedoria, que nos desenvolve conscientemente, sem necessidade do sofrimento. Leia isto

E uma vez que as pessoas mais avançadas em uma dada geração sempre estão em minoria, segue-se que quando a maioria chega ao ponto onde deseja se libertar do terrível sofrimento e assumir o aspecto do desenvolvimento, estando consciente   e voluntariamente, que é o Caminho da Torá, ela deve subjugar a si mesma e sua liberdade física à disciplina do indivíduo e seguir as ordens e Segulot (plural de Segulá: uma prática, remédio, proteção, meio especial) do  indivíduo.

Assim, vemos que nos assuntos espirituais, o direito da maioria se torna sua obrigação. Disto deriva a Regra de Seguir o Indivíduo, que se refere ao indivíduo avançado. Pois é fácil ver que as pessoas avançadas e educadas são sempre uma pequena minoria dentro da sociedade. E encontramos que o sucesso e a felicidade espiritual da sociedade dependem desta minoria, entenda isto  bem.

Logo, a maioria é obrigada a guardar cuidadosamente as opiniões destes indivíduos para que elas nunca sejam violadas. Eles precisam saber por certo, com certeza absoluta, que estas opiniões mais avançadas e verdadeiras nunca estão nas mãos pela maioria dominante, mas pelo setor mais fraco da sociedade, que é a minoria invisível. A natureza de toda sabedoria e tudo que é precioso vem ao mundo em pequenas quantidades. Assim, somos instruídos a preservar as opiniões dos indivíduos, pois a maioria não é capaz de distinguir entre  eles.

CRITICISMO COMO UM MEIO AO SUCESSO – FALTA DE CRITICISMO COMO MEIO DE DEGENERAÇÃO

Devemos acrescentar ao mencionado acima que a realidade apresenta perante nós uma total contradição entre as coisas materiais e os assuntos das opiniões e ideias sobre este assunto. Visto que a unidade social, que pode ser a fonte de toda felicidade e sucesso só se aplica às coisas materiais e corpóreas nas pessoas, a desunião entre  elas é a fonte de todos os problemas e desgraças.

No entanto, em assuntos de opinião e pensamentos, que é o polar oposto pois a união e falta de criticismo são a fonte de toda falha e ficam no caminho de todo avanço e fertilidade intelectual. Tirar as conclusões corretas é baseado no argumento e diferenças baseadas na multiplicidade de opiniões. Quanto mais oposição, contradição e criticismo houverem, maior sabedoria e entendimento podem se proliferar, e as coisas se tornam mais claras e fáceis de se entender.

Toda falha e degeneração do entendimento vem como resultado da falta de criticismo e discordâncias. Assim, é claro que toda a base para o sucesso material é a unidade entre a sociedade. E a base para as ideias e o sucesso intelectual é a desunião e discordância.

Nós vemos que quando a humanidade atinge sua meta em termos de sucesso físico, que é a realização completa do nível do amor aos outros, então todos os corpos de todos no mundo se unirão como um corpo e um coração (como explicado no artigo “A Paz”), pois apenas então toda a esperada felicidade da humanidade será revelada.

Portanto, por outro lado, nós devemos ser cuidadosos em não deixar as opiniões da humanidade se tornarem tão similares que o argumento e a discordância dos sábios e estudiosos desapareçam, pois o amor físico naturalmente causa à similaridade de opinião. E se a discordância e criticismo desaparecerem, todas as ideias e avançamento intelectual cessarão, e a fonte de sabedoria irá, como entendemos, secar do mundo.

Esta é uma prova clara da obrigação de proteger a liberdade do indivíduo em termos dos pensamentos e opiniões porque todos os avanços da sabedoria e conhecimento são baseados nesta liberdade do indivíduo. Portanto, somos alertados a proteger este direito muito cuidadosamente, proteger cada uma das formas dentro de nós que nós chamamos o indivíduo, isto é, o poder pessoal da pessoa individual, que em termos gerais é chamado o Desejo de Receber.

HERANÇA ANCESTRAL

Isto também é verdade para todos os componentes, que são incluídos no Desejo de Receber, onde nós os definimos pelo termo “Fundação” ou “Primeira Causa”, que se refere à todas as tendências e hábitos etc. que alguém herda de seus pais e ancestrais. Nós vemos isto como uma longa cadeia de milhares de pessoas que viveram em seu próprio tempo e que ficam uma abaixo da outra. Cada uma delas é a essência de  seus pais, e através desta essência todos herdam as propriedades espirituais de seus ancestrais através de seu “Môach HaMeoréch” (medula alongada), chamado “subconsciente”, de tal forma que o dado indivíduo tem todas as milhares de heranças espirituais de cada indivíduo na cadeia de pais e ancestrais que levaram a elas.

Portanto, assim como a face de cada indivíduo difere, suas opiniões diferem. Não existem duas pessoas no mundo que tenham as mesmas opiniões, visto que cada uma possui sua própria grande e sublime propriedade que herdou de seus milhares de ancestrais, e outros não têm nenhum pingo delas.

Portanto, todas estas propriedades são consideradas a propriedade do indivíduo, que a sociedade é instruída a proteger para que eles não sejam distorcidos pelo ambiente, mas pelo contrário cada indivíduo retém sua herança completa. Então a oposição e contradição entre eles permanecerá para sempre, para assegurar que o criticismo e o avanço de sabedoria permanecerão conosco para sempre. Isto é tudo o que torna a humanidade superior com todos os seus anseios verdadeiros e eternos.

E agora que nós reconhecemos a certa medida o conceito do egoísmo humano, que nós definimos em termos do potencial e como o Desejo de Receber, e o ponto da individualidade de todas as coisas vivas, nós também podemos entender claramente em sua dimensão plena, o nível e as propriedades únicas de cada indivíduo, que nós definimos como “herança ancestral”. Isto se refere à todas as tendências e características que nós herdamos através de nossa “Fundação”, que é a Primeira Substância de cada pessoa, isto é, a semente de seus pais. Nós explicaremos agora os dois aspectos do Desejo de Receber.

DOIS DISCERNIMENTOS: A) POTENCIAL, B) REAL

Primeiro, nós precisamos entender que embora este egoísmo, que nós definimos como o Desejo de Receber, é a base da essência do ser humano, é impossível dizer que ela possui qualquer existência real mesmo por um momento. Porque o que nós definimos como “potencialidade”, isto é, antes do potencial se tornar real, apenas existe no pensamento, ou seja, nós só podemos determina-lo através do pensamento.

Porém, nós não podemos imaginar qualquer força real quando está em repouso e não em ação, pois a força só existe quando e para que nível ela se manifesta como ação. Assim como nós não podemos dizer que um bebê é muito forte quando ele não consegue nem mesmo erguer um peso leve, mas nós podemos dizer que vemos que quando o bebê crescer ele será muito  forte.

No entanto, nós podemos dizer que o poder e a força que encontramos em uma pessoa uma vez que tenha crescido estava aparente em seus membros e em seu corpo quando era um pequeno bebê, mas esta força estava então oculta, e não manifesta na realidade. É verdade que era possível determinar (os poderes destinados que seriam eventualmente manifestados) em pensamento, pois a mente demanda isto. Porém, no corpo real do bebê certamente não há poder e força, pois nenhuma força real foi manifesta nas ações do bebê.

O mesmo se aplica ao apetite. Este poder não se manifesta no corpo real da pessoa quando os órgãos não são capazes de comer, isto é, quando se está saciado. No entanto, mesmo quando a pessoa está saciada, o apetite existe em potencial, mas é oculto no corpo, e depois, após a digestão, se manifesta novamente, e vai de potencialidade à realidade.

Porém, esta declaração (sobre a potencialidade que não foi manifestada na realidade) se aplica às condutas dos pensamentos da mente, embora ele não existe  na realidade. Quando estamos saciados nós sentimos isto, e é claro que nosso apetite desapareceu. Quando buscamos por ele, ele se foi.

Assim nós vemos que não podemos conceber uma força como um sujeito que carrega, suporta, descansa ou existe por si mesmo, mas pelo contrário é concebido como um predicado, isto é, quando a ação ocorre na realidade a força se manifesta através da ação.

Embora conceitualmente falando nós necessariamente tenhamos duas coisas aqui, o sujeito e o predicado, isto é, o potencial e o real, tal como o apetite, que é o sujeito, e a imaginação do alimento a ser comido, que é o predicado e a realidade,  na realidade eles se manifestam como uma coisa. Nunca acontecerá que a força do apetite se manifeste em uma pessoa a menos que ela imagine algo para comer, pois estas são as duas metades da mesma coisa. O poder do apetite deve se vestir com aquela imagem, e entenda isto bem, o sujeito e o predicado se manifestam de uma vez só e desaparecem ao mesmo tempo.

Disto, é claro que pelo Desejo de Receber, que nós apresentamos como egoísmo, não queremos dizer que há no ser humano uma força que anseia e deseje receber como um predicado passivo. Pelo contrário, isto significa que isto está no sujeito, ou seja, ele toma a imagem de algo digno de ser comido e sua ação é manifestada como uma imagem do preenchimento do alimento. Esta ação é chamada de “desejo”, o poder do apetite que se manifesta através da ação da imagem do preenchimento.

Assim é com nosso assunto, o Desejo de Receber em geral, que é o núcleo e a essência do ser humano. Ele se manifesta e existe apenas quando ele toma a forma das coisas que é suscetível a receber. Apenas então, e em nenhum outro, ele existe como um sujeito. Nós nos referimos a esta ação como “vida”, que é a “essência da vida do ser humano”, ou seja, que o Desejo de Receber se manifesta e age através das coisas que ele deseja receber. E o nível ao qual esta ação se manifesta é o nível ao qual a pessoa está viva, assim como dissemos sobre a ação que nós chamamos “desejo”.

DUAS CRIAÇÕES: A) ADAM (SER HUMANO), B) A ALMA  VIVENTE

Desta explicação nós podemos entender claramente as escrituras: “E Deus formou Adam do pó da terra e Ele soprou em suas narinas o sopro da vida, e Adam se tornou uma Néfesh Chaiá (alma vivente)” (Gênesis 2:7). Aqui encontramos duas  Criações:

  1. O próprio Adam
  2. A própria Alma Vivente

Esta passagem nos diz que Adam foi primeiro criado como o pó da terra, isto é, a combinação de um certo número de moléculas que incluem a essência do ser humano, isto é, seu Desejo de Receber. Este Desejo de Receber é imbuído em todas as moléculas da existência, como nós explicamos acima, e deles todos os quatro tipos  de existência foram criados: Inanimado, Vegetativo, Animado e Falante. A este respeito, o ser humano não é superior aos outros tipos de Criação. Este é o significado das palavras “pó da terra”.

No entanto, como nós já explicamos, esta força que nós chamamos o Desejo de Receber não tem existência a menos que se manifeste e aja através das coisas que ela desejou. Esta ação é chamada “vida”, e assim nós encontramos que antes de Adam atingir as formas de receber do prazer humano, que são diferentes daquelas das outras criações, ele era considerado como morto e inerte, pois seu Desejo de Receber não tinha como se manifestar e revelar suas ações, que é a manifestação da vida, como dissemos.

É por isto que dissemos: “…e Ele soprou em suas narinas o sopro (nishmat) da vida”, que é a combinação das formas de recepção, que se aplicam ao ser humano. A palavra nishmat (alma) vem da palavra “shamin” a terra, ou seja, avaliar ou estimar. (A origem da palavra “neshamá” pode ser entendida do verso: “O espírito de Deus  me formou, e a alma do Todo Poderoso me deu vida” (33:4), veja o comentário pelo Malbim). E a palavra “neshamá” é um verbo passivo como “falta” (Nifkad), “acusado” (Ne’esham), e “acusada” (Ne’eshama – termo feminino de  Ne’esham).

E esta passagem nos ensina que “…e Ele soprou em suas natinas” significa que Deus injetou uma alma (Neshamá) dentro da internalidade de Adam a avaliação  e dimensionamento da “vida”, que significa a soma total de todas as formas que são dignas de serem desejadas através de seu Desejo de Receber. E então esta força do Desejo de Receber, que estava contida em suas moléculas, encontrou um lugar no qual se vestir e agir, isto é, através das mesmas formas de recepção que o Criador lhe deu. Esta ação é chamada “vida”, como explicamos acima.

É por isto que a passagem termina com: “…e Adam se tornou uma alma vivente”. Então uma vez que o Desejo de Receber começou a agir dentro dele de acordo com os níveis destas formas de recepção, imediatamente a vida se manifestou nele e ele se tornou uma alma vivente. Isto não ocorreu antes de ele receber as formas de recepção. Embora ele já estivesse imbuído com a força do Desejo de Receber, ele ainda era considerado como um corpo morto inerte, pois ele não tinha lugar para ser visto e vir dentro dele como uma manifestação de uma ação, como explicamos.

Como vimos acima, embora a essência do ser humano seja o Desejo de Receber, esta é apenas metade dela, pois ela precisa de algo real para se vestir para que venha desta forma, e portanto, o desejo e a imagem daquilo que deseja são literalmente uma coisa. O desejo não pode existir nem mesmo por um momento sem a imagem desejada, como nós explicamos.

Assim, quando o corpo está à altura de seus poderes, que é no meio do seu tempo de vida, e seu ego está em sua altura total como inerente desde o nascimento, é então quando ele sente o Desejo de Receber em sua completa medida e força. Em outras palavras, ele anseia atingir muita riqueza, honra e tudo o que vê. Isto é devido a completude do ego da pessoa, que atrai para si mesma as formas das estruturas e conceitos em que se vestir e, portanto, existir.

Porém, conforme a meia idade passa, começam os dias de declínio, e sua essência é os dias de morte, pois a pessoa não morre de uma vez, assim como não adquire sua forma final de uma vez, mas pelo contrário sua “vela”, que é seu ego, apaga gradualmente e juntamente com ela, as imagens das coisas que  desejava receber desvanecem.

Ela começa a abrir mão das coisas que sonhava em sua juventude, e cada vez mais abre mão da intensidade das coisas conforme se aproxima da velhice, até que esteja muito velho e a sombra da morte paira sobre todo o seu ser. Neste momento, ela se contra em “tempos sem apelo”, dado que o Desejo de Receber, que é seu ego, gradualmente desvanece e desaparece até que é deixado sua centelha pequena e oculta, isto é, na manifestação de algum objeto. E portanto, nestes dias não há apelo ou esperança por qualquer imagem de recepção.

Assim, nós provamos que o Desejo de Receber e a imagem do objeto que a pessoa deseja são a mesma coisa, onde a manifestação é a mesma, e o nível da vida é o mesmo, e a medida é a mesma.

Porém, há uma distinção importante na medida da forma de concessão que ocorre no fim da vida da pessoa. Esta concessão não é porque a pessoa está saciada   e está abrindo mão de qualquer desejo de comer, mas pelo contrário, pelo desespero. Em outras palavras, que o ego, quando a pessoa começa a morrer nos dias de declínio, sente sua própria fraqueza e morte se aproximando, e portanto a pessoa aumenta seu desespero e desiste de seus  sonhos e esperanças de sua juventude.

Examine cuidadosamente a diferença entre a concessão da saciedade, que não causa dor e não pode ser chamada uma “morte parcial”, mas pelo contrário é uma ação que foi completa. Mas a concessão pelo desespero é cheia de dor e sofrimento, e portanto, pode ser chamada “morte parcial”, entenda isto  bem.

LIBERDADE DO ANJO DA MORTE

Agora, baseado em tudo que nós declaramos, encontramos uma abertura para entender corretamente as palavras dos sábios que ensinaram: “‘Charut (gravado) nas pedras’, não pronuncie ‘Charut (gravado)’, mas ao invés ‘Cherut (liberdade)’”, que se refere à liberdade do Anjo da Morte.

Pois como nós explicamos nos artigos “Matan Torá” e “Arvut”, antes da entrega da Torá, eles assumiram sobre si mesmos a renúncia de toda propriedade privada ao nível expresso pelas palavras “um Reino de Sacerdotes”. E eles aceitaram  a meta de toda Criação, aderir a Ele através da Similaridade de Forma com Ele, que compartilha e não recebe. É por isto que eles só compartilharão e não receberão, que é o último nível de Dvekút (adesão) como expresso pelas palavras “Nação Santa”, como declarado no fim do artigo “Arvut”.

Eu já te levei a perceber que a essência da individualidade de uma pessoa, ou seja, seu egoísmo, definido como o Desejo de Receber, é apenas metade de uma coisa,  e não pode existir sem se vestir em alguma imagem de uma posse ou esperança por uma posse, pois apenas então nosso assunto é completo, e pode ser chamado de individualidade de uma pessoa.

Assim, quando os filhos de Israel foram recompensados com completa Dvekút naquela Santa Ocasião, seus vasos de recepção foram completamente esvaziados de qualquer posse mundana e eles aderiram a Ele em Similaridade de Forma. Isto significa que eles não tinham qualquer desejo por posse para si mesmos, mas apenas à extensão que eles podiam dar prazer ao  Fazedor.

E uma vez que seu Desejo de Receber tinha se vestido em uma imagem de posse, ele se vestiu nele e se ligou a ele para compor um ser completo. Portanto, eles foram certamente libertos do Anjo da Morte, pois a morte é necessariamente a ausência e negação da existência de qualquer coisa. Isto é apenas possível enquanto há alguma centelha que deseja existir para seu próprio prazer. Nós podemos dizer que esta centelha deixou de existir, pois ela desapareceu e morreu.

Este não é o caso se o ser humano não possui estas centelhas mencionadas acima, mas todas as centelhas de sua individualidade se manifestam através da doação de contentamento ao Fazedor, e não pode ser nem ausente nem morta. Pois mesmo quando o corpo concede, ele concede apenas do aspecto do desejo egoísta. O Desejo de Receber é vestido nele e não pode existir de outra forma.

Porém, quando a pessoa atinge o Propósito da Criação e o Criador recebe prazer dela, uma vez que é feita a Sua vontade, nós encontramos que a essência da pessoa se veste através daquele prazer do Criador e através disto ela recebe a completa eternidade como o Criador e, portanto, merece a liberdade do Anjo da Morte.

Este é o significado do Midrash: “…liberdade do Anjo da Morte” (Shemot Raba 41:7) e da Mishná: “Gravado nas pedras…” (Avot 6). Não leia ‘Charut (gravado)’, mas ao invés ‘Cherut (liberdade)’. Pois ninguém está livre, exceto aquele que se aplica no estudo da Torá.

INTRODUÇÃO AO ESTUDO DAS DEZ SEFIROT

Do livro “Cabala Para o Estudante”

1) No princípio das minhas palavras, eu encontrei uma grande necessidade de quebrar um muro de ferro que existe e nos tem separado da Sabedoria da Cabalá desde a destruição do Templo até a nossa atual geração. Ela colocou uma carga intensa e pesada em nossos ombros, e levanta temores de que a Cabalá pode, Deus proíba, ser esquecida dos Israelitas.

E sempre que eu começo a falar para o coração de alguém sobre o seu envolvimento neste estudo, sua primeira questão é: “Porque eu devo saber quantos anjos há nos Céus e quais são os seus nomes? Eu não posso cumprir toda a Torá, com todos os seus detalhes e particularidades, sem toda esta informação?”.

Segundo, a pessoa pergunta ainda: “Os sábios já estabeleceram que se deve primeiro encher sua barriga com Mishná e Halachá. Mas quem poderia iludir-se que já terminou de estudar toda a Torá Revelada, e que a única coisa faltando para ela é a Torá Oculta? ”

Terceiro, esta pessoa tem temor que ela possa, Deus proíba, perder-se por causa do seu envolvimento. Afinal, existem vários exemplos de pessoas que se desviaram do caminho da Torá porque elas se envolveram com a Cabalá. “E se este  é o caso”, “por que eu preciso deste problema? Quem seria tão tolo ao ponto de colocar a si mesmo em perigo sem motivo? ”.

Quarto, “Mesmo aqueles que estão a favor deste estudo não permitem a todos, exceto aos santos, servos do Criador, ‘nem todos que desejam tomar posse do Nome podem vir e tomar’”. (Tratado Berachot 17b).

Quinto, e mais importante: “Há uma regra que em todo caso de dúvida, devemos sair e ver o que a maioria das pessoas fazem. E eu vejo que, todos os eruditos em Torá da minha geração têm uma opinião semelhante a minha – e eles evitam o estudo do Oculto. Eles até mesmo aconselham aqueles que perguntam que, sem dúvida alguma, é muito melhor estudar uma página na Gemará do que este envolvimento”.

2) De fato, se somente focarmos nossa atenção em responder uma pergunta muito bem conhecida, eu tenho certeza que todas estas questões e dúvidas desaparecerão do horizonte; e você olhará para este lugar mas elas desapareceram. Esta é uma pergunta muito pequena questionada por todos os seres humanos, a saber: Qual é o propósito (lit. motivo, gosto) das nossas vidas? Em outras palavras, quem aprecia todos estes anos de nossas vidas, que são tão custosos para nós em termos de todo o sofrimento e dor que experimentamos, para concluirmos a vida completamente até o seu fim? Ou mais precisamente: A quem eu estou beneficiando?

É verdade que os estudiosos através das gerações se desgastaram ao contemplar ela, e é preciso dizer, ninguém pôde nem mesmo considerá-la em nossa geração. No entanto, ao mesmo tempo, a questão ainda está com toda a sua validade e amargura. Pois às vezes, ela nos encontra sem ser convidada e atormenta nossa mente, fazendo-nos ajoelhar em humilhação até que consigamos encontrar o esquema bem conhecido – isto é, prosseguirmos sem pensar, fluindo nas correntes da vida, como no passado.

3) De fato, para resolver este dilema, as Escrituras dizem: “Prova e veja que o Criador é bom!” (Salmos 33:8). Pois aqueles que seguem a Torá e cumprem as Mitzvot de acordo com a Halachá são aqueles que provam o “sabor da vida” e que veem e testemunham que o Criador é bom. Assim como nossos sábios falaram: “Ele criou os Mundos para beneficiar Suas criaturas pois a natureza do Bom é fazer o bem”.

Mas, certamente, quem ainda não provou a vida do cumprimento da Torá e das Mitzvot não pode entender e sentir que o Criador é bom, de acordo com as palavras dos nossos sábios que disseram que o único propósito pelo qual o Criador criou o homem foi para beneficiá-lo. No entanto, ele não tem outro conselho se não cumprir a Torá e as Mitzvot de acordo com a Halachá. Isto é o porquê é dito na Torá: “Veja, eu ponho diante de ti este dia a vida e o bem, a morte e o mal…”. (Deuteronômio 30:15)

Antes de a Torá ser entregue, nós não tínhamos nada além da morte e o mal na frente de nós. O significado é conforme segue: Os sábios disseram que os malfeitores são chamados mortos mesmo estando vivos (Tratado Berachot, 19b) pois   é melhor para eles estarem mortos do que vivos, uma vez que o sofrimento e a dor que eles passam para sustentar suas vidas excedem muitas vezes sobre o prazer insignificante que eles decorrem nesta vida. E, de fato, agora que tivemos o mérito  de receber a Torá e as Mitzvot, nós obtemos – ao cumpri-las – a vida real e feliz, que alegra seus donos, conforme é dito nas Escrituras: “Prova e veja que o Criador é bom!” (Salmos 33:8) E é por isso que as Escrituras dizem: “Veja, eu coloquei diante de ti a vida e o bem,” (Deuteronômio 30:15) que não era de forma alguma parte de nossa realidade antes da Torá ser entregue.

E é por isto que as Escrituras terminam com: “Escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e a tua semente”. (Deuteronômio 30:19) Existe uma aparente redundância aqui: “…escolhe, pois, a vida, para que vivas”. No entanto, é uma referência para a vida no cumprimento da Torá e as Mitzvot, pois somente então existe realmente a vida. Este não é o caso vivendo sem a Torá e as Mitzvot, este tipo de vida é mais difícil do que a morte. Isto é o que os nossos sábios queriam dizer quando disseram que o malfeitor é chamado morto mesmo enquanto ainda está vivo. E este é o significado do que a escritura diz: “…para que você e seus descendentes vivam,” que é para dizer que a vida sem a Torá não somente não provê alegria alguma para os seus donos, mas eles também não podem trazer nenhuma alegria aos outros.

A pessoa não pode nem mesmo desfrutar dos filhos que ela dá à luz, porque até mesmo suas vidas são mais difíceis do que a morte, então que tipo de presente  ela está dando a eles? Mas aqueles que vivem com a Torá e as Mitzvot não somente tem a alegria de sua própria vida, mas também se alegram por dar à luz à mais filhos e legar-lhes esta boa vida. Este é o significado de: “…que você e seus descendentes vivam,” pois tem um deleite adicional nas vidas dos seus filhos, da qual foi à causa.

4 ) Da passagem anterior, você deve ser capaz de entender as palavras dos nossos sábios em relação ao que disseram: “Escolha a vida,” (veja o comentário do Rashi, Deuteronômio 30:19) que diz o seguinte: “Eu estou instruindo você a escolher a parte da vida, assim como um homem fala ao seu filho: Escolha para si a melhor parte da minha terra. E leva ele até a melhor parte da terra e lhe diz: Escolha esta! E sobre isto, é dito: “O Criador é a porção da minha herança e do meu cálice, Tu sustentas o meu lote.” (Salmos 16:5) Tu colocaste minha mão no bom lote, dizendo: Toma este para ti.” Estas palavras parecem ser intrigantes.

As Escrituras dizem: “Escolha a vida,” que significa que a pessoa faz sua própria escolha. Eles dizem que Ele leva-o ao bom lote, e se este é o caso, não há escolha. Não apenas isto, eles também dizem que o Criador coloca a mão da pessoa no bom lote, e isto é bastante intrigante pois se é assim, onde está o livre arbítrio da pessoa?

Com a seguinte explicação, você entenderá estas palavras no seu correto significado.

Pois é verdade e correto que o Próprio Criador coloca a mão de uma pessoa no bom lote, isto é, dá a ela uma vida de prazer e satisfação dentro da vida material que está cheia de sofrimento e dor, e desprovida de qualquer substância; que a pessoa pode inevitavelmente desligar-se e fugir dela no primeiro momento em que vê um lugar tranquilo, mesmo que aparentemente apareça em meio as rachaduras [Cântico dos Cânticos 2:9], assim ela pode fugir desta vida que é mais difícil do que a morte. Então, não há nada maior para a pessoa que o Criador colocar a mão do homem no bom lote.

A escolha da pessoa cinge-se apenas ao seu fortalecimento pois certamente muito trabalho e esforço são necessários até que a pessoa possa purificar seu corpo  ao ponto de ser capaz de cumprir corretamente a Torá e as Mitzvot, isto é, não para seu próprio prazer mas para dar prazer ao seu Criador. Isto é chamado Lishmá (em Nome Dela), pois somente desta forma podemos receber a vida de felicidade e prazeres que acompanham o cumprimento da Torá. E certamente, antes de atingir esta pureza, existe certamente o livre arbítrio para perseverar no caminho do bem, usando toda a sorte de meios e táticas. Sua mão deveria encontrar força para fazer  até que o trabalho de purificação seja feito, para que ela não, Deus proíba, caia no meio do caminho com todo o seu fardo.

5) De acordo com o mencionado acima, podemos entender as palavras dos nossos sábios no Tratado de Avot (6:4): “Este é o caminho da Torá: comereis pão com sal, bebereis pouca água, dormireis no chão, vivereis uma vida sofrida e de trabalho em Torá. Se fizer isto, ‘feliz serás e te irá bem.’ (Salmos 128:2) Feliz serás – neste mundo; e ‘te irá bem’ – no Mundo Vindouro”.

Podemos questionar suas palavras. Qual é a diferença entre a sabedoria da Torá e todos os outros ramos mundanos de conhecimento, que não requerem este tipo de asceticismo (prática de abstenção de prazeres) e uma vida sofrida? Nestes outros ramos, esforço em si é completamente suficiente para atingi-lo. Na sabedoria da Torá, mesmo que coloquemos muito esforço nela, isto ainda não é suficiente para atingi-la. A única forma é através do asceticismo, como “pão com sal etc. e a vida sofrida etc.”.

E o fim destas palavras é ainda mais intrigante pois diz: “Se fizer isto, feliz serás neste mundo, e irá bem no Mundo Vindouro.” Embora seja possível que tudo vá bem comigo no Mundo Vindouro, como eu posso dizer que neste mundo, enquanto eu me auto mortificar com o comer, beber e dormir, e viver em grande sofrimento: “Feliz serás neste mundo.” Isto pode ser chamado de uma vida feliz no contexto deste mundo?

6) De fato, o comentário acima indica que se envolver com a Torá e cumprir corretamente as Mitzvot é, no sentido mais amplo, dar prazer ao nosso Criador e não ao nosso próprio prazer. Nós não podemos chegar neste nível exceto através de muito trabalho e grande esforço em purificar nosso corpo. O primeiro esquema para fazer isto é criar o hábito de nunca receber nada para o nosso próprio prazer, mesmo com relação às coisas que são permitidas e necessárias para o sustento do nosso corpo, tais como comida, bebida, dormir, e outros requisitos similares. Assim, podemos evitar completamente até mesmo o prazer que inevitavelmente vem do provimento do nosso sustento, ao ponto que nós estamos literalmente vivendo uma vida literalmente vivendo uma vida sofrida.

E então, quando já tivermos chegado a este hábito e nosso corpo não tenha mais desejo de receber qualquer prazer para si mesmo, podemos começar a nos envolver com a Torá e cumprir as Mitzvot daquela maneira, que é, dar prazer ao nosso Criador e não para nós mesmos. (Isto é verdade se nós não perguntarmos sobre aquelas palavras, conforme é dito em Tosafot do Tratado de Rosh Hashaná, página 4, começando com as palavras: Com o propósito…, veja lá; e também há um segredo lá, como foi dito por Maimônides e nada mais deve ser dito aqui). E quando nós finalmente merecermos isto, então mereceremos provar a vida feliz, cheia de todo tipo de bondade e prazer, não contaminada com qualquer tipo de tristeza – o tipo de vida que é revelado através do envolvimento com a Torá e as Mitzvot Lishmá (em Nome Dela).

