Padrões De Percepção

Do livro “Cabala, Ciência e o Sentido da Vida”

Modos De Aprendizagem

Nossas ferramentas de percepção nunca podem perceber a Essência, independente do nosso nível. Embora o que nós percebemos é de fato a Essência, só podemos percebê-la através da Matéria, e não podemos sequer imaginar como ela se parece. Além disso, nós não podemos nem mesmo querer perceber a Essência.

Por exemplo, nenhum de nós sente que um sexto dedo adicional seria bem vindo. No entanto, se nós pudéssemos imaginar que tínhamos alguma vez um sexto dedo, e que podíamos fazer algo com ele que não fazemos hoje, então poderíamos falar da necessidade de um sexto dedo. Mas se nós nunca tivermos um dedo adicional, não poderemos nem mesmo imaginar como ele nos beneficiaria. É por isso que nunca vamos querer um sexto dedo.

Da mesma forma, uma vez que nós nunca sentimos a Essência, não podemos querer percebê-La. A realização da Matéria, a manifestação das ações da Essência que está presente na matéria, é bastante satisfatória.

A discussão acima levanta uma questão importante: Se nós não podemos perceber a Essência, como é que os Cabalistas sabem que ela existe? Por enquanto, nós deixaremos esta questão sem resposta, mas nós prometemos voltar a ela mais tarde.

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O desejo de receber é a Matéria. Ele é dividido em cinco níveis. Quando o desejo de receber é integrado  à  intenção  de  doar,  ele  adota  diversas  Formas,  desde  a   mais   oposta   ao   Criador até a Forma do próprio Criador. Enquanto nós evoluímos espiritualmente , nós gradualmente estudamos todas as qualidades que a Matéria pode assumir. Isso é chamado de “Aprendizagem Formativa”.

Nós temos um desejo genuíno de adquirir as Formas de doação que estão revestidas na Matéria. Um desejo genuíno significa que este é um desejo que decorre de se ter tido essa Forma anteriormente e não tê-la agora.

A nossa matéria, o desejo de receber, foi criado em uma Forma corrigida, ou seja, na Forma de doação, que foi depois invertida em recepção. Readquirir a Forma de doação através de nossos próprios esforços é a essência da nossa correção. Este processo deve ser realizado utilizando-se o mesmo padrão que foi criado enquanto nós tínhamos a Forma de doação, e ele é inteiramente baseado na experimentação prática. Portanto, este processo é totalmente confiável.

A Filosofia, no entanto, se ocupa com ideais abstraídos da Matéria. Ela é completamente oposta ao método da Cabala, porque se baseia no estudo das Formas Abstratas. A Filosofia  discute  atributos como verdade, falsidade, raiva e coragem, enquanto estes não estão revestidos na Matéria, atribuindo títulos às Formas Abstratas, tais como “a verdade é boa, mentir é ruim”. Isso cria uma preocupação de que as pessoas se identificarão com essas declarações como ideais e irão se unir a elas fanaticamente.

O Baal HaSulam demonstra isso com uma parábola sobre uma pessoa que tinha um respeito tão grande pelo atributo da verdade, que quando confrontada com a oportunidade de salvar as pessoas da morte, ela escolheu não fazê-lo porque isso envolveria mentir.

Esta parábola demonstra o erro de se ocupar com Formas Abstratas, porque nós não possuímos meios para julgar certo atributo como sendo bom ou ruim se ele não estiver revestida do Matéria. Somente quando a Forma está revestida na Matéria é que nós podemos determinar se ela é benéfica para a evolução da Matéria ou prejudicial. O único critério é a evolução da Matéria em direção à realização do propósito da Criação.

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Embora nós possamos imaginar erroneamente Formas Abstratas, a Essência é algo completamente inimaginável para nós. De forma lógica, nós assumimos que por trás da Forma que reveste a Matéria e a Forma Abstrata, existe uma base que sustenta todas as outras Formas, que chamamos de “Essência”.

Assim, nós percebemos que a nossa capacidade é limitada, que nós só conseguimos compreender  a Matéria e a Forma que está revestida nela. Todavia, nós não podemos evitar perguntar por que o Criador não nos criou com a capacidade de perceber a Forma Abstrata e a Essência.

A resposta é simples: se nós pudéssemos alcançar a Forma Abstrata e a Essência, veríamos a Essência revestida em tudo, operando tudo, desde o primeiro ao ultimo estado. Essa imagem clara nos tiraria a sensação de livre-arbítrio; ela nos impediria de estudar e criar a imagem do Criador dentro de nós.

Ao demonstrar que nada existe fora do nosso Kli, nós podemos definir os termos “este mundo” e “Mundo Superior”, como uma maneira de descrever os tipos de percepção da realidade. “Este mundo” é a percepção da realidade dentro do Kli quando agimos com o intuito de receber. O “Mundo Superior” é a percepção da realidade dentro do Kli quando agimos com o intuito de doar, altruisticamente.

