Capítulo 1 – Hora de Agir
O todo da sabedoria da Cabala é somente conhecer a orientação da Vontade Superior, porque Ela criou todas estas criaturas, o que Ela quer com elas, e qual o fim de todos os ciclos do mundo será.
Ramchal, Pitchei Chochmá (Portas de Sabedoria), Porta Nº 30
A humanidade está sempre a se desenvolver. Em tempos antigos, as necessidades das pessoas eram muito básicas: comida, abrigo e procriação. Estes são desejos naturais, bem como necessidades existenciais. A seu tempo, necessidades maiores e desejos maiores surgiram em nós: por prosperidade, dominação, respeito e conhecimento.O Zohar é O livro da sabedoria de Cabala, a sabedoria da verdade. Ele está a surgir hoje para nos conduzir em frente para uma dimensão superior.
Todavia, o que há de tão especial sobre O Zohar e sobre a Cabala? Porque está esta sabedoria a tomar o palco central especificamente para aqueles que vivem hoje?
No decorrer da história, temos tentado satisfazer as necessidades que surgiram em nós. Temos tentado encontrar dentro destas mudanças felicidade, amor, e uma boa vida. Hoje, vemos que esta busca foi infrutífera. Embora cada geração seja mais avançada materialmente, cada uma também sofre mais. O uso ubíquo de drogas e antidepressivos como um escape são sintomas do vazio interior da nossa geração.
Em cada dado momento, os media estão a apresentar-nos mais e mais tentações, que então nos apressamos a satisfazer. Pode ser uma nova peça de roupa, um carro, um emprego melhor, um título académico, uma viajem no estrangeiro, ou até um bom restaurante. Mas cada vez que obtemos algo, o prazer se dissipa brevemente e depois somos deixados a questionar, “O que se segue?” Então a busca recomeça.
Durante quanto tempo? Hoje, mais e mais pessoas estão a fazer esta pergunta. E não só, “Durante quanto tempo?” mas também, “Porquê?”
Porque se estão nossas vidas a revelar como estão? Porque estamos numa corrida constante, nunca realmente encontrando qualquer repouso? Porque é que tudo se torna aborrecido e insípido assim que o obtemos? E em geral, se é disto que a vida se trata e não há nada que possamos fazer acerca disso, porque precisamos dela de qualquer modo?
Nunca houve tal um estado em que perguntas sobre o propósito e o sentido da vida surgiram em tantas pessoas. No passado, simplesmente não perguntávamos. Vivíamos porque nascíamos. Mas hoje, tais perguntas que subitamente surgem dentro de nós deixam-nos inquietos, nos empurrando em frente, passados anos de procura chegamos à sabedoria da Cabala, a sabedoria que nos ensina como receber muito mais da vida.
Anteriormente, não tínhamos necessidade pela Cabala, daí sua ocultação. Mas hoje, nossa necessidade por ela é a razão principal pela sua aparição na nossa geração.
A segunda razão é a situação especial em que estamos hoje. O desenvolvimento da tecnologia e media tornou o mundo numa pequena aldeia na qual somos completamente interdependentes. Todavia, ao mesmo tempo, nossos egos e nosso ódio uns pelos ouros estão a aumentar.
Está a tornar-se praticamente impossível para nos tolerar os outros, começando no mais pessoal nível, onde cada membro de uma família precisa de um quarto pessoal, um carro pessoal, e virtualmente uma casa pessoal. As pessoas acham muito difícil manter relacionamentos, e as taxas de divórcio estão a aumentar. A unidade familiar está a desmoronar-se por todo o mundo.
Estamos a viver juntos, presos num planeta minúsculo, antagonistas uns para os outros e incapazes de nos dar bem. A quantidade de armas de destruição em massa acumularam-se mundialmente trouxeram-nos a um estado perigoso onde tudo ao nosso redor é instável e imprevisível. É seguro dizer que perdemos nossa habilidade de governar o mundo.
Olhando em frente, se continuarmos no nosso presente caminho, não é claro como sobreviveremos. Que tipo de mundo estamos a deixar para nossos filhos? A geração de hoje é a primeira na qual as pessoas deixaram de acreditar que os seus filhos terão uma vida melhor que a sua!
Com tudo isto no fundo, O Livro do Zohar e as outras fontes de Cabala estão a aparecer. Elas explicam que a situação que agora enfrentamos há muito foi prevista.
