VaEtchánan (E Eu Supliquei)

Do livro “Divulgando Uma Porção”

(Deuteronômio, 3:23-7:11)

 

Sumário da Porção

A porção, VaEtchánan (E Eu Supliquei), repete aquilo que foi proibido a Moisés – de entrar na terra de Israel – e aquilo que Yeóshua foi para o suceder e conduzir o povo para a terra de Israel. A porção lida com o mandamento de manter a Torá e recordar a estadia no pé do Monte Sinai, bem como o conceito de arrependimento, que aqui aparece pela primeira vez. Aqui aparece o conhecido texto de Yisrael (Escutai Ó Israel).

Moisés faz outro discurso, onde ele repete os Dez Mandamentos. Ele também distingue três cidades de refúgio no lado oriental do Rio Jordão, alerta da idolatria na terra de Israel e instruiu como destruir as estátuas. Ele também recorda ao povo que foi o Criador que os conduziu para a terra de Israel, a boa terra que eles estão destinados a herdar.

 

Comentário

A porção, VaEtchánan (E Eu Supliquei), contém todas as condições para a povoação do povo de Israel na terra de Israel. O povo de Israel começou sua história com Abraão, que estabeleceu um grupo na Babilônia. Esse grupo se distinguiu do resto dos Babilônicos, que não desejavam se unir como “um homem com um coração”, ou seja estarem na qualidade de Chéssed (misericórdia), que é a qualidade de Abraão.

Esse grupo de pessoas concordou viver em Arvut (garantia mútua) e na realidade começou o processo de formação do povo de Israel. Depois do êxodo do Egito, o grupo assumiu sobre si mesmo o compromisso de ser como uma nação, apesar dos problemas e os egos das pessoas.

A formação de uma única nação foi condicionada sobre uma “passagem” bem-sucedida da provação no pé do Monte Sinai, uma montanha de Sinaá (ódio). No Monte Sinai, o povo assumiu a estipulação preparatória para subir sobre essa montanha – ser “como um homem com um coração”. Somente ao aderir a esta condição é possível receber a Torá, a força superior que pode unir todos. Essa condição é encontrada através do “ponto no coração” de cada pessoa, um ponto chamado “Moisés”, que atrai as pessoas em diante para o deserto e subsequentemente para a terra de Israel. Este é o ponto onde todos se devem unir.

A estipulação que manteve o povo junto foi Arvut (garantia mútua). Até hoje, para se ser uma nação deve encontrar a condição de cuidarmos uns dos outros no nível material, também. Este é o escrutínio que enfrentamos hoje em Israel – fazer com que todos zelem para que ninguém careça de sustento básico no nível material.

Quando nos juntamos, entramos na terra de Israel através da correção chamada “quarenta anos no deserto”. Este é um estado no qual todos se tornam uma nação e estão dispostos a viverem juntos de uma maneira global e integral, como hoje aparece no mundo e como a Natureza requer.

Hoje alguns têm muito mais do que precisam, enquanto outros dificilmente vão ao encontro de suas necessidades básicas. O único modo como podemos adquirir o que precisamos é ao sermos responsáveis uns pelos outros. Somente através da união seremos capazes de criar uma força especial que nos ajudará a superar as dificuldades e dividir adequadamente nossa produção e lucros, tal como em uma família.

“Como um homem com um coração” realmente significa “como uma família”. Em uma família nós dividimos o que temos com cada um baseando-nos nas nossas necessidades. Sentamos em uma mesa redonda e conversamos. Tomamos todo o argumento e problema em consideração, pesamos as prioridades de cada um e decidimos como dividir aquilo que ganhámos entre nós. Reforçamos os fracos e os apoiamos.

Se gerirmos o povo e o país desta maneira, descobriremos que a nação está conectada e que o Criador – a força de doação e amor – está entre nós. Sentiremos como resolver todos os problemas e nos elevarmos acima de todas as obstruções. Quando assumimos sobre nós o bem, imediatamente produzimos novos poderes entre nós e então, “Neste dia vos haveis tornado um povo” (Deuteronômio, 27:9).

A condição para a união entre nós permite-nos resolver todos os problemas, como está escrito perto do fim da porção, que aderir a essa condição nos conduz para sermos como um: “Escutai, Ó Israel, o Senhor vosso Deus, o Senhor é Um” (Deuteronômio, 6:4). Quando a força do amor está entre nós – a força da união, a necessidade de estarmos juntos, a Arvut (garantia mútua), sustentamos e nos ajudamos uns aos outros. Essa força conduz-nos, ao povo de Israel, para a terra de Israel – para o desejo, Yashar El (direito a Deus), direito à qualidade de amor e doação.