Assim como Rav Meir disse (Tratado Avot 6a): “Qualquer um que se envolva na Torá Lishmá merece muitas coisas; e não só isso, mas ele é digno de desfrutar de todo o mundo etc. … E os segredos da Torá são revelados para ele; e ele se torna como uma fonte abundante etc.” Estude isto bem. E desta pessoa as Escrituras dizem: “Prova e veja que o Criador é bom!” (como discutimos acima, Item 3) pois aquele que prova o sabor de envolver-se com a Torá e Mitzvot Lishmá recebe o mérito de ver para si mesmo o Propósito da Criação, que é somente trazer a bondade para os seres criados já que a natureza do bom é doar bondade. E ele alegra-se e regozija-se com os anos de vida que o Criador doou a ele, e “ele é digno de desfrutar de todo o mundo”.

7) Agora você pode entender os dois lados da moeda em como se envolver com a Torá e as Mitzvot. O primeiro lado é o Caminho da Torá, isto é, a preparação extensiva que o homem precisa passar através da purificação do seu corpo antes de ele merecer realmente cumprir a Torá e as Mitzvot. Neste estado, irá necessariamente se envolver com a Torá e as Mitzvot Lo Lishmá (Não para Seu Nome), mas com uma mistura de prazer pessoal. Isto porque ele ainda não conseguiu corrigir e purificar seu corpo deste desejo de receber prazer das vaidades do mundo.

Durante este período, precisa viver uma vida de sofrimento e precisa trabalhar na Torá, conforme é dito na Mishná. De fato, depois de ter terminado e completado o Caminho da Torá, e já ter corrigido seu corpo e ser agora qualificado para cumprir a Torá e Mitzvot Lishmá, para dar prazer ao seu Criador, então se move ao outro lado da moeda: uma vida de prazer e grande paz, que é o pretendido para   a Criação por “beneficiar Suas criaturas”. Esta é a vida mais feliz neste mundo e no Mundo Vindouro.

8) Temos então que clarificar a grande diferença entre a sabedoria da Torá e os outros tipos de sabedoria. Atingir outros tipos de sabedoria não melhora a vida neste mundo, assim como elas não oferecem nem o menor alívio para a pessoa pela dor e sofrimento que ela sofre ao longo de sua vida. Por este motivo, não precisa purificar seu corpo; o trabalho e esforço que investe para obter tal tipo de sabedoria são suficientes, da mesma maneira que quaisquer outros bens mundanos são obtidos através de esforço e trabalho. Este não é o caso, porém, com a Torá e as Mitzvot pois todo o seu propósito é preparar a pessoa para estar pronta para receber toda a bondade que está incluída no Propósito da Criação: “fazer o bem às Suas criaturas”. Por este motivo, a pessoa certamente precisa purificar seu corpo para que seja digno e condizente a este bem Divino.

9) Isto também clarifica o dito na Mishná que “Se assim o fizeres, serás feliz neste mundo”. Eles foram intencionalmente precisos em nos ensinar que a vida feliz neste mundo é disponível apenas para aqueles que completaram o Caminho da Torá. Isto significa que a austeridade em comida, bebida, e dormir assim como levar uma vida sofrida; tudo falado aqui são praticados apenas quando se está no Caminho da Torá, que é o porquê eles especificamente disseram: “Este é o Caminho da Torá etc.”. E depois de você completar este caminho de Lo Lishmá, com austeridade e uma vida sofrida, a Mishná conclui: “Serás feliz neste mundo”, pois você terá obtido a mesma felicidade e bondade que foi incluída no Propósito da Criação, e você será digno de desfrutar “o mundo inteiro”, referindo-se a este mundo e mais ainda no Mundo Vindouro.

10) E isto é o que está escrito no Zohar (Gênesis A 37:351) sobre o verso, “E o Criador disse, ‘Sejas Luz’, e foi Luz” (Gênesis 1:3): “‘Sejas Luz’ – para neste mundo; e ‘foi Luz’ – para o Mundo Vindouro”. Ou seja, que durante o Ato da Criação, foram criadas em sua forma definitiva e estatura plena, como nossos sábios disseram; isto  é, em seu propósito final de completa perfeição e glória. E de acordo com isto, a Luz que foi criada no primeiro dia emergiu em toda sua completa perfeição, que incluiu a vida neste mundo no refinamento e prazer absolutos à extensão que é expressa nas palavras: “Sejas Luz”.

Mas para preparar espaço para o livre arbítrio e trabalho, Ele a ocultou para os justos nos dias futuros, conforme os sábios disseram (Bereshit Rabá). Este é o porquê eles disseram em sua linguagem pura: “Seja Luz para este mundo”. No entanto, não permaneceu desta forma, mas se tornou, ao invés: “E foi Luz no Mundo Vindouro”, ou seja, que aqueles que se envolvem com a Torá e Mitzvot Lishmá obterão a Luz somente no futuro, referindo ao futuro que é esperado vir quando a purificação do seu corpo no Caminho da Torá for completada. Então serão elegíveis para a grande Luz mesmo neste mundo, conforme os sábios disseram: “Verás teu mundo em tua vida”. (Tratado Berachot 17a)

11) De fato, encontramos e vemos nas palavras dos sábios do Talmud que eles fizeram o Caminho da Torá mais fácil para nós, mais do que os sábios da Mishná, porque eles disseram: “Uma pessoa deve sempre se envolver com a Torá e Mitzvot, mesmo se é Lo Lishmá, pois de Lo Lishmá, chegará a Lishmá, (Tratado Sanhedrin 105b) já que a Luz nela a reforma.

Assim, eles nos deram um novo método para substituir a austeridade do Tratado Avot na Mishná que foi mencionado acima. “A Luz está na Torá”, que tem poder suficiente nela para reformar a pessoa e levá-la a envolver-se com a Torá e Mitzvot Lishmá. Eles não mencionam austeridade, apenas que se envolver com a Torá e Mitzvot é suficiente para prover-lhe a Luz que reforma, e permitir a ela se envolver com a Torá e as Mitzvot para dar prazer ao seu Criador e não para seus próprios prazeres. E isto é chamado Lishmá.

12) Mas deve-se aparentemente refletir em suas palavras. Afinal, encontramos um número de pessoas estudando e para os quais o envolvimento com a Torá não fez muito bem para merecer que a Luz na Torá os ajude a chegar em Lishmá. Envolver-se com a Torá e Mitzvot Lo Lishmá significa que alguém acredita no Criador, na Torá, e em recompensa e punição, e que se envolve com a Torá porque o Criador ordenou, ainda que também incorpore seu próprio benefício junto com dar prazer ao seu Criador.

Mas se, depois de todo o seu esforço em se envolver com a Torá e as Mitzvot, entender que por seu grande envolvimento e grande esforço, não obtiver nenhum prazer e benefício pessoal, lamenta ter lutado por tanto tempo. Isto é porque enganou-se a si mesmo desde o início, pensando que ela, também, poderia também receber algum prazer do seu esforço. Este exemplo é chamado Lo Lishmá (conforme mencionado em Tosafot do Tratado Rosh Hashaná, página 4, começando com as palavras: “Pelo propósito…”). Porém, nossos sábios permitiram começar a se  envolver com a Torá e Mitzvot Lo Lishmá pois de Lo Lishmá, uma pessoa chegará até Lishmá, conforme foi explicado.

Sem dúvida, se esta pessoa que está se envolvendo com a Torá e as Mitzvot ainda não tiver obtido confiança no Criador e Sua Torá, mas se, Deus proíba, vive em suas dúvidas, ela não é a pessoa que nossos sábios disseram que de Lo Lishmá chegará à Lishmá. Nem é ela a pessoa a quem é dito (no Midrash Rabá na abertura de Lamentações (Eichá), e no Talmud de Jerusalém, Tratado Hagigá 1:7) que ao envolver- se com a Torá, a Luz nela as reforma, pois a Luz da Torá brilha somente para aqueles que dominam a confiança.

Além disso, a força desta Luz está em proporção com a força da confiança da pessoa. E para aqueles que, Deus proíba, faltam confiança, o oposto é verdade. Conforme é dito: “Para aqueles que tomam o caminho da esquerda, será como a poção da morte” (Tratado Shabat página 8), pois eles receberão escuridão da Torá e seus olhos ficarão cegos.

13) E os sábios já fizeram uma parábola interessante a este respeito, comentando o verso: “Ai daquele que deseja o dia do Criador! Para que desejas o dia do Criador? É escuridão, e não luz.” (Amós 5:18) Isto é como o galo e o morcego que estão esperando pela luz. O galo disse ao morcego, “Eu estou esperando pela luz porque a luz é minha, mas para que você precisa da luz?” (Tratado Sanhedrin, página 98b). Estude isto bem!

É óbvio que para aqueles que estudam a Torá que não mereceram sair de Lo Lishmá para Lishmá, devido a sua falta de confiança, Deus proíba. Portanto, eles não receberam nenhuma Luz da Torá, e conformemente, eles andam na escuridão e “eles morrem, mas sem sabedoria”. (4:21)

Mas aqueles que mereceram completa confiança são prometidos pelas palavras dos sábios que mesmo se eles se envolverem com a Torá Lo Lishmá, a Luz dela as reforma. E assim eles merecerão, mesmo sem passar pela austeridade e uma vida de dor, envolver-se com a Torá Lishmá, que traz uma vida de felicidade e bondades neste mundo e no Mundo Vindouro, conforme mencionado acima. E as Escrituras dizem sobre eles: “Então vocês terão deleite no Criador, e eu vos farei cavalgar sobre as alturas da terra etc.” (Isaías 58:14)

14) Associado com o problema mencionado acima eu outrora traduzi um dito de nossos sábios: “Sua Torá é seu comércio”, (Tratado Shabat, 11a) a forma que se envolve com a Torá mostra seu nível de confiança (emunato) pois “seu comércio” (umanuto) é soletrado [em Hebraico] com as mesmas letras que “sua confiança” (emunato). Isto é análogo a uma pessoa que tem confiança em seu amigo e empresta- lhe dinheiro. Talvez ela confie em seu amigo com uma libra, mas se o amigo pedisse duas libras, ela poderia recusar. Ou talvez ela confie em seu amigo com até cem libras, mas não mais que isto. Ou talvez ela possa confiar em seu amigo e emprestar- lhe metade de suas possessões, mas não todas as suas possessões. Pode ainda ser possível que ela possa confiar em seu amigo com todas as suas possessões, sem nenhuma sombra de temor. Apenas a confiança da última é considerada confiança completa, mas os exemplos anteriores de confiança são considerados confiança incompleta ou parcial, quer seja menor ou maior.

Semelhantemente, uma pessoa aloca para si, de acordo com o grau de sua confiança no Criador, uma hora do seu dia para envolver-se com a Torá e com trabalho. Outra pessoa aloca duas horas, de acordo com o grau de sua confiança no Criador. Mas a terceira não desperdiça nem mesmo uma hora do seu tempo livre sem se envolver com a Torá e com trabalho. Isto significa que somente a última pessoa tem confiança completa porque ela confia no Criador com todas suas possessões, ao contrário dos outros, cuja confiança ainda não está  completa. Mas não devemos elaborar muito nisto.

15) E se torna claro que não se deve esperar que envolver-se com a Torá e Mitzvot Lo Lishmá deve trazê-lo ao envolvimento com eles Lishmá. Pois somente quando sabe em sua alma que ela está obtendo confiança própria no Criador e Sua Torá, então a Luz nela a reforma e ela merecerá o “dia do Criador”, que é absolutamente Luz, pois a santidade da confiança purifica os seus olhos para que eles possam desfrutar da Luz. Então a Luz na Torá a  reforma.

De fato, aqueles que tem falta de confiança são semelhantes aos morcegos que não podem ver a luz do dia. A luz do dia torna-se severa escuridão para eles, mais que a escuridão da noite pois eles recebem sua nutrição durante a escuridão da noite. Desta forma, os olhos daqueles que têm falta de confiança estão cegos pela  Luz do Criador, e, portanto, a Luz torna-se escuridão para eles e a poção da vida torna-se para eles a poção da morte. E estas são as pessoas de quem está escrito: “Ai daquele que deseja o dia do Criador! Para que desejas o dia do Criador? É escuridão, e não luz”. Pois conforme dissemos anteriormente, uma pessoa deve primeiro alcançar confiança completa.

16) E o que foi dito até agora explica a questão do Tosafot (Tratado Ta’anit, página 5, ‘E tudo…’). Está dito lá: “Aquele que se envolve com a Torá Lishmá, a Torá torna-se para ele uma poção de vida , aquele que se envolve com a Torá Lo Lishmá, a Torá torna-se para ele uma poção de morte”. E levanta uma questão: Mas está dito que deve-se sempre se envolver com a Torá, mesmo quando é Lo Lishmá, por fim começa-se a envolver-se com ela Lishmá, veja acima. Agora de acordo com o que foi explicado, isto deve ser dividido de maneira simples.

Aquele que se envolve com a Torá para o bem de aprender a Torá, e acredita em recompensa e punição ainda que incorpore seu próprio prazer e benefício com esta intenção de dar prazer ao seu Criador, então a Luz nela a reforma e ela irá se envolver com a Torá Lishmá. Aqui, no entanto, é alguém que se envolve com a Torá não pelo propósito de cumprir a Mitzvá de estudar a Torá – porque ela não acredita em recompensa e punição a tal grau que ela tentará o suficiente – pois todo o esforço que faz é apenas para seu próprio benefício e por causa disso, torna-se como uma poção de morte para ela, já que sua Luz torna-se escuridão para ela, conforme explicado.

17) E, portanto, antes de começar seu estudo, o estudante tem que se comprometer em fortalecer sua confiança no Criador, em Sua Providência, e em recompensa e punição, conforme os sábios disseram: “O seu empregador é obrigado a pagar-lhe o valor dos seus esforços”. (Avot, 2:13) Então ela precisa direcionar seu esforço em direção ao propósito de cumprir a Mitzvá da Torá, e desta forma, merecerá desfrutar desta Luz. E sua confiança também se tornará mais forte e maior pela virtude desta Luz, conforme é dito: “Será a cura para sua carne e um remédio para seus ossos”. (Provérbios 3:8) E então irá assegurar em seu coração que de Lo Lishmá, irá para Lishmá.

Desta forma, mesmo que alguém que saiba que ela ainda não mereceu ter confiança, Deus proíba, no entanto ainda há esperança para ela através do envolvimento com a Torá. Pois se ela focar seu coração e mente em receber confiança do Criador através da Torá, não há maior forma de cumprir as Mitzvot do que esta, conforme  nossos  sábios  disseram  (Tratado  Makot,  24)  “Habacuque  veio  e  os condensou todos em um (princípio): ‘O justo viverá por sua confiança (emunato)’”. (Habacuque 2:4)

Não apenas isto, mas ele não tem outra alternativa, conforme aprendemos (Tratado Baba Batra, 16a): “Raba disse: Jó queria isentar todo o mundo do Julgamento, e ele disse a Ele, Senhor do Universo… Vós criastes os justos, Vós criastes os maus; quem pode ficar no Teu caminho?” E o Rashi comentou neste verso: “Vós criastes os justos através da boa inclinação; Vós criastes os maus através da má inclinação; e, portanto, ninguém pode sobreviver a Tua mão, pois quem pode Te parar? Os pecadores não têm escolha”.

“E o que os amigos de Jó lhe falaram? ‘Mas mesmo tu destróis a reverência e dificultas a meditação diante do Criador’ (15:4). O Criador criou a má inclinação, criou a Torá como antídoto”. Comentário do Rashi neste verso diz: “Ele criou a Torá, que em si mesma é um antídoto porque ela apaga os pensamentos das transgressões, conforme está escrito ‘Se você encontrar este vilão, puxe-o ao Beit Midrash, se ele é feito de pedra, ele amolecerá…’ (Tratado Kidushim, 30) Portanto,  eles não são deixados sem escolha porque depois de tudo, eles poderão se salvar”. Veja este Tratado e estude-o bem.

18) E está claro que eles não podem se isentar do Julgamento se eles disserem que apesar de receber este antídoto, eles ainda têm pensamentos pecaminosos – isto é, eles ainda vivem em dúvida, Deus proíba, e a má inclinação ainda não se O Criador, que criou a má inclinação e deu-lhe a sua validade, também sabia como criar a cura e o antídoto que são obrigados a esgotar a má inclinação e limpá-la completamente.

E se uma pessoa esteve envolvida com a Torá e ainda não foi capaz de remover a má inclinação de si mesma, isto foi porque ou ela negligenciou gastar o devido esforço e a labuta necessária pelo envolvimento com a Torá, conforme é dito “Eu não trabalhei e encontrei, não acredite!” (Tratado Megilá 6b) Ou ela realmente cumpriu a “quantidade” necessária de trabalho mas foi negligente na medida de sua “qualidade”. Isto significa que ela não prestou atenção nem focou sua intenção durante seu envolvimento com a Torá para merecer atrair a Luz da Torá, que infunde confiança no coração da pessoa. Ao invés disso, ela se envolveu com a Torá desatenta da essência requerida da Torá, que é a Luz que leva a confiança, conforme dito acima.

E apesar de esta ter sido sua intenção no início, sua mente se desviou disto durante o curso do seu estudo. Em todo caso, uma pessoa não deve se isentar do julgamento, clamando que ela não teve nenhuma escolha, pois nossos sábios declaram estritamente: “Eu criei a má inclinação, Eu criei a Torá como seu antídoto”, e se houvesse qualquer exceção nisto, então a questão de Jó seria legitimada, Deus proíba. Estude isto bem.

19) E por toda a explicação até este ponto, eu tenho removido uma grande queixa que tem sido expressa com espanto, em reação às palavras do Rav Chaim Vital em sua introdução ao Sha’ar Há’akdamot (Portão das Introduções) do Ari, também na introdução ao livro A Árvore da Vida (Etz HaChaim, 1910 edição de Jerusalém). Esta é a linguagem de Rav Chaim Vital: “Uma pessoa não deve dizer, ‘Irei e me envolverei com a Sabedoria da Cabalá antes de aprender a Torá e a Mishná e o Talmud’, pois nossos antigos professores já nos falaram que não se deve entrar no mistério da Cabalá (PARDES) a menos que sua barriga esteja cheia de carne e vinho. Isto seria como uma alma sem um corpo, que não tem nem recompensa, nem ação, nem acerto de contas até que o corpo esteja completo e corrigido através das Mitzvot da Torá, as 613 Mitzvot”.

E o oposto também é verdade. Se alguém se envolve com a sabedoria da Mishná e o Talmud Babilônico mas não devota parte dos seus estudos com os segredos da Torá e seus mistérios, é como um corpo sentado no escuro sem a alma humana, que é a chama do Criador brilhando dentro dela. Desta forma, o corpo torna-se seco, já que não deriva vitalidade da Fonte da vida etc. Assim, o estudante da Torá que se envolve com a Torá Lishmá precisa primeiro estudar tanto Tanakh, Mishná e Talmud conforme sua mente e intelecto podem absorver, e somente depois tentar conhecer seu Criador através da Sabedoria da Verdade. E como o Rei David ordenou ao seu filho Salomão: “Conheça o Criador do seu pai, e O sirva”. (1 Crônicas 28:9)

E se para tal pessoa estudar o Talmud for difícil e penoso, pode ser melhor a ela se retirar disto, depois de ter examinado sua sorte nesta sabedoria, e entrar na Sabedoria da Verdade. E é por isto que é dito que um estudante que não vê um sinal de sucesso dentro de cinco anos em seus estudos da Mishná é improvável que alguma vez veja tal sinal (Tratado Chulin, 24). E, de fato, todas as pessoas para quem é fácil estudar são chamadas a passar uma ou duas horas por dia estudando a Halachá e pensando profundamente e dando argumentos adequados sobre as consultas que tem a ver com a interpretação literal da Halachá. Por isto, sua linguagem sagrada é citada, palavra por palavra.

20) E suas palavras são aparentemente muito desconcertantes porque ele diz que antes de uma pessoa suceder com o estudo do Revelado ela deve ir e se envolver com a Sabedoria da Verdade. Isto está em contradição as suas próprias palavras anteriores que a Sabedoria da Cabalá, sem os ensinamentos revelados, é como uma alma sem corpo, que não tem ação, nem acerto de contas, nem recompensa. E a evidência que ele apresenta em relação a um estudante que não viu um sinal de sucesso é ainda mais peculiar. Afinal, nossos sábios instruíram ele a abandonar seu estudo da Torá por causa disto, Deus proíba? Certamente, eles estão tentando alertá- lo a refletir em seus caminhos e tentar com outro Rav ou em um tratado diferente, mas certamente não deixar a Torá, Deus proíba, nem mesmo a Torá Revelada.

21) E uma dificuldade adicional com as palavras de Rav Chaim Vital e as palavras da Gemará é que suas palavras implicam que a pessoa deve ter alguma preparação especial e nível de excelência como um pré-requisito para merecer a sabedoria da Torá. Mas nossos sábios disseram (no Midrash Rabá, em relação à porção da semana “Zot HaBrachá”): “O Criador disse ao povo de Israel, ‘Por sua vida! A sabedoria e toda a Torá é um assunto muito fácil; qualquer um que tenha temor por Mim e cumpra as palavras da Torá, toda a sabedoria e toda a Torá estarão dentro do seu coração’”, fim da citação. Portanto, aqui, não se precisa qualquer excelência anterior: A virtude de estar em temor ao Criador e cumprir as Mitzvot é, em si mesmo, suficiente para obter toda a sabedoria da Torá.

22) De fato, se prestarmos atenção às palavras, elas se tornarão claras para nós como os claros céus Quando ele escreveu: “Seria melhor para ele se retirar dele, depois de ter examinado sua sorte na sabedoria do Revelado (veja aqui no Item 19),” ele não quis dizer a “sorte” da esperteza e proficiência, mas refere-se, ao invés, a nossa interpretação do comentário acima em: “Eu criei a má inclinação, criei a Torá como antídoto”. Isto significa que uma pessoa pode ter trabalhado e labutado na Torá Revelada, ainda que a má inclinação esteja totalmente lá e não tenha se dissolvido porque ela ainda não foi salva dos pensamentos pecaminosos, conforme Rashi disse em seu comentário acima em: “Eu criei a Torá como seu antídoto” (estude isto bem).

Assim, alerta a desapegar dela e, ao invés, estudar a Sabedoria da Verdade, pois, é mais fácil revelar a Luz da Torá ao se envolver no estudo e colocar esforço na Sabedoria da Verdade do que ao colocar esforço na sabedoria da Torá Revelada. E   o motivo é muito simples: É porque a sabedoria da Torá Revelada é coberta com Vestimentas externas e materiais, ou seja, roubos, saqueamentos, lesões etc. Por este motivo, é muito difícil e pesado para qualquer um sintonizar-se com o Criador durante seu estudo para revelar a Luz da Torá, e é ainda mais assim para uma pessoa que é lenta e acha difícil estudar o Talmud em si.

Então como pode esta pessoa, além disso, lembrar-se do Criador durante seu tempo de estudo? À medida que o estudo em si lida com assuntos materiais,  eles não podem, Deus proíba, se combinar em si ao mesmo tempo, junto com a intenção do Criador.

Portanto, alerta a se envolver com a Sabedoria da Cabalá porque esta sabedoria está totalmente vestida nos Nomes do Criador, assim será capaz de focar sua mente e seu coração no Criador durante seu estudo sem nenhum esforço, mesmo se ela achar extremamente difícil estudar, pois o estudo dos assuntos da Sabedoria e o Criador são um e o mesmo, e isto é muito simples.

23) E assim, ele traz evidências apropriadas às palavras da Gemará (veja aqui, Item 19): “Disto, aprendemos que um estudante que não vê um sinal positivo em seus estudos dentro de cinco anos não o verá, portanto, mais”. Por que o estudante não viu um sinal positivo em seus estudos da Mishná? Certamente o motivo pode ser somente que não tem a intenção do coração e não por causa da falta de talento. A sabedoria da Torá não precisa de nenhum talento, mas conforme é dito na Mishná acima (veja aqui, Item 21): “O Criador disse ao povo de Israel, ‘Por sua vida! A sabedoria e toda a Torá é um assunto muito fácil; qualquer um que tenha temor por Mim e cumpra as palavras da Torá, toda a sabedoria e toda a Torá estarão dentro do seu coração’”.

Claro, precisa-se de tempo para se adaptar a Luz da Torá e as Mitzvot, embora eu não saiba quanto. Pode-se ainda estar esperando um sinal durante seus setenta anos, é por isto que o Braita (Tratado Chulin, 24) nos adverte que não devemos aguardar por mais que cinco anos, e Rav Yossi diz (veja Tratado Chulin, 24) que três anos são mais do que suficientes para obter a sabedoria da Torá. Então, se uma pessoa não ver um sinal positivo dentro deste tempo, mas o contrário, ela deve saber que nunca verá um sinal positivo. Portanto, deve imediatamente encontrar para si mesma um esquema inteligente, um que a permita atingir Lishmá e merecer a sabedoria da Torá.

O Braita não especifica que sistema deve ser, mas apenas dá o alerta que não se deve continuar na mesma situação e esperar mais. Isto é o que o Rav diz, que o sistema melhor e mais seguro seria se envolver no estudo da Sabedoria da Cabalá e se retirar completamente do estudo da Torá Revelada, pois, afinal, já testou sua “sorte” com ela e não sucedeu. E deve dar todo seu tempo para a Sabedoria da Cabalá, que garante o seu sucesso, pelos motivos que nós mencionamos anteriormente. Estude isto bem.

24) E isto é muito simples. Não estamos falando aqui sobre o estudo da Torá Revelada que considera tudo o que é preciso saber para praticar na forma aprovada (de acordo com a Halachá). Porque um ignorante não pode ser um Chassid (piedoso), um erro não intencional no estudo da Torá é equivalente a um ato malicioso (Tratado Avot), e um só pecador destrói muitos bens (Eclesiastes  9:18).

Consequentemente, é imperativo que os examine quantas vezes forem necessárias para ele, para que não falhe quando for praticar. O que está sendo discutido aqui se refere apenas ao estudo da sabedoria da Torá Revelada para entender e resolver as dificuldades que aparecem no entendimento simples da Halachá, conforme o próprio Rav Chaim Vital concluiu (veja aqui, Item 19), ou seja, a parte do estudo da Torá que não atingiu o estágio da aplicação e nem a Halachá que é aplicada na prática.

De fato, este pode tomar menos severidade e ser aprendido da versão curta   e não das fontes. E mesmo isto merece contemplação profunda porque aquele que conhece a Halachá da fonte não pode ser comparado a aquele que aprende do estudo de um único relance ou de uma versão abreviada. E para não cometer um erro, Rav Chaim Vital imediatamente no princípio de suas palavras afirmou que a alma não pode se conectar ao corpo a menos que ele esteja completo com as 613 Mitzvot e aperfeiçoado por elas.

25) Agora você verá que todas as questões que levantamos no início da introdução são Vaidade das Vaidades, isto é, elas são redes de pesca que a má inclinação coloca para pegar almas inocentes e fazê-las partir deste mundo sem paixão.

Olhe para a primeira questão em que as pessoas se imaginam estando capazes de praticar toda a Torá sem saber nada sobre a Sabedoria da Cabalá. Mas eu por este meio as digo: Certamente, se você puder realmente estudar a Torá e praticar as Mitzvot de acordo com a Halachá Lishmá, isto é, apenas para trazer prazer ao Criador, então você realmente não precisa estudar Cabalá, porque de tais pessoas é dito: “A alma da pessoa a ensinará”. Em tal caso, todos os segredos da Torá serão revelados a ela como uma fonte sem fim, conforme Rav Meir disse (na Mishná acima do Tratado Avot, veja aqui no Item 6), sem você precisar de qualquer ajuda dos  livros.

Mas se você ainda continua na categoria de envolver-se Lo Lishmá na esperança que através disto, você irá merecer atingir Lishmá, então eu tenho que te perguntar: por quantos anos você tem feito isto? Se você ainda está dentro dos cinco anos de acordo com o Tana Kama (o primeiro Tana) ou dentro dos três anos (de acordo com o Rav Yossi), então você deve continuar aguardando e esperar. Mas se você já está se envolvendo com a Torá Lo Lishmá por mais do que três anos de acordo com o Rav Yossi ou mais do que cinco anos de acordo com o Tana Kama (o primeiro Tana), então o Braita te alerta que você não verá nenhum sucesso neste caminho que você está andando.

Por que então você deveria iludir-se em falsas esperanças quando você tem um esquema muito próximo e certo como o estudo da Sabedoria da Cabalá, como eu comprovei acima? Afinal, o estudo dos vários tópicos nesta sabedoria é um e o mesmo assim como o Próprio Criador. Estude isto bem. (Veja aqui o Item 19)

26) Vamos tocar a segunda questão que se devemos primeiro preencher nossas barrigas com Mishná e a Halachá. Isto é com certeza assim, pois todos dizem isso. No entanto refere-se a se uma pessoa já teve o mérito de aprender a Torá Lishmá ou mesmo Lo Lishmá se ela está dentro dos três anos ou cinco anos, mas não assim após este período. O Braita nos alerta que depois desse período, você nunca terá sucesso, conforme foi explicado acima. E se este é o caso, você precisa tentar e ver se você é capaz de suceder no estudo da Cabalá.

27) Além disso, saiba que há duas partes na Sabedoria da Verdade. A parte um é a que é chamada Sitrei Torá (Segredos da Torá), que não podem ser revelados exceto pela forma de insinuação por um sábio cabalista para um recipiente que compreende-o por conta própria; também a MA’ase Merkavá (estudo das Carruagens Superiores) e MA’ase Bereshit (Processo da Criação) pertencem a esta parte. Os sábios do Zohar chamam esta parte “As Primeiras Três Sefirot”: Kéter, Chochmá, Biná. Isto é também chamado o “Rosh (Cabeça) do Partzuf”.

A segunda parte é chamada Ta’amei Torá (Sabores da Torá), que são permitidos a serem revelados – de fato, é considerado uma grande Mitzvá revelá-los. No Zohar, isto é chamado “As Sete Sefirot Inferiores do Partzuf”, que é também chamado o “Guf (Corpo) do Partzuf”.

