A Natureza Da Matéria

Do livro “Cabala, Ciência e o Sentido da Vida”

A Sabedoria da Cabala tem evoluído durante milhares de anos e foi disseminada entre os Cabalistas ao longo da história. Eu gostaria de fazer uma breve revisão dos pontos-chaves neste processo.

  • • O primeiro Cabalista foi o Patriarca Abraão (aproximadamente 1.800 a.C.). O
    Sefer Yetzira (O Livro da Criação) é atribuído a ele.
  • 500 anos depois de Abraão, Moisés escreveu seu Livro da Torá (O Pentateuco), por volta de 1.350 a.C..
  • No século II d.C., o Rabi Shimon Bar-Yochai escreveu o Sefer ha Zohar (O Livro do Esplendor).
  • A Cabala floresceu no século XIX na cidade israelense de Safed, liderada pelo Cabalista Rabbi Isaac Luria Ashkenazi, o Ari (1534-1572). Ele apresentou seu método em seus livros e, atualmente a sabedoria da Cabala baseia-se na Cabala Luriânica (A Cabala do Ari). A Cabala Luriânica relaciona a Cabala a uma ciência: não há meditação, cantos, encantos, amuletos ou desenhos mágicos de letras.
  • O rabino Yehuda Ashlag (1884-1954), conhecido como Baal HaSulam (dono da escada) por seu comentário Sulam (Escada) sobre o Zohar, pavimentou o caminho para nossa geração. Seus escritos permitem com que nos conectemos às antigas e autênticas fontes que os gigantes do passado deixaram para trás.

A Cabala que nós estudamos hoje contém o mesmo conhecimento que foi transmitido desde Abraão através de todas as gerações. Eu tive o privilégio de passar doze anos ao lado do filho mais velho e sucessor do Baal HaSulam, o Cabalista Baruch Shalom Ashlag, e eu dele recebi esse conhecimento.

A sabedoria da Cabala é um método para descobrir a parte oculta da realidade, o reino imperceptível da realidade que nossos cinco sentidos não podem apreender. Ela desenvolve outro sentido em nós, aquele que percebe a realidade que existe além de nossa atual percepção.

A Cabala diz que toda a realidade é constituída por uma substância chamada “desejo de receber prazer”. Este desejo de receber prazer é basicamente o desejo de ser preenchido com alegria e prazer; isso é o que muitas vezes referimos como “egoísmo”. Este desejo de receber opera em todos os níveis de existência: inanimado, vegetal, animado, e falante.

Embora o desejo de receber seja a substância de toda a realidade, o desejo em si não é nem matéria nem átomo, que veio mais tarde. Tudo o que foi criado, que existe como base da realidade, baseia- se no desejo de desfrutar, uma aspiração pelo prazer. Em cada nível de realidade, essa aspiração assume diferentes formas.

Todo Cabalista, sem exceção, de Abraão até o último grande cabalista (Baal HaSulam), sustentou que toda a substância da Criação consiste do desejo de receber. Cada livro de Cabala fala sobre a mesma coisa, e todos os Cabalistas estão de acordo a esse respeito.

Os Cabalistas são pessoas que atingem o Mundo Superior; eles falam sobre a realização real, não sobre teoria. A palavra “realização” refere-se ao último grau de compreensão. Deixe-me tornar as coisas mais fáceis de entender, utilizando alguns desenhos.

Nós dizemos que o desejo de receber é a base da Criação. Ele é criado pela expansão da Luz Superior. (Na Cabala, o termo “Luz” designa dar, doar, amor; ela é referida como “o Criador”). Assim, a Luz criou o desejo de receber que quer ser preenchido com a Luz. Assim, o desejo de receber também é chamado Kli (vaso/recipiente). Veja a Figura 1.

Figura 1

Em outras palavras, o desejo de dar cria o desejo de receber, isto é, a Luz quer que o Kli (vaso) receba o que ela quer lhe dar.

O desejo de desfrutar é o princípio da matéria; a Cabala nomeia-o “matéria primordial”. No entanto, ela ainda não é uma matéria completa, porque neste ponto ela é criada inteiramente pela ação da Luz. Este processo precede a formação de qualquer matéria conhecida por nós, muito tempo antes da formação material do nosso universo.

Uma vez que este desejo de receber origina-se da ação da Luz, ele sente a Luz (o prazer) em um nível mínimo. Neste ponto o desejo de receber não tem nenhum desejo independente pela Luz. Para torná-lo independente e desenvolver ainda mais o desejo de receber, nós precisamos acrescentar outro elemento: a consciência do desejo de sua própria existência.

O Criador (Luz) dá ao desejo de receber a sensação de que ele existe, que há “um Doador”, isto é, algo que lhe dá o prazer que ele está sentindo. Assim, uma vez que o desejo de receber prazer é sentido, ele começa a sentir o doador do prazer dentro do prazer.

