Ékev (Porque)
Do livro “Divulgando Uma Porção”
(Deuteronômio, 7:12-11:25)
Sumário da Porção
Na porção, Ékev (Porque), Moisés continua seu discurso para o povo de Israel. Ele reitera que se Israel mantiver as leis e as ordenanças que o Criador lhes ordenou, o povo será recompensado com felicidade, saúde e triunfo sobre seus inimigos. Mas se não o fizer, o Criador não os guardará e eles serão perdidos entre as nações.
A porção também descreve as virtudes da terra de Israel, as sete espécies. Finalmente, o povo é ordenado a ensinar estas coisas a seus filhos e cravar a Mezuzá* nas suas ombreiras.
Comentário
Moisés alerta o povo para manter as leis da Natureza pois o Criador é Elokim (Deus) e em Guemátria (valores numéricos atribuídos às letras Hebraicas), é “A Natureza”.
O Criador deu-nos a Torá (Pentateuco), as leis do mundo. A Torá é como um livro de física exceto que as leis nele são absolutas e precisas. Somente Israel as receberam. Se agirmos de acordo com estas leis, estaremos acima de todas as coisas. Recebemos uma promessa em avançado e isto é verdadeiramente o que está a acontecer. Se mantivermos as leis diante de nós, receberemos qualquer coisa que quisermos – felicidade, respeito, segurança, saúde, eternidade, inteireza, este mundo e o mundo vindouro.
Estas leis resumem-se a uma: “Ama teu próximo como a ti mesmo; essa é uma grande regra na Torá”. Tudo o que precisamos é manter essa lei – amor pelos outros. A Torá inteira não fala de nada senão disso.
Os problemas começam com manter essa lei. Nós não o conseguimos fazer sozinhos. É somente possível em um meio ambiente que nos sustente, juntamente com todos os membros desse meio ambiente. Somente através de apoio mútuo podemos verdadeiramente manter essa lei. Baal HaSulam (Rav Yehuda Ashlag) mencionou a esse respeito uma história sobre dois amigos que velejavam em um barco. Quando um deles começou a furar debaixo dele, seu amigo perguntou, “Que fazes? ” O outro respondeu, “Não te diz respeito, furo somente debaixo de mim”.
Vivemos em tempos especiais. Todos sentimos que estamos em um único barco e esta é a situação adequada para finalmente começar a seguir a regra geral de amor pelos outros, a lei comum da natureza: mutualidade. A crise global e integral colocou-nos contra nossa vontade em um único barco onde todos furamos debaixo de nós sem consideração por mais ninguém.
Agora devemos começar todos a reorganizar e a nos conectarmos uns aos outros em garantia mútua. Todos devem garantir que todos os outros não quebrem a lei e todos cuidarão de todos os outros da mesma maneira. Reunimos a coragem e o poder para não prejudicar os outros e não fazer um buraco. Se abordarmos a lei geral da Natureza deste modo, verdadeiramente sentiremos que não carecemos de nada pois não há nada melhor que quando estamos em congruência com a Natureza.
É como com os espiões: começamos a ver os frutos da terra de Israel, o sol e a luz, como está escrito que o Criador está presente do princípio do ano até ao fim do ano, ou seja felicidade, saúde e segurança. Ninguém será capaz de se aproximar de nossas fronteiras e dizer que a terra não é nossa, porque estaremos em congruência com as leis ditadas do alto. Estas são as mesmas leis que na realidade são somente uma: “Ama teu próximo como a ti mesmo”. É a mesma garantia mútua que nos ajuda a cuidar uns dos outros.
Desta forma, se mantivermos esta lei, que é a essência da Torá, teremos abundância. Se não o fizermos, descobriremos com crescente clareza, como agora acontece, que estamos dependentes de todos. Não fazemos ideia do que está a acontecer com a defesa de nosso país e até compreendemos e sabemos em avançado o que pode acontecer, as coisas ainda acontecem. Se nos abstivermos de manter a clara condição, chegaremos onde nos encontramos e quem sabe onde podemos terminar.
Estamos dependentes do Banco Mundial e do Mercado Comum. De fato, o mundo inteiro é interdependente sem entender porque assim é. Excelentes condições nos são dadas para começar, um livro que explica as leis do mundo e a sabedoria da Cabala, que explica como nos elevarmos acima destas leis e nos mostra que podemos nos elevar acima de nossa natureza. Se o Criador nos promete segurança, felicidade e saúde, é tudo o que precisamos. Estes três parâmetros são tudo o que os manifestantes pelo mundo pedem. Eles, também, não precisam de nada mais senão segurança, felicidade e saúde.