A primeira vez que tal estado ocorreu foi há milhares de anos atrás na antiga Babilónia. A história Bíblica sobre a Torre de Babel descrevia pessoas reunidas num lugar, desejando construir uma torre cujo topo alcançava o céu. Esta era uma expressão do grande egoísmo que apareceu entre eles, e o ódio combinado com a interdependência. Foi precisamente nesse lugar e nesse estado que a sabedoria da Cabala apareceu.
A sabedoria oferece uma coisa muito simples. Ela diz que em adição à realidade que presentemente sentimos, há outra, realidade mais expansiva, uma superior. Desta realidade superior, forças se estendem até nosso mundo e o governam. O desenvolvimento que alcançámos durante as gerações era dirigida a nos trazer a reconhecer as forças que nos operam e governam.
Quando descobrirmos esta realidade superior, compreenderemos que nosso desenvolvimento durante milhares de anos tomou lugar somente para nos trazer a adquirir e experimentar uma sensação mais expansiva da realidade. Assim, não ficaremos num estado confinado no qual vivemos e morremos, vivemos e morremos. Em vez disso, conheceremos a vida na sua forma eterna, ampla e ilimitada.
_____________________________________________________________O homem foi feito para elevar os céusRabi Menachem Mendel de Kotzk___________________________
Na antiga Babilónia, foi Abraão o Patriarca, um residente de Ur dos Caldeus, que descobriu que o programa de desenvolvimento da humanidade estava a empurrá-la para descobrir uma nova realidade. Abraão percebeu que no final, a evolução material do homem na terra se esgotaria a si mesma, e a humanidade descobriria que algo além de satisfazer os desejos corpóreos era necessário, e que sem isso, a vida na terra seria fútil e insignificante.
Abraão descobriu que no final da evolução material começa a evolução espiritual. Assim que ele mesmo esgotou os desejos que todos possuímos, um novo desejo apareceu nele — de compreender o propósito da sua vida.
Na Cabala, todos os nossos desejos terrenos são considerados como “o coração,” enquanto o desejo de descobrir o sentido da vida é descrito como “o ponto no coração.” O ponto no coração é um desejo que desperta nos nossos corações e nos puxa “para cima.” Esse novo desejo conduziu Abraão a descobrir a realidade completa, a realidade espiritual.
A sabedoria de Abraão é chamada “a sabedoria da Cabala,” e ela descreve a rede das forças da Natureza e como podemos estudar o programa pelo qual elas nos afectam. A sabedoria da Cabala descreve regras, forças, e fórmulas de funcionamento dos mundos superiores.
A Cabala explica como a realidade começou a expandir do mundo de Ein Sof[infinito], através dos mundos de Adam Kadmon [homem da antiguidade], Atzilut[Emanação], Beriá [Criação], Yetzirá [Formação], e Assiyá [Acção], até ao nosso mundo. Ela fala de como as almas desceram e se “vestiram” em corpos neste mundo, e como podemos causar nossas almas a subir daqui de volta ao mundo de Ein Sof.
Abraão foi o primeiro Cabalista a ensinar as pessoas como descobrir a alma e gradualmente experimentar um mundo superior através dela. Há cinco mundos superiores, cada um com cinco graus, cada um dos quais estão então divididos em cinco graus adicionais. Se multiplicarmos 5x5x5, chegaremos aos 125 graus pelos quais ascendemos na nossa sensação, entendimento e realização até que descobrimos o todo da realidade.
Esse processo toma lugar enquanto estamos aqui nos nossos corpos materiais. Quando alcançarmos estes mundos superiores, a realidade torna-se muito mais ampla e sentimos as forças que operam o mundo em que estamos. É como uma imagem de bordado. Na frente está uma imagem, enquanto as traseiras apresentam todas as ligações entre os fios que criam a imagem na frente.
Quando observamos o nosso mundo e o que está a acontecer nele, meramente observamos a imagem superficial. A sabedoria da Cabala ajuda-nos a ver a profundidade da imagem. É assim que começamos a compreender as ligações entre as coisas — porque as coisas acontecem e como podemos afectar um elemento através de outro elemento.
Por outras palavras, não só vemos a imagem deste mundo, mas também começamos a ver o sistema operativo. Somente então podemos nós controlar nossas vidas e nossos destinos, e chegar ao estado perfeito.