Somente se um produzir a força chamada Elokim (Deus), que é o amor geral, a Arvut, é que a força, “O Senhor vosso Deus”, que criamos, caminha à nossa frente quando entramos na terra de Israel. Essa força ajuda-nos a lidar com as dificuldades lá e a combater com as sete nações lá, que são mais fortes que nós.

De muitas maneiras, é semelhante à presente situação de Israel, estando cercada de nações que desejam destrui-la. É somente por essa força que “derrotamos” verdadeiramente todos. No fim, nos trazemos não só a nós à união e conexão, mas ao mundo inteiro. Nos tornamos “uma luz para as nações” ao demonstrar como podemos todos estar unidos no nosso mundo, que requer uma conexão global-integral entre todos. É tal como a Natureza, o Criador*, nos aparece como um e nos cerca de tal maneira que nos obriga a ser como ele, como um, em Dvekút (adesão) com ele.

Quando produzimos a força de amor entre nós pela conexão, nos tornamos semelhantes ao Criador – a força geral na Natureza. Nesse estado, estamos em harmonia com a Natureza e equilibramos a ecologia, tecnologia, economia e todo o reino da vida. Tudo cai no seu lugar somente pela força de união, embora possa não parecer desse modo e pode não estar claro o que a força de união tenha a ver com resolver qualquer um destes problemas.

Estamos ainda por compreender que somos parte da Natureza e que estamos nela. A rede em que nos encontramos é gerida integralmente, com todas suas partes interconectadas. Se nós, também, nos conectamos em sintonia com a Natureza, seremos recompensados com os frutos da terra de Israel, como os espiões os viram mas pensaram que não seriam capazes de os desfrutar pois os frutos

 

eram tão grandes e o povo que habitava a terra era tão poderoso. Aqui reside a solução: se nos unirmos, essa força marchará diante de nós e quebrará todos os inimigos.

Enquanto produzimos entre nós a força da Arvut, ela resolverá todas as coisas. O que quer que aconteça, através da força de união podemos todos estar debaixo do guarda-chuva da Arvut, o guarda-chuva do amor, através do qual o mundo será verdadeiramente corrigido.

 

Perguntas e Respostas

Seguindo Moisés, Yeóshua teve de conduzir a nação para a próxima fase, o próximo grau. Como conduzimos o povo enquanto mantendo todos unidos apesar dos desafios?

A Torá não nos conta sobre o que aconteceu depois da entrada na terra de Israel, ou como quebrar os ídolos, que são nossa inclinação ao mal. Quando idolatramos, colocamos diante de nós estátuas tais como o dinheiro, poder, respeito, inveja e ódio. Nada é dito sobre a construção do Templo e a conduta dentro dele.

Basicamente temos dois caminhos a fazer. Podemos tomar o caminho curto, bom, onde alcançamos nossa própria correção e a correção do mundo, ou tomamos o caminho difícil, se não mantivermos a condição da Arvut.

Agora estamos a atravessar tempos difíceis, por problemas …

Não precisamos considera-lo um problema, mas como uma oportunidade. As condições nas quais estamos são uma oportunidade e nelas devemos nos corrigir. Sem tempos difíceis, como superaremos a inclinação ao mal? Como a conheceremos?

Assumamos que todos estabelecemos Arvut, todos queremos cuidar uns dos outros e as pessoas vão nessa pois isso soluciona seus problemas. Qual é o próximo passo?

Nada há senão manter a Arvut.

Então e o amor que temos de alcançar?

Ele é Arvut. A primeira fase na Arvut é “Aquilo que odeias, não faças ao teu amigo”, ou seja que no mínimo evitar prejudicar os outros. A próxima fase é “Ama teu próximo como a ti mesmo”, que é a regra geral da Torá. Nada mais há senão isso. Há duas condições que devemos seguir: evitar prejudicar os outros e então, acima disso, os tratar com amor.

Recentemente, temos visto muitas pessoas que abertamente admitem que do que precisam realmente é amor.

As pessoas precisam de entender o verdadeiro sentido da Arvut. Precisamos nos sentar juntos em uma mesa redonda e discutir as coisas, explicar as definições de cada palavra até que sintamos na realidade sobre o que estamos a falar.

Arvut significa que todos somos responsáveis uns pelos outros, em tudo na vida. Quando um tem os relacionamentos certos com outros, não há necessidade de pensar em si mesmo. Enquanto você pensa nos outros, os outros pensam em si.

 

É tal como em uma família. Em uma família, você não se importa consigo mesmo, mas em vez disso com a família inteira: seus filhos, seus pais, os doentes e os fracos. Dividimos o vencimento familiar e tudo o resto que temos de acordo com as necessidades de todos.

Como tomamos decisões em um formato de mesa redonda ao nível nacional?