Segurança é um elemento fundamental que define nossa atitude para a vida. Felicidade define nossa independência em respeito ao resto do mundo, sem ninguém que seja capaz de nos trazer acima ou abaixo. O mesmo serve para nossa saúde; tudo depende de nós. Tudo o que precisamos fazer é manter dentro de nossa nação a condição, “Ama teu próximo como a ti mesmo”. É fácil manter essa condição em garantia mútua. Se a entendermos e nos apoiarmos uns aos outros, em um curto período de tempo nos elevaremos a tal nível que ninguém será capaz de nos prejudicar, não no nível econômico, nem no nível da saúde e nem no nível da defesa.
Está na hora de, através de explicações, alcançarmos a sensação de garantia mútua e amor mútuo na nação e tudo o que está escrito na porção se tornará realidade.
Perguntas e Respostas
Se estivermos em um estado de garantia mútua, não teremos de ter consideração pelo mundo inteiro? Seremos felizes até se outras coisas acontecerem noutros lugares, ou subitamente entenderemos quão dependentes somos de todas as coisas que acontecem no mundo?
Não está escrito em lugar nenhum na Cabala que temos de tomar em consideração o que está a acontecer no mundo. O mundo é governado do alto. Todos os líderes, quem quer que sejam, são governados do alto. Nosso mundo é um mundo de resultados, o mundo mais inferior.
A força comum, a luz, vem de Ein Sof (infinito) através de todos os mundos, que são ocultações da luz. Através deles ela influencia o nosso mundo, a nós e a todas as nações do mundo. Podemos somente reagir a ela e nos ajustarmos ao mundo superior através de nossas ações.
A conexão entre nós indica que estamos em congruência com o mundo superior, que é inteiramente como um. Nossa alma no alto é chamada Adam e ela é uma, tal como a força superior é uma. A alma de Adam se dividiu em muitas almas, mas se as coletarmos todas juntas, todos nossos desejos, nossas inclinações, nos ajustaremos à força superior, a força comum da Natureza. Elokim (Deus) em Guemátria é “A Natureza”.
O mundo não nos influenciará então?
Não só o mundo não nos influenciará, mas ao elevarmos nossos desejos, nos tornamos aqueles que influenciam o mundo superior. Então, o mundo superior influenciará o mundo e a todas as nações do mundo. O profeta Isaías escreveu que as nações do mundo levarão os filhos de Israel nos seus ombros e os trarão a Jerusalém para construir o Templo. Esse é um modo alegórico de dizer que o mundo inteiro compreenderá que há somente um lugar para a terra de Israel.
Todas as pessoas terão de alcançar essa garantia mútua, entendimento e Dvekút (adesão)?
Sim, garantia mútua e amor mútuo. Temos de manter a lei, “Ama teu próximo como a ti mesmo”. Contudo, não precisamos pensar sobre quando acontecerá, pois, assim que mantivermos esta lei e avançarmos para ela, até por uma fracção de um milímetro, não mais seremos opostos à Natureza, mas em congruência com ela. A tendência, a intenção está em fazer, tal como uma criança desobediente e problemática subitamente começa a se comportar bem. Imediatamente começamos a tratá-la diferentemente. Enquanto fazemos estas coisas, imediatamente veremos que estamos no caminho certo pois subitamente nos sentiremos empoderados e que nossas ações são abençoadas.
Ouvimos que todos querem amor. Quando começamos a falar sobre garantia mútua e conexão mútua, as pessoas sentem satisfação, uma sensação de amor. Nenhum orçamento pode cobrir todos os problemas e apuros que existem na nação. Ninguém concordará a ser o último a receber uma fatia da tarte; cada um puxará para a sua própria direção e nunca haverá um fim para isso.
Devemos nos sentar em uma mesa redonda como uma família e primeiro e antes de mais, nos tratarmos uns aos outros com amor e trazermos todos debaixo do guarda-chuva da garantia mútua, onde todos são como um. Devemos tomar nossas decisões como em uma família: um precisa de habitação, outro precisa de algum dinheiro, outro tem pobre saúde, outro é idoso e assim por diante. Como em uma família, depois da conversa na mesa redonda, todos entenderão o que precisamos fazer em prol de mudar a situação. Todos sentirão também satisfação ao serem aqueles que fizeram concessões e tiveram coração generoso.
Assumimos que em uma família, as pessoas se preocupam umas com as outras.