A sabedoria da Cabala explica que nossas vidas são feitas de tal maneira que problemas de todos os tipos se apresentam a si mesmos perante nós, nos deixando nenhuma outra alternativa senão conhecer o sistema operativo. Se não alcançarmos a dimensão superior, descobrirmos as forças que nos afectam, e começarmos a gerir nossas vidas através delas, não seremos capazes de lidar com a vida. É por isso que esta sabedoria se está a manifestar a si mesma — para que possamos conhecer os mundos superiores.
A Cabala explica tudo o que aconteceu na história humana: porque nos desenvolvemos de uma maneira ou outra, e porque todas as guerras e mudanças que atravessámos tomaram lugar. Ela também se relaciona ao futuro e descreve como podemos evoluir deste ponto em diante.
Há dois caminhos perante nós:
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Escapar ao mal — evoluir através de uma força negativa que nos empurra por trás, como temos feito no decorrer da história: Descobriríamos que algo está a faltar e que não tivemos outra escolha senão sair do estado negativo e fazer uma mudança.
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Ser atraído para o bem — evoluir através de uma força positiva que nos puxa para a frente. É isto o que a Cabala nos oferece: evoluir ao descobrir a boa vida e então compreender como a alcançar através de uma aventura maravilhosa.
Os sábios da Cabala previram nosso estado em avançado. Eles sabiam que sem a Cabala não seríamos capazes de sobreviver. Eles apontaram para o fim do século 20 como o tempo em que a sabedoria apareceria a todos. Eles explicaram que se não mudarmos de um avanço negativo para positivo, seríamos atraídos para ele sem misericórdia [1].
Mas somos enfrentados com problemas nãos ó no nível social, mas também no ecológico, incluindo erupções vulcânicas, terramotos, tsunamis, furacões, incêndios, vagas de calor intensas, e o frio se aproxima. Estes virão somente para nos obrigar a continuar nosso desenvolvimento. A Natureza está a agitar-nos através de uma força negativa para que tomemos a força positiva nas nossas mãos.
Para avançar, primeiro devemos descobrir as forças que descem aqui e nos afectam. Devemos aprender como penetrar no sistema superior da Natureza se vamos governar estas forças. Até se desejarmos desenvolver tecnologias para melhorar nossas vidas, devemos primeiro estudar a Natureza e descobrir que leis ocultas existem nela e como ela governa. Mas porque a Cabala fala até de forças superiores, mais ocultas, o processo de as descobrir é de longe mais complexo. É verdadeiramente um processo fascinante, e expandiremos sobre ele no próximo capítulo.
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Esta sabedoria é não mais e não menos que uma sequência de raízes, que pendem por meio de causa e consequência, através de regras fixas e determinadas, se entrelaçando a uma única, meta exaltada descrita como “A revelação da Sua Divindade às Suas criaturas neste mundo.”Baal HaSulam, “A Essência da Sabedoria da Cabala”
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Desde o tempo de Abraão há alguns 3800 anos atrás, até aproximadamente há 2000 anos atrás, a sabedoria da Cabala era conhecida somente ao povo de Israel. Desde a ruína do Templo aproximadamente há 2000 anos atrás, até à nossa geração. A Cabala tem estado escondida do público e foi passada de geração em geração secretamente entre Cabalistas.
Durante o período em que a Cabala estava oculta, vários estigmas foram atribuídos a ela. Ela foi considerada misticismo, bruxaria, magia, etc, mas ninguém sabia do que se tratava realmente, daí as falsas noções. Também, a próspera indústria dos nossos dias que usa o nome “Kabbalah” para vender bens e serviços nada tem a ver ou que se pareça com a verdadeira essência da sabedoria da Cabala.
Mas o tempo de ocultação terminou. Hoje, a sabedoria original da Cabala está a ressurgir para todas as pessoas, independentemente da idade, sexo, religião ou raça. A Cabala é uma ciência superior. Ela não pertence a qualquer religião ou fé, nem ela apresenta quaisquer fronteiras ou limitações para aquele que a deseja estudar. Qualquer pessoa que deseja compreender o mundo em que ele ou ela vive, conhecer a alma, conhecer o seu destino e aprender como o governar é bem-vindo de estudar a Cabala.