 

A Imagem Completa

Os Cabalistas somente descrevem o que eles alcançaram com precisão dentro dos seus vasos, isto é, a Forma na Matéria e a Matéria. A Matéria é o desejo de receber e a Forma na Matéria é a Forma de doação revestida no desejo de receber. De fato, a criatura sempre alcança a imagem completa, mas a questão é: como nós podemos ter certeza daquilo que é revelado?

Por exemplo, quando nós observamos certa imagem, como sabemos o que estamos percebendo? Qual parte da nossa percepção é correta e qual não é? Como as nossas ferramentas são limitadas, nós não podemos ter certeza. Talvez os óculos que usamos para observar a realidade estejam mostrando um plano à nossa frente, quando, de fato, existe um abismo bem a frente de nossos pés. Poderia o nosso próximo passo nos jogar nesse abismo?

Se os exemplos acima parecem improváveis, o próximo esclarecerá a questão: sem um medidor de radiação, como nós seríamos capazes de detectar a radiação? Nós poderíamos facilmente caminhar em áreas contaminadas sem perceber.

Nós somos incapazes de construir ferramentas que nos ajudem a determinar o que é confiável e o não é confiável na espiritualidade. A diferença entre o que nós podemos e não podemos confiar reside na diferença entre as várias ferramentas que temos a nossa disposição.

Alcançar a Forma Abstrata e a Essência não é considerado uma aquisição segura. Isto porque elas são percebidas através de “vasos externos”, e não através de “vasos internos”, embora nós possamos sentir neles algo chamado de “luminescência remota”. Essa luminescência induz a sensação de que algo existe, mas não é claramente percebido por nossos sentidos. Esta é a resposta à pergunta de como os Cabalistas sabem sobre a existência da Forma Abstrata e da Essência.

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Nós devemos enfatizar que localizar a passagem desse mundo para o mundo espiritual não é uma ação direta. É como procurar uma saída num círculo fechado. Embora a entrada esteja em algum lugar, ela só pode ser vista depois de termos procurado por todos os 360 graus.

Para construirmos a Forma do Criador dentro de nós, devemos primeiro conhecer todas as Formas opostas a Ele. Se o Criador tivesse uma imagem fora de nós, seríamos capazes de adotá-la imediatamente, e assim terminar o processo. Entretanto, essa imagem não existe fora de nós; nós devemos construir a imagem do Criador dentro da nossa própria Matéria. Primeiro, nós devemos aprender sobre as Formas opostas ao Criador, e somente então poderemos construir Formas similares a Ele. A soma das imagens cria nossa imagem do Criador.

 

Criando Modelos

Vamos voltar brevemente aos navios de Colombo. O xamã não podia detectar os navios porque não possuía o modelo de tal “casa flutuante” em sua mente. Em termos Cabalísticos, nós diríamos que ele não tinha o Kli para detectar essa Forma. Para que o xamã detectasse o navio, sua forma teria que preexistir em sua mente, a qual ele compararia com a forma sendo observada. Assim, ele a reconheceria como um navio com base na equivalência de forma entre o modelo preexistente e o navio que ele viu do lado de fora.

Entretanto, para sermos capazes de sentir a realidade espiritual, nós deveríamos encontrar alguém que falasse sobre ela. Por essa razão, os Cabalistas escrevem seus livros. Nós podemos usar esses livros para descrever o que está fora de nós e construir gradualmente as Formas ou padrões espirituais dentro de nós.

Os padrões que nós construiríamos internamente seriam, sem dúvida, falsos, mas o próprio esforço e o desejo intenso fariam com que a Luz nos influenciasse. A Luz constrói progressivamente formas similares à sua própria forma, até que a pessoa começa a ver a Luz verdadeira. Este é o único modo de avançar, já que somente a Luz pode construir o vaso (Kli) dentro de nós. Na verdade, nós não podemos imaginar o que está acontecendo a nossa volta, mesmo agora. Nós estamos cercados por mundos e forças que não podemos sentir por falta de equivalência de Forma.

 

Um Homem das Cavernas no Mundo de Hoje

Se nós pensássemos um pouco mais sobre os Indígenas e o navio de Colombo, perguntaríamos: se um homem das cavernas nascesse no mundo de hoje, ele enxergaria os carros e prédios? A resposta é que ele não enxergaria. Então ele se chocaria com os prédios ou seria atingido por um carro assim que saísse da calçada?

