UNIDADE DOS AMIGOS

Do livro “Cabala Para o Estudante”

Faça o que puder e a salvação do Senhor acontecerá num piscar de olhos. A coisa mais importante com que você se depara hoje é a união de amigos. Trabalhe nisso mais e mais, pois isso pode compensar todas as  falhas.

Está escrito, “Um estudante exilado, seu Rabi está exilado com ele”. Os nossos sábios estavam perplexos. Como as queixas podem reger a Torá e o trabalho do aluno ao ponto de repeli-lo de estar no domínio de Deus, em especial quando ele se ligou a um Rabi autêntico?

E eles explicaram que quando um estudante decai, parece-lhe que o Rabi decaiu igualmente com ele. E por isto ser assim e, é de fato assim. Isto é, ele será capaz de se beneficiar do seu Rabi apenas na medida em que o assuma no seu coração. Por isso, ele tem apenas um Rabi humilde e inferior na medida em que o mediu assim. E assim, seu Rabi está exilado com ele.

O início do exílio e da escravidão no Egito começa com as palavras: “Agora surgiu um novo rei no Egito, que não conhecia a José”. Isto significa que um novo domínio apareceu na mente de todos; um recém-surgido domínio, pois eles caíram do seu grau anterior, como está escrito: “Um estudante exilado, seu Rabi está exilado com ele”. Assim, eles não conheciam José, isto é, apreenderam-no apenas na medida em que o assumiram nos seus corações.

Por esta razão, retrataram a imagem de José igual ao que eles próprios eram. E por esta razão, não conheciam José e a escravidão começou. Caso contrário, os justos certamente os protegeriam e nenhum exílio ou escravidão lhes seria retratado.

A MENSAGEM EM MATAN TORÁ

Do livro “Cabala Para o Estudante”

Nos três ensaios: “Matan Torá” (A Entrega da Torá), “O Arvut” (A Garantia Mútua)  e “A Paz”, Baal HaSulam nos ensina sobre a necessidade de uma grande sociedade atingir o objetivo da Criação. Ele demonstra porque uma pessoa sozinha não pode alcançar seus objetivos sem o resto das pessoas do mundo e, que apenas a combinação certa entre unidade social e trabalho de Deus recompensará a humanidade com paz, prosperidade e a realização do nosso potencial humano.

Em “Matan Torá”, item 14, ele escreve explicitamente que a parte da Torá que diz respeito à relação entre os homens é a mais capaz de nos levar à meta desejada. No final do ensaio, ele ressalta e ainda desenvolve o significado da conexão recíproca no nível de uma nação inteira quando ele diz: “Nós demonstramos que cada um das 613 Mitzvot na Torá gira em torno da única Mitzvá ‘Ame ao teu próximo como a ti mesmo’”. Ele também diz que este ponto não é exequível, exceto quando feito por toda uma nação na qual cada membro esteja pronto e disposto a isso.

No ensaio “O Arvut”, item 20, Baal HaSulam explica que o fim da correção do mundo ocorrerá quando todas as pessoas no mundo se juntarem à Sua obra. Mas os primeiros a entrarem na obra de Deus e conduzirem o mundo inteiro atrás de si, são os filhos de Israel: “O papel de Israel em relação ao resto do mundo é similar ao papel dos Santos Patriarcas com relação à nação de Israel… Também, a nação de Israel deve… se qualificar e ao resto dos povos do mundo, a se desenvolver até eles assumirem esse trabalho sublime de amor do homem, que é a escada para o propósito da Criação… Assim, cada Mitzvá que um indivíduo de Israel realiza a fim de trazer satisfação ao seu Criador e, por nenhuma outra recompensa e amor- próprio, afeta (de alguma forma) a evolução do resto das pessoas no  mundo”.

Mais adiante no ensaio (item 28), ele define o papel dos filhos de Israel, como os que devem ser o remédio através dos quais as faíscas da pureza e da purificação  do corpo se transmitirão a todas as nações do mundo. Isto ocorre porque o resto das nações do mundo, ainda não está pronta para isso e, o Criador precisa de pelo menos de uma nação para começar, por isso será escolhida dentre todas as nações.

Todas as nações do mundo Me pertencem (ao Criador), tal como vocês e, acabarão eventualmente por se unirem a Mim. Mas enquanto elas ainda são incapazes desta tarefa, Eu preciso de um povo virtuoso. Se concordarem em ser o povo escolhido, então Eu vos mandarei ser um reino de sacerdotes para Mim, que é a forma suprema do amor aos outros: “ame ao teu próximo como a ti mesmo”.

No ensaio “A Paz”, Baal HaSulam nos ensina a verdadeira razão para o sofrimento das pessoas em geral e, do povo de Israel em particular. Ele escreve que   a resistência dura e egoísta entre as pessoas, que provoca tensão nas relações entre   os membros da nação, não cessará por nenhuma tática humana. Podemos ver claramente que já somos como uma pessoa doente, virando-se de um lado para o outro com dores imensuráveis, como a humanidade já se lançou para a extrema direita, como a Alemanha, ou para a extrema esquerda, como a Rússia. E não só eles não aliviaram a situação, como só agravaram a dor e, os gritos sobem aos céus, como todos sabemos.

A partir daqui, ele conduz à inevitável conclusão de que as pessoas não terão outra escolha senão aceitar o Seu fardo, conhecer ao Criador e, dirigir as suas ações para a satisfação de Deus e para o Seu objetivo, como Ele havia planejado para eles antes da Criação. E quando o fazem, é evidente que juntamente com servi-Lo, qualquer pingo de inveja ou ódio desaparecerá da humanidade, a partir de então, todos os membros da humanidade se unirão num só corpo e num só coração, preenchido com o conhecimento de Deus. Assim, a paz mundial e o conhecimento de Deus são uma e a mesma coisa.

Para resumir suas palavras nos três ensaios, podemos destacar uma série de mensagens distintas:

  1. O propósito de toda a Criação é para todas as criaturas se apeguem ao seu Criador. Assim, elas serão recompensadas com alegria e plenitude eternas através dos seus próprios
  2. É possível atingir este objetivo somente através da realização da lei: “Ama ao teu próximo como a ti mesmo”.

Esta regra será realizada gradualmente, começando com a unidade de poucas pessoas, através de um grupo que cresce gradualmente, até uma nação inteira que acabará por levar todas as nações do mundo para a obra de Deus e o amor do homem.

  1. A primeira nação que deve desempenhar o seu papel de realizar esta ideia é a nação de
  2. O povo de Israel deverá ser um exemplo para todas as nações e deverá conduzi-las aos mesmos
  3. Qualquer indivíduo, grupo ou nação que se recuse a percorrer este caminho, infligirá tormentos terríveis sobre si, os quais o encaminharão de volta ao caminho certo: em direção ao final da correção.
  4. Qualquer indivíduo, grupo ou nação que irá se dedicar a este objetivo afetará e acelerará todo o processo e será recompensado com a desejada plenitude.
  5. Os seguintes são os princípios orientadores do grupo de Cabalistas, Bnei Baruch.

Os membros deste grupo levam uma vida de partilha e de unidade como base no dia-a-dia, aprendendo os escritos dos grandes cabalistas, que implementaram estes princípios e, ensinando o que aprenderam, em Israel e por todo o mundo. Isto é feito através dos seus muitos grupos de estudo, ativos durante todo o ano, da difusão de livros de cabalistas, e através de aulas de Cabala ao vivo e arquivadas, pela Internet e TV. O seu site na Internet, www.kabbalah.info, é o site mais importante de Cabala na net e, até o momento, disponibiliza conteúdos em trinta e dois idiomas. Existem também artigos de Cabala e revistas publicadas mensalmente em oito idiomas.

O principal objetivo do Bnei Baruch é apresentar o material cabalístico complexo em termos tão simples quanto possível, para que qualquer pessoa que procure o propósito da vida seja capaz de se relacionar com eles. Além disso, seguindo os ensinamentos de Baal HaSulam, o Bnei Baruch tenta através de todos  os meios à sua disposição, ensinar a todo o povo de Israel o seu papel histórico.

Eles ensinam a única mensagem que pode evitar sofrimento, dor e guerra: a mensagem chamada: “Não há ninguém além d’Ele”.

É claro para os membros do Bnei Baruch que a situação política, econômica e global depende unicamente do ensino desta mensagem simples. A única razão para o sofrimento no mundo é desenvolver as pessoas e ensiná-las a se voltarem para o Criador e contatá-Lo. As várias tentativas de evitar esta missão, de conduzir o mundo rumo a essa conclusão, infligem dor tremenda sobre os  Judeus.

A evolução humana é obrigatória, ela não pode ser interrompida. Tudo o que podemos fazer é entender a mensagem e apressar a sua realização. Infelizmente,  a história sangrenta do povo de Israel nos ensina onde leva a recusa obstinada em realizar esta missão.

A única coisa que devemos ter em mente é que existe apenas uma causa em toda a realidade. Esta causa aparece-nos em várias formas, fora de nós e dentro de nós. Contata-nos através dos nossos sentimentos, pensamentos, desejos e ações e, aparece da mesma forma ao resto das pessoas no mundo. É importante lembrar que só com a sua ajuda seremos capazes de realizar a regra: “Ama ao teu próximo como   a ti mesmo”. Tudo isto pode ser alcançado mudando simplesmente a nossa atitude em relação à realidade; não há necessidade de fazer quaisquer mudanças externas.

Se formos bem sucedidos em ensinar tantas pessoas quanto possível a relacionarem-se com a vida desta maneira, rapidamente nos encontraremos num mundo muito mais tranquilo e pacífico. A ligação profunda com o Criador ajudará cada um de nós a entender o propósito das nossas vidas, a raiz das nossas almas e, como podemos obter prazer sem fim. Ao conseguirmos isso, estaremos atingindo o objetivo da Criação e receberemos todo o deleite e prazer que foram preparados para cada um de nós.

A PAZ

Do livro “Cabala Para o Estudante”

Uma investigação empírica e científica sobre a necessidade do trabalho de Deus
“Morará o lobo com o cordeiro, e o leopardo com o cabrito se deitará; e o bezerro, e o leão novo e o animal cevado viverão juntos; e um menino pequeno os conduzirá. Naquele dia o Senhor tornará a estender a sua mão para adquirir outra vez os remanescentes do seu povo, que for deixado, de Ashur, e do Egito, de Patros, e de Kush, e de Elam, e de Shin’ar, e de Hamat, e das ilhas do mar” (Isaías 11). “Rabi Shimon Ben Halafta disse, ‘Deus não encontrou um recipiente melhor para conter a benção para Israel se não a paz, como é dito: ‘O Senhor dará força ao Seu povo; o Senhor abençoará Seu povo com paz.’” (fim de Masechet Uktzin).

Agora eu expliquei em meus artigos anteriores a forma geral do trabalho de Deus, que toda sua essência é nem mais e nem menos que amar o próximo. Praticamente falando, isto deve ser definido como “compartilhar com os outros”, isto é, quando nós pensamos sobre a parte prática do “amar os outros” nós pensamos em compartilhar a bondade com os outros. Portanto, a parte prática do “amor aos outros” deve ser definida como “compartilhar com os outros”. Desta forma nós asseguramos que nós não esqueçamos a intenção por trás  disto.

E agora que nós sabemos a forma correta do Seu trabalho, nós precisamos examinar se nós tomamos este trabalho apenas pela fé, sem qualquer base científica empírica, ou se há uma base experiencial para isto. Isto é o que eu desejo provar no artigo seguinte.

Para começar, é claro, eu preciso provar suficientemente o assunto em si. Quem é que recebe nosso trabalho? Porém, já que eu não sou um daqueles que ama a filosofia formal, porque eu odeio todos os tipos de estudos baseados em teoria. E como sabemos, a maioria dos meus contemporâneos concorda comigo nisto, porque todos nós estamos bem familiares com este tipo de base, que tem uma fundação instável, pois quando ela oscila, toda a construção  colapsa.

Portanto, eu não pretendo falar uma única palavra do que não é baseado no criticismo da razão prática. Nós começamos com fatos simples que são impossíveis  de refutar e continuaremos provando cada estágio de nossa linha de pensamento sinteticamente (o contraste e comparação através de tais meios como analogia e dedução) como o trabalho de Deus é provado e confirmado através do reconhecimento simples e prático.

DISCREPÂNCIA E CONTRADIÇÃO NA  PROVIDÊNCIA

Qualquer pessoa inteligente que vê a realidade perante si encontrará nela dois opostos diametralmente. Quando nós examinamos a ordem da Criação em termos de sua realidade e permanência, nós vemos claramente uma força motriz incrível sabiamente guiada com grande habilidade, tanto em termos da forma que os componentes da realidade são formados quanto da forma que sua existência contínua é assegurada em geral.

Tomemos, por exemplo, a forma que o ser humano é formado, na qual nós vemos que o amor e prazer dos pais são uma causa primária óbvia, inabalável e fiel a seu propósito. Quando a gota original é liberada do pai, a Providência fornece a ele um lugar seguro, preparado com grande sabedoria para receber o espírito vivente. A Providência também fornece a ele seu sustento diário em quantidades precisas, e a Providência também fornece a ele um sistema de amortecimento incrível no útero  da mãe para que nenhuma força externa possa prejudica-lo.

A Providência cuida de todas as suas necessidades como uma enfermeira experiente e não o abandona nem mesmo por um momento até que tenha adquirido a força para sair à atmosfera do nosso mundo. Então a Providência temporariamente lhe empresta o poder e coragem para quebrar as barreiras que o circundam, e como um guerreiro armado experiente ele cria  uma brecha e sai ao ar do mundo.

Mesmo então, a Providência não o abandona, e como uma mãe compassiva ela entrega a criança nas mãos de pessoas amáveis e confiáveis – a mãe e o pai – que o ajudarão ao longo de seu tempo de fraqueza até que cresça forte o suficiente para cuidar de si mesmo. E assim como o humano, isto também é verdade com todos os animais, plantas e minerais, todos eles são providos com sabedoria e compaixão até que sua habilidade para sobreviver e propagar seja  assegurada.

No entanto, quando examinamos esta realidade em termos de seu sustento   e manutenção, desordens óbvias e grandes confusões se tornam aparentes, como se não houvesse um poder dirigente e nem Providência. Cada pessoa faz o que é certo em seus próprios olhos, e se constrói na ruina de seu próximo, e os perversos prosperam enquanto que os justos são impiedosamente esmagados, e assim por diante.

Saiba que esta contradição que é óbvia a todo ser inteligente e sensível preocupou a humanidade desde os dias antigos, e muitos sistemas foram usados para reconciliar estes dois opostos que são aparentes na Providência e coagir e coexistir no mesmo mundo.

PRIMEIRO  MÉTODO: NATUREZA

Este é um método muito antigo, baseado na observação que os dois opostos são completamente impossíveis de reconciliar. O pressuposto foi atingido para que o  que quer que criou tudo isto, e mantém a existência com grande poder e provê todos os aspectos disto, não é um ser inteligente e sensível.

