ALGUMAS PERGUNTAS

Do livro “O Livro Aberto”

O que é “O Sofrer do Justo”?

O Sofrer do Justo é um estado espiritual que precede o estado espiritual de “alegria”, ou seja, O Regozijar do Justo – a situação que vem depois da revelação. Mas o que o homem descobre depois da “grande alegria”? O fato de que ele agora é capaz de, de acordo com seu nível atual, doar infinitamente ao Criador. Quando a pessoa atinge realmente esse desejo, ela possui um vaso, a habilidade de se unir com o Criador.

Como podemos acelerar o processo de correção e merecermos a revelação do Criador?

Você tem de pedir a revelação do Criador com o propósito de corrigir os vasos. Malchut do infinito (Malchut de Ein Sof), o desejo máximo de receber, se restringe. O que isso pode nos ensinar? Se sentimos o Criador, sentimos Sua presença, isso nos dá forças tão poderosas que nos tornamos capazes de controlar nossa própria natureza!

Graças à revelação do Criador, a pessoa entende claramente onde o Criador está, e onde estamos. Esse processo de revelação do Criador é como a sensação de estarmos diante Dele. O resultado é que imediatamente nos dispomos a restringir a nós mesmos e a agirmos com a intenção “para o nome Dela”. Esse é o significado da frase: “A luz nela corrige”.

Qual o significado da frase: “Eu criei a má inclinação, Eu criei a Torah como um remédio”? Como o poder da Torah é manifestado? Ao começarmos a sentir a grandeza do Criador enquanto ainda recebemos. Se pedirmos que o Criador seja revelado, mas não porque queremos prazer, e sim para sermos capazes de usar essa revelação para corrigir nosso próprio vaso, seremos dotados com essa revelação.

Existe a luz da correção, e existe a luz do propósito da criação, a satisfação. Se recebermos a luz para termos a habilidade de corrigirmos a nós mesmos, ela será revelada a nós não como prazer sublime, mas como a “real essência”, para que desejemos doar ao Criador. Graças a isso, recebemos vasos altruístas, a intenção certa – precisamos de todas essas coisas para alcançar a revelação da Divindade dentro de nós.

No livro “Shamati”, artigo nº 4, o Rabino Baruch Ashlag pergunta: “Qual a razão por detrás do peso que a pessoa sente quando se anula diante do Criador?” Ele responde: “…é uma coisa simples chamada falta de fé, ou seja, ela não vê  diante de quem se anula, o que significa que ela não sente a existência do Criador, e isso faz com que ela sinta o peso. Mas quando ela começa a sentir a presença do Criador, imediatamente anseia por se anular e se unir com a raiz, incluída nela, como  uma vela diante  de  uma tocha, sem  nenhum  intelecto  ou conhecimento…

…deste modo, conclui-se que o trabalho do homem é principalmente alcançar a sensação da existência do Criador… …e não pensar em nada, além de que a recompensa que deseja por seu trabalho é que seja dotado com fé no Criador.”

Não quero receber prazer do Criador, mas apenas força para corrigir a mim mesmo. O homem chega (lentamente) à decisão de que ao invés de sua rotina atual, ao invés dos prazeres e desprazeres do dia a dia (ele pára de preocupar com seu futuro), ele quer uma coisa só: corrigir a si mesmo com o auxílio do Criador, aceitar Seus atributos, se tornar como Ele. Essa aspiração espiritual começa a acumular-se gradualmente no homem.

Esse desejo também é uma vontade de obter prazer, mas na correção. Não fomos feitos para sofrer. O propósito da criação é dar prazer às criaturas. Mas o prazer precisa resultar do aproximar-se do Criador, porque esse é o único prazer infinito.

No começo da refeição eu estava com fome, mas agora estou satisfeito. A fome começou a desaparecer no momento em que comecei a comer, até que não pude sequer olhar para a comida. Por que não quero comer mais? Porque não me dá mais nenhum prazer.

Por nosso vaso ser limitado, quando o prazer é recebido nele, ele imediatamente começa a diminuir. Existe apenas uma solução que permite a recepção de prazer infinito, receber para conceder, ou seja, receber para doar. Neste último caso, eu não recebo para o meu próprio prazer, mas para trazer contentamento ao Criador. Se uma pessoa aspira por esse tipo de prazer, ela pode com certeza atingi-lo.

 

A LIBERDADE DE ESCOLHA

Do livro “O Livro Aberto”

O Baal HaSulam (Rabino Yehuda Ashlag) escreveu um ensaio intitulado “A Liberdade”. Devemos agora tentar investigar em profundidade a questão da liberdade e esclarecer o sentido deste artigo.

A liberdade (em hebraico: Herut), independência, como o Baal HaSulam explica para nós em seu ensaio, existe como uma necessidade básica humana. Mas por outro lado precisamos conferir e ver: há liberdade em alguma de nossas ações?

Se nascemos com todos os parâmetros dados adiantadamente: nossas emoções, sensações, caráter, cada pessoa “sob seu signo”, assim por dizer, e visto que é dito: “Não existe sequer uma folha de grama abaixo que não tenha um anjo acima que a afete e diga: cresça!”, podemos então sequer falar de algum tipo de escolha?

Se toda a natureza à nossa volta, todas as mudanças cosmológicas, as mudanças sociais, não dependem de nenhum de nós, existe alguma liberdade de escolha?

A vida nos é dada, independentemente de nosso desejo, não na época que escolhemos, em condições iniciais que não definimos. Surgimos numa família que não escolhemos, numa sociedade que não escolhemos… assim, o que podemos escolher então?

Se todos esses parâmetros são predefinidos, sobre qual liberdade de escolha podemos falar? Existe uma certa medida de liberdade de escolha? E se não existe, sobre o que então devemos falar, escrever, ou mesmo pensar? Nós apenas seguimos ordens e desempenhamos nosso fim por meio das leis da natureza? E se é assim, é impossível entender com qual propósito existe o mundo que nos cerca?

O Rabino Yehuda Ashlag mostra neste ensaio, que existe um componente da realidade que está dentro de nós, que através dele podemos afetar tudo mais,  se soubermos como alcança-lo e controla-lo. Saberemos então precisamente como o alterarmos para melhor ou para pior, iremos parar de ser completamente dependentes da natureza.

Precisamos aprender a entender as características singulares, a natureza desse componente “livre”, e também a entender exatamente do que precisamos, qual é o nosso objetivo. A medida de nosso controle deste componente, nossa habilidade de altera-lo em si, depende desse entendimento.

Se agirmos assim, poderemos realmente mudar nossa situação neste mundo por nós mesmos e nos tornarmos independentes da natureza, de quando não sabíamos o que iria acontecer um minuto a frente.

Essa habilidade é dada ao homem como uma força primordial, a diferença essencial que o separa do resto do universo. É por isso que é dito na Torah que os dez mandamentos foram “esculpidos (heb: harut) nas tábuas”, e nossos sábios explicam que devemos ler essas palavras não como harut (esculpido), mas como herut (liberdade), ou seja, liberdade e independência. Em hebraico, essas duas palavras são escritas do mesmo jeito.

Com isso, nossos sábios querem salientar que o significado da outorga da Torah, é que se esculpirmos eles (N.T.: os mandamentos) na pedra (e conseqüentemente em nosso coração de pedra – o ponto mais egoísta do homem), se mantermos o seu significado genuíno, espiritual, eles nos trarão à situação espiritual chamada de “liberdade.” Por esta razão nos foi outorgada a Torah.

Após isso, o Baal HaSulam escreve que essa instrução – de não ler como esculpido, mas como liberdade – exige uma interpretação muito mais profunda. Não podemos entender que conexão há entre a outorga da Torah e a liberdade do homem. Qual é o significado da liberdade que recebemos quando observamos os dez mandamentos? É essa, a liberdade com a qual sonhei? A liberdade do homem é representada principalmente pela liberdade da morte. Se o homem fosse imortal, isso alteraria significativamente sua atitude com relação a si mesmo, ao mundo, à vida. Então, não chamaríamos esta realidade de “vida”…

Para entendermos que a liberdade é essencialmente a liberdade da morte, precisamos entender completamente o significado de “liberdade”. Se avaliarmos o mundo à nossa volta de maneira geral, veremos que o inanimado, o vegetativo e o animal (incluindo o homem), não podem tolerar o cativeiro.

Todas as formas de vida sofrem com a limitação de sua mobilidade, de sua liberdade de se desenvolver, da liberdade de se expressarem. É por isso que o Baal HaSulam diz que a humanidade fez esforços tão grandes para atingir a liberdade.

Mas se perguntarmos às pessoas, o que exatamente é a liberdade de  escolha, ou tentarmos pensar por nós mesmos por um momento o que esse termo significa, veremos que de fato não podemos definir claramente o que é a  liberdade:  A liberdade  para  trabalhar?  Para  descansar?  Para  ter  filhos? Para se

 

mover? O que a liberdade significa? Como ela é representada e por que o Baal HaSulam buscou a resposta a essa pergunta?

Ele quer nos mostrar que todas nossas ambições por sermos livres não têm nada a ver com o termo “liberdade”. A liberdade, no seu sentido verdadeiro, é a ausência de qualquer limitação, ou seja, a ausência da morte, de qualquer tipo de fim, ela é a total compreensão, o prazer eterno, onde tudo é perfeito.

Se juntarmos todos estes requisitos, então provavelmente poderemos de alguma maneira chegar a uma situação que pode ser chamada de “liberdade,” ou seja, sem limitações. É por isso que o Rabino Ashlag diz que precisamos primeiro vir a conhecer a situação espiritual que é representada pela palavra “liberdade”, e apenas depois decidirmos se devemos, ou não, nos achegar a ela, e quais esforços  e sacrifícios estamos dispostos a fazer por ela.

Se examinarmos uma pessoa, perceberemos que realiza suas ações cotidianas como um dever. Ela não possui escolha com relação a elas, porque tanto nossa natureza interna quanto a externa nos afetam através de duas forças: o prazer e a dor. Qualquer um que sinta este impacto sobre ele – plantas, animais, pessoas – se sente negado da liberdade de escolha, porque não pode escolher a dor ou rejeitar o prazer de jeito nenhum. Assim, a essência de nossa natureza é desejo por prazer. É por isso que se fizermos uma escolha, ela sempre objetivará atingir o máximo de prazer com o mínimo de esforço.

Suponhamos que realmente não queira ir trabalhar de manhã, chego em casa cansado à noite, mas, pelo menos, sei que assim posso sustentar minha família. Faço um cálculo simples, que tenho de sofrer o dia inteiro para sobreviver e o fato é que substituo a minha dor – meus esforços – pelo que preciso para sobreviver.

O Rabino Ashlag escreve que a única diferença entre homem e animal é que o homem pode olhar para o “futuro”, fazer uma análise prévia dos eventos futuros. Por esta razão, o homem é capaz de aceitar mais sofrimento se vê algum lucro futuro em compensação por seu sofrimento atual.

Os animais, crianças pequeninas, e pessoas pouco desenvolvidas não são capazes de fazer seus cálculos a partir da antecipação do futuro, eles carecem da sensação do futuro, e assim, agem apenas baseados no ganho momentâneo.

Mas em todo caso, todo corpo que existe em nosso mundo faz esse cálculo, porque sente sua vida como uma série de prazeres que são  recebidos ou dores  que se vão, e vive apenas pelo cálculo da dor e do prazer e não possui um plano  de conduta determinado.

Cada um de nós tem seu próprio caráter, atributos de nascença, valores e conceitos que adquirimos durante a vida, nossa educação e nossos sentidos, pressão social, individualidade, etc.

Isso cria um sistema em nós, um mecanismo através do qual agimos e calculamos.

Portanto, porque todos nossos atributos são predefinidos de dentro, e todas as circunstâncias são predefinidas de fora, verifica-se que o homem não possui liberdade de escolha. Nós então não podemos afirmar que o homem possui a habilidade de fazer qualquer escolha livre, livre da influência de dados internos  ou externos que foram predefinidos e predeterminados.

O Baal HaSulam afirma que nem mesmo entende por que a humanidade não tentou se concentrar nesse problema até agora. Deve ser porque a humanidade é incapaz de lidar, de resolver o problema. Se os religiosos crêem que existe um Criador que criou tudo e que estamos todos sob Seu controle, que tudo acontece sob Sua direção, e que realizam tudo contra si mesmos, ou mesmo, a partir da liberdade de escolha deles próprios, então podem justificar sua  existência.

Mas se nos referirmos ao público não-religioso, é bastante difícil discutir o significado de nossas vidas. Porque se uma pessoa está realmente cônscia de que todas as suas ações são predeterminadas e que tudo está nas mãos da natureza, tanto interna quanto externa, então todo o sentido de sua vida está perdido. Nesse caso, ela não é nada além de algo que existe em algum lugar entre a natureza interna e a externa.

Para que entendamos isso, precisamos entender que toda nossa natureza está focada em um só desejo – o de obter prazer. Esse desejo por prazer é criado pelo Criador: “existência a partir da ausência”. É criado porque o Criador quer nos dar prazer, porque Sua natureza é de absoluta perfeição, Sua natureza O compele  a doar e para isso Ele teve de criar o homem, o desejo de receber prazer.

O prazer que o Criador quer dar às criaturas é determinado por um só atributo – a perfeição, ou seja, o estado do Criador. É precisamente isso que Ele tenta passar para nós. O Criador é perfeito e singular. Além desse estado, não há nada completo. A partir dessa perfeição, Ele deseja dotar a criação com essa perfeição, é a única coisa que Ele pode doar – Sua perfeição. É por isso que o propósito da criação é chegar ao estado espiritual perfeito do Criador.

Para que a criação seja capaz de alcançar um estado espiritual perfeito como esse do Criador, o Criador criou a criação e a permitiu “interpretar” Sua situação,  a situação de perfeição. Essa reação é chamada de “desejo por prazer”. A habilidade de perceber um nível espiritual completo, ou menos que completo, é a própria essência de nossa natureza, na qual o nível espiritual do Criador significa perfeição total e a ausência completa da sensação do Criador significa o nível de imperfeição completa.

Gostemos disso ou não, aspiramos por uma coisa só – por sentir o Criador, ou como é denominado na Cabalá: por sentir a luz. Naturalmente, nosso objetivo é chegar ao nível do Criador, se unir com Ele, receber Seus atributos. Após a correção, temos de estar no mesmo nível espiritual que o Criador. É impossível que existam dois estados de perfeição que se assemelhem um ao outro. Existe apenas uma perfeição, e por definição, ela inclui tudo, e portanto não há nada que possa ser como ela.

Assim, podemos apenas reagir à presença ou ausência de prazer. Junto com a sensação de perfeição, a sensação de prazer, ou a falta dela, surge uma nova ferramenta: a mente. Essa ferramenta nos ajuda a atingir novos estados espirituais (níveis de perfeição que sentimos como prazer) de maneira mais rápida e eficaz.

A mente humana é resultado do desenvolvimento do nosso desejo por prazer. É criada e controlada por nosso desejo, como um equipamento adicional, para buscar e descobrir novas maneiras de obter prazer. Vemos isso na natureza à nossa volta: se a força do desejo por prazer é pequena, a mente também não é desenvolvida. Quanto maior o desejo de doar, mais desenvolvida é a mente.

A humanidade está se desenvolvendo não porque quer ser mais inteligente, mas porque quer prazeres maiores. A busca por prazer estimula a humanidade a desenvolver a mente, a ciência e tudo mais. Dizem que “o amor e a fome governam o mundo”. Isso significa que nossa busca por prazer e o desejo de evitar a dor controlam todos nossos movimentos e, de fato, o mundo. Nossa mente se desenvolve de acordo com a medida de nossa dependência do desejo de receber prazer.

Nosso desenvolvimento depende diretamente da nossa sensação de dor. Quanto mais uma pessoa sofre, mais ela deseja obter, mais ela sente a necessidade de obter habilidades intelectuais superiores, e mais nossa mente se desenvolve.

O oposto também é verdade. É possível que uma pessoa possua fantásticas habilidades analíticas e intelectuais inatas, mas se obter tudo na vida sem nenhum esforço, sua mente não se desenvolverá, mas regredirá. É por isso que não vale a pena invejar pessoas ricas que vivem completamente como animais, porque essa sociedade está em declínio espiritual. A história de nosso povo prova constantemente a eficiência da busca constante por uma maneira de existir sob condições impossíveis.

Assim, o pensar é apenas uma função adicional, e se desenvolve como um processo paralelo, para nos ajudar a obter prazer. Nossa natureza básica é apenas  a busca por prazer, que, de fato, definimos dentro de nós de maneira inconsciente como a percepção da perfeição do Criador.

Para entendermos exatamente como essa ambição se desenvolve em nós, para que sejamos capazes de atingir o nível espiritual da perfeição, o Rabino Ashlag divide os fenômenos de nosso mundo, espiritual e físico, em quatro elementos distintos que afetam nosso desenvolvimento. O primeiro elemento – a “base” – é o fundamento, o genoma do homem.

O segundo elemento – as leis pelas quais nossa essência, a base, se desenvolve. Existem dados predefinidos em nossa essência. Por exemplo: quando colocamos uma semente no solo, sabemos exatamente através de quais leis ela se desenvolverá. As leis e a essência do desenvolvimento determinam seu resultado final, desde que seja afetada apenas por elementos internos.

Contudo, o Baal HaSulam afirma que existem também dois elementos externos da evolução. Existem condições externas que me afetam, que determinam como tenho de me corrigir de acordo com essas condições externas. Assim, além  de mim mesmo (ou seja, minha essência, que é o primeiro elemento), e além de meu plano interno (o segundo elemento), também existe um elemento externo que influencia o programa interno.

Esse elemento externo, que afeta meu plano de desenvolvimento interno, opera por suas próprias leis de desenvolvimento, as leis de desenvolvimento da sociedade, da natureza e do universo. Todas estas leis me afetam também, ou seja, existem elementos internos que não mudam, que são predefinidos, e também existe um terceiro elemento em mim, que muda sob a influência do ambiente externo, e existe um ambiente externo que muda de acordo com suas próprias leis de desenvolvimento predefinidas, e assim isso me afeta também.