Imagine como será quando precisarmos de fazer este tipo de decisão em um nível mundial! Precisamos aspirar ter todas as facções ao redor da mesa. Precisamos achar facções cujos representantes não vêm para a mesa, talvez porque são muito fracos ou tenham desesperado. Precisamos os ajudar a levantar suas perguntas.

Também, a mesa redonda deve ser uma operação contínua. Devemos dar um exemplo de uma nação que discute com amor, com todos sentados juntos ao redor da mesma mesa: esquerda, direita e o centro, até com inimigos e adversários. O ponto comum que nos conecta é que todos pertencemos a uma nação, como está escrito, “amor cobre todas as transgressões” (Provérbios, 10:12). A transgressão é o ódio que sentimos uns pelos outros. Em outras palavras, não tem problema que sejamos odiosos, mas há uma regra: todos devemos viver como uma família.

Fará isso o ódio se render?

Não, ele não se renderá. O princípio na sabedoria da Cabala é que “amor cobre todas as transgressões”. Em outras palavras, a transgressão do ódio permanece. Ela aponta para desacordos e para a diferença de qualidades que todos temos. Desacordos entre nós são bons pois acima deles construímos uma Massach (tela), um guarda-chuva que cobre essas transgressões.

Nos unimos apesar de nossas disputas porque o princípio do amor deve estar acima de tudo o resto. Esse princípio “usa” essas disputas como uma alavanca para nos elevar acima do Monte Sinai, acima da montanha de ódio. Todos nós nos sentamos ao redor da mesa e construímos acima de nós o conceito de “Moisés no Monte Sinai”, e Moisés puxa-nos para cima. Quando alcançamos a qualidade do amor que nos conecta, nos tornamos uma nação. Antes disso, não somos considerados uma nação.

Isto é verdade para o resto do mundo, também?

Primeiro, sobre nós aqui, em Israel: tivemos o gene espiritual desde o tempo em que fomos uma nação. Se implementarmos o princípio da Arvut e usarmos as diferenças entre nós para somar ao conceito da Arvut, verdadeiramente sentiremos que estamos na terra de Israel.

Se estivermos unidos, ninguém será capaz de nos prejudicar. Isso não será porque somos fortes, mas porque a força da Natureza estará em nós, em sintonia com a Natureza global, integral, tal como está escrito que o Criador caminha diante de nós e trava todas nossas guerras*, tal como Ele quebra o ódio do homem para os outros.

Não há dúvida que nossos vizinhos alegremente se juntarão a nós e então veremos que o ódio estava lá somente para nos unir. Nenhum outro país no mundo está em uma situação similar. Nossa união acalma nossos vizinhos pois há somente uma única força que opera na Natureza e seu propósito conduz-nos a todos para a união, conexão, harmonia e equilíbrio com a Natureza global.

Os Dez Mandamentos detalham como alcançar a Arvut, ou  eles  detalham  o  que encontramos assim que a alcançamos?

Os Dez Mandamentos são uma condição. O sistema de união entre nós consiste de dez partes, chamadas “Dez Sefirot”. Devemos interpretar cada uma delas. Precisamos colocar essas dez partes – nossas conexões com os outros – em ordem. Se colocarmos nossas relações para os outros em ordem, as dez distintas abordagens, colocaremos nossa inteira atitude para os outros em ordem.

Estas dez Sefirot aparecem assim que alcançamos a Arvut?

Trata-se também de como alcançamos a Arvut porque esta é a meta. Ao descobrir a Arvut, você descobre o seu próprio estado superior, onde você se elevou acima dos problemas. Subitamente descobre que a Natureza já produz tudo aquilo que necessita. Descobre as fontes de energia, vitalidade, saúde e amor que existem no mundo e as relações próximas que existem entre todas as partes da Natureza e que foram suprimidas.

Isto soa a um milagre.

Se falar para as pessoas que vivem na selva, elas frequentemente dizem que a Natureza irradia amor para elas. A união, o holismo nela irradia uma atitude de amor.

Entraremos em um novo reino da realidade através do nosso desejo de alcançar a Arvut?

Sim, descobriremos forças internas que presentemente se encontram escondidas de nós porque constantemente vemos os outros através de nossos egos. Quando começarmos a dar como a Natureza dá, começaremos a perceber um comprimento de onda completamente diferente, muito semelhante a um rádio.

Como começamos? Qual é o primeiro passo para a Arvut?

Temos de nos sentar na mesa redonda, escrutinar esses conceitos e ver como podemos alcançar a união. Arvut é a condição que nos fez uma nação no passado. Posteriormente, o perdemos         na ruína do Templo. Temos estado em exílio e agora precisamos nos criar novamente a nós mesmos como uma nação.