E embora ele criou e mantenha a existência com incrível sabedoria, miraculosamente o suficiente, ele é ainda sem consciência e não faz tudo isto conscientemente. Já que, se ele fosse consciente e sensível ele certamente não teria permitido tais desordens em termos de sustento da existência sem misericórdia ou compaixão por suas criações. E eles portanto o chamam “Natureza”, ou seja, um provedor estúpido e insensível. Portanto aqueles que acreditam nisto não tem conceito de qualquer poder maior a quem eles podem reclamar, orar ou justificar a  si mesmos.

SEGUNDO  MÉTODO: DUAS AUTORIDADES

Têm aqueles que foram mais espertos, pois era difícil para eles aceitar esta suposição da Providência da Natureza, já que através de sua observação da Providência como uma realidade cuja existência continuada é assegurada por uma sabedoria elevada além da capacidade humana, não podiam concordar que uma força não inteligente criou e mantém tudo isto. Como pode algo dar algo que ele em si não contenha, e como alguém que é ignorante pode ensinar e fazer seu próximo  sábio?

E portanto, como você pode dizer que quem quer que criou tais coisas maravilhosas não sabe o que Ele está fazendo e apenas fez isto por acaso, quando é claro para todos que nada ordenado e sabiamente arranjado possa existir por acaso, muito menos garantir que algo tenha existência eterna.

Disto vêm o segundo método, que existem duas forças criativas e provedoras: Uma que cria e mantém o bem, e outra que cria e mantém o mal. E este sistema foi expandido através da evidência e das provas de acordo com sua forma de pensamento.

TERCEIRO MÉTODO: MÚLTIPLOS DEUSES

Este método nasceu do seio do método dos dois poderes. Aqueles que acreditavam nisto, dividiram e separados cada força e cada ato tal como força, riqueza, poder, beleza, fome, morte, destruição e assim por diante, e apontaram cada qual seu próprio criador e provedor individual. E eles expandiram nisto de acordo com sua vontade.

QUARTO MÉTODO: ELE ABANDONOU SUA  CRIAÇÃO

Recentemente, conforme as pessoas aprendem mais e observam as fortes interconexões de todos os diferentes aspectos da Criação, eles reconheceram que a ideia de múltiplas deidades não é possível, e portanto a questão da discrepância óbvia da Providência despertou uma vez mais.

Disto, eles chegaram a um novo sistema: Qualquer Poder criado e que mantém a existência é inteligente e sensível. No entanto, já que este Poder é mais elevado que tudo que é imaginável, nosso mundo é tão minúsculo e insignificante como o pó da terra em Seus olhos. E Ele não tem interesse em tratar com nossos assuntos insignificantes. É por isto que nossas vidas são tão caóticas, e todos fazem   o que querem sem lei e ordem.

Juntamente com os métodos mencionados acima, outros sistemas religiosos foram adotados envolvendo a unidade de Deus. Este não é o lugar para lidar com eles, já que eu só queria elucidar as fontes dos vários métodos falaciosos e suposições questionáveis que eram comuns em vários tempos e em vários lugares, como nós bem sabemos.

Agora nós aprendemos a base da qual todos estes métodos foram fundados, que vieram da discrepância e contradição entre os dois tipos de Providência que nós observamos em nosso mundo, e o propósito de todas estas explicações foi para suprir esta grande lacuna.

Porém, o mundo continua seguindo como deve. Não apenas esta grande e terrível lacuna não foi superada, ao contrário, ela cresceu e se expandiu ainda mais perante nossos próprios olhos, se tornando um terrível abismo sem ver qualquer esperança de fuga. Quando eu vi que todas as tentativas de lidar com esta questão que a humanidade usou por milhares de anos, como mencionado acima, foram sem sucesso, eu pergunto: Pode ser que nós não devemos pedir de forma alguma que a Providência preencher esta lacuna? Pode ser que esta grande correção esteja em nossas próprias mãos?

NECESSIDADE DE SER CUIDADOSO COM AS LEIS DA NATUREZA

Todos nós estamos bem cientes que o ser humano é necessariamente uma criatura social. Humanos não podem sobreviver exceto com a ajuda da sociedade. Então imagine, por exemplo, algum indivíduo deixando a sociedade e indo em algum lugar inabitado, onde ele vive uma vida de tristeza e grande aflição devido a sua incapacidade de prover para si mesmo e suas necessidades. Ele não teria direito de reclamar com a Providência ou seu destino, e se ele fizesse isso, se ele reclamasse sobre seu destino amaldiçoado, ele não apenas deixaria sua própria tolice mais óbvia, porque a Providência lhe proveu com um lugar confortável e desejável entre a sociedade e ele não tem justificativa para deixa-la por um lugar  desolado.

De tal pessoa não deve ser sentida misericórdia por ir contra as Leis da Natureza já que ela sabia que ela podia viver como a Providência pretendia, e portanto nós não devemos sentir misericórdia por ela e não há compaixão para ela. Toda humanidade concorda com isto sem exceção.

Eu posso continuar e dar razões para isto baseado na religião, e fazer uma regra como segue: Já que a manutenção da Criação vem do Criador, e sem dúvida Ele tem um propósito para Suas ações, já que não há ação sem um propósito. Nós vemos que qualquer um que transgrida as Leis da Natureza que Ele instilou em nós, interfere com este propósito.

Este propósito é sem dúvida encontrado em todas as Leis da Natureza sem exceção, como convém a um sábio trabalhador que é exigente e escrupuloso com todas as ações necessárias para seu propósito. E nós vemos que qualquer um que interfira com uma lei interfere e danifica o propósito que o Criador definiu. Portanto, a Natureza o pune. E assim, nós como as criaturas do Criador não devemos sentir misericórdia por ele, já que ele profana as Leis da Natureza e despreza o propósito do Criador. Esta é minha visão.

E eu não acho que valha a pena discordar comigo sobre a forma que eu escrevi esta regra já que esta regra é universal. Qual é a diferença entre dizer que o prover é estúpido e sem propósito, e dizer que o provedor é maravilhosamente sábio, conhecedor e sensível e suas ações tem um propósito, quando no fim todos admitem e concordam que todos nós somos obrigados a manter este preceito da Providência, ou seja, as Leis da Natureza?

Todos nós admitimos que aquele que transgrida os Preceitos da Providência, ou seja, as Leis da Natureza, merecem a punição que a natureza inflige a ele, e ninguém deve ter compaixão por ele. Isto é tudo uma regra, e nós apenas discordamos com o motivo, em que eles consideram o motivo como essencial, e eu considero ele como um meio ao fim.

Para que eu não tenha que usar estas duas palavras diferentes daqui em diante, “Natureza” e “Providência” cujas leis são idênticas como eu provei, nós devemos concordar e aceitar as palavras dos Cabalistas: As palavras “a Natureza” (HaTeva) e “Deus” (Elohim) tem o mesmo valor numérico (em Hebraico) – 86. Agora eu posso chamar as Leis de Deus os Preceitos (Mitzvot) da Natureza, ou o contrário, já que eles são idênticos. Mas eu não desperdiço palavras nisto.

Agora é muito importante para nós examinarmos os Preceitos da Natureza para entender o que ela exige de nós para que não sejamos punidos impiedosamente. Nós mencionamos que a Natureza obriga o homem a viver uma vida social, e isto é simples, mas nós precisamos examinar as Mitzvot que a Natureza nos obriga em termos da vida em sociedade.

Quando nós examinamos isto em geral, nós vemos que existem apenas duas Mitzvot que precisamos honrar em termos da sociedade, que podem ser definidas como “receber” e “compartilhar”. Isto é, todo membro da sociedade é obrigado pela Natureza a receber suas necessidades da sociedade e é também obrigado a compartilhar com a sociedade através do seu trabalho pelo benefício da sociedade.  Se ele transgredir uma destas duas Mitzvot, ele será punido impiedosamente, como mencionado acima.

Em termos da Mitzvá de receber, nós não precisamos examinar excessivamente, já que a punição é dada imediatamente, para que nós não a negligenciemos. Porém, a Segunda Mitzvá, compartilhar com a sociedade, em que a punição não vem imediatamente, é dada a nós desproporcionalmente. É por isto que esta Mitzvá não é mantida adequadamente, e porque a humanidade está sendo frita sobre o fogo em uma terrível frigideira, e porque a guerra, a morte pela fome e suas consequências ainda não cessaram.

A maravilha sobre isto é que a Natureza, como um juiz experiente, nos pune em proporção a nosso desenvolvimento, e nós podemos ver que quanto mais a humanidade progride, mais aflições e dores nós precisamos passar para ajudar a nós mesmos e sobreviver.

Agora que nós temos uma fundação clara, experimental e científica para ver que nós somos obrigados pela Divina Providência a cumprir a Mitzvá de compartilhar e beneficiar nosso próximo com todo nosso poder e nos mínimos detalhes. Cada membro da sociedade não deve adiar e deve dar seu melhor para assegurar o sucesso, prosperidade e felicidade da sociedade, e enquanto nós continuarmos a ser negligentes em cumprir esta Mitzvá ao máximo, a Natureza continuará sem parar a nus punir e exigirá sua  vingança.

E, a julgar pelos males que nos afligem hoje, nós devemos levar em consideração que caos espera por nós no futuro. Nós precisamos chegar à conclusão que, no fim, a Natureza ganhará, e nós seremos forçados a nos unir cumprindo estas Mitzvot ao nível que é exigido de nós.

PROVA DO TRABALHO DO CRIADOR BASEADO NA EXPERIÊNCIA

Aquele que deseja criticar minhas palavras pode agora perguntar: Se até agora eu provei apenas que nós precisamos fazer o trabalho da humanidade, qual é a prova que nós precisamos fazer o trabalho pelo bem do Criador?

A história já fez o trabalho por nós, e nos forneceu uma prova completa que deve ser o suficiente par anos convencer e chegar às conclusões além de uma sombra de uma dúvida. Todos nós podemos ver como uma enorme sociedade tal como a Rússia Comunista, um país de centenas de milhões, que controla uma área maior que toda a Europa, com recursos naturais incomparáveis no mundo inteiro, e cujos habitantes   concordaram   em   viver   uma   vida   social   coletiva,   elimina   toda a propriedade privada, e ninguém tem qualquer preocupação exceto por cuidar do benefício dos outros. Poderia parecer que eles cumpriram completamente a Mitzvá de “beneficiar o seu próximo” em sua totalidade, tanto quanto a mente humana pode conceber.

Porém nós vemos o que aconteceu a eles. Ao invés de elevar e avançar além do nível dos estados capitalistas, eles caíram e desceram ao ponto onde eles não só não tornavam a vida de seus trabalhadores melhores que àqueles dos estados capitalistas, como eles não podiam nem mesmo assegurar que seus trabalhadores tivessem pão para comer e vestes para cobrir sua nudez. E isto é surpreendente, considerando suas riquezas e o vasto número de membros de sua sociedade, não faz sentido que eles tenham chegado a este ponto.

No entanto, esta nação cometeu uma transgressão que o Criador não perdoará: Todo o seu precioso trabalho para o benefício das pessoas deveria ter sido pelo Bem do Criador, não em propósito da humanidade. E já que eles não fazem  seu trabalho pelo Bem do Criador, eles não têm direito de existir enquanto pelo ponto de vista da Natureza.

Tente imaginar como seria se cada membro daquela sociedade cumprisse as Mitzvot do Criador ao nível de “E amarás ao Senhor teu Deus com todo teu coração, com toda tua alma e com todo teu poder” (Deuteronômio 6:5), e cuidasse das necessidades de seu próximo ao nível que cada pessoa desejaria para si mesma, como está escrito: “Ame ao teu próximo como a ti  mesmo”.

Se o Criador fosse a meta de cada trabalhador conforme ele trabalhasse para beneficiar a sociedade, isto é, cada trabalhador esperaria que através de seu trabalho ele teria o mérito da Dvekút (adesão) com o Criador, a fonte de toda verdade e bondade, prazer e benevolência, não há dúvida que ao longo do curso de alguns anos eles se tornariam mais ricos que todos os outros países na Terra colocados juntos. Eles teriam tomado vantagem de seus vastos recursos naturais e seriam um exemplo para todas as outras nações, e eles teriam sido chamados “Abençoados pelo Criador”.

No entanto, quando todo o trabalho de “compartilhar com o próximo” é baseado apenas na sociedade, esta é uma fundação instável. Pois quem ou o que pode obrigar o indivíduo a ser motivado a trabalhar duro pelo benefício da sociedade? Afinal, princípios mortos e secos não podem ser esperados de terem uma fonte de energia ou poder motivador (poder de meta orientada que motiva e mede   a exata energia necessária para o trabalho, como a gasolina para um carro) para as pessoas serem motivadas, mesmo as pessoas envolvidas, muito menos as pessoas que não estão envolvidas. Isto levanta a questão: Onde é que o trabalhador ou agricultor encontra a motivação para trabalhar?

Já que a quantidade da renda que ele recebe não dependerá, aumentará ou diminuirá de acordo com seu trabalho, e ele não tem meta ou recompensa para continuar trabalhando. Os sábios nos caminhos da Natureza sabem que uma pessoa não fará o menor esforço sem uma motivação, isto é, sem ver algum benefício para  si mesma.

Por exemplo, quando uma pessoa move sua mão de uma cadeira para uma mesa ela faz isto porque ela acha que ela vai desfrutar mais ao repousar sua mão na mesa. E se ela não achasse isso, ela deixaria sua mão imóvel na cadeira por todos os setenta anos de sua vida, muito menos fazer algo mais  árduo.

E se você disser que eles poderiam colocar supervisores sobre eles de modo que qualquer um que reduzisse a velocidade em Seu trabalho seria punido e privado de seu sustento necessário, eu perguntaria, de onde os supervisores encontrariam a motivação por seu trabalho? Porque ficar de pé em um lugar particular e forçar as pessoas a trabalhar é talvez ainda mais árduo que o trabalho em si. Isto é como tentar ligar um carro sem colocar nele combustível.

Portanto, a Natureza os sentenciou a perecer, porque as Leis da Natureza os punem, já que eles não se fazem cumprir seus preceitos, isto é, fazer atos para beneficiar seu próximo pelo trabalho do Criador, para cumprir o Propósito da Criação, que é a Dvekút com o Criador, como eu expliquei no artigo “Matan Torá” (veja Item 6). Esta Dvekút traz ao trabalhador Sua beneficência e prazer que aumenta até o nível necessário para elevar no reconhecimento da veracidade do Criador, que cresce e se desenvolve até que ele atinja o nível elevado de: “Nem com os olhos se viu um Deus além de Ti” (Isaías 64:3).

E imagine se o agricultor e o trabalhador, durante seu trabalho, tivessem esta visão perante eles enquanto trabalhassem em benefício da sociedade, eles não precisariam de um supervisor em pé perante eles, pois eles já teriam a motivação e satisfação de trabalhar muito duro, até que eles elevassem a sociedade ao maior nível de alegria.