Não posso mudar meus elementos internos e externos predefinidos. Sou também incapaz de mudar condições externas que mudam de acordo com suas próprias leis de evolução, que não posso sequer compreender. Posso apenas influenciar essa força externa que afeta minha parte interna. Mas, a Torah diz que através disso posso corrigir a mim mesmo, controlar a mim mesmo e  as percepções de meu mundo.Através de minha interação com meu ambiente, controlarei o caminho do progresso espiritual.

Nota-se que existe uma determinada maneira através da qual posso fazer diferença. Isso significa que não sou um robô, agindo por parâmetros predefinidos, eu tenho a liberdade de escolher! E quando posso influenciar aquele elemento, posso, de fato, mudar tudo, exceto os parâmetros fixados da  alma. Então, o que fica comigo? O meu caminho fica comigo, tudo que deve me acontecer no curso de minha vida!

O primeiro elemento, aquele que determina o nível espiritual do homem, a base, é nossa substância básica que recebemos do Criador. O Criador criou-a: “existência a partir da ausência”. Essa substância primitiva é predeterminada e predefinida para nós e dentro de nós.

Nossa essência é como uma semente. Contudo, não estamos no nível das plantas, mas acima dele. É por isso que podemos examinar e estudar o ciclo de vida da semente e controla-lo: nós a semeamos, e ela começa a se tornar uma nova vida, ou apodrece e morre.

Somos, no entanto, incapazes de analisar nosso próprio ciclo de vida da mesma maneira, porque ele resulta do mesmo nível espiritual em que estamos. Apenas se conseguirmos transcender o nível de nosso mundo, rumo a um nível mais elevado, ao mundo espiritual, seremos capazes de ver o que acontece  conosco em seguida, em nossas encarnações futuras.

Quando a semente apodrece, e nada de material sobra dela, quando se torna terra, ou seja, inanimada, apenas então a nova forma de vida começa a se desenvolver. A forma anterior neste meio tempo desaparece completamente, e tudo que resta é o espírito – a força que gera o início de uma nova vida.

Se estivéssemos no mesmo nível que essa semente seríamos incapazes de avaliar e analisar aquele ciclo de vida e as mudanças pelas quais passa. A semente morre, se deteriora completamente e desaparece, em comparação à sua vida anterior… e então começa a crescer novamente. Quando a nova semente cresce, todos os atributos fundamentais da vida anterior permanecem na nova vida, por mais que nada de físico tenha restado. Tudo apodrece, mas a partir da força espiritual que permaneceu, da alma, emerge um novo embrião. Assim começa um novo ciclo de vida.

Mas, o que é isso que resta do estado anterior e passa para o próximo? O que acontece com a semente é muito parecido com o que acontece conosco, com nosso corpo físico. Nosso corpo apodrece, obtemos um novo, e a alma, nosso potencial espiritual, permanece na semente como os genes, a força da informação, e passa do estado anterior, do antigo corpo para o novo, através da extirpação física.

Há uma amputação física: o antigo corpo morre e apodrece, um novo corpo nasce a partir do antigo, e da semente que se deteriorou há agora uma nova semente. Por que podemos ver a transição de uma vida passada para uma nova vida na semente, mas não podemos identifica-la em nós mesmos? É porque estamos observando o ciclo de vida de dentro de nosso mundo, enquanto estamos no mesmo nível em que o processo está ocorrendo.

Nossas almas passam por um processo um pouco diferente. Porque a alma não é animal, ela não segue de mãos dadas com o corpo, mas constitui uma parte do Criador acima. A alma não é um produto deste mundo, enquanto que a semente não possui nada além de uma série de dados genéticos fixados.

Uma alma que vem do Criador é chamada de “tela”, ou “luz refletida”. É uma parte do Criador, atributos espirituais que não possuem raízes nem paralelos em nosso mundo, porque são totalmente altruístas. E apesar de até agora sermos incapazes de sentir esses atributos dentro de nós, é apenas através deles que brilha a luz tênue que nos dá o espírito de vida.

É por isso que, logo que a alma é separada do corpo, ela se move para um corpo diferente. Não é necessário esperar o corpo físico desaparecer, para que a

 

alma adentre outro corpo. Um corpo que é solto da alma, perde todo o contato  com ela. Apesar de todas as religiões e crenças atribuírem singularidade e sublimidade ao corpo físico, o Rabino Yehuda Ashlag disse de maneira muito simples: “Não poderia me importar menos com onde o meu saco de ossos será enterrado”.

Lembro-me como meu rabino, quando lhe perguntaram onde queria que enterrasse sua última esposa, respondeu de maneira simples: “O que importa? No cemitério mais próximo”. A propósito, como seu pai, ele não se preocupou de jeito nenhum com um local de enterro “respeitável” para si mesmo.

Forças espirituais que vão de uma parte anterior para uma posterior no  ciclo são chamadas de “base”, o banco de dados espiritual, a essência. Se ela era uma semente de trigo permanecerá uma semente de trigo. Se ela era uma determinada alma, permanecerá aquela alma, mas em outro corpo.

Em qual corpo a alma virá? No mais apropriado para o plano gravado naquela alma. Os atributos internos da alma, sua estrutura e seu caminho para correção determinam os atributos do corpo físico no qual ela virá.

Conforme o que foi dito acima, podemos descobrir que as diferenças em atributos, caráter, necessidades e aspirações, que os desejos que as pessoas obtêm de nascença, são todos determinados pelos atributos internos da alma, pela necessidade de realizar o plano para o qual desceu a este mundo.

É por isso que existem pessoas deficientes no mundo, ou pessoas  com danos cerebrais, problemas psiquiátricos e outros defeitos de nascença. Tudo é determinado pelos atributos da alma, seus parâmetros preliminares. Nós, que não podemos ver e entender o contexto geral da encarnação, não podemos compreender e, é claro, não podemos justificar esses casos de providência.

Para justificar as ações do Criador, o homem precisa ver e entender o quadro geral do universo. De outra maneira, ele é compelido a encontrar falhas mais ou menos severas na providência. É por isso que apenas um Cabalista, que pode perceber este contexto geral, merece ser chamado de justo – aquele que considera que os atos do Criador são justos (corretos).

Mas, para a pessoa fazer um uso adequado de seus parâmetros inicias da “base”, ela precisa ser hábil – no mínimo – no campo espiritual no qual espera-se que seja ativa. É por isso que a pessoa pode realizar ações espirituais na medida  em que avança na espiritualidade e ascende ao mundo superior. O homem pode começar a “substituir” o Criador na condução do mundo apenas na medida em que sua tela, a aceitação dos atributos do Criador, o permite. Essa é a essência da sabedoria da Cabalá.

Resumindo: o primeiro elemento em nosso desenvolvimento é a “base”,  que é nossa essência. O segundo elemento é o desenvolvimento funcional da base. Nossa mente precisa se desenvolver de uma determinada maneira, passar por certas    fases    de    progresso    espiritual.    Cada    semente,    cada    objeto    em desenvolvimento passa por suas próprias fases exclusivas.

Se for uma planta diferente, milho, por exemplo, se desenvolverá por leis diferentes, num ritmo diferente, com qualidades diferentes e em quantidades diferentes. Isso significa que não é apenas a essência que permanece, mas também as leis de desenvolvimento que são transferidas da semente apodrecida para o novo germe. Esse é o segundo elemento que determina de que maneira o novo germe crescerá, se será um só germe, ou uma porção, ainda que do mesmo tipo e forma, obedecendo a leis de desenvolvimento bem definidas e predeterminadas (o primeiro elemento).

Uma das características singulares da manipulação do desenvolvimento de nossa essência, é que durante a transição de uma vida para a próxima existe uma amputação, o desaparecimento do corpo físico. Isso permite mudanças nítidas nos atributos da nova entidade a assumir o lugar na nova vida. Essas mudanças são feitas possíveis porque há separação física completa entre a vida anterior e a atual.

O Baal HaSulam diz que existem apenas quatro elementos que determinam o estado da criação em cada estágio do desenvolvimento espiritual. Esses elementos dão forma à essência da criação em todos os níveis da natureza, no nosso mundo, como também no espiritual. Somos apenas um produto, uma conseqüência do efeito desses quatro elementos.

Aprendemos tudo isso para sabermos se podemos de alguma maneira  afetar no mínimo um, se não vários dos elementos em alguma proporção, e qual é a maneira mais eficaz de fazer isso.

O terceiro elemento, como dissemos, muda sob a influência de condições externas. O que significa que podem existir condições externas tais que mudarão a direção do desenvolvimento para melhor ou para pior. A evolução continuará, é inevitável. Mas o tipo do desenvolvimento pode variar de maneira significativa graças à influência de condições externas.

Suponhamos que temos alguns pedaços de terra, e plantamos um tipo de grão em cada um deles, e criamos condições climáticas diferentes para cada um deles. Bloqueamos a luz do sol em um canteiro, deixamos o outro sem água, deixamos as ervas daninhas no outro, etc. Veremos o quanto elementos externos tais como o sol, a água, a temperatura e as ervas daninhas afetam o desenvolvimento da planta.

Embora o plano interno de desenvolvimento seja dado adiantadamente, sua realização é influenciada por condições externas. Assim, chegamos à conclusão, como veremos depois, que se uma pessoa encontra um ambiente ideal, um que dá suporte ao seu desenvolvimento espiritual, ela pode concretizar seus atributos inatos de maneira mais eficiente, ou seja, utilizar seus primeiro e segundo elementos ao máximo.

Uma pessoa pode nascer com atributos que são bastante “prejudiciais” ao desenvolvimento espiritual positivo, tais como: fraqueza física, mental, psíquica ou espiritual. Assim como a semente, ela será sujeita às influências de tais fatores externos positivos que mudarão sua situação radicalmente e trarão resultados surpreendentes, sem nenhuma conexão aparente com os atributos naturais.

Talvez aquela pessoa não obteve uma chance de desenvolver-se espiritualmente, ao julgar por seus atributos naturais, mas no final ela poderá atingir um desenvolvimento espiritual tremendo sob a influência da sociedade, e às vezes é difícil de acreditar nas mudanças pelas quais ela passou. Tudo isso é porque ela está no lugar certo na hora certa, numa sociedade que ajuda e  incentiva.

Você pode ver isso de maneira clara no grão. Isso significa que nosso problema é qual resultado final queremos obter da semente. Criamos toda uma ciência para cultivar as melhores safras possíveis na terra, porque sentimos que precisamos disso para nossa existência. Estamos bastante cônscios dos resultados desejáveis, sabemos pelo que aspirar e onde devemos chegar no final.

Conhecemos o objetivo final da semente e construímos toda a cadeia de desenvolvimento: planejamos um processo de desenvolvimento curto e intensivo, que deve nos prover com uma determinada quantia de carboidratos, proteínas e gordura em cada semente, para traze-la a uma determinada cor e tamanho, etc.

Por sabermos como a semente se desenvolve, como se desenvolveria sob quais condições, podemos criar as mais amigáveis condições para a semente. Se superaquecermos a semente, ela será queimada; se dermos a ela muita água, ela apodrecerá. Tenho de saber exatamente que parâmetro são necessários para o crescimento de cada grão. Quando sei de tudo isso, sei o que estou tentando obter e consigo atingir os resultados desejáveis.

Isso significa que não é suficiente entender nossos atributos. Podemos influenciar nossos próprios atributos ao criar diferentes condições externas. O problema é que para isso temos de ser peritos em nossa natureza. Temos de entender o produto final do homem e o resultado ao qual precisamos chegar.

Se resolvermos esse problema com o resultado ideal, isso significa que atingimos um nível espiritual de perfeição. Somos em essência, um desejo de receber prazer. O prazer para nós é a percepção da luz, o Criador, ou seja, a percepção da perfeição. Vemos o Criador como a forma final de prazer.

Como posso evoluir ao nível espiritual de perceber o Criador? Tenho de estar unido, conectado de maneira firme com o Criador todo o tempo. Então, sempre estarei no nível espiritual da percepção do Criador.

Mas, o que significa estar sempre com o Criador, num lugar onde não há morte, nem imperfeição? Como podemos obter isso?

A sabedoria da Cabalá explica para nós que, no que se refere ao mundo espiritual, se aproximar de algo significa aceitar seus atributos. Não posso me aproximar do Criador ao diminuir a distância física em nosso mundo. Tenho de compensar a disparidade espiritual entre nós. O Criador não está escondido de mim. Simplesmente, isso é assim porque graças à falta de equivalência em nossos atributos estou distante do Criador no mundo espiritual, e simplesmente  não posso senti-Lo.

Hoje, me dizem que meus atributos espirituais são completamente opostos àqueles do Criador, e esse é o porquê de não poder senti-Lo. Começar a sentir o Criador é adentrar o mundo espiritual, o mundo superior. O ingresso no mundo espiritual significa compreensão, percepção espiritual. Mas para começar a sentir, o objetivo é receber os atributos do Criador para que eles estejam dentro de mim.

Após isso, através de mudanças espirituais, gradualmente serei capaz de atingir um nível espiritual no qual me uno completamente com o Criador, ocupo Seu lugar. Para isso acontecer, preciso adotar completamente todos Seus atributos. Então serei capaz de obter compreensão e revelação eternas, prazer infinito. Posso chegar conscientemente a um nível espiritual desses?

Obviamente, devo criar um certo ambiente à minha volta, que me afetaria de uma tal maneira que serei capaz de receber os atributos do Criador. Nesse caso, começaria a me aproximar Dele gradualmente. Mas, onde encontrarei tais ambientes que dão apoio, e como saberei onde e se existe tal ambiente?

Se começar a procurar por todo o mundo, encontrarei um lugar assim? As pessoas têm procurado por todo o mundo por milhares de anos… e até agora nenhuma delas tem qualquer sinal dele. Milhares de anos e mesmo assim nenhuma resposta. Centenas de livros foram escritos, as mais estranhas filosofias foram inventadas, mas existem tão poucas pessoas felizes sobre a Terra, e uma sociedade assim provavelmente não existe. Então, o que podemos fazer para sermos capazes de influenciar nossos atributos e de impulsionarmos a nós mesmos, rumo à proximidade espiritual com o Criador, à perfeição?

O Criador não criou uma terra especial, uma ilha, ou qualquer lugar especial no qual todo aquele que quiser ser corrigido e atingir a perfeição pode vir e adentrar aquele ambiente singular, que iria guia-lo e mostrar a ele o que tem de fazer em cada passo do caminho, para que adote os atributos do Criador, e deste modo, ajude-o a ser corrigido, mude-o interiormente.

O Criador não criou esse elemento que afetaria a natureza do homem abertamente. Não existe um lugar assim sobre a Terra, que possui essas condições. Ao invés, o Criador criou algo completamente diferente: Ele nos deu a Torah.

Atualmente, se uma pessoa deseja começar a mudar seu terceiro elemento, sob a influência do elemento externo, ela pode fazê-lo porque possui os livros. Se ela estuda pelo livro, com uma intenção honesta, com um desejo genuíno de ser corrigida, esse livro começará a corrigi-la.

Como ele fará isso? A luz circundante começará a brilhar de fora sobre o homem. Essa luz circundante é o já mencionado ambiente externo que a pessoa pode criar em volta de si mesma, para que ele afete seu terceiro elemento, e finalmente todo seu desenvolvimento espiritual, para que a  semente  não apodreça, mas desenvolva-se belamente e atinja a maturação, a maturidade e um nível espiritual de perfeição.

A sabedoria da Cabalá afirma que existem vários livros com os quais podemos criar um ambiente favorável, ou seja, extrair a luz circundante para nos corrigir e desenvolver espiritualmente. Para isso, precisamos aumentar a intensidade da luz circundante, para que ela afete o homem com mais força.

É dito (Introdução ao Talmud Esser Sefirot, item 155) que podemos atrair  essa luz circundante apenas com a ajuda do estudo de livros autênticos de Cabalá, porque é exatamente neles que há uma luz mais poderosa do que em qualquer outro livro da Torah.

Os Cabalistas também nos dizem que o importante não é tentar e entender  o significado dos textos em si, mas o desejo da pessoa de ser corrigida, e que essa seja a razão por que ela lê esses livros. O mais importante é a necessidade da alma de expandir as forças espirituais. Desta maneira a pessoa será capaz de criar em torno dela o ambiente mais incentivador, isto é, a luz circundante.

Essa luz circundante brilha sobre o homem na medida em que ele queira atrai-la para si mesmo. Se uma pessoa não aspira pela luz, ou seja, se ela não tem a intenção de ser corrigida, de receber os atributos espirituais do Criador, a luz não chegará a ela. Cada pessoa possui uma certa quantidade de luz que deve atrair para dentro de sua alma. Neste meio tempo, essa luz permanece do lado de fora da alma e espera por uma chance de entrar. É por isso que é chamada de luz circundante.

Você pode incitar essa luz circundante, esse ambiente, estar nele, mas apenas tanto quanto você sente que precisa dele. Para isso a pessoa precisa aspirar pelo mundo espiritual. É possível receber a aspiração espiritual ao estudar em grupo. O homem encontra-se sob a influência da sociedade por natureza. Você estuda em um grupo e começa a sentir o efeito dos outros sobre você. Eles dão a você a sensação de importância, e você recebe uma ambição mais forte pelo mundo espiritual.

Se o seu desejo espiritual não é forte, mas consistente, o grupo dá a você a chance de estar próximo àquele desejo, conserva-lo e até intensifica-lo, ou seja, exigir mais ajuda espiritual do Criador.

Dessa maneira, através da correção adequada, guiado pelo líder do grupo, você recebe a intenção adequada, e começa a atrair a luz circundante, enquanto fica em um grupo incentivador que pode ajudar você a se desenvolver espiritualmente da maneira mais eficiente, assim como uma semente que desfruta de condições de cultivo ideais.

É como se você viesse de um pedaço de terra escasso para um bom, com  sol, água e ar, e nada de ervas daninhas. Se a pessoa fizer esta passagem, ela atingirá o objetivo – como é dito na Introdução ao Talmud Esser Sefirot – dentro de três a cinco anos, e começará a sentir o Criador, receberá Seus atributos, cruzará a barreira e subirá ao primeiro nível de adesão.

Depois ela subirá ao próximo nível, e assim por diante. No todo, existem 620 níveis como esses, 613 mitzvot e sete mitzvot a mais “de nossos rabinos (derabanan)” – 620 níveis durante os quais a pessoa corrige 620 desejos em si mesma. Cada nível é um determinado desejo. Em suma, podemos dizer  que somos capazes de corrigir nossos desejos apenas sob influência externa. É por isso que a essência de nosso objetivo é escolher e determinar nosso ambiente de vida adequado.