Da mesma forma, quando nós recebemos um presente, nós sentimos a atitude do doador em relação a nós, além da doação propriamente dita. Nós devemos observar que quando nos referimos ao Criador, nos referimos na verdade ao doador. Neste estado de coisas, o ser criado (criatura) começa a sentir que há uma colisão entre o prazer e a sensação do doador do prazer (Figura 2). Esta colisão provoca uma reação na criatura, fazendo-a querer ser como o Criador, porque o Criador é maior do que o próprio prazer. Neste ponto, o desejo de receber evolui para o nível seguinte.

Figure 2

Então, o desejo de receber escolhe ser um doador, como o Criador (doador). Esta é a primeira reação da criatura, embora ela ainda não seja uma escolha totalmente independente. Ela é, antes de tudo, uma reação oriunda da sua sensação do doador, o que a torna uma reação obrigatória, derivada inteiramente da presença do doador. Portanto, o desejo de receber não tem livre escolha na questão.

Figure 3

Agora, a criatura começa a contemplar o que ela pode dar ao Criador. O Criador dá porque Ele é a fonte do prazer. Mas quando a criatura também quer dar, ela descobre que não tem nada para dar em troca.

Assim, através da sua necessidade de dar ao Criador, a criatura descobre a natureza do Criador. A criatura descobre o Amor do Criador por ela. No entanto, se o Criador ama a criatura e quer agradá-la, conseqüentemente o Criador deve querer ou precisar de algo. A criatura percebe que a necessidade do Criador é Seu desejo de satisfazer a criatura; quando a criatura aproveita, o Criador também aproveita. Mas quando a criatura não aproveita, nem o Criador aproveita.

Para concretizar o seu desejo de dar ao Criador conforme o Criador dá à criatura, a criatura decide receber o prazer do Criador. Este processo é, de certa forma, semelhante a uma criança que come para agradar sua mãe. Desta forma, mesmo quando a criança recebe o alimento da mãe, ela age como um doador em relação a sua mãe.

Quando a criatura está neste estado de ser, podemos dizer que ela é semelhante ao Criador: ela recebe aquilo que o Criador quer dar, mas apenas para devolver ao Criador. A criatura dá da mesma forma o Criador dá. No entanto, este não é o fim do processo. Agora que a criatura realizou um ato similar ao do Criador, ela sente um prazer adicional: o prazer de ter o status do doador.

Esse prazer cria um novo desejo na criatura: o desejo de desfrutar o status do doador, bem como o desejo que a Luz criou pela primeira vez na criatura. Este novo desejo não vem “de Cima”, e por isso merece o título de “um ser criado”, “uma criatura” (Figura 3).

A raiz da palavra hebraica NIVRA (ser criado) vem da palavra Bar (fora). Assim, o termo “criatura” ou “ser criado” refere-se a algo ou alguém fora da vontade do Criador.

Uma vez que a criatura é formada, ela passa por uma seqüência de estados interligados como conseqüência de causa e efeito. Esses estados são referidos como “Mundos Superiores”. A Luz Superior e o desejo de receber descem através dos Mundos Superiores ao nível mais inferior, chamado de “nosso mundo”.

No nível do nosso mundo, nós somos totalmente controlados pelo desejo de receber e estamos completamente separados da sensação da Luz Superior, o Criador.

Uma vez que o desejo de receber desce ao nosso mundo, torna-se independente da dominação do Criador, pois é somente através dessa separação que o propósito da Criação (tornar o desejo de receber idêntico ao Criador) pode ser realizado. Na Cabala, esta identificação é chamada de “Equivalência de Forma entre a criatura e o Criador”.

A sabedoria da Cabala descreve cada estágio evolutivo do desejo de receber, desde a primeira fase da Criação descendo até o nosso mundo. Ao estudar estas fases, podemos compreender como o mundo material, o tempo, o espaço e o movimento foram todos formados, e como o desejo de receber evoluirá.

Toda a nossa história é determinada pela evolução do nosso desejo de receber; isso pode nos ajudar a entender como a humanidade evolui. Na realidade, todo processo, sem exceção, é o resultado do nosso sempre crescente desejo de receber.

Uma vez que a estrutura espiritual que acabamos de descrever se materializa, a matéria que forma o nosso mundo é criada. O nosso mundo tem experimentado diversas épocas de evolução, e hoje estamos numa fase em que estamos começando a compreender que a evolução espiritual deve começar.

Atualmente, a humanidade está enfrentando uma série de crises sociais e científicas. Muitos sinais apontam para o atual estado desolador da humanidade e a crise mundial que ela está experimentando. A dependência de drogas cresce continuamente e começa em uma idade cada vez mais jovem; a depressão está se espalhando como uma praga e o terrorismo internacional se  tornou incontrolável.