E a verdade é que para entender deste aspecto, grande cuidado e uma explicação cuidadosa são necessários. Porém, todos nós vemos que eles não têm direito de existir em termos da Natureza, pois são teimosos e não conhecem o compromisso. Isto é o que eu queria provar aqui.

E agora eu provei claramente isto através do entendimento experimental da história prática que se desenrolou perante nossos olhos. Não há remédio possível para a humanidade exceto que nós aceitemos o Preceito da Providência, que é “beneficiar o seu próximo” para dar prazer ao Criador, ao nível dos dois versos:

O primeiro é “Ame ao próximo como a ti mesmo”, que é a característica do trabalho em si. Este é o nível do trabalho pelo benefício do seu próximo e o bem da sociedade não deve ser menor do que o nível que o desejo natural nos faz desejar  por nós mesmos. E além disso, a pessoa deve colocar as necessidades do seu próximo perante as suas próprias, como explicado no artigo “Matan Torá” (veja Item 4).

O segundo é “Amarás ao Senhor teu Deus com todo teu coração, com toda tua alma e com todo teu poder”, que é a meta que deve ser colocada perante cada um quando servir as necessidades de seu próximo, que significa que a pessoa está trabalhando e está fazendo um esforço apenas para encontrar graça nos Olhos do Criador, porque Ele disse assim e nós fazemos Sua  vontade.

“E se vós ouvirdes, comereis do fruto da terra” (Isaías 1:19) pois a pobreza, aflição e exploração desaparecerão da Terra e a felicidade de cada pessoa aumentará além da medida. No entanto, enquanto vocês recusarem e não quiserem entrar na Aliança do trabalho do Criador ao nível explicado acima, a Natureza e suas leis estarão em guarda prontos para se vingar, e não nos deixará sozinhos, como provamos claramente até que ela nos derrote e nós aceitemos o seu domínio em tudo que ela ordena sobre nós, como nós explicamos.

Agora eu forneci um estudo prático e científico de acordo com a lógica experiencial e crítica sobre a obrigação absoluta para todas as criaturas aceitar sobre si mesmas o trabalho do Criador com todos os seus corações, almas e poderes.

CLARIFICAÇÃO DA FRASE DA MISHNÁ: “TUDO SE DÁ COM GARANTIA E UMA REDE SE ESTENDE SOBRE TODOS OS SERES  VIVOS”

Agora que nós entendemos tudo escrito acima, nós podemos entender a Mishná difícil de Pirkei Avot (Ética dos Pais) que diz: Ele (Rabi Akiva) costumava dizer, “Tudo se dá com garantia e uma rede se estende sobre todos os seres vivos. A loja está aberta, o vendedor dá crédito, o livro de contas está aberto, a mão escreve, e quem deseja tomar emprestado, que venha e tome emprestado. Os cobradores fazem suas rondas regularmente, todos os dias, e cobram do devedor estejam conscientes ou não. E eles têm em que se basear, o julgamento é um julgamento verdadeiro, e tudo está preparado para o banquete [no Mundo Vindouro]” (Pirkei Avot  3:16).

Não é por nada que esta Mishná permaneceu incompreensível a nós como um enigma sem uma pista para sua solução, indicando que há uma profundidade escondida para nós explorarmos, e de fato torna-se muito claro à luz do que aprendemos até agora.

A RODA DA MUDANÇA DE FORMA

Para começar, eu trarei o ponto de vista dos sábios sobre a evolução das gerações do mundo. Embora nós vejamos os corpos virem e irem de geração à geração, isto é apenas verdade para o corpo, enquanto que as almas, que são a essência do corpo, são removidas e reintegradas de corpo a corpo, de geração à geração. As mesmas almas que existiam na Geração do Dilúvio foram reencarnadas na Geração da Torre de Babel, e então na Geração do Exílio Egípcio, então na Geração do Êxodo do Egito, e assim por diante até esta geração. E assim por diante até o processo do Tikun (correção) ser concluído.

Assim, ao contrário dos corpos que vem e vão, não existem novas almas. Há um número específico de almas e estas mesmas almas reencarnam na roda da mudança de forma, vestidas em novos corpos em cada  nova geração.

E assim, levando as almas em consideração, cada geração é testada do princípio da Criação até o Tikun ser concluído. Assim como uma única geração que dura por milhares de anos até se desenvolver e chegar ao ponto do Tikun e atingir o nível que é destinado a atingir, independentemente do fato que no meio tempo cada indivíduo mudou de corpos alguns milhares de vezes, já que a essência do corpo, chamada a alma, não sofre nada por estas mudanças.

Existem muitas provas e grande sabedoria sobre o segredo da reencarnação. Embora este não seja o lugar para entrar nisto, mas para o benefício daqueles que não estão familiares com esta sabedoria é digno mencionar que a reencarnação ocorre com cada objeto físico na Criação.

Cada um de sua própria maneira tem vida eterna, e embora nós percebamos tudo como existindo e deixando de existir, esta é apenas nossa percepção. A verdade é que tudo é reencarnado, e nem uma única coisa descansa ou para, nem mesmo  por um momento. Ao invés, ela continua a ser reencarnada, mudar de forma e não perde nada de sua essência através deste processo, como os físicos têm entrado em profundidade para explicar.

E agora nós explicaremos a Mishná que diz, “Tudo é dado em garantia”. Isto é análogo a alguém que empresta ao seu amigo uma soma de dinheiro em negócios   a fim de fazer uma parceria com ele em uma porção dos lucros. E para assegurar que ele não perca seu dinheiro ele empresta em uma base de garantia e assim ele não tem com que se preocupar. Assim também é a Criação e a existência do mundo. O Criador preparou o mundo para a humanidade como um lugar para merecer a meta sublime da Dvekút com Ele no fim, como explicado no artigo “Matan Torá” (Item 6 – leia isto atenciosamente). Isto levanta a questão: Quem forçaria a humanidade a fazer o trabalho necessário para atingir esta meta  sublime?

Isto é o que o Rabi Akiva estava se referindo ao dizer, “Tudo é dado em garantia”, isto é, a Criação e o trabalho do homem não foram deixados pelo Criador para a humanidade sem vigilância. Ele Próprio segurou com garantia, e se você perguntar que tipo de garantia Ele deu, o Rabi Akiva responde: “Uma rede se estende sobre todos os seres vivos”.

Isto significa que o Criador sabiamente espalhou uma incrível rede sobre toda a humanidade para que ninguém possa escapar. Todas as coisas viventes são presas nesta rede, e isto as obriga a aceitar o trabalho do Criador – transformar a si mesmos até que atinjam seu propósito sublime. Esta é a garantia com que o Criador assegurou a Si Mesmo que Sua intenção na Criação não fosse perdida.

E depois, ele expande nisto em detalhe, dizendo, “A loja está aberta”, isto é, embora este mundo aparente para nós como uma loja aberta sem um proprietário, onde qualquer pessoa passando pode levar mercadoria e os benefícios para o conteúdo do seu coração de graça, o Rabi Akiva então nos alerta: “o vendedor dá crédito”. Isto é, embora nós não vejamos o vendedor, saiba que há um, e o que quer que ele não cobre imediatamente ele cobra em crédito.

E você pode perguntar, “Como ele sabe quanto eu devo?” Rabi Akiva responde: “o livro de contas está aberto, a mão escreve”. Isto significa que há um livro em que cada um dos atos é escrito sem omissão, e nossas intenções são determinadas pela Lei do Desenvolvimento que o Criador instilou na humanidade que nos impulsiona sempre em frente.

Isto significa que os malfeitos e comportamentos negativos da natureza humana são o que causam e criam situações boas. Cada situação boa é apenas o resultado da situação ruim que a precedeu. Os valores de “bom” e “mal” não se aplicam a uma situação em si mesma, mas ao invés, à meta em geral, já que qualquer situação que leva o homem mais próximo da meta é chamada “boa”, e aquilo que o distancia dela é chamado “mal”.

Neste próprio valor está baseada a Lei do Desenvolvimento – que o caos e o mal em uma dada situação se tornam a causa e criador do bem naquela situação. Isto significa que qualquer situação pode apenas durar por um período limitado de tempo, longo o suficiente para o mal crescer a tal nível que a sociedade não pode mais tolerá-lo. E então a sociedade tem que se unir, destruí-lo e reorganiza-lo em uma situação melhor para o benefício da próxima geração.

Esta nova situação dura apenas até que as centelhas do mal dentro dela amadureçam à medida que a situação não possa mais ser tolerada, e então a sociedade deve destruí-la e construir uma situação mais tolerável em seu lugar. E assim as situações continuam a mudar e melhorar, uma após a outra, até que cheguemos ao ponto do Tikun (correção; completar a tarefa da humanidade), enquanto que lá não haverá mais centelhas do mal.

Assim, vemos que todas as sementes das quais as situações boas crescem são nada menos que as próprias ações impróprias. Todas as ações más perpetradas pelos perversos de uma dada geração unem forças e um segue o outro até que eles atinjam uma massa crítica que a sociedade não pode tolerar, e então a sociedade o destrói e cria uma situação mais preferível em seu lugar. Então vemos que cada má ação individual é condicional à motivação que se desenvolve em direção a uma situação aceitável.

Isto é o que o Rabi AKiva queria dizer em “o livro de contas está aberto, a mão escreve” – cada situação em que a geração se encontra é como um livro de contas, e cada malfeitor é como uma mão que escreve, porque cada má ação é escrita no livro de contas até que a quantidade seja muito grande para as pessoas tolerarem. E então elas destroem a situação ruim e se reorganizam em uma situação melhor. Cada uma das ações é escrita no “livro de contas”, que é a situação, como eu expliquei.

Ele também diz, “e quem deseja tomar emprestado, que venha e tome emprestado”. Isto é dizer que quem acredita que este mundo não é como uma loja aberta sem um proprietário, mas, ao invés, que existe um proprietário na loja que exige o pagamento certo para qualquer mercadoria que pegar da loja, que é fazer seu melhor em seu trabalho do Criador desde que ele esteja sendo fornecido pela loja, na melhor e mais segura maneira de alcançar a meta da  Criação.

E tal pessoa é testada, pois é chamada “deseja tomar emprestado”, isto é, mesmo antes de estender a mão para pegar algo deste mundo, que é “a loja”, ela sabe que é apenas a título de empréstimo para si e que terá que pagar o preço dado por isto. Ela aceita a obrigação de servir e atingir o propósito do Criador desde que ela proveja seu sustento da loja, de tal forma que assegura que certamente pagará sua dívida ao atingir a meta desejada. Portanto, é chamada aquele que “deseja tomar emprestado”, isto é, está comprometida a pagar sua  dívida.

Rabi Akiva descreve dois tipos de pessoas: O primeiro tipo é as pessoas da “loja aberta”, que pensam que este mundo é como uma loja aberta sem um proprietário, e sobre estas pessoas ele diz, “o livro de contas está aberto, a mão escreve”. Isto é, embora eles não vejam sua conta, suas ações ainda são escritas no livro de contas, como explicado acima, pela forma da Lei do Desenvolvimento que  é impressa na Criação e forçada na humanidade, em que as ações dos perversos inevitavelmente dão à luz às boas ações, como explicado  acima.

O segundo tipo de pessoas é aquele que “deseja tomar emprestado”, e que fazem suas contas com o proprietário. Sempre que elas pegam algo da loja, elas pegam apenas como um empréstimo e prometem pagar ao proprietário  o dado preço, isto é, usar o empréstimo para atingir a meta final. Destas pessoas ele diz, “quem deseja tomar emprestado, que venha e tome  emprestado”.

E você pode perguntar qual é a diferença entre o primeiro tipo de pessoas que são compelidas pela meta que vêm a elas através da Lei do Desenvolvimento e o outro tipo que se comprometem ao trabalho do Criador voluntariamente. Afinal, ambos são iguais em termos de atingir a meta.

A esse respeito, ele continua, “Os cobradores fazem suas rondas regularmente, todos os dias, e cobram do devedor estejam conscientes ou não. A verdade é que ambos os tipos pagam suas dívidas igualmente todos os dias.

E assim como os poderes que uma atinge através do trabalho do Criador são testados pelos cobradores de confiança que fazem suas rondas regularmente, todos  os dias, até que a dívida seja completamente paga, para que os grandes poderes investidos na Lei do Desenvolvimento são também testados pelos cobradores de confiança que fazem suas rondas regularmente, todos os dias, até que a dívida seja completamente paga. Isto é o que ele queria dizer em “os cobradores fazem suas rondas regularmente, todos os dias, e cobram do  devedor”.

De fato, há uma vasta diferença entre os dois, que é “estejam conscientes ou não”. O primeiro tipo cujas dívidas são recolhidas pelos cobradores do desenvolvimento, pagam suas dívidas “sem consciência”. Ondas de tempestade vêm  a eles pelo poderoso vento do desenvolvimento e lhes empurram por trás, forçando- os a se mover em frente.

Suas dívidas são cobradas involuntariamente através de grandes aflições, através das manifestações dos poderes do mal que os empurram por trás. Porém, o segundo tipo paga suas dívidas, que são o atingimento da meta, pela sua própria consciência, por sua própria vontade e por seus esforços eles aceleram o desenvolvimento de seu reconhecimento do mal, como eu expliquei no meu artigo “A Essência da Religião e seu Propósito” (começando em “Desenvolvimento Consciente e Desenvolvimento Inconsciente” – leia isto cuidadosamente). E através deste esforço eles ganham em duas formas:

Primeiro, seus poderes, que são revelados através do trabalho do Criador,  são disponíveis para eles como uma força magnética (uma força que puxa algo em sua frente) e eles são atraídos ao Criador voluntariamente e apaixonadamente através do espírito do amor, sem mencionar que eles são poupados do sofrimento e das aflições que as pessoas do primeiro tipo passam.

O segundo benefício é que eles aceleram o processo desejado, já que eles são os justos e os profetas que merecem e atingem a meta em cada geração, como explicado no artigo “A Essência da Sabedoria da Cabalá”, começando com as palavras: “Em torno do que gira a Sabedoria da Cabalá?”.

Você pode ver que a vasta diferença entre aqueles que pagam suas dívidas com consciência e aqueles que pagam suas dívidas sem consciência, é como a diferença entre a luz do prazer e deleite e a escuridão da aflição e dor. O Rabi Akiva continua dizendo, “E eles têm em que se basear, o julgamento é um julgamento verdadeiro”. Isto é, para aqueles que pagam suas dívidas com consciência e através  de sua própria vontade ele promete que eles têm em que se basear”. Há grande poder no trabalho do Criador para leva-los à meta exaltada, e é sua vantagem servir sob o jugo do Criador.

E aqueles que pagam suas dívidas sem consciência, ele diz, “…o julgamento  é um julgamento verdadeiro”. Porém podemos nos perguntar por que a Divina Providência permite tal destruição e aflição no mundo enquanto a humanidade é frita impiedosamente.