Este é o ponto que nos falta. Sem ele, nunca alcançaremos uma solução. Teremos mais e mais comités, mas nada ajudará. As pessoas nem sequer entrarão nesses comités e se o fizerem, isso só demonstrará que eles são inúteis. Nosso mundo é global, redondo e se não acharmos uma solução ou um processo que concorde com as leis do mundo, perderemos. Esta será uma grande perda pois a próxima erupção pode ser muito pior. Precisamos pensar sobre isso em avançado, para que não digamos posteriormente, “Tentamos, mas não resultou”. Os danos que serão feitos ao povo serão muito grandes e evocarão tamanha amargura e dor que não sabemos dizer para onde isso conduzirá.
O que significa que hoje o mundo é global? Como se tornou ele subitamente global?
Não há nada de novo sobre as leis do mundo; somente nós mudamos através da história. Está escrito na sabedoria da Cabala que do fim do século vinte e o começo do século vinte e um, como Baal HaSulam, o Gaon de Vilnius e outros disseram, nosso mundo avançará para um estado de ser global.
“Ser global” significa que a lei principal no mundo é a lei do círculo: todos estamos conectados e dependentes uns dos outros. E se somos dependentes e conectados, é impossível começar a lutar.
Devemos chegar a certo acordo, algo sensível, considerável, em garantia mútua. Rapidamente nos aproximamos desse estado pelo mundo.
Em breve descobriremos que não só sentimos a necessidade de uma solução, mas que não há outra solução senão a mutualidade. Assim que chegarmos a uma solução depois de termos sentado com todos, nos sentiremos satisfeitos. Seremos respeitados por termos feito concessões pelos outros e sentiremos calor pois fomos considerados pelos outros. Nos sentiremos mais seguros pois não estaremos mais sozinhos; estaremos junto com todos.
Deste modo, descobrimos o poder na união que atua de acordo com a força superior. Todos devem sentir esse poder, a nação inteira, todas as nações. Na sabedoria da Cabala, a força aparece imediatamente para aqueles que se tornam conectados à sociedade. Agora, o mundo está prestes a descobri-la. A agitação pelo mundo é somente o princípio deste surgimento pois o que as pessoas realmente precisam, até se não o conseguirem exprimir, é amor.
Está escrito que as devemos ensinar nossos filhos e escrever na Mezuzá.** Isto diz respeito a estados internos ?
Os filhos somos nós. Nas porções anteriores, os filhos foram nossos estados futuros. O presente estado é chamado um “pai”, e o próximo estado é considerado um “filho”, o resultado do primeiro estado…
Não está claro que estejamos a avançar de estado para estado? Há algo que devemos fazer em prol de avançar para ele?
É claro, devemos constantemente avançar em direção a ele quando ascendendo até ao nível de manter essa lei, bem como nas novas condições nas quais independentemente mantemos a lei de união, a lei do amor.
Isso significa que uma maior medida de conexão entre nós é os nossos filhos?
Sim. De fato, a inteira porção é um resultado de Shemá Yisrael (Escutai, Ó Israel) da anterior porção, que é o porquê de assim estar escrita. Está também escrito sobre as Mezuzás. Uma pessoa que sai de um estado ou regressa ao seu estado refere-se à saída e à entrada na casa.
A “casa” é o seu Kli (vaso), o seu coração e todos os seus desejos. Quando conectamos os novos desejos e os corrigimos, quando entramos e saímos, a luz está sempre conosco. Esta é a correção chamada Mezuzá. Ela é uma luz especial com a qual devemos estar equipados em prol de embarcar em novas correções.
No total, nossas almas consistem de 613 desejos. Precisamos corrigir esses desejos um de cada vez, de leves aos pesados, para que eles tenham a direção de doar sobre os outros e através dos outros ao Criador.
Um estado de Arvut (garantia mútua) é quando todos cuidamos uns dos outros. Hoje, em que as pessoas se sentem mal, elas concordarão em se unir. Mas o que as manterá juntas no dia depois do apuro terminar?
Garantia mútua. É por isso que não é suficiente decidir nos amarmos uns aos outros agora. A resposta é que somente através de garantia mútua é possível nos conectar de tal maneira que se um cair, todos caem e assim cada um sustenta todos os outros.
Se eu nada tivesse antes e subitamente tivesse algo, graças à garantia mútua, é claro que ficaria feliz com isso. Mas, e aqueles que tinham bastante e desistiram dele?