“Se meu povo me tivesse escutado … eles mergulhariam no estudo de O Livro do Zohar … com crianças de nove anos de idade” [2], disse o Cabalista Rabi Yitzhak Yehuda de Komarno inicialmente no século 19. Seguindo-o, outros Cabalistas recomendaram ensinar este conhecimento a crianças de uma jovem idade, lhes dando uma explicação do mundo que as rodeia, a ligação entre suas partes, e as forças que o afectam. Através de tal educação que produz um ser humano confiante conectado à fonte da abundância, sentindo controlo na sua vida. Tal pessoa sabe como usar melhor estas forças, e compreende que a vida é ilimitada.
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O sagrado Zohar conecta a Ein Sof [infinito].Rabi Moshé Israel Bar Elijahu, O Resíduo de Israel. [3]
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O Livro do Zohar é o livro seminal da Cabala. Ele foi escrito precisamente quando a Cabala mudou de ser uma doutrina aberta para se tornar uma oculta. Os autores de O Zohar sabiam que o mundo precisaria deste livro milhares de anos mais tarde, assim eles o ocultaram imediatamente depois de o escrever.
O Livro do Zohar foi na realidade escrito para esta geração, para nos livrar de um estado de “exílio espiritual,” a incapacidade de percepcionar a força superior e a expansividade da realidade. Se desejamos melhorar nossa situação, devemos tornar o O Livro do Zohar o livro condutor do nosso mundo, dado que O Zohar é mais que um livro, ele é um meio para nos conectar à força superior.
Quando aprendermos como ler correctamente O Zohar, descobriremos o que significa receber abundância, e veremos como, com sua ajuda, eventualmente tudo muda. Gradualmente, começaremos a sentir que outra força está presente, uma superior e boa, nos engolindo, e o ar está “embebido” com essa força.
Em conclusão: A Natureza nos trouxe a um ponto especial no desenvolvimento humano, um passo antes de um novo grau de existência. Estamos prestes a dar um salto qualitativo para o grau espiritual, e é por isso que o trampolim — a sabedoria da Cabala e principalmente O Livro do Zohar — estão a aparecer perante nós.
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Nas profundezas da alma humana, a voz do Senhor está sempre a chamar. A comoção da vida podem atordoar a alma para que ela não escute essa voz a chamar durante a maioria da nossa vida, mas ela nunca conseguirá desenraizar a base, a raiz, e a essência dessa voz, que é certamente o próprio cerne da vida humana … Até naqueles que se esforçam para a escapar e a silenciar, fugindo e silenciando somente maior divulgação da conexão inerente da alma a essa voz poderosa, que nunca deixa de zumbir e desejar nos seus corações, também. Certamente, todos os esforços de lhe escapar e todas as tácticas de a silenciar são em vão.Rav Raiah Kook, Tesouros do Raiah, pág. 113
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[1] Os Cabalistas referem-se aos dois caminhos para conhecer os mundos superiores como “o caminho da Torá” [caminho da luz] e o “caminho do sofrimento.” Nos seus “Escritos da Última Geração,” Baal HaSulam explica-o da seguinte maneira: “Há duas maneiras de descobrir a completude: o caminho da Torá e o caminho do sofrimento. Assim, o Criador sucedeu e deu à humanidade a tecnologia, até que eles inventaram as bombas atómica e de hidrogénio. Se a ruína total que elas estão destinadas a trazer não é ainda evidente para o mundo, eles podem esperar uma terceira guerra mundial, ou uma quarta e assim por diante. As bombas farão seu papel e as relíquias depois da ruína não terão outra escolha senão tomar sobre si mesmas este trabalho … Se vós tomardes o caminho da Torá, tudo ficará bem. E se não o fizerdes, então vós trilhareis o caminho do sofrimento.”
Para mais sobre este tópico, veja a “Introdução a O Livro do Zohar” (item 16), “Introdução ao livro, A Árvore da Vida” (item 7), e o ensaio, “A Paz” de Baal HaSulam.
[2] Rav Yitzhak Yehuda Yehiel Safrin de Komarno, Notzer Hesed [Mantendo Misericórdia], Capítulo 4, Ensinamento 20
[3] Rabi Moseh Bar Elijahu, Portão de Conexão, Portão 1, Sermão 5, Artigo nº 2