É por isto que ele diz, “…o julgamento é um julgamento verdadeiro”, já que tudo está preparado para o banquete, isto é, a verdadeira meta final e os deleites mais elevados que serão revelados no futuro quando o Criador revelar Seu Propósito para a Criação, quando todo o trabalho e aflições que vêm mais e mais em diferentes tempos e gerações parecerão como o enorme esforço de preparação que o anfitrião faz para preparar um banquete para seus hóspedes convidados. E esta meta há muito esperada que deve eventualmente chegar é como um banquete onde os convidados sentam na mesa e recebem um grande prazer. É por isto que ele diz, “… o julgamento é um julgamento verdadeiro, e tudo está preparado para o banquete [no Mundo Vindouro]”, como eu expliquei.

Você encontrará algo similar em Bereshit Raba, Capítulo 8, sobre a criação  do homem, onde está escrito: Os anjos perguntaram ao Criador, “Quem é o homem, para que te lembres dele? E o filho do homem, para que o visites? Porque precisas deste incômodo?” (Salmos 8:5).

E o Criador respondeu, “Por que as ovelhas e bois foram criados?” (Salmos 8:8) etc. Isto pode ser comparado pela analogia de um rei que tinha uma torre cheia de coisas boas mas ele não tinha convidados; que prazer o rei que a preencheu deriva? Eles lhe disseram: Mestre do Universo, Senhor nosso Deus, quão grande é Teu Nome ao longo do mundo, faça o que quer que for melhor para Ti.

O significado disto é que os anjos que viram toda a dor e aflição que a humanidade passaria no futuro se perguntaram e pediram ao Criador por que Ele precisaria deste problema. E o Criador os respondeu que Ele de fato tinha uma torre cheia de bens e Ele não tinha ninguém convidado para desfrutá-los além desta humanidade.

E quando os anjos compararam os prazeres a serem tidos na torre que esperava os convidados com os problemas e aflições que a humanidade passaria, eles perceberam que era digno que o homem sofresse pelos bens que o aguardavam e eles concordaram com a criação da humanidade. Isto é como o Rabi Akiva disse, “o julgamento é um julgamento verdadeiro, tudo está preparado para o banquete [no Mundo Vindouro]”, pois desde o princípio da Criação, os nomes de todas as pessoas estavam incluídos na lista de convidados, e o plano do Criador os obriga a vir para   o banquete estejam conscientes ou não, como eu expliquei.

E através desta explicação, nós descobrimos a verdade do profeta Isaías em sua profecia de paz, que começa: “Morará o lobo com o cordeiro, e o leopardo com  o cabrito se deitará” (Isaías 11) etc., e justifica isto dizendo, “Pois a terra estará cheia do conhecimento de Deus, assim como as águas cobrem o mar” (Isaías 11:9).

O profeta diz que a paz do mundo é condicional ao mundo inteiro sendo preenchido com o conhecimento de Deus. Assim como dissemos acima, a dura e egoística oposição entre um homem e seu próximo, juntamente com a crescente inimizade entre as nações, não cessarão do mundo como resultado de quaisquer planos ou conspirações humanas, não importa o que aconteça, porque nós podemos ver como o doente miserável continua a se contorcer  intoleravelmente.

O homem tem se jogado para a extrema direita, como no caso da Alemanha Nazista, ou à extrema esquerda, como no caso da Rússia Comunista. E não apenas isto não tornou as coisas mais fáceis, mas fez com que a doença ficasse pior e mais dolorosa, até que nossos clamores chegaram aos Céus, como todos sabemos.

Não há esperança se não aceitar o jugo do Criador através do conhecimento de Deus. Isto é para direcionar nossas ações à vontade do Criador e Seu propósito, assim como Ele pretendia antes da Criação. E quando fizermos isto, como é óbvio para todos, juntamente com o trabalho do Criador, cada resquício da inveja e ódio humanos será apagado, como eu tenho até agora claramente ilustrado, pois então todos os membros da humanidade se unirão como um corpo com um coração cheio do conhecimento de Deus – então a paz mundial e o conhecimento de Deus são uma e a mesma coisa.

E logo a seguir, o profeta diz, ‘E naquele dia Deus colocará sua mão por uma segunda vez para recuperar os remanescentes de Seu povo … e Ele reunirá os exilados de Yehudá dos quatro cantos da terra (Isaías 11:12). Nós aprendemos disto que a paz mundial precederá a reunião dos exilados.

E disto nós podemos entender as palavras dos sábios no final do Tratado Uktzin: “Deus não encontrou um recipiente melhor para conter a benção para Israel se não a paz, como é dito: ‘O Senhor dará força ao Seu povo; o Senhor abençoará Seu povo com paz.’” (Salmos 29:11) Nós podemos nos perguntar sobre a frase: “… um recipiente para conter a benção para Israel”. Como podemos inferir nossa teoria deste verso?

Este verso pode ser explicado como a profecia de Isaías, que a paz mundial precederá a reunião dos exilados, e isto é o que é dito: “O Senhor dará força ao Seu povo”, ou seja, que no futuro o Criador dará força ao Seu povo Israel, isto é, eterno renascimento, e então “Deus abençoará Seu povo com paz”. Ele abençoará seu povo Israel primeiro com uma benção de paz do mundo inteiro. “E então Deus colocará Sua mão por uma segunda vez para recuperar os remanescentes do Seu povo” etc.

Esta é a explicação dos nossos sábios do verso. Portanto a benção de paz do mundo inteiro precede a “força”, a Redenção, já que “Deus não encontrou um recipiente melhor para conter a benção para Israel se não a paz”. Enquanto o amor egoísta e o egoísmo estiverem excessivos entre as nações, os Filhos de Israel não serão capazes de fazer o trabalho do Criador puramente em termos de compartilhar com os outros, como é mostrado pela explicação do verso: “…e você será para Mim um reino de sacerdotes” no artigo “Arvut”. Nós vemos isto pela experiência, porque o ajuntamento de Israel e a construção do Templo não foram capazes de sobreviver e receber as bênçãos que o Criador prometeu aos nossos  antepassados.

E este é o significado de “Deus não encontrou um recipiente para conter a benção para Israel”. Ou seja, até agora, os Filhos de Israel não tiveram um recipiente para conter as bênçãos dos antepassados. Portanto, a promessa que eles herdarão a benção da Terra Santa para sempre ainda não foi cumprida, já que a paz mundial é o único recipiente que nos permitirá receber a benção de nossos antepassados, como mencionado na profecia de Isaías.

 

A ARVUT (GARANTIA MÚTUA)

Do livro “Cabala Para o Estudante”

Continuação de “Matan Torá”

 

Todos os Israelitas são responsáveis uns pelos  outros

(Sanhedrin, 27b, Shavuot 39a)

Isto é para falar da Arvut (Garantia Mútua), quando todos de Israel se tornaram responsáveis uns pelos outros, ou seja, que a Torá não foi dada para eles até que todo e cada Israelita foi questionado se ele concordava em assumir a Mitzvá de amar seu próximo ao grau descrito pelo verso: “Ame ao próximo como a ti mesmo” a sua completa extensão, como explicado nas seções 2 e 3 – leia palavra por palavra. Isto   é, todo Israelita toma a obrigação de cuidar e servir todos os outros membros da nação; satisfazer todas as suas necessidades não menos do que é natural para ele satisfazer as suas próprias.

E depois que toda a nação concordou unanimemente e disseram, “Faremos e ouviremos”, cada Israelita tornou-se responsável por todas as necessidades e desejos de todos os outros membros da nação, e apenas então eles foram dignos de receber  a Torá e não antes.

Pois embora a responsabilidade coletiva de cada membro da nação seja aliviada da preocupação por suas próprias necessidades, e possam cumprir a Mitzvá de amar seu próximo como a si mesmo a sua completa extensão e dar tudo que tem para qualquer um que precise, já que não precisa se preocupar com suas próprias necessidades porque sabe e é certo que 600.000 pessoas confiáveis quem o amam estão perto de si e preparadas para cuidar de si, como explicado no Item 16 – leia lá cuidadosamente.

E por este motivo eles não estavam todos preparados para receber a Torá no tempo de Abraão, Isaac e Jacó, até o Êxodo do Egito. Então eles se tornaram uma nação completamente distinta, porque apenas então foi possível para cada pessoa se assegurar que suas necessidades seriam atendidas sem nenhuma preocupação, que não era verdade quando eles ainda estavam misturados com os Egípcios, porque por necessidades algumas de suas necessidades estaria nas mãos daquelas outras pessoas selvagens que estavam cheias de egocentrismo e amor egoísta.

Este nível de necessidade que estava sob o domínio das outras pessoas não era garantido para todo Israelita já que seus amigos não seriam capazes de cumprir suas necessidades, pois não estava em suas mãos. E já vimos que enquanto um indivíduo esteja preocupado com seu próprio bem estar, não está em uma posição de até mesmo começar a cumprir a Mitzvá de amar ao próximo como a si mesmo.

É muito claro que o assunto da entrega da Torá tinha que ser adiado até o Êxodo do Egito, quando os Israelitas poderiam se tornam uma nação independente  e distinta, e seu bem-estar estivesse em suas próprias mãos sem nenhuma dependência dos outros. Então eles foram capazes de aceitar o compromisso da Arvut mencionado acima, e então a Torá foi entregue a eles. E vemos que por causa disto, mesmo após a Torá ter sido entregue, se uns poucos Israelitas fossem infiéis e retornassem a impureza do amor egoísta sem consideração pelos outros, então o mesmo nível de necessidades que não foi cumprida por aqueles poucos que eles eram responsáveis, seria incômodo para cada membro dos Israelitas e ele precisaria atender a si mesmo.

E por causa destes poucos não terem misericórdia do restante, assim a Mitzvá de amar o próximo não pode ser mantida, pois estas pessoas infiéis fizeram com que aqueles que honraram a Torá continuassem em impureza do amor egoísta, e assim eles não puderam cumprir a Mitzvá de amar ao próximo como a si mesmos e completar o ciclo de amor por seus próximos sem a ajuda dos  poucos.

Agora, é claro para você que todos os Israelitas são responsáveis uns pelos outros, em termos de satisfazer e não satisfazer, já que em termos de satisfazer, isto   é, se todo mundo cumpre a Arvut ao ponto onde cada indivíduo fornece as necessidades do seu próximo, todos podem cumprir a Torá e Mitzvot completamente e dar prazer ao seu Fazedor (como mencionado no Item 13). E em termos de não satisfazer, isto é, se uma porção da nação recusar cumprir a Arvut, e prefere continuar profundamente no amor egoísta, estas pessoas fazem com que o resto da nação continue profundamente na impureza e inferioridade sem forma de escapar deste estado de impureza.

18) Este é o porquê o Tana (Rabi Shimon Bar Yochai) explicou o assunto da Arvut com uma analogia de duas pessoas em um barco: Uma começa a furar um buraco no barco debaixo de si mesma, e seu companheiro diz, “Por que você está furando?” A outra responde, “Por que se importa? Afinal, estou furando debaixo de mim, e não debaixo de você”. A primeira diz, “Tolo! Nós dois vamos nos afogar!” (Vayikra Raba, Capítulo 4).

Esta é a mesma situação, já que quando o infiel se afunda no amor egoísta, ao ser desta forma eles criam um muro de ferro que para os mantedores da Torá até começarem a cumprir a Torá e Mitzvot propriamente, isto é, ao grau de “Ame ao próximo como a ti mesmo”, que é a escada que o leva à Dvekút (adesão) ao Criador. Quão certas são as palavras da analogia, quando ele diz, “Tolo! Nós dois vamos nos afogar!”.

19) Rabi Elazar, filho do Rabi Shimon Bar Yochai, leva a questão da Arvut ainda mais; não é suficiente para si que todos os Israelitas sejam responsáveis um pelo outro; em sua opinião, o mundo todo é parte desta Arvut. No entanto isto não  é uma discordância, já que todos concordaram que para começar é suficiente para uma nação manter a Torá, que é o início do Tikun (correção) do mundo, já que seria impossível começar com todas as nações de uma vez. Os sábios disseram, “O Criador ofereceu a Torá para todas as nações do mundo e nenhuma delas aceitou”. Elas estavam todas afundando seus narizes na impureza do amor egoísta, algumas através do adultério, outras pelo roubo, ou homicídio, e assim por diante, ao ponto onde naqueles dias não adiantaria nem mesmo dizer a elas para abandonar seu amor egoísta.

Por este motivo, o Criador não encontrou qualquer nação capaz de receber   a Torá exceto os filhos de Abraão, Isaac e Jacó, cujos méritos dos seus patriarcas foram os pilares para eles ficarem em cima. Como os sábios dizem, os patriarcas guardaram toda a Torá mesmo antes de ser entregue, ou seja, que através da elevação de suas almas eles tiveram a habilidade de conceber os caminhos do Criador em termos da espiritualidade da Torá – a fonte da qual é a Dvekút ao Criador – sem primeiro usar a escada das ações mencionadas na Torá, que eles não tinham como cumprir (veja Item 16).

E sem nenhuma dúvida a pureza física e a elevação espiritual de seus patriarcas tinha uma forte influência em seus filhos e nos filhos de seus filhos, e seus méritos permaneceram com eles até a geração em que todo e cada membro da nação aceitou este trabalho elevado e todo e cada um disse com todo o coração, “Faremos  e ouviremos”. Pois este motivo não havia outra escolha e fomos escolhidos para ser   a “Nação Modelo” entre todas as nações. E vemos que apenas a nação Israelita aceitou a Arvut necessária, e não os membros de qualquer outra nação, pois eles não participaram nisto. Esta é simplesmente a realidade, assim como o Rabi Elazar poderia discordar com isto?

20) No entanto, o fim do Tikun (correção) do mundo acontecerá quando todas as pessoas do mundo estiverem a par do segredo do Seu trabalho. Como está escrito, “E o Senhor será Rei do mundo todo, naquele dia o Senhor será Um e Seu nome Um”, (Zechariá, 14:9) e diz especificamente “naquele dia” e não antes dele, e há outros tais versos, tais como: “Pois o mundo se encherá com o conhecimento do Senhor”. (Isaías 11:9). E “… e todas as nações concorrerão a Ele” (Isaías  2:2).

No entanto, o papel dos Israelitas em relação ao resto do mundo é como o papel dos santos patriarcas em relação à nação Israelita, isto é, assim como o mérito dos patriarcas foram pilares para nós e nos ajudaram a desenvolver e nos purificar  até que foram dignos de receber a Torá. Se os patriarcas não tivessem mantido a Torá antes de ter sido entregue, não teriam sido melhores que o restante das nações (veja Item 19).

Assim a nação Israelita é obrigada a se aplicar com a Torá e Mitzvot para seu bem para purificarem a si mesmos e ao mundo todo até que eles tenham avançado  o suficiente para aceitar o trabalho elevado de amar os outros, que é a escada ao Propósito da Criação, que é a Dvekút ao Criador, como  expliquei.