As Dez Sefirot podem ser encontradas em todo e cada Partzuf de Kedushá, e são chamadas: Kéter, Chochmá, Biná, Chéssed, Gevurá, Tiféret, Netzach, Hod, Yessód e Malchut. As Três Superiores destas Sefirot são chamadas o “Rosh do Partzuf”, e as Sete Sefirot Inferiores são chamadas o “Guf do Partzuf”. Mesmo na alma dos seres humanos inferiores, existem aspectos destas Dez Sefirot de acordo com seus nomes acima mencionados. E isto é assim com toda fase, nos Mundos Superiores e nos Mundos Inferiores. Com a ajuda do Criador, estes assuntos, juntamente com seus significados, serão clarificados neste livro.

E o motivo pelo qual as Sete Sefirot Inferiores, que são o Guf do Partzuf, são chamados Ta’amei Torá (os Significados ou Sabores da Torá) reside no segredo do dito na escritura: “O palato saboreia o alimento” (12:11). As Luzes que são reveladas abaixo das Três Superiores, que são o segredo de Rosh, são chamadas de Ta’amim (sabores, significados), e Malchut de Rosh é chamado Chech  (palato).

Por este motivo, eles são chamados os Ta’amim da Torá. Isto significa que eles são descobertos através do “Palato de Rosh”, ou a fonte de todos os Ta’amim, que é Malchut de Rosh. De lá para baixo, não há proibição em revelá-lo. Ao contrário, a recompensa para aquele que os revela é grande além do fim e além da medida.

De fato, estas Três Sefirot Superiores e estas Sete Sefirot Inferiores que são mencionadas aqui são interpretadas como segue: ou na forma geral completa ou na forma mais particular que pode possivelmente ser dividida, ou seja que mesmo as Três Primeiras Sefirot de Malchut no fim do Mundo de Assiá, pertencem à parte dos Sitrei Torá que não é para ser revelada, as Sete Sefirot Inferiores em Kéter do Rosh do Mundo de Atzilut, pertencem aos “Ta’amim da Torá” que são permitidos serem revelados. E estas coisas foram publicadas em muitos livros de  Cabalá.

28) E você pode localizar a referência a estas coisas no Tratado Pesachim (página 119b), onde é dito: “Sua mercadoria e sua locação serão dedicados ao Criador; não será armazenado ou acumulado, mas sua mercadoria fornecerá comida abundante e roupas finas para aqueles que habitam perante o Criador”. (Isaías 23:18)

O que “roupas finas” (mechase atik – literalmente, vestimentas antigas) significa? É aquele que cobre (mechase) questões em que o Atik Yomin (Antigo de Dias) foi oculto. E o que são elas? São os Sitrei Torá. E há aqueles que dizem: “Aquele que revela coisas que foram ocultas pelo Atik Yomin. O que são eles? São os  Ta’amei Torá”.

E Rashbam (Rav Shmuel ben Meir) interpretou isto como segue: “Atik Yomin é o Criador, conforme está escrito: ‘Atik Yomin (O Antigo de Dias) senta (Daniel, 7:9). Os Sitrei Torá se referem ao estudo de MA’ase Merkavá e MA’ase Bereshit, conforme está escrito (Êxodo 3:15): ‘Este é Meu Nome para sempre’. E ‘Ele quem cobre’ significa que Ele não os dá para qualquer pessoa, mas apenas para a que tem um coração aflito, conforme está escrito ‘Eles não comentarão sobre’  (Tratado Hagigá 13a): ‘Aquele que revela os sujeitos que estavam ocultos pelo Atik Yomin’ refere-se a pessoa que cobre os Sitrei Torá que foram cobertos no início, e o Atik Yomin os descobre e dá permissão para revelá-los. E qualquer um que os revele obtém o que ele diz neste verso (Isaías 23:18)”. Fim da citação.

29) E aqui você explicitamente tem a grande diferença entre os Sitrei Torá, onde qualquer que os entenda recebe tudo desta grande recompensa (explicado na Gemará no comentário no texto) por ocultá-los e não revelá-los. E por outro lado Ta’amei Torá: qualquer um que entenda os Ta’amei Torá recebe toda sua grande recompensa por revelá-los aos outros. Agora, “aqueles que dizem” (mencionados aqui no Item 28) não contradizem a primeira afirmação, ao invés apenas o significado de: “Elas não devem ser comentadas” está em disputa.

A primeira afirmação relaciona-se ao final do verso: mechase Atik (“e ele que cobre Atik”). Isto é porquê comenta no atingimento da grande recompensa por quem oculta os Segredos da Torá. “Aqueles que dizem” relaciona-se ao começo do verso, “e comer até se satisfazer”, que refere-se aos Ta’amei Torá, de acordo com o segredo do dito na escritura, “O palato saboreia o alimento” (12:11), pois as Luzes dos Ta’amim são chamados “alimentos”. E é por isto que eles comentam que quem revela os Ta’amim da Torá atingem uma grande recompensa mencionada no verso. No entanto, os dois lados acreditam que os Sitrei Torá precisam ser ocultos e os Ta’amim da Torá precisam ser revelados.

30) Aqui você tem uma clara resposta para a quarta e quinta questões que foram levantadas no início desta introdução, em relação ao que você encontra nas palavras dos nossos sábios, assim como nos Santos Escritos: que deve ser passada apenas para quem tem um coração aflito etc. (veja aqui o Item 28). Esta refere-se à parte que é chamada Sitrei Torá, que é o aspecto das Três Primeiras Sefirot, ou o aspecto de Rosh. Esta sabedoria não é para ser passada adiante, exceto para os modestos sob condições E em todos os livros de Cabalá, os escritos assim como aqueles que foram imprimidos, você não encontrará nem mesmo a menor menção deles porque estas são coisas cobertas pelo Atik Yomin, conforme mencionado acima na Gemará (veja aqui no Item 27).

E, além disso, diga por si mesmo se é possível imaginar ou mesmo considerar remotamente que todos estes grandes santos e pessoas justas famosas, que são os maiores membros da nossa nação e os melhores dos melhores – tais como os autores do Sefer Yetzirá (Livro da Formação) e o Zohar, e Rav Yishmael, autor do Braita, e Rav Hai Gaon, e Rav Hamai Gaon, e Rav Eliezer de Worms, e o restante dos Primeiros Rabis até o Rav Moshe ben Nachman (Nachmanides), e o autor do Shulchan Aruch, até o Gaon de Vilna (Rav Eliyahu de Vilnius), e o Gaon de Liadi, e o restante dos justos de abençoada memória dos quais recebemos a totalidade da Torá Revelada e por cujas bocas vivemos para saber que ações devemos fazer para encontrar favor aos olhos do Criador.

De fato, todos estes escreveram e publicaram livros sobre a Sabedoria da Cabalá. Afinal, não há maior exposição que escrever um livro, onde a pessoa escrevendo não tem ideia de quem poderia estudar seu livro. É possível, Deus proíba, que algumas pessoas más possam olhar. Se assim, não há maior revelação dos Segredos da Torá que esta e, Deus proíba, que poderíamos duvidar destas pessoas puras, santas depois de sua morte, e suspeitar que elas poderiam ter transgredido mesmo um pingo do que está escrito e explicado na Mishná e Gemará (no Tratado Hagigá) em relação a “Eles não devem ser  comentados”.

Assim, definitivamente, todos os livros escritos e impressos são o aspecto do Ta’amei Torá, que o Atik Yomin ocultou primeiramente e então revelou, de acordo com o segredo de “o palato saboreia o alimento”, conforme mencionamos anteriormente (aqui, Item 27). A pessoa não é proibida de revelar estes segredos, mas, de fato, é também um grande dever revelá-los, conforme mencionamos acima (Tratado Pesachim, 119). E qualquer um que saiba como revelá-los e de fato faz isto, sua recompensa é tremendamente grande por que a vinda do Goel Tzedek (o Justo Redentor) – depende inequivocamente em revelar estas Luzes para as massas. Que seja breve em nossos dias, Amén.

31) E é crucial explicar de uma vez por todas porque a vinda do Goel Tzedek (o Justo Redentor) depende da disseminação dos ensinamentos da Cabalá para as massas, que é tantas vezes mencionado no Zohar e em todos os livros de Cabalá. Mas as massas ligaram todos os tipos de bobagens a isto – insuportavelmente. A interpretação deste assunto é explicada no Tikuney Zohar (Tikun 30, começando com as palavras: Netiv Tanina [Segundo Caminho]), que é o seguinte:

“Segundo Caminho (Netiv Tanina), ‘E a Ruach do Criador pairava sobre a face das águas’. (Gênesis 1:2) O que as palavras ‘e a Ruach’ significam? Certamente, quando a Shechiná está no exílio, então sua Ruach paira sobre aqueles que estudam    a Torá, assim a Shechiná habita entre eles etc., ‘toda a carne é palha seca’, eles são como bestas no campo que comem feno e palha. ‘E toda sua graça é como os brotos do campo’ (Isaías 40:6), toda a bondade que eles mostram é para si mesmos etc.

“E mesmo todos aqueles que estão se esforçando em Torá, toda a bondade que eles mostram é para seu próprio benefício. E naquele tempo “Ele deve lembrar que eles são carne, um vento (Ruach) [Ruach em Hebraico significa “vento” e também “espírito”] que passa, e nunca retorna, (Salmos 78:39) e esta é a Ruach do Messias. Ai daqueles que fazem-no partir do mundo e não retornar nunca mais, pois eles são aqueles que fazem a Torá secar já que eles não querem se envolver no estudo da Sabedoria da Cabalá. E eles fazem com que a Fonte da Sabedoria – a letra Yud no nome HaVaYaH – se afaste etc. E esta Ruach que se afasta é o Espírito do Messias; é o “Espírito da Santidade; o Espírito da sabedoria e entendimento; o Espírito do conselho e fortaleza; o Espírito do conhecimento e temor ao Criador”. (Isaías 11:2)

“Segunda Mitzvá: ‘E o Criador disse, Sejas Luz, e foi Luz’. (Gênesis 1:3) Isto é amor, que é o amor pela bondade, conforme está escrito: ‘Eu te amei com um amor eterno; por isso, eu estendi a bondade sobre ti’. (Jeremias 31:3) E em referência a isto, é dito: ‘Não levante ou desperte o amor até que seja desejado…’ (Cântico dos Cânticos 2:7) Mostrando bondade e amor, esta é a questão principal, seja para o bem ou para o mal, e por causa disto é chamado temor e amor, pelo bem de receber uma recompensa. E por causa disto o Criador disse, ‘Eu vos ordeno, filhas de Jerusalém, pelas gazelas e veados do campo; não mexam-se nem despertem o amor até que seja desejado” [Cântico dos Cânticos 2:7], referindo-se a mostrar bondade sem recompensa, não pelo bem de receber uma recompensa porque o temor e amor pelo bem de receber uma recompensa pertence à Shifcha (serva). ‘E sobre três coisas a Terra treme com ira etc.’ (Provérbios 30:21): sobre “um escravo, quando ele governa’ e “uma serva, quando ela sucede sua senhora’ (Provérbios 30:22-23).” Fim da citação do Zohar.

32) E começaremos interpretando o Tikunei HaZohar do final ao início. É dito com relação ao temor e amor que um é por se envolver com a Torá e as Mitzvot para receber uma recompensa – ou seja, sua esperança é que obterá algum benefício ao envolver-se com a Torá e com o trabalho – que é como uma Shifcha (serva), de quem está escrito: “quando uma serva sucede sua senhora”. Isto é aparentemente perplexo porque foi estabelecido que deve-se sempre se envolver com a Torá e as Mitzvot, mesmo se Lo Lishmá (veja aqui, Item 11), então por que a Terra treme com ira? Também, temos que entender o relacionamento entre Lo Lishmá e a frase “Shifcha” (serva), assim como a expressão “sucedendo sua senhora”. Que sorte de sucessão existe aqui?

33) E você deve entender, na luz de tudo o que ficou claro nesta introdução, que o assunto de Lo Lishmá foi somente permitido por causa de “de Lo Lishmá, a pessoa atingirá Lishmá, já que a Luz nela reforma”. E, portanto, o envolvimento Lo Lishmá é considerado ser a Shifcha (serva), que ajuda e faz as tarefas menores para sua senhora, que é a Santa Shechiná. Isto é porque eventualmente, é destinado a obter Lishmá e obterá a Inspiração Divina da Shechiná. Então a serva que está se envolvendo com a Torá Lo Lishmá se tornará a Shifcha (serva) da Santidade, pois ela é aquela que ajuda a  Santidade e a  prepara, embora  ela  seja chamada  o aspecto  do  Mundo de Assiá de Kedushá (Santidade).

Obviamente se, Deus proíba, a confiança não está completa e se ela não se envolve na Torá e em ações de trabalho mas somente porque foi ordenada pelo Criador estudar, então, como já foi feito claro, no caso de tal Torá e ações de trabalho espiritual, a Luz da Torá não será revelada. Isto é porque seus olhos são defeituosos, fazendo com o que a Luz torne-se escuridão, semelhante aos morcegos, conforme dissemos anteriormente (veja aqui Item 11).

E tal aspecto do estudo já deixou o domínio da Shifcha (serva) da Santidade, pois, neste caso ainda não, Deus proíba, mereceu por ele chegar e se envolver com a Torá Lishmá. E é por isto que se move para o domínio da Shifcha (serva) das Klipót (cascas), que herdam esta Torá e o trabalho espiritual e a usurpam para si próprias.  E é por isto que a Terra treme com ira – eretz (terra) sendo um nome comumente conhecido para a Santa Shechiná, mas a empregada inferior usurpa-os e os degrada para que eles tornem-se a possessão das Klipót (cascas). E por isto, é desta forma que  a Shifcha (serva) sucede sua senhora, Deus proíba.

34) E o Tikunei HaZohar explicou o segredo do juramento: “Não levante ou desperte amor até que seja desejado”. A ênfase particular é que os Israelitas atrairão a Luz Superior, que é chamada o Amor da Bondade, porque isto é o que é desejado. E é atraída, em particular, através do seu envolvimento com a Torá e as Mitzvot sem nenhuma intenção de receber qualquer recompensa. E o motivo para isto é que por esta Luz da Bondade, os Israelitas recebem a Luz da Sabedoria Superior, que é revelada e envolve a si mesma com esta Luz da Bondade que os Israelitas atraíram.

E esta Luz da Sabedoria é o significado oculto da passagem: “E a Ruach do Criador recairá sobre ti, o Espírito da sabedoria e entendimento, o Espírito do conselho e fortaleza, o Espírito do conhecimento, e o temor ao Criador”. (Isaías 11:2) Isto é dito sobre o Rei Messias. E conforme diz ainda mais em: “Ele levantará um estandarte para as nações, e ajuntará os desterrados de Israel, e reunirá os dispersos de Judá dos quatro cantos da Terra”. (Isaías 11:12)

Depois de os Israelitas atraírem a Luz da Sabedoria pela Luz da Bondade – pelo segredo de “o Espírito da sabedoria e entendimento etc.” – então o Messias é revelado e ele “reúne os dispersos de Israel etc.” (Isaías 56:8) Afinal, tudo depende do envolvimento com a Torá e a adoração Lishmá, que possui a habilidade de atrair  a grande Luz da Misericórdia, na qual a Luz da Sabedoria é atraída e envolve-se com ela. Este é o segredo do juramento para “Não levante ou desperte amor  etc.”

Isto é porque a completa redenção e o ajuntamento dos Exilados não pode acontecer sem isto, já que os canais para a Santidade são dispostos  assim.

35) E há mais interpretações: “E a Ruach do Criador pairava sobre a face das águas”. O que é a Ruach do Criador? Certamente quando a Shechiná está em exílio, então sua Ruach paira sobre aqueles que estudam a Torá, conforme a Shechiná habita entre eles”. Isto significa que durante o Exílio, enquanto que os Israelitas ainda se envolvem com a Torá e as Mitzvot Lo Lishmá – se eles estão, de fato, no estágio “de Lo Lishmá eles chegarão ao Lishmá” – então a Shechiná está entre eles, ainda que do aspecto do Exílio porque eles ainda não atingiram Lishmá, conforme mencionado acima no segredo de “a serva da Santidade”.

Isto é o que se entende por “porque a Shechiná habita sobre eles”, mas em ocultamento. Ainda que no final, eles sejam sujeitos ao mérito da revelação da Shechiná. E então o Espírito do Rei Messias paira acima daqueles que assim se envolvem e despertam para o envolvimento Lishmá. Este é o significado oculto por trás de “a Luz nela a reforma”: Ele ajuda e prepara a emanação da Shechiná, que é “Sua Senhora”. Ao mesmo tempo, se, Deus proíba, este assunto de envolvimento Lo Lishmá por motivos que mencionamos anteriormente, então a Shechiná fica angustiada e diz, “Toda carne é como palha seca”, eles são todos como bestas que se alimentam com feno e palha.

Isto significa que a elevação do espírito humano não pode ser encontrada entre as pessoas que se envolvem com a Torá, mas, ao invés, elas são satisfeitas com  o espírito animal que move-se para baixo. E eles explicam o motivo: porque “toda sua bondade é como os brotos do campo”, toda a bondade que eles mostram – mesmo todos aqueles que se envolvem com a Torá – é unicamente para seu próprio benefício. Isto significa que todos seus envolvimentos com a Torá e as Mitzvot são para seu próprio benefício e seu prazer pessoal, e assim, seu envolvimento com a Torá não pode trazê-los, Deus proíba, para Lishmá.

E estas são as palavras que foram escritas aqui: “E naquele tempo, ‘Ele deve lembrar que eles são apenas carne’, uma rajada de vento (Heb. também Ruach) que vai e nunca retorna”, e esta é a Ruach do Messias. Isto significa que o Espírito do Messias não paira acima deles, mas desaparece deles e não volta porque a serva impura explora sua Torá e sucede a senhora, conforme mencionamos  anteriormente. Porque eles não estão no caminho de mover-se de Lo Lishmá para Lishmá, conforme discutido anteriormente (veja aqui, Itens 11,  17).

Portanto, a conclusão lá é que estas são aquelas que fazem a Torá secar, uma vez que não querem estudar a Sabedoria da Cabalá. Isto significa que mesmo que elas não tenham sucesso através do estudo da Torá Revelada porque não é Luz e torna-se seca devido a sua pequena mentalidade (conforme mencionamos acima, item 15, começando com as palavras do Rav “E assim…”), entretanto, eles podem suceder através do envolvimento com o estudo da Cabalá porque a Luz nela é vestida com as Vestes do Criador, ou seja, Nomes Sagrados e as  Sefirot.

Eles poderiam muito facilmente cair sob a categoria de Lo Lishmá, que leva a Lishmá. E neste caso, a Ruach do Criador pode pairar sobre eles, que é o segredo de “A Luz nela a reforma”. Mas eles não querem estudar Cabalá de qualquer forma. E por isto é dito: “Ai deles, pois eles trazem miséria, destruição, saqueamento, derramamento de sangue e desânimo ao mundo, e a Ruach que parte é a Ruach do Messias, conforme é dito: ‘Esta é a Ruach da Santidade, que é o Espírito da Sabedoria e Entendimento etc.’”.

36) O que se tornou claro dos escritos do Tikunei HaZohar é que há um juramento de que a Luz da misericórdia e amor não devem ser despertadas no mundo até que as ações dos Israelitas de seguir a Torá e as Mitzvot seja com a intenção única de dar prazer ao Criador e não para o bem de receber qualquer recompensa. Este é o significado oculto do juramento: “Eu vos ordeno, filhas de Jerusalém” [Cântico dos Cânticos 2:7], que significa que a extensão do Exílio e a dor que sofremos estão pendentes e nos aguardando até que mereçamos nos envolver com a Torá e as Mitzvot Lishmá. Mas se merecermos isto, então imediatamente esta Luz de amor e misericórdia serão despertadas. Esta Luz tem a habilidade de atrair sobre nós o significado oculto da passagem: “E o Espírito do Criador repousará sobre ele, e o Espírito da sabedoria e entendimento, o Espírito do conselho e fortaleza etc.”. (Isaías 11:2) E então mereceremos a redenção completa.

E também foi feito claro que é impossível para a totalidade dos Israelitas chegar a esta grande pureza exceto através do estudo da Cabalá, que é a forma mais fácil e boa o suficiente até para as pessoas com pouco entendimento. Isto está em oposição ao caminho do envolvimento apenas com os aspectos revelados da Torá. Não pode ser atingido exceto por uns poucos indivíduos privilegiados e escolhidos,   e através do esforço extensivo. Não é adequado para a maioria da população, por motivos explicados acima (veja aqui Item 22). E isto demonstra muito claramente a insignificância das perguntas quatro e cinco no começo  desta introdução.

37) A terceira pergunta, que é o temor de se desviar, aqui não há nenhum medo porque o desvio do caminho do Criador, Deus proíba, que costumava acontecer, ocorria por dois motivos: Ou as pessoas transgrediam as instruções dos sábios sobre as questões que não deveriam ser reveladas, ou eles compreenderam as palavras da Cabalá em seu significado externo, isto é, em indicações físicas e transgrediram a Mitzvá de “Não farás para ti imagem de escultura nem de alguma semelhança…” (Êxodo 20:3).

Por este motivo, houve legitimamente uma parede sólida em torno desta sabedoria até os dias de hoje. De fato, muitos tentaram e começaram a estudar esta sabedoria e não foram capazes de seguir com isto por causa de sua falta de entendimento e por causa dos nomes e terminologias físicas e mundanas. É por isto que eu coloquei muito esforço na criação do comentário “Panim Meirot ve Panim Masbirot”  (Face  Iluminada  e  Face  Acolhedora)  para  interpretar  o  grande  livro A Árvore da Vida, pelo Ari. Meu propósito foi despir, as formas físicas e colocá-las de acordo com suas leis espirituais além do espaço e tempo de forma que todo iniciante pudesse ser capaz de entender as coisas juntamente com seu significado e seu raciocínio, com argumentos muito claros e com grande simplicidade, para que fosse apenas tão compreensível como a Gemará ampliada pelo comentário  do Rashi.

38) E nós continuaremos a expor sobre a necessidade de envolver-se com a Torá e as Mitzvot Lishmá, de que eu comecei a falar. Devemos entender aqui este termo: “Torá Lishmá”, isto é, “Lishmá”. Por que a forma completa e desejada do trabalho é referida como Lishmá, enquanto a forma indesejada do trabalho é referida como Lo Lishmá? Afinal, se formos pelo significado muito simples – que uma pessoa se envolvendo com a Torá e as Mitzvot tem o dever de focar seu coração em dar prazer ao seu Criador ao invés de para seu próprio bem – então deve ser chamado e referido como “Torá Lishmá” e “Torá Lo Lishmá”, isto é, pelo bem do Céu. Então, por que é referido como Lishmá e Lo Lishmá, que significa pelo bem da Torá?

Certamente existem alguns entendimentos profundos daquilo que temos apenas discutido por causa do uso da linguagem aqui prova que Torá Lishmá – isto  é, dar prazer ao seu Criador – não é suficiente; mas, precisa ser Lishmá, que significa pelo Bem (ou Nome) da Torá. Isto precisa de uma  explicação.

39) E o problema do assunto é, que é conhecido que o nome da Torá é: Torat Chayim (Torá da Vida), conforme é dito: “Pois ela é vida para aqueles que a encontram” (Provérbios 4:22). E as Escrituras também dizem: “Não é insignificante para ti, mas é tua vida etc.” (Deuteronômio 32:47). E sendo este o caso, então o significado da Torá Lishmá é que se envolver com a Torá e as Mitzvot fornece vida e longos anos, e então a Torá é realmente como seu nome. Isto acontece, Deus proíba, para quem quer que não foque seu coração e mente nisto, que seu envolvimento com a Torá e as Mitzvot a levem ao oposto da vida e longos anos, isto é, completamente Lo Lishmá, já que seu nome é “Torá da Vida”. Entenda isto.

Estes problemas aparecem explicitamente nas palavras dos sábios (Tratado Ta’anit 7a): “Qualquer um que se envolva com a Torá Lo Lishmá, sua Torá torna-se para ele uma poção de morte (aqui, Item 17); mas qualquer que se envolva na Torá Lishmá, sua Torá torna-se para ele uma poção da vida”. De fato, suas palavras requerem clarificação para entendermos como e pelo que a Santa Torá torna-se uma “poção da morte” para ele! No mínimo, o esforço desta pessoa seria em vão e sem propósito, e ela não obteria nenhum benefício deste seu esforço e labuta, Deus proíba. Mas acrescenta ainda mais que a própria “Torá e o trabalho” inverte-se e torna-se uma “poção de morte” – este ponto é muito  espantoso.

40) E devemos primeiro entender as palavras dos nossos sábios que disseram: “Eu trabalhei e encontrei, acredite; Eu não trabalhei e encontrei, não acredite”. (Tratado Megilá 6b) Podemos levantar questionamentos sobre esta terminologia: “Eu trabalhei e encontrei”, que parecem se contradizer um ao Afinal, “trabalhar” é uma questão de trabalho e inconveniência, que é dado por um preço em troca de qualquer objeto desejado. Também, para adquirir um objeto importante, mais esforço é necessário, enquanto que para comprar um objeto de menor valor, menos esforço é necessário.

E isto é exatamente o oposto de “encontrar”, que normalmente atinge uma pessoa completamente sem antecipação e sem os pré-requisitos do trabalho, esforço, ou um preço. Se assim, por que dizemos aqui, “Eu trabalhei e encontrei?” Se trabalhar é o que está sendo falado aqui, então devemos dizer, “Eu trabalhei e adquiri” ou “Eu trabalhei e obtive”, ou algo dessa natureza, ao invés de “Eu trabalhei e encontrei”.

41) E nós aprendemos no Zohar, em relação à passagem: “…aqueles que Me buscam diligentemente Me encontrarão” (Provérbios 8:17) que foi perguntado: Onde alguém encontra o Criador? E eles responderam que o único lugar onde pode-se encontrá-Lo é na Torá. E eles comentaram semelhantemente na passagem: “Verdadeiramente, tu és um Criador Que oculta-se” (Isaías 45:15), que o Criador oculta-se em Sua Santa Torá. E as palavras dos sábios devem ser propriamente entendidas, pois semelhantemente o Criador está oculto apenas em coisas materiais e caminhos e em todas as vaidades do mundo que estão fora da Tora. Então como alguém pode dizer o oposto: que Ele oculta-se apenas na Torá?

Também, em relação a ideia geral que o Criador oculta-se de uma forma que Ele tem que ser procurado, por que Ele precisa desta ocultação? E em relação “que todos aqueles que O buscam O encontrarão”, o significado das palavras: “aqueles que Me buscam diligentemente Me encontrarão”, isto deveria ser entendido bem. Do que este “buscar” e “encontrar” se tratam? Qual é  seu propósito?

42) Saiba que o motivo para toda esta distância – porque estamos tão longe do Criador e porque estamos tão propensos a violar Sua Vontade – é tudo devido a uma causa, que se tornou a fonte de toda a dor e agonia que sofremos, e de todas as transgressões intencionais e intencionais pelas quais caímos, Deus proíba, conforme nos deparamos. Ao mesmo tempo, é obvio que removendo esta causa, nós imediatamente nos livramos de toda tristeza e toda dor, e são imediatamente premiados com adesão a Ele com todo o nosso coração, alma e poder. E deixe-me te falar que a causa original é nenhuma outra senão esta: Nosso mínimo entendimento de Sua Providência sobre Suas criaturas, pois não O entendemos propriamente.

43) Vamos assumir que o Criador interagisse com Suas criaturas através de uma Providência clara e visível. Por exemplo, todo mundo que come algo proibido (não kasher) fosse engasgar imediatamente, e todo mundo que cumprisse uma Mitzvá fosse imediatamente encontrar um prazer maravilhoso, semelhante aos prazeres mais maravilhosos deste mundo material. Neste caso, quem poderia ser tolo o suficiente para mesmo considerar degustar algo que é proibido sabendo que sua vida seria imediatamente perdida como resultado, assim como a pessoa não consideraria pular no fogo? E quem seria tolo o suficiente de deixar qualquer Mitzvá sem ser cumprida com grande velocidade, assim como não deixaria ou adiaria qualquer deleite que viesse no seu caminho e, ao invés, o aceitaria com toda a rapidez possível. Isto significa que onde temos uma Providência Revelada todas as pessoas do mundo seriam completamente tzadikim (justos).

44) Isto é uma evidência clara que perdemos nada em nosso mundo exceto por uma Providência visível, porque se tivéssemos a Providência visível, todas as pessoas do mundo seriam completamente tzadikim (justos). E elas teriam completamente aderido a Ele com absoluto amor porque isto seria uma grande honra para cada uma das pessoas ser amiga e amá-Lo com todo seu coração e alma, e aderir a Ele sempre, sem nunca perder um Mas este não é o caso: Ao invés, a recompensa de cumprir uma Mitzvá não é neste mundo. Além disso, não apenas aqueles que transgredem Sua Vontade não são punidos em frente a seus olhos, mas o Criador é muito paciente com elas.

Mais ainda, algumas vezes o oposto parece ser verdade para nós, Deus proíba. Conforme é dito: “Veja, estes são os perversos; sempre à vontade, eles aumentam em riqueza…” (Salmos 73:12) Portanto, não é que todo mundo que queira tomar o Nome pode apenas vir e pegá-lo; ao invés, somos enfrentados a cada um dos passos, Deus proíba. Conforme os sábios dizem (Vayikra Raba, 2) em relação à passagem: “Um homem em mil eu encontrei” (Eclesiastes 7:28), mil pessoas entram na sala da Torá    e um deles sai para ser um professor. Portanto, o entendimento de Sua Providência  é o motivo para todo o bem, e o mal entendido disto é o motivo para todo o mal. E verifica-se que esta é a polaridade que todos os seres humanos oscilam, entre: para o bem ou para o mal.

45) Quando examinamos de perto a obtenção Providência conforme é sentido pelos humanos, encontramos quatro tipos, onde cada tipo recebe a Divina Providência em uma forma especial. Assim, existem quatro aspectos para compreender a Providência, apesar, de fato, haverem apenas dois, que são: Ocultação da Face e Revelação da Face. Eles são divididos posteriormente em quatro porque existem dois aspectos da Providência no contexto da Ocultação da Face, isto é, Um Ocultamento e Ocultamento dentro de E existem dois aspectos da Providência no contexto da Revelação da Face: Providência de recompensa e punição, e Providência da eternidade, como será explicado posteriormente com a ajuda do Criador.

