Força Doadora e Força Receptora

Do livro “Cabala, Ciência e o Sentido da Vida”

O conhecimento Cabalístico que possuímos é resultado das investigações Cabalísticas realizadas por pessoas cujas almas ansiavam com a pergunta sobre o sentido da vida. Elas usaram um método especial para começar a sentir a realidade de forma abrangente, e escreveram livros sobre o que descobriram. Quando os Cabalistas sentiram pela primeira vez a realidade completa, eles a chamaram de “abertura do dos olhos”.

A abertura dos olhos é o processo de subir os mesmos degraus pelos quais todos nós descemos, do já mencionado estado infinito (Ein Sof). A sabedoria da Cabala compreende duas ordens paralelas:

  1.  De cima para baixo: a descida do desejo de receber desde Ein Sof, através de todos os Mundos Superiores, até “este mundo”.
  2. De baixo para cima: a subida do investigador desde “este mundo”, atravessando a barreira, os Mundos Superiores, até Ein Sof.

A Cabala fala sobre o desejo de receber, ou seja, o desejo de desfrutar. Como nós já dissemos, existem cinco fases no processo de criação do desejo de receber. Nós sinalizamos estas fases com quatro letras hebraicas: a ponta do Yod (.), depois o Yod (י), Hei (ה), Vav (ו), Hei (ה), e nós chamamos esta estrutura pelas letras HaVaYaH. Nós também atribuímos a esses cinco estágios, cinco nomes: Keter, Hochma, Bina, Zeir Anpin e Malchut.

A ponta do Yod é Keter (Figura 7), designando o início da manifestação do desejo que se afasta da Luz, como um ponto negro dentro da Luz. A partir deste ponto, desenvolve-se a letra Yod – o desejo primordial. A forma da letra Yod é como um ponto com um espinho na sua cabeça e uma cauda em sua extremidade. Ela simboliza a criação da nova matéria, anteriormente inexistente, a o desejo de receber. Este estágio é chamado Hochma.

Visto que a letra Yod evolui, o desejo de receber continua a evoluir, absorvendo o atributo de doação do Criador. A combinação do atributo de doação e de recepção gera uma nova qualidade, chamado Bina, designado pela letra Hei.
Bina contém a primeira matéria que quer ser semelhante à Luz que a gerou. A forma da letra Hei simboliza a integração dos atributos de recepção e doação. Isso gera a forma de doação acima do desejo primordial.

Após isso, o desejo quer realizar um ato de doação, como o Criador fez anteriormente, e por isso tenta ser como a letra Yod. Mas como dessa vez este é um ato que o próprio desejo executa, atribui-se a ele a forma da letra Vav.

A letra Vav simboliza os nossos esforços de ser como o Doador, o Criador. No entanto, o ato de Vav é considerado incompleto, pois é uma decisão que foi tomada antecipadamente, uma conseqüência do desejo de Hei de doar. A incompletude do desejo, simbolizada pela letra Vav, é sugerida em seu nome Zeir Anpin – face pequena (Aramaico). Em Zeir Anpin falta a decisão independente, a “cabeça”.

Quando Zeir Anpin realiza o ato de doação, ele descobre o que significa ser um doador. Em conseqüência, ele começa a querer atingir o status do Doador, e este último desejo é chamado Malchut. O desejo de Malchut é voltado totalmente a receber o atributo de doação; portanto, como Bina, ele é simbolizado pela letra Hei.

No entanto, há uma diferença fundamental entre o primeiro Hei de Bina e o último Hei de Malchut. Em Bina, a combinação de recepção e doação vem do Criador, “do Alto”, enquanto que em Malchut esta combinação vem “de baixo”, da nossa ânsia pelo status do doador, um desejo que se origina do seu próprio desejo de receber. Agora nós podemos ver porque as letras Yod, Hei, Vav, Hei simbolizam o nome do Criador. É o padrão pelo qual o Criador formou o desejo de receber, dentro do qual o desejo de receber sente o Criador como uma Luz que o preenche.