Há apenas um propósito em relação a todas as questões acima: ajudar a humanidade a entender que a raiz de todos os nossos problemas é a intensificação do nosso desejo egoísta de receber, e que temos de corrigir isso. Os Cabalistas escreveram sobre a intensificação do ego há muito tempo atrás, explicando que quando a humanidade atingisse esse estado, seria o momento de revelar a sabedoria da Cabala como meio para se corrigir o ego.

Vamos reiterar o que discutimos até agora. Existe um Criador que quer dar. Esta é a Raiz, ou Fase Zero. A fim de dar, Ele deve ter alguém para dar, e como o Criador quer dar, Ele cria um Kli que recebe o “presente”, isto é, o Criador dá ao Kli. Este é o Estágio Um.

Para que isso ocorra, o receptor precisa primeiro querer o prazer. Se eu construo em você um desejo por algo e depois dou o que você quer, você não vai aproveitar meu presente, porque esse não é o seu próprio desejo. Você deve sentir que ele é o seu próprio desejo, antes que possa defini- lo como “prazer”. Assim, no final do Estágio Um, a criatura começa a sentir o Doador e Sua natureza.

O desejo de receber evolui ao sentir o Doador (Estágio Um), e, conseqüentemente, ao querer ser como o Doador (Estágio Dois). Nesse estágio torna-se vantajoso para a criatura ser como o Doador (Estágio Três). No entanto, esta é apenas uma fase na formação do desejo de receber, e a criatura não está realmente ciente que está recebendo algo.

Na verdade a criatura não tem consciência de nenhuma destas observações; elas são apenas fases na evolução do desejo de receber bruto. Este desejo bruto ainda deve descer, formular e afastar-se do Criador até que pare de senti-Lo completamente. Ele deve descer ao nível do nosso mundo, e  só então sentirá o desejo nele como seu próprio desejo independente (Estágio Quatro). Desta forma, ele acreditará que é livre e não se submete ao governo do Criador.

Neste estágio, quando o indivíduo quer descobrir o Criador no nosso mundo, o desejo parecerá surgir primeiro. Assim, a pessoa será capaz de dar ao Criador como resultado do livre-arbítrio, e isso constituirá a sua forma de doação livre. Você poderia dizer que da perspectiva do Criador, isso nada é mais que uma fantasia, e que o Criador realmente comanda o espetáculo. Embora isso seja verdade, não diminui o fato de que, da perspectiva da criatura, a ocultação do Criador permite que ela sinta-se independente.

No final do Estágio Três, a criatura decide receber do Criador a fim de assemelhar-se a Ele. Embora no Estágio Dois a criatura já tenha o desejo de dar, este ainda não é o seu próprio desejo; ele não é um desejo “como o Criador”, como no Estágio Três, mas um desejo oriundo diretamente do Criador.

Deixe-me dar um exemplo para explicar o que quero dizer. Suponha que estou servindo-lhe um pedaço de bolo. Você poderia dizer que não sabe o que é isso, que você não tem o desejo inicial por tal bolo, mas daí eu o convenço de que você realmente deve experimentá-lo porque o bolo é fantástico. Nesse processo, eu lhe dou tanto o desejo quanto a satisfação, a realização do desejo.

Portanto, há uma evolução na transição entre as fases, em que “essa coisa” (o desejo) de repente “acorda” e torna-se consciente de si mesma. É como se ela começasse a conversar com o Criador. Esta evolução resulta de uma colisão interior na criatura entre os dois fatores: o prazer e o Doador do prazer. Na realidade, tudo o que existe são estes dois elementos.

Figura 4

O Estágio Três também marca o despertar de um novo desejo da criatura: a inveja em relação ao Criador. Em relação a isso, a inveja é um elemento positivo e útil, porque nos impulsiona a evoluir mais.

Finalmente, no fim do Estágio Quatro, a criatura sente que está dando prazer ao Criador. Assim, ela se considera contendo o mesmo status do Criador, e sente o prazer que surge ao ter alcançado o status do Criador, o prazer de dar, de ser um criador.

Este estado de ser cria na criatura um desejo de desfrutar esse status, apreciar esse prazer. Como esse desejo não chega à criatura diretamente do Criador, mas evolui como resultado de suas próprias ações, ele é considerado um novo desejo, que nós atribuímos à criatura. Isto é o que chamamos de “desejo de desfrutar” (Figura 4).

Neste último estágio, a criatura recebe o prazer de compartilhar o status do Criador , e se entrega a ele. Deste modo, a criatura se entrega a dois prazeres: o prazer que vem do Criador, e o prazer que vem da partilha do status do Criador. Este estado de ser é chamado de Ein Sof (Sem Fim ou Infinito), e se refere ao estado onde não há limitações em relação ao desejo.