46) E aqui as Escrituras dizem: “Então Minha ira se acenderá sobre eles naquele dia, e Eu os abandonarei e ‘ocultarei Minha Face’ deles, e eles serão devorados; e muitos males e problemas virão sobre eles; e eles dirão naquele dia, ‘Não é que porque meu Criador não está dentro de mim que estes males me alcançaram?’ E Eu ‘esconderei e ocultarei’ Minha Face naquele dia por todo o mal que eles fizeram porque eles se voltaram para outros Deuses.” (Deuteronômio 31:17- 18)

E se você olhar de perto, você verá que primeiro está escrito: “Minha ira se acenderá etc.” … “e Eu ocultarei Minha Face” [vehistarti Panay], ou seja, Uma Ocultação; e então está escrito: “…e muitos males e problemas virão sobre eles etc.”

… “E Eu esconderei e ocultarei Minha face” [Haster Astir], que significa uma Dupla Ocultação. Precisamos entender o que este Dupla Ocultação  significa.

47) Primeiramente, precisamos entender o que a Face do Criador significa quando as Escrituras dizem: ‘Eu ocultarei Minha Face”. Você precisa entender que isto é semelhante à uma pessoa que vê a face do seu amigo e imediatamente o reconhece. No entanto, este não é o caso quando o vê de costas porque então não está certo em relação à identificação e pode ter dúvidas, pensando que poderia ser alguém diferente do seu amigo.

Este é também o caso com o que está aqui em nossa frente. Porque todo mundo sabe e sente que o Criador é bom e que é a natureza do bem fazer o bem, portanto quando o Criador continua a fazer o bem às Suas criaturas, que Ele criou para a generosidade, é considerado como se Sua Face estivesse exposta às Suas criaturas. E então todo mundo O conhece e está familiar com Ele, na medida em que Ele se comporta de uma forma que é apropriada ao Seu Nome e estatura, conforme foi clarificado acima em relação à visibilidade da Providência. (Estude isto bem, Itens 54-55; 97-98)

48) De fato, quando Ele se comporta com Suas criaturas de forma oposta a mencionada acima – quando recebem dor e sofrimento Neste Mundo – é equivalente às Costas do Criador porque Sua Face, isto é, o grau do seu bem completo, está completamente oculto deles porque este tipo de comportamento não se encaixa com Seu Isto é semelhante a ver o seu amigo de costas e ter dúvidas em relação a sua identidade pensando que ele pode ser outra pessoa.

E este é o significado da passagem: “Então Minha ira se acenderá sobre eles… e Eu ocultarei Minha face deles”. (Deuteronômio 31:17) Quando o Criador está durante a ira e as pessoas são afligidas com problemas e dores, verifica-se que o Criador ocultou Sua Face, Sua absoluta benevolência, e apenas Suas Costas são percebidas. Neste estágio, grande fortalecimento em nossa confiança nEle é necessário para que tenhamos cuidado com pensamentos de transgressão já que é difícil conhecê-Lo de costas. E isto é chamado Uma Ocultação.

49) De fato, quando problema e dor são aumentados para um grau excepcional, Deus proíba, isto causa uma dupla ocultação, que é chamada nos livros, Ocultação dentro da Ocultação, que significa que mesmo Suas Costas não podem mais ser vistas, Deus proíba. Isto significa que as pessoas não acreditam que o Criador está irado com elas e estão lhes punindo, mas, Deus proíba, elas culpam tudo no acaso e na natureza, e através disto chegam a negação herética da Sua Providência de recompensa e punição. E isto é o que se entende por “e Eu esconderei e ocultarei Minha Face [Haster Astir]… porque eles se voltaram para outros deuses”. Em outras palavras, se chegou à heresia e, Deus proíba, voltaram-se à  idolatria.

50) Este não foi o caso anteriormente, onde as Escrituras falam sobre apenas uma ocultação e terminam dizendo: “Não é que porque meu Criador não está dentro de mim que estes males me alcançaram?” (Deuteronômio 31:17) Isto significa que as pessoas ainda acreditam na Providência de recompensa e punição, e elas dizem que elas merecem este problema e dor porque elas não aderiram ao Criador, conforme é dito: “É porque meu Criador não está dentro de mim que estes maus problemas aconteceram a mim”. Aqui é considerado que eles ainda veem o Criador, mas apenas de Suas É por isto que é chamado Uma Ocultação: isto é, apenas a Ocultação da Face.

51) Isto explica os dois aspectos da Providência Oculta que as criaturas criadas percebem: isto é, Uma Ocultação e Ocultação dentro da Ocultação. Uma Ocultação significa apenas a Ocultação da Face, mas as Costas ainda são vistas. Isto significa que elas acreditam que o Criador as fez sofrer como punição, e mesmo que elas sejam levadas a transgressão porque é mais difícil sempre reconhecer o Criador de Suas Costas, conforme explicamos acima elas são referidas como um “perverso incompleto”. Isto significa que suas transgressões são semelhantes a transgressões não intencionais porque elas fizeram elas por causa de seu grande grau de sofrimento. Mas em geral, ainda acreditam em recompensa e punição, conforme discutimos.

52) E Ocultação dentro de Ocultação significa que mesmo as Costas do Criador estão ocultas delas porque elas não acreditam em recompensa e punição, conforme mencionado acima. Neste caso, suas transgressões são consideradas como sendo ações intencionais e elas são chamadas “completamente más” porque elas são hereges que dizem que o Criador não supervisiona sobre Suas criaturas. E assim elas se voltam à idolatria, conforme está escrito: “… eles se voltaram para outros deuses”, Deus proíba.

53) Devemos saber que quando se trata do trabalho que se coloca para realizar a Torá e as Mitzvot através do livre arbítrio que é através dos dois aspectos da Providência Oculta, conforme explicado anteriormente. E sobre tal tempo, Ben Ha- Ha diz, “A recompensa é de acordo com o esforço”. (Tratado Avot 5:22) Isto é porque Sua Providência não é Revelada e é impossível vê-Lo exceto através da Ocultação da Face, isto é, apenas pelas Costas. Isto é semelhante a uma pessoa que vê seu amigo pelas costas e pode duvidar e pensar que é outra pessoa.

Assim, desta forma, o livre arbítrio entre cumprir a Vontade do Criador ou, Deus proíba, transgredi-La, está sempre nas mãos do indivíduo porque o problema   e a dor que ele experimenta o faz duvidar a realidade da supervisão do Criador sobre Suas criaturas, como explicado acima. Se esta toma a primeira forma, que é transgressão não intencional, ou, Deus proíba, a segunda forma, que é intencional.

Se é uma ou a outra, ela está em grande tristeza e passa por muito trabalho e esforço. E sobre tal tempo, as Escrituras dizem: “O que estiver em sua capacidade de fazer, faça com todo teu poder etc.” (Eclesiastes 9:10). Isto é porque a pessoa não merecerá a revelação da Face, que significa a completa medida de Sua bondade, antes que ela faça um esforço e faça qualquer coisa e tudo que estiver dentro de seu poder a fazer, e a recompensa de acordo com o esforço.

54) E, de fato, depois de o Criador ver que esta pessoa completou seu trabalho e terminou tudo que ela precisava fazer com o poder do seu livre arbítrio e um aumento da força em sua confiança no Criador, então o Criador a ajuda e ela merece atingir a Providência visível, isto é, a Revelação da Face. E então ela obtém completo arrependimento (teshuvá), que significa que ela “retorna” (shav) e novamente adere ao Criador com todo seu coração, alma e poder. É como se ela fosse puxada ao lado de estar ciente da Providência visível.

55) A consciência e arrependimento mencionados acima vem para uma pessoa em dois estágios. O primeiro é uma percepção absoluta da Providência de recompensa e punição. Além de perceber muito claramente que a recompensa de cada Mitzvá é para o Mundo Vindouro, ela é também presenteada com um deleite maravilhoso imediatamente neste mundo durante o cumprimento da Mitzvá. E, ainda, além de receber a punição amarga, que será atraída depois de sua morte por cada transgressão, ela também obterá a habilidade de sentir o gosto amargo de cada transgressão mesmo enquanto ainda está viva.

E claro, uma pessoa que merece a Providência visível está absolutamente confiante em si mesma que nunca irá novamente cometer qualquer pecado, assim como uma pessoa que certamente não cortaria seus próprios membros e causaria a   si mesma tremenda agonia. E ela também se torna muito confiante em si mesma que ela não deixará qualquer Mitzvá sem cumprir imediatamente assim que surgir em  seu caminho, assim como uma pessoa que certamente não negligenciaria qualquer prazer ou qualquer grande lucro que viria em seu caminho neste mundo.

56) Através disto, você entenderá o que nossos sábios disseram: “Como sabemos que o arrependimento (teshuvá) foi feito?” – “Quando Aquele que conhece todos os mistérios testemunha que não retornará a sua tolice novamente”. (De acordo com os Salmos, 85:9) Isto parece ser palavras surpreendentes pois quem pode ascender aos Céus para ouvir o testemunho do Criador, e perante quem o Criador dá este testemunho? Não é suficiente que o Próprio Criador saiba que esta pessoa se arrependeu verdadeiramente com todo seu coração e não pecará novamente?

E do que foi explicado, verifica-se que isto é muito simples. Na verdade, antes de atingir a consciência da Providência da recompensa e punição que foi comentada, ou seja, a Revelação da Face, conforme mencionado acima, nunca se tem certeza que não pecará mais. E esta Revelação da Face que vem como salvação do Criador é chamada “testemunho”, pois esta é a salvação do Próprio Criador que o levou a percepção da recompensa e punição, que garante que a vontade da pessoa nunca peque novamente, conforme explicado acima.

Isto é equivalente ao Criador testificar para ela. E isto é o que se entende por: “Como sabemos que o arrependimento foi feito?” ou exposto diferentemente: “Como alguém se torna certo que atingiu completo arrependimento?” Por isso um sinal muito claro foi dado, ou seja, “Quando Aquele que conhece todos os mistérios testemunha que ela não retornará a esta tolice novamente”, ou seja, que ela merecerá esta Revelação da Face, e então a salvação do Criador testificará “que ela não retornará a esta tolice novamente”, conforme explicamos.

57) Este dito arrependimento é chamado Arrependimento por Temor. Isto é porque retorna ao Criador com todo seu coração e alma, a extensão que Aquele que conhece todos os mistérios testemunha em seu favor, que ela não retornará a esta tolice novamente, conforme explicado anteriormente. Ao mesmo tempo, no entanto, toda esta certeza que ela não pecará novamente é por causa de sua consciência e apreensão da punição terrível e das terríveis torturas que são atraídas pelas suas transgressões. É por isto que ela está tão confiante que não pecará novamente, conforme mencionado anteriormente, da mesma forma que está certa que não fará para si mesma torturas terríveis, embora eventualmente, este arrependimento e esta confiança sejam apenas um resultado do temor da punição causada pela transgressão. Isto significa que seu arrependimento é apenas por causa do temor da punição, e por este motivo, está se referindo como Arrependimento por Temor.

58) Isto explica as palavras dos sábios “Uma pessoa que faz Arrependimento por Temor merece que seus atos de malícia (transgressões intencionais) tornem-se erros não intencionais” (Tratado Yoma 86b). E precisamos entender como isto é feito. O que foi dito acima te ajudará a entender isto Explicou-se anteriormente (no Item 52, começando com as palavras “E a Ocultação…”), que as transgressões intencionais que alguém faz vem sobre ela do aspecto de receber a Providência da Dupla Ocultação, que é Ocultação dentro da Ocultação. Isto significa que ela não acredita na Providência de recompensa e punição, Deus proíba.

Mas no aspecto de Uma Ocultação, que significa que ela acredita na Providência de recompensa e punição, mas devido à abundância do sofrimento, algumas vezes ela pode ser levada por pensamentos pecaminosos. Porque apesar de ela acreditar que recebe este sofrimento como punição, ela é ainda análoga a alguém que vê seu amigo de costas e pode perder a confiança e pensar que talvez seja outra pessoa (como mencionado acima; estude isto bem). Então seus pecados são apenas erros não intencionais porque, em geral, ela acredita em recompensa e punição.

59) Portanto, após ela chegar neste Arrependimento por Temor, isto é, a uma clara percepção da Providência de recompensa e punição ao ponto que está certa que não pecará, então o aspecto da Ocultação dentro da Ocultação é completamente corrigido para ela. Porque agora ela vê claramente que há recompensa e punição e é claro para ela que a abundância do sofrimento que ela sentiu a qualquer momento do passado foi uma punição vinda diretamente da Providência do Criador pelos pecados que ela cometeu. Assim em retrospecto, é claro para ela que cometeu, então, um erro amargo.

Portanto, ela arranca todos aqueles atos que ela fez intencionalmente de malícia, ainda que não completamente, pois eles tornam-se erros não intencionais. Em outras palavras, isto é semelhante às transgressões que ela cometeu que estavam na categoria de Uma Ocultação; quando ela falhou devido à confusão que se abateu sobre ela causada pela abundância de seu sofrimento que a deixavam fora de si. E estes são considerados erros não intencionais, conforme mencionado acima.

60) No entanto, a primeira Ocultação da Face, que foi seu quadro antes, não era correta para este arrependimento; isto é apenas deste ponto em diante – depois que ela mereceu a Revelação da Face, conforme mencionado acima. Mas em termos do passado, antes de ela obter o arrependimento, a Ocultação da Face e todas as suas transgressões não intencionais continuam como se estivem sem nenhuma correção ou mudança porque mesmo naquele momento ela acreditava que o problema e sofrimento vinham a ela por causa da punição, conforme é dito (veja aqui, Item 46): “Não foi porque o meu Criador não está dentro de mim que estes males me alcançaram?” Conforme mencionado acima. Estude isto bem.

61) No entanto, ela ainda não é chamada “justo completo”. Apenas aquela que merece a Revelação da Face, ou seja, a completa quantidade da bondade do Criador como O convém (conforme mencionado acima, Item 55, começando com as palavras “A consciência e arrependimento…”) é chamada de tzadik (justa) porque justifica a Providência como ela realmente é: isto é, Ele trata Suas criaturas com bondade e perfeição absolutas, de tal forma que Ele faz o bem para os bons e para os perversos. Aquela que obteve a Revelação da Face deste ponto em diante é merecedora de ser chamada tzadik (justa).

Contudo, porque ela corrigiu apenas o aspecto da Ocultação dentro da Ocultação, Uma Ocultação ainda não foi corrigida exceto deste ponto em diante. Como se vê, que naquele tempo, antes de ela adquirir arrependimento, ela ainda não é merecedora de ser chamada “justa” porque a Ocultação da Face ainda continua como estava. E por causa disto, ela é chamada de “justo incompleto”, ou seja, que  ela ainda tem que corrigir seu passado.

62) E é também chamada uma “medíocre” porque depois que ela adquiriu de qualquer forma Arrependimento por Temor, ela então fez o ajuste para merecer Arrependimento por Amor assim como por seu completo envolvimento com a Torá e com as boas ações. E então ela mereceria o nível de “justo completo”. Como resultado ela está agora no meio entre amor e temor, que é o porquê é chamada de uma “medíocre”. Este não foi o caso anteriormente, quando nem mesmo se ajustou para se preparar para o Arrependimento por Amor. (Tratado  Yoma)

63) E por este meio explicamos bem o primeiro estágio da percepção da Revelação da Face, isto é, compreender e sentir a Providência da Recompensa e Punição como a forma que Aquele que conhece todos os mistérios testemunha no comportamento que ela não voltará mais a sua tolice, como mencionado acima (Item 56). Isto é chamado Arrependimento por Temor, onde as ações maliciosas são consideradas como erros. Isto é chamado de um “justo incompleto” e é também chamado um “medíocre”, conforme mencionamos anteriormente.

64) E agora clarificaremos o segundo estágio da percepção da Revelação da Face, que é a percepção completa, verdadeira e Eterna Providência (Hashgacha). Isto significa que o Criador supervisiona (mashgiach) Suas criaturas no sentido que Ele sendo bom assim como o provedor da bondade para o mal e o bom. Portanto, agora ela é chamada um “justo completo”, e seu arrependimento é por amor. Então agora suas ações maliciosas tornam-se virtuosas. Assim explicamos os quatro aspectos do entendimento da Providência, que são comuns entre as criaturas. E vimos que os primeiros três aspectos – Dupla Ocultação, Uma Ocultação, e Percepção da Providência Sobre Recompensa e Punição – são preparações através das quais se obtém o quarto aspecto, que é a percepção da verdadeira e eterna Providência, que será clarificada posteriormente, com a ajuda do Criador.

65) E nós devemos entender porque o terceiro grau, que é a Percepção da Providência Sobre Recompensa e Punição, não é suficiente para a pessoa. Assim como dissemos, é um em que Aquele que conhece todos os mistérios testemunha no comportamento que ela não pecará novamente, assim, por que ela ainda é chamada de uma “medíocre” ou um “justo incompleto”? Já que este nome prova que seu trabalho não é ainda desejado aos olhos do Criador, e ainda há alguma falta e algum defeito na sua Torá e seu trabalho.

66) Vamos começar a clarificar a questão que alguns comentaristas levantaram em relação à Mitzvá de amar o Criador. Como pode a Santa Torá nos impor a realizar uma Mitzvá que nós somos completamente incapazes de cumprir? É completamente possível para um ser humano forçar-se a se comprometer-se em fazer qualquer coisa – mas quando se trata de amor, nenhuma coerção e nenhuma coação neste mundo pode ajudar. E eles explicam que uma vez que a pessoa cumpre todas as 612 Mitzvot de acordo com a Halachá, então o amor pelo Criador é automaticamente atraído sobre ela, e portanto, considera-se estar dentro do seu alcance cumprir porque ela é capaz de se forçar e comprometer a realizar as 612 Mitzvot e cumpri-las propriamente. E assim ela também obtém o amor pelo Criador.

67) De fato, estas palavras precisam de uma explicação mais compreensiva pois o amor derradeiro pelo Criador não deve chegar até nós como uma Mitzvá, já que isto não constitui nenhuma ação ou comprometimento em nossa parte. Ao contrário, vem por si só depois de cumprirmos as 612 Mitzvot. Mas se este é o caso, o mandamento de realizar as 612 Mitzvot deveria ser suficiente para nós, então porque a Mitzvá do amor foi escrita?

68) Para entender isto, primeiro precisamos obter um verdadeiro entendimento da essência do amor pelo Criador. E deve-se saber que todas as tendências e midot (atributos) inerentes no ser humano pelo bem de interagir com seus amigos são as mesmíssimas tendências e atributos naturais que são necessárias para o trabalho para o Criador. De fato, eles foram criados e são inerentes nos humanos para começar com o motivo para sua função final, que é o destino e o propósito final de todos os humanos. Isto está de acordo com o significado secreto da passagem: “…que cogita meios, para que não fique banido dele o seu desterrado” (II Samuel 14:14), pois Ele precisa de todos eles para tornar-se completo de forma a receber a abundância e cumprir o desejo do Criador.

E isto é o que se entende pela passagem: “Todos que são chamados pelo Meu Nome, que Eu criei para Minha glória, que Eu formei e fiz” (Isaías 43:7), e também: “O Criador fez tudo para Seu bem”. (Provérbios 16:4) Então, por enquanto, o mundo inteiro foi preparado para os seres humanos, pois todas estas tendências naturais e atributos que estão nele evoluirão e se aperfeiçoarão por sua interação com as criaturas, de forma que elas serão dignas de seu propósito derradeiro. E isto é o que nossos sábios disseram: “Deve-se dizer, ‘O mundo foi criado para mim’”, pois todas as criaturas do mundo são necessárias para cada indivíduo, pois elas são aquelas que desenvolvem e preparam as tendências e atributos de cada indivíduo, até que elas estejam aptas e preparadas para se tornar instrumentos a serviço do Seu trabalho.

69) Este sendo o caso, precisamos entender a essência do amor ao Criador pelos atributos do amor que alguém aplica a seu amigo. Isto é porque o amor pelo Criador, necessariamente, flui através destes atributos também porque eles foram incorporados nos humanos desde o princípio somente pelo Nome do Criador conforme explicado acima. E quando olhamos aos atributos de amor entre uma pessoa e seu amigo, encontramos nela quatro níveis de amor, um acima do outro; isto é, dois que são quatro.

70) O primeiro é o Amor que Depende de Algo “Amor Condicional”, que significa que por causa da abundância da bondade, prazer e benefício que alguém recebeu do seu amigo, sua alma se apega a ele com um amor incrível. Neste, existem dois níveis. O primeiro é que antes deles aprenderem a conhecer e amar um ao outro, eles causaram algum dano um ao outro, mas eles não querem se lembrar disto porque “o amor cobre todas as falhas” (Provérbios 10:12). E o segundo nível é que eles sempre têm feito apenas o bem um ao outro e trazem benefício um ao outro, e nenhum vestígio de dano ou má ação já ocorreu entre  eles.

72) O segundo é o Amor que Não Depende de Algo “Amor Incondicional”, ou seja, que se reconheceu que a excelente qualidade do seu amigo é incrível e vai além de qualquer coisa que possa ser aproximada ou imaginada, e por isto, sua alma se adere a ele indefinidamente e com infinito amor abundante. E aqui também existem dois níveis. Um nível é antes de conhecer todos os hábitos e atividades do seu amigo com as outras pessoas. Este é considerado um amor não absoluto porque seu amigo pode ter algumas interações com outros, que visto superficialmente parece que seu descuido faz-lhes mal e dano, de tal forma que se a pessoa amada vê-los, então a excelência do seu amigo poderia ser manchada, e o amor entre eles seria arruinado. No entanto, se ele não visse estas atividades, assim, seu amor é completo, grande, e sumamente maravilhoso.

73) O segundo nível no Amor que Não Depende de Algo é o quarto nível do amor em geral. Ele também vem do reconhecimento da qualidade elevada do seu amigo, conforme declarado acima (veja aqui, Item 72), exceto que agora acrescentado a isto está o fato que ela sabe tudo sobre as atividades e interações com todo mundo; nenhuma está E ela investigou e encontrou que não apenas elas não têm nenhum defeito nelas, mas sua bondade supera elas sem fim, e vai de modo muito além de tudo o que é aproximado e imaginado, e agora é um “amor eterno e absoluto”.

74) Estes quatro atributos do amor que ocorrem entre uma pessoa e seu amigo também ocorrem entre uma pessoa e o Criador. Não apenas isto, mas eles aparecem aqui em estágios, no amor pelo Criador, pela forma de causa e efeito. É impossível atingir qualquer um deles sem ter-se atingido primeiro o atributo do Amor que Depende de Algo “Amor condicional”. Uma vez que ela o obteve completamente, então seu primeiro nível torna-se a causa para ela obter o segundo, e depois que ela obtenha o segundo e atinja seu final, então torna-se a causa para ela obter o terceiro nível, e então o terceiro a leva para o quarto, o amor eterno.

75) Isto levanta uma questão: Como pode ser imaginado que para uma pessoa merecer o primeiro grau de amor ao Criador, que é o primeiro atributo do Amor que Depende de Algo, referindo-se ao amor que vem pela grande bondade recebida do seu amado quando sabemos que “a recompensa não é recebida neste mundo?” (veja Item 44)

E ainda mais assim, quando de acordo com o explicado, todo mundo tem que passar através dos primeiros dois aspectos da Providência em modo de Ocultação da Face, que significa que Sua Face, isto é, Sua bondade – já que é a natureza do bom fazer o bem – foi oculta naquele momento, conforme mencionado acima (Item 47 começando com as palavras “Primeiramente…”) estude isto bem. E   é por isto que recebemos tristeza e sofrimento (veja lá).

De fato, foi explicado que todo o envolvimento na Torá e no trabalho através do livre arbítrio ocorre principalmente durante o tempo da Ocultação da Face (veja aqui, Itens 47, 48). Sendo este o caso, como podemos imaginar que alguém pode obter o segundo nível do Amor que Depende de Algo – ou seja, que desde o início até este mesmo dia, a pessoa amada só o fez favores abundantes e maravilhosos, e não o causou qualquer rastro de mal de qualquer tipo – sem dizer nada sobre obter o terceiro e quatro graus?

76) Temos, de fato, mergulhado em águas muito profundas, e pelo menos devemos voltar com uma pérola preciosa. Portanto, interpretaremos as palavras dos nossos sábios: “Nossos sábios estavam saindo da casa do Rav Ami e alguns disseram ao Rav Chanina – eles disseram a ele como segue: ‘Definitivamente, verás teu mundo em tua vida! E estás destinado a vida no Mundo Vindouro etc…. e teus passos se apressarão a ouvir as palavras de Atik Yomin (Antigo dos Dias)’”. (Tratado Berachot 17a) Fim da citação.

E isto exige um entendimento: Por que eles não disseram, “Receberás teu mundo em tua vida”, mas ao invés, “Verás?” E se eles vieram abençoar, eles deveriam ter abençoado completamente, isto é, que ela poderia atingir e receber seu mundo em sua vida. E devemos também entender porque uma pessoa deve ver o Mundo Vindouro enquanto ainda viva, sendo satisfeita com a vida que ela obterá no Mundo Vindouro. E mais: Por que eles mencionam esta benção em primeiro lugar?

77) Primeiro de tudo, deve-se entender o que esta “visão” do Mundo Vindouro na vida de alguém realmente significa, porque certamente nada espiritual pode ser visto através dos olhos físicos. Além disso, não é o costume do Criador mudar as leis que foram estabelecidas em Gênesis. Isto é porque todas as leis ordenadas estabelecidas no princípio da Criação foram organizadas pelo Criador em uma forma específica, porque elas são as mais úteis e bem sucedidas pelo propósito desejado delas: que através delas, o homem pudesse ser capaz de aderir a Ele, conforme explicado anteriormente, como dizem as Escrituras: “O Criador fez tudo para Seu bem” (Provérbios 17:4). Este sendo o caso, precisamos entender como uma pessoa verá o próximo mundo enquanto ainda viva.

78) Deixe-me dizer-lhe que esta “visão” vem para a pessoa através da “abertura dos olhos” para a Santa Torá, conforme está escrito: “Abra meus olhos, para que eu veja as maravilhas da Tua Torá” (Salmos 119:18). E é por isso que é feito a alma jurar antes de entrar em seu corpo (Tratado Nidá, 30b) que mesmo que o mundo inteiro te falar que você é justo e virtuoso, pareça perverso “em teus olhos”. Enfatizando “em teus olhos” porque enquanto você não tiver obtido a “abertura dos olhos” para a Torá, considere-se perverso. E não se iluda pela grande reputação que obteve por ser Pois isto torna claro o porquê de “verás teu mundo com teus próprios olhos” estar no início das bênçãos, pois antes disto, não se mereceu sequer o grau de ser um “justo incompleto”.

79) De fato, isto deve ser entendido propriamente: Se alguém verdadeiramente sabe que já seguiu e aprendeu toda a Torá; e se o mundo todo, de algum modo, concorda com ele naquilo, por que tudo isto não seria suficiente? Ao invés, ela está jurando a continuamente se considerar como “um perverso”. E porque está perdendo a maravilhosa fase da “abertura dos olhos” para a Torá, permitindo- lhe ver seu mundo enquanto ainda vive, você considera-o perverso – isto é muito peculiar!

80) As quatro formas que as pessoas concebem da Providência foram explicadas, e estas incluem duas da categoria da Ocultação da Face e duas da categoria da Revelação da Face. E foi explicado que o sentido da Ocultação da Face das criaturas com grande intenção foi dar as pessoas espaço para trabalhar e se envolver em Seu trabalho – através da Torá e as Mitzvot – pelo livre arbítrio. Isto é porque um grande prazer espiritual está sendo elevado até o Criador juntamente com seus envolvimentos com Sua Torá e Suas Mitzvot, de fato mais prazeroso do que com Seus anjos no Alto, “que não tem livre arbítrio” que são, ao invés, obrigados a realizar sua missão, como sabemos. Há outros motivos significativos para isto, mas este não é o lugar para considerar em sua extensão.

81) E apesar de todos os elogios sobre a categoria da Ocultação da Face, isto ainda não é considerado perfeição, mas apenas uma transição. Isto porque é o lugar do qual a totalidade da perfeição que é aspirada é obtida. Isto significa que toda a recompensa que foi preparada para o homem não é obtida apenas através do seu esforço em estudar a Torá e realizar boas ações durante o tempo da Ocultação da Face, isto é, fazer estas coisas pelo livre arbítrio. Este período é quando se experimenta agonia porque está se tornando mais fixado em sua confiança no Criador e em realizar Sua Vontade. Toda a recompensa que obtém está em proporção à tristeza que experimenta em viver de acordo com a Torá e as Mitzvot. Nas palavras do Ben Ha-Ha: “A recompensa está em proporção direta ao esforço”.

82) E, portanto, toda pessoa precisa passar por esta transição começando com o tempo da Ocultação da Face, e quando isto é feito, recebe a Providência visível, isto é, a Revelação da Face, conforme mencionado acima. Mas antes de obter a Revelação da Face, mesmo que se veja as Costas, é impossível não pecar de vez em quando, como mencionado acima (Item 53, começando com as palavras “Devemos…;” estude isto bem).

Não apenas a pessoa é incapaz de cumprir às 613 Mitzvot porque o amor não vem através da coerção e força, mas não é nem mesmo completa em relação às 612 Mitzvot porque seu desejo “por temor” não está corretamente definido, conforme mencionamos anteriormente. Este é o segredo do valor numérico (Guematria) da palavra “Torá”, que é 611 (toda Guematria é o segredo das Costas), de forma que não pode nem mesmo cumprir 612 Mitzvot. E este é o segredo de “pois não deve lutar [Heb. ב”ירי] para sempre” (Salmos 103:9), porque no final, é obrigada a receber a Revelação da Face, como mencionado.

83) O primeiro grau da Revelação da Face, que é a percepção da Providência de recompensa e punição em completa clareza, não vem para a pessoa a menos que seja através da salvação, quando ela é, então, privilegiada de entendimento maravilhoso com a “abertura dos olhos” para a Santa Torá. E torna-se como uma fonte que sempre flui, de acordo com o Rav Meir (Tratado Avot 6a). E através de cada Mitzvá da Santa Torá que foi realizada pelo trabalho e pelo seu próprio livre arbítrio, merece ver a devida recompensa que espera por ela no Mundo Vindouro. Assim como com a grande perda que vem com a transgressão.