Figura 7

Visto que a Luz preencheu o desejo de receber em Hochma e o inseriu com a sensação do Doador, o desejo começou a se sentir como um receptor, e quis ser como o Doador. O desejo pode facilmente mudar a sua natureza, porque nesta fase ele não é um desejo independente, mas que  veio do Criador. No entanto, o desejo de receber em Malchut já é um desejo independente da criatura.

Quando o desejo de receber em Malchut quer receber tanto a Luz que vem do Criador quanto o prazer de ter o status do Doador, ele começa a ver a oposição que existe entre os seus próprios atributos e os atributos da Luz. Então, o desejo de receber experimenta a diferença entre ele e a Luz. A sensação desta dolorosa diferença faz com que ele realize o Tzimtzum (restrição da Luz). Em outras palavras, a reação por descobrir o quão opostos são seus atributos daqueles do Criador, remove toda a Luz que o preencheu.

A partir deste momento, o Tzimtzum (restrição) se torna a lei reguladora em todas as ações do ser criado. A Luz deixará de entrar num desejo oposto ao Criador, porque a criatura assim decidiu. Desta forma, o Tzimtzum torna-se uma lei obrigatória na Criação.

A lei do Tzimtzum diz que, enquanto nós (a criatura) formos egoístas, não seremos capazes de sentir o Criador e o prazer que vem Dele. Existe apenas um pequeno segmento de toda a realidade, chamado “este mundo”, onde se pode receber prazer e desfrutar dentro de um desejo egoísta, apesar da lei do Tzimtzum. Isto nos permite existir no nível físico, antes de começarmos a nos corrigir e nos tornarmos mais equivalentes ao Criador.

Nós temos que entender que a existência egoísta, tal como a nossa atual existência neste mundo, não existe na realidade. Ascender a partir deste mundo significa ascender um desejo pessoal à qualidade de doação. Neste mundo, o desejo de receber funciona para dentro, e no mundo espiritual, ele funciona para fora, dando, como o Criador.

Em outras palavras, o mundo espiritual observa a lei do Tzimtzum, e o termo “espiritualidade” se refere aos estados em que somos semelhantes ao Criador. Em nosso estado atual, nós somos egoístas, e estamos opostos ao Criador.

Vamos voltar ao processo da criação. O termo “mundo” descreve certo estado da criatura, o desejo de receber. Deste modo, o estado da criatura antes do Tzimtzum é chamado de “o mundo Ein Sof” (o mundo infinito), e o estado após o Tzimtzum é chamado de “o mundo do Tzimtzum” (o mundo  da restrição).

Após o Tzimtzum, o Kli (vaso/ recipiente) permanece vazio e deve decidir o que fazer depois. Ele sente que ficar vazio é inútil tanto para si mesmo como para o Criador. O ato do Tzimtzum tornou- o independente do domínio da Luz, mas com isso ele ainda não alcançou nada, porque o Tzimtzum não o torna um doador como o Criador.

O Kli entende que pode realizar uma ação semelhante àquela que tinha realizado enquanto transitava de Hochma a Bina. No entanto, agora isto seria por sua própria vontade, livre e independente. Ele entende que pode dar prazer ao Criador se receber a Luz Dele com a intenção de dar a Ele. Afinal de contas, esta é a vontade do Criador – deleitar e contentar a criatura.

Assim, quando a Luz (prazer) alcançou a criatura (Kli), a criatura, juntamente com a sensação que veio do Criador, primeiro a rejeitou. Ela fez isso para não senti-la diretamente, para não sentir a vergonha de ser oposta ao Criador. Desta forma, a criatura seguiu a lei do Tzimtzum, que não permite a recepção com a intenção da autogratificação.

Depois, a criatura mediu os prazeres que havia a sua frente e avaliou o resultado em relação ao seu próprio desejo de desfrutar. Ela só recebeu esta quantidade específica de prazer depois que sabia exatamente o quanto poderia receber a fim de satisfazer o Criador, e não a si mesma. O restante da Luz foi, então, recusado.

Os Cabalistas explicam isso usando o exemplo do convidado e o anfitrião. O anfitrião serve todos os tipos de iguarias requintadas e conduz o convidado à mesa. O convidado sente vergonha e recusa educadamente. Na verdade, o convidado tem medo de se sentir como um receptor e por  isso protege seu ego da vergonha.