Além disso, existe o quarto elemento. O quarto elemento é: as condições externas do elemento que nos afeta. Por isso, elas também podem mudar, e geralmente de maneira drástica. Por exemplo, pode ocorrer uma seca, ou muita chuva, e o que foi plantado morrerá.

Não estou livre para discutir a implicação desse elemento neste foro,  porque estamos conversando sobre situações que estão neste meio tempo além de nossos entendimento e julgamento, e não podemos influenciar essas condições. Ao menos hoje, não podemos controlar e dirigir esse elemento em nosso estado espiritual presente. Mas, ao menos devemos dar um exemplo sobre tais circunstâncias, um exemplo do efeito do quarto elemento, porque esse também tem seu peso natural e objetivo no curso de nosso desenvolvimento espiritual.

O Talmud nos dá um exemplo: Em uma pequena cidade vivera outrora um homem muito sábio. Havia muitos outros homens sábios naquela cidade, e a presença deles criou um ambiente único: havia a sensação de que muitos homens sábios viviam naquela cidade. Um dia, um homem rico de uma cidade próxima chegou à cidade. Ele aproximou-se do homem sábio, que também era pobre e disse: “Construirei uma yeshiva (uma escola para o aprendizado de Torah) para você em nossa cidade, você terá muitos alunos, pagarei todas as despesas, tomarei todos os problemas para mim e você se tornará um grande rabbi (mestre). Qualquer um que quiser virá e estudará com você, e até eu começarei a estudar sob sua orientação.” Mas, o homem sábio recusou a oferta. Ele explicou: “Isto, é uma antiga história de dois mil anos”, ele disse. “A questão é que se eu me mudar para um novo lugar, sairei da influência do ambiente em que estou agora, onde  me desenvolvi, e graças ao qual me tornei sábio. Lá, estarei sujeito à influência da sociedade de sua cidade, da qual você é o exemplo mais notável. Sua sociedade  me afetará, e o resultado é que apesar de ser sábio hoje e não precisar aprender de ninguém, pois atingi a sabedoria por mim mesmo, eu ainda serei afetado.  Portanto, mesmo que eu seja completo e tenha atingido um grande conhecimento, estar perto de você e de pessoas como você irá finalmente fazer com que eu perca meu nível e desça ao seu nível espiritual. Perderei meus desejos e me tornarei como você.”

É um exemplo bastante claro; não existem mistérios aqui, e é precisamente dessa maneira na realidade: a pessoa pode deteriorar-se inconscientemente na espiritualidade sob o impacto negativo da sociedade, e muito rápido, na verdade. Além do mais, em todo o decurso, ela justificará a si mesma e à sociedade. É isso que acontece numa sociedade materialista. Em um ambiente espiritual, sob a influência dos livros, do grupo, estas situações afetam o homem com velocidade e forças tremendas, e ele imediatamente começa a mudar.

É por isso que qualquer um que queira provar a sabedoria da Cabalá na ponta de sua língua, entender o Criador, mesmo que apenas um pouco, precisa estar completamente separado de seu atual ambiente, remover dele todos os elementos que possam influenciar negativamente seu desenvolvimento espiritual: livros irrelevantes que tratam de outros métodos espirituais, diversos tipos de filosofias, grupos que praticam diversos tipos de misticismo, etc.

Resumindo, uma pessoa séria precisa estar cônscia de quais elementos a afetam, e a seu desenvolvimento em qualquer dado momento. Colegas no trabalho, com os quais ela conversa sobre assuntos gerais, não podem influenciar significativamente o curso de sua vida.

O Rabino Yehuda Ashlag escreve em uma carta que a carruagem do  Criador passa por uma estrada bem estreita: a pessoa precisa examinar suas ações e pensamentos constantemente: estão na direção correta? Ela precisa corrigi-los em cada passo do caminho, ou seja, em cada novo pensamento que vem a ela. Contudo, se a pessoa estiver sob a influência da sociedade errada, naturalmente, ela não será capaz de fazer isso.

Inquietações variadas e a influência negativa dos outros diminuem a velocidade do progresso espiritual; detêm, impedem, desviam, corrompem e alteram a direção do desenvolvimento do homem. Mas se uma pessoa que estuda Cabalá observa outros métodos de aparente desenvolvimento espiritual, ela se desencaminha por completo, porque não está apenas sob a influência de um determinado método místico, mas está sob uma combinação da Cabalá com algum outro método. Essa combinação pode ser bastante perigosa, pois traz resultados imprevisíveis.

É impossível viver em diversos ambientes de uma só vez. Isso pode influenciar a pessoa de uma maneira imprevisível, e sempre bastante negativa. Você pode assistir comédias, rir, ouvir as notícias, mas você jamais deve engolir idéias que podem desvia-lo do caminho certo.

Como você pode ver, a escolha do ambiente determina o futuro do homem, independente do nível espiritual em que esteja. Mesmo o maior sábio sabe como  se guardar de outras influências – ele jamais irá, sob nenhuma condição, se colocar em uma sociedade que o afeta de maneira negativa, não tomará parte na vida de uma sociedade assim, porque sabe que não pode resistir à sua influência.

É por isso que qualquer um que começa a estudar conosco precisa estar ciente e entender que, para atingir um resultado positivo a partir do estudo da sabedoria da Cabalá, ele precisará tomar uma parte ativa na vida do nosso grupo. Vir e participar nas aulas, mas não na vida social, é, de fato, uma maneira muito ineficiente.

O mesmo se aplica para aqueles que estudam através da Internet. Apesar   de estarem bem distantes de nós, devido às circunstâncias que estão além do controle deles, você pode dizer pelos esforços espirituais que fazem que é apenas a falta de contato físico com o grupo que os detêm de avançar no ritmo desejado ao mundo superior.

Do nosso lado, o website abrangente que estabelecemos, a publicação de livros, as aulas, os artigos jornalísticos, tudo isso é feito para criar o novo ambiente em nosso mundo, que afetaria o mundo com suas idéias espirituais.

Tudo que fazemos, é feito de um jeito prático, para que possamos finalmente criar uma sociedade grande e homogênea de pequenos grupos e indivíduos, com os mesmos valores e idéias espirituais, e juntos podemos influenciar o ambiente espiritual do mundo.

A despeito disso, a influência do grupo permanece o fator decisivo. Vemos, a partir da experiência com estudantes do mundo todo, que se uma pessoa está a uma longa distância de seu núcleo espiritual, se estuda Cabalá por si própria sem  o auxílio do grupo, não tem, de fato, nenhuma chance de se desenvolver corretamente no sentido espiritual.

Realizo palestras em Israel, nos Estados Unidos, Canadá e Europa, pelo rádio, pela televisão e em universidades, e vejo essas pessoas. Quando chego lá, estão dispostas a estudar todo dia, mas, depois que vou embora, elas esquecem. O corpo não quer sofrer, e sabendo que não há progresso, ele subjuga o desejo pela espiritualidade e prefere esquecer o propósito da vida e abandona-lo. Quando as deixo, já sei que o ambiente que as circunda imediatamente as puxará de volta, à satisfação de suas necessidades terrestres.

Portanto, qualquer um que seriamente considere o progresso espiritual, precisa encontrar um ambiente para si, construir um grupo, porque este é o único jeito dele poder trabalhar em si mesmo, em seu desenvolvimento espiritual. Tudo que a pessoa investe no grupo ela recebe de volta. Quanto mais ela doa, mais o grupo a afeta. Não importa quão grande o grupo seja, ou qual sua qualidade espiritual. O tamanho e a qualidade de um grupo são termos objetivos, mas o que a pessoa pode obter deles depende inteiramente de sua atitude subjetiva com relação a eles.

O efeito da sociedade e do grupo também é destinado às fases de descidas. Se a pessoa cai, ele pode levanta-la várias vezes, e através disso, encurtar o tempo de transição entre os níveis, especialmente durante momentos difíceis.

A sociedade ajuda a pessoa a lidar com as situações mais difíceis, porque o poder de sua influência sobre o estado espiritual de uma pessoa é imenso. É como estar em um ambiente ideal de desenvolvimento, onde há a quantidade correta de todas as coisas: sol, água, fertilizantes; e tudo começa a crescer muito mais rápido.

É por isso que não devemos nos preocupar com nada além do estar no ambiente correto. Dos quatro elementos que influenciam a pessoa, o Rabino Yehuda Ashlag salienta apenas um elemento que a pessoa pode influenciar para corrigir a si mesma para chegar ao propósito da criação.

Isso significa que não nos é permitido nem pensar em quaisquer outros fatores. Não devemos pensar que por causa de nosso estado preliminar não estamos preparados para a unificação com o Criador, que estamos em condições erradas, afetados por circunstâncias externas que não podemos controlar. Existe apenas uma coisa que posso controlar, e essa é a única coisa que posso e devo fazer – criar o ambiente correto.

Você diz: existem vários caminhos para o Criador, e um caminho não deveria interferir como o outro. Isso é verdade (até existe uma frase na Torah que diz: “Existem vários caminhos para o Criador”). Mas isso significa que cada alma possui suas próprias situações individuais, um caminho exclusivo para se aproximar do Criador. Mas aquilo que traz a pessoa para o Criador, o efeito do grupo, isso nunca muda.

ALGUMAS REFLEXÕES

Do livro “O Livro Aberto”

Até hoje, a forma de sociedade mais correta, com certeza foi o grupo de estudantes, do qual os membros estavam unidos por um desejo singular de obedecer a seu líder – o sábio, o rabino. Essa aspiração originava-se de um reconhecimento absoluto da retidão do rabino, e não do seu carisma – de suas conexões especiais com o Criador, ou do temor de Seus oficiais e exércitos.

Toda a história religiosa da humanidade testifica a inabilidade do homem de guardar, ou de exigir que os outros guardem os dez mandamentos, ou até de esperar que alguma vez eles serão guardados, sem saber de quem os recebemos. Apenas a revelação e a compreensão do Criador podem dar-nos o poder para guardarmos os mandamentos, e apenas na medida em que a pessoa entende o poder, a singularidade e a grandeza do Criador.

Os níveis em nossa habilidade de guardar os dez mandamentos são, de  fato, os níveis espirituais da revelação do Criador, da compreensão Dele, da ascensão espiritual, os degraus da escada, da escada de Jacó.

De outra maneira, se a sociedade humana quebra a parte essencial da observância dos mandamentos (não os observando através da compreensão do Criador, da revelação Dele pela criação), ela precisa encontrar uma justificativa para guardar os dez mandamentos em sua vida cotidiana, ou seja, a vida em si deve justificar a observância dos mandamentos.

O gerador da criação de leis e códigos da sociedade humana, tanto cíveis quanto criminais, é uma distorção do princípio da observância dos mandamentos. É por isso que apenas na última geração a humanidade será capaz de retornar à observância genuína das leis da natureza, que são perfeitamente compatíveis com nossa natureza e efetuam uma correção genuína.

Nenhuma lei poderá fazer com que as pessoas sigam todos os dez mandamentos em sua forma genuína, e é apenas a revelação do Criador que fará com que todos guardem os dez mandamentos espontaneamente.

O Baal HaSulam chama essa condição (em sua Introdução ao Talmud Esser Sefirot) de observar voluntariamente a palavra do “testemunho” de Deus, ou seja,  o Criador testemunha por meio de Sua manifestação ao homem, como num tribunal, que aquela pessoa não poderá errar mais, porque a revelação do poder e da grandeza do Criador obriga o homem a observar espontaneamente e naturalmente todos os mandamentos do Criador.

A substância da qual somos feitos é o desejo egoísta por prazer, e podemos apenas realizar aquilo que percebemos como benéfico para nós. É por isso que a revelação do Criador cria em nós uma outra decisão: de seguir Seu desejo; porque nos traria apenas o bem. Mas se a pessoa passa pelas fases do reconhecimento de sua natureza pecaminosa, e vê que sem aquela coerção ela vive em constante dor e sofrimento de geração a geração, ela é convencida de que qualquer decisão que vem a ela de cima, por mais difícil que seja, traz no final apenas o bem e é preferível a todas suas buscas e à liberdade fictícia que desfruta hoje.

Depois, desperta no homem uma exigência pelo Criador, para que surja diante dele como testemunha, ou, de fato, como garantia de que o homem apenas tomará o caminho certo de agora em diante e não cometerá mais esses amargos enganos, e assim não sofrerá por seus enganos.

Verifica-se que o desejo, como o entendemos em nossas vidas, em nosso entendimento corpóreo, foi dado a nós apenas para entendermos, logo que tenhamos descoberto toda a beleza fictícia e amarga dessa liberdade, que de fato não somos livres de jeito nenhum, porque seguimos nossos próprios desejos egoístas, o mal em nós, e não podemos nos libertar.

Se nos tornássemos escravos do altruísmo, para que ele nos controle da maneira que o egoísmo nos controla hoje, significando que inconscientemente trocaríamos uma escravidão por outra e o Criador substituiria uma natureza por outra, apesar de querermos exatamente uma passagem dessas, de um dono para outro, nós ainda obteríamos do Criador algo de uma qualidade diferente. Ele cria em nós um mecanismo de três linhas no qual usamos nosso egoísmo de outro  jeito, para a doação, após realizarmos a primeira restrição, uma vez que haja uma completa separação da aspiração por prazer.

Uma pessoa não pode alterar seus próprios desejos por prazer, de receber, de satisfazer suas necessidades materiais, morais e espirituais. Mas, em ser satisfeito para mim mesmo ou para o Criador está a completa diferença entre egoísmo e altruísmo. Antes da pessoa se separar do “para mim”, ela não pode entender que essa intenção foi dada a ela de cima. Não é uma intenção natural, mas algo que acompanha seu desejo por prazer.

E, adicionasse, o Criador, ao desejo de receber dela, a intenção “para Seu nome”, ela também começaria a usar seu desejo de receber prazer com essa nova intenção.

Esse estado de transição de “ter prazer na misericórdia”, no qual a pessoa recebe de cima a força para refrear-se de fazer quaisquer cálculos egoístas produz sua libertação espiritual. Após isso, a pessoa opta por um uso diferente de seu desejo de receber prazer: para o Criador. Se não fosse por esse novo elemento, o estado espiritual de “ter prazer na misericórdia”, o homem não se sentiria livre em seu desejo e intenção “para o Criador”.

Mas, exatamente por chegar a essa situação de “ter prazer na misericórdia”, ele pode escolher suas ações de maneira livre, completamente. E se escolher o altruísmo neste ponto, essa é uma decisão de livre escolha, e não para escapar do sofrimento. Uma pessoa não vende sua liberdade de escolha e sua liberdade de decisão por uma vida indolor, mas escolhe a liberdade voluntária e independentemente.

Cada geração passa para a próxima, a experiência coletiva que humanidade acumulou, além das realizações científicas e culturais. Esta recordação humana passa de geração a geração, da mesma maneira que a energia de uma semente apodrecida passa para o imaturo botão. Existe apenas transferência de memória, energia, e lembrança (reshimot). Toda substância está destinada a apodrecer, assim como o corpo do homem apodrece, e toda a informação passa para a alma que ascende. Então, após sua entrada em novos corpos, ela implementa essa memória acumulada.

Qual a diferença entre a transferência de informação por meio de uma semente, quando um jovem casal tem filhos, e a transferência de informação quando a alma da pessoa falecida se move para um novo corpo? Afinal, os pais ainda estão vivos, e seus filhos também. Então, que almas adentram os corpos dessas crianças pequeninas?

Em todas as gerações e em todos os povos existe um desejo enorme de passar o conhecimento acumulado para as próximas gerações, de passar o melhor, na maior parte, valores morais. As melhores realizações desse desejo não estão no estudo, não na educação, ele é realizado no “inanimado sagrado” (o religioso ortodoxo), à maneira antiga.

A transferência é executada por meio do “pacote espiritual”, e portanto, a melhor coisa que uma pessoa pode fazer para passar boas lembranças para a próxima geração é corrigir a si mesma, melhorar as qualidades de sua alma, certificar que ela deixe seu corpo na forma mais corrigida possível.

Então, vemos que o homem passa sua alma para a próxima geração, e nela ele passa tudo que é necessário, e não passa nada vitalmente importante através  de um sistema externo de valores, ou da educação, de nada que tenha a ver com este mundo. A transferência genuína existe apenas no nível espiritual, não no corpóreo.

Encontramos deformações no entendimento dos termos: humanismo e altruísmo, no cotidiano. Para ser preciso, uma má interpretação das palavras da Bíblia! As leis do Criador são propositadas, voltadas a um objetivo. Elas têm de ser estudadas em estreita relação com o propósito da criação, de outra maneira, elas são mal interpretadas e até contradizem umas às outras.

É por isso que para toda ação que realizamos, a justificação ou a desaprovação dela é apenas possível quando podemos aborda-la em relação ao propósito da criação, ou seja, em relação ao objetivo do Criador que escolhe agir  de uma determinada maneira. De outra forma, jamais seremos capazes de avaliar corretamente qualquer fenômeno do mundo.

Se formos sábios o suficiente para comunicar aos nossos descendentes esse ponto de vista sobre o mundo, sobre as ações deles, não por meio da ética  religiosa, mas criativamente e não por causa do medo da punição, eles estarão cientes da existência do Criador, da natureza, e se desenvolverão mais rápido espiritualmente , e chegarão à compreensão espiritual de que devemos e, de fato, podemos influenciar a providência.

No século XX houve uma divisão entre as sociedades religiosa e secular. Essa divisão começará a se reduzir logo, porque os dois grupos estão começando a chegar ao entendimento do verdadeiro caminho. Esse caminho não é nem  religioso nem secular, é algo no meio, um caminho dourado, o caminho do Criador.

O egoísmo absoluto é expresso em cada nação através do automelhoramento, da elevada auto-estima, do referir-se à minha nação como  uma nação íntegra. Talvez estas imagens percam um pouco do seu poder em determinados períodos, porém mais tarde, a falta de fundamento para a auto- estima exagerada acaba causando agressão, motivada pela ausência de auto- estima.

As pessoas continuam reclamando sobre depressão, sofrimento, tormentos, e de fato, falta de alegria em suas vidas. Posso recomendar, assim como aquele sábio que (quando ouviu sobre a falta de espaço na casa de seu amigo) sugeriu  que deixasse o bode do quintal entrar. Depois de algum tempo ele sugeriu que o bode fosse novamente colocado lá fora.

Recomendo a todos aqueles em depressão: tapem seus olhos e ouvidos. Fiquem assim por alguns minutos até que sintam um forte desejo de ver e ouvir, sofram um pouco mais, e mais um pouquinho, e então removam a venda e os tapa ouvidos e vocês verão quão belo e maravilhoso este mundo é!

Você pode dizer que, basicamente, as teorias de Freud, Marx e Einstein são a  mesma  busca  pelo  Criador,  mas  não  de  maneira  direta,  e  sim  através  das contradições na sociedade, no homem, na ciência. Todos eles procuraram por algo perfeito, ou seja, pelo Criador, mas procuraram abaixo da barreira, em nosso mundo, contudo com o reconhecimento interno de que não existe solução em nosso mundo.

O entendimento e o reconhecimento do poder do Criador não é apenas que Ele é a única razão para tudo, que “Não há nada além Dele”, mas uma aspiração espiritual pelo mundo superior, um desejo de se unir a Ele, sendo que Ele é o único. Porque o entendimento de que o Criador é singular compele o homem a manter sua própria singularidade ao igualar seus atributos aos do Criador, para se unir a Ele.

*          *          *

As diferenças da prática de ioga e outros métodos, em oposição à Cabalá, são que todos os outros métodos e religiões oferecem um método para a performance exterior, física, ou seja, atividades práticas, dietas, costumes, exercícios. Apenas a sabedoria da Cabalá não se ocupa com nenhuma ação exterior, mas toda a prática, do começo ao fim, se concentra na alma do homem, em seus pensamentos, aspirações espirituais, ou seja, uma prática espiritual interior.

Se a pessoa obedece às leis da natureza, e ao mesmo tempo tenta imaginar o Criador, ela sempre vê as diferenças entre si mesma, a egoísta, e o Criador, o altruísta. Essa comparação cria religiões no qual o homem é representado como tendo atributos opostos ao Criador, o desejo de receber, que certamente é oposto aos atributos do Criador, e então o caminho espiritual dele é dedicado à supressão de sua própria natureza e de sua liberdade de escolha.

Apenas aquele que pode imaginar toda a realidade feita apenas do Criador, e não do Criador e da criação, não verá as contradições entre si mesmo e  o Criador. Como resultado, sua abordagem, seu caminho para o Criador não terá como foco a batalha contra seus próprios atributos, mas a igual aceitação dos atributos seus e os do Criador.

Essa pessoa jamais fundamentará sua educação nas ameaças, coerções e limitações; por mais que esse caminho permita resultados visíveis em curto prazo, jamais guiará o homem à correção espiritual genuína. Assim que as condições mudarem, tudo entrará em colapso numa maneira horrível e distorcida.

Apenas uma mudança espiritual que a pessoa realiza voluntariamente, gradualmente, dentro de sua alma, como resultado da influência do grupo, do professor (o Cabalista), do ambiente próximo que ela livremente escolhe para  ficar, fará ela mudar. A influência do grupo é apenas tão eficiente quanto esteja cônscia de que precisa ser corrigida e por isso precisa aceitar o grupo como o fator influenciador máximo. Nessa medida o homem poderá também absorver do grupo a idéia de ascensão espiritual, e nessa medida será capaz de aspirar pelo Criador e acelerar sua ascensão espiritual, do caminho da pessoa comum para aquele dos poucos escolhidos. Para uma pessoa assim não existem limitações, apenas mudanças internas.

OS QUATRO NÍVEIS DE DESENVOLVIMENTO DO DESEJO

Do livro “O Livro Aberto”

 

Prefácio do livro “Panim Meirot Umasbirot”

O Criador criou o desejo. Ele não criou nada além do desejo de receber. Na terminologia da Cabalá ele é chamado de “desejo de receber”, que significa  receber prazer.

Portanto, tudo o que existe é o Criador e o desejo de receber o prazer que Ele criou. Mas, de receber que prazer? O Próprio Criador? A sensação do Criador nas criações é sinônima à sensação de prazer. A Cabalá chama esse prazer de “luz”, o desejo de receber é chamado de “vaso”. Assim, existe o Criador e a criatura, o desejo de receber e o prazer, a luz e o vaso.

A aspiração espiritual de receber a luz em nosso mundo pode ser dividida em quatro níveis: inanimado, vegetativo, animal e falante (homem). A intensidade e a situação do desejo de receber a luz muda de um nível para o outro.

A força inferior está no nível inanimado. O desejo é tão pequeno naquele nível que nenhum movimento é iniciado. A criação entretanto sente algo mesmo neste nível, porque se ela foi criada então há um desejo de receber nela, mas ele não é expresso de maneira alguma porque a força daquele desejo é muito  pequena.

Os resultados positivos e negativos do desejo de receber prazer e do egoísmo coincidem com a força da aspiração espiritual, e é por isso que um objeto inanimado não pode fazer nenhum mal, ou beneficiar a alguém ou a algo mais, porque é inerte.

No nível vegetativo, o desejo de receber a luz é mais desenvolvido, possui um desejo mais poderoso que aquele do inanimado. Por causa disso, possui a habilidade de crescer. Comparado ao inanimado, o vegetativo já pode atrair o bem e remover o mal, é portanto capaz de desenvolver-se.

Há um ciclo fixo nas plantas. O vegetativo vive e morre, é muito mais dependente de seu ambiente que um objeto inanimado. Ele sente as variações  entre dia e noite. É uma forma de vida completamente diferente comparada ao inanimado, e todas essas mudanças ocorrem exclusivamente graças ao aumento  na força do desejo de receber a luz.

No nível animal, a força do desejo de receber é ainda mais forte. O que é acrescentado ao animal em comparação às plantas? Cada animal sente seu ambiente individualmente, e pode se aproximar do bem e se afastar do mal. A intensidade da sensação de mal e bem em todas as plantas reunidas somada ao bem e o mal que podem causar são similares à força do desejo de um só corpo do nível animal.

Um animal se movimenta de um lugar para o outro, ele possui sentidos e impressões individuais, possui seu próprio caráter. Cada um possui seu próprio caráter individual. Porque o desejo de receber a luz nos animais é mais forte que nas plantas, eles possuem características pessoais, exclusivas. Contudo, os animais são ainda limitados em sua noção de tempo: podem sentir apenas a eles mesmos e são incapazes de sentir os outros, o passado, ou de ter qualquer interesse no futuro.

O próximo nível – o falante – é o homem. Ele abrange dois componentes: mente e coração (emoções). Os dois fatores ajudam-se mutuamente a se desenvolver, e é por isso que a força do homem não é limitada pelo espaço ou tempo.

O que não pode ser percebido por um componente, pode ser compreendido por outro. Por exemplo: eu não posso perceber eventos que ocorreram há mil anos atrás, mas posso analisar e entender estes eventos com a minha mente e compensar o déficit até o ponto em que possa perceber. A habilidade de pensar ajuda as emoções e os sentidos.

Pode existir também uma situação oposta: eu percebo algo. Como que esta percepção pode me afetar para melhor ou para pior? Eu acrescento minha habilidade de pensar aos meus sentimentos e assim analiso a situação. As emoções e pensamentos, da mesma maneira, expandem minha compreensão de fatores de tempo e espaço, eu não mais me sinto limitado, posso compreender outro ser humano e experimentar situações que não experimentei através de minhas percepções. Graças a essa habilidade, o homem é capaz de transcender o tempo e  o espaço.

Uma pessoa pode estar em qualquer nível de desenvolvimento no sentido espiritual: inanimado, vegetativo e animal, simultaneamente. Mas, uma pessoa que descobre o “ponto no coração” e começa a desenvolve-lo até que se torne dez sefirot, até que se torne um vaso no qual o homem percebe a revelação do Criador, é chamada de “Cabalista” e contém dentro dela todos aqueles que estão no nível falante, de todas as épocas e nações, da primeira geração até a última.

Essa pirâmide reflete a proporção entre as cinco formas de criação que existem na realidade: inanimada, vegetativa, animal, e o homem em nosso mundo, o nível falante; onde cada item individual de um nível superior supera toda a criação do nível inferior reunida.

Isto é expresso exclusivamente em nossos desejos:

Um só desejo do nível vegetativo pode causar tanto mal ou bem quanto todos os desejos do nível inanimado no universo.

Um só desejo do nível animal pode causar tanto mal ou bem quanto todos os desejos do nível vegetativo do universo.

Um só desejo do nível falante pode causar tanto mal ou bem quanto todos os desejos do nível animal do universo.

Se o ponto no coração, a raiz da alma, aparecer em todos nós, e começar a se desenvolver à proporção de um vaso espiritual, sua força será igual à força de todas as pessoas de todos os lugares e épocas. Essa é a pirâmide! Mas, quanto mais elevado é o objeto, menos exemplares dele existem, e mais exclusivos e prevalecentes se tornam na criação.

Distinguimos cinco níveis no desejo que Criador criou, que são indicados como (a próxima seção se refere ao significado das letra hebraicas do nome do Criador – ה-ו-ה-י):

O ponto mais alto do Yod

A letra Yod: י A letra Hey: ה A letra Vav: ו A letra Hey: ה

Esse é um símbolo do desejo que o Criador criou, um símbolo da criação. O desejo abrange cinco partes que são simbolizadas por cinco símbolos, letras. E não dizemos que esse é o nome da criação, mas o nome do Criador, porque o desejo é preenchido com luz, com a percepção do Criador. A única coisa que a  criação pode sentir é o Criador, e nada mais.

É por isso que a situação da criação, ou seja, o mundo que a criação sente, sua sensação de “eu”, é chamada pelo nome do Criador – a sensação coletiva da criação é uma expressão da intenção do Criador, como é expressa na criação. É por isso que esse vaso é nomeado de acordo com o Criador. Apenas quatro letras são pronunciadas, além do ponto mais alto do Yod (י), chamamos essas letras de Yod – Hey – Vav – Hey (ה-ו-ה-י).

Para resumir, esta é a estrutura da criação:

י O ponto mais alto do Yod – um desejo que ainda não é sentido.

י Yod – corresponde ao nível inanimado.

ה O primeiro Hey – corresponde ao nível vegetativo.

ו Vav – corresponde ao nível animal.

ה O último Hey – corresponde ao nível falante.

Cada nível do desejo – inanimado, vegetativo, animal e falante – é dividido em sub-níveis: inanimado, vegetativo, animal e falante. Isso significa que mesmo no nível inanimado existe uma divisão em níveis: inanimado, vegetativo, animal e falante.

Nosso propósito é compreender o que de fato é o homem, o que ele representa. Uma só planta encontra-se acima de toda a natureza inanimada, um só animal encontra-se acima de todo o plantio e um só humano encontra-se acima de todos os animais. Mas, o que “acima” significa? Significa que se o homem corrige  a si mesmo, seu desenvolvimento espiritual o conduz acima de qualquer outra forma de criação inferior.

É por isso que é dito que tudo está dentro do homem. E em sua ascensão espiritual o homem pode elevar todos os mundos, e depois todos os mundos servem aquela pessoa. É por isso que se uma pessoa realiza uma correção, toda a criação ascende de maneira correspondente. É por isso que apenas o homem tem de corrigir a si mesmo.

Mas, o que significa correção? É uma correção de nossa atitude, nossa compreensão do Criador (se Ele nos tiver dado o desejo e os poderes para isso). Aquele que recebeu esse desejo é chamado de “homem”. Abaixo desse nível há o “falante”, os animais, as plantas e o inanimado dentro do homem em nosso mundo.

São as pessoas que têm de corrigir toda a natureza, porque o homem possui uma alma – o desejo espiritual mais evoluído. A pessoa que descobre o ponto no coração neste mundo, que forma o embrião de sua alma, e começa a desenvolve- lo, torna-se muitíssimo significante e influente tanto no mundo corpóreo como no espiritual. Ela recebe poderes espirituais que a permite descobrir o Criador e se unir com Ele, se tornar como Ele. Todos os quatro níveis da criação existem dentro do homem.

Naturalmente, tudo é baseado no nível inanimado (pó/terra). A existência desse nível espiritual é justificada porque todos os níveis, as plantas, os animais e  o homem, contam com a terra para o seu sustento. Por um lado, a terra é em si um fator insignificante, mas em compensação, nenhuma forma de vida pode existir sem ela.

O mesmo pode ser dito das massas no nível inanimado: elas têm três direções possíveis de desenvolvimento. Dentro das massas existe a possibilidade de criar formas mais avançadas de desejo, às quais a Cabalá se refere como: “os ricos”, “dominadores” e “sábios”, que correspondem aos desejos por riqueza, poder e conhecimento que evoluem a partir do nível inanimado.

À conclusão do desenvolvimento espiritual do homem em um desejo, eis que se desenvolve um desejo mais maduro, sob a influência dos três desejos: a “cobiça”, a “inveja” e a busca por honra.

Graças a esses desejos, o homem se desenvolve espiritualmente e ascende a níveis mais elevados, até que alcance o último – a perfeição. Resumindo: por causa do desejo do primeiro nível, o atributo da cobiça que é dado ao homem separa o “rico” das massas. Esse nível espiritual corresponde ao nível vegetativo no universo.

Depois, quando a pessoa recebe o atributo da inveja, os dominadores são separados das massas. Esse é o segundo nível, e corresponde ao nível animal na natureza.

O próximo desejo na seqüência, “a busca por honra”, existe apenas em humanos. A pessoa que quer ser honrada precisa receber honra de outras pessoas. Esse é um nível de existência completamente diferente. Ela precisa de outras pessoas. Sua ambição já se desenvolveu ao ponto em que não é suficiente controlar algo inanimado. Ela também precisa controlar outras pessoas para que outras pessoas satisfaçam seu desejo por prazer. Ela anseia por estar em seu coração. Isso é chamado de “honra”.

A “inveja” ajuda a separar os “sábios” das massas. Pessoas que possuem um grande desejo e são motivadas pela inveja adquirem conhecimento  e sabedoria. Esse nível corresponde ao nível “falante” na estrutura do universo.

Suas ações não são limitadas pelo tempo ou espaço. O homem às vezes inveja de maneira tão intensa alguém que morreu há muito tempo atrás que é como se aquela pessoa estivesse viva ainda hoje. O tempo não pode influenciar essa sensação. O homem inveja outra pessoa não apenas porque ela possui algo que não tenho, mas também se ambos tiverem a mesma coisa, ou seja, o homem não aspira apenas por receber tudo que o outro tem (a ambição e o atributo do outro), mas também por arruinar a aspiração do outro, para que ele não tenha nada.

Se, por exemplo, estou no nível espiritual “falante”, minha ambição é tão forte que desejo receber tudo que os outros têm, e mais, desejo que não tenham nada, e assim serei capaz de intensificar minha ambição de maneira infinita – desejar tudo que os outros têm, o que significa que sozinho me igualarei à toda humanidade. Somos todos assim.

Este atributo é uma característica apenas do homem. As pessoas que não estão no nível “falante” não podem intensificar seu desejo, elas apenas seguem a honra e a ganância. Elas precisam de certeza na satisfação de suas necessidades, mas apenas de suas próprias. Se não fosse pela inveja, o homem seria incapaz de intensificar seu desejo de receber de maneira infinita.

Contudo, tais pessoas finalmente acabam desamparadas, incuráveis,  porque seu desejo não é forte o suficiente. É por isso que misturam todas as três direções, e porque seus desejos estão espalhados entre essas três direções, são quebrados em partes pequenas, e não existe uma aspiração direcionada que permitirá a obtenção de algo concreto. A pessoa constantemente muda sua  direção, busca por algo mais, desperdiça sua energia.

É como uma criança pequena que quer tudo que vê. Mesmo que  uma pessoa possua um forte desejo, mas se ela mantém-se alternando entre riquezas, honra, poder e conhecimento, acabará finalmente de mãos vazias. As pessoas no nível espiritual inanimado estão cientes de suas necessidades domésticas, suas necessidades por sexo, comida, lazer, televisão. A vida toda delas é como um dia.

Quando uma pessoa começa a desejar riquezas está disposta a trabalhar dia e noite apenas para ganhar dinheiro cada vez mais. Ela já não se interessa mais por coisa alguma. O mesmo acontece com uma pessoa que quer honra ou poder: ela quer ser eleita ao parlamento, se tornar o próximo presidente, tudo mais vem depois disso. Não há tempo para férias, família, prazer, nada existe além do desejo irresistível por poder e controle.

O problema daqueles que chegam ao nível da inveja é que olham para os outros e para tudo que têm, e querem ter tudo isso de uma só vez. É por isto que não podem obter nada. Mas, apesar disso, são capazes de tomar os desejos de outras pessoas, na medida em que desenvolvem um desejo forte assim, tão forte como o desejo do mundo todo reunido, e apesar desse desejo não estar nem de perto apontado para a direção correta, ele ainda possui um grande poder.

As forças negativas e positivas têm o mesmo poder, portanto, porque  a força de uma pessoa é maior que a força de todo o mundo animal, em todas as épocas, passado, presente e futuro, ela pode causar mais danos que todos os animais reunidos, e nessa medida ela pode também fazer o bem.

É por isso que antes de uma pessoa estar pronta para a ascensão espiritual, ou seja, antes de ser capaz de usar suas forças apenas para fazer o bem, ela precisa de um contrapeso espiritual.

Isso significa que neste meio tempo ela não pode invejar o nível “humano”, que é determinado de acordo com o nível da sabedoria e conhecimento da pessoa, ou seja, a ela não pode ser dado o conhecimento pelo qual ela pode prejudicar os outros e tomar o que possuem. A ela não pode ser dada forças e habilidades além daquelas que já possui porque seus desejos não estão balanceados pela sabedoria e pelo nível moral.

É por isso que os primeiros sábios esconderam seu conhecimento das massas, por temerem que estudantes indignos usassem mal o conhecimento que a eles fosse dado e que revertessem a energia espiritual para satisfazer seus desejos animais e causar a destruição do mundo.

A sabedoria tem de ser um recurso suplementar, uma força espiritual que a pessoa tem em acréscimo às forças naturais, e de acordo com seu nível espiritual e moral. De outra maneira, apenas prejudicará. A despeito de suas habilidades ilimitadas, eles viveram humildemente, na pobreza, e recusaram qualquer tipo de prazer material apenas por causa da compreensão espiritual.

Mas com o passar do tempo a moralidade decaiu; os sábios quiseram ser ricos também, e obter controle. Como resultado, a moral deles se deteriorou até o nível das massas, os muros de proteção em volta da sabedoria foram quebrados e eis que começou a haver um mau uso dela, para satisfazer as necessidades animais do homem, que prevalece até hoje.

Se não tivesse ocorrido o desenvolvimento científico no mundo, como ele seria? Poderíamos imaginar que haveria de fato algum desenvolvimento na espiritualidade e nos valores espirituais, apesar disso ser apenas uma suposição de que poderíamos continuar a se desenvolver de acordo com a ascensão espiritual.

Mas se o progresso combinasse com o nível moral, ainda estaríamos hoje na mesma situação que as pessoas estavam há dois mil anos atrás, de acordo com a medida de nossa correção. Devemos aprender disto que tudo que acontece além disso é de fato corrupção, corrupção com a finalidade de correção.

Não devemos nos desconectar de tudo e começar a viver do jeito  que nossos pais viveram há dois mil anos atrás, mas precisamos entender que  qualquer processo de desenvolvimento é um processo desequilibrado; as forças positivas e negativas na sociedade, como também no homem, são desequilibradas. Não importa o quanto queiramos melhorar nossas vidas, fazermos que  sejam fáceis e agradáveis, isso será possível apenas por meio de esforços espirituais.

É por isso que uma pessoa que aspira por progresso espiritual finalmente acaba querendo viver uma vida simples, humilde, ela não espera nada das maravilhas do mundo moderno e vê os produtos do progresso à sua volta como algo supérfluo.

O avanço da humanidade por meio da ciência é um desenvolvimento num caminho  de  dor.  A  humanidade  continuará  a  evoluir  até  descobrir  que  essa estrada não leva a lugar nenhum. Temos de nos separar dos últimos dois mil anos de progresso e começar a buscar por uma outra maneira. Verifica-se que após dois mil anos, a humanidade descobre que realmente não evoluímos em todo esse tempo, mas que ao invés disso nos movemos na direção oposta. Se tivéssemos investido nossos esforços no espiritual, teríamos chegado a resultados muito mais positivos!

A realidade existe apenas para um único propósito – para o homem realizar uma correção através da sabedoria da Cabalá. A Cabalá foi barrada das massas até hoje, mas na última geração, antes da vinda do Messias, a sabedoria da Cabalá deve ser aberta a todos, até para os mais jovens.

Se todos devem começar a estudar Cabalá, isso significa que seu nível espiritual deve ser alto o suficiente para esse propósito? Porém, nossos sábios disseram que nessa geração as pessoas seriam rudes e insolentes e não desejariam entender a sabedoria da Cabalá. Então, como isso é possível? E por que ocorre de hoje ser permitido revelar a sabedoria da Cabalá a todos?

Está escrito que “A face da geração será como a face do cão”. Não terá nenhum interesse na sabedoria da Cabalá, desejará apenas receber para si mesma. É por isso que não há o temor de que estudantes indignos venham a aprender, porque ninguém desejará esse conhecimento. A sabedoria da Cabalá afirma que antes de você poder receber os atributos do Criador, você tem de corrigir sua natureza de uma intenção de receber para uma intenção de doar, e apenas assim você será capaz de compreender a sabedoria da Cabalá. É por isso que nenhum teste é necessário para ver se um estudante é digno.

Os desejos se intensificaram tanto em todos nós que não estamos mais interessados em nada além de recompensas materiais, e apenas aqueles que aspiram pela compreensão e revelação da espiritualidade desejarão atingir a sabedoria da Cabalá, enquanto que todos os outros promoverão desordem com ela, tentando vende-la para lucrar.

Todos terão sua chance de começar a estudar, mas as pessoas serão capazes de compreender o Criador apenas na medida de sua aptidão espiritual e na medida de sua pureza espiritual. Apenas a pessoa que entender que a sabedoria  da Cabalá não traz nenhum ganho material, mas apenas dá a ela a chance de devolver prazer ao Criador, de dar contentamento a Ele, será capaz de avançar espiritualmente.

Se o homem tiver esse forte desejo (todos os outros desejos continuam presentes, mas em uma proporção completamente diferente), ele começará a estudar a sabedoria da Cabalá. As outras pessoas simplesmente não irão deseja-la. Mas, aprendemos disso o quanto tudo depende dos desejos da pessoa, precisamente, do que a pessoa quer alcançar.

O livro é aberto a uma pessoa, ela começa a estudar. Depois de algum tempo ela pode ver se está pronta ou não para isso. O desejo do homem é o fator que determina onde ele estará e o que fará. Apenas seu ponto interno pode dizer a ele exatamente em que nível espiritual ele está. Ele começa a gradualmente entender que além da unificação com o Criador, ele não obterá nada! Nenhum prazer terrestre, nenhuma riqueza, ou honra, ou qualquer tipo de poder. É por isso que apenas aqueles que estão cientes desse fato, e aspiram apenas pela revelação e pela obtenção da satisfação espiritual interior, permanecem.

No decorrer do avanço espiritual cada vez menos pessoas permanecem. Quanto mais um grupo se aproxima do objetivo, a escolha se torna mais difícil, e apenas os verdadeiramente dignos permanecem. O processo de estudo em si confere poderes e peneira os estudantes.

A LINGUAGEM DOS CABALISTAS

Do livro “O Livro Aberto”

Palavras e letras provêem um código que aponta para o objeto espiritual e para sua situação exclusiva. Quando um Cabalista lê o que outro Cabalista escreveu, pode reconstruir o texto e sentir exatamente o que seu colega Cabalista queria dizer, da mesma maneira que um músico pode reconstruir uma peça musical, que foi escrita por um outro compositor há 500 anos atrás, através de notas, ou, da mesma maneira que representamos os sinais matemáticos com símbolos que são números.

Suponhamos que encontremos uma criatura do espaço sideral, e que ela  fale nossa língua, ou seja, ela usa nossas palavras, mas o conteúdo que ela atribui a elas é completamente diferente; podemos ainda chamá-la de “nossa língua”? Para aprende-la teríamos de saber o que essa criatura quer dizer com aquelas palavras conhecidas. Os Cabalistas também podem transmitir o conhecimento uns aos outros em nossa língua, mas nas palavras há um conteúdo completamente diferente que aponta para uma sensação, um ato ou uma obtenção do resultado “correto”. E isso é porque eles possuem sensações em comum e uma base em comum para estas realizações. A linguagem deles em nosso mundo é a linguagem dos ramos, na qual cada nome aponta para um objeto espiritual específico que simboliza.

Quando os Cabalistas utilizam um nome de nosso mundo, eles vêem a raiz do mundo superior que permanece atrás dele de maneira bem clara. A completa diferença entre nós e os Cabalistas é que, quando lemos os livros de Cabalá, vemos imagens de nosso mundo diante de nossos olhos que são completamente diferentes daquilo que o Cabalista que escreveu queria expressar, enquanto que quando um Cabalista lê o livro, ele vê as raízes espirituais do mundo superior nas palavras. É por isso que muitas vezes encontramos em livros de Cabalá palavras que parecem inapropriadas para termos espirituais, tais como: beijo, coito, abraço, vagina, útero. É claro que o significado espiritual delas não é o significado espiritual  que atribuímos às palavras em nosso mundo. Mesmo uma pessoa não familiarizada com a sabedoria da Cabalá concordará facilmente que esta área está acima de nossa razão. De acordo com nosso entendimento, a espiritualidade não pode advir de tais desejos egoístas desprezíveis e do uso de uma linguagem mundana como essa, então como é que encontramos expressões tão “vulgares”que quase nunca usamos mesmo em nossa vida cotidiana?

A questão é que: uma vez que os Cabalistas escolheram as palavras da “linguagem dos ramos” para a descrição dos objetos espirituais, eles não podem trocar uma palavra por outra ao seu bel prazer. Eles devem usar as palavras que indicam precisamente aquelas raízes superiores, e não podem abandonar sequer uma única palavra só porque parece vulgar ou imprópria. Da mesma maneira que dois fios de cabelo não podem crescer da mesma raiz, assim dois ramos não podem originar-se da mesma raiz espiritual. Toda criatura tem a sua própria raiz superior, e não pode ser substituída por outra.

Cada objeto em nosso mundo possui uma raiz superior que tem o mesmo nome. Não podem existir duas raízes diferentes com o mesmo nome, assim como duas criaturas separadas em nosso mundo não podem ter o mesmo nome, porque são diferentes no mínimo em alguma coisa, senão seriam a mesma coisa. Cada objeto ou fenômeno da natureza precisa ter um nome específico e, uma vez que tenha sido dado, aquele não pode ser chamado por nenhum outro nome.

Se trocássemos as palavras “obscenas” por outras, quebraríamos a firme conexão entre o ramo e sua raiz superior. Não saberíamos qual objeto relacionaríamos a qual palavra escrita, porque não existe outra ciência no mundo com uma correlação tão perfeita entre a raiz e o ramo. Os Cabalistas são pessoas que atingem aquelas raízes; eles percebem claramente aqueles “fios” que não podemos, que ligam a raiz ao seu ramo abaixo.

Do começo ao fim da criação, existe um processo contínuo de correção e elevação, em conformidade com um plano que desce do mundo superior e que  nos ordena tudo. Toda criatura percorre seu próprio caminho nesse processo coletivo, e nenhum “eu” desaparece neste processo. Ele pode adotar diferentes formas, mas sempre se mantém.

É claro que num sistema complexo assim você não pode trocar um nome por outro. Para escolher uma “linguagem código” exata é preciso que seja aplicável sob qualquer condição – ou seja, sempre usar a palavra que aponta para sua raiz superior, como nos livros autênticos de Cabalá. As pessoas que escreveram esses livros atingiram as raízes e estavam em tais níveis espirituais dos quais nos proveram com definições precisas. É por isso que sua linguagem descreve os mundos superiores com absoluta precisão. Aprendemos com isto que livros que são escritos por pessoas que se auto-intitulam “Cabalistas” são inúteis e apenas enganam e desviam o leitor do entendimento e do avanço no caminho certo.

Todos os termos que encontramos em livros de Cabalá, tais como: beijo, coito, vestir/ornar, expansão, carne, circuncisão, etc.; todos falam das raízes superiores e de maneira alguma sobre processos terrestres. Elas são chamadas assim simplesmente porque é impossível encontrar outro nome que apontará para aquela raiz superior em nossa linguagem, e não porque os processos nas raízes superiores de alguma maneira se assemelham aos do nosso mundo. Não devemos imaginar corpos sublimes se unindo ou se beijando.

Por causa disso, é bastante difícil para uma pessoa, que não sabe como traduzir as palavras para a linguagem espiritual, ler os livros de Cabalá, e isso se aplica à Torah (Bíblia) também. Nas lendas e na Torah e principalmente no Cântico dos Cânticos (que parece falar do amor conforme o entendemos) é bastante difícil distinguir entre o significado comum que atribuímos às palavras e o significado espiritual delas, porque existe uma sólida conexão entre as palavras e nossas emoções. (A propósito, é mais fácil para aqueles dos quais a língua materna não é  o hebraico, porque eles não conectam diretamente as palavras hebraicas com suas emoções).

Com o tempo, aquela conexão é rompida no estudante e, gradualmente, ele cria uma nova conexão, de acordo com o seu trabalho e esforço para sentir os conceitos espirituais que permanecem por trás da linguagem dos ramos. Um leitor comum da Bíblia, ou da Guemará, não pode simplesmente se libertar do significado familiar das palavras que ele conhece, que de fato existem para coisas que são completamente desconhecidas para ele. O problema todo é que a Torah é compreendida corretamente apenas por um punhado de pessoas, contudo a própria Torah declara: “A Torah toda é os nomes do Criador.” Mas o que isso significa?

Damos nome a um objeto de acordo com seus atributos, depois de os ter atingido e de saber qual é sua essência. Quando um Cabalista ascende com seus sentimentos ao mundo espiritual, ele começa a sentir a revelação do Criador, de Suas ações, de Seus atributos, do Próprio Criador, e ele dá nome ao que ele sente. Apenas uma pessoa que pode sentir o Criador pode dar nome a Ele. O nome não resulta da leitura de um livro. O Cabalista chama o Criador por um nome quando não O sente menos do que sentimos algo em nosso mundo.

É por isso que a expressão: “A Torah toda é os nomes do Criador” significa que a revelação da Torah é apenas para aqueles que se elevam em suas sensações espirituais e podem sentir o Criador.

A luz que o Cabalista recebe é chamada de Torah. Apenas as pessoas que atingem as raízes, ou seja, os Cabalistas, podem perceber facilmente o que está por trás das palavras da Torah. É assim também que nossos livros sagrados são  escritos, esse é o porquê deles serem sagrados. Eles falam da Divindade, sobre o mundo do Criador.

Um Cabalista é chamado de acordo com o nível mais alto que ele atinge – a revelação mais alta do Criador que ele atinge define seu nome. Por exemplo: aprendemos que um partzuf (um objeto espiritual) é chamado de acordo com o  tipo de luz em sua cabeça. Se for a luz da sabedoria, é um partzuf da sabedoria (Hochma), se a cabeça contém a luz da misericórdia, ele é chamado de partzuf Bina. Em nosso mundo também, chamamos a pessoa de acordo com sua maior realização, por exemplo: Professor, Doutor, etc.

É quase impossível entender os livros de Cabalá, porque eles foram escritos com termos do nosso mundo. É dito sobre o primeiro homem que foi criado pelo Criador, que ele era um ladrão, sobre a esposa de Moisés – “mulher vulgar”, sobre Labão (que é na verdade a luz da sabedoria, a luz superior), que era um “impostor”. Simplesmente não compreendemos o real significado espiritual por trás das palavras já conhecidas. Toda língua possui sua própria raiz, assim como tudo em nosso mundo, mas há com certeza uma diferença entre uma raiz espiritual e a outra. No final da correção, aquelas diferenças espirituais desaparecerão, mas, até então, existirão raízes superiores e raízes inferiores, mais importantes e menos importantes.

O mundo é construído como uma pirâmide espiritual, e, até o final da correção, não seremos todos iguais em relação ao mundo espiritual, e não poderemos determinar a posição de uma pessoa que se envolve na correção espiritual por sua aparência. Aquele que está mais próximo de adentrar o mundo espiritual pode ter um caráter pior, mas está mais familiarizado com seus atributos, com a inferioridade de sua natureza. Aqueles que estão mais distantes  da entrada do mundo espiritual têm atributos mais agradáveis. Precisamos lembrar que estamos apenas falando de pessoas que estão trabalhando em sua correção espiritual. Com relação a uma pessoa que não está estudando Cabalá não há nada a dizer em qualquer caso, porque elas ainda não podem sentir nada real, porque não possuem uma escala espiritual para se compararem. Por esta razão, há uma diferença entre a espiritualidade das raízes superiores e os ramos em nosso mundo. Então, qualquer língua pode ser escolhida como linguagem dos ramos?  De fato, toda língua possui sua própria raiz superior, mas o hebraico é a única língua da qual conhecemos o código espiritual. O mundo foi criado por suas  letras, e toda palavra expressa a essência do objeto.

É por isso que a Torah foi “dada” em hebraico. Nos mundos superiores não existem letras, mas os atributos espirituais nos foram descritos na forma de letras hebraicas.

O ARI, o grande Cabalista de Zefat (cidade hebréia), descreveu o mundo espiritual através de dez sefirot. Ele explicou as razões para tudo que acontece no mundo espiritual através de uma tela e da luz superior, o que permite que qualquer iniciante estude Cabalá. Antes do ARI, todos os livros eram escritos na linguagem  das  lendas  ou  midrash,  como  o  Zohar.  Até  então,  os  Cabalistas escreviam seus livros como uma história que contava sobre o que percebiam no mundo espiritual, e não como uma descrição científica do que acontece lá, por meio da extensão da luz de cima para baixo, ou das cinco fases no vaso e a tela que se reveste sobre ele. Você poderia dizer com certeza que existiram Cabalistas que atingiram níveis mais elevados que aquele do ARI, mas ele foi o primeiro ao qual foi dada permissão de cima para transmitir para nós toda a sabedoria da Cabalá. Baal HaSulam, Rabino Yehuda Ashlag, interpretou todas as partes dos escritos do ARI que precisavam ser privadas de termos de tempo, espaço e movimento.

Como então, Baal HaSulam refinou a linguagem a um determinado nível que agora não há lugar para a materialização da espiritualidade? Ele “apenas” explicou as dez sefirot, e nada mais. As primeiras nove sefirot descrevem como o Criador se relaciona com a criatura, e a última sefirah é Malchut – a própria criatura. Não há nada em toda a criação além da inclusão do Criador na criatura.

No seguinte exemplo tentaremos entender melhor o que é a “linguagem  dos ramos”. Por exemplo: alguns cientistas medem um determinado nível de influência que o mundo externo tem sobre uma determinada pessoa, através de instrumentos que eles conectam aos órgãos sensoriais e ao coração dela, que é o vaso de recepção dela para a reação. Desta maneira, constroem tabelas e gráficos que expressam a dependência entre as reações internas dela e os estímulos externos. Depois, conectam a fonte de sinais elétricos ao corpo dela e os enviam à sua mente, como se viessem da fonte real. A pessoa não sente nenhuma diferença, ela recebe os sinais como se viessem da fonte verdadeira. Eles dão nomes técnicos aos experimentos: você envia este e aquele sinal e obtém esta e aquela reação. É assim que um dicionário científico é criado. É assim também que Cabalistas- cientistas agem. Eles realizam experimentos com o efeito da luz do Criador (a única fonte de todas as emoções) sobre eles mesmos, e depois descrevem suas reações.

O Cabalista é tanto o pesquisador como o objeto sendo pesquisado ao mesmo tempo. É por isso que ele pode descrever seus sentimentos nos termos de uma ciência exata, e não apenas através de uma expressão emocional tal como  uma poesia ou uma música. É por isso que a Cabalá é chamada de “a sabedoria da verdade”, ou a “Torah da verdade”.

Em uma pessoa em nosso mundo que ainda não atingiu o mundo espiritual existe um vaso espiritual em seu coração chamado de “ponto negro”. É um ponto espiritual que não está fisicamente no coração, mas é apenas sentido através dele. Se uma pessoa estuda Cabalá com os professores corretos, ela lentamente começa  a desenvolver aquele ponto para se tornar um vaso completo, um partzuf espiritual. É como se ela expandisse aquele ponto, o inflasse e criasse um espaço nele, no qual depois ela receberá a luz espiritual – a sensação do Criador. A sensação do Criador é chamada de “luz” e o partzuf espiritual é o “vaso” que pode recebe-la. O tamanho do partzuf determina o nível espiritual do Cabalista. Um nome na Cabalá tal como Moisés é usado para indicar um nível, que Moisés, o Cabalista, atingiu. Qualquer um que atingir aquele nível também será chamado por aquele nome. A Cabalá não lida de maneira alguma com uma descrição do corpo físico. Apenas a medida da revelação do Criador determina a estatura do nível espiritual de um Cabalista. Quando um Cabalista lê um livro de Cabalá, ele sabe o que precisa fazer para se elevar espiritualmente. As ações que ele realiza no corpo espiritual são chamadas de “mitzvot”. Elas são ações espirituais – “desejos do Criador” que precisamos seguir para atingirmos a luz e sentirmos o Criador.

É por isso que os livros do Baal HaSulam podem ser estudados sem nenhum perigo de se materializar os conceitos espirituais, sem se imaginar objetos físicos que agem um sobre o outro. Não afetamos o mundo espiritual através do cumprimento físico das mitzvot. Não existe conexão entre nossas ações físicas e o mundo espiritual. A severidade da proibição da idolatria se refere à materialização da espiritualidade e não ao curvar-se diante de algum pedaço de madeira ou pedra. Tais coisas sequer são um tópico para discussão. A idolatria é a materialização dos termos espirituais, como se forças espirituais se vestissem em nosso corpo, ou num pedaço de carne. Por causa desse perigo houve a proibição do estudo da Cabalá. Baal HaSulam transmitiu a sabedoria em seus livros de uma tal maneira que qualquer um pudesse entende-la sem materializar os conceitos espirituais. Antes da sua época, as pessoas ainda não estavam prontas para aceita- la, e a Cabalá foi escondida. De fato, o propósito do desenvolvimento da humanidade é leva-la a sentir e a aceitar que existem coisas que não podemos sentir, mas que existem; que são invisíveis, contudo grandiosas, que pode haver existência além do tempo e do espaço.

Isso preparará a humanidade para o pensamento de que uma coisa como a espiritualidade, que não é sentida e nem pode ser descrita, pode todavia existir. Nossa experiência coletiva é tão grandiosa neste momento que estamos mais dispostos do que nunca a aceitar que tudo é possível.

SENTINDO UM OUTRO MUNDO

Do livro “O Livro Aberto”

Os conceitos espirituais são independentes de tempo, espaço e movimento. É por isso que não podemos imagina-los, porque tudo que sentimos existe num contexto de tempo e espaço, e em algum tipo de movimento. Nosso universo, por exemplo, existe em um determinado espaço. Imaginemos: se removermos tudo do universo, o que sobrará? Na espiritualidade não existem corpos, não existe tempo, movimento ou espaço. É por isso que não existe nada em comum entre a espiritualidade e a estrutura de nossa natureza ou nossa emoção. Podemos examinar algo que não sentimos? Por que os Cabalistas dizem que a Cabalá é uma ciência ou uma sabedoria, se o tópico do qual ela trata é inconcebível aos nossos sentidos? Como podemos falar de algo que sequer podemos imaginar? Como podemos compreender o que está escrito nos livros de Cabalá, se a espiritualidade é algo que não podemos começar a imaginar, e como os Cabalistas no entanto a explicam, e com termos do nosso mundo?

Os Cabalistas são pessoas que foram dotadas com a oportunidade de sentir um outro mundo. Apenas aqueles que vêem, sentem e o entendem, são chamados Cabalistas, porque recebem conhecimento e sensações “daquele” mundo.

Mas, porque somos incapazes de sentir qualquer coisa que esteja fora do tempo, espaço e movimento, não podemos sentir o mundo espiritual, e portanto vivemos como cegos. É como se o mundo espiritual existisse sem conexão com nossas emoções. Contudo, está aqui! E, apesar de não podermos imaginar um mundo sem tempo, espaço e movimento, precisamos no entanto aceitar o fato de que esses termos não existem no mundo espiritual. Mas, como então podemos dizer algo sobre o mundo espiritual? Como que um Cabalista pode nos contar   algo sobre o mundo espiritual, se este não possui nenhuma das coisas que temos em nosso mundo? Além do mais, sentimos o nosso mundo apenas através do tempo, espaço e movimento, e todos os nossos termos provém de nossos cinco sentidos.  É  assim  que  criamos  nosso  vocabulário.  Não  podemos  medir nossos sentimentos, que são algo pessoal, particular; não podemos saber se é bom ou mau, abundante ou insignificante; nós medimos tudo isso em relação a nós mesmos, em relação a nossos desejos pessoais no momento da medição, desprovidos de qualquer valor absoluto.

Além disso, sabemos por experiência que nossos sentimentos podem mudar, e qualquer criatura sente seu mundo de maneira diferente. Estou enfatizando “seu mundo” de propósito, porque cada um de nós tem seu próprio mundo e não podemos comparar e ver quão idênticas são nossas emoções. Todas as criaturas – inanimadas, vegetativas, ou animais – sentem o mundo de maneira diferente. Cientistas descobriram que cada tipo de animal tem sua própria estrutura sensorial, cada espécie vê uma imagem do mundo completamente diferente. Se, por exemplo, pudéssemos nos conectar com extraterrestres, como poderíamos comparar nossas impressões do mundo? Todo nosso discurso é baseado no que sentimos, que já inclui nossos valores subconscientes de “bom e mau” com relação a cada objeto. Representamos algo como “bom” ou “mau” dependendo de como sentimos nós mesmos. Isso é suficiente para nosso “pano de fundo”; compreendemos um ao outro.

Podemos conversar apenas se sentimos que a diferença de pensamento e cultura, ou de modo de vida, não excedem os limites de um consenso geral baseado em percepções comuns. Mas, além dessas limitações em nossos sentidos, porque existem impressões pessoais, mesmo aquilo que podemos sentir é apenas invenção de nossa imaginação e não há como dizermos quão absoluto isso é.

Nossa visão, por exemplo, retrata algo que afeta nossos olhos, então esta impressão limitada e pessoal é incrementada na cabeça, e o que recebemos de  volta de nossas mentes já é sentido como algo que existe fora de nós. É assim que percebemos tudo que podemos ver.

Todas as outras impressões externas também são aceitas em relação aos nossos sentidos, na dependência de suas limitações. Não podemos conhecer e sentir o mundo exterior dentro de nós; apenas uma determinada quantidade de influência em nossos sentidos, mas isto não é nada mais do que o reflexo de nossos sentidos a alguns dos fatores externos que eles sentem. Temos de entender que nossa linguagem bela, rica e criativa descreve apenas uma minúscula porção da realidade, pela qual somos impressionados de alguma maneira. Mas se este é o caso, como podemos descrever em nossa própria linguagem, que é baseada em sensações individuais de nosso mundo, os vários conceitos do mundo espiritual? Mesmo se tomarmos a palavra mais pura de nosso mundo – luz – que parece estar mais perto da espiritualidade, veremos que ela também se refere a uma idéia corpórea tal como a luz do sol, ou a uma mente iluminada, que não tem nada a ver com a Divindade.

A propósito, a luz é o fenômeno mais mal interpretado até em nosso mundo, a despeito de todas as teorias físicas. Foi o RAMBAM que escreveu que todo o nosso universo está abaixo da velocidade da luz, e que acima daquela velocidade existe um outro mundo. Numa outra explicação dessa palavra, a descrevemos como prazer, ou como a iluminação da mente. Mas, se escolho minhas palavras de acordo com minhas emoções e as passo para outra pessoa, que por sua vez as interpreta de acordo com sua compreensão, como podemos comparar as sensações que atribuímos à mesma palavra? Qual é a base comum através da qual podemos comparar nossas informações sensoriais? E, porque não podemos comparar nossas emoções com precisão alguma (e quem sabe se a psicologia e a psiquiatria chegarão alguma vez a essa compreensão), somos compelidos a utilizar termos sem antes comparar as emoções que trazem a nós. Não é necessário que minhas emoções sejam as mesmas que as suas. O que eu faço desperta algo similar em você… e essa é toda a linguagem dos Cabalistas.

A LINGUAGEM DO MUNDO ESPIRITUAL

Do livro “O Livro Aberto”

Se, mesmo no mundo espiritual, somos incapazes de expressar nossas emoções um ao outro, como então podemos utilizar a linguagem para descrever a espiritualidade? Além do mais, o mundo espiritual é um mundo de desejos, ele não ocupa espaço ou tempo, apenas desejos sem qualquer substância. Além disso, os Cabalistas nos contam que essas emoções são bastante precisas e portanto requerem uma linguagem completa e exata para descreve-las.

Como podemos expressar em nossa linguagem tais conceitos precisos como observações sutis na Divindade? Uma descrição do mundo espiritual é uma descrição da alma humana, uma descrição das fases de introdução da alma no Criador, e da crescente intensidade de suas emoções. A Cabalá divide a alma coletiva em partes, dá um nome a cada parte de acordo com seus atributos, e descreve os relacionamentos entre elas e o mundo exterior.

Esse é o poder da linguagem da Cabalá. Ela descreve emoções numa maneira precisa que até permite o uso de tabelas, gráficos e fórmulas. Podemos dizer que a sabedoria da Cabalá é a engenharia da alma. Mas como podemos superar as imprecisões de nossa língua para que a usemos em investigações precisas assim?

Experimente e atribua um símbolo exclusivo ao seu humor, compare-o graficamente com o humor de mais alguém, expresse todas as nuances de suas emoções em números: a dependência entre a falta de confiança e a fadiga, o seu humor quando você se sente faminto, a força dos medos durante o dia. Não podemos medir precisamente nossas emoções em nosso mundo. Por exemplo: a relação entre tocar um corpo quente e a reação do cérebro a isso depende, entre outras coisas, de fatores tais como o humor, a condição de saúde, a aptidão física e outros. Não podemos comparar por porcentagem, ou por qualidade ou quantidade, o prazer que obtemos da música ou de uma iguaria agradável. Se nossa linguagem é pobre, subjetiva e imprecisa desse jeito, por que os Cabalistas a adotaram para descrever as ações espirituais, e por que não inventaram uma linguagem especial, especialmente apropriada para esse propósito?

Na ciência comum, por exemplo, fazer mau uso de um termo leva a más interpretações. Um especialista que conhece a linguagem daquela ciência não entenderá de onde os resultados foram obtidos e irá considerar errada a  conclusão, e a pessoa que não conhece aquela linguagem irá considerar aquilo verdadeiro e cometerá erros. O mesmo se aplica à sabedoria da Cabalá: quando uma pessoa começa a descrever coisas que parecem estar acontecendo no mundo espiritual com palavras de nosso mundo, ou cria seus próprios termos, não podemos falar de qualquer nível de credibilidade.

É por isso que os Cabalistas escolheram a “linguagem dos ramos” para ser a linguagem da Cabalá. Essa linguagem é baseada no fato de que toda a criação em nosso mundo – inanimada, vegetativa, animal e falante, e tudo que acontece a elas no passado, presente e futuro, e toda a criação como objetos individuais e seus comportamentos, todos se desenvolvem a partir do Criador e descem através de todos os mundos espirituais, até aparecerem em nosso mundo. Tudo em nosso mundo começa necessariamente no mundo superior e então desce ao nosso mundo nível após nível. Por tudo em nosso mundo resultar do mundo superior, existe uma conexão específica entre a causa, que é a raiz no mundo superior, e o efeito em nosso mundo. Os Cabalistas são aqueles que encontram a conexão entre a raiz no mundo superior e o ramo neste mundo. Eles são aqueles que podem dizer com precisão o quê está conectado ao quê, porque vêem a raiz superior da qual aquela conexão provém, como também o resultado da raiz superior, o ramo que recebe do superior sem saber e é conduzido por ele. Por causa disso, os Cabalistas podem indicar as raízes com precisão através de suas conseqüências corpóreas (os ramos) em nosso mundo.

É por isso que a Cabalá recebeu o nome “a linguagem dos ramos” e o nome “a linguagem das raízes”. A raiz superior é chamada de acordo com o ramo e não  o contrário. Dessa maneira, os Cabalistas inventaram a linguagem que descreve de maneira precisa o mundo espiritual. É a única linguagem capaz de conectar o mundo espiritual ao nosso mundo com palavras que podemos entender.

Disso provém uma lei essencial sobre como se relacionar com os livros de Cabalá e com toda a Torah: precisamos lembrar de uma vez por todas que todas as palavras nos livros de Cabalá apenas são palavras de nosso mundo, mas não a interpretação que costumamos dar a elas em nossa linguagem. O que está por trás dessas palavras são objetos espirituais, raízes, que de maneira alguma pertencem ao nosso mundo. Precisamos sempre nos lembrar disso, para nunca nos confundirmos.

O PROPÓSITO DA REENCARNAÇÃO DE ACORDO COM O ZOHAR

Do livro “O Livro Aberto”

O livro do Zohar – um livro complexo e profundo – contém a sabedoria da Cabalá em sua inteireza. Ele nos fala sobre o caminho completo pelo qual a pessoa tem de passar desde o momento em que sua alma se encontra em um corpo físico; sobre o período em que a pessoa vive junto com a alma no mundo físico, e sobre como aquela termina sua vida, e continua a existir como alma sem corpo, e como esta desce a este mundo novamente. Portanto, vários ciclos de vida passam e nós o chamamos de “reencarnações” da alma.

O Zohar explica que propósito dessas reencarnações, desses retornos repetitivos a este mundo, é trazer o homem a um estado no qual sinta o mundo completamente, e não só este onde está vivendo neste momento.

O Zohar declara que além de nosso mundo existe um outro mundo – muito mais amplo – que apenas os Cabalistas, ou as almas que existem fora do corpo físico, podem sentir. O homem precisa chegar a uma situação na qual ele viva em ambos os mundos simultaneamente. Isso dá a ele a habilidade de ser mestre de  seu próprio destino, de planejar seu futuro e não ser influenciado pela vida e a morte do seu corpo biológico, mas ao invés disso de estar conectado com sua  alma.

O Zohar fala do caminho pelo qual cada alma tem de passar  separadamente, e do caminho pelo qual todas as almas passam como  humanidade, começando com a descida da alma ao corpo pela primeira vez, passando por todos os ciclos pelos quais esta alma passa, e terminando no estado onde alma, junto com o corpo, chega a um estado no qual o homem sente sua existência em todo o sistema da criação, e a vida e a morte cessam de existir para ele, e se torna parte ativa de uma completa eternidade. Essa é a situação à qual todos nós precisamos chegar.

A sabedoria da Cabalá afirma que a descida das almas aos nossos corpos prossegue por 6.000 anos, o que quer dizer que começou há 5763 anos atrás, e continuará por 237 anos. Nos anos que restam as almas precisam atingir todo o sistema da criação, aquela sublime forma de existência na qual o homem se identificará com  sua alma e não com seu corpo.

Todos os Cabalistas escreveram em seus livros sobre a singularidade da época em que vivemos. Eles falaram sobre como gradualmente, por milhares de anos, as almas descem e se vestem nos corpos de nosso mundo, acumulam uma certa quantidade de experiência e sobem de volta ao mundo superior. Depois elas descem de novo a este mundo para se vestirem em novos corpos, e assim por diante.

Assim, as almas gradualmente acumulam experiência que as faz vir estudar a sabedoria da Cabalá, através da qual elas atingirão o mundo superior. De acordo com os Cabalistas, isso acontecerá quando o último exílio dos judeus terminar. O ano 5755 (1995) foi marcado pelos Cabalistas como um ano bastante especial; um ano que é um alicerce histórico do qual começa uma mudança genuína no relacionamento do homem com o mundo, em seu relacionamento com a sabedoria da Cabalá, no relacionamento com seu destino.

Essa mudança é conseqüência de um processo de evolução pelo qual o homem tem passado que o compele a se comprometer com a liderança da criação, a ter um papel ativo nela, a ascender ao mesmo nível no qual será mestre e guardião do mundo todo. Se ele não aspirar por isso, então a lei coletiva da criação fará com que ele faça isso através de tormentos, que o forçarão a pensar sobre questões tais como: “Para que estou vivendo?” “Para que existo?” – e a examinar o propósito de sua vida e a perguntar por que está vivendo tão miseravelmente.

Assim, todos começarão a sentir essa questão, ardendo. Ela começará a nos irritar exatamente para nos fazer pensar sobre como controlar nosso destino. As pessoas nesta geração estão começando devagar, de acordo com o nível de desenvolvimento de suas almas, a chegar a uma situação na qual sentem uma grande necessidade de conhecer o propósito da vida. Tormentos, agonia e falta de confiança com relação ao futuro nos compelem a pensar sobre o sentido de nossas vidas. A dor nos pressiona a começarmos a aprender sobre a providência para nos tornarmos a parte mais ativa dela.

É sobre isso que a sabedoria da Cabalá fala, e este é o método que dá ao homem o conhecimento de como tudo que acontece em nosso mundo é gerado em um mundo superior e de lá se estende ao nosso mundo. Somos apenas testemunhas da imagem que se desdobra diante de nós conforme o Criador a planejou.

Se uma pessoa pode sentir o mundo superior, ela sabe o que vai acontecer adiantadamente, e a parte mais importante é que ela pode até determinar o que descerá a ela de cima. Ao estudar Cabalá, a pessoa adquire o conhecimento de como pode influenciar os eventos de sua vida.

Suponhamos, por exemplo, que aquela pessoa encontre uma determinada situação. Como deverá se relacionar com ela? Como deverá entender o que está acontecendo para se relacionar com isso de maneira correta, para que sua reação  se eleve e faça com que os eventos resultantes sejam mais agradáveis e melhores do que o atual?

Nós então vemos que a sabedoria da Cabalá nos ensina não apenas a testemunhar o que vai acontecer, mas ao mesmo tempo a reagirmos a isso para produzirmos bons resultados no futuro. É assim que o sistema de orientação funciona. Ou seja, a pessoa pode sentir o que está acontecendo com ela e o que precisa fazer para determinar sua situação futura.

É possível chegar a tal capacidade apenas através do estudo dos escritos  dos Cabalistas. Os Cabalistas são pessoas que sentem e que residem o mundo superior enquanto escrevem seus livros. Como resultado, as palavras que um Cabalista escreve quando está completamente imerso no mundo espiritual são selecionadas para determinadas ações espirituais superiores. Portanto, uma pessoa que as lê e as expressa, mesmo não entendendo sobre o que as palavras falam, porque ela não está no mundo superior, ainda assim, mesmo inconscientemente, desperta a luz superior sobre si mesma, a força superior que gradualmente a purifica e prepara para um estado no qual ela começa a ver e sentir aquilo sobre o qual ela lê. A leitura e o estudo a partir de livros especiais de Cabalá trazem a pessoa gradualmente a um estado no qual ela começa a sentir o mundo superior, porque é nisso que o estudo é baseado, e é por isso que os Cabalistas escrevem seus livros, para nos ajudar a progredir.

Mas, porque cada um de nós tem apenas um pequeno desejo de atingir o mundo superior, os estudantes de Cabalá formam um grupo para agruparem os desejos e assim aumentarem a influência da luz superior sobre eles, e com isso progridem mais rápido, ou seja, atingem mais depressa a situação na qual eles começam a sentir o mundo superior, e começam a guiar seus próprios destinos.

Assim, em todas as épocas, os Cabalistas têm estudado Cabalá em grupos tais como aqueles do Rabino Shimon Bar-Yochai, autor do livro do Zohar, e do sagrado ARI de Zefat.

SOBRE O MUNDO

Do livro “O Livro Aberto”

Este mundo existe há bilhões de anos, mas a Cabalá não fala de 6.000 anos que normalmente contamos em nosso mundo, mas de 6.000 níveis que descrevem a ascensão da alma de volta à sua raiz, para o lugar de onde veio.

Os 6.000 anos que os judeus contam são a extensão de tempo da descida e ascensão das almas. Ao final dos 6.000 anos, todas as almas deverão estar corrigidas e subir de volta à sua raiz. O mundo em si continuará a existir quando esses 6.000 anos terminarem.

O tempo é apenas uma sensação interna e não existe  por si só. A sensação de tempo é uma seqüência subjetiva de eventos que se concatenam por meio de causa e efeito. Baal HaSulam escreve no Talmud Esser Sefirot (O Estudo das Dez Sefirot) que tempo e espaço são termos que existem apenas em relação aos humanos, que, de fato, o tempo não existe.

No momento em que alguém cruza a barreira entre causa e conseqüência e começa a ascensão espiritual, o presente e o futuro se fundem  em uma coisa só. Até mesmo as leis da física começaram a revelar que existem processos nos quais o fim vem antes do começo, ou seja, que o tempo não passa de um conceito interno, psicológico dentro de nós.

A humanidade foi criada para descobrir seu estado mais elevado, o ponto mais elevado. A obtenção do objetivo depende de com o que nos identificamos: com nossa alma ou com nosso corpo? Isso determina nosso ponto de vista sobre a vida e nosso corpo.

Nossas almas estão unidas em conjunto. Quando uma pessoa descobre o mundo superior, percebe como é forte a união entre ela e as outras almas. No momento, tudo que podemos perceber é o nosso corpo, esse é o porquê de pensarmos que estamos divididos em vários corpos. Mas a alma é uma estrutura que existe em cada um de nós – a mesma alma dentro de todos nós, é por isso  que quando uma pessoa começa a se identificar com sua alma as muralhas entre ela e as outras almas desmoronam porque ela pode ver e sentir que possui algo em comum com todas as pessoas e todas as nações – um corpo espiritual coletivo.

Quando tudo finalmente estiver corrigido, todos estarão unidos em uma alma coletiva, sentindo aquele vínculo e vivendo nele. Se pudéssemos ver o estado futurístico, corrigido, veríamos que não há diferença entre uma pessoa e outra. Tornando-se conhecido ao homem, aquele fato começa a ditar seu ponto de vista ao mundo.

A Cabalá afirma que não é necessário ferir as pessoas para faze-las “boas”, morais, mas devemos abrir seus olhos para como a realidade é construída. Então, naturalmente, elas irão querer sentir-se bem do íntimo de sua natureza egoísta, e por essa razão não prejudicarão uma à outra. A humanidade precisa chegar exatamente a esse estado.

Tudo neste mundo foi criado com um propósito. Não existem coincidências. Todo nosso planeta e o universo inteiro foram feitos de substância corpórea, mas em precisa conformidade com as forças espirituais superiores. Cada detalhe é feito de forças, e cada força espiritual possui um objeto corpóreo que corresponde a ela. É por isso que o homem estuda o espiritual, porque é a origem do mundo corpóreo. O homem começa a entender porque tudo é ordenado como é, porque neste mundo tudo resulta do mundo espiritual.

Além do mais, qualquer força espiritual está ligada a sua conseqüência em nosso mundo. É por isso que quando ascendemos para o mundo espiritual e corrigimos alguma coisa lá, alteramos imediatamente a conseqüência que provém daquela coisa, aqui neste mundo.

Por toda a história da humanidade, a providência compeliu o homem a estudar o mundo à sua volta. Os animais não precisam perceber o mundo, apenas o homem, que precisa perceber o mundo à sua volta simplesmente para existir. O homem precisa descobrir o mundo que o circunda para melhorar sua situação, para sustentar a crescente população, para a alimentar e vestir. O homem precisa evoluir, desenvolver a ciência para saber como tirar proveito da natureza para seu próprio benefício. Sem a ciência, a humanidade teria sido incapaz de sobreviver e permaneceria no nível de não mais do que uma tribo primitiva até hoje. O homem precisa atingir um tal estado no qual é mestre de seu próprio destino, e a natureza não permitirá a ele que permaneça em seu nível bestial. A natureza o obrigará a participar ativamente da liderança do mundo. Essa é a diferença essencial entre o nível de “homem” e aquele de um “animal”.

Diferente da ciência convencional, a Cabalá permite que o homem perceba ou compreenda as forças espirituais apenas de acordo com o nível de correção interna do homem. É por isso que não existe o perigo que a você seja permitido estudar  Cabalá  se  você  for  impróprio  para  isso,  incorreto,  ou  seja,  se  tiver intenções “impuras”. Diferente de outras ciências, na Cabalá ninguém pergunta se você é bom ou mau, ou com que propósito você “invadiu” essa área, como você usará o conhecimento que está para obter, mas o princípio guia é abrir a porta, deixar você entrar e ver por si mesmo. Não existem comissões de investigação na Cabalá para ver quão leal uma pessoa é ao Criador, mas a pessoa adquire a habilidade de interferir na providência de acordo com sua correção. Apenas com os atributos corrigidos Dele, a pessoa pode começar a fazer parte da providência e a se tornar envolvida nas ações desta.

É por isso que é impossível tirar proveito das forças superiores e prejudica- las. Isso contradiz a própria natureza, ou seja, não existe a possibilidade de causar qualquer dano, porque logo que você corrigir sua intenção para melhor, mesmo apenas um pouquinho, você poderá manipular a força superior precisamente naquela medida. É por isso que não existem proibições sobre estudar Cabalá. Ela jamais pode ser usada para infligir dano, e em toda a história humana não existe um só testemunho de um ato como esse.

Os líderes do mundo não são pessoas livres mas são como fios condutores das forças superiores. Eles não podem ser culpados pessoalmente por suas ações, porque de uma forma ou de outra agem conforme lhes é ditado de cima – eles também não são escolhidos por nós. O homem possui a habilidade de escolher apenas quando adentra a espiritualidade, mas antes disso ele é como o resto da humanidade, como um “rebanho de animais.”

SOBRE A ESTRUTURA DA CRIAÇÃO

Do livro “O Livro Aberto”

Para nós, isso ainda é um axioma. Apenas após a correção descobriremos e compreenderemos que existe uma força superior, um Criador, que doa para nós algo chamado de “luz”. Sentimos o Criador e a luz dentro de nós, o vaso espiritual. Algo preenche o vaso (o desejo por prazer, por deleite) – nós – justo  com o prazer que chamamos de luz. Uma combinação de sensações de prazer nos permite imaginar o que o Criador quer de nós. O Criador é a origem da luz.

A luz é o prazer, e o Criador é a origem. Esses são os três fatores da criação. A sensação do Criador é chamada de luz. Assim, a criação pode perceber, mas não compreender inteiramente a perfeição do Criador, porque entende-la no sentido completo da palavra, não como entendemos em nosso mundo (superficialmente, com a mente), significa unir-se espiritualmente, consumar o contato espiritual com o Criador. Entender a perfeição do Criador significa ser perfeito, estar no mesmo nível espiritual que Ele. Se a criação foi feita de tal maneira que recebe prazer em atingir a perfeição espiritual do Criador, conclui-se que a perfeição e a criação não são a mesma coisa. A perfeição é a luz que dá prazer à criação, enquanto que a criação é apenas o desejo de receber prazer.

Se o Criador representa a perfeição espiritual, e quer criar algo, então a criação precisa existir fora dos atributos do Criador, ou seja, incompleta. Isso significa que o único atributo da criação é a falta de perfeição. Mas, se o Criador é perfeito, como Ele pode criar algo que é imperfeito? Ou seja, da mesma afirmação de que o Criador é completo e perfeito se origina a conclusão de que Ele não pode criar nada. Pois, qualquer coisa que Ele criar tem de ser incompleta, e se Ele cria algo incompleto isto significa que Ele mesmo é incompleto. Afinal, é impossível que algo incompleto se origine de algo completo.

Então, afinal, como o Criador criou a criação? Ele criou-a de uma tal maneira que pudesse enfatizar a perfeição Dele. Se o Criador quer dar prazer a alguém, aquele alguém precisa ascender ao nível espiritual do Criador, com todos os atributos da perfeição. Como isso pode ser feito? Por um lado, você tem de criar alguém, e por outro lado, criar aquele alguém de tal maneira que não exceda os limites da perfeição. O que se tem de fazer é criar algo que contradiga sua própria existência. A única maneira de fazer isso é criar uma criação incompleta, conferir a ela uma aspiração espiritual de atingir o nível de perfeição do Criador por si mesma. Se pudéssemos nos referir à criação apenas como um desejo de receber prazer, naturalmente compreenderíamos que ela não é completa. Então perguntaríamos – como que o Criador pôde criar tal coisa? Mas se olharmos para a criação assumindo que ela foi feita assim, de propósito, para que a partir desse atributo oposto compreendesse o estado de perfeição espiritual, então as peças se encaixarão.

Para que cheguemos ao nível espiritual do Criador, através do desejo de receber prazer, temos de saber como usar nosso vaso da mesma maneira que o Criador usa Seus atributos. A criação possui apenas uma coisa: a aspiração por prazer, enquanto que o Criador possui apenas a aspiração de doar.

Em tal caso, é possível atingir o nível espiritual do Criador apenas se corrigirmos nossa natureza. Mas, é impossível inverter nossa natureza para aquela do Criador porque elas se contradizem fundamentalmente. A natureza do Criador é doar, e a natureza da criação, receber. Para que sejamos capazes de ascender ao Seu nível espiritual, precisamos corrigir nossa natureza, ou seja, usar o vaso para doar. Como isso é feito? Quando o Criador preenche o vaso com Sua luz, Ele gera prazer nele, e, junto com isso, induz o surgimento do atributo de doação. É isso que diferencia o homem do restante da criação (espiritual e física). No restante da natureza – inanimada, vegetativa e animal, e em pessoas também (apesar de não todas, é claro) – há apenas o desejo de receber prazeres corpóreos e nada mais. Se obtêm o que querem, chamam isso de prazer. Se obtêm menos do que querem, chamam de dor. Resumindo, um prazer maior ou menor determina a situação de cada um deles.

Mas, existem pessoas que começam sentir – junto com a sensação de prazer – uma sensação extra, aparentemente incompreensível. Elas começam a sentir que há uma força externa que as impulsiona e dirige. À primeira vista, elas não entendem o que essa força é e para onde as conduz, porém, finalmente ela se mostra como um desejo espiritual de doar. E quando aquele atributo começa  a agir o homem perde sua tranqüilidade. É como se ele tivesse abandonado o mundo e sentisse uma necessidade de encontrar algo mais. Ele começa a criticar sua natureza, a si mesmo, a avaliar suas ações e pensamentos através desta outra natureza. Ele descobre que não pode corrigir sua natureza preliminar, mas pode dirigir seu desejo por prazer a outras direções, ou seja, para receber novos atributos – os atributos do Criador – através de sua própria natureza.

A luz dentro dele o faz compreender que existem duas intenções: para mim mesmo e para o Criador; e ele pode trabalhar com ambas.

Como isso ocorre? Pelo fato da luz trazer não apenas prazer, mas conferir uma sensação do doador, uma sensação de que o homem também pode doar. É por isso que uma pessoa começa a sentir que, através de sua aspiração de receber, ela pode trabalhar de ambas maneiras. As pessoas que vivem, trabalham e negociam em nosso mundo não podem entender que, de fato, não estão dando nada a ninguém, apesar de pensarem que doam, recebem, trocam. De fato, elas apenas recebem. Elas apenas não vêem a natureza oposta, da qual a essência é pura doação.

O homem pode entender sua natureza egoísta apenas quando ele começa a sentir a natureza altruísta do Criador. Antes de uma pessoa perceber isso, ela não possui o direito de ser chamada de Ser Humano.

Enquanto estamos em nosso mundo, vivemos através de nossa natureza egoísta. Quando sairmos para o mundo espiritual, entenderemos o que é o egoísmo espiritual, chamado de “casca”. Em nosso mundo, essa casca sequer existe, porque nosso egoísmo está num nível subconsciente. Assim fomos criados e assim vivemos. Quando o indivíduo começa a sentir o Criador, ele recebe a luz espiritual e começa a entender a natureza do Criador, e quão oposta ao homem ela é. Aqui já existe um dilema e liberdade de escolha. Se ele escolhe continuar a trabalhar como antes, isto é, recebendo prazer (agora ele está ciente de que recebe prazer), chamamos isso de receber “não para o nome Dela.” (Essa opção não  existia no passado, ele apenas recebia prazer. Agora que existem duas opções diante dele e ele escolhe receber, isto é considerado uma casca, uma força maligna, contra o Criador, porque ele possui uma segunda natureza, também). E daí o homem começa a realmente receber para si mesmo. Mas se ele escolhe usar sua intenção para se assemelhar ao Criador, isto é chamado de receber “para o nome Dela”, ou seja, usar seu desejo preliminar por prazer numa direção oposta. Assim, o homem utiliza completamente o atributo de doação do Criador, através de seu desejo natural por prazer.

Assim, vemos que para utilizarmos nossa aspiração natural por prazer de maneira correta precisamos primeiro adotar o atributo do Criador, e então seremos capazes de fazermos uma escolha entre doar e receber, ou seja, entre a força boa e a força má. Nós podemos, num certo grau, fazer essa escolha agora mesmo. Mas, até que recebamos o atributo do Criador, estamos dentro da estrutura do egoísmo corpóreo, que nem é considerado egoísmo, porque ainda  não possui o atributo que o contradiz.

Não que isto seja um atributo positivo ou negativo. É simplesmente nossa natureza. Não pode ser avaliado como um atributo positivo ou negativo. O Rabino Ashlag dizia que este mundo é como uma escola dos tempos antigos. Naquele tempo o papel era muito caro, então davam às crianças um quadro e um pedaço  de giz para escrever até que aprendessem a escrever apropriadamente. E, antes de alguém aprender como escrever, ou seja, como se comportar, permanece sob condições restritivas, para que não possa causar dano algum. Se você comete um erro, ele pode sempre ser apagado e o quadro permanece limpo. Então nós, em nosso mundo, podemos fazer o que quisermos. Isto não será considerado como um pecado ou uma mitzvah (N.T.: preceito, mandamento), com relação ao mundo espiritual. Tudo que fazemos neste mundo (falando do ponto de vista da Cabalá, da evolução espiritual individual do homem) não pode sequer ser considerado em um nível espiritual. Está tudo abaixo do nível do mundo espiritual. Apenas quando uma pessoa começa a receber algo além do prazer físico, diferente à sua própria natureza, ou começa a sentir a ausência do atributo de doação, quando ela começa a entender que há algo mais, que é oposto à sua natureza, podemos começar a falar sobre dualismo, liberdade de escolha, sobre a habilidade de direcionar a natureza bestial egoísta na direção da natureza altruísta, sobre preferir uma coisa no lugar de outra coisa. Antes desse momento, a pessoa não é responsabilizada por qualquer coisa que faça, nada pode ser exigido dela, porque, de fato, ela não possui liberdade de escolha. Pecadores, justos, pecados e ações espirituais, todos esses começam apenas em um determinado nível espiritual. Nosso mundo é apenas um lugar de preparação através do qual adentra-se o mundo espiritual.

Como é possível adentrar o mundo espiritual? E faze-lo não após a morte, mas enquanto vivemos aqui? Começar a sentir o atributo do Criador, corrigir e dirigir os desejos atuais, nossos desejos naturais – isso é chamado: adentrar o mundo espiritual. O mundo espiritual significa a adoção dos atributos do Criador. De fato, é tudo bastante simples e não como imaginamos em fantasias infundadas. A recepção do atributo da percepção do Criador é chamada de mundo espiritual, ou de mundo superior, e é só isso! Quando começamos a sentir os atributos do Criador, significa que adentramos o mundo superior. O mundo físico não muda, ele permanece como era. Mas o homem sente forças adicionais dentro de si, porque agora recebeu uma segunda natureza.

Qual é a maneira mais rápida de atingirmos essa segunda natureza, de terminarmos essa “aula”, de aprendermos como escrever sem erros e adentrarmos o mundo espiritual? O que significa aprender como escrever sem erros? O Rabino Ashlag escreve que, a princípio, aqueles que estão prontos para isso são apenas aqueles que têm os sentimentos e intenções corretos, que já obtiveram a percepção do Criador e estão prontos para realizar ações espirituais, enquanto ainda agem neste mundo. Estas pessoas começam a entender que precisam descobrir o mundo espiritual, mas não através de especulações, previsões do futuro, análises do passado, etc., ou seja, coisas que pertencem ao nosso mundo físico. Isto não as interessa mais. O passado e o futuro do corpo físico são irrelevantes para elas. Elas começam a pensar sobre e a analisar algo superior a isso. Não sobre alienígenas de um outro planeta, nem sobre o destino, nada que se refira a este mundo, ao nosso corpo. Se elas obtém um estímulo além de todos esses desejos, isso significa que o Criador está chamando-as. Ele quer dota-las com a sensação de Seus atributos, para que possam usar seus desejos apropriadamente. Então, elas chegam a um nível espiritual que as habilita sair das sensações físicas de nosso mundo, dos desejos egoístas para as sensações do desejo do Criador, a aspiração espiritual de doar. Através do estudo da Cabalá em um grupo, com um professor e com os livros certos, é possível alcançar tais sensações.

Como isso pode ser feito? Já dissemos que, se uma pessoa já recebeu a luz do Criador em seu vaso, o Criador transmite Seus atributos com a luz (para os que não merecem, Ele apenas dá um espírito de vida que não inclui Sua luz espiritual).

Como que eu faço para o Criador passar seus atributos para mim? Digamos que eu tenha uma certa aspiração preliminar. Como que eu faço para o Criador transmitir Seus atributos para mim? Existem livros especiais para isso. Se os lermos, estendemos sobre nós mesmos a luz e assim recebemos determinadas sensações (algumas negativas, algumas positivas), apesar de neste meio tempo  não podermos sentir essa luz. O Criador começa a transmitir gradualmente para nós pequenas quantidades de sensações da revelação e da compreensão de Sua intenção, do que o desejo espiritual de doar realmente se trata.

Por que Ele faz isso se escondendo e não de maneira aberta? Bem, se isso estivesse escondido de todos os outros, e apenas nós, os escolhidos, fossemos dignos daquela revelação, nós também manteríamos isso como segredo. E por que temos de esconder isso, por que está escondido de nós? Para que desejássemos aquele atributo de maneira genuína.

É um pouco difícil explicar. Sinto que há um probleminha aqui. A questão é que transmitir os atributos para nós significa revela-los para nós. Se o Criador se revelasse para nós, receberíamos um prazer tão imenso que não seríamos capazes de nos concentrar em mais nada. Para prevenir distrações com este imenso prazer, e mesmo assim transmitir Seus atributos para nós – é por essa razão que o Criador esconde esses atributos e o prazer, e nos transmite eles de maneira secreta, para que não sintamos o prazer. Podemos apenas sentir o resultado.

Gradualmente, com o passar de vários meses de estudo da sabedoria da Cabalá começamos a sentir um desejo maior pela espiritualidade e a obter um entendimento melhor dela. Isso acontece bem devagar porque nossa natureza é feita de um número ilimitado de subsistemas, e precisamos ter todos eles corrigidos. Eles têm de adotar atributos que correspondem aos atributos que recebemos em nosso subconsciente, atributos que nunca sentiremos, que são na verdade atributos do segundo e terceiro nível. Todos esses subsistemas têm de tomar parte nesse processo de correção, e esse é o porquê desse processo durar tanto tempo. O tempo de correção na verdade depende do investimento, da quantidade de esforços que o homem faz. Sua habilidade de se aprofundar depende de si mesmo. O Criador apenas dá o desejo preliminar, mas dali em diante depende dos esforços do homem. Seria mais correto dizer que depende não apenas dos esforços do homem, mas de seu meio, aquele no qual ele se encontra para avançar rumo à espiritualidade.

No ensaio “A Liberdade”, Baal HaSulam escreve que a única maneira de implementarmos nossa liberdade de escolha é escolhendo e encontrando a sociedade correta, isso ajudará a pessoa a atingir o propósito da criação. O único fator que o homem pode alterar por si mesmo, e assim influenciar seu desenvolvimento espiritual, e de fato o mundo todo, é encontrar o ambiente que irá influencia-lo. Não há nada além disso. Todos os processos e todos os caminhos são predeterminados. O caminho para o Criador e os níveis espirituais pelos quais é preciso passar estão determinados. Você não pode mudar nada aqui, ou influenciar isso de maneira alguma. Após cada passo existe o próximo passo, e então o próximo passo, porque isso depende da estrutura interna da alma, que precisa se desenvolver. Essa estrutura é predeterminada e a única coisa que o homem pode escolher é a opção correta de ambiente: o homem está sob a influência da sociedade e a sociedade pode corrigi-lo.

Como que a sociedade pode mudar uma pessoa se nada pode ser mudado? Se os parâmetros preliminares e finais estão predeterminados, neste caso o que ainda pode ser mudado? Baal HaSulam responde que apenas a velocidade do progresso pode ser alterada. Esse é um parâmetro de grande valor. Por quê? Apenas pense em estar avançando de um nível para o próximo em um segundo, ou em um milhão de horas. Suponhamos que você tenha uma dor de dente por  um milhão de horas, ou por um segundo. Nesse um segundo você realmente não sentirá nada. Mas se ela for prolongada por um milhão de horas, imagine só a dor! Este é um assunto sério. A pessoa pode acelerar seu progresso precisamente nessa proporção, se não, numa maior. Desta maneira, ela diminui as situações desagradáveis qualitativamente. Elas não podem ser evitadas porque também são predefinidas. Todos devem passar por elas. Mas podemos apressar a passagem e desta maneira sentir muito menos dor, ou até dor nenhuma. A livre escolha da sociedade, do ambiente do homem, pode afetar o avanço espiritual do homem.

Mas aqui devemos perguntar: estamos falando de que tipo de escolha? Escolhemos entre o caminho mais e o menos agradável? Nossa escolha está na dimensão egoísta? A questão é que escolhemos este caminho não porque ele nos faz sentirmo-nos bem. Escolher este caminho baseado em meus desejos egoístas não necessariamente indica progresso rápido. Avançar rápido é avançar com o poder do Criador, através de Seu atributo de doação.

Todos os mundos que o Criador criou inicialmente são apenas um desejo de receber prazer. Quando uma luz, mesmo muito fraca, penetra aquele desejo, ela adiciona outras nove intenções que pertencem ao Criador. O homem tem apenas um desejo – receber prazer. Os outros nove desejos evoluem sob a influência da  luz dentro do homem. O homem é afetado pelas operações do Criador e recebe a combinação dos atributos do Criador – seus dez desejos. A pessoa precisa saber como implementar todos eles, tanto seu desejo natural por prazer  como também os desejos que ela adotou do Criador. Como pode implementa-los, para que se torne como o Criador? Como isso pode ser feito? Ela pode fazer isso se corrigir seu desejo natural por prazer – sua décima sefirah, chamada Malchut – e transforma-lo para se assemelhar às nove sefirot anteriores – os atributos do Criador. Ou seja, ela toma aquela Malchut e tenta doar usando a intenção “para o Seu nome.” Então ela toma aquela Malchut e tenta fazer com que se assemelhe à sefirah de Hochma, e assim por diante. Existem nove atributos de doação do Criador, nove possibilidades. Usando vários tipos de desejos, a pessoa tenta cada vez se assemelhar a um determinado atributo do Criador, e dessa maneira adota todas as nove sefirot superiores, todos os atributos do Criador.

A parte de Malchut que não pode se assemelhar a nenhuma das nove sefirot, ou seja, não pode receber com a intenção “para o nome Dela”, é chamada de coração de pedra, e a pessoa não pode trabalhar com essa parte. A pessoa simplesmente isola estes atributos (desejos) e diz: “Não vou trabalhar com estes desejos!” Ela pode trabalhar em completa similaridade com o Criador em todos os outros desejos. Uma vez que a pessoa tenha corrigido suas nove intenções dentro de Malchut, permanece lá apenas a décima parte, que não pode ser corrigida, porque os atributos do Criador não a afetam. Essa parte não pode entender ou sentir a luz do Criador. Ela apenas sente o prazer, e não a origem, os atributos. Essa situação é chamada de “o fim da correção.” Significa que a pessoa corrigiu completamente suas intenções e atributos.

Essa parte da intenção, que ela não pôde corrigir e que por essa razão separou-se completamente da mesma e não fez uso dela durante a correção, é o desejo mais poderoso, mais natural.

Ao completar a correção de suas intenções, vem uma luz especial de cima que pode corrigir o “coração de pedra” para fazer com que se assemelhe ao Criador. É impossível imaginar como isso acontece. Apenas acontece que vem de cima uma luz tão poderosa que mesmo aquele desejo recebe a intenção “para o nome Dela”. Deste modo, todos os atributos do homem, todas suas possibilidades de se assemelhar ao Criador são realizadas, e ele se torna igual ao Criador. Mas, o que ele ganha com isso?

No princípio, logo quando foi criado, ele foi preenchido com a luz do Criador, mas não podia sentir os atributos do Criador. Foi criado e recebia prazer como resultado do desejo de doar do Criador. Agora, ele retorna àquele estado – isto é, recebe tudo que o Criador quer doar. Isso porque o Criador quer, e não ele mesmo, ou seja, essa estatura espiritual foi atingida também graças ao Criador. Além disso, por ter recebido os atributos do Criador e se tornado como Ele, ele transcende o nível espiritual de criação, o nível inicial em que nasceu, e atinge um nível superior: o do Criador. É por isso que ele pode obter a vida eterna, a perfeição e a compreensão absoluta – tudo que não podia obter enquanto permanecia dentro dos limites de sua própria natureza. Ele recebia os atributos do Criador, mas não se tornava como Ele. O Criador permite ao homem ascender do nível espiritual de criação ao nível espiritual do Criador, conferindo ao homem Seus atributos e dando prazer a ele.

Vemos que todo este processo é predefinido pelo Criador. Isso significa que Ele não criou algo inferior a Ele e que o caminho pelo qual o homem precisa  passar é necessário para sua autodescoberta, para a recepção daquela sensação, porque de outra maneira ele não seria capaz de entender o nível espiritual do Criador. É por isso que ele inicia o caminho espiritual de uma situação oposta àquela do Criador. Esse caminho é necessário para que passemos por todos os níveis espirituais existentes, em todas suas situações, do começo ao fim da criação, de um estado completamente imperfeito à completa perfeição, para que ao chegarmos no nível da perfeição do Criador saibamos como apreciar e entender o prazer que vem junto com o nível espiritual do Criador.

O caminho espiritual até o fim da correção é pavimentado com experiências e sensações negativas, a despeito de como olhamos para ele. Então onde está a diferença entre o caminho da Torah e o caminho da dor? O caminho da Torah é diferente não apenas na quantidade e na intensidade da dor. A questão é que quando a pessoa toma o caminho da Torah, ou seja, quando estuda a sabedoria da Cabalá e estende sobre si mesma a luz, ela entende que deve se referir à sua dor física como falta de habilidade de doar ao Criador. Ou seja, a dor é transformada de tormentos físicos para espirituais, isto é, dores de amor pelo Criador. É por isso que a pessoa não tem de passar por um ciclo sem fim de dores físicas para finalmente torna-las em dor espiritual. Ela estende sobre si mesma a luz do Criador com a ajuda dos livros certos, e começa a sentir exatamente o que é que  lhe falta. Ela imediatamente chega ao tipo correto de tormento – tormento pela falta de espiritualidade. Portanto, ela é poupada de horríveis tormentos físicos.

Se uma pessoa tem o atributo de Malchut, o desejo de receber prazer, a luz a afeta de tal maneira que ela começa a receber as nove sefirot adicionais que são completamente separadas de Malchut. De fato, isto é mais uma questão psicológica, que pode ser claramente detectada em nosso mundo. Ao receber prazer de um determinado indivíduo, você gradualmente começa a querer ser como ele, você deseja adotar aquele atributo. Tudo isso porque o prazer e a adoção de um determinado atributo são a mesmíssima coisa.

O Criador mostra Suas dez sefirot ao homem; Ele mostra a ele exatamente como pode se deleitar no Criador. O homem sente não só o prazer, mas também sua origem, as nove sefirot do Criador. Eu vejo o anfitrião que prepara a refeição para mim, que me dá prazer, e também vejo porque Ele faz aquilo, reconheço Seu atributo. Desta maneira ele recebe, além do atributo original do deleite, Malchut, outros nove atributos por prazer. Agora ele aspira pelo Criador, aspira receber prazer através de todos estes atributos, o que significa que o prazer que ele quer agora é diferente. Mas, como é diferente? Onde está a diferença? Cada atributo traz com ele um tipo diferente de prazer: prazer da comida, de um filho, de uma caminhada no parque ou do descanso. Todos tipos de prazer. Não podemos encontrar algo completamente igual no mundo, porque, além do mais, são diferentes embalagens do mesmo prazer, apenas diferentes tipos de prazer. Mas no mundo espiritual existem diferenças evidentes. Isso significa que começo a entender que é possível receber prazer de várias maneiras, ou seja, Malchut divide- se em dez sefirot adicionais e sente que existem dez sefirot adicionais diante dela.

Como que Malchut, que recebe prazer das primeiras nove sefirot, começa a aspirar por se assemelhar a elas? O prazer vem antes de tudo mais. É a prioridade número um do vaso. Portanto, um vaso que ascende a um nível espiritual superior e recebe prazer, quer receber também todos os seus atributos. Então, por exemplo, se você estiver próximo de alguém que você admirou sua vida toda, você irá (gostando ou não) adotar seu comportamento característico, se tornar como ele. Por quê? Porque ele é mais importante que você. Você depende dele, sente prazer em estar próximo dele. Você quer receber, adotar todos seus atributos. Então você automaticamente se torna como ele.

Então, isto é possível afinal? É possível nas primeiras nove sefirot de Malchut, as nove sefirot que ela percebe. Mas a décima sefirah, Malchut em si, permanece inalterada. Naquela décima parte não existe a percepção de um Criador, um doador. Há apenas uma simples sensação de prazer. Ela tem de ser desligada e preservada. Não é usada até o fim da correção. Essa décima parte é “o coração d pedra”, a essência do homem. É o atributo natural do homem – o desejo ardente por prazer. Todas as outras parte não são egoístas assim. Elas são influenciadas pelo atributo do Criador e se tornam como Ele. E aquele atributo do homem, o anseio por prazer, é a última sefirah. Então, de fato, o homem não  corrige seu próprio “eu”, sua própria essência. Ele corrige onde o Criador deu a  ele a chance de ser vencido, assim por dizer, de se tornar como Ele. Apenas nessa área algo pode ser feito.

A pessoa não pode fazer nada com sua própria natureza, que o Criador criou sendo existência da ausência (ou seja, que existe na criatura, mas não no Criador). A despeito disso, ela quer fazer algo com sua natureza. Como podemos ver que ela faz? Porque ela continua a trabalhar com todas as outras intenções que foram dadas a ela pelo Criador. Está disposta a fazer qualquer coisa, e é por isso que o Criador muda sua natureza. É como um jogo: “Eu irei te corrigir se você provar que realmente quer ser mudada”. O Criador dá ao homem a natureza das primeiras nove sefirot, a pessoa recebe-as e então o Criador muda sua natureza básica, que é a décima sefirah.

O princípio da conexão entre as primeiras nove sefirot do Criador e Malchut é ensinado logo quando a pessoa começa a estudar Cabalá. A conexão começa antes da primeira restrição. Mas, quando a pessoa começa a adquirir estes atributos em nosso mundo, a história é diferente, porque a alma da pessoa em nosso mundo já contém tudo. O mundo de Ein Sof e todos os níveis espirituais para se chegar lá já estão nela. Ela também inclui reshimot (lembranças) dos níveis espirituais, do mundo de Ein Sof até nosso mundo. Tudo isso faz parte da alma de cada um de nós, como um gene espiritual, um DNA.

Então, como o caminho se revela? A luz brilha sobre nós de cima, e ilumina o reshimo do nível espiritual à minha frente, e começo a aspirar por ascender a ele. Então a luz brilha sobre o próximo nível, e começo querer ascender ao próximo nível. O Criador doa a mim Seus atributos gradualmente, por fora, por dentro, por toda parte. Todos os níveis espirituais estão em nós, em um estado embrionário. A luz que brilha de cima nos faz querer subir de um nível espiritual para o próximo.

Uma questão paralela: “Pois não há sobre a terra alguém tão correto que só faça o bem e não peque jamais.” (Eclesiastes 7:20)

Existem vários versículos assim. A questão é que o caminho do justo é uma ascensão pelos níveis do mundo espiritual, e em cada um desses níveis a pessoa acumula egoísmo adicional, corrige-o e transforma-o em altruísmo e  assim justifica o Criador. É por isso que a pessoa é chamada de justo, porque ela sente que o Criador é correto (justo).

Nenhum nível é composto apenas da parte positiva.

No processo de correção a pessoa precisa estar na parte negativa, nos desejos maus, nas cascas, no egoísmo. Quando está imersa no egoísmo é chamada de pecadora, ela comete pecados. Depois, quando se torna uma pessoa justa através da correção, é capaz de fazer o bem. Toda pessoa pecará o mesmo número de vezes que se tornará justa. E é assim em cada nível espiritual. Se ela não pecar, não terá nada para corrigir pelo qual se tornará justa. É assim que acontece. Como você pode perceber, estes termos são completamente diferentes dos usados em nosso mundo. A sabedoria da Cabalá trata de processos internos à alma, dentro de cada um de nós. Todos têm uma pessoa pecadora e uma justa dentro de si, que alternam em turnos. Cada nível espiritual é composto dessa combinação. Portanto, aquele que ascende mais alto cai mais fundo, e seus pecados são piores. Mas,  então ele ascende mais alto ainda. Não há medo de pecados na Cabalá, porque é algo pelo qual a pessoa tem de passar em todos os níveis, antes de ser corrigida. É como é dito: “Pois não há sobre a terra alguém tão correto que só faça o bem e não peque jamais.” O pecado precisa vir antes da correção.

O que significa pecar? É uma fascinação completa pelo meu egoísmo, uma total identificação com ele, a ponto de apenas sentir meu próprio egoísmo, e de dentro dessa situação condenar o Criador conscientemente, e depois transcendo essa situação. Mas ainda permanece uma lembrança clara daquela situação; neste momento a pessoa começa a corrigir seus atributos, suas intenções, para o lado positivo, de outra maneira não pode haver correção. Apenas aquele que tem algo que precisa de correção pode ser corrigido.

As pessoas em nosso mundo têm uma concepção diferente dos termos justo e pecador, pois o Criador não pretende que elas façam um trabalho mais sério, porque elas não podem passar por uma correção completa.