84) E embora a recompensa não a atingiu ainda torna-se “a recompensa da Mitzvá não se aplica neste mundo”, ainda esta percepção muito clara é suficiente para ela daqui em diante, para sentir o grande deleite de cumprir cada Mitzvá porque “o que é devido a ser recolhido pode ser considerado como já recebido”. Isto é como um mercante que fez um negócio que rendeu-lhe uma grande soma de dinheiro. Embora o dinheiro esteja destinado a alcançá-lo depois de um longo tempo, todavia, se ele está certo sem nenhuma sombra de dúvida que o lucro o alcançará no tempo, ele fica, então, tão feliz como se ele tivesse recebido imediatamente.

85) Claro, tal Providência visível indica que de agora em diante, se aderirá à Torá e às Mitzvot com todo o seu coração, alma e ser, e também que irá renunciar e fugir das transgressões como se fugisse do fogo. E embora ela ainda não seja um ‘justo completo’, como mencionado acima, pois ainda não mereceu Arrependimento Por Amor, ainda assim sua grande adesão à Torá e as boas ações o ajudarão gradualmente a também merecer a Revelação da Face. E então poderá cumprir todas as 613 Mitzvot completamente e tornar-se um “justo completo”.

86) E agora a questão que fizemos em relação ao juramento – que mesmo se o mundo inteiro te falar que você é justo, você deve se considerar como perverso – que a alma fez antes de vir a este muito ficou claro para nós. (Tratado Nidá 30b, veja também aqui, Item 78). Perguntamos porque, se o mundo inteiro concorda que ela é justa, ela é obrigada a se considerar como perversa, o mundo inteiro não seria confiável? E devemos perguntar ainda mais – em relação à frase: “mesmo se o mundo inteiro disser ” – que o testemunho do mundo inteiro tem a ver com este assunto, já que a pessoa se conhece muito melhor que o mundo inteiro. Assim poderia ter feito ela jurar que “mesmo se você conhece em si mesma que você é justa etc.”.

E especialmente difícil é que na Gemará explicitamente Raba diz: “Uma pessoa deve se conhecer se ela é completamente justa ou não”. (Tratado Berachot 61b) Fim da citação. Isto significa que há uma obrigação e uma realidade prática em verdadeiramente tornar-se um “justo completo”. Além disso, se é obrigada a investigar esta verdade e informar-se sobre ela. E se este é o caso, por que a alma é feita jurar que ela sempre se considerará “em seus próprios olhos” como perversa e, portanto, nunca saberia por si mesma a verdade, depois de nossos sábios fazerem uma demanda oposta, como explicado?

87) De fato, estas são palavras muito precisas. Certamente a própria pessoa, enquanto ela ainda não mereceu esta “abertura dos olhos” para a Torá pela maravilhosa percepção suficientemente para ela obter a percepção completa do entendimento de recompensa e punição, não seria capaz de conter de si mesma como um justo. Isto porque ela ainda precisa sentir que está faltando duas das Mitzvot mais inclusivas da Torá, que são Temor e Amor.

Mesmo atingindo o temor perfeitamente – no mesmo sentido que Aquele que conhece todos os mistérios poderia ser capaz de testemunhar em seu nome, garantindo que ela não retornaria a sua tolice por causa de seu profundo temor da punição e a perda causada pela transgressão, como mencionado anteriormente – é algo totalmente difícil para alguém imaginar antes de ter atingido um entendimento completo, claro e absoluto em relação à Providência de recompensa e punição. Isto significa obter o primeiro estágio da Revelação da Face, onde se atinge pela “abertura dos olhos” para a Torá, como mencionado anteriormente. E é desnecessário dizer em relação ao amor, que está completamente além da habilidade porque depende  do Entendimento do Coração, e nenhuma quantidade de trabalho duro ou coerção a ajudariam lá.

88) Consequentemente, o texto do juramento é “mesmo se o mundo inteiro te disser que você é justo (tzadik) etc.”. Isto é porque estas duas Mitzvot, Amor e Temor, são dadas para cada pessoa, e ninguém entre todos os seres humanos, exceto a pessoa, pode reconhecê-la e conhecê-la. Por este motivo, quando as pessoas a veem como tendo completado em relação as 611 Mitzvot, elas imediatamente dizem que é muito provável que ela adquiriu as Mitzvot de amor e temor também. Mas porque a natureza do ser humano é sempre acreditar no mundo, ela é muito propensa a cometer um erro grave, mesmo antes de vir a este mundo – e isto pode ter algum benefício para nós. Embora, na medida que a própria pessoa, ela é obrigada a procurar e encontrar dentro de sua própria alma se ela é completamente justa, conforme mencionado acima (Item 86).

89) Nós também clarificamos a questão que foi levantada acima em relação ao mérito do amor. Perguntamos como poderíamos até mesmo obter o primeiro grau de amor enquanto que, ao mesmo tempo, “a recompensa da Mitzvá não se aplica a este mundo.” (Itens 44, 75, 84; estude isto bem). E agora está muito claro que não se precisa realmente receber a recompensa por ter cumprido a Mitzvá em sua vida, que é o porquê fizeram-no mais preciso: “Verás” teu mundo em tua vida, mas o teu fim com ela no Mundo Vindouro (Itens 76-77). Isto indica que a recompensa por cumprir as Mitzvot não se aplica a este mundo, mas, ao invés, ao Mundo Vindouro.

Certamente, para ver, conhecer, e sentir a recompensa que a pessoa está destinada a ter no futuro no Mundo Vindouro, ela tem que conhecer isto verdadeiramente e com completa clareza enquanto ainda é viva. Através de seu entendimento maravilhoso da Torá, como mencionado acima. É então que ela merece, pelo menos, o grau do Amor que Depende de Algo “Amor condicional”, que é o primeiro grau ao sair da “Ocultação da Face” e vir para a Revelação da Face. Isto é essencial para ela propriamente cumprir a Torá e as Mitzvot, de tal forma que “Aquele que conhece todos os mistérios testemunhará em seu favor, garantindo que ela não retornará a sua tolice”, conforme discutido acima (Item 56 começando com as palavras: “Do que foi explicado…”). Estude isto bem.

90) E, doravante, por causa do seu esforço em observar a Torá e as Mitzvot pelo Amor Que Depende de Algo, que vem do conhecimento e a recompensa que pode esperar no Mundo Vindouro do aspecto de “o que é devido ser recolhido pode ser considerado como já recebido”, como mencionado acima (Item 84, começando com as palavras: E embora…), ela então vai e merece o segundo grau da Revelação da Face – o aspecto da Providência no mundo que vem da Sua Eternidade e Sua Verdade. Em outras palavras, Ele é bom e benevolente às más assim como às boas, assim a pessoa obtém Amor que Não Depende de Algo “Amor incondicional”, quando suas ações maliciosas são transformadas em méritos (veja Itens 53-58). E daí em diante, ela é chamada um “justo completo” porque ela pode cumprir a Torá e as Mitzvot com Amor e Temor e assim chamada “completa” porque ela obteve todas as 613 Mitzvot em sua completude.

91) Temos assim resolvido nossas questões anteriores (Itens 55-56) em relação à pessoa que merece o terceiro grau da Providência, ou seja, a Providência sobre recompensa e punição, porque Aquele que conhece todos os mistérios já testemunhou o comportamento, garantindo que ela não retornará a sua tolice novamente, ainda que ela ainda seja chamada como “justo incompleto”; veja lá. E agora é bem sabido que ela ainda está faltando a última Mitzvá, que é a Mitzvá do amor, conforme explicado. E certamente não está completa porque ainda, necessariamente, precisa completar o número de 613 Mitzvot, que por sua vez são os primeiros passos acima do limite em direção à perfeição.

92) E em tudo que foi dito as questões específicas colocadas por eles tornaram-se muito claras para nós. Pois eles perguntaram: Como pode a Torá nos ordenar a amar, enquanto esta Mitzvá não está em nossas mãos para nos envolvermos de qualquer forma, ou até mesmo tocar de qualquer forma? Estude isto E agora, entenderemos e veremos que isto é o que nossos sábios nos alertaram: “Trabalhei e não encontrei, não acredite.” (Tratado Megilá, 6b) E também: “uma pessoa deve sempre se envolver com Torá e Mitzvot Lo Lishmá porque de Lo Lishmá ela chegará a Lishmá.” (Tratado Pesachim 50 e também veja aqui no Item 17) E é com referência a este assunto que o verso declara: “Aqueles que Me buscam diligentemente Me encontrarão” (Provérbios 8:17 e também aqui, Item 41).

93) E estas são as palavras dos sábios (Tratado Megilá, 6b): “Rav Yitzchak disse: se uma pessoa te falar, trabalhei e não encontrei, não acredite; não trabalhei mas encontrei, não acredite; trabalhei e encontrei, Estas palavras referem- se ao envolvimento nos estudos da Torá, mas em negociações, é alcançado através  da ajuda dos Céus”. E nós perguntamos (veja acima, Item 40, começando com as palavras: E devemos primeiro entender…) sobre o que é dito – “Trabalhei e encontrei, acredite” – pois a linguagem parece contradizer-se a si mesma. Afinal “trabalhar” está relacionado com adquirir propriedade, enquanto “encontrar” está relacionado com algo que alguém recebe não intencionalmente e sem nenhum esforço qualquer. Assim o que deveria ter sido dito é: “Trabalhei e obtive a posse”. Veja lá (Item 40).

Contudo, saiba que o termo “encontrar” que é mencionado lá refere-se às palavras da passagem: “Aqueles que Me buscam diligentemente Me encontrarão” (Provérbios 8:17). Isto refere-se à presença da Face do Criador, conforme aprendemos no Zohar que não se pode encontrá-Lo exceto na Torá. Isto significa que ao trabalhar na Torá, finalmente merece encontrar a Revelação da Face do Criador. (veja Item 41)

Portanto, os sábios foram muito precisos quando eles disseram, “Trabalhei e encontrei, acredite”. Porque o “trabalhar” está na Torá, e “encontrar” é em relação   à Revelação da Face da Providência do Criador (como mencionamos acima Item 47, começando com as palavras: Primeiramente…). E foi deliberado que eles não digam, “Trabalhei e obtive, portanto acredite”, ou “Trabalhei e obtive posse”, porque então poderia ter sido enganoso, indicando que a obtenção ou a aquisição da posse pertence apenas em torno a “obter posse” da Torá. Por este motivo, eles usaram uma linguagem muito precisa, dizendo, “encontrei”, ou seja, que a intenção é algo sobre  e acima de “obter posse” da Torá, isto é, “encontrando” a Revelação da Face do Criador, como explicado acima.

94) E agora o que foi dito está sendo clarificado: “Não trabalhei e encontrei, não acredite”, porque isto parece estranho. Quem poderia ser tão tolo assim para considerar em sua mente a possibilidade de obter a Torá sem a necessidade do trabalho por isto? Mas já que tudo está no contexto de “aqueles que Me procuram diligentemente Me encontrarão”, isto significa que qualquer um, seja pequeno ou grande, que busca o Criador, O encontrará logo. Isto é o que é indicado pela linguagem “aqueles que Me buscam diligentemente”. Poder-se-ia pensar que isto não precisa de muito trabalho e que mesmo uma pessoa inferior, que não deseja investir muito esforço nisto, também poderia O encontrar. Por este motivo, fomos alertados pelos sábios que tal explicação não deve ser acreditada. Ao invés, o trabalho é muito necessário aqui, por isso: “Não trabalhei e achei, não acredite”.

95) E agora você entenderá porque a Torá é chamada pelo nome “Vida” (veja novamente Item 3), conforme é dito: “Veja, coloquei diante de ti este dia a vida e o bem… etc.”, (Deuteronômio 30:15) e também: “… escolha a vida etc.” (Ibid. 19), e também: “Pois ela é vida para quem a encontra” (Provérbios 4:22), porque ele estende- se da passagem das escrituras: “Na Luz da Face do Rei está a Vida” (Provérbios 16:15). Já que o Criador é a fonte de toda a vida e bondade, a vida é atraída a aqueles ramos que se aderem à sua Fonte. Isto é dito em relação a aqueles que trabalharam e encontraram a Luz da Sua Face na Torá, que significa que eles obtiveram a “abertura dos olhos” na Torá com percepção maravilhosa até que eles mereçam a ‘revelação da Face do Criador’, ou seja, a percepção da Providência real, que é digna do Nome do Criador “o Bom” porque é a natureza do Bom fazer o bem, conforme mencionamos anteriormente (veja acima, Item 8 começando com as palavras: Temos assim…); estude isto bem.

96) E os dignos não são mais capazes de se divorciarem de cumprir as Mitzvot propriamente, assim como alguém que não pode se divorciar de um grande prazer que caiu sobre ele. Da mesma forma, fogem da transgressão assim como se corre do fogo (como mencionado acima (Item 83), começando com as palavras: O primeiro…); estude isto bem. E sobre elas, é dito: “Mas vós que aderistes ao Senhor, teu Criador, estais todos vivos neste dia” (Deuteronômio 4:4) porque Seu amor vem a eles e é outorgado a eles com amor natural através dos canais naturais que foram feitos prontos para cada pessoa pela própria natureza da Criação. Isto é porque agora o ramo está propriamente anexado a sua raiz e a vida está constantemente sendo outorgada sobre ela com grande abundância desta Fonte. E por este motivo, a Torá é chamada “Chayim” (Vida).

97) Portanto, nossos sábios nos alertaram em um número de lugares que esta é uma pré-condição necessária para o estudo da Torá: que seja especificamente Lishmá, ou seja, que será feito de forma que a pessoa obtenha vida dela porque é uma Torá da vida. E é por isto que ela nos foi dada, conforme é dito: “Escolha a vida”. Portanto, toda pessoa, enquanto se envolver com a Torá, precisa trabalhar nela e dá-la a sua mente e seu coração, e encontrar nela a Luz da Face do Rei da Vida. Isto é, perceber a Providência visível, que é chamada a Luz da Face (como mencionado acima (Item 47), começando com as palavras:  Primeiramente).

E todo mundo é capaz disto, conforme é dito: “Aqueles que Me buscam diligentemente Me encontrarão”, e como é dito: “Trabalhei e não encontrei, não acredite”. E não há nada que uma pessoa não tenha a este respeito além de seu trabalho, de acordo com o verso: “Qualquer um que se envolver com a Torá Lishmá apenas, seu estudo da Torá se torna para ela uma poção da vida.” (Tratado Ta’anit, 7a). Isto é, precisa apenas colocar sua mente e seu coração para merecer a vida, que  é o significado de Lishmá, como explicamos (Item 17).

98) Agora veremos que o que os comentaristas perguntaram sobre a Mitzvá do Amor – isto é, que esta Mitzvá não está dentro das nossas mãos para cumprir porque o amor não vem através de coerção e subjugação – não é realmente uma questão porque está completamente dentro do nosso alcance. Afinal, é possível para qualquer um colocar esforço na Torá, até que encontre a percepção de Sua “Providência visível.”. Isto é o que nossos sábios queriam dizer quando disseram: “Trabalhei e encontrei, acredite”. E quando ela atinge a “Providência visível” o amor já foi estendido a ele através dos seus próprios canais naturais, conforme discutimos acima (veja Item 66).

E qualquer que não acredite que pode atingir este nível através do seu esforço, por qualquer razão que seja, não, necessariamente, acredita nas palavras dos sábios, Deus proíba. Ela imagina a si mesma que trabalhar não é suficiente para toda e cada pessoa, que é o oposto do dito: “Trabalhei e não encontrei, não acredite”. E Isto é também contrário à passagem das escrituras: “Aqueles que Me buscam diligentemente Me encontrarão”, que diz particularmente “aqueles que Me buscam diligentemente”, quem quer que “aqueles” possam ser, jovens ou velhos, já que esforço é certamente requerido deles.

99) Deste comentário, você pode também entender o que nossos sábios disseram: que quem quer que se envolva com a Torá Lo Lishmá, então sua Torá torna- se para ela uma poção de morte. (Tratado Ta’anit, 7a e aqui, Item 17) Também, referindo à passagem: “Verdadeiramente, Tu és um Criador (El) que Se oculta” (Isaías 54:15), já que o Criador Se oculta na Torá. E levantamos uma dificuldade (veja acima (Item 41), começando com as palavras: E nós aprendemos…): seria razoável pensar que o Criador poderia se ocultar, particularmente em matérias mundanas e em vaidades deste mundo, que estão fora da Torá, e não na própria Torá, porque toda revelação ocorre apenas lá. O Zohar diz (Terumá, 260), que o Criador está Se ocultando para que Ele seja procurado e encontrado – e perguntamos mais sobre esta ocultação: “Para que eu preciso disso?”

100) Do comentário acima, você entenderá bem esta ocultação – onde o Criador Se oculta para ser procurado – refere-se à Ocultação da Face, Sua forma de lidar com Suas criaturas, com seus dois aspectos: Uma Ocultação e Ocultação dentro de Ocultação (como mencionado acima (veja Item 80), começando com as palavras: As quatro formas). E o Zohar nos permite saber que ninguém deve nem mesmo pensar que o Criador quer continuar, Deus proíba, no estágio da Providência da Ocultação da Face das Suas criaturas.

Mas assim como uma pessoa que se oculta de propósito para que seu amigo a procure e encontre, assim também, o Criador, quando Ele interage com Suas criaturas em modo de Ocultação da Face, só está fazendo isto porque Ele quer que Suas criaturas procurem pela Revelação da Sua Face e O encontrem. E tudo isto é porque não haveria outra forma ou maneira para as criaturas serem merecedoras da Luz da Face do Rei da Vida, se Ele não tivesse primeiro interagido com elas através da Ocultação da Face de tal forma que esta ocultação é apenas uma preparação para a Revelação da Face, (como explicado acima (Item 93) começando com as palavras:  E nós perguntamos…).

101) O verso diz (veja Item 41) que o Criador Se ocultou na Torá. Em relação ao sofrimento e a tristeza que alguém passa durante o período da Ocultação da Face não é o mesmo para alguém que teve muitas transgressões e que se envolveu pouco com a Torá e as Mitzvot, comparado com alguém que se envolveu extensivamente com a Torá e as Mitzvot. Isto é porque o primeiro é obrigado a julgar seu Criador pelo lado do mérito – isto é, acreditar que seu sofrimento foi também desejado por ele por causa dos seus pecados e a escassez de Torá.

Não assim para a outra: É muito difícil para ela passar julgamento favorável ao seu Criador porquê de acordo com ela, não merece tais punições severas. Isto é ainda mais assim quando ela vê que seus amigos, que são muito piores que ela, não estão sofrendo tanto, conforme dito nas Escrituras (Salmos 73:12-13): “Veja, estes são os perversos; sempre à vontade, eles aumentam em riquezas, e assim tudo em vão tenho guardado meu coração em tristeza”. (Veja também Item  44)

Daqui, você pode ver que enquanto uma pessoa não obtém a Providência da Revelação da Face, ela acha que a Torá e as Mitzvot que ela se envolveu abundantemente, a sobrecarrega muito com a Ocultação da Face. É por isto que é dito que o Criador Se oculta na Torá – contemple este ponto profundamente. De fato, todo este grande peso que sente profundamente por causa da Torá é porque é uma mensagem de sortes. Este é um meio para a Santa Torá convidá-lo e insisti-lo a se apressar rapidamente dar a quantidade de trabalho que é requerida a ela para que possa atingir a Revelação da Face sem demora, como o Criador deseja; entenda isto bem.

 

102) E é por isto que é dito que: “qualquer um que aprenda Lo Lishmá, a Torá torna-se como uma poção de morte para si”. Não apenas não sai do aspecto da Ocultação da Face para a Revelação da Face, porque não pretende trabalhar para merecer, mas acima e além disso, quanto mais se envolve com a Torá, mais aumenta a Ocultação da Face por um grande grau até que, Deus proíba, caia na Ocultação dentro de Ocultação. E isto equivale à morte – ser completamente desconectado de sua raiz – e desta forma, sua Torá torna-se uma poção de morte para  si.

103) E aqui os dois nomes que foram usados para a Torá – a Revelada e a Oculta – são explicados, pois deve-se entender os assuntos de “por que eu devo [me envolver com] a Torá Oculta?” e “por que toda a Torá não é Revelada?” De fato, existe uma intenção profunda aqui porque a Torá “Oculta” é uma dica para nós que o Criador “se oculta na Torá”, como explicado acima (Item 41), que é o porquê é chamada a Torá Oculta. E o nome “Revelada” existe porque o Criador é “revelado pela Torá”, como mencionado acima.

Portanto, os cabalistas nos falaram – e temos também aprendido isto no Sidur (livro de orações) do Rav Eliyahu de Vilnius (o Gaon de Vilna) – que a ordem para o entendimento da Torá começa do sod (segredo, também referido como “oculto”) e termina com o peshat (simples, o literal, também referido como o “revelado”). Isto significa, como explicamos, que através do esforço apropriado que se coloca estudando a Torá Oculta no começo, se atinge a Torá Revelada, que é o peshat (literal), como foi bem explicado acima. Então se começa com o Oculto, que é o sod (segredo), e quando merecer, termina com o peshat (literal).

104) O que perguntamos anteriormente (Item 75, começando com as palavras: Isto levanta uma questão…) foi bem explicado. Isto é, como obter o primeiro grau de amor, que é Amor Que Depende de Algo. Viemos a aprender que embora a recompensa por cumprir uma Mitzvá não se aplique a este mundo, perceber a recompensa pela Mitzvá é, em todo caso, atingível neste mundo, e esta percepção vem para a pessoa através da “abertura dos olhos” na Torá etc.

E como foi mencionado acima, esta clara percepção é completamente semelhante a ele como se tivesse recebido a recompensa de cumprir a Mitzvá na hora, (como mencionado acima [Item 84] começando com as palavras: E embora…); estude isto bem. Assim por causa disso, sente a grande beneficência contida no Pensamento da Criação, que é trazer plenitude para Suas criaturas de acordo com Sua completa, boa e abundante mão. E pela grande bondade que ela obtém, um grande amor entre ela e a Providência é revelada. Ele é doado a ela infinitamente, das mesmas formas e canais que o amor natural é revelado etc., como mencionado acima (Item 47).

105) De fato, tudo isto acontece a ela do momento em diante que atinge esta consciência. No que diz respeito a todos os sofrimentos causados pela Providência da Ocultação da Face, que ela suportou antes de atingir a Revelação da Face acima mencionada – mesmo que não queira se lembrar porque “o amor cobre todos os crimes”, (Provérbios 10:12), eles ainda são considerados como um grande defeito, mesmo do ponto de vista do amor entre pessoas (como mencionado acima (veja Item 70), começando com as palavras: O primeiro…). Para não mencionar no que diz respeito a integridade da Sua Providência, que Ele é bom e benevolente às más assim como com as boas.

Portanto, deve-se entender como é possível merecer o amor do Criador de tal forma que sinta e saiba que o Criador sempre fez grandes favores maravilhosos para si desde o momento do seu nascimento em diante, e nunca jamais lhe causou mesmo um pingo de dano, e nunca irá. E esta é a segunda virtude do amor (como mencionado acima (veja Item 70), começando com as palavras: O  primeiro…).

106) Para entender isto, precisamos das palavras dos nossos sábios, que disseram que uma pessoa que se Arrependeu Por Amor, que suas ações maliciosas (intencionais) se transformam em méritos (veja Item 64). Isto significa que não apenas o Criador perdoa suas ações maliciosas, mas também o Criador transforma cada ação perversa e toda transgressão que já cometeu em mérito de ter cumprido uma Mitzvá.

107) E, portanto, depois da pessoa ter obtido a Iluminação da Face a tal grau que toda transgressão que já cometeu – mesmo aquelas que realizou com má intenção – é transformada e se torna uma Mitzvá para ela, então como resultado, esta pessoa torna-se feliz e contente com todos seus sentimentos anteriores de sofrimentos amargos e dores assim como os muitos problemas que teve que passar, desde o tempo que estava sob a influência dos dois aspectos das acima mencionadas Ocultação da Face. Isto é porque foram eles que causaram todas as ações maliciosas, que foram agora transformadas em Mitzvot. E isto é devido a Iluminação da Face do Criador, o Maravilhoso Criador de Milagres, como é mencionado acima.

E toda e cada tristeza e problema, que fizeram ela perder seu autocontrole e falhar por cometer vários erros, como em Uma Ocultação, ou por cometer ações maliciosas intencionais, como em Dupla Ocultação (como mencionado acima (veja Item 52), começando com as palavras: E Ocultação…) – todas estas são agora transformadas e tornam-se uma plataforma para si e uma preparação para cumprir uma Mitzvá, receber uma grande e maravilhosa recompensa por toda eternidade dela. E, portanto, toda agonia torna-se para si uma grande alegria, e todo mal em um benefício maravilhoso.

108) Isto é análogo à história que é contada por muitos sobre um Israelita que era um trabalhador de confiança para um certo mestre e a quem o mestre amava como a si mesmo. E aconteceu uma vez que o mestre viajou e nomeou um substituto para lidar com seu negócio. Este substituto era um antissemita. O que ele fez? Ele pegou o Israelita e o feriu cinco vezes em público para todos verem, para humilhá-lo profundamente.

E quando o mestre retornou, o Israelita foi até ele e o contou tudo o que tinha acontecido. E ele ficou muito irado, e chamou seu substituo e o ordenou imediatamente entregar mil moedas para o Israelita por cada vez que ele o feriu. O Israelita pegou as moedas e voltou para casa. Sua esposa o encontrou chorando, então ela lhe disse com grande preocupação, “O que acontece a você com o mestre?” Ele disse, “Estou chorando porque ele me feriu apenas cinco vezes. Gostaria que ele tivesse me ferido pelo menos dez vezes porque então eu teria obtido dez mil moedas”.

109) E aqui você aprende que após uma pessoa obter perdão pelos seus pecados de tal forma que suas ações maliciosas tornam-se como méritos para si, então também merece se aproximar do Criador no aspecto do amor em relação ao segundo grau, onde aquele que é amado nunca fez nenhum mal para aquele que o amou, nem mesmo uma sombra de mal, mas ao invés, ele continuou fazendo-o muitos favores maravilhosos durante todo o tempo de sua vida, (como mencionado acima (veja Item 70), começando com as palavras: O ..), de tal forma, que o Arrependimento por Amor e a transformação das ações maliciosas em méritos vem como um, como mencionado pelos ditos dos sábios acima (veja  Item 64).

110) Até agora, temos explicado apenas o aspecto do Amor Que Depende de Algo “Amor Condicional” em seus dois aspectos. Mas precisamos ainda entender como uma pessoa merece aproximar-se do Seu Criador nos dois aspectos do Amor Que Não Depende de Algo “Amor Incondicional”. E a este respeito, precisamos entender as palavras dos sábios (Tratado Kidushin, 40b): “Nossos sábios disseram o seguinte: Uma pessoa deve sempre ver-se como se metade dela é culpada e a outra metade é inocente. Tendo cumprido uma Mitzvá, tem a sorte de ter desequilibrado para si mesma em direção a escala da inocência; tendo cometido uma transgressão, ai dela por ter desequilibrado em direção ao lado da culpa, conforme é dito: “Um pecador perde muitos bens”. (Eclesiastes 9:18)

Rav Elazar, filho do Rav Shimon, diz, “Já que o mundo é julgado pela sua maioria e o indivíduo é julgado pela maioria, tendo cumprido uma Mitzvá, é afortunado de ter desequilibrado em direção ao lado do mérito para si mesmo e para o mundo; tendo realizado uma transgressão; ai dele por ter desequilibrado para si mesmo e para o mundo em direção a escala da culpa, conforme é dito: “Um pecador perde muitos bens”. E por causa deste pecado que cometeu, ele e o mundo inteiro perdem muitos bens”. (Fim da citação do Tratado Kidushin)

111) Estes pontos parecem ser difíceis de se entender do início ao fim porque ele diz que qualquer um que realize uma Mitzvá imediatamente aponta em direção ao lado do mérito, já que é julgado de acordo com a maioria. De fato, isto se refere àquelas pessoas que são meio culpadas e meio inocentes, algo que Rav Elazar, filho do Rav Shimon, não fala sobre, e a parte principal está faltando no livro.

E Rashi comentou nas palavras, referindo-se às palavras do Tana Kama, que diz, “Uma pessoa deve sempre ver-se como se metade dela é culpada e a outra metade é inocente”. E Rav Elazar adiciona que deve também ver o mundo todo como se metade é culpado e metade é inocente; estude isto bem. Mas, de fato, a parte principal está faltando no livro. E, além disso, por que ele não mudou sua linguagem? Por que ele não falou com a mesma linguagem que o Tana Kama, se o significado é um e o mesmo?

112) A ideia principal, é que a pessoa deve ver-se como se ela fosse apenas metade culpada é particularmente difícil. Isto é um espanto: Se a pessoa sabe de suas muitas transgressões, poderia ela mentir para si mesma dizendo que ela é meio e meio? A Torá nos ordena: “Mantenha-se longe da mentira” (Êxodo 23:7). Além disso, é relativo à frase: “Um pecador perde muitos bens”, ou seja, que por causa de uma transgressão, aponta a si mesmo e o mundo todo em direção a escala da culpa. Portanto, estamos falando sobre uma realidade verdadeira e não apenas alguma falsa imaginação que uma pessoa tem para si mesma e para o mundo.

113) E outra coisa também é peculiar: Poderia ser que não existem muitas pessoas que cumprem uma Mitzvá em toda e cada geração, e ainda que o mundo não seja apontado em direção ao lado da inocência? Isto pode significar que a situação não mudou; ao invés, o mundo se comporta de acordo com seus hábitos de todos os tempos. Em vez disso, grande profundidade é necessária aqui, porque na superfície, estas coisas não fazem nenhum sentido.

Certamente o Braita não falou sobre uma pessoa que sabe em si mesma que seus pecados são muitos, ensinando-a a mentir que é meio e meio, assim como induzi-la que lhe falta apenas uma Mitzvá. Este não é, de forma alguma, o caminho dos sábios. Em vez disso, o Braita fala sobre uma pessoa que sente e imagina que é totalmente um justo completo e considera a si mesma como sendo a encarnação da perfeição. Isto é porque já obteve o primeiro grau de amor pela “abertura dos olhos” na Torá, como mencionado acima, tanto que ‘Aquele que conhece todos os mistérios’ testifica em seu comportamento que nunca voltará a sua tolice, como mencionado acima (começando das palavras veja Item 56: E do que foi explicado…).