Isto não se refere à distância, tempo ou espaço no sentido físico. Pelo contrário, esta é uma observação que diz respeito à natureza do desejo, isto é, que o próprio desejo é ilimitado.

Ao receber esses prazeres, a criatura descobre de novo que existe uma fonte de prazer. Ela descobre que o Doador é a fonte do prazer, e sente-se como o receptor. Desta vez, a sensação é válida porque o desejo de receber neste estágio é a própria criatura, e não um que chegou até ela do Criador.

Conseqüentemente, a criatura sente que quer escapar de seu próprio desejo. Ela quer evitá-lo, e não quer pertencer ao seu próprio desejo por mais tempo. A rejeição que ela sente em relação ao seu próprio desejo a induz a “restringi-lo” (evitar usá-lo). O desejo ainda está lá, mas agora a criatura se abstém de utilizá-lo. Portanto, a sensação de satisfação, o prazer, cessa.

Ao permanecer com o desejo, a criatura decide alcançar o status do Criador, o único status que agora a criatura deseja ter – o do Criador. Ela sente que deve dar ao Criador sem receber qualquer recompensa para si. A partir de agora, todas as suas ações serão destinadas exclusivamente para atingir esse objetivo.

Para alcançar este objetivo, a criatura realiza uma complexa série de operações: ela cria uma cadeia de ocultações (revestimentos) na Luz Superior, chamados “mundos” (a palavra hebraica para “mundo” é Olam, que deriva da palavra Haalama, ocultação). No final da cadeia dos mundos está “este mundo”. Como o processo que criou a criatura é composto de cinco partes, a diminuição da Luz Superior ocorre através de cinco níveis de ocultação, cinco mundos, cujos nomes são Adam Kadmon, Atsilut, Beria, Ietsira e Assia.

No processo de construção desses mundos, a criatura constrói um ambiente para si. No mundo de Atsilut, o desejo de receber é dividido em dois: uma parte interna (alma) e uma parte externa (ambiente, entorno), na qual a alma opera. Este estágio ainda não pertence ao nosso mundo.

Como resultado dos eventos posteriores, a alma e o seu ambiente experimentarão o processo de quebra, e, conseqüentemente, cairão vários níveis até o nível “deste mundo”. Só agora começa a formulação da matéria que compõe o nosso mundo.

A partir desta fase, da quebra do desejo de receber, começa a evolução histórica do mundo material que estamos familiarizados. Uma vez que o universo foi criado, os níveis inanimado (imóvel), vegetal e animado são criados, e depois deles, o nível falante (humano) é formado (Figura 5).

Figura 5

Na sua fase inicial da evolução, a humanidade tem desejos físicos por sustento, reprodução e família. O corpo sempre tem estas necessidades elementares para se manter; nós precisamos delas mesmo se estivermos sozinhos em uma ilha.

A segunda fase de nossa evolução caracteriza-se por um desejo crescente por riqueza, seguido por um desejo de poder e respeito. Esses impulsos por riqueza, poder e respeito são considerados “desejos sociais”, assim chamados por duas razões:

  1. Nós absorvemos estes desejos do nosso ambiente social. Se vivêssemos sozinhos, não os desejaríamos.
  2. Estes desejos só podem ser realizados dentro de uma estrutura social.

O último estágio evolutivo é o desejo por conhecimento e erudição. Nós queremos cada vez mais conhecimento, queremos saber tudo e investigar tudo – donde a evolução da ciência.

Hoje, como nós estamos nos aproximando do final desta evolução, a qual durou milhares de anos, nós estamos começando a perceber que isso realmente não rendeu nenhum fruto. Nós nos encontramos em uma situação única: queremos ser preenchidos com prazeres, mas não conseguimos encontrar nenhuma fonte de prazer verdadeiro. Além disso, não podemos definir com precisão o que queremos. Assim, encontramo-nos perplexos e desorientados, como crianças perdidas, sem saber que caminho escolher. Embora queiramos algo, nós não sabemos o que é ou onde encontrá-lo.

Nós atribuímos à palavra “coração” a soma dos desejos que evoluíram em nós através dos nossos ciclos de vida: desejos físicos, desejos sociais, e o desejo de conhecimento. Em oposição a esses desejos situa-se “o ponto no coração”, uma “partícula” de um novo desejo que evolui acima de todos os outros desejos. Na verdade, o ponto no coração é o despertar do desejo de conhecer a Força Superior, e é o despertar deste desejo que traz a pessoa à sabedoria da Cabala, como meio para realizar este desejo.

O despertar do ponto no coração traz confusão, o subproduto da origem desse ponto no Mundo Superior. As leis do Mundo Superior pertencem a uma realidade onde o tempo, o espaço e o movimento não se aplicam.