Já que cada Mitzvá que todo Israelita cumpre é pelo único propósito de dar prazer ao seu Fazedor e não para alguma recompensa ou amor egoísta, fazendo isto, aumentam o avanço de todos no mundo. Este processo não é feito de uma só vez.  Na verdade ele é feito como um processo evolutivo, passo a passo, adicionando-se  até que atinja a massa crítica que levará todos no mundo ao grau desejado de pureza. E isto é chamado na linguagem dos sábios, “O apontamento da escala para o lado  do mérito”. Isto é, há suficiente “massa” de pureza para apontar as escalas, assim como suficiente peso de um lado do par das escalas aponta a  escala.

21) E estas são as palavras do Rabi Elazar, citando Rabi Shimon, que disse que o mundo é julgado pela maioria, isto é, referindo-se ao papel da nação Israelita em levar o mundo ao grau particular de pureza até que todos sejam dignos de tomar o trabalho do Criador, não menos que os próprios Israelitas foram dignos quando receberam a Torá. Os sábios chamam isto: “Atingir uma maioria de mérito”, já que há aqueles que colocam o peso sob a escala do demérito através de seu impuro amor egoísta.

É claro que se a escala do mérito, que é o elevado entendimento do amor  aos outros, é maior e mais pesada que a escala do impuro demérito, então o impuro é assim preparado para estar pronto em concordar, e dizer, “Faremos e ouviremos” como os Israelitas fizeram. Isto não pode acontecer antes de “atingir uma maioria de mérito”, pois o amor egoísta é o poder decisivo que leva as pessoas a recusar aceitar Seu jugo.

E isto é o que eles queriam dizer com: “Feliz é a pessoa que cumpre uma Mitzvá, pois ela aponta a escala ao lado do mérito para si mesma e para o mundo todo” (Kidushin 40b). Isto é, cada parte individual dos Israelitas adiciona ao peso coletivo, como alguém que pesa as sementes de gergelim e continua adicionando-as uma por uma até que aponte a escala. É certo que quando cada pessoa fizer sua parte adicionará ao peso coletivo. Sem elas as escalas nunca seriam apontadas, e isto é o que eles queriam dizer com “as ações de cada Israelita aponta as escalas do mundo todo para o lado do mérito”. Pois quando as escalas do mundo todo são apontadas ao lado do mérito, cada indivíduo terá feito sua parte em apontar as escalas, e sem suas ações o peso teria sido insuficiente.

Assim vemos que o Rabi Elazar, filho do Rabi Shimon, não realmente discordou com as palavras dos sábios que disseram que “todos os Israelitas são responsáveis uns pelos outros”. Ele está se referindo ao Tikun (correção) do mundo inteiro no futuro, e os sábios estavam falando do presente, onde apenas os Israelitas aceitaram a Torá.

22) Rabi Elazar, filho do Rabi Shimon, apoia as suas palavras com a passagem: “… e um pecador causa a perda de muitos bens”, (Eclesiastes 9:18), como já explicamos acima no Item 20, que a euforia e impressão que o toca quando se aplica às Mitzvot em relação a humanidade e ao Criador é a mesma que se sente quando se aplica às Mitzvot em relação ao homem e seu próximo. A pessoa é obrigada a cumprir as Mitzvot Lishmá (em Nome Dela), sem nenhuma esperança de conseguir assim amor egoísta, isto é, sem nenhum direito ou esperança em retorno, que ao fazer este esforço receberá uma recompensa ou honra ou coisas parecidas. E aqui neste ponto elevado de amor a Deus e amor ao próximo torna-se um e o mesmo (veja Item 15).

E vemos que fazendo isso, ajuda todos os seres humanos no mundo a avançarem a escada do amor ao próximo. Já que seja grande ou pequena, no final esta ação ajudará a apontar as escalas ao lado do mérito, pois sua parte adiciona ao peso decisivo (veja Item 20 – em relação a analogia do peso de sementes de gergelim – leia isto atenciosamente).

E aquele que realiza uma transgressão, significa que é incapaz de superar e dominar seu amor-próprio impuro e rouba ou transgride de outras formas, aponta  as escalas ao lado do demérito para si mesmo e para o mundo todo. Já que através  da manifestação da impureza do amor egoísta, a natureza humana inferior torna-se mais forte e diminui a escala do mérito a um certo grau e é como alguém que remove uma semente de gergelim da escala que outra pessoa  adicionou.

Assim a escala do demérito sobe mais alto e o avançamento do mundo é revertido. Isto é o que se entende por: “… e um pecador causa a perda de muitos bens”. Já que não pode controlar seus desejos insignificantes, faz com que o avançamento espiritual do mundo seja revertido.

23) Estas coisas foram explicadas logo acima para tornar claro o que estabelecemos no Item 5, e é acordado e não há duas opiniões no assunto, que apesar da Torá tenha primeiro sido entregue à nação Israelita em particular, a questão do Propósito da Criação é incumbida a toda a humanidade junta, pretos, brancos, amarelos e parecidos, sem nenhuma distinção.

Devido à natureza humana que tende a gravitar ao nível mais baixo, como explicado acima, como resultado do amor egoísta que controla toda a humanidade sem impedimentos, não há forma e nem abertura para debater com eles e os convencer a prometer, mesmo bruscamente, a tomar sob si mesmos e deixar seu quadro estreito mental e ir para o vasto mundo do amor aos outros. Isto foi com a exceção da nação Israelita que teve o poder que veio a eles através da terrível aflição da escravidão por 400 anos ao reino impuro do  Egito.

Somos familiares com as palavras dos sábios que dizem, “Assim como o sal suaviza a carne, a aflição varre os pecados dos homens”, (Berachot 5a) ou seja, que purifica o corpo grandemente, e além disso, a pureza dos patriarcas foram os pilares para eles (veja Item 16), que é o motivo principal, como muitas passagens na Torá provam.

E através do poder destes dois assuntos preparatórios, eles foram preparados para isto, e este é o motivo pelo qual as Escrituras referem-se a eles no singular, com em: “E lá Israel acampou diante da montanha”. (Êxodo 19:2) Os sábios interpretaram isto como “um homem em um coração”.

Isto é porque todo indivíduo na nação livrou-se do amor egoísta, e toda sua intenção foi unicamente ser de ajuda para seu próximo, como provamos acima no Item 16, em relação ao significado da Mitzvá “Ame ao próximo como a ti mesmo”, – leia isto atenciosamente. Assim vemos que todos os indivíduos da nação se uniram juntos como um coração e um homem, pois apenas então estavam preparados para receber a Torá, como explicamos.

24) E por causa do imperativo acima mencionado, a Torá foi entregue especificamente à semente de Abraão, Isaac e Jacó, já que seria inconcebível que qualquer estrangeiro se unisse a eles. E assim a nação Israelita se tornou um tipo de condutor através do qual as centelhas da purificação fluam para toda a humanidade em todo o mundo.

E estas centelhas multiplicam diariamente, como alguém que adiciona seu tesouro até que esteja cheio ao grau desejado. Isto é dizer, até que eles avancem ao ponto onde eles compreendam o prazer e a paz mental inerente na semente de amar os outros. Pois então irão entender como apontar as escalas em direção ao lado do mérito e colocarem-se sobre Seu jugo, e então a escala do demérito será removida do mundo.

25) Agora tudo o que resta é completarmos o que explicamos no Item 16, que o motivo pelo qual a Torá não foi dada para os patriarcas é por causa da Mitzvá “Ame ao próximo como a ti mesmo”, que é o centro de toda a Torá da qual todas as outras Mitzvot procedem para clarificar e explicar ela. Este não pode ser cumprido por um indivíduo sem a concordância prévia de toda a nação.

E é por isto que foi adiado até o Êxodo do Egito, onde eles foram capazes de honrá-lo. E mesmo então eles foram primeiro questionados se cada um dos membros da nação aceitaria esta Mitzvá. Apenas após eles concordarem com isto a Torá foi entregue – leia isto cuidadosamente. No entanto, continua a ser explicado, pois onde encontramos na Torá que eles fizeram esta pergunta e que eles concordaram com ela antes de receberem a Torá?

26) Saiba que estas coisas são óbvias a qualquer pessoa instruída, como revelado no convite que Deus fez para Israel através de Moisés antes de receber a Torá, como está escrito em Êxodo 19:5:

“E agora, se vocês ouvirem a Minha Voz e guardarem a Minha Aliança e se forem Meu Modelo entre todas as nações, pois o mundo todo é Meu. E serão para Mim um reino de sacerdotes e uma nação santa; estas são as coisas que você dirá para os filhos de Israel. E Moisés veio e chamou os anciões da nação e colocou diante deles todas estas coisas que Deus os ordenou, e toda a nação respondeu junto e disse: ‘Tudo que Deus disse, faremos’, e Moisés levou de volta as palavras do povo para Deus”.

Pode parecer como se estar palavras fossem inapropriadas, já que logicamente, se uma pessoa oferece para a outra um trabalho e quer que ela concorde, deveria explicar que trabalho envolve e qual é o salário para isto, pois então o outro pode examinar e decidir se aceita ou  recusa.

E aqui nestas duas passagens aparentemente não encontramos uma explicação do que o trabalho envolve nem a recompensa para o trabalho, já que Ele diz, “… se vocês ouvirem a Minha Voz e guardarem a Minha Aliança …” sem explicar nem a voz nem a aliança que eles seriam obrigados a manter, e então diz, “e serão Meu Modelo entre as nações, pois o mundo todo é Meu”, que não indica se Ele está nos ordenando a fazer o esforço para ser a “Nação Modelo”11, ou se isto é uma promessa benéfica que o Criador nos está  fazendo.

Também precisamos entender a conexão com o fim desta passagem: “… pois o mundo todo é Meu”. As três traduções: Onkelos, Yonatan Ben Uziel e Yerushalmi, assim como todos os comentaristas – Rashi, o Ramban etc. todos tinham dificuldade em estabelecer o significado simples desta passagem. O Ibn Ezra em nome do Rabi Marinos diz que a palavra “porque” realmente significa “embora”, e ele explica que significa: “… e serão Minha Nação Modelo entre todas as nações embora o mundo todo é Meu”. E a opinião do Ibn Ezra concorda com isto – leia isto cuidadosamente. No entanto, os sábios discordaram com esta interpretação dizendo que “porque” pode significar quatro coisas: “ou”, “talvez”, “em vez” ou “por”. E o Rabi Marinos adiciona um quinto significado: “embora”. A passagem termina com: “… e serão para Mim um reino de sacerdotes e uma nação santa”. E também disto não é claro se isto é um preceito e uma obrigação fazer um esforço, ou se é uma promessa ou algo bom.

Também a frase “reino de sacerdotes” (Kohanim) não tem nenhuma interpretação e não há outra menção disto em qualquer outro lugar do  Tanakh.

Em particular precisamos determinar a diferença entre “reino de sacerdotes” e “nação santa”, já que o significado usual de “sacerdote” é aquele que é santo, assim um “reino de sacerdotes” precisa ser por definição uma “nação santa”, e se assim, a frase “nação santa” é desnecessária.

27) No entanto, de acordo com as coisas que foram explicadas no início deste artigo, estas passagens tornam-se claras, pois elas devem indicar um diálogo de oferta e concordância, isto é, Deus está de fato oferecendo aos Israelitas com estas palavras, o caminho e a essência do trabalho da Torá e Mitzvot, assim como a recompensa potencial.

Porque do trabalho da Torá e Mitzvot é expressado pela frase: “… e serão para mim um reino de sacerdotes …”, já que “reino de sacerdotes” significa que todos  eles, grandes e pequenos, serão como sacerdotes, isto é, como sacerdotes que não tem propriedade material ou herança da terra, já que “Deus é sua herança”. Assim toda a nação precisa aceitar a estrutura em que toda a terra, e tudo nela, é atribuído  e dedicado ao Criador. E nenhum indivíduo deve ocupar-se com ela exceto pelo propósito de cumprir as Mitzvot do Criador e prover às necessidades do seu próximo para que tenha tudo o que deseja, e que nenhum indivíduo precise se preocupar em satisfazer suas próprias necessidades.

Assim mesmo as atividades comuns e mundanas tais como colher e plantar  e assim por diante são consideradas sendo exatamente como o trabalho do sacerdote (Kohen) com os sacrifícios no Templo, pois assim como sacrificar ao Criador é uma Mitzvá positiva12, também amar ao próximo como a si mesmo é uma Mitzvá positiva. E, portanto, vemos que aquele que colhe seu campo para alimentar seu próximo é como aquele que sacrifica para o Criador. De fato, de acordo com esta explicação plausível, cumprir a Mitzvá de amar o próximo como a si mesmo é mais importante que oferecer um sacrifício, como provamos acima nas seções 14 e 15 – leia lá cuidadosamente.

Mas esta não é a conclusão final, já que toda a Torá e as Mitzvot foram apenas dados para purificar os Israelitas, para que eles purifiquem seus corpos (veja Item 12), através do que eles atingiram a verdadeira recompensa de Dvekút ao Criador, que é o Propósito da Criação (veja Item 6 – leia cuidadosamente). Esta recompensa  é expressa pela frase “povo santo”, porque através da Dvekút a Deus somos feitos santos, como está escrito: “Sejas santo porque Eu, o Senhor teu Deus, sou Santo” (Levítico 19:2).

Você pode ver que a frase “reino de sacerdotes” expressa à forma do trabalho baseado em “Ame ao próximo como a ti mesmo”, isto é, um reino inteiramente composto de sacerdotes, dos quais o Criador é sua herança e eles não tem possessão de qualquer propriedade material pessoal. Não temos escolha se não concordar que esta é a única forma possível para entender a frase: “reino de sacerdotes”, já que não pode significar oferecer sacrifícios no altar. Mas isto não pode ser dito de toda a nação, já que quem seriam aqueles que trariam as  ofertas?

E em termos de receber os Dons Sacerdotais: quem seriam aqueles que as dariam? Também, em termos da santidade destes sacerdotes, já foi dito que eles são uma “nação santa”. Assim o verdadeiro significado disto precisa ser que o Criador é sua herança e eles não tem propriedade material pessoal, e “amar o  próximo” engloba toda a Torá. E a frase “nação santa” expressa toda a recompensa, que é a Dvekút ao Criador.

28) Agora podemos entender completamente as passagens precedentes que dizem: “… e agora, se vocês ouvirem a Minha Voz e guardarem a Minha Aliança …”, ou seja, que serão para Mim um Modelo (Segulá) e que através deles todas as centelhas da purificação corpórea passarão à todas as nações e pessoas do mundo, já que as outras nações não estão preparadas para isto, e Eu preciso uma nação para começar este processo agora, uma nação que se tornará Minha Nação Modelo para preparar todas as nações. Este é o porquê a passagem termina com: “porque todo o mundo é Meu”, isto é dizer, todas as nações do mundo pertencem a mim assim como você, e no fim eles farão adesão a Mim (veja Item 20).