E é a ele que o Tana fala e classifica seus caminhos e lhe prova que não é ainda um justo, mas um medíocre, ou seja, meio-culpado e meio-inocente. E é por isto que ainda falta “uma Mitzvá” das 613 Mitzvot da Torá. É a Mitzvá do Amor, como mencionado acima ((veja Item 71) começando com as palavras: Temos então definido) estude isto bem. O testemunho de Aquele que conhece todos os mistérios que ela não mais pecará é apenas por causa da clareza do seu entendimento da grande perda por toda transgressão, como mencionado acima, e consequentemente, é considerado como temor da punição, e por este motivo, é chamado Arrependimento por Temor, como explicamos extensivamente acima (veja Item 109 começando com as palavras: E aqui…).

114) Foi também explicado acima que este estágio de Arrependimento por Temor não corrige a pessoa, ao invés apenas do momento do arrependimento em diante. Toda a agonia e penosidade que sofreu antes de merecer a Revelação da Face continua como se estivessem sem nenhuma correção. Além disso, as transgressões que realizou não estão completamente corrigidas, mas, ao invés elas estão lá em forma de erros, como explicamos extensivamente anteriormente (veja Item 58 começando das palavras. Isto explica…), estude isto bem.

115) E, portanto, o Tana Kama diz que uma pessoa que ainda falta “uma Mitzvá” deve ver a si mesma como se metade dela é culpada e metade é inocente. Isto é, deve imaginar em si mesma que o ponto onde se purificou com o arrependimento foi na metade de seus anos. Desta forma, é metade culpada. Isto significa que na metade particular dos seus anos que ela viveu antes de se arrepender, foi certamente culpada porque o Arrependimento da Culpa não corrige elas como mencionado anteriormente (veja Item 59). E isto também resulta que é metade inocente, ou seja, na metade dos seus anos do tempo que se arrependeu em diante.

Pois neste momento, é certamente inocente porque está certa que não irá mais pecar, como mencionado acima. Assim, na primeira metade dos seus anos, é culpada, e na última metade dos seus anos, é inocente.

116) E o Tana o diz para considerar que se cumpre “uma Mitzvá”, isto é, a Mitzvá que faltava das 613 (como mencionado acima (veja Item 91), começando com as palavras: Temos assim…), então seria afortunado por ter apontado a si mesma em direção a escala da inocência, porque as ações maliciosas de quem quer que obtenha a Mitzvá do Amor – isto é, através do Arrependimento por Amor, como mencionado acima – são transformados em méritos. E então toda a dor e tristeza que tenha sofrido antes da sua purificação com o arrependimento são transformadas em deleites maravilhosos sem fim, ao ponto onde está arrependida de não ter sofrido duas vezes mais (como mencionado acima sobre o mestre e seu amado servo Israelita; (veja Item 108), começando com as palavras: Isto é…). Isto é o que se pretende por “apontar em direção ao lado da inocência (zchut)” porque todos seus sentimentos em relação aos erros e ações maliciosas foram transformados em mérito (zchut). E este é o apontamento em direção ao lado da inocência (zchut) porque toda a escala cheia de culpa foi transformada em uma escala cheia de mérito (zchut). E na linguagem dos sábios, esta transformação é chamada, “decisão”.

117) E o Tana fala mais e alerta ela que enquanto for medíocre e não tiver obtido ainda aquela “uma Mitzvá” que está faltando das 613, não deve confiar em si mesma até o dia da sua morte. E não deve nem mesmo confiar no testemunho “Daquele que conhece todos os mistérios” que não retornaria a sua tolice, mas, ao invés que poderia ainda cometer um pecado. Portanto, precisa pensar em sua mente que ai dela se cometer uma transgressão, porque ela se governa em direção ao lado da culpa. E então imediatamente perde todas as suas percepções maravilhosas na Torá e toda a Revelação da Face que obteve, e retorna à Ocultação da Face. E assim aponta-se em direção ao lado da culpa porque os méritos e bondades se perderão mesmo na segunda metade da sua vida. E sobre isto, o Tana lhe proporciona evidência do texto: “E um pecador perde muitos bens” (Eclesiastes 9:18).

118) Agora você entenderá a adição que o Rav Elazar, filho do Rav Shimon, faz às palavras do Tana Kama, assim como o motivo que ele não traz a linguagem de ser ‘meio-culpado e meio-inocente’, como o Tana Kama Isto é porque o Tana Kama fala sobre o segundo e terceiro graus do amor, como explicado acima (veja Item 70 começando com as palavras: O primeiro atributo…), e então: O segundo atributo. E Rav Elazar, filho do Rav Shimon, fala em relação ao quarto grau do amor, como mencionado anteriormente (veja Item 73 começando com as palavras: O segundo nível…), que é o amor eterno: isto é, a Revelação da Face como ela verdadeiramente é, no sentido de “Aquele que é bom e faz o bem para aqueles que são bons e para aqueles que são maus”.

119) E foi explicado lá que não há forma de obter o quarto grau exceto quando está familiarizado, experiente e proficiente com todas as ocupações do Amado e como Ele se comporta com todos os outros, sem deixar nenhum. Portanto, um grande privilégio que uma pessoa obtém por apontar para si mesma em direção ao lado da inocência ainda não é suficiente para ela obter o amor completo, ou seja, o quarto grau, porque até agora, ainda não percebe a grandeza do Criador do aspecto de “Aquele que é bom faz o bem para as más e para as boas”. Mas, ao invés, percebe apenas através da Sua Providência com ele pessoalmente, semelhante ao que foi mencionado acima (veja Item 107 começando com as palavras: E, portanto…). No entanto, ainda não conhece sobre a Providência nesta forma magnífica e maravilhosa, com o resto das pessoas do mundo.

E foi explicado acima que enquanto não souber sobre todas as relações do Amado com os outros ao ponto que nem mesmo uma delas esteja faltando, então o amor ainda não é eterno, (como mencionado acima (veja Item 73) começando com as palavras: O segundo nível…); estude isto bem. Portanto, é exortado a governar o mundo todo em direção ao lado da inocência, pois somente então o amor eterno será revelado a ela.

120) E é por isto que o Rav Elazar, filho do Rav Shimon diz (Itens 110-111): ““Já que o mundo é julgado pela maioria e o indivíduo é julgado pela maioria etc.”. Mas porque ele está falando sobre todas as pessoas, não pode se expressar como Tana Kama (o primeiro Tana) e que possa considerá-las como se metade delas fossem culpadas e metade fossem inocentes; este grau vem para a pessoa apenas após receber a Revelação da Face e Arrependimento por Temor, como mencionado acima (Itens 57, 113). Como ele pode dizer sobre as pessoas do mundo quando elas ainda não ganharam este tipo de arrependimento? Portanto, ele poderia apenas dizer que o mundo é julgado de acordo com sua maioria e que um indivíduo é julgado de acordo com sua maioria.

Isto significa que é possível concluir que uma pessoa pode obter a categoria de justo completo apenas quando não tem transgressão e nunca, jamais pecou, e aqueles que falharam cometendo pecados e ofensas intencionais não são mais dignos de obter a categoria de completamente justos. Portanto, Rav Elazar, filho do Rav Shimon, nos ensina que este não é o caso, mas que o mundo é julgado pela maioria, como no caso com o indivíduo. Isto significa que ela emerge da categoria de medíocre – isto é, depois que faz seu Arrependimento por Temor, como mencionado (Item 88) acima, então imediatamente obtém as 612 Mitzvot e é chamada um medíocre – ou seja, metade de sua vida é culpado e metade de sua vida é inocente, como mencionado acima. (Item 113)

E depois disto, se ela adicionar apenas uma Mitzvá, ou seja, a Mitzvá do Amor, será considerada como se a sua maioria fosse inocente e iria apontar tudo ao lado  da  inocência.  Isto  significa  que  a  bandeja  das  transgressões  também  é

transformada em méritos, como mencionado nas palavras do Tana Kama (o primeiro Tana); veja aqui (Itens 110-111). Portanto, mesmo se seu lado é cheio de transgressões e atos maliciosos, eles são todos transformados em méritos, e assemelha-se a alguém que certamente nunca pecou e é considerado um justo completo.

E o que foi dito é que o mundo e o indivíduo são julgados por cada um da maioria, que significa que as transgressões que fez antes de seu arrependimento não são levadas em consideração porque elas foram transformadas em méritos. Assim, nesse sentido, mesmo aqueles que são completamente maus, uma vez que obtiverem Arrependimento por Amor, serão considerados justos completos. (veja Itens 64, 106, 109, 117).

121) E este é o porquê é dito que se o indivíduo que realizou “uma Mitzvá”, referindo-se à depois do Arrependimento por Temor quando apenas o cumprimento de “uma Mitzvá” faltava para si, como mencionado acima (Itens 110-111), “feliz é aquele que já apontou a si mesmo e ao mundo inteiro em direção ao lado do mérito”. Isto significa que não apenas ele mereceu apontar em direção ao lado do mérito para si mesmo, através do Arrependimento por Amor que fez, como Tana Kama (o primeiro Tana) disse, mas também é encontrado que ele também consegue apontar o mundo inteiro em direção ao lado do mérito.

Isto significa que consegue ascender em novas percepções maravilhosas sobre a Santa Torá, até que seja revelada para si como as pessoas do mundo inteiro estão ligadas para obter Arrependimento por Amor, no momento em que a mesma Providência maravilhosa que é atingida por si mesma será revelada e vista por eles também. E a balança também será apontada para eles em direção ao lado do mérito, e então: “Que os pecadores sejam consumidos da Terra, e os perversos não existam mais!” (Salmos 104:35)

E apesar das próprias pessoas do mundo ainda não terem obtido mesmo o Arrependimento por Temor, porém, depois de um indivíduo perceber o apontamento em direção ao lado do mérito, que eventualmente as alcançará também, de uma forma que é absolutamente clara, então esta situação é semelhante ao [conceito (mencionado nos Itens 76-77):] “Verás teu mundo em tua vida”, que é dito sobre uma pessoa que faz Arrependimento por Temor. E ela fica surpresa e encantada por isto, assim como dissemos, e é como se já tivesse em sua mão porque tudo o que é devido a ser coletado pode ser visto como já tendo sido recebido, como mencionado acima (Item 84 começando com as palavras: E embora…); estude isto bem.

E aqui também, para este indivíduo que percebe o arrependimento do mundo todo, é considerado como se elas próprias já tivessem merecido atingir Arrependimento por Amor e que toda e cada uma delas tivesse apontado suas próprias culpas em direção ao lado do mérito à extensão que é suficiente para ela conhecer  as relações com toda e cada uma entre as pessoas do mundo.

E é por isto que Rav Elazar, filho do Rav Shimon, disse, “Bendito é aquele que aponta para si mesmo e para o mundo inteiro em direção ao lado do mérito” (Itens 110-111) porque deste ponto em diante, ele conhece todos os caminhos da Providência com toda e cada criatura do aspecto da Revelação de Sua verdadeira Face, ou seja, “Aquele que é bom faz o bem para as boas e más”. E entendendo isto, ela obtém o quarto grau do amor, que é o amor eterno, como explicado (acima no Item 73, começando com as palavras: O segundo  nível…).

E Rav Elazar, filho do Rav Shimon, assim como Tana Kama, também lhe alerta que mesmo depois de ter merecido apontar para o mundo todo em direção ao lado da inocência, ainda não deve confiar em si mesma até o dia de sua morte porque se, Deus proíba, ela falhar em uma única transgressão, todas as suas realizações e maravilhosas bondades serão imediatamente perdidas, conforme é dito: “Um pecador perde muitos bens” (Eclesiastes 9:18) como o Tana Kama (primeiro Tana) disse (Itens 110-111).

E assim, a diferença entre o Tana Kama e Rav Elazar, filho do Rav Shimon, foi deixada clara. Tana Kama fala apenas sobre a segunda e terceira categorias do amor, e portanto não menciona o apontamento do mundo inteiro. Mas Rav Elazar, filho do Rav Shimon, fala sobre o quarto grau do amor, que não pode ser imaginado exceto através da percepção do apontamento do mundo todo em direção ao lado do mérito, como explicado (Item 119). No entanto, deve-se ainda entender como atingimos esta maravilhosa percepção de apontar a balança do mundo todo em direção ao lado do mérito.

122) E nós devemos entender aqui as palavras dos sábios (Tratado Ta’anit, 11a), que são como segue: “Verificamos ainda que, quando a comunidade é absorvida em tristeza, não se deve dizer, ‘Eu irei para casa, comerei, beberei e deixarei minha alma estar em paz’. E se fizer isto, ele é aquele a quem as Escrituras dizem: ‘E eis que, alegria e prazer; matam os bois e as ovelhas, comem carne e bebem vinho; comamos e bebamos, pois amanhã morreremos’ (Isaías 22:13). O que está escrito mais adiante? ‘E será revelado que os ouvidos do Deus dos Exércitos, e certamente não será esquecida de ti até que morras’. (Ibid. 14)

Até aqui, o atributo do medíocre. Mas o que fala sobre o atributo do perverso? ‘Venha, tomemos vinho, e nos satisfaçamos com licor; e o dia seguinte será como este dia’ (Isaías 56:12). O que está escrito após isto? ‘Os justos pereceram, e ninguém considera isto em seu coração por causa do mal, os justos são levados’ (Isaías 57:1). Então se deve estar junto com a comunidade em tristeza etc. … “Então merecerá receber a consolação junto com a comunidade”. Fim da citação (do Tratado Ta’anit).

123) Estas palavras parecem não ter conexão uma com a outra. Ele quer trazer prova das Escrituras que o indivíduo é obrigado a lamentar junto com a comunidade, mas se for assim, por que teríamos o trabalho lá de separar e dividir entre o atributo do medíocre e o atributo do perverso? Além disso, por que o texto diz explicitamente “o atributo do medíocre e o atributo do perverso” ao invés de dizer, “o medíocre e o perverso”? Por que ele fala sobre os atributos?

E além disso, de onde é que entendemos que o texto fala sobre o pecado de não tomar parte das tristezas da comunidade? Também, não vimos nenhuma punição em relação ao atributo do perverso, apenas uma referência ao que foi dito: “o justo perece, e ninguém considera isto em seu coração etc.”. Mas se o perverso pecou, o que foi que o justo fez para ser punido? E por que o perverso deveria se importar se o justo foi levado ou não?

124) De fato, saiba que estes atributos do medíocre, do perverso e do justo (tzadik) mencionados neste Braita não se referem às pessoas específicas – ao invés, todos os três estão presentes em toda e cada pessoa no mundo. Isto é porque estes três atributos devem ser observados em toda e cada pessoa. Durante o momento da Ocultação da Face para uma pessoa – ou seja, antes de ela obter Arrependimento por Temor – ela é considerada pertencendo ao atributo do perverso (Item 52).

Posteriormente, se merecer Arrependimento por Temor (Item 57), é considerada como pertencendo ao atributo do medíocre, como mencionado acima (Item 62). E então, se também merecer Arrependimento por Amor, que é o quarto nível, ou seja, o amor eterno, como mencionado acima (Itens 64 e 73), é considerada como um justo completo. Portanto, eles não disseram apenas “medíocre” e “justo”, mas “o atributo do medíocre” e “o atributo do perverso”, como explicado (Item 122).

125) Além disso, precisamos nos lembrar que não se pode merecer o quarto grau do amor acima mencionado sem primeiro obter o aspecto da Revelação da Face, que é destinado a aparecer ao mundo todo e através do qual tem poder suficiente para apontar a balança para todas as pessoas do mundo em direção ao lado da inocência, como mencionado acima nas palavras do Rav Elazar, filho do Rav Shimon (Item 118). E já explicamos que a Revelação da Face é obrigada a transformar toda tristeza e sofrimento que apareceram durante o período da Ocultação da Face, transformando-as em deleites maravilhosos, tanto que poderia se arrepender por ter sofrido tão pouco, como explicamos bem (acima Item 121 começando com as palavras: E este é o porquê…); estude isto bem.

Sendo este o caso, devemos perguntar: Quando uma pessoa aponta a balança em direção ao lado da inocência, certamente lembra-se de todas experiências tristes   e dolorosas que sofreu durante o período da Ocultação da Face. E assim, há uma realidade lá, onde todas elas são transformadas em deleites maravilhosos para si, como foi dito. Mas quando aponta o mundo inteiro em direção ao lado da inocência, como sabe o grau da tristeza e penosidades que todas as pessoas no mundo estão passando, e assim entender como elas estão apontadas em direção ao lado da inocência, da mesma forma que clarificamos em relação à pessoa que aponta sua própria balança? (Veja acima, (Item 121) começando com as palavras: E este é o porquê…).

A escala do mérito para o mundo todo não deveria faltar no momento que   a pessoa é capaz de apontá-la em direção ao lado da inocência. A pessoa não tem outro esquema a não ser se certificar que sempre irá sentir tristeza em si mesma enfatizando com as tristezas da comunidade, assim como sentiria tristeza por suas próprias tristezas. Então a escala da culpa do mundo todo estará pronta dentro de   si, assim como sua própria culpa, de forma que se merecer dominar a si mesma em direção ao lado da inocência, poderá ser capaz de dominar o mundo todo em direção ao lado da inocência. E então merecerá ser um justo  completo.

126) E apesar destas explicações, as palavras do Braita podem ser entendidas propriamente: que se uma pessoa não participar das tristezas da comunidade, então é encontrado que mesmo quando ela obter Arrependimento por Temor, que é o atributo do medíocre, como mencionado acima ((Item 62) começando com as palavras: E é também ..), as Escrituras se referem a ela e falam em seu favor, dizendo (Item 122): “Eis que alegria e prazer”. Ou seja, que a pessoa obteve a benção de “Verás teu mundo em tua vida” (Itens 76-78) e vê todas as recompensas de suas ações de acordo com as Mitzvot – recompensas prontas para si no Mundo Vindouro – certamente está “cheia de alegria e prazer”, e diz a si mesma, “matam os bois e as ovelhas, comem carne e bebem vinho; comamos e bebamos, pois amanhã morreremos” (Item 122). Isto significa que está cheia de grande alegria por causa da recompensa que é prometida e si no Mundo Vindouro, e é o porquê diz muito alegremente, “Pois amanhã morreremos”, recolherei minha vida no Mundo Vindouro, já que devo ser paga após minha morte.

Mas quando está escrito o seguinte: “E será revelado aos ouvidos do Deus dos Exércitos, e certamente esta iniquidade não será esquecida de ti até que morras”? (Isaías 22:14) Isto significa que as Escrituras estão lhe repreendendo pelos pecados não intencionais que cometeu porque foi explicado que os pecados intencionais daquele que faz Arrependimento por Temor, são transformados apenas em pecados não intencionais, como explicado acima (Item 121 começando com as palavras: E este é o porquê…). Sendo este o caso, já que não lamentou com a comunidade e não pode merecer o Arrependimento por Amor – onde seus pecados intencionais seriam transformados em méritos (Itens 110-111) – segue necessariamente que os pecados não intencionais que realizou não serão esquecidos durante sua vida, assim como   ela pode ser feliz com sua vida no Mundo Vindouro? E isto é o que as Escrituras querem dizer em: “Certamente esta iniquidade não será esquecida” (aqui, Item 122), ou seja, os pecados ou erros não intencionais, “até que morras”, isto é, antes de morrer, pois está sendo privado da expiação.

127) E o Braita continua dizendo (Item 122) que “este é o atributo do medíocre”, ou seja, que a passagem das escrituras está falando do momento em que se fez Arrependimento por Temor em diante, um período no qual é chamado “um medíocre”, como mencionado acima (Item 62). “Mas do atributo do perverso, o que foi escrito?” ou seja, o que acontece no momento que a pessoa estava em Ocultação da Face, que é chamado “o atributo do perverso?” como mencionado acima (Item 122). E foi explicado que o Arrependimento por Temor não corrige o que a pessoa passou antes de fazer o arrependimento, e, portanto, o Braita traz outra passagem das escrituras sobre estas pessoas, que é “Venha, tomemos vinho, e nos satisfaçamos com licor; e o dia seguinte será como este dia”. (Item  122)

O significado disto é que aqueles dias e anos que atravessou desde o momento da Ocultação da Face e que ainda não foram corrigidos (como mencionado anteriormente Itens 80-82) são chamados “o atributo do perverso”. Eles não querem que ele morra porque não tem parte depois da morte no Mundo Vindouro, sendo o atributo do perverso. E, portanto, ao mesmo tempo o atributo  do medíocre é feliz e alegre, “pois amanhã morreremos”, e obterão a vida no Mundo Vindouro, simultaneamente o atributo do perverso nele não diz assim, mas diz, “e o dia seguinte será como este dia”. Isto significa que ele quer ser feliz e viver neste mundo para sempre, já que não tem nenhuma parte no Mundo Vindouro porque não o corrigiu, como explicado acima, pois não pode ser corrigido exceto pelo Arrependimento por Amor.

128) E com isto, o Braita conclui: “O que está escrito no seguinte? ‘Os justos pereceram’” significa que o aspecto do justo completo que esta pessoa atingiu falta nela. ‘… e ninguém considera isto em seu coração por causa do mal, os justos são levados’ (Item 122) significa que porque o medíocre não lamentava junto com o público, ele, portanto, não podia obter Arrependimento por Amor, que transforma as ações maliciosas em méritos e miséria em deleites maravilhosos, como foi mencionado acima (Itens 110-111). Ao invés, todos os pecados não intencionais e tristezas que sofreu antes de obter Arrependimento por Temor ainda são válidos porque ainda existem no aspecto do “atributo do perverso”, que ainda sente tristeza da Sua Providência. E por causa destas tristezas que ainda sente, não pode merecer ser um justo completo.

E as Escrituras dizem: “E ninguém considera isto em seu coração”, que significa que a pessoa não considera isto no seu coração “porque devido ao mal”, ou seja, devido às “tristezas” que ainda sente das vezes passadas da Providência, “os justos são levados”, que significa que o atributo de ser um justo é levado e morrerá   e partirá do mundo apenas o aspecto do medíocre, como mencionado acima. E tudo isto é porque alguém que não sente tristeza junto com o público não consegue ver a consolação do público porque não estará apto a apontar a escala deles em direção ao lado da inocência e vê suas consolações, como explicado. E, portanto, nunca será capaz de merecer o aspecto do justo, que foi explicado extensivamente  acima.

129) De tudo o que foi dito até este ponto, tivemos o mérito de aprender que não existe ser nascido de uma mulher a quem as seguintes três midot (atributos e também níveis) mencionados acima não se aplicam: o atributo do perverso, o atributo do medíocre, e o atributo do Eles são chamados midot (atributos, níveis) porque são derivados dos midot (níveis) de entendimento de Sua Providência.

E isto o que é dito pelos nossos sábios: “De acordo com o nível (midá) que se avalia (moded), está assim sendo avaliado (modedim lo)” (Tratado Sotá, 5b), ou seja,  que aqueles que percebem a mida (nível de avaliação) da Sua Providência do aspecto da Ocultação da Face são “avaliados” para estar na midá do perverso – ou não completamente perverso, que corresponde a Uma Ocultação, ou completamente perverso, correspondendo à Dupla Ocultação (como mencionado acima, (Item 124) começando com a palavra: De fato…).

E de acordo com seus pensamentos e sentimentos, o mundo é conduzido com a má Providência, Deus proíba, da mesma forma que eles trazem o mal sobre si mesmos recebendo o sofrimento e dor da Providência e sentindo apenas o mal ao longo de todos os dias. E ainda trazem o mal sobre si mesmos por pensar que todas as pessoas do mundo são supervisionadas, com eles, através desta má Providência, Deus proíba. E, portanto, aqueles que percebem a Providência do aspecto da Ocultação da Face são chamados perversos ou maus.

E entenda que este nome é revelando dentro deles pela profundeza dos seus sentimentos. Depende do entendimento do coração e não há importância de qualquer discurso ou pensamento justificando Sua Providência, quando esta contradiz o sentimento de todos os órgãos e sentidos que não sabem como mentir mesmo quando é forçado.

Portanto, aqueles que estão no nível de perceber esta Providência são considerados como tendo apontado para si mesmos e para o mundo todo em direção ao lado da culpa, como mencionado acima (Itens 110-111) nas palavras do Rav Elazar, filho do Rav Shimon; estude isto bem. Isto é porque o motivo descrito anteriormente: que imaginam que todas as pessoas do mundo são como eles – sendo supervisionado com a má Providência, Deus proíba, como convém a natureza do Criador, Que é bom e faz o bem aos perversos e aos  justos.

130) E aqueles que merecem perceber e sentir Sua Providência do aspecto da Revelação da Face em seu primeiro grau, que é chamado Arrependimento por Temor (como mencionado acima, ((Item 109) começando com as palavras: E aqui…  e também Item 62), são considerados no nível (atributo) do medíocre porque suas emoções são dividias em duas partes, que são chamadas “as duas bandejas da escala”. Isto é porque agora que mereceram a Revelação da Face do aspecto de “verás teu mundo em tua vida (Itens 76-78)”, como mencionado acima ((Item 117) começando com as palavras: E o Tana ..), perceberam Sua boa Providência pelo menos deste ponto em diante, que convém a Seu bom nome, e, portanto, tem “a escala do mérito (inocência)”.

No entanto, toda a tristeza e sofrimento amargo que foi profundamente gravado em suas emoções por todos os dias e anos durante os quais recebeu a Providência da Ocultação da Face (Itens 80-82) – isto é, dos tempos passados antes de obter o dito Arrependimento – ainda são válidos, e são chamados de “a escala da culpa (Item 110)”. E têm as duas bandejas definidas uma contra a outra. Do momento do seu arrependimento e antes, o lado da culpa é disposto e ainda válido; e do momento de seu arrependimento em diante, a escala da inocência é disposta e garantida. Isto significa que o momento do arrependimento é definido  entre  (bein)  a culpa e (bein) a inocência, e, portanto, são chamados medíocres (beinonim).

131) E aqueles que merecem o segundo grau da Revelação da Face, que é chamada Arrependimento Por Amor (Item 64), onde suas ações maliciosas tornam- se méritos para eles (como mencionado acima, (Item 121) começando com as palavras: E este é o porquê…), são considerados como se tivessem apontado o lado da culpa mencionado acima ao lado da inocência. Isto significa que toda a tristeza e penosidade que foram gravadas nos seus ossos enquanto estavam sobre a Providência da Ocultação da Face é agora governado e apontado ao lado da inocência por causa de toda a tristeza e sofrimento foram transformadas em prazeres maravilhosos e ilimitados, (como mencionado acima (Item 108) começando com as palavras: Isto é análogo à…). E eles são agora chamados tzadikim [plural de tzadik, que significa “justo” ou “reto”] porque eles justificam (matzdikim) Sua Providência.

133) Também temos que saber que as coisas que dissemos em relação ao assunto do livre arbítrio sendo validos apenas durante o tempo da Ocultação da Face, (como mencionado acima (Item 53) começando com as palavras: Devemos saber…), não significa que depois que obtenha a Providência da Revelação da Face,   é livre para trabalhar e colocar esforço na Torá e as Mitzvot. O oposto é o caso: O trabalho principal na Torá e as Mitzvot propriamente começa depois que obtenha Arrependimento por Amor, porque apenas então é possível se envolver com a Torá  e as Mitzvot por amor e temor, como fomos ordenados, pois “o mundo foi criado se não para os justos completos”. (Tratado Berachot 61b)E devemos saber que o atributo acima mencionado do medíocre está também em vigor mesmo quando a pessoa está sob a Providência da Ocultação da Face, porque quando elas fazem um grande esforço em acreditar em recompensa e punição, uma Luz de grande certeza no Criador é revelada neles, e obtém, por enquanto, o nível da Revelação de Sua Face, como convém ao atributo de um medíocre. Mas a desvantagem é que não podem depender deste atributo permanecer permanentemente porque a única forma de mantê-lo permanentemente é através do Arrependimento por Temor, (como mencionado acima (Item 109) começando com as palavras: E aqui…).

Isto é análogo ao rei que desejou selecionar todos os seus sujeitos mais leais   e amados em seu país para si mesmo e colocá-los trabalhando dentro de seu palácio. O que ele fez? Ele emitiu e abriu um decreto no país, dizendo que qualquer um que queira, seja jovem ou venho, pode vir a ele e se envolver nos seus trabalhos internos do seu palácio. Mas ele levou muitos dos seus escravos e os colocou como guardas  na entrada do palácio e em todas as estradas que levavam ao seu palácio, instruindo- os a astuciosamente enganar todos aqueles que se aproximassem e os desviassem da estrada levando ao palácio.

Claro, todas as pessoas do país começaram a correr em direção ao palácio real, mas ao chegar, eram enganadas pela astúcia dos guardas diligentes. Muitos deles superaram os guardas e conseguiram se aproximar do portão do palácio. Mas os guardas no portão eram muito conscientes, e qualquer que chegasse próximo do portão era movido e empurrado com grande astúcia e habilidade ao ponto que eles voltavam de onde tinham vindo. E assim eles vinham e voltavam novamente; e novamente ganhavam força, vinham novamente e voltavam, e assim eles fizeram de novo e de novo por dias e anos até que eles ficaram desmotivados de tentar mais. E apenas o mais valente deles, que teve paciência suficiente, derrotou estes guardas e abriu o portão imediatamente, conseguindo ser recebido e ver a face do rei, que deu a cada um a tarefa própria que melhor convinha.

E, naturalmente, daí em diante, eles não tiveram mais relações com estes guardas, que tentaram desviá-los e empurrá-los para longe e fizeram suas vidas amargas por muitos dias e anos, ao ir e voltar diante do portão, porque eles mereceram trabalhar e servir com respeito à glória da luz da face do rei dentro do palácio. E este é também o caso no trabalho do justo (tzadik) completo, já que o livre arbítrio que era válido durante o tempo da Ocultação da Face certamente não é mais válido no momento que eles abrem o portão e percebem a Providência Visível.

De fato, se começa com a essência do trabalho no aspecto da Revelação da Face porque é quando se começa a subir os muitos degraus da escada que tem base na Terra e seu topo atinge os Céus. Este é o segredo da passagem: “E os justos irão de um triunfo a outro” (Salmos 84:8). E isto é o que se entende pelas palavras dos sábios: “que todo justo é queimado pela copa de seu amigo” (Tratado Bava Batra 7a) porque estes trabalhos os preparam para a Vontade do Criador, para que Seu Pensamento da Criação – que é “satisfazer Suas criaturas com alegria” de acordo com Sua generosidade e bondade – seja manifesto neles.