Naturalmente, os nossos cérebros estão organizados de modo que sempre pensamos em termos de tempo, espaço e movimento. Mas nesta nova etapa, nós começamos a sentir que aquilo que determina tudo é o modo como pessoalmente sentimos a realidade, e que a realidade em si é imutável.

Assim, nós gradualmente sentimos que a realidade é estática e que o tempo, o espaço e o movimento realmente não existem. Nós começamos a perceber que todas as nossas experiências passadas aconteceram apenas dentro de nossas sensações, e que tudo depende do quanto cultivamos nossa capacidade de sentir.

Nós precisamos de tempo para nos ajustar ao conceito de que nada muda, exceto o ritmo pelo qual abrimos as nossas “ferramentas sensoriais”. Quando tivermos feito isso, começaremos a sentir o mundo em que vivemos de forma muito natural, simples, sem quaisquer limitações, preconceitos, regras, opressão, coerção, ou pressões externas.

O ponto no coração é o princípio do desejo pela espiritualidade. Atualmente, poucas pessoas estão nesta fase, mas seu número está aumentando o tempo todo. Finalmente, todo ser humano deve alcançar esse ponto onde o desejo pelo Criador é o mais elevado, um ponto iniciado pela inveja mencionada anteriormente, isto é, pela necessidade inerente em cada criatura de atingir o status do Criador.

Nós devemos entender que quando dizemos que o Criador é bom, queremos dizer que o Criador nos criou com a intenção de nos levar ao melhor estado de ser possível, ou seja, ao próprio estado do Criador. Assim, este é o estado ao qual deve ser levada a criatura. Qualquer estado inferior a este não será, portanto, considerado adequado. Conseqüentemente, o propósito da Criação é permitir que atinjamos o status do Criador (veja a Figura 6).

No entanto, para atingirmos o nível do Criador, nós devemos começar a sentir que o nosso desejo é totalmente oposto a do Criador, que o Criador quer apenas dar, e que nós queremos apenas receber. Este é o vazio e a escuridão do Kli (vaso), em oposição à Luz. Reconhecer esta oposição desenvolve-nos como criaturas. Para nós conhecermos o Criador, primeiro devemos conhecer o estado oposto ao seu, o “anti-Criador”, um estado de tormentos insuportáveis que coloca um grande ponto de interrogação sobre a nossa capacidade de resistir a esses tormentos.

É justo dizer que nós ainda não iniciamos o processo de conhecimento do anti-Criador. Para sentirmos a nossa total oposição do Criador, nós teremos que descer emocionalmente a níveis mais inferiores. A sabedoria da Cabala está surgindo agora porque é impossível experimentar estes estados fisicamente, e a Cabala é o meio que facilita a nossa caminhada através dos estados de oposição ao Criador, para experimentá-los em nossa consciência e nossas mentes, não em nossos corpos.

Nós podemos comparar este processo a uma pessoa com dor. Essa pessoa pode aguardar até que a dor se torne insuportável e então recorrer a um médico, ou recorrer ao médico logo que a dor aparece. Neste último caso, o diagnóstico precoce do problema poupará a pessoa do sofrimento que vem com a doença. Em outras palavras, uma pessoa inteligente toma a medicação logo que os sintomas da doença aparecem, impedindo assim o seu início.

Ao fazê-lo, a pessoa pode evoluir de forma consciente, através do raciocínio, e, assim o Kli (criatura) aprende a se conscientizar da sua oposição à Luz. A sabedoria da Cabala é um método que nos ajuda a evoluir através do conhecimento, em vez da dor, e ela está surgindo hoje para permitir que a humanidade reconheça o mal que reside no egoísmo, antes que ele se manifeste completamente, infligindo danos terríveis em todos os aspectos da vida.

Portanto, a sabedoria da Cabala, como meio para se alcançar tanto a nossa evolução quanto o propósito da criação, deve alcançar toda a humanidade. Quanto mais pessoas participarem da Cabala, e quanto mais disseminarmos ela em todo o mundo, melhor para todos nós. O Baal HaSulam escreve sobre isso claramente em sua Introdução ao Livro do Zohar.

O primeiro investigador a se questionar sobre o universo e as forças que conduzem a humanidade foi Abraão. Ele fazia parte de um dos vários povos que viviam na Mesopotâmia (antiga Pérsia), e naquela época não havia divisão em nações. Ele descobriu o método pelo qual podemos conhecer  a realidade além da nossa percepção comum, e descreveu suas pesquisas e descobertas em seu Sefer Ietsira (Livro de Criação).

Abraão começou a reunir os alunos e ensinou-lhes a sabedoria da Cabala. Com o tempo, este grupo de Cabalistas tornou-se uma nação. Muitos anos mais tarde, após a ruína do Primeiro e Segundo Templo, este grupo de Cabalistas perdeu a sua percepção da Realidade Superior ; eles caíram do seu nível de consciência espiritual e só foram capazes de perceber sua realidade física.