Agora é a vez do anfitrião implorar: “Eu fiz tudo isso para você! Você sabe como eu me importo com você. Quero satisfazer-lhe com o que eu preparei para você; por favor, você comerá por mim?”. Fazendo isto, o anfitrião demonstra ao convidado uma deficiência, uma necessidade de que este receba suas iguarias. Agora, o convidado sente que aceitando comer os alimentos ele satisfaz a necessidade do anfitrião. Ao comer ele faz um bem ao anfitrião.

Assim, o equilíbrio do poder muda: se o convidado recebe para satisfazer o anfitrião, já não é mais recepção, e sim doação. Segue-se que o convidado usa o amor do anfitrião para devolver prazer ao anfitrião.

Outro exemplo de uma relação do tipo doação-recepção é entre pais e filhos. Na verdade, a criança é o chefe da família, usando o amor dos pais para manipulá-los, a fim de satisfazer suas necessidades. Naturalmente, as pessoas nesses exemplos são egoístas. As coisas acontecem de forma bem diferente no mundo espiritual, mas tais exemplos podem nos ajudar a entender o princípio. O processo que ocorre nos Mundos Superiores é construído sobre um princípio muito semelhante: se a pessoa recebe prazer com a intenção de satisfazer o Criador, isso não é considerado recepção, mas doação. Ao realizar este ato, o ser humano iguala-se ao Criador e adquire os pensamentos do Criador.

Em outras palavras, a Luz nos criou desde o princípio com um enorme e gigantesco desejo por ela. Este desejo está em nós até mesmo agora, mas ele está latente e, portanto, nós não sentimos a Luz do Criador. Este desejo (pela Luz) deve ser evocado.

É importante perceber que estamos lidando com a pesquisa do termo “Criador” de uma forma puramente científica. Em outras palavras, nós podemos medir a nossa sensação do Criador com ferramentas precisas, quantificando cada sensação, e expressando-a numericamente. A ferramenta com a qual podemos medir a sensação do Criador é chamada “a sabedoria da Cabala”. Nós podemos definir com precisão quais Luzes penetram que parte do Kli, com que força, e em que condições.

A Cabala fala sobre o desejo de receber criado pelo Criador. Estes dois, o desejo de receber e o Criador, são elementos muito elevados, no sentido de que precedem todas as religiões e crenças. A Cabala trata das duas forças atuantes na realidade, a força que doa, chamada “Criador”, e a força que recebe, chamada “criatura”.

A Cabala não tem nada a ver com qualquer religião ou qualquer outra fé. Eu não quero comparar a Cabala a outros ensinamentos, nem desejo discutir qualquer religião, seja Hinduísmo, Judaísmo, Cristianismo, ou Islã. Afinal, por que lidar com a religião, se nós podemos discutir a física do Mundo Superior?

O desafio de explicar esse material é que não podemos comparar nossas emoções. Nós não podemos dizer que o termo “Força Superior” que uma pessoa sente é idêntico ao termo “Força Superior” que outra pessoa sente. Portanto, é inútil tentar comparar este ou aquele ensinamento com a Cabala.

A Cabala é uma técnica que fornece ferramentas precisas, matemáticas e mensuráveis. Quando eu registro dados relacionados a um estado, qualquer outro Cabalista pode realizar o mesmo ato com suas próprias ferramentas, e conhecer os dados aos quais eu estava me referindo. A sabedoria da Cabala oferece uma medição precisa das emoções do ser humano.

Os livros de Cabala descrevem as impressões dos Cabalistas da Força Superior. Eles descrevem suas emoções e nos deixam fórmulas que explicam quais ações internas precisamos realizar no nosso desejo de receber. Dessa forma, nós aprendemos a praticar atos de recepção e de doação da Luz que o Criador quer conceder a nós.

Um Cabalista mede com bastante precisão o prazer que pode ser recebido ou rejeitado. Assim, nós recebemos instruções exatas quanto ao tipo de trabalho interior que devemos fazer em cada estágio. Desta forma, nós saberemos como trabalhar com nossos desejos em relação à Luz.

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