134) E é bom conhecer esta lei Superior: que não há revelação exceto no lugar onde havia ocultação antes. Este é também o caso com assuntos mundanos, onde o vazio existe antes da revelação; por exemplo, o crescimento do trigo é revelado apenas onde foi semeado e E este é também o caso nos assuntos Superiores, onde a ocultação e revelação são relacionadas uma com a outra, assim como o pavio e a luz que se adere a ele, porque depois de qualquer ocultação atingir correção, a luz particular relacionada a este tipo de ocultação é revelada devido a ele. E a luz que é manifesta se adere a ela assim como a luz ao pavio, e lembre-se disto  em todas as tuas jornadas.

135) Agora você deve entender o que nossos sábios disseram: que toda a Torá consiste dos Nomes do Criador (Zohar, Há’azinu, 281). Isto é aparentemente algo peculiar porque se pode encontrar muitas coisas rudes, como os nomes dos perversos, como Faraó e Bilam e outros como eles, assim como as proibições e impurezas, e maldições cruéis em duas admoestações (nas porções Bechukotai e Ki Tavo), e semelhantes. Assim como podemos entender que tudo isto podem ser os Nomes do Criador?

136) Para entender isto, temos que saber que Seus caminhos não são nossos caminhos porque nosso caminho é ir da imperfeição para a perfeição, enquanto Seu caminho é que todas as revelações cheguem a nós da Perfeição para a imperfeição. No princípio, a Perfeição completa foi emanada e emergiu dEle, e esta Perfeição descendeu de dentro da Sua Face e rolou a baixo por uma contração após outra através de vários estágios até que atingiu o estágio final mais contraído, que é mais apropriado a nosso mundo material, e então é revelada para nós aqui neste mundo.

137) E do que foi dito, você aprenderá que a Torá Sagrada, a excelência do que é sem fim, não emanou e veio dEle de uma vez, pois ela existe antes de nós aqui neste mundo, pois é conhecido que a Torá e o Criador eram um e o mesmo, mas na Torá deste mundo, isto não é Não apenas isto, mas (veja Item 17) qualquer que estude a Torá Lo Lishmá, a Torá torna-se para si uma poção de morte, (como foi mencionado acima (Item 102) começando com as palavras: E é por isto que é dito…).

Mas como mencionamos anteriormente, quando ela emanou dEle no princípio, ela emanou e emergiu em completa perfeição, ou seja, de acordo com o aspecto da Torá e o Criador sendo realmente um e o mesmo. E é por isto que é chamada a Torá de Atzilut (Emanação), como aprendemos (na Introdução ao Tikunei HaZohar página 3b): que Ele e Sua Essência e Suas causações são Um. E depois, desceu da Frente de Sua Face, e contraiu-se por muitos estágios de contração até ser dada no Sinai, onde foi escrita da mesma forma como temos agora neste mundo, como foi vestida nas Vestes rudes que são do mundo  material.

138) Entretanto, saiba que mesmo apesar da distância entre as Vestes que a Torá é vestida neste mundo e aquelas no Olam Atzilut seja imensurável, como mencionado acima (veja Item 137); porém, a Torá em si, ou seja, a Luz dentro destas Vestes, não é diferente, assim não há diferença entre a Torá do Olam Atzilut e a Torá deste mundo. Este é o segredo do verso: “Pois Eu, o Criador, não mudo” (Malachi 3:6). Além disto, estas Vestes rudes da nossa Torá de Assiá (Ação) não são, Deus proíba, uma degradação para a Luz que se cobre com elas. Ao contrário, visto da perspectiva do fim da sua correção, sua importância é imensuravelmente mais que qualquer uma de suas Vestes puras que estão nos Mundos Superiores.

E o motivo para isto é que a ocultação é a causa para a revelação. Porque quando a ocultação é corrigida durante o tempo da revelação, ela se torna a revelação assim como o pavio é para a luz que se adere a ela, como mencionado acima. Durante a correção, quanto maior é a ocultação, maior a Luz que será revelada e aderida a  ela. Assim, todas estas Vestes rudes que a Torá assumiu neste mundo não constituem nenhuma diminuição de valor relativo à Luz que a veste, ao contrário, é o oposto, como explicado.

139) E com o seguinte, Moisés teve a vitória sobre os anjos, alegando “Existe inveja entre vocês? Pode a má intenção ser encontrada entre vocês?” (Tratado Shabat, 79a) Estude isto bem. Isto significa, como explicado, que a maior ocultação revela a maior Luz. E ele os mostrou que as Vestes puras que a Torá se cobre no mundo dos anjos não são adequadas para revelar as maiores Luzes, como é possível com as Vestes deste mundo, como foi explicado.

140) E foi deixado claro que não há mudança, Deus proíba, em qualquer coisa da Torá de Atzilut até a Torá deste mundo porque a Torá e o Criador são um e o mesmo. Toda a diferença está nas Vestes, porque as Vestes deste mundo ocultam o Criador e O escondem, como mencionado anteriormente ((Item 101) começando com as palavras: O verso diz…). E saiba que porque Ele Se cobriu com a Torá, Ele é chamado “Professor” (morê), que vai lhe mostrar que mesmo durante a Ocultação da Face, e mesmo no seu aspecto de Dupla Ocultação (Ocultação dentro de Ocultação), (como mencionado anteriormente (Item 52) começando com as palavras: E Ocultação…), o Criador prevalece na Torá e é envolvido por ela.

Isto é porque Ele é o “Morê” (Professor) e ela é a “Torá” (Ensinamento), exceto que as Vestes rudes da Torá parecem aos nossos olhos como asas (kanaf), que cobrem e ocultam o Professor, Que é envolvido por elas e é oculto dentro delas. E, de fato, quando uma pessoa obtém a Revelação da Face, isto é, o Arrependimento por Amor em seu quarto grau (como mencionado anteriormente, (Item 73) começando com  as palavras: O segundo nível…; e (Item 121) começando com as palavras: E este é o porquê…), é dito sobre si: “Teu Professor não Se esconderá (lit. yiknaf, “não se cobrirá por asas”) mais, mas teus olhos verão teu Professor” (Isaías 30:20). Pois deste momento em diante, as Vestes da “Torá” (Ensinamento), e Ele (o Criador) é revelada para ela eternamente, porque a Torá e o Professor são um e o mesmo.

141) E isto clarificará as palavras dos nossos sábios na passagem: “Eles Me abandonaram mas mantiveram Minha Torá”, que significa: “Gostaria que eles Me abandonassem, mas mantivessem Minha Torá porque a Luz nela os reforma” (Talmud de Jerusalém, Tratado Hagigá 81a:7) Isto pode parecer estranho, mas sua intenção foi que jejuando e realizando austeridades, para encontrar a Revelação da Sua Face, conforme é dito: “Eles buscam a proximidade com o Criador” (Isaías 58:2). E as Escrituras lhes falam em nome do Criador, Que diz, “Gostaria que vocês Me deixassem porque todos os seus esforços são em vão e inúteis porque Eu não sou encontrado em nenhum lugar exceto na Torá; portanto, siga a Torá e Me procure  lá, e a Luz nela os reformará, e vocês Me encontrarão”, (como explicado acima (Item 95) começando com as palavras: E agora…), na passagem das escrituras: “Aqueles que Me buscam diligentemente Me encontrarão”, (Provérbios 8:17) estude lá (Itens 41 e 93-94).

142) Agora podemos explicar um pouco o significado da sabedoria da Cabalá em uma forma que poderia ser suficiente para nos dar uma ideia verdadeira da natureza desta sabedoria, para não nos iludir com falsas noções que a maioria das pessoas imaginam em suas mentes. E é importante que você saiba que a Santa Torá é dividida em quatro aspectos que envolvem toda a realidade. Existem três aspectos que são discernidos constituindo a totalidade da realidade neste mundo, e são chamados “Mundo” (Olam), “Ano” (Shaná) e “Alma” (Néfesh); o quarto aspecto é a forma que estes três aspectos da realidade coexistem, isto é, sua nutrição, sua conduta e todas as suas interações.

143) Explicação: Os valores externos da realidade, tais como os Céus, os firmamentos, a Terra, os mares etc., mencionados na Santa Torá, são todos referidos pelo termo “Mundo” (Olam). A parte interior da realidade, ou seja, os vários tipos de homens, bestas, animais e vários pássaros mencionados na Torá que podem ser encontrados naqueles lugares que são chamados externos, são referidos pelo termo “Alma” (Néfesh).

E o desdobramento do desenvolvimento dentro da realidade, juntamente com suas gerações, são causa e efeito – por exemplo, a cadeira das “cabeças das gerações” mencionadas na Torá, de Adão até Josué e Caleb que chegaram na terra de Israel, onde o pai é considerado a “causa” relativo ao filho, que é o “efeito” – assim o aspecto deste desdobramento do desenvolvimento da realidade, em termos de causa e efeito, é chamado pelo nome “Ano” (Shaná). E todas as formas de existência de toda a realidade, em termos de seus aspectos exteriores e interiores, como mencionado acima, incluindo todas as formas que eles são conduzidos e suas interações mencionadas na Torá, são chamados “a existência da  realidade”.

144) E saiba que os Quatro Mundos referidos na Sabedoria da Cabalá – Atzilut, Briá, Yetzirá e Assiá – se desenrolam como uma cadeia de eventos. Eles vêm um do outro como um aspecto de “carimbo e selo”. Isto significa que tudo que é inscrito no carimbo é, necessariamente, revelado e vem no selo que vem dele, nem mais e nem menos. Este foi o caso na cadeia de evolução dos Mundos, ou seja, como todos os quatro aspectos – Mundo, Ano, Alma e sua existência, como mencionado acima – que existem no Mundo de Atzilut – emergiu pois sua forma foi selada e apareceu também no Mundo de Briá, e então do Mundo de Briá ao Mundo de Yetzirá, até o Mundo de Assiá.

De tal maneira, que todos os aspectos da realidade antes de nós chamados Mundo, Ano e Alma (Néfesh), com todas as suas formas de existência dispostos na nossa frente aqui neste mundo, foram estendidos do Mundo de Yetzirá e apareceram aqui. E o Mundo de Yetzirá foi estendido do que estava acima dele de tal forma que a fonte de todos estes detalhes inumeráveis em frente dos nossos olhos existe no Mundo de Atzilut. Não apenas isto, mas também estas inovações que aparecem em nosso mundo nestes dias precisam primeiro serem reveladas acima no Mundo de Atzilut.

E é de lá que desce e se revela aqui neste mundo. Como nossos sábios disseram: “Não há uma planta abaixo que não tenha um mazal (signo, anjo) que lhe golpeia e diz, ‘Cresça!’” (Bereshit Rabá, 10:6) E este é o segredo por trás da passagem: “Ninguém levanta um dedo Abaixo a não ser que seja declarado Acima” (Tratado Chulin, 7b). Entenda isto bem.

145) E saiba que o aspecto da Torá vestido nos três aspectos da realidade – Mundo, Ano, Alma e sua existência física neste mundo, como mencionado acima (Item 142) – é onde temos o proibido, o impuro, e o desqualificado que aparece na Torá Revelada, em que o Criador é vestido, como explicado anteriormente (Itens 101 e 140). Este é o segredo de “o Criador e a Torá são um e o mesmo” embora através do desaparecimento e grande ocultação, porque estas Vestes materiais são as asas que O cobrem e ocultam. E como para a Torá ser vestida no aspecto do puro Mundo, Ano e Alma e sua existência nos três Mundos Superiores de Atzilut, Briá e Yetzirá – estes são chamados, apesar de tudo, “a Sabedoria da Cabalá”.

146) Assim, a Sabedoria da Cabalá e a Torá Revelada são um e o mesmo. Mas enquanto uma pessoa experimenta o aspecto da Providência como a Ocultação da Face e o Criador se oculta na Torá (como mencionado acima, (Item 101) começando com as palavras: O verso diz…), é considerado que está se envolvendo com a Torá Revelada. Isto significa que não é capaz de receber nenhuma iluminação da Torá de Yetzirá, e é desnecessário dizer, menos ainda dos acima de Yetzirá.

Mas quando uma pessoa merece a Revelação da Face, como mencionado acima ((Item 109) começando com as palavras: E aqui…), ela então começa a se envolver com a Sabedoria da Cabalá. Isto é porque as próprias Vestes da Torá Revelada são feitas puras através dela, e sua Torá torna-se a Torá de Yetzirá, que é chamada “a Sabedoria da Cabalá”.

E mesmo para aquele que obtém a Torá de Atzilut (Emanação), isto não significa, Deus proíba, que as letras da Torá alteraram sua ordem, mas que as mesmas Vestes da Torá Revelada foram purificadas por ela. Estas se tornam extremamente transparentes, tornando-se de acordo com o segredo da passagem: “Teu Professor não Se ocultará mais, e teus olhos verão teu Professor”, como mencionado acima (Item 140), porque então todas as Vestes tornam-se “Ele, Sua Essência e Suas causações são Um e o mesmo”, como mencionado acima (Item 140).

147) Para trazer isto mais próximo ao nosso entendimento, te darei um exemplo. Enquanto a pessoa estava no período da Ocultação da Face, as letras e as Vestes da Torá estavam, necessariamente, ocultando o Criador. Este é o porquê falhou através dos pecados intencionais e não intencionais que cometeu e esteve sob a vara da punição, Deus proíba, destas Vestes rudes da Torá, que são as impurezas, proibições, desqualificações, etc.

No entanto, quando merece a Providência Visível e goza do Arrependimento por Amor (Item 64), onde seus pecados intencionais tornam-se como méritos para  si, então todas as más ações e erros que falhou durante o tempo que estava sob a Ocultação da Face, foram agora tiradas suas Vestes muito rudes e amargas e as cobriram com Vestes da Luz, Mitzvot e méritos, (como dissemos acima (Item 121) começando com as palavras: E este é o porquê…); estude isto bem. Então agora elas são o aspecto das Vestes que estendem do Mundo de Atzilut (Emanação), ou Briá (Criação), e elas não ocultam (maknifim, “cobrem como se com asas”) o Professor. Muito pelo contrário, de fato: “Teus olhos verão teu Professor”, como mencionado acima (Item 140).

Assim, não há troca de nada, Deus proíba, entre a Torá de Atzilut e a Torá deste mundo, isto é, entre a Sabedoria da Cabalá e a Torá Revelada. A única distinção é em relação à pessoa que se envolve com a Torá: Você pode ter dois indivíduos que se envolvem com a Torá com relação à mesma Halachá e literalmente usando uma linguagem, e com tudo isto, a Torá para um será do aspecto da Sabedoria da Cabalá e a Torá de Atzilut, enquanto para o outro, será a Torá de Assiá e a Torá Revelada, e entenda isto bem.

148) E por isto, você entenderá quão legítimas são as palavras do Gaon, Rav Eliyahu de Vilnius (em seu livro de orações, nas bênçãos da Torá). Ele escreve que deve-se começar a Torá com o Sod (segredo, oculto), ou seja, a Torá Revelada de Assiá, que está na categoria do oculto porque o Criador Se oculta nela completamente, como mencionado acima (Item  41).

E, após, deve continuar com o Remez (dica), que significa o que foi revelado na sua maior parte na Torá de Yetzirá. E finalmente, chega ao Peshat (literal, explícito), que é o segredo da Torá de Atzilut, que é chamado Peshat (literal, explícito) porque são retiradas (nitpashta) todas as Vestes que ocultam o Criador, como explicado.

149) E após termos alcançado este ponto, podemos dar alguma ideia e discernimento em relação aos Quatro Mundos conhecidos na Cabalá pelos nomes: Atzilut, Briá, Yetzirá e Assiá de Kedushá (Santidade). E os quatro Mundos: ABYA das Klipót (cascas), que são dispostos de acordo com o segredo de: “um oposto ao ” (Eclesiastes 7:14) em relação à ABYA de Kedushá que foi mencionada acima.

Todas estas podem ser entendidas da explicação acima (Item 64), sobre os quatro aspectos de perceber a Providência do Criador e sobre os quatro estágios do amor. Assim, primeiro, explicaremos os quatro Mundos ABYA de Kedushá, começando do mais abaixo, do Mundo de Assiá.

150) Nós explicamos acima (Item 19, começando com as palavras: E aqui…) os primeiros dois aspectos da Providência da perspectiva da Ocultação da Face; estude isto bem. E saiba que os dois correspondem ao Mundo de Assiá (Ação), e é por isto que foi afirmado no livro A Árvore da Vida (Etz Chayim, Portão 48, Item 3) que o Mundo de Assiá (Ação) é na maior parte mal, e mesmo a menor quantidade de bondade que está nele é também misturada com o mal, tanto de modo que é irreconhecível (fim da citação).

Isto significa que à medida que se trata de Uma Ocultação (como mencionado acima, Item 50, começando com as palavras: Este não foi…), podemos entender que é na maior parte mal, aludindo ao sofrimento e dor que as pessoas sentem sob esta Providência. E à medida que se trata da Dupla Ocultação (Ocultação dentro de Ocultação), encontramos que o bom também se mistura com o mal, mas  o bom passa completamente despercebido (como mencionado acima, Item 52, começando com as palavras: E Ocultação…).

O primeiro aspecto da Revelação da Face é o aspecto do Mundo de Yetzirá,  é o porquê é afirmado no livro A Árvore da Vida (Portão 48, Item 3) que o Mundo  de Yetzirá é meio mal e meio bom (fim da citação). Isto significa, (como vimos acima (Item 138) começando com as palavras: Entretanto…), que qualquer que perceba o primeiro aspecto da Revelação da Face – o primeiro grau do Amor que Depende de Algo – que é chamado Arrependimento por Temor – é chamado um medíocre, e metade dele é culpado e metade dele é inocente, como mencionado acima (Item 114).

O segundo aspecto do amor – (como mencionado acima, (Item 70) começando com as palavras: O primeiro atributo…), que também Depende de Algo, mas não tem traço de qualquer mal ou dano nele – também o terceiro grau do amor – (como mencionado acima Itens 72-73), que é o primeiro grau do Amor que Não Depende de Algo – ambos correspondem ao Mundo de Briá. Portanto, é afirmado no livro A Árvore da Vida (Portão 48, Item 3) que o Mundo de Briá é na maior parte bom e menos mal, e que o menor mal não é notado; estude isto bem. Isto significa, (como mencionado acima (Item 117) começando com as palavras: E o Tanna fala…) no comentário do Braita, que porque o medíocre merece uma Mitzvá, ele aponta sua própria balança em direção ao lado da inocência, e por este motivo é referido como na maior parte bom; ou seja, o segundo grau do amor.

E o menor mal imperceptível que é encontrado no Mundo de Briá estende do terceiro grau do amor, que não depende de algo, e também já se apontou a escalar para si mesmo em direção ao lado da inocência (Item 110), mas ainda não apontou  a balança para o mundo todo (como mencionado acima, (Item 119) começando com as palavras: E foi explicado…). E a conclusão é que o mínimo de mal está nela porque este amor ainda não é considerado eterno, como mencionado lá; estude isto bem.  De fato, este menor mal não é perceptível porque não se sentiu qualquer mal ou dano mesmo em relação aos outros (como mencionado acima, (Item 72) começando com as palavras: O segundo atributo…).

O quarto grau do amor – amor que não depende de algo e é também eterno (como mencionado acima (Item 73) começando com as palavras: O segundo nível…  e (Item 121) começando com as palavras: E este é o porquê…) – corresponde ao Mundo de Atzilut (Emanação). E isto é o que é dito no livro, A Árvore da Vida [Portão das Klipót 48:3]: que no Mundo de Atzilut, não há qualquer mal, e este é o significado secreto da passagem: “O mal não pode permanecer com Você” (Salmos 5:5). Porque aquele que aponta para o mundo todo em direção ao lado da inocência, o amor torna-se eterno e absoluto, e toda a cobertura e ocultação se foram para sempre.

Isto é porque é o local da completa Revelação da Face, de acordo com o significado secreto das palavras: “Teu Professor não Se ocultará mais, mas teus olhos verão teu Professor” (Item 140), porque agora já sabe todas as formas que o Criador trata com Suas criaturas, de acordo com o aspecto da verdadeira Providência que é manifesta pelo Nome. Aquele que é bom e faz o bem para o mal e o bom, como mencionado acima (Item 73).

151) Através disto, você pode entender também os quatro Mundos ABYA das Klipót como eles são dispostos contra os Mundos ABYA de Kedushá. Este é o significado secreto de: “O Criador fez um oposto ao outro” [(Eclesiastes 7:14)] (Item 149). Isto é porque a Carruagem das Klipót de Assiá (Ação) corresponde à Ocultação da Face nos dois graus porque esta Carruagem governa para fazer com que a pessoa aponte em direção ao lado da culpa, Deus proíba.

E o Mundo de Yetzirá das Klipót detém a escala da culpa com suas mãos, que não foi corrigido no Mundo de Yetzirá de Kedushá (como discutido acima, Item 121, começando com as palavras: E este é o porquê…). E assim, eles tomam o controle sobre os medíocres, que recebem do Mundo de Yetzirá, como mencionado acima,   de acordo com o segredo: “O Criador fez um oposto ao  outro”.

E o Mundo de Briá das Klipót tem o mesmo poder de cancelar o amor que depende de algo; isto é, cancelar as coisas em que o amor depende, que é a imperfeição do amor do segundo grau.

E o Mundo de Atzilut das Klipót apega firmemente sobre o menor mal imperceptível que existe no Mundo de Briá através do poder do terceiro grau do amor. Embora seja o amor real que vem do poder de “Aquele que é bom e faz o bem para os maus assim como para os bons”, que é o aspecto de Atzilut de Kedushá, ainda com tudo isto, porque não mereceu em sua forma apontar o mundo todo para o lado da inocência, a Klipá (Casca) tem o poder de fazer este amor falhar, pelo poder da Providência sobre os outros (como mencionado acima, (Item 72) começando com as palavras: O segundo atributo…).

152) E isto é o que é dito em Etz Chayim (A Árvore da Vida): que o Mundo de Atzilut das Klipót (Cascas) está contra o Mundo de Briá e não Atzilut; estude lá. Isto significa, conforme dissemos, que no Mundo de Atzilut de Kedushá, do q apenas o quarto grau do amor é estendido, as Klipót não têm qualquer controle. Isto é porque já apontou para o mundo todo em direção ao lado da inocência, e sabe todas as relações do Criador – incluindo Sua Providência sobre todas as criaturas – como  a Providência do Seu Nome: “Aquele que é bom e faz o bem para o mal e para o bom”. Mas no Mundo de Briá – do qual o terceiro grau vem, que ainda não foi apontada para o mundo todo – as Klipót ainda têm alguma retenção. Estas Klipót,  no entanto, são consideradas a Atzilut das Klipót porque elas estão contra o terceiro grau, que é ‘amor que não depende de algo’, como mencionado acima (Item 72). Este amor é o aspecto de Atzilut.

153) E, por este meio, os Quatro Mundos ABYA de Kedushá foram bem explicadas, assim como a das Klipót que constituem o “lado oposto” de todo e cada Mundo. Elas são o aspecto do vazio que existe em oposição aos Mundos de Kedushá. E elas são chamadas os Quatro Mundo ABYA das Klipót, como explicado.

154) Estas palavras são suficientes para qualquer estudante de alguma forma sentir a essência da Sabedoria da Cabalá. E saiba que a maioria dos autores dos livros de Cabalá apenas quiseram escrever para aqueles estudantes que já tivessem recebido a Revelação da Face e todos os Entendimentos Superiores, como mencionado E não devemos perguntar: mas se eles já ganharam Entendimento, então eles sabem tudo por seus próprios insights, assim porque eles deveriam estudar os livros de Cabalá de outros?

De fato, esta questão não é sábia porque é como uma pessoa que se envolve com a Torá Revelada mas não tem ideia sobre a forma que este mundo é conduzido em termos de Mundo (Olam), Ano (Shaná) e Alma (Néfesh) deste mundo, como mencionado acima, e não conhece os vários caminhos dos humanos e como eles se conduzem e como eles se interagem com os outros. Também não conhecem as bestas, os animais e as aves que estão neste mundo. E você poderia imaginar que tal pessoa seria capaz de entender propriamente algo na Torá? Pois tal pessoa transformaria a Torá, chamando o mal “bom” e o bom “mal”, e não seria capaz de encontrar tanto os braços ou pernas em algo.

Este é o caso com o assunto em questão, porque mesmo que alguém mereça Entendimento – e mesmo se o Entendimento é da Torá de Atzilut (Emanação) – ainda não sabe nada exceto coisas que tem relevância em relação a sua alma e si mesmo. Ele ainda tem que conhecer – em completa consciência – todos os três aspectos mencionados anteriormente: Mundo, Ano e Alma, em todos os seus casos  e formas de comportamento, para que seja capaz de entender o assunto da Torá que se relaciona àquele Mundo. Isto é porque estes assuntos, em todos seus detalhes e sutilezas, são explicados no Zohar e em verdadeiros textos da Cabalá que cada sábio que compreende isto por conta própria precisa contemplar dia e  noite.

155) Consequentemente, se deveria perguntar porque, portanto, os cabalistas exortaram todas as pessoas para estudar a Sabedoria da Cabalá. Há de fato uma grande questão lá, e é digno tornar-se conhecido por todos! Há uma virtude inestimável para aqueles que se envolvem no estudo da Sabedoria da Cabalá – mesmo quando não entendem o que estão estudando – já que é pelo forte desejo e a vontade de entender o que estão estudando que os estudantes despertam sobre si mesmos as Luzes Circundantes de suas almas. Isto significa que todo Israelita tem a garantia que eventualmente alcançará todos os Entendimentos maravilhosos que o Criador planejou em Seu Pensamento da Criação – conceder o prazer sobre todas  as criaturas.

E qualquer que não atinja isto em sua encarnação atingirá na próxima, ou na próxima, ou na próxima etc., até que consiga completar o Pensamento do Criador que Ele planejou para si e isto foi explicado no Zohar, como é bem conhecido. Agora, enquanto a pessoa não obtiver esta completude, estas Luzes que vão alcançá-lo no futuro são consideradas como sendo o aspecto das Luzes Circundantes. Isto significa que elas estão em pé prontas para ela, mas elas esperam pela pessoa merecer purificar seu Receptor de Recepção, e então estas Luzes entrarão nos Receptores apropriados.

Portanto, mesmo quando ainda faltam os Receptores, no entanto, quando uma pessoa se envolve com esta Sabedoria e menciona os Nomes das Luzes e Receptores, que, na medida que se trata da alma, pertencente a ela, elas imediatamente brilham sobre ela até um certo grau, embora elas brilhem sobre ela sem incorporarem-se na interioridade de sua alma. Isto é porque os Receptores apropriados para Recepção estão ausentes, como explicado. De fato, a iluminação que recebe repetidamente durante seu envolvimento faz a graça se estender a ela desde Cima e o concede uma abundância de santidade e pureza, que o traz muito próximo de atingir sua perfeição.

156) Mas, há uma condição estrita durante o envolvimento nesta Sabedoria – não deve tentar materializar os assuntos através de questões imaginárias e materiais. Porque isto pode constituir uma violação de: “Não faça para si uma imagem de escultura, nem qualquer tipo de semelhança”. Neste caso, receberia realmente dano ao invés de benefício. Por isso, nossos sábios alertaram a estudar esta Sabedoria apenas após os quarenta anos, ou de um Rabi, e outras precauções do gênero. E tudo isto é por causa do motivo acima.

Portanto, com a ajuda do Criador, eu preparei os comentários “Face Iluminada” [Panim Meirot] e “Face Acolhedora” [V’Panim Masbirot], que comentam  o livro Etz Chayim (A Árvore da Vida) e, que eu preparei para salvar  os estudantes  de qualquer materialização.

De fato, depois das primeiras quatro partes destes comentários serem imprimidas e disseminadas entre os estudantes, eu percebi que não tinha terminado minha tarefa como comentarista como eu tinha pensado, e que todos os grandes esforços colocados em explicar e expor para que estas coisas ficassem claras sem quase nenhuma dificuldade. Isto é porque os estudantes não sentem qualquer grande obrigação em estudar diligentemente o significado de toda e cada palavra diante deles e repeti-las numerosas vezes de forma suficiente para eles lembrarem delas bem depois no livro toda vez que esta mesma palavra aparecesse novamente. E por esquecer o significado de certa palavra, algumas coisas ficariam confusas. Isto é porque estes assuntos são tão sutis que não ter o significado de uma palavra poderia ser suficiente para confundir todo o assunto.

Assim aqui, para corrigir isto, eu comecei a escrever “O Significado dos Mundos”, organizado alfabeticamente, de todas as palavras que são apresentadas nos textos da Cabalá que precisam de comentário. Por um lado, eu reuni todos os comentários do Ari e o restante dos primeiros cabalistas, citei tudo o que eles disseram sobre uma palavra em particular; e por outro lado, eu expliquei a essência de todos estes comentários e coloquei junto uma definição fiel para clarificar o significado daquela palavra ao ponto onde esta definição seria suficiente para o estudante entender a palavra em todo e cada lugar que encontrasse em todos os livros autênticos de Cabalá, dos mais antigos aos mais recentes. E eu fiz isso para todas as palavras comumente usadas para a Sabedoria da  Cabalá.

E com a ajuda do Criador, eu já imprimi as palavras começando com a letra Álef e também algumas da letra Bet, e apenas de um lado, e elas chegaram próximas de mil páginas. De fato, por causa da falta de dinheiro, eu parei o trabalho neste início. Já faz mais de um ano desde que eu interrompi esta importante tarefa e apenas o Criador sabe se ou não eu serei capaz de suceder nisto porque as despesas são muito grandes e eu não tenho ninguém para me ajudar neste momento.