É por isso que, quando falamos de implementar a garantia mútua, falamos de uma mesa redonda ao redor da qual todos nos sentamos juntos, até centenas de pessoas. Cada um de nós levantará suas preocupações e pedirá o que ele ou ela necessita. Mas primeiro, devemos nos unir entre nós. Somente através de nossa união em garantia mútua, como uma nação em um pequeno país, resolveremos nossos problemas. Não há outro modo de os resolver, pois não temos outros recursos nem modo de dividir a tarde de uma maneira que preencha nossos défices. Só nos estaremos a prejudicar a nós mesmos desta maneira e está claro que nada resultará disso.
Nós temos somente uma alternativa: uma deliberação que conduza à conexão e amor. Se começarmos a organizar a nação inteira ao redor da mesa e começarmos a agir através da mídia, em reality shows, na televisão, na Internet, nos teatros, na música e em cooperação com diferentes artistas, podemos educar o povo para valorizar o conceito de “garantia mútua” e então veremos como todos estão conectados. Não tardará muito para vermos um lado diferente das pessoas.
O sentiremos quando conduzirmos nossos automóveis e o sentiremos nos nossos filhos serem menos violentos uns para os outros. O sentiremos em todo o lugar. Começaremos a influenciar o mundo inteiro com esta força porque seremos nós que a daremos ao mundo inteiro, embora possa não o parecer neste momento. Assim que tenhamos a força boa, ela se espalhará pelo mundo inteiro.
Não podemos trazer segurança ao país a menos que reunamos o poder da Arvut. Hoje é impossível governar do modo tradicional, embora possamos tentar.
Há só uma coisa que precisamos somar aos esforços para nos mantermos seguros: devemos implementar a lei, “Ama teu próximo como a ti mesmo” como aqui é prometido. Ela é chamada “Torá” (lei) e não outros símbolos, como outros pensam da Torá e o sentido das Mitzvot (mandamentos) da Torá.
A Torá significa, “Eu criei a inclinação ao mal, Eu criei a Torá para ela como tempero”, pois “a luz nela os reforma”. Precisamos chegar a um estado de amor. Se chegarmos a ele, haverá felicidade, saúde e segurança.
Quando Abraão estabeleceu a nação, ele explicou a todos que entravam na sua tenda na Babilônia sobre o sentido da Arvut. Ele descreveu a qualidade de Chéssed (misericórdia), que é a qualidade de Abraão e disse que é assim que nos devemos relacionar uns com os outros. Foi assim que ele estabeleceu a nação e foi assim que milhares de pessoas o seguiram. Tudo depende de se nos conectamos hoje ou não. Esta não é meramente uma ideia; não temos outra escolha; ela é a única solução possível e devemos escutar antes que venham os problemas.
Termos
Benevolente (o Bom Que Faz o Bem)
A luz vem do Criador, que é benevolente. Contudo devido a nossa disparidade da luz, a sentimos como o oposto. É como uma mãe que ama seu filho, mas o filho vê seu comportamento como mau. Por dentro, seu coração é bom e aberto, mas por fora ela deve se comportar diferentemente com seu filho em prol de o “endireitar”. É o mesmo conosco. Tudo trabalha de acordo com a promessa que está escrita nesta porção.
Leis e Ordenanças, opostas à Lei Única
A “Lei Única” é a luz que se encontra oposta a todos os nossos desejos, que são os 613 desejos. Se ordenarmos todos eles em doação e amor, em congruência com a luz, estaremos em um estado de benevolência (o Bom que faz o bem).
Inimigo e Triunfo
O “inimigo” é nosso ego. Triunfo é quando podemos nos elevar acima dele, como está escrito, “Amor cobre todas as transgressões” (Provérbios, 10:22) O ego está debaixo de um “guarda-chuva” em garantia mútua e isto é muito bom, mas nós estamos acima dele, unidos.
Temor
“Temor” é o nosso primeiro contato com a sempre crescente vontade de receber. O medo vem quando não nos conseguimos elevar acima do ego. Há sempre estados tais, mas assim que nos elevamos acima do ego, o medo não existe mais.
* Mezuzá (batente): Textos de Deuteronômio inscritos em pergaminho e enrolados em uma caixa que está anexa à ombreira da porta.
** “As ensinareis diligentemente a vossos filhos e falareis delas quando vos sentais na vossa casa e quando caminhais pelo caminho e quando vos deitais e quando vos levantais. As atareis como um sinal na vossa mão e elas serão como frontais na vossa testa. As escrevereis nos batentes de vossa casa e nos vossos portões” (Deuteronômio, 6:7-9).
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