Mas por agora, enquanto eles ainda não estão preparados para este papel, Eu preciso de uma Nação Modelo e se vocês concordarem com isto – se forem Minha Nação Modelo entre todas as nações – Eu os ordenarei a serem Meu “reino de sacerdotes”, que é a realização do amor fraternal como no “Ame ao próximo como   a ti mesmo”, que é o centro de toda a Torá e Mitzvot, resultando em “uma nação santa”, que é a forma derradeira da recompensa da Dvekút com o Criador, que inclui todas as recompensas que você possa possivelmente  oferecer.

Isto é o que os sábios estavam se referindo em suas explicações no fim de: “… estas são as palavras que você dirá aos filhos de Israel” (Deuteronômio 1:1). Diz especificamente, “… estas são as palavras …”, “não mais e nem menos”. Ainda que seja difícil imaginar que Moisés adicionaria ou omitiria algo das palavras do Criador para que o Criador tivesse que o alertar. Não há nada como isto em toda a Torá, ao contrário, as escrituras dizem de Moisés: “Ele é o mais leal em toda a Minha casa”. (Números 12:7)

29) Disto é bem entendido que descrevendo a forma derradeira do trabalho como expresso pela frase “reino de sacerdotes”, que é a definição derradeira de “Ame ao próximo como a ti mesmo”, Moisés poderia facilmente ter considerado adiar ou não revelar tudo de uma vez esta mensagem de tal trabalho abrangente elevado, por temor que os Filhos de Israel não queiram desistir de suas possessões materiais, riquezas e propriedades pelo Criador, como exigido pela frase “reino de sacerdotes”.

Isto é semelhante ao que o RAMBAM escreveu: “… é proibido revelar às mulheres e crianças o serviço simples que tem que ser, sem intenção de receber uma recompensa”. Ao invés deve-se esperar até que sejam maturas e sábias o suficiente para ter coragem de colocar isto em ação, como mencionamos acima. Portanto, o Criador antecipou isto e o alertou a não dizer nada menos, mas lhes falar a verdadeira natureza do trabalho em toda sua elevação completamente, como expressado pela frase “reino de sacerdotes”.

Isto é também verdade sobre a recompensa expressa pela frase “nação santa”. Moisés poderia ter considerado a euforia e o prazer elevados implícitos na Dvekút ao Criador, para preparar e os levar a fazer a ação suprema de abrir mão de todas as suas possessões mundanas, como os sacerdotes fazem. Por isto ele recebeu este alerta de Deus também antecipando isto e o alertando a não adicionar nada mais, e não explicar todos os aspectos da recompensa que está incluída pela frase “nação  santa”.

O motivo para isto é que se ele tivesse lhes falado da incrível grandeza da recompensa, eles teriam certamente feito o erro de tomar o trabalho de Deus para receber esta recompensa. Isto teria sido equivalente ao autosserviço e amor egoísta,   e seria corrompido o que iria contra todo o propósito, como explicado acima no Item 13 – leia lá cuidadosamente.

Assim vemos que a forma do trabalho expressada pela frase “reino de sacerdotes”, Moisés foi instruído a não dizer nada menos; e da conhecida recompensa expressa pela frase “nação santa”, ele foi instruído a não dizer nada mais.

11 Nota do tradutor: o texto Bíblico em Hebraico usa a palavra Segulá, que realmente significa remédio, ou poder, mas aqui no texto traduz como “Nação Modelo”.

12 Nota do tradutor: uma Mitzvá de realizar alguma ação.

MATAN TORÁ (A ENTREGA DA TORÁ)

Do livro “Cabala Para o Estudante”

“Ame ao próximo como a ti mesmo” (Levítico 19:18) Rabi Akiva diz, “Este é um grande princípio na Torá” (Bereshit Raba, Cap. 24)

Esta afirmação dos nossos sábios exige explicação. A palavra princípio (heb. Klal) indica uma soma de detalhes que, quando colocados juntos, formam o princípio acima. Assim, quando o Rabi Akiva diz sobre a Mitzvá, “ame ao próximo como a ti mesmo”, que este é um grande princípio na Torá, nós devemos entender que o resto das 612 Mitzvot (preceitos) na Torá, com todas suas interpretações, não são nem mais e nem menos que a soma dos detalhes inseridos e contidos nesta única Mitzvá (singular para Mitzvot), “ame ao próximo como a ti  mesmo”.

Isto é muito intrigante, pois você pode dizer isto em relação às Mitzvot entre o homem e seu próximo, mas como é possível que esta única Mizvá contenha todas as Mitzvot entre homem e Deus, que são a essência e a vasta maioria da  Torá?

2) E se ainda pudermos nos esforçar para encontrar um modo de reconciliar estas palavras, chega-nos um segundo dito, ainda mais evidente, sobre um convertido que se apresentou a Hilel (Shabat 31a) e lhe disse: “Ensina-me toda a Torá enquanto eu fico num pé só”. E ele respondeu: “Não faça aos outros o que você não gostaria que eles fizessem a você” (a tradução de “ame ao próximo como a ti mesmo”), e todo o resto é comentário; vá e estude.

Esta é uma indicação clara que nenhuma das outras 612 Mitzvot da Torá é mais importante do que a Mitzvá, “ame ao teu próximo como a ti mesmo”, já que todo seu propósito é nos permitir observar a Mizvá de amar nosso amigo corretamente. Hilel diz especificamente que “…todo o resto é comentário; vá e estude”. Isto significa que todo o resto da Torá é um comentário desta única Mitzvá, e é impossível cumprir a Mitzvá de amar ao seu amigo perfeitamente sem  isto.

3) Mas antes de nos aprofundarmos no cerne da questão, devemos olhas para a estrutura desta Mitzvá “ame ao próximo como a ti mesmo” porque as palavras “como a ti mesmo” implicam que você precisa amar seu amigo no mesmo grau que você ama a você mesmo, e nada menos que isso. Em outras palavras, que eu devo estar sempre pronto para satisfazer as necessidades de cada um dos indivíduos da nação Israelita, não menos do eu estou sempre pronto para satisfazer minhas próprias necessidades.

Isto é completamente impossível, pois não existem muitas pessoas cujo trabalho diário seja suficiente para satisfazer suas próprias necessidades, então como eles podem esperar satisfazer as necessidades de uma nação inteira? Nós não podemos pensar que a Torá estava exagerando, pois a Torá nos diz: “…não adicione  e nem subtraia …,” (Deuteronômio 13:1) indicando que estas palavras das leis e regras da Torá são precisas e exatas.

4) E se isso ainda não for o suficiente para você, eu adicionarei que a simples explicação dessa Mitzvá de “amar o próximo” é ainda mais rigorosa, pois nós precisamos colocar as necessidades do nosso próximo à frente das nossas próprias. Isto é o que Tosafot escreveu em nome do Talmud de Jerusalém (Kidushin 20a) quanto ao verso “que ele esteja bem contigo” (Deuteronômio 15:16), que se refere ao servo Hebreu. E estas são suas palavras: “Se uma pessoa tem apenas um travesseiro, e dormir nele e não der ao seu servo, ele não está cumprindo: ‘que ele esteja bem contigo’, porque dorme no travesseiro e o servo dorme no chão. E se ele não dormir nele e também não der ao seu servo, este é um atributo Sodomita. Nós vemos que o mestre é obrigado a dar o travesseiro ao seu servo e então dormir no chão”, fim de suas palavras – leia-as cuidadosamente.

Da explicação acima nós podemos aprender e expandir no preceito de amar ao próximo porque aqui também o livro diz que a pessoa deve satisfazer as necessidades de seu amigo assim como satisfaz as suas próprias como no exemplo “que ele esteja bem contigo”, relativo ao servo Hebreu. A Halachá declara que se uma pessoa tem apenas uma cadeira enquanto que seu próximo não tem nenhuma cadeira, e ele não a der para ele, ele viola o preceito de “ame ao próximo como a ti mesmo”, porque ele não está satisfazendo as necessidades do amigo como satisfaz as suas próprias.

E se ele não se sentar na cadeira e nem a der ao seu amigo, isto é considerado um atributo tão mal quanto o dos Sodomitas, e ele é obrigado a dar a cadeira ao seu amigo para que ele sente nela enquanto ele senta no chão ou fique em pé. É claro que este princípio se aplica a todas as necessidades e carências de seus próximos. Agora considere, esta Mitzvá é de alguma forma praticável?

5) Primeiro nós precisamos entender por que a Torá foi dada especificamente à nação Israelita e não igualmente à todas as pessoas no mundo.  Isto é devido ao nacionalismo, Deus proíba? É claro que só um louco poderia pensar assim. E a verdade é que os sábios já lidaram com esta questão e isto é o que eles dizem (Avodá Zará, pg. 2b): “Deus ofereceu a Torá para todas as nações e línguas, e elas não  a aceitaram”.

Mas como nós vamos entender isto? Pois se é assim, por que nós somos chamados de “o povo escolhido de Deus”, conforme é dito “… o Senhor vosso Deus vos escolheste” (Deuteronômio 7:6) se nenhuma outra nação queria a Torá? E além disso, estas coisas são contraditórias em sua essência, pois é possível que o Criador chegou a estas nações (espiritualmente) selvagens daquele tempo com a Torá em   Sua mão e negociou com elas? Nem os seus profetas. Tal coisa nunca foi ouvida antes e é inconcebível e inaceitável.

6) No entanto, quando nós entendermos bem o suficiente a essência da Torá e das Mitzvot que nos foram dadas, assim como o que é esperado de sua realização no nível que os sábios nos instruíram, que é o propósito da grande Criação que contemplamos, então nós compreenderemos tudo. Pois é evidente que não se realiza uma ação sem um propósito, e não existem exceções a esta regra exceto no caso dos tolos ou crianças. Portanto, nós não podemos ter qualquer dúvida sobre o Criador, cuja exaltação está além do nosso entendimento, dizendo que Ele realizaria qualquer ação, grande ou pequena, sem um propósito.

E nossos sábios nos ensinaram que o mundo foi criado apenas para o propósito de observar a Torá e as Mitzvot, ou seja, assim como nossos antigos sábios de abençoada memória explicaram, que desde o momento da Criação,  a intenção do Criador era revelar a Criação de Sua Divindade. E o conhecimento de Sua Divindade é transmitido aos criados através da recompensa agradável  que Ele provê que cresce até que atinja  o  grau  desejado.

Ao receber esta beneficência os inferiores são elevados através  do verdadeiro reconhecimento disto, que é se tornar a  carruagem da Sua Santidade  e aderir a Ele até que eles atinjam  sua perfeição derradeira: “Nenhum olho  viu um Deus além de Ti” (Berachot 34b). Já que esta perfeição é tão grande e esplêndida, mesmo a Torá e os Profetas foram cuidadosos para não mencionar mesmo uma palavra disto. Como os sábios aludiram: “Todos os profetas profetizaram apenas sobre os dias do Messias, mas sobre o Mundo Vindouro: ‘Nenhum olho viu um Deus além de Ti’”. Isto é conhecido para aqueles que encontram o conhecimento, e este não é o lugar para expandir nisto.

Essa perfeição é expressa nas palavras da Torá, da Profecia, e nas palavras dos sábios por uma simples palavra, Dvekút (adesão). Esta palavra é tão comumente usada pelas pessoas que ela está próxima de perder seu significado. Mas se você pensar  sobre  esta  palavra  por  um  momento,  você  ficará  espantado  com  sua incrível elevação, pois se você imaginar o conceito de Divindade em comparação com a elevação do Criador, você será capaz de estimar a  magnitude  da  capacidade da Dvekút de um com o outro, e então você entenderá porque nós consideramos este conceito  como  o  propósito de  toda esta grande Criação.

Do que nós dissemos, ao aplicar as Mitzvot da Torá, é concluído que todo o propósito da Criação é que todas as criações inferiores evoluam e elevem ainda mais alto, até que sejam recompensadas com Dvekút com seu Criador.

7) No entanto, aqui os Sábios do Zohar pararam e perguntam: “Por que nós já não fomos criados desde o início nessa elevada dimensão de Dvekút com o Criador? Qual foi o Seu propósito em nos sobrecarregar com esta luta e esforço da Criação, e da Torá e suas Mitzvot? E eles responderam: “Aquele que come aquilo que não é seu, tem medo de olhar em sua face” (Talmud de Jerusalém, Orla, 1). Isto significa que aquele que come e desfruta do trabalho do seu amigo tem medo de olhar em sua face, porque ao fazê-lo torna-se cada vez mais humilhado até que perca toda a dignidade (lit. forma) humana. E já que não podem haver atalhos no que deriva de Sua perfeição, o Criados nos deu espaço no qual possamos ganhar por nós mesmos a desejada elevação através das nossas ações de aplicar a Torá e suas  Mitzvot.

E estes conceitos são extremamente profundos e eu já os expliquei no meu livro Panim Me’irot uMasbirot para a Árvore da Vida, Ramo Um, e no livro, O Estudo das Dez Sefirot, Reflexão Interna, Parte Um. Aqui eu vou explicar brevemente para torná-las compreensíveis para todos.

8) Isto pode ser comparado na forma de uma analogia com um homem rico que chamou um homem no mercado e o alimentou, deu-lhe o de beber, e deu-lhe prata e ouro e todas as coisas desejáveis, dia após dia. E cada dia ele dava mais do que no último, e assim por diante até que finalmente o homem rico o perguntou: “Diga-me, todos os teus desejos foram satisfeitos?” E ele respondeu, “Todos os meus desejos ainda não foram satisfeitos, pois quão maravilhoso e quão agradável seria se eu tivesse toda essa riqueza e luxúria vindo para mim através das minhas próprias ações, como vieram a ti, ao invés de estar recebendo através de tua caridade”. E o homem rico respondeu, “Neste caso, nunca nasceu uma pessoa que poderia satisfazer os seus desejos”.

E é natural que mesmo se, por um lado, prove grande prazer que aumenta conforme os presentes aumentam, e por outro lado é difícil para ele sofrer o constrangimento de receber estes benefícios que o homem rico aumenta vez após  vez, porque é uma Lei da Natureza que um recipiente sempre sentirá algum tipo de vergonha e impaciência quando receber um presente gratuito daquele que dá por caridade e piedade.

E disto derivamos uma segunda lei, que não há ninguém no mundo que possa completamente satisfazer os desejos do seu próximo, porque no fim, não pode dar ao outro o senso e o sentimento de autorrealização que é necessário para atingir a perfeição desejada.

E vemos que isto é verdade apenas para os criados, e não é aplicável à exaltada perfeição do Criador. Este é o motivo pelo qual Ele planejou as coisas para que possamos lutar e trabalhar através da Torá e das Mitzvot para atingir nossa própria exaltação, assim que todo o prazer e bondade que vem para nós por Ele, isto é, no conceito da Dvekút com Ele, é ganhado por nós através de nossas ações, e então sentimos a verdadeira possessão sem a qual não há senso de realização, como explicamos.

9) No entanto, é apropriado para nós examinar o significado e a origem desta lei natural: qual é a fonte e por que sentimos vergonha e impaciência quando recebemos caridade de alguém? Isto é o que aprendemos da lei conhecida pelos estudiosos da natureza: que a natureza de cada ramo é próxima e igual àquela da sua raiz, e todas as coisas em relação à raiz também se aplicam ao ramo, e o ramo as ama, deseja e deriva sua utilidade delas. E o oposto, há aquelas coisas que não se aplicam à raiz que o ramo também se afasta e não pode tolerar e é também danificado por elas. E esta lei se aplica a toda raiz e ramo sem exceção.

Isto nos dá uma abertura para entender a origem de todos os prazeres e tormentos do nosso mundo. Já que o Criador é a raiz de todas as criações que Ele criou, portanto todas as coisas que estão incluídas nEle e atraídas por Ele diretamente, são prazerosas a nós, já que nossa natureza é próxima a nossa exaltada raiz. Por outro lado, todas as coisas que não se aplicam a Ele e não são atraídas por nós diretamente, mas através da natureza da própria criação, vai contra nossa natureza e são difíceis para nós tolerarmos. Isto quer dizer, nós amamos o descanso   e odiamos o movimento, tanto que não fazemos nenhum movimento a menos que seja para atingir o descanso. Isto é porque nossa raiz não é uma de movimento, mas sim de descanso e movimento não se aplica a Ele. Portanto vai contra a nossa natureza e não gostamos disto.

Da mesma forma amamos a sabedoria, a bravura, a riqueza etc., porque todas estas são incluídas nEle que é nossa raiz. Este é o porquê odiamos seus opostos, como ignorância, fraqueza e pobreza, porque elas não podem ser encontradas na nossa  raiz, nos fazendo rejeitar, não gostar e odiá-las. Elas também nos fazem sofrer intoleravelmente.

10) Este é o motivo para nossos sentimentos defeituosos de vergonha e impaciência quando recebemos caridade dos outros. O Criador não tem aspecto de receber benefício dos outros em sua natureza. Pois de quem Ele receberia? E já que este conceito não se aplica à nossa raiz, que é o Criador, nós não gostamos disto, como Por outro lado, sentimos prazer, doçura e conforto quando nós compartilhamos com os outros, já que isto se aplica à nossa raiz que compartilha com todos.

11) Agora nossos olhos foram abertos para examinarmos o propósito da Criação, que é “Aderir-se a Ele”, com sua verdadeira natureza. Todo este conceito de elevação e Dvekút que é assegurado a nós através de nossa aplicação na Torá e suas Mitzvot não é mais e nem menos que o processo dos ramos tornando-se em afinidade com sua exaltada raiz, pelo qual tudo o que é agradável, eufórico e agradável vem naturalmente, como explicamos acima. Este prazer é nada mais que obtenção de uma Similaridade de Forma com seu Fazedor, assim quando nos transformamos para nos tornarmos iguais em cada detalhe com nossa raiz, sentimos o deleite.

Além disso, tudo que acontece conosco que não é encontrado em nossa raiz torna-se intolerável, repulsivo e doloroso, como este conceito deixou claro. Assim é natural que todas as nossas esperanças dependam de quão bem sucedidos estamos em atingir Similaridade de Forma com nossa raiz.

12) Este é o porquê nossos sábios perguntaram: “Por que Deus se importa se nós abatemos do pescoço ou de trás do pescoço? Afinal, as Mitzvot foram dadas apenas para purificar a humanidade”. (Bereshit Raba 44) E o significado deste processo de purificação é a purificação do corpo sombrio, que é o propósito de observar a Torá e Mitzvot.

“Um asno selvagem se tornará homem” (Jó 11:12), porque quando nasce está no nível máximo de imundície e inferioridade, isto é, há muito amor egoísta inerente nele, pelo qual todas as suas ações são centradas em si mesmo sem nenhum traço de pensamento de compartilhar com os outros.

Assim está na maior distância possível da sua Raiz. Está diametralmente oposto, porque a Raiz apenas compartilha com os outros sem um pensamento de receber, Deus proíba. O recém-nascido está em um estado total de receber para si mesmo sem um único pensamento de compartilhar com os outros, e portanto é considerado estando no ponto mais baixo da inferioridade e imundície no nosso mundo humano.

E quanto mais cresce, mais recebe medidas parciais de “compartilhar com os outros” de seu ambiente, que é dependente do desenvolvimento de valores do seu ambiente. Ele é então ensinado a cumprir a Torá e Mitzvot para seu próprio benefício – para uma recompensa neste mundo e no Mundo Vindouro. Isto é considerado Lo Lishmá (não em Nome Dela), já que é impossível fazer uma criança se acostumar em alguma outra forma.

E conforme cresce, lhe é mostrado como aplicar-se em Torá e Mitzvot Lishmá (em Nome Dela), ou seja, que os faz apenas para dar prazer ao seu Criador. Conforme o RAMBAM (Maimônides) disse, “Mulheres e crianças não devem ser ensinadas a aplicarem-se em Torá e Mitzvot Lishmá, pois elas não são capazes de carregar a carga do conceito. Apenas quando se maturam e adquirem sabedoria e entendimento isto deve ser ensinado a elas”. (Hilchot Teshuva, Leis do Arrependimento, Capítulo 10) E como os sábios disseram, “Ao aplicar A Torá Lo Lishmá, chega-se eventualmente a Lishmá” (Pesachim página 50b), ou seja, estudando a Torá e aplicando os preceitos na sua vida com a única intenção de dar prazer para seu Criador, e não para seu amor egoísta.

O Criador conhece os poderes inerentes que existem na Torá e Mitzvot Lishmá quando aplicados na vida, como os sábios nos dizem: “O Criador disse, ‘Eu criei a má inclinação e criei a Torá como remédio.’” (Kidushin 30b) Assim vemos que a pessoa continua a desenvolver e mover-se através dos níveis de elevação até que perca todas as centelhas de amor egoísta, e todas as Mitzvot em seu corpo são elevados e todos os movimentos que faz é apenas para beneficiar os outros. Então até mesmo as necessidades básicas que precisa receber são canalizadas para compartilhar com os outros. É por isto que nossos sábios disseram, “As Mitzvot foram dadas apenas para purificar as criaturas do nosso mundo”. (Midrash Raba, capítulo  44).

13) De fato, vemos que existem dois tipos de princípios da Torá: 1) Mitzvot entre o homem e o Criador; e 2) Mitzvot entre o homem e seu próximo. Ambos tem o mesmo propósito, que é trazer a criatura a seu propósito derradeiro de Dvekút com o Criador, como explicamos.

Além disso, mesmo a aplicação prática destes dois é a mesma, já que quando uma pessoa realiza um ato Lishmá, sem mistura de amor egoísta, isto é, sem derivar algum benefício pessoal, então sentirá nenhuma diferença independente se está agido por amor ao seu próximo ou seu amor pelo  Criador.

É uma Lei da Natureza que tudo percebido pelas criaturas como sendo externo a si mesmo parecerá vazio e como se não fosse parte deste reino, assim toda ação de amor aos outros que uma pessoa faz é motivado pelo sentimento da Luz Retornante a si ou tendo esperança de obter uma recompensa que é benéfica apenas para si mesmo. Portanto estas ações não podem ser verdadeiramente chamadas “amar outras pessoas” pois elas são definidas por suas consequências. Isto pode ser comparado à um salário que só é pago após a conclusão.

E em todo caso uma ação realizada por um salário não pode ser considerada amar os outros, sem um aspecto de centelhas da Luz Retornante para si e alguma esperança de recompensa que advirá, é completamente impossível de acordo com a Lei da Natureza. E em relação a tais coisas o Tikúney Zohar, Tikun 30:10 fala às nações do mundo dizendo: “Todo ato de bondade feito é feito por benefício  próprio”.

Ou seja, que todo ato de bondade que fazem para seus próximos ou em servir aos seus deuses não é por amor aos outros, mas por amor egoísta, e isto é porque seria contra a natureza humana, como explicamos.

Portanto, apenas aqueles que guardam a Torá e Mitzvot são capazes disto. Ao se acostumarem a guardar a Torá e as Mitzvot para trazer contentamento ao seu Fazedor, gradualmente separam a si mesmos do seio da natureza humana e adquirem uma segunda natureza, que é o acima mencionado amor aos  outros.

Este é o porquê os sábios do Zohar excluíram as nações do mundo completamente da característica de amar os outros e disseram que todo ato de bondade que fazem é apenas para seus próprios benefícios, já que não tem nada que ver com a aplicação da Torá e Mitzvot Lishmá. O propósito de todas as adorações de seus deuses é pelo bem de recompensa e redenção neste mundo e no próximo, e assim vemos que sua adoração aos deuses é procedente do amor egoísta. Em todo caso, eles nunca tomarão uma ação de valor que será fora do âmbito do seu próprio corpo; que levantem a si mesmos e sequer um fio de cabelo acima do chão da natureza humana.

14) Assim vemos com nossos próprio olhos que não há diferença entre estes dois tipos de preceitos da Torá, em termos de aplicarem-se à Torá e Mitzvot Lishmá, mesmo em termos da aplicação prática da Torá. É uma necessidade que, antes que seja recompensado, todas as ações em relação aos outros, seja em relação ao Criador ou em relação a outras pessoas, parecem ser vazias e imperceptíveis. No entanto, através de grande esforço pode elevar-se gradualmente e atingir uma segunda natureza, como mencionado acima, e então imediatamente atinge a meta final, que é a Dvekút com o Criador, como explicamos.

Já que isto é assim, a lógica dita que a parte da Torá em relação ao homem e seu próximo é mais capaz de trazer o homem à sua meta desejada. E já que o cumprimento das Mitzvot entre o homem e o Criador é predeterminada e específica, e não há feedback nisto, e acostuma-se a eles facilmente, qualquer coisa que é feita por hábito não é mais capaz de trazer algum benefício, como bem conhecido. Isto não é verdade nas Mitzvot em relação ao homem e seu próximo, que não são predeterminados ou específicos. Eles são muito exigentes que se transforme, e, portanto, sua capacidade é mais assegurada e é mais fácil e mais próximo de atingir   a meta através deles.

15) Agora podemos entender claramente as palavras de Hilel HaNasi para o convertido, onde ele declara que a essência da Torá é “Ame ao próximo como a ti mesmo e as outras seiscentas e doze Mitzvot são um comentário e preparação para este”, (veja acima no Item 2). Mesmo as Mitzvot em relação ao homem e o Criador são incluídas nesta Mitzvá, já que é a meta derradeira de toda a Torá e Mitzvot, como os sábios disseram: “A Torá e Mitzvot foram dadas apenas para purificar os Israelitas”, (veja acima no Item 12), que significa a purificação do corpo ao ponto onde adquire uma segunda natureza que é definida como amar os outros, isto é, a única Mitzvá de “Ame ao próximo como a ti mesmo”, que é a meta derradeira da Torá, depois da qual brevemente atinge a Dvekút com o Criador.

Não há necessidade de perguntar por que isto não é definido pelas palavras: “Ame o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a alma e com todo o  teu poder” (Deuteronômio 6:5), pois de acordo com o motivo explicado acima, não há diferença entre o amor do Criador e o amor aos outros.

Isto é porque aquele que ainda está sujeito à natureza humana, já que tudo externo a si mesmo não é real e não existe. E já que este converso perguntou o Hilel HaNasi para explicar a essência do que a Torá requere em uma forma que sua meta seria fácil para atingir e próximo de encontrá-la, dizendo, “Me ensine toda a Torá enquanto pulo de um pé só”, o Hilel definiu isto como o amor aos outros, já que esta meta é a mais próxima e rápida a ser revelada (veja acima no Item 14), pois é seguro e pode ser cumprida sem erro e é acompanhada com um mecanismo de feedback firme.

16) Nisto encontramos uma abertura para entender como a Torá demanda algo de nós que não possamos cumprir, (veja acima nas Seções 3 e 4 especificamente o conteúdo da Mitzvá “Ame ao próximo como a ti mesmo”). Leia isto atentamente e entenda!

Este é o motivo pelo qual a Torá não foi dada para nossos santos patriarcas Abraão, Isaac e Jacó, mas foi adiada até o Êxodo do Egito; apenas quando eles se tornaram uma nação completa de seiscentos mil homens acima da idade de vinte anos. Todo membro da nação foi perguntado se concordava com este trabalho elevado. E apenas quando cada uma das pessoas na nação concordou com todo seu coração e alma e disse “Faremos e ouviremos” (Êxodo 24:7), apenas então foi possível cumprir o princípio de toda a Torá, que é deixar o reino da impossibilidade e entrar no reino da possibilidade.

Pois então é absolutamente certo, se seiscentos mil homens tirarem sua atenção de suas próprias necessidades e concordar em adiá-las por outra atividade e devotarem-se na certificação que nenhum de seus amigos próximos careçam de algo, e fizeram assim com incrível amor, com todos seus corações e com todas suas almas  e completamente cumprissem a Mitzvá “Ame ao próximo como a ti mesmo”, então não há dúvida que nenhum homem da nação precisaria se preocupar com seu próprio sustento

Através disto, cada pessoa tornou-se absolutamente livre da preocupação de seu próprio sustento e podia facilmente guardar a Mitzvá “Ame ao próximo como a ti mesmo” de acordo com todas as condições explicadas nas Seções 3 e 4. Pois como alguém poderia se preocupar com seu próprio sustento quando seiscentos mil amigos amados e leais estavam constantemente se certificando que todas as suas necessidades  fossem satisfeitas?

Assim, depois que todos os membros da nação concordaram com isto, a Torá foi imediatamente entregue a eles, já que eram então capazes de cumpri-la. Antes de eles atingirem o tamanho de uma nação completa, falando do tempo dos patriarcas, quando eram poucos, não eram verdadeiramente capazes de cumprir a Torá propriamente, já que um pequeno número de pessoas não pode mesmo começar a se envolver nas Mitzvot em relação ao homem e seu próximo à extensão de “Ame ao teu próximo como a ti mesmo” como explicado nas Seções 3 e 4, é por isto que a Torá não foi entregue a eles.

17) Assim podemos entender um dos ditos mais assombrosos dos sábios: “Todos os Israelitas são responsáveis uns pelos outros” (Midrash Raba, Shir HaShirim 7:14) que parece totalmente injustificável. É possível se outra pessoa pecar, ou transgredir e se irritar com seu Criador, e eu nem mesmo a conheça nem tenha nada a ver com ela, que o Criador me fizesse pagar por sua transgressão? Há uma passagem na Torá que diz: “Pais não serão mortos pelos pecados de seus filhos. Cada pessoa deve ser mota por seu próprio pecado”, (Deuteronômio 24:16), assim como pode ser dito que eu sou responsável pelos pecados de um completo estranho, de quem você não conhece nem ele, nem seu paradeiro?

E como se isto não fosse suficiente, no Tratado Kiddushin, pg. 40b, é dito, “Rabi Elazar filho do Rabi Shimon disse, ‘Já que o mundo é julgado pela maioria, e o indivíduo é julgado pela maioria, aquele que cumpre uma Mitzvá faz com que ele mesmo e o mundo todo aponte a escala do mérito; e ai daquele que comete uma transgressão, pois ele faz com que ele mesmo e o mundo todo aponte para a escala do demérito, como está escrito: ‘Um pecador causa a perda de muitos bens’”.

Dizendo isto, Rabi Elazar filho do Rabi Shimon nos faz responsáveis pelo mundo todo, pois em sua opinião todas as pessoas no mundo são responsáveis umas pelas outras. Cada pessoa provoca ou o mérito ou o demérito para o mundo todo através de suas ações. E este é um grande enigma.

No entanto, de acordo com o que explicamos acima, suas palavras são precisas e simples, já que claramente provamos que todas as 613 Mitzvot na Torá revolvem ao redor desta única Mitzvá “Ame ao próximo como a ti mesmo”, e não pode ser cumprida a menos que toda a nação, cujos todos membros, estejam prontos para fazer isto.

ASSOCIAÇÃO DA MISERICÓRDIA COM O JULGAMENTO

Do livro “Cabala Para o Estudante”

A essência do trabalho é a escolha, isto é “então escolha a vida”, que é Dvekút (adesão), Lishmá (em Nome Dela). Então, a pessoa é recompensada com Dvekút com a Vida das Vidas.

Mas quando há Providência aberta, não há espaço para escolha. Por este motivo, o Superior elevou Malchut, que é Midat haDin (qualidade de julgamento) aos Eynaim (olhos). Isto criou uma ocultação, isto é tornou-se aparente ao inferior que há uma carência no Superior, que não há Gadlut (grandeza) no Superior. Nesse estado, as qualidades do Superior são colocadas com o inferior; isto é, elas são carentes.

Segue-se que estes Kelim (vasos) são iguais ao inferior: pois se não há sustento ao inferior, não há sustento às qualidades Superiores. Isto significa que não há sabor na Torá e Mitzvot; já que estão sem vida.

Nesse estado, há espaço para escolha, isto é o inferior deve dizer que toda esta ocultação que ele sente é porque o Superior se restringiu a Si mesmo em favor do inferior. Isto é chamado, “quando Israel está em exílio, a Divindade está com eles”. Então, qualquer sabor que prove, este diz que não é sua culpa por não provar  a vivacidade, mas que na sua visão não há verdadeiramente vida  no Superior.

Então, quando o inferior vê a grandeza do Superior, através dela, o inferior em si cresce. Mas no principio, o inferior é digno de receber apenas Katnut (pequenez). E quando Gadlut (grandeza) surge no Superior, há uma divisão entre a direita e esquerda, entre acreditar e conhecer.

Mas o Superior, também, é então diminuído pelo inferior, considerado coma Massach de Chirik. Em outras palavras, para que o inferior receba os graus do Superior, para receber conhecimento apenas pela medida de fé, e não além, isso é considerado que o inferior restringe a linha esquerda do Superior. Isto é, o inferior  é a causa. E então, o inferior pode existir porque este é compreendido tanto de conhecer quanto de acreditar. Isto é chamado “três linhas”, e é especificamente desta maneira que o inferior recebe a perfeição.

E se ele se torna fortalecido e diz que o sabor amargo que descobre nestes alimentos é apenas porque ele não tem os vasos adequados para receber a abundância, porque os seus vasos são de recepção e não de doação, e se arrepende que o Superior tenha de esconder a Si mesmo, que permite ao inferior a caluniar, isto é considerado MAN que o inferior eleva. Através dele, o Superior eleva o seu ACHAP, e ascensão significa que o Superior pode mostrar ao inferior o louvor e deleite nos vasos do ACHAP que o Superior pode revelar. Então, em respeito ao inferior, o Superior eleva o GE do inferior, pela visão do inferior do mérito do Superior. Resultando assim que o inferior se eleve juntamente com o ACHAP do Superior.

O TRABALHO É O MAIS IMPORTANTE

Do livro “Cabala Para o Estudante”

Meu querido filho, Baruch Shalom,

Eu recebi tua carta e felicito-te pela Semichá (ordenação rabínica) que obtiveste. Esta foi à primeira parede que bloqueava teu caminho de avançar. Eu espero que deste dia em frente venhas a ser bem sucedido e avance de força em força, até que entres no Palácio do Rei.

Eu gostaria que obtivesses outra Semichá, mas deste dia em frente, apresse-te para passar a maior parte do tempo preparando teu corpo para reunir força e coragem “como um boi para o fardo e um burro para a carga” de forma a não perder mesmo um único momento.

E caso perguntes, “Onde está esta preparação?” Eu te direi que no passado, era necessário obter todos os sete ensinamentos seculares e atravessar terríveis autotormentos antes de alcançar o Criador. Contudo, não muitos foram recompensados com o favorecimento do Criador. Mas dado que fomos recompensados com os ensinamentos do Ari e o trabalho do Baal Shem Tov, está verdadeiramente ao alcance de todos, e nenhuma preparação adicional é requerida.

Caso teus pés trilhem sobre esses dois, e com a misericórdia de Deus sobre mim, eu fui favorecido por Ele, e eu os recebi com ambas minhas mãos, e minha mente é tão próxima a ti como um pai é próximo ao seu filho. Eu certamente as passarei a ti quando fores digno de receber boca a  boca.

Mas o mais importante é o trabalho, desejar labutar no Seu trabalho. Isto é porque o trabalho comum não conta nada, mas apenas os pedaços que estão além  do comum, que são chamados “trabalho”. É como uma pessoa que precisa de um quilo de pão para saciação – toda a sua refeição não é considerada uma refeição saciatória, exceto o último pedaço do quilo. Esse pedaço, por toda a sua pequenez, faz a refeição saciatória. Similarmente, por cada trabalho, o Criador retira apenas o excesso além do comum, e estes se tornarão as Otiyot (letras) e os Kelim (vasos) para   a recepção da Luz da Sua face.

O SENHOR É TUA SOMBRA

Do livro “Cabala Para o Estudante”

O Baal Shem Tov deu um claro sinal para saber quanto o Criador está brincando consigo – ao examinar o seu coração e ver o quanto a pessoa está brincando com o Criador. Assim são todos os assuntos, por meio de “o Senhor é tua sombra”.

Então, o que ainda sente alguma diferença entre “conhecer” e “acariciar” ainda precisa unir o coração. Isto é assim, pois da perspectiva do Criador, eles são um e o mesmo, e o Criador habita verdadeiramente no coração de todos de Israel. Isto é assim da Sua perspectiva. Então, de que precisamos? Apenas de conhecê-lo. A consciência muda e a consciência completa, e este é significado de “o Senhor é tua sombra”.

UMA ALEGORIA SOBRE O FILHO DO HOMEM RICO NO PORÃO

Do livro “Cabala Para o Estudante”

Pelo visto devemos ser precisos com a palavra Teshuvá (arrependimento/retorno); que deveria ter sido chamada “completude” – que tudo é predeterminado e cada alma já se encontra na sua mais alta Luz, beneficio e  eternidade.

Foi apenas pelo Nahama de Kissufa (pão da vergonha) que a alma surgiu no segredo das restrições, até que vestisse o corpo obscuro, e apenas através do próprio mérito ela retorna à sua raiz anterior à restrição. E sua recompensa é por meio de todo o terrível caminho que atravessou, que a real recompensa é a verdadeira Dvekút. Isto significa que se livrou do pão da vergonha, dado que seu vaso de recepção foi invertido em vaso de doação e sua forma é igual ao seu  Criador.

Agora você compreende que se a descida é pelo propósito de ascensão ela é considerada como ascensão e não como descida. E certamente, a descida em si é a ascensão, dado que as próprias letras da oração estão cheias de abundância, enquanto que com uma curta oração a recompensa fica aquém pois lhe faltarão letras. Também, nossos sábios disseram, “Se Israel não tivesse pecado, eles apenas teriam recebido os cinco livros de Moisés e o livro de Josué”.

Ao que isto se parece? É como um homem rico que tinha um filho jovem. Um dia, o homem teve que viajar para longe por muitos anos. O homem rico temia que seu filho dispersasse suas posses imprudentemente; então, ele orquestrou um plano e trocou as suas posses por gemas e joias e ouro. Ele também construiu um porão, fundo no chão, e trancou todo o seu ouro e joias lá, juntamente com seu filho.

Então ele chamou seus servos leais e ordenou-lhes a cuidar de seu filho e não o deixar sair do celeiro até que ele tivesse vinte anos de idade. Todo o dia, lhe levavam lá abaixo a sua comida e bebida, mas sob nenhuma condição levariam abaixo fogo e velas. E deveriam também inspecionar as paredes por rachas, para que nenhuma luz do sol penetrasse. E para a sua saúde, eles o tiravam do porão durante uma hora por dia, e andavam pelas ruas com ele, mas cuidadosamente observando, para que ele não escapasse. E quando ele fizesse os vinte, eles o dariam velas e abririam uma janela e o deixariam sair.

Naturalmente, a dor do filho era imensurável, especialmente quando ele andava no exterior e via todos os jovens comendo e bebendo e rejubilando nas ruas, sem guardas e sem um tempo limitado, enquanto que ele estava aprisionado com apenas alguns momentos de luz. E se ele tentasse correr, ele seria espancado sem misericórdia. E ele ficava mais magoado e deprimido quando ele ouvia que o seu próprio pai tinha lhe trazido toda esta dor sobre ele, pois eles eram servos de seu pai, executando a ordem de seu pai. Claramente, ele pensava que o seu pai fosse o homem mais cruel de todos os tempos, pois quem alguma vez ouviu tal coisa?

No dia do seu vigésimo aniversário, os servos penduraram uma vela, como seu pai tinha ordenado. O rapaz pegou na vela e começou a examinar o que o rodeava. E o que ele viu? Sacos cheios de ouro e toda a generosidade da realeza.

Apenas então ele compreendeu seu pai – que era verdadeiramente misericordioso – e tudo o que ele tinha feito, ele o fez para seu próprio bem. E ele imediatamente percebeu que os guardas o deixariam sair da adega e ser livre. E assim ele fez; ele saiu do porão, e não haviam guardas, ou servos cruéis, e ele foi o maior de todos os homens ricos da terra.

Na verdade, aqui não há nenhuma inovação, pois se torna aparente que ele era de grande riqueza para começar, todos os seus dias, e ele apenas sentia que era pobre e indigente, e completamente miserável. E agora, num único momento, tinha- lhe sido dada imensa riqueza e elevou-se do mais profundo fosso ao mais elevado cume.

Mas quem pode compreender esta alegoria? Aquele que compreende que os “pecados” são o profundo porão e o guarda cuidadoso ao qual não irá escapar. Então, evidentemente, o porão e o olhar atento são os “méritos” e a misericórdia de seu pai sobre seu filho. Sem eles, seria impossível para ele se tornar tão rico como seu pai.

Mas os “pecados” são “verdadeiros pecados”, não “erros”, e não deve ser forçado. Ao invés, antes que volte à sua riqueza, a emoção supramencionada governa no sentido mais amplo. Mas após retornar à sua riqueza, ele vê que todas estas eram as misericórdias do pai, e não crueldade.

Devemos compreender que toda a ligação de amor entre o pai e seu único filho depende do reconhecimento do filho da misericórdia do pai por ele, no que  diz respeito ao porão, a escuridão e o olhar atento. Isto é porque o filho descobre grandes esforços e sabedoria profunda nestas misericórdias do  pai.

O Sagrado Zohar também fala sobre isso, dizendo que o que é recompensado com arrependimento, a Sagrada Divindade aparece como uma mãe de bom coração que não via a sua criança há muitos dias. E eles fizeram grandes esforços para se verem um ao outro, e como resultado, sofreram grande  perigo.

No fim, a tão esperada liberdade tinha vindo até eles, e mereceram se encontrar. E então a mãe caiu sobre ele e beijou e o confortou, falando suavemente com ele todo dia e toda a noite. Ela contou-lhe do anseio e dos perigos durante o  seu percurso, e como estava com ela desde sempre, e a Divindade não se mexeu, mas sofreu com ele em todos os lugares, apenas ele não podia  vê-la.

Estas são as palavras do Zohar: Ela diz-lhe, “Aqui nós dormimos; aqui fomos assaltados por bandidos, e fomos salvos, e aqui nos escondemos num buraco fundo”. E que tolo não compreenderia a multidão do amor, agrado, e deleite que jorra destas histórias confortantes?

Na verdade, antes de eles terem se encontrado face a face, parecia como tormentas que são mais duras que a morte. Mas com uma נגע  Néga (doença/dor), a  ע Ayin (a última letra na palavra Hebraica) está no fim da palavra. Contudo, quando falando palavras confortantes, a ע Ayin está no princípio da palavra, que é certamente ענג  Oneg (prazer).

Mas estes são dois pontos que brilham apenas assim que existam no mesmo mundo. E imagine um pai e filho que esperavam ansiosamente um pelo outro por dias e anos. No final eles encontram-se, mas o filho estava surdo e mudo, e eles não podiam brincar um com o outro. Assim, a essência do amor está nos prazeres reais.

 

A PESSOA ESTÁ ONDE PENSA

Do livro “Cabala Para o Estudante”

Guarde seus pés de sofrer o abanão dum homem prematuramente, dado que “a pessoa está onde pensa”. Então, quem está certo que não lhe faltará nada, pode concentrar os seus esforços nas palavras da Torá, pois “abençoados se apegam a abençoados”.

Mas com a ausência de confiança, ele terá de labutar, e qualquer labuta é da Sitra Achra, “e o amaldiçoado não se apega ao abençoado”, dado que ele não será capaz de devotar todos os seus esforços às palavras da Torá. Mas se deseja vaguear mar além, este não deve considerar estas palavras, mas voltar à sua rotina o mais rápido possível, como se por compulsão diabólica, para que não disperse suas centelhas em tempos e locais em que ainda não estão  adequadamente unificadas.

E saiba que nenhuma falha é atribuída aos inferiores exceto num tempo e lugar que são permitidos, como é agora. Querendo dizer que se defraudar, arrepender, ou desesperar no presente momento, ele joga fora todos os tempos e todos os lugares no mundo. Este é o significado de “A ira do momento, quanto seu valor? Um momento”.

Então, não pode haver correção a uma pessoa a menos que alinhe todos os momentos presentes e futuros e os dedique ao Seu Grande Nome. E o que rejeita o presente momento, pois é duro revelar a sua tolice a todos – que todos os mundos e todos os tempos não são para ele, pois a luz da sua face não está revestida nos tempos transitórios, embora o trabalho do homem seja necessariamente alterado por eles. Por esta razão, a crença e a confiança acima da razão foram preparadas para nós por mérito de nossos sagrados patriarcas, que o homem os utiliza nos tempos difíceis sem esforço.