Portanto, eu tomei agora uma rota diferente, de acordo com o provérbio “ter menos é ter mais” e que está neste livro: Talmud Eser Sefirot – O Estudo das Dez Sefirot do Ari. Eu preparei uma coleção de artigos dos livros escritos pelo Ari, especialmente deste livro Etz Chayim (A Árvore da Vida). Estes são todos os artigos principais que tem a ver com a explicação das Dez Sefirot, e eu os coloquei na parte superior de cada página. Então eu procedi fazendo um comentário extensivo chamado “Ohr Pnimi – Luz Interior” e um segundo comentário chamado “Histaklut Pnimi – Observação Interior”, que explica cada palavra e cada assunto mencionado nas palavras do Ari que aparecem na parte superior da página. Eu usei uma linguagem simples e fácil o máximo que pude.

Eu dividi o livro em dezesseis partes, cada parte sendo uma lição em um tópico particular nas Dez Sefirot, com a “Ohr Pnimi – Luz Interior” explicando principalmente as palavras do Ari citadas naquela lição, e “Histaklut Pnimi – Observação Interior” explicando a essência do assunto em geral. Em cima destas, eu organizei uma Tabela de Perguntas e uma Tabela de Respostas cobrindo todas as palavras e conceitos que são discutidos em cada seção. Depois de o estudante ter completado cada seção, ele pode se testar respondendo propriamente cada pergunta contida na Tabela de Perguntas.

E depois que responder, pode olhar para a Tabela de Respostas, na resposta pertencente àquela pergunta, para ver se as respondeu corretamente. E mesmo se souber todas as respostas para todas as perguntas na memória, ele deve repetir as perguntas várias vezes, até que elas estejam como se contidas em uma caixa, porque então será capaz de lembrar a palavra sempre que for necessário, ou pelo menos lembrar onde está localizado para poder encontrá-la. “E que seja a Vontade do Criador que seja bem sucedido”.

A Ordem do Estudo

Estude primeiro o artigo “interior” – isto é, as palavras do Ari impressas no topo da página – até o fim do livro. E mesmo que você não entenda, repita-as várias vezes, de acordo com o dito: “Do início ao fim, o entendimento é aprimorado”. Depois disto, estude o comentário “Ohr Pnimi – Luz Interior” e ponha esforço nele, ao ponto que você seja capaz de estudar e compreender o artigo interior mesmo sem ajuda do comentário. E depois disto, estude o comentário “Histaklut Pnimi – Observação Interior” até que você o entenda e lembre-se dele completamente. E depois de tudo isto, teste-se com a Tabela de Perguntas, e depois de você ter respondido cada pergunta, cheque a resposta que está marcada com a mesma letra que a questão; faça isto com toda e cada pergunta.

Estude, memorize e repita elas um número de vezes até que você lembre-se delas tão bem até que você se lembre das primeiras duas partes para que nenhum significado fique faltando. E a pior coisa seria que o estudante nem percebesse que ele esqueceu; ao invés, ou as coisas iriam confundi-lo, ou ele chegaria a uma má interpretação do assunto por causa do seu esquecimento. E, claro, um erro é seguido por dez outros erros, até que chega a uma completa incompreensão e tenha que largar o estudo completamente.

A AGENDA DA REUNIÃO

Do livro “Cabala Para o Estudante”

Deve haver uma agenda no início da reunião. Cada um deve falar da importância  da sociedade tanto quanto puder, descrevendo os lucros que ela lhe trará e as coisas importantes que espera que a sociedade lhe traga, as quais não pode obter por si mesmo e como ele a aprecia nesse sentido.

É como os nossos sábios escreveram (Berachot 32), “Rabi Shamlai disse, ‘Devemos sempre louvar o Criador e então orar’. De onde recebemos isso? De Moisés, como está escrito: ‘E então eu roguei ao Senhor’. Também está escrito: ‘Ó Senhor Deus, Tu começaste’ e está escrito: ‘Deixa-me passar, Eu rogo-Te, e ver a boa terra’”.

A razão que precisamos começar a louvar ao Criador é que é natural que haja duas condições quando alguém pede algo a outro:

  1. Que tenha o que lhe pedir, tal como riqueza, poder, a quem repute como rico e próspero.
  2. Que tenha um coração bondoso, isto é: um desejo de fazer bem aos

De tal pessoa você pode pedir um favor. Por isso eles disseram: “Devemos sempre louvar ao Criador e então orar”. Isto significa que depois que acreditarmos na grandeza do Criador, que Ele tem todos os tipos de prazeres para dar às criaturas  e que deseja fazer o bem, então é pertinente dizer que está orando ao Criador, o que certamente o irá ajudar, dado que Ele deseja doar e o Criador pode dar-lhe o que ele deseja e também a oração pode ser feita com a confiança que o Criador a irá conceder.

Da mesma forma, com o amor dos amigos, quando nos encontramos, bem no inicio da reunião, devemos louvar os amigos, a importância de cada um deles. Na medida em que assumimos a grandeza da sociedade, podemos  aprecia-la.

“E então orar”, isto significa que cada um deve examinar a si mesmo e ver quanto esforço está dando à sociedade. Então, quando veem que você está impotente para fazer alguma coisa pela sociedade, há espaço para orar ao Criador para ajudá-lo e dar-lhe força e desejo para se empenhar no amor dos  outros.

Depois, cada um deve se comportar da mesma maneira que os três últimos da “Décima Oitava Oração”. Em outras palavras, depois de ter pedido perante o Criador, o Sagrado Zohar diz que nos três últimos da “Décima Oitava Oração”, deve- se pensar como se o Criador já tivesse concedido seu pedido e se  afastado.

No amor dos amigos devemos comportar-nos da mesma maneira: Depois de examinarmos a nós mesmos e seguirmos o conhecido conselho de orar, devemos pensar como se a nossa oração tivesse sido atendida e rejubilarmo-nos com nossos amigos, como se todos os amigos fossem um só corpo. E, como o corpo deseja que todos os seus órgãos desfrutem, nós também, queremos todos os nossos amigos para desfruta-los agora.

Então, depois de todos os cálculos vem o momento de alegria e amor dos amigos. Nessa altura, cada um deve sentir-se feliz, como se tivesse acabado de selar um negócio muito bom que lhe renderá montes de dinheiro. É costume que nesse momento se dê bebidas aos amigos.

Aqui, da mesma forma, todos precisam dos seus amigos para beber, comer bolos, etc. Porque agora está feliz e também deseja que seus amigos se sintam bem. Daí, a dispersão da reunião deva ser num estado de alegria e  exaltação.

Isto segue a maneira de “um tempo de Torá” e “um tempo de oração”. “Um tempo de Torá” significa plenitude, quando não existem carências. Isto é chamado “direita”, como está escrito, “na Sua mão direita estava uma lei  ardente”.

Mas “um tempo de oração” é chamado “esquerda”, dado que um lugar de carência é um lugar que precisa de correção. Isto é chamado “a correção dos Kelim (vasos)”. Mas no estado de Torá, chamado “direita”, não há lugar para correção. É por isso que a Torá é chamada uma “dádiva”.

É costume dar presentes a uma pessoa que você ama. Também é costume não amar quem é carente. Assim, num “tempo de Torá”, não há lugar para pensamentos de correção. Então, quando deixar a reunião, deve ser como nos últimos três da “Décima Oitava Oração”. Por esta razão, cada um irá sentir plenitude.

 

SOBRE A IMPORTÂNCIA DOS AMIGOS

Do livro “Cabala Para o Estudante”

A respeito da importância dos amigos na sociedade e como os apreciar, isto é, com que tipo de importância todos devem considerar seu amigo. O senso comum diz que se a pessoa considerar o seu amigo como estando num grau inferior ao seu mesmo, então irá querer ensiná-lo como se comportar mais virtuosamente que as qualidades que ele tem. Então, ele não pode ser seu amigo; ele pode tomar o amigo como um estudante, mas não como um amigo.

E, se vê o seu amigo como estando num grau superior que o seu próprio e  vê que pode adquirir boas qualidades dele, então ele pode ser seu Rabi, mas não seu amigo.

Isto significa que precisamente quando se vê o amigo como estando num grau igual ao seu próprio, pode-se aceitar o outro como um amigo e se vincular a ele. Isto é assim, pois um amigo significa que estão ambos no mesmo estado. Isto é o que é o senso comum dita. Em outras palavras, eles têm os mesmos pontos de vista e então decidem se vincular. Então, ambos agem para o objetivo que ambos desejam alcançar.

É como dois amigos que pensam da mesma forma e que estão fazendo algum negócio juntos, para que este negócio lhes traga lucros. Nesse estado, eles sentem  que têm poderes iguais. Mas se um deles sentir que é mais competente que o outro, não irá querer aceitá-lo como um parceiro igual. Em vez disso, eles criariam uma parceria proporcional, de acordo com a força e qualidades que um tem sobre o outro. Nesse estado, a parceria é uma parceria de trinta e três ou vinte e cinco por cento e não se pode dizer que eles são iguais no negócio.

Mas, com amor dos amigos, quando amigos se unem para criar unidade entre si mesmos, isso significa explicitamente que eles são iguais. Isto é chamado “unidade”. Por exemplo, se eles fazem um negócio juntos e dizem que os lucros não serão distribuídos igualmente, é isto chamado “unidade”? Claramente, um negócio de amor de amigos deve ser quando todos os lucros e posses que o amor de amigos rende serão igualmente controlados por eles. Eles não devem esconder ou ocultar um do outro, mas tudo deve ser com amor, amizade, sinceridade  e paz.

Mas no ensaio, “Um Discurso para a Conclusão de O Zohar”, está escrito: “A medida da grandeza vem sob duas condições: 1) de escutar sempre e receber a apreciação da sociedade, na medida da sua grandeza; 2) o meio ambiente deve ser grande, como está escrito, ‘Na multidão do povo está a glória do  rei’”.

Para aceitar a primeira condição, cada estudante deve sentir que ele é o menor entre todos os amigos e então ele será capaz de receber a apreciação da grandeza de todos. Isto é assim, pois o maior não pode receber do menor, muito menos se impressionar por suas palavras. Apenas o menor é impressionado pela apreciação do maior.

E pela segunda condição, cada estudante deve exaltar o mérito de cada amigo como se fosse o maior na geração. Então o meio ambiente irá afetá-lo como deve um grande ambiente, dado que qualidade é mais importante que  quantidade.

Segue-se que na matéria de amor de amigos, eles ajudam-se uns aos outros, ou seja, é suficiente para todos considerar seu amigo como sendo do mesmo grau que o seu próprio. Mas porque todos devem aprender de seus amigos, há o assunto do Rabi e discípulo. Por esta razão, ele deve considerar o amigo como maior que si mesmo.

Mas como pode se considerar seu amigo como maior que si mesmo, quando ele pode ver que os seus próprios méritos são maiores que os do seu amigo, que ele   é mais talentoso e tem melhores qualidades naturais? Existem duas maneiras de compreender isto:

  1. Ele avança com fé acima da razão: uma vez que ele o escolheu como um amigo, ele aprecia-o acima da razão.
  2. Isto é mais natural, dentro da razão. Se, decidiu aceitar o outro como amigo e trabalha sobre si mesmo para amá-lo, o que é natural, com o amor, ver apenas coisas boas. E mesmo que existam coisas más no seu amigo, ele não as pode ver, como está escrito, “o amor cobre todas as transgressões”.

Nós podemos ver que uma pessoa pode ver as falhas nos filhos do seu vizinho, mas não nos seus próprios filhos. E quando alguém menciona alguma falha nos seus filhos, ela resiste imediatamente ao seu amigo e começa a declarar os méritos dos seus filhos.

E a questão é: qual é a verdade? Afinal, existem méritos nos seus filhos e então ela fica chateada quando outros falam de seus filhos. A coisa é esta, como eu   a ouvi de meu pai: Na verdade, cada pessoa tem vantagens e desvantagens. E ambos o vizinho e o pai estão dizendo a verdade. Mas o vizinho não trata as crianças do outro como um pai às suas crianças, dado que não tem o mesmo amor pelas crianças que o pai tem.

Então, quando ele considera os filhos do outro, ele vê apenas falhas nas crianças, dado que isto lhe dá mais prazer. Isto, porque pode mostrar que é mais virtuoso que o outro, porque os seus próprios filhos são melhores. Por esta razão, vê apenas as falhas do outro. O que ele está vendo é verdade, mas vê apenas coisas que lhe agradam.

Mas o pai, também, vê apenas a verdade, exceto que ele considera apenas as coisas boas que seus filhos têm. Ele não vê as falhas dos seus filhos, dado que isso não lhe dá prazer. Por isso, ele está dizendo a verdade sobre o que ele vê em seus filhos. E porque considera apenas as coisas que lhe podem agradar, vê apenas as virtudes.

Acontece que se temos o amor de amigos, a lei no amor é que você quer ver os méritos dos amigos e não suas falhas. Então, se alguém vê alguma falha no seu amigo, não é um sinal que seu amigo esteja em falha, mas que a falha está nele, isto, porque ele falhou no amor de amigos, ele vê falhas no  seu amigo.

Portanto, agora ele não deve ver a correção do seu amigo. Em vez disso, ele mesmo precisa de correção. Segue-se de todo o exposto que ele não deve cuidar da correção das falhas do seu amigo, que vê no seu amigo, mas ele mesmo precisa corrigir a falha que criou no amor dos amigos. E quando se corrige a si mesmo, irá ver apenas os méritos do seu amigo e não suas falhas.

 

SOBRE A IMPORTÂNCIA DA SOCIEDADE

Do livro “Cabala Para o Estudante”

Sabe-se que desde que o homem está sempre entre pessoas que não tem ligação com o trabalho, no caminho da verdade, mas, ao contrário, sempre resistem àqueles que andam no caminho da verdade e uma vez que os pensamentos das pessoas se misturam os pontos de vista daqueles que opõem ao caminho da verdade, permeiam aqueles que têm algum desejo de caminhar no caminho da  verdade.

Por isso, não há outro conselho a não ser estabelecer uma sociedade separada para eles mesmos, para ser sua moldura, ou seja, uma comunidade separada, que não se misture com outras pessoas cujos pontos de vista diferem dessa sociedade. Eles devem constantemente evocar neles mesmos a questão do propósito da sociedade, para que não sigam a maioria, porque seguir a maioria é a nossa natureza.

Se a sociedade se isola do resto do povo, se eles não têm nenhuma conexão com outras pessoas em relação aos assuntos espirituais e seu contato com eles é apenas sobre questões corporais, eles não se misturam com o seu ponto de vista, pois não existe ligação em assuntos de religião.

Mas quando uma pessoa está entre os religiosos e começa a conversar e discutir com eles, ela imediatamente se mistura com suas opiniões. Seus pontos de vista penetram na sua mente, abaixo do limiar de sua consciência a tal ponto que ela não será capaz de discernir que estes não são os seus próprios pontos de vista, mas o que ela recebeu das pessoas com quem se conectou.

Portanto, em assuntos de trabalho no caminho da verdade, deve-se isolar das outras pessoas. Isso porque o caminho da verdade requer um fortalecimento constante, uma vez que é contrário a visão do mundo. A visão do mundo é saber e receber, enquanto a visão da Torá é a fé e doação. Se alguém se desvia disso, imediatamente se esquece de todo o trabalho do caminho da verdade e cai  no mundo de amor-próprio. Somente a partir de uma sociedade sob a forma de “Eles ajudaram cada um ao seu amigo” que cada pessoa na sociedade recebe a força para lutar contra a visão do mundo.

Além disso, encontramos o seguinte, nas palavras d’O Zohar (Pinchas, p 31, item 91, e no Sulam): “Quando uma pessoa mora em uma cidade habitada por pessoas más e não pode manter as Mitzvot da Torá e não tem êxito na Torá, ele muda- se e arranca suas raízes desse lugar e as planta num lugar habitado por pessoas boas, com Torá e Mitzvot. Isso ocorre porque a Torá se chama ‘Árvore’, como está escrito: ‘Ela é uma árvore de vida para os que se apegam a ela’. E o homem é uma árvore, como está escrito, ‘é para a árvore do homem do campo’. E as Mitzvot na Torá são comparadas aos frutos. E o que ela diz? ‘Somente as árvores que tu sabes não serem árvores de alimento, elas poderás destruir e cortar’, destruir deste mundo e cortar do outro mundo”.

Por esta razão, ele deve arrancar-se do lugar onde há maus, pois lá, não terá sucesso na Torá e Mitzvot e plantar-se em outro lugar, entre justos e, ele terá sucesso em Torá e Mitzvot.

E o homem, a quem O Zohar compara com árvore do campo, como a árvore do campo sofre de maus vizinhos. Em outras palavras, devemos sempre cortar as ervas más que nos rodeiam que nos afetam e devemos também manter-nos longe de ambientes ruins, de pessoas que não favorecem o caminho da verdade. Precisamos  de uma vigilância atenta de modo a não sermos atraídos a  segui-los.

Isso é chamado de “isolamento”, quando se tem pensamentos de “autoridade única”, chamado “doação”, e não “autoridade pública”, que é o amor-próprio. Isso é chamado de “duas autoridades” – a autoridade do Criador e sua própria autoridade.

Agora podemos compreender o que nossos sábios disseram (Sanhedrin, p 38), “Rabi Yehuda disse: ‘o Rabi disse, ‘Adam HaRishon foi herege’, como esta escrito: ‘E o Senhor Deus chamou ao homem, e disse: lhe: ‘Onde estás?’ ‘Onde foi o teu coração?’”

Na interpretação de Rashi, “herege” se refere a uma tendência para a adoração de ídolos. E no comentário, Etz Yosef (A Árvore de José), está escrito: “Quando se escreve, ‘Onde, onde foi o teu coração?’ é heresia, como está escrito, ‘que vos não sigais vosso próprio coração’, isso é heresia, quando o seu coração se inclina para o outro lado”.

Mas tudo isso é muito complicado: Como se pode dizer que Adam HaRishon estava inclinado para a idolatria? Ou de acordo com o comentário Etz Yosef, que estava sob a forma de “que não segue o seu próprio coração”, isso é heresia? De acordo com o que aprendemos sobre a obra de Deus, que é exclusivamente sobre a intenção de doar, se uma pessoa trabalha, a fim de receber, este trabalho é estranho para nós, pois precisamos trabalhar apenas para doar e ele pegou tudo a fim de receber.

 

Este é o significado do que ele disse: que falhou em “não seguir seu próprio coração”. Em outras palavras, ele não poderia comer da Árvore do Conhecimento,  a fim de doar, mas recebeu o alimento da Árvore do Conhecimento, a fim de receber. Isso é chamado “coração”, significando que o coração deseja apenas receber para auto-gratificação. E este foi o pecado da Árvore do  Conhecimento.

Para entender este assunto, veja a introdução ao livro Panim Masbirot. E a partir disso, podemos compreender os benefícios da sociedade, ela pode criar um ambiente diferente, trabalhando só para doação.

 

O PRIMEIRO GRAU QUANDO ALGUÉM NASCE

Do livro “Cabala Para o Estudante”

No Zohar, Mishpatim (p 4, Item 11 no comentário Sulam), está escrito: “Vem e vê, quando nasce uma pessoa, lhe é dado um Néfesh do lado da besta, do lado da pureza, do lado daqueles chamados ‘Anjos Santos’, que significa o mundo de Assiá. Se ele é recompensado ainda mais, lhe é dado Ruach ao lado dos ‘Animais Santos’, que significa do lado de Yetzirah. Se mais recompensado, lhe é dada Neshama do lado do Kissê (trono), o que significa do mundo de Briá. Se for mais recompensado, lhe é dado Néfesh, na forma de Atzilut. Se mais recompensado, lhe é dado Ruach de Atzilut do lado do pilar do meio e ele é considerado um filho para o Criador, como está escrito: ‘Vós sois os filhos do Senhor, vosso Deus’. Se mais recompensado, lhe é dada Neshamá ao lado de Aba ve Ima, que são Biná, sobre a qual foi dito: ‘Deixe a alma inteira louvar ao Senhor’ e com elas, o nome  HaVaYaH está concluído.”

Assim, a perfeição da alma é ter NARAN de BYA e NARAN de Atzilut. Esta   é a perfeição que Adam HaRishon tinha antes do pecado. Somente após o pecado, ele baixou de seu grau e sua alma foi dividida em 600.000  almas.

Esta é a razão pela qual a espiritualidade do homem é chamada Neshamá (alma), mesmo quando se tem apenas Néfesh de Néfesh, uma vez que existe uma regra que ao se falar de qualquer coisa, sempre nos referimos ao seu nível mais alto. E uma vez que o mais alto nível do homem é o grau de Neshamá, a espiritualidade do homem é geralmente referida como Neshamá.

E, embora as pessoas nasçam com o menor grau, eles disseram: (Sha’ar HaGilgulim p 11 b), “cada pessoa pode ser como Moisés se desejar limpar suas ações. Isto é assim porque se pode ter outro espírito, um mais elevado, com altura de Yetzirá, bem como uma Neshamá a partir da altura de Briá”.

Agora você também pode compreender as famosas palavras dos nossos sábios: “O espírito dos justos ou suas almas vêm e estão impregnadas no que é chamado Ibúr (gestação), para auxiliá-Lo com o trabalho de  Deus”.

É também apresentado no Sulam (Introdução ao Livro de Zohar, p 93): “A única coisa é que o condutor dos burros é o ajudante das almas dos justos, que lhes foi enviado do Alto, a fim de elevá-los de um grau ao próximo. Se não fosse por essa ajuda, que O Criador envia aos justos, eles seriam incapazes de sair de um grau e elevar-se mais Alto. Assim, o Criador envia a cada justo, uma alma Elevada do Alto,  a cada um de acordo com o seu mérito e grau, que o ajuda em seu caminho. Isso é chamado de ‘impregnação da alma de um justo’ e ele é chamado de ‘revelação da alma do justo’.”

Daí resulta que, quando se diz que não há geração sem os gostos de Abraão, Isaac e Jacob, isso não significa que eles nasceram assim e não tiveram uma escolha na questão. Pelo contrário, estas são as pessoas que estão tentando andar no caminho da verdade e fazer os esforços necessários. Essas pessoas sempre recebem ajuda do Alto através de impregnação das almas dos justos e recebem força para escalar Graus mais Elevados.

Acontece que tudo o que é dado do Alto é considerado assistência, mas não sem qualquer trabalho e escolha. E a persistência do mundo vem através desses justos, que estendem a abundância do Alto e assim há  sustentação do Alto.

QUE GRAU CADA UM DEVE ATINGIR?

Do livro “Cabala Para o Estudante”

Pergunta: Qual é o grau que cada um deve alcançar, para não ter que reencarnar?

Resposta: Está escrito no livro Sha’ar HaGilgulim (Portão das Reencarnações) que “Todos os filhos de Israel devem reencarnar até que eles estejam completos, com toda a NARANCHAY. No entanto, a maioria das pessoas não têm todas as cinco partes chamadas NARANCHAY, apenas Néfesh, que é de  Assiá”.

Isto significa que cada pessoa deve corrigir apenas sua própria parte e a raiz da sua própria alma e nada mais e, isso completa o que a pessoa deve  corrigir.

O fato é que devemos saber que todas as almas vêm da alma de Adam HaRishon. Depois do pecado da Árvore do Conhecimento, a alma de Adão dividiu em 600.000 almas. Isto significa que a única luz que Adam HaRishon tinha no Jardim do Éden, que o Zohar Sagrado chama, “Zihara Ilaa” (Luz Superior), dispersou-se em muitos pedaços.

No livro, Panim Masbirot (p 56), Baal HaSulam escreve: “Depois do bom se misturar com o mau (após o pecado), uma grande estrutura de Klipót (cascas) foi estabelecida, com o poder de se apegar a Kedushá (Santidade)”. Com o fim de cuidar- lhes, a Luz dos sete dias da Criação foi dividida em pedaços muito pequenos, que são pequenos demais para que as Klipót possam sugar  deles.

Isso pode ser comparado a um rei que pretendia entregar uma grande soma de dinheiro para seu filho, que morava do outro lado do mar. Infelizmente, todas as pessoas no país do rei eram coniventes ladrões e ele não conseguia encontrar um emissário leal. O que ele fez? Ele dividiu o dinheiro em moedas de um centavo e as enviou com um grande número de emissários. Assim, eles descobriram que o prazer do roubo não valia a pena desonrar a realeza.

Desta forma, ao longo do tempo e em muitas almas, através da iluminação dos dias, foi possível separar as centelhas sagradas que foram roubadas pelas Klipót (cascas), pelo pecado da Árvore do Conhecimento.

“Muitas almas” se refere à divisão em luzes internas e, muitos dias é uma divisão em muitas luzes externas. E os pedaços acumulados numa grande quantidade de Luz na qual Adam HaRishon pecou e então trará o fim da  correção.

Isso leva à conclusão de que cada um nasce com apenas um pequeno pedaço da alma de Adam HaRishon. Quando se corrige esse pedaço, então não precisa mais reencarnar. É por isso que cada um só pode corrigir o pedaço que lhe pertence.

Está escrito sobre isso no livro do Ari A Árvore da Vida, “Não há um dia como outro dia, um momento como outro momento ou, uma pessoa como outra pessoa.  E o Helbona (parte do incenso sagrado) irá corrigir o que o Levona (outra parte do incenso sagrado) não irá. Cada um deve corrigir a sua própria  parte”.

No entanto, devemos saber que cada pessoa tem uma escolha, pois não nasce um justo. Nossos sábios disseram (Nida 16b): “Rabi Chanina Bar Pappa disse: ‘O anjo nomeado na concepção é chamado Laila (noite). É preciso uma gota para colocá-lo diante do Criador, e diz: ‘Meu Deus, essa gota, o que deve tornar-se dela? Um herói ou um fraco? Um sábio ou um tolo? Rico ou pobre?’ Mas ele não pergunta: ‘justo ou perverso’.”

Isto significa que não se nasce justo, pois “não pergunte, ‘justo ou perverso’.” Isto é deixado para a nossa escolha, cada um segundo o seu trabalho na Torá e Mitzvot. Assim, se é recompensado com a limpeza do seu coração, com a correção do que deve, de acordo com a raiz da sua alma e, então ele será completo.

 

O QUE PURIFICA O CORAÇÃO AO GUARDAR TORÁ E MITZVOT

Pergunta: Manter Torá e Mitzvot, a fim de receber recompensa, também purifica o coração? Nossos sábios disseram: “Eu criei a inclinação para o mal, Eu criei especiaria da Torá”. Isso significa que ela não purifica o coração. Mas é assim quando se visa especificamente não receber recompensa ou também ao purificar o coração, se trabalha a fim de receber recompensa?

Resposta: Na “Introdução ao Livro do Zohar” (Item 44), está escrito: “Quando alguém começa se envolver em Torá e Mitzvot, mesmo sem qualquer intenção, ou seja, sem amor e sem medo, como é adequado ao servir o Rei, mesmo em Lo Lishma (não em Seu Nome), o ponto em seu coração começa a crescer e mostrar a sua atividade. Isto é assim porque Mitzvot não exigem intenção e até mesmo ações sem intenção podem purificar o desejo de receber da pessoa, mas em seu primeiro grau, chamado de ‘inanimado’. E na medida em que se purifica a parte inanimada do desejo de receber, se desenvolve gradualmente os 613 órgãos do ponto do coração, que é o inanimado de Néfesh de Kedushá (Santidade)”. Assim, vemos que a observância da Torá e Mitzvot, mesmo Lo Lishma purifica o  coração.

Pergunta: É o caminho de observar Torá e Mitzvot a fim de não ser recompensado, destinado apenas para uns poucos escolhidos, ou se pode trilhar este caminho de observar tudo de forma a não ser recompensado, pelo qual eles serão recompensados com Dvekút (adesão) com o Criador?

Resposta: Embora o desejo de receber só para si mesmo, tenha surgido e passou a estar no Pensamento da Criação, sendo dada uma correção, que as almas vão corrigi-lo, a fim de doar, ou seja, observar Torá e Mitzvot irá transformar a nossa vontade de receber em vontade de doar. Isto é dado a todos, sem exceção, para todos foi dado este remédio e não necessariamente para uns  poucos escolhidos.

Mas, uma vez que esta é uma questão de escolha, alguns avançam mais rapidamente e outros mais lentamente. Mas como está escrito na “Introdução ao Livro do Zohar” (itens 13, 14), no final, todo mundo vai atingir sua perfeição completa, como está escrito: “Aquele que é banido, não seja dele um desamparado”.

Ainda assim, quando se começa a aprender a observar Torá e Mitzvot, se começa em Lo Lishma. Isto é porque o homem é criado com um desejo de receber, portanto ele não entende nada que não lhe traga benefício próprio e nunca vai querer começar a observar a Torá e Mitzvot.

É como escreveu o Rambam (Hilchot Teshuvá, capítulo 10), “Os sábios disseram: ‘deve se envolver sempre em Torá, mesmo Lo Lishma, porque a partir de  Lo Lishma, se chega a Lishma’. Assim, ao ensinar as crianças, as mulheres e ao populacho, são apenas ensinados a trabalhar com medo e receber a recompensa. E quando ganham conhecimento e adquirem sabedoria, que o segredo é revelado para eles pouco a pouco. Eles são acostumados a isso com calma, até atingi-Lo e servi-Lo com amor.” Assim, vemos nas palavras do Rambam de que todos devem atingir Lishma, mas a diferença está no tempo.

Pergunta: Se uma pessoa vê e sente que está trilhando um caminho que a conduz à Lishma, ela deverá tentar influenciar os outros para que eles também trilhem o caminho certo, ou não?

Resposta: Esta, é uma pergunta geral. É como uma pessoa religiosa examinando uma pessoa secular. Se ele sabe que pode reformá-lo, então é preciso reformá-lo, devido a Mitzvá, “Certamente repreenderás o teu próximo”. Da mesma forma, neste caso, pode-se dizer que você deve dizer ao seu amigo sobre a melhor maneira que ele possa se conduzir, desde que sua intenção seja apenas a Mitzvá. Mas há muitas vezes, quando uma pessoa repreende outra, somente a finalidade de dominar e não o sentido de “repreender o teu próximo”.

E nós aprendemos a partir do exposto que o desejo de todos que o outro trilhe o caminho da verdade, criou conflitos entre os ortodoxos e seculares, entre Litaim17 e Chassidim e, entre os próprios Chassidim. Isto é porque todos pensam que estão na verdade e todos estão tentando convencer o outro a trilhar o caminho certo.

17 Nota do tradutor: Uma facção do Judaísmo Ortodoxo que começou com o Gaon de Vilna (GRA) em Vilna, Lituânia.