Antes de respondermos a essas perguntas, nós devemos entender que nós só percebemos tais Formas que os nossos sentidos são equipados a detectar. Por exemplo, o ar a nossa volta, que parece vazio, pode na realidade ser mais condensado e sólido que o cimento. Nós estamos acostumados a ver esse mundo como um lugar por onde podemos nos mover livremente. Porém, se nós construirmos ferramentas de percepção apropriadas, nós perceberemos que o mundo é na verdade preenchido com uma enorme energia do Criador, que não permite que façamos nenhum movimento livre. Se isso acontecesse, nos sentiríamos totalmente controlados pelo Criador, como se estivéssemos “plantados” no cimento, incapazes de fazer um único gesto livre.

Como o nosso homem das cavernas não teria o sentido que percebe a parede como Matéria ou como Forma na Matéria, ele seria capaz de atravessar paredes como se elas fossem ar. Os Cabalistas desejam orientar nossas observações, de modo que possamos perceber o mundo de forma correta. Se nós nos afastássemos apenas um pouco de nossa habitual percepção do mundo, e nos colocássemos dentro da percepção real que os Cabalistas descrevem, este mundo pareceria muito estranho para nós.

Atualmente, muitos físicos quânticos estão descobrindo que o mundo tem uma “estranha” regularidade de tempo, espaço e movimento. Por exemplo, eles dizem que os objetos podem estar em mais de um lugar ao mesmo tempo. Esta peculiaridade os leva a pensar que tudo é medido com respeito ao observador. Isto significa que a existência ou ausência da parede do homem das cavernas, bem como a capacidade de mover-se através dela, são medidas somente pelo estado dos vasos (Kli) do observador.

Nós nascemos neste mundo com cinco ferramentas de percepção (os cinco sentidos naturais), que se desenvolvem de geração a geração. O ambiente cerca cada criança recém-nascida. Como resultado, quando crescemos nós percebemos as coisas a nossa volta como fatos reais, como Formas na Matéria percebidas por nossos cinco sentidos.

Todavia, mesmo a nossa percepção com os cinco sentidos reflete o que os nossos  próprios sentidos projetam, e nada mais. Eu sou o criador dos prédios, dos carros, da Terra, do universo, e toda a minha realidade. Eu os criei em meus vasos, em minhas sensações. Fora de mim, eles são amorfos.

É muito difícil desvincular-nos de nossas percepções naturais. Parece que uma perspectiva diferente da realidade só é possível depois de atravessarmos a barreira para o mundo espiritual. Somente então nós entenderemos que as coisas podem ser diferentes do que pareciam antes.

Por exemplo, nós não podemos atravessar paredes porque somos controlados pelas mesmas regras que criamos. Mas a Luz Superior é abstrata; somos nós que A limitamos. Existe somente uma lei na realidade: “a lei da equivalência de Forma”. Quanto mais nós igualamos a nossa própria forma com a da Luz, mais livres e ilimitados nos tornaremos.

O nosso desejo de receber está dividido em 613 desejos. De acordo com a nossa diferença de Forma com a Luz, nos erguemos barreiras em torno de cada um desses desejos. A soma de todos esses limites cria a forma de nossa ferramenta de percepção, e essa ferramenta produz a nossa representação da realidade.

Será mais fácil para nós entendermos a Lei da equivalência de Forma se considerássemos como funcionam os receptores de rádio. Um receptor pode captar ondas somente quando cria ondas idênticas dentro de si. Do mesmo modo, nós “captamos” coisas que aparentemente existem do  lado de fora – mas somente de acordo com o que criamos interiormente.

A Lei da equivalência de Forma é constante e limita toda a realidade. Ela é valida tanto para os vasos altruístas quanto egoístas. Em outras palavras, nós percebemos a realidade física e a realidade espiritual exatamente do mesmo modo: através da equivalência de Forma. A única diferença entre os dois tipos de vaso está na direção deles: um está dirigido para o ego, o outro  para o Criador. Porém, a existência nos vasos egoístas permite que um número bem limitado de vasos seja sentido.

Os físicos quânticos estão começando a descobrir que além de certo limite da investigação, o mundo parece “desaparecer”. Os Cabalistas escreveram sobre tais “descobertas” há milhares de anos. Eles explicaram que além desse limite, a matéria física e seus contornos desaparecem, e somente forças e formas que estão acima da Matéria permanecem. A continuidade do estudo além desses limites só será possível depois que os investigadores adquirirem os vasos altruístas apropriados.

Os Cabalistas descrevem as regras básicas para a correta atitude em relação à realidade com muito mais profundidade que os cientistas. Somente quando essas regras forem aplicadas, será possível progredir nas investigações e na percepção da realidade.

A Cabala foi mantida oculta até recentemente porque a humanidade não estava pronta para entendê-la corretamente. Os avanços da ciência contemporânea nos prepararam para entender a sabedoria da Cabala. É por isso que a Cabala esta sendo revelada nos dias de hoje.

Vamos retornar por um instante ao homem das cavernas que “caiu” em nosso tempo. Nós temos a tendência de pensar que os nossos vasos são mais ricos que os dele porque podemos ver Formas que para ele não existem.

Entretanto, isso é um erro: embora nós tenhamos realmente evoluído e adquirido impressões de mais Formas do que o homem das cavernas, construindo muito mais vasos, esses vasos nos limitam muito mais. As Formas na Matéria que nós percebemos, eram Formas Abstratas para o homem das cavernas; elas não existiam para ele, e, portanto, não o limitavam.

No futuro, nós descobriremos que quanto mais “adquirimos”, mais nos limitamos. Nós progredimos ao adquirirmos formas e construirmos cada vez mais estruturas, mas no final essas estruturas nos limitam em cada nível da realidade, mostrando-nos que não somos de modo algum livres.

À medida que nós nos desenvolvemos, nós absorvemos várias impressões do nosso meio: nossos pais, professores, amigos, e experiências. Essas impressões nos fazem olhar para a realidade de acordo com nossa “autoprogramação”. Desse modo, a realidade é somente uma projeção do nosso software interior; ela não existe fora de nossos vasos internos. A realidade é uma invenção de nossa imaginação, mas a nossa mente retrata essas imagens como se existissem do lado de fora.

Assim como a realidade física, a realidade espiritual não existe fora de nós, mas é a Luz revestida no Kli. Fora do Kli existe apenas a Luz abstrata e sem forma, e tudo o que falamos é sobre a aplicação de Formas no desejo de receber.

Os Cabalistas declaram que na realidade espiritual o desejo de receber pode adotar um número finito de Formas discretas. Juntando-se todas essas Formas, nós podemos perceber a influência contínua da Luz, que é a imagem exata do Criador.

A materialidade é uma réplica, uma projeção da espiritualidade, como um ramo de uma raiz. Portanto, o processo que se revela na materialidade é muito parecido com o processo espiritual. O desejo de receber egoísta pode assumir um número limitado de Formas, e depois a matéria desaparece – parecido com o que os pesquisadores estão descobrindo atualmente.

Depois que a pessoa constrói um grande número de Formas, essas se tornam uma imagem simples de “uma” doação ou de “uma” recepção. Essa é uma projeção do estado espiritual chamado Gmar Tikkun (Fim da Correção). O Gmar Tikkun é o estado espiritual que ocorre depois que o Kli revestiu-se com todas as Formas de doação da Luz. Nesse estado, a Luz e o Kli se equivalem completamente.

O único modo pelo qual o vaso pode acelerar a construção das Formas que atualmente lhe faltam é escolhendo o ambiente apropriado para o progresso espiritual. Esse ambiente o faria “imaginar” as formas descritas nos livros de Cabala, e assim induzir a ação da Luz sobre a alma. A Luz, em troca, construiria “sensores” para detectar as Formas de doação.

De fato, essa Luz é a mesma Forma Abstrata onde tudo “desaparece”, como os físicos quânticos têm descoberto. Essa Forma Abstrata projeta a Forma de doação sobre o desejo de receber, e como resultado, os “sensores” para percebê-La começam a formular dentro de nós.

Os Cabalistas definem essa Luz como “a Luz que Corrige”, porque ela cria a Forma de doação dentro de nós, e nos aproxima do nosso estado perfeito.

Hoje, muitos pesquisadores acreditam que no nível mais básico, nós somos todos um só, e que a conexão entre nós deveria ser de amor. Porém, esses pesquisadores não acharão um jeito de perceber esse ideal, pois a Força para fazer essa correção deve ser atraída do “outro lado”, do lado do amor. Isto só pode ser feito através do estudo da Cabala.

Finalmente, os pesquisadores descobrirão que a matéria desaparece totalmente, e que a única coisa que existe é o pensamento puro, mas eles não serão capazes de progredir além disso. Eles sentirão que existe outra existência além da nossa, onde a nossa Matéria é oposta a nossa atual Matéria, e que estamos conectados em perfeita união. Todavia, o modo de se obter essa Forma de existência, o reino do “outro lado” da lei quântica, só pode ser ensinado por aqueles que já estão “lá” — os Cabalistas.

É impossível quebrar essa barreira sem atrair a Luz encontrada nos livros de Cabala, pois eles são os únicos textos que escritos do “outro lado”. O desejo pessoal de “chegar lá”, junto com o estudo dos textos Cabalísticos corretos, atrai a Luz sobre a pessoa e constrói dentro de sua alma as Formas com que ela percebe o reino espiritual. Assim como o xamã teve que construir as formas corretas para ver os navios, nós temos que construir Formas de doação para estar no reino espiritual.

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