Este  foi  um   processo   realmente   gradual.   Alguns   perderam   sua   percepção   espiritual  com a ruína do Primeiro Templo, e o resto perdeu com a ruína do Segundo Templo. O Rabino Akiva foi o último grande Cabalista a atingir o nível da lei espiritual denominada “Amai ao teu próximo como a ti mesmo”. A intensificação do egoísmo levou a um ódio infundado entre as pessoas, em vez da sabedoria da Cabala.

Mesmo assim, apesar da queda, um seleto grupo de Cabalistas permaneceu, e passou a sabedoria de geração em geração até o momento em que toda a humanidade necessitasse dela. Atualmente, é preciso reavivar a ciência antiga, reviver o estudo da Cabala, descobrir a Realidade Superior através dela, e passá-lo a toda humanidade.

Entretanto, é importante observar que a Cabala não tem nada a ver com religião, e não implica que nós precisemos fazer qualquer ação física. Como já foi dito anteriormente, a Cabala só fala dos desejos e intenções com relação ao Criador

Isso pode nos levar a concluir que, visto que a solução para nossos futuros desafios reside na disseminação da Cabala para toda humanidade, teremos que converter todo mundo em Cabalista. Na verdade, nós não precisamos.

A humanidade é construída como uma pirâmide. Como em qualquer outro campo  do envolvimento humano, noventa e nove por cento da população mundial é passiva. Eles não investigam ou criam, mas simplesmente contam com os frutos das descobertas científicas.

Portanto, nós devemos nos voltar para aqueles que estão preocupados com o destino do nosso mundo e o futuro da humanidade. Nós não esperamos que bilhões de pessoas estudem Cabala, mas se nós pudermos usar a ciência para presentear a humanidade com a imagem da realidade, isso fará com que todos mudem, pois todos nós somos partes de uma estrutura única.

Como dissemos anteriormente, o Kli (vaso/criatura) que o Criador criou tornou-se uma alma no mundo de Atsilut. Esta é a alma coletiva ou geral, chamada Adam ha Rishon (O Primeiro Homem). No início, todas as suas partes estavam unidas em harmonia maravilhosa, e ela era preenchida com a Luz Superior. Nesse estágio, a soma das partes criava a perfeição. Mais tarde, a alma experimentou um processo de quebra e caiu a um nível chamado de “abaixo da barreira”, onde a sensação espiritual termina. As partes da alma única continuaram a existir abaixo da barreira, mas sentiam-se separadas entre si. (Figura 6).

Figura 6

Para esclarecer estas palavras, podemos dizer que elas permanecem no “mesmo lugar”, como antes, mas outra sensação foi adicionada a elas. Esta é a sensação de que elas existem dentro de si mesmas. Na espiritualidade não há lugares e as mudanças são apenas na qualidade da percepção delas e suas sensações. Assim, cada uma das partes vive agora dentro de si, e sente somente a si mesma.

Tal estado de ser é chamado de “este mundo”, que é a situação em que estamos hoje. A Força Superior está agindo sobre nós (partes separadas) para nos trazer de volta ao estado corrigido, e esta será a realização do propósito da Criação.

Na verdade, a Força Superior “atirou-nos” neste mundo para reconhecermos quão diferentes nós somos Dela. Nós temos que desejar voltar a subir a partir deste ponto mais baixo até o estado corrigido da existência, onde estamos todos conectados. A diferença entre a natureza humana e a natureza do Criador é evidente através dos milênios de sofrimento, um processo completo de descida e subida projetado para que possamos perceber quão abomináveis nós somos uns para os outros. Em outras palavras, todo o egoísmo da pessoa deve ser exposto, e só então perceberemos porque devemos, voluntariamente, nos reconectar.

Nós devemos entender o problema que surge quando queremos satisfazer um desejo. Por exemplo, quando uma pessoa faminta senta em um restaurante e espera por uma refeição, no momento que a refeição é servida e a pessoa começa a comer, o apetite começa a diminuir. Quanto mais a pessoa come, menos fome ela sente, e com a falta de fome, o prazer diminui. Mesmo que grande parte da comida seja deixada sobre a mesa, e mesmo que a comida seja deliciosa, sem o desejo (apetite)  por ela, o prazer cessa.

Este cenário se repete na satisfação de cada desejo. Se surge um desejo em nós, nós somos motivados a satisfazê-lo. Nós ficamos tensos e nos esforçamos para satisfazer nosso desejo, mas uma vez que tenhamos atingido o nosso desejo, ele desaparece. Pode levar alguns minutos, algumas horas ou semanas, mas mais cedo ou mais tarde (geralmente mais cedo), a satisfação desaparece. Deste modo, o mesmo prazer que satisfaz o desejo também o elimina.