Uma nação é como uma família. Devemos ver-nos a nós mesmos como uma grande família. Precisamos nos relacionar a todos os problemas e descobriremos que é bom que eles agora apareçam. Os problemas dão-nos algo sobre que falar, uma necessidade de nos sentirmos uns aos outros. Nestes dias a principal necessidade das pessoas é conexão com os outros; elas até se manifestam e vão para protestos só para se sentirem conectadas.

De O Zohar: Vós Haveis Começado a Mostrar

“Vinde e vede, o Criador deu a todas as nações no mundo a ministros nomeados para governarem sobre elas”, ou seja, as diferentes forças da Natureza. “Mas Israel, o Criador os segura como Seu lote e Sua parte, para na realidade se unir com eles”. Vemos o que acontece conosco pela história. Somos um povo especial e não há modo de o evitar. “E Ele deu-lhes a sagrada Torá para se unirem no Seu nome. Deste modo, “Vós que vos apegais ao Senhor,’ e não a qualquer outro nomeado, tal como o resto das nações”. Zohar para Todos, VaEtchánan, item 17

O que é a sagrada Torá? Ela é “ama teu próximo como a ti mesmo, esta é uma grande regra na Torá”. Nada mais há senão o amor entre o homem e o homem; esta é a inteira Torá e nada mais há. Pensamos que estas são diferentes ações e meios, mas elas são costumes, ações superficiais cujo propósito é suster o povo enquanto não compreenderem o que lhes é requisitado, ou seja enquanto ainda estão em exílio. É somente quando chegamos à situação global que a Natureza exige de nós, que Elokim exige que nos unamos.

De que Natureza estamos a falar? O que é esta lei? O que você quer dizer com “Natureza”?

“Natureza” é a força comum que conduz o universo inteiro de acordo com um propósito e plano. Nós vemos que todas as partes da Natureza estão conectadas. Essa conexão inclui-nos, exceto que estamos separados do resto da Natureza. É por isso que primeiro nos devemos unir em uma maneira de “Ama teu próximo como a ti mesmo”, nos tornando globais, integrais, conectados como o resto da Natureza.

Quando alcançamos isso, começamos a sentir a força comum que opera e tem operado durante a evolução. Vamos nos unir com essa força e nos tornar conscientes do caminho que tomámos. Nesse estado, descobriremos as razões para tudo o que aconteceu no caminho, a razão e o sentido da vida e a meta para a qual somos atraídos.

 

Termos

Observar (Manter) a Torá

“Observar” é a manutenção constante de nossa atitude para os outros. A Torá significa “ama teu próximo como a ti mesmo”. É o amor que deve sempre estar diante dos nossos olhos.

Arrependimento

“Arrependimento” é retornar do ego, da atitude negativa para os outros e para uma boa atitude para os outros.

Os Dez Mandamentos

Devemos distinguir dez partes que são todas egoístas, cruéis, direcionadas para explorar os outros e que são então corrigidas de se direcionarem para receber para se direcionarem para doar.

Aniquilação da Idolatria

Os ídolos são o dinheiro, ouro, automóveis belos e o que quer que queiramos que não seja necessário para nosso sustento. Com eles, é como se roubássemos dos outros. Está escrito que  sem farinha, não há Torá. Isto é, um deve cuidar das suas necessidades e também cuidar das necessidades dos outros.

Shemá Yisrael (Escutai, Ó Israel)

Isto diz respeito à união, “Escutai, Ó Israel, o Senhor nosso Deus, o Senhor é Um”. “O Senhor nosso Deus” significa puro amor e doação. Trata-se de um laço entre nós que consiste de amor e doação e que divulga para nós a força da Natureza com a qual estamos em Dvekút (adesão).

Recordar

Devemos constantemente nos recordar e recordar aos outros, sobre a garantia mútua (Arvut). Devemos todos nos recordar uns aos outros que estamos obrigados a nos tratar uns aos outros favoravelmente, acima das más relações entre nós. Precisamos amar os outros como amamos aos nossos filhos: por vezes podemos estar infelizes com as personalidades de nossos filhos, mas os amamos independentemente.

Temos de nos tornar como uma família?

Sim e devemos sempre o recordar.

Então a Arvut é o guarda-chuva que deve cobrir todas as fendas entre nós, todos os conflitos. De fato, não precisamos mudar nada de todo, só colocar a Arvut entre nós.

Precisamente e então alcançaremos a abundância. É isto o que nos espera.

 

* Em Guemátria (Numeração hebraica das letras), Hateva (A Natureza) é equivalente a Elokim (Deus).

** “O Senhor vosso DEUS que vai diante de vós, ELE lutará por vós” (Deuteronômio, 30:1).

0 replies

Leave a Reply

Want to join the discussion?
Feel free to contribute!

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *