Introdução

Do livro “Interesse Próprio vs. Altruísmo na Era Global”

No momento em que estas palavras são escritas, o mundo ainda está se recuperando da mais longa recessão desde a Segunda Guerra Mundial. Dezenas de milhões de pessoas em todo o mundo perderam seus empregos, suas economias, suas casas, mas, o mais importante,                suas                esperanças para o                      futuro. Nossa saúde, ao que parece, não é mais saudável do que a nossa riqueza. A medicina moderna, orgulho e alegria da civilização ocidental, está às voltas com o reaparecimento de doenças que se acreditavam extintas. De acordo com um relatório publicado pelo Conselho de Saúde Global, “Doenças que se acreditava estarem sob controle têm novamente voltado como grandes ameaças globais. O surgimento de cepas resistentes  de bactérias, vírus e outros parasitas coloca novos desafios para o controle das doenças infecciosas. Coinfecção com múltiplas doenças cria obstáculos para prevenção e tratamento                                                  de                      infecções.” A Terra, também, não é tão hospitaleira como antes. Livros como os de James  Lovelock, A Vingança de Gaia, Ervin Laszlo, O Ponto do Caos, e filmes como o de Al Gore, Uma verdade inconveniente, são apenas três exemplos de uma cavalgada de relatórios    alarmantes    sobre    a     deterioração     do     clima     da     Terra     .   Como o aquecimento global derrete as calotas polares, o nível do mar sobe. Isso já causou mudanças dramáticas e trágicos acontecimentos. Um relatório da Stephan Faris na revista Scientific American lista alguns dos locais já afetados  pela  mudança climática. Em Darfur, os confrontos entre tribos nômades e sedentárias que estourou devido a uma seca de décadas se transformou em uma rebelião contra o descaso do governo sudanês. Posteriormente, a crise se espalhou para o Chade e a República Centro-Africana.

Também nesse relatório, a nação insular Kiribati, do Pacífico, declarou suas terras inabitáveis e pediu ajuda para evacuar sua população. Em março de 2009, Peter  Popham, escritor de The Independent, forneceu outro ângulo para a situação do  clima: “O aquecimento global está dissolvendo as geleiras alpinas tão rapidamente que a Itália e a Suíça decidiram que devem novamente desenhar suas fronteiras nacionais para ter em conta a nova realidade.”.

Um resultado mais trágico da mudança climática é a fome, causada por secas prolongadas em algumas áreas e inundações constantes em outras. De acordo com o Programa Alimentar Mundial, cerca de um bilhão (1.000.000.000) de pessoas em todo o mundo está constantemente com fome. Pior ainda, mais de nove milhões (9.000.000) de pessoas morrem anualmente de fome e de causas relacionadas, mais da metade são crianças. Isso significa que hoje, na era mais avançada tecnologicamente da história da humanidade, uma criança morre a cada seis segundos devido à falta de comida e água.

Em nossas casas, os problemas são muitos também. O New York Times anunciou que,  de acordo com um censo divulgado pelo American Community Survey, as taxas de divórcio aumentaram a tal ponto que hoje há mais casais não casados nos Estados Unidos do que casados. É a primeira vez na história que as famílias monoparentais são a norma,           as           de           mãe           e           pai           são           a           exceção. Muitos cientistas, políticos, ONGs e organizações ligadas à ONU alertam que a humanidade  está enfrentando  um risco  de catástrofes  sem precedentes em uma escala global. Qualquer coisa, desde a mutante gripe aviária até uma guerra nuclear ou um terremoto, poderia acabar com milhões e bilhões seriam levados à miséria.

Crises, no entanto, têm ocorrido ao longo da história. Nossa época não é a primeira em que a humanidade tem estado em risco. A pandemia da Peste Negra do século XIV e as duas Guerras Mundiais facilmente superam o perigo que a nossa situação atual apresenta. O que distingue a atual crise das anteriores, porém, é a tensão que caracteriza o estado atual da humanidade. Nossa sociedade tem ido ao extremo em duas direções que parecem entrar em conflito: a globalização e a interdependência de um lado, e o aumento da alienação e o narcisismo pessoal, social e político de outro. E isso é uma receita para um desastre como o mundo jamais viu, seja no setor financeiro  ou para  além dele.

Hoje a globalização nos diz respeito muito mais que a interdependência financeira. Tornamo-nos globalmente interligados em todos os domínios da vida: os computadores  e TVs que usamos para nos entreter vêm (principalmente, mas não exclusivamente) da China, de Taiwan e da Coreia. Os carros que dirigimos são montadas (mais uma vez, principalmente) no Japão, na Europa e nos Estados Unidos, mas suas peças são  feitas em muitos outros países. As roupas que vestimos muitas vezes chegam da Índia e da China, enquanto a comida em nossos refrigeradores vem de todo o mundo.

Além do mais, em todo o mundo as pessoas assistem a filmes de Hollywood e  aprendem inglês aos milhões. De fato, dos cerca de 1,4 bilhões de falantes de inglês a nível mundial, apenas 450 milhões são falantes nativos, e só a China produz mais de 20 milhões de novos falantes de inglês a cada ano, relata o Asia Times em uma reportagem do dia15 de setembro de 2006, intitulada “Inglês nativo está perdendo seu poder”.

Em 8 de março de 2009 o economista da Wachovia Corp, Mark Vitner, fez uma descrição bastante palpável da situação globalizada do mundo, quando descreveu a interconexão dos mercados de crédito na MSNBC: “É como tentar desembaralhar ovos mexidos. Isso não pode ser feito facilmente. Eu não sei se isso pode ser feito de alguma maneira.”i

O problema com a globalização, no entanto, não é apenas que nos torna interligados, também nos torna interdependentes, e em vez de usarmos essas interconexões para prosperar, nos engajamos em um constante cabo de guerra. O que aconteceria com os países ricos em petróleo se o mundo de repente mudasse para as energias eólica e solar? O que aconteceria se a China parasse de comprar dólares dos Estados Unidos? O que aconteceria com China, Japão, Índia, Coreia se os americanos não tivessem dólares para comprar os bens produzidos na Ásia? E se os turistas ocidentais deixassem de viajar, o que seria das centenas de milhões de pessoas em todo o mundo que sustentam suas famílias graças ao hedonísmo ocidental ?

O jornalista Fareed Zakaria eloquentemente descreveu esse emaranhado em um artigo  da Newsweek, intitulado “Saindo das carteiras: o mundo precisa dos norte-americanos gastando”: “Se os deuses da economia me dissessem que eu poderia ter a resposta a uma pergunta sobre o destino da economia global (…) gostaria de perguntar ‘Quando o consumidor americano começará a gastar novamente?'” Na verdade, nós nos tornamos uma aldeia global, totalmente dependentes uns dos outros para o nosso sustento.

A interdependência, no entanto, é apenas uma parte do quadro complicado de hoje. Embora estejamos crescendo cada vez mais globalizados, estamos também nos tornando cada vez mais centrados em nós mesmos ou, como os psicólogos Jean M. Twenge e Keith Campbell descrevem, “cada vez mais narcisistas”. Em seu livro perspicaz, A epidemia do narcisismo: vivendo na Era do Direito, Twenge e Campbell falam sobre ao que eles se referem como “o aumento incessante do narcisismo em nossa cultura” e os problemas que ele causa. Eles explicam que “Os Estados Unidos estão atualmente sofrendo de uma epidemia de narcisismo. (…) traços de personalidade narcisista aumentaram tão rápido quanto a obesidade.” Pior ainda, “O aumento do narcisismo está se acelerando, com pontuações crescendo mais rápido na década de 2000 do que em décadas anteriores. Em 2006, 1 em cada 4 estudantes universitários concordou com a maioria dos itens em uma medida padrão de traços narcísicos. Hoje, como o cantor  Little Jackie coloca, muitas pessoas sentem que “sim senhor, todo o mundo deve girar em torno de mim.'” No dicionário Webster, o narcisismo é definido como “egoísmo” e isso, claramente falando, significa que nos tornamos insuportavelmente egoístas.

Assim, nosso problema é duplo: por um lado, somos interdependentes; por outro lado, estamos nos tornando cada vez mais narcisistas e alienados. Estamos tentando levar  duas formas de vida que simplesmente não se encontram: a interdependência e a alienação. Talvez seja por isso que passemos incontáveis horas conversando com “amigos virtuais” em redes sociais online, mas sejamos muitas vezes frios e insensíveis com nossos parentes em casa. Se fôssemos simplesmente interdependentes, gostaríamos de nos unir, apoiar uns aos outros e ser felizes. Alternativamente, se fôssemos simplesmente egoístas, separar-nos-íamos e viveríamos por nós mesmos. Mas se nós somos interdependentes e egoístas, nenhuma das duas formas funciona!

E esta é, em essência, a raiz da crise: a nossa interdependência exige de nós que trabalhemos juntos, mas o nosso egoísmo nos leva a enganar e explorar uns aos outros. Como resultado, os sistemas de cooperação que trabalhamos tão duro para construir se quebram, levando a contínuas crises.

Assim, o objetivo deste livro é duplo: 1) lançar luz sobre a causa da nossa interdependência, por um lado, e nosso egocentrismo, por outro, e 2) descrever brevemente um modus operandi viável para combinar essas características aparentemente conflitantes em nosso benefício. Para abordar o primeiro objetivo, vou explicar o que eu aprendi na Cabalá sobre a estrutura da Natureza e, particularmente, sobre a natureza humana. Para abordar o segundo objetivo, vou combinar as ideias do grande Cabalista do século 20, Yehuda Ashlag, assim como as de outros grandes Cabalistas, com sugestões de cientistas contemporâneos e estudiosos de outras disciplinas.

Na Sabedoria da Cabalá, descobri o que eu acredito ser uma solução viável para os problemas globais atuais e me sinto grato por me ter sido dada a oportunidade de apresentá-la. É minha esperança e, posso dizer, convicção de que, a partir dos conceitos que a Cabalá oferece, possamos salvar a nós mesmos, bem como a Grande Bola Azul na qual vivemos.

 

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