 

Além disso, a obtenção de um prazer constrói um desejo que é duas vezes mais forte que o anterior. Os Cabalistas disseram que “Aquele que tem cem quer duzentos”, aquele que tem duzentos quer quatrocentos, e assim por diante. Como conseqüência, quando nós adquirimos certo prazer, nós permanecemos duas vezes mais vazios que antes. Se pudéssemos encontrar uma forma de estarmos sempre preenchidos com prazeres, nós estaríamos sentindo a vida eterna.

Existe uma maneira de fazer isso: separar a “unidade sensorial” em duas partes. Uma parte receberá o prazer, e a outra parte vai senti-lo. Em outras palavras, se houvesse alguém para quem o prazer fluísse através de mim, o meu prazer não seria extinto. Se houvesse outra pessoa no processo de recepção do meu prazer, a unidade sensorial seria dividida em duas.

Nesse caso, eu poderia separar o receptor do prazer daquele que sente. O receptor seria outra pessoa, e aquele que sente o prazer seria eu. Ao fazer isso, a sensação do prazer pode se tornar interminável e render a sensação de vida eterna.

Nós podemos comparar a situação acima a uma mãe e seu filho. A mãe aproveita o prazer de seu filho e pode, portanto, dar sem restrição e deleitar-se nele. Se eu pudesse amar alguém de forma que o agradando eu sentisse isso como o meu próprio prazer, o meu prazer seria ilimitado. Para reconhecer esse princípio, as nossas almas tiveram de quebrar e descer a este mundo.

Quando o ponto no coração, o desejo verdadeiro de despertar a sensação do mundo espiritual, desperta nas pessoas, elas se voltam à sabedoria da Cabala. O estudo da sabedoria da Cabala é o estudo do nosso verdadeiro estado: o estado de pré-ruptura. Este é o único estado que existe. Mesmo agora nós estamos nele, embora não tenhamos consciência disso. Ao desejarmos sair do estado obscuro que nos encontramos e despertarmos para sentir a nossa existência real, nós atraímos o efeito da Luz dentro desse estado.

Nossos esforços em destravar nossas ferramentas de sensação e perceber o nosso verdadeiro estado de ser, desenvolvem novos vasos em nós. Assim, nós começamos a sentir o quanto nós estamos todos conectados, como partes de um único sistema.

Há Luz e satisfação infinita fluindo continuamente através de cada parte do sistema. A razão para todos os sofrimentos e problemas que o mundo está vivendo hoje é forçar a humanidade a retornar ao seu estado verdadeiro e perfeito, chamado Gmar Tikkun (“O Fim da Correção).

Voltar ao estado natural e perfeito é um processo que o Criador predeterminou do começo ao fim. Cada fase é ditada de cima para baixo. Em cada um de nós existe um gene espiritual no qual todos os nossos estados (passado, presente e futuro) estão impressos. A alma deve subir pela mesma rota e estágios pelos quais caiu do Alto. No entanto, o caminho de volta depende do quanto reconhecemos que o nosso estado egoísta é ruim, e compreendemos que estar mais perto do Criador é o estado que preferimos experimentar.

Assim, os estágios predeterminados construídos no gene espiritual evoluem através da Luz, ou seja, através da Força Superior, e nos levam de um estado ao outro. Se nós percebermos que é do nosso interesse ascender e “convidar” a Luz Circundante a trabalhar em nós, nós aceleraremos a nossa evolução e sentiremos a verdadeira espiritualidade. Por isso, nossa liberdade de escolha reside apenas em acelerar o processo.

O termo “Luz Circundante” descreve a Força que nos atrai em direção ao atributo de doação. Ela nos atrai ao estado corrigido, que é o atributo do Criador. Todos os nossos estados futuros existem dentro de cada um de nós, mesmo que não os sintamos. A projeção do nosso estado corrigido e altruísta sobre o nosso estado egoísta, desperta em nós o atributo de doação.

 

O nosso estado corrigido é chamado de Gmar Tikkun (“Fim da Correção”). No Gmar Tikkun, cada alma está preenchida com prazeres ilimitados e uma completa equivalência de forma com o Criador. Em nosso estado atual, a Luz que preenche nossas almas no Gmar Tikkun brilha sob a forma de Luz Circundante; seu poder é determinado pela intensidade do nosso desejo em adquirir o atributo de doação.

A Luz é o poder de doação, o poder de dar. Se a pessoa quer atingir o atributo de doação, ela deve fazer com que a força de doação, a luz que preenche a pessoa quando ela está corrigida, projete-se sobre seu estado atual. A Luz Circundante nos corrige e nos traz de volta para a qualidade de doação. É como uma pessoa digna que se perdeu e agora desperta para retornar à decência.

De fato, para atravessarmos a barreira que separa o mundo material do mundo espiritual, nós devemos mudar a nossa intenção, da relação de ódio mútuo para a relação de amor. As mesmas regras se aplicam a todas as partes da Criação, do elemento mais inferior da realidade ao mais elevado. Tudo depende da perspectiva do observador que descobre as regras.

Entretanto, até que uma ciência seja matematicamente estabelecida, não pode ser considerada uma ciência. Por exemplo, a física quântica diz respeito a uma realidade limitada pelo tempo e espaço. Mas o que estamos falando aqui está além do tempo e do espaço.

Portanto, enquanto a física quântica não é estendida para incluir dimensões além do tempo e do espaço, pode ser difícil para a ciência convencional prosseguir com a investigação. Por esta razão, é importante encontrar um ponto tangencial, uma conexão entre a física quântica e a Cabala, para que a Cabala investigue a realidade no local onde a física não pode alcançar.

Em outras palavras, para se avançar a um nível mais elevado, nós devemos expandir a ciência contemporânea para incluir a consciência, e este é um grande passo.

Neste ponto, pode ser benéfico descrever como a Cabala se relaciona com a nossa percepção da realidade. Nós percebemos a realidade através de nossos cinco sentidos: visão, audição, olfato, paladar e tato. No entanto, tudo aquilo que nós realmente sentimos é a nossa própria reação ao que existe fora de nós, sem nenhuma percepção da realidade objetiva e real.

Por exemplo, uma onda atinge meu ouvido, que a interpreta como som. Eu sei disso graças à reação da membrana da minha orelha (tímpano) à onda que a pressiona. Na verdade, tudo que eu estou medindo é a minha própria reação; eu não sinto a onda em si. Eu percebo uma gama de sons de acordo com as mudanças nas minhas capacidades auditivas e a saúde do meu mecanismo auditivo. No entanto, eu não tenho idéia do que realmente acontece fora de mim. Todos os nossos instrumentos de percepção e os nossos sentidos funcionam de forma semelhante.

Nós podemos dizer que estamos encerrados numa caixa, e tudo aquilo que medimos são nossas impressões interiores, criando em nós a sensação de que a realidade fora de nós muda. Nós não podemos saber se algo muda; não podemos sequer saber se algo realmente existe fora de nós. Nós simplesmente não temos meios para sair de nós mesmos e testar isso.

O Prof. Tiller mencionou Tor Norretranders, o renomado pesquisador dinamarquês que publicou um livro intitulado A Ilusão do Usuário1. Norretranders observa um ponto intrigante quanto à funcionalidade do inconsciente e o que ele contém. Parece que os cinco sentidos percebem cinqüenta milhões de bits de informação por segundo, recolhidos na forma de fluxos de informação na consciência. O subconsciente processa a informação matematicamente, mas ele só processa um pequeno fragmento da informação, cerca de cinqüenta bebês de informação por segundo.

Evidentemente, há uma enorme lacuna entre os cinqüenta milhões bebês de informação recebidos e os cinqüenta bebês processados. O principal elemento a ser observado é que o subconsciente envia ao cérebro apenas a informação que o cérebro determinou antecipadamente que seria significativa. O resto da informação é descartado pelo subconsciente. Estes resultados parecem corroborar a perspectiva da Cabala com relação ao desejo de receber.

Desconhece-se ainda se a ciência de ponta e os destacados investigadores percebem que a evolução da investigação depende da mudança do nosso próprio interior – o interior do investigador. Afinal, nós estamos estudando a nós mesmos; a nossa capacidade de progredir na investigação depende do modo como mudamos a nós mesmos.

No filme “What the Bleep Do We Know?” e em publicações similares da ciência popular, podemos encontrar declarações de que existem possibilidades infinitas a nossa volta. A sabedoria da Cabala explica que tudo o que existe a nossa volta é a Luz Superior em um estado de completa imobilidade, e que todas as mudanças e possibilidades infinitas estão dentro de nós. Tudo aquilo que vemos é o reflexo de nós mesmos na Luz fixa e imutável.

Eu respeito o conceito de que para progredirmos na investigação nós devemos mudar a nós mesmos, como a próxima percepção que o mundo virá a compreender. Esse é um processo que começou com Newton, continuou com Einstein, e continuou com a Física Quântica. Agora é a hora de uma nova fase. A investigação finalmente descobrirá que nada muda, exceto as nossas ferramentas internas, algo que os Cabalistas descobriram há milhares de anos. Hoje, um número crescente de pesquisadores e pensadores estão antecipando que a ciência chegará a essa opinião.

1 The User Illusion: Cutting Consciousness Down to Size (Penguin Press Science S. 1991).

2 replies
  1. BestMaureen
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