Capítulo 10: A Era da Livre Escolha
Do livro “Interesse Próprio vs. Altruísmo na Era Global”
No capítulo 6, dissemos que, ao contrário de todos os outros elementos na Natureza, os seres humanos têm o poder de mudar o meio ambiente. Isso nos dá algo que nenhuma outra criatura possui: a liberdade de escolha. Em outras palavras, os seres humanos podem escolher se assemelhar ao Criador, dando e adquirindo o poder e o conhecimento que vêm com ele ao adotar a lei de ceder ao próprio interesse ante ao interesse do meio ambiente, ou podem permanecer como nasceram ─ auto-centrados, com compreensão limitada da Natureza e pagando o preço por seus caminhos errantes ao longo da história. Para escolher ser como o Criador, que, como dissemos no Capítulo 1, é sinônimo de Natureza, as pessoas devem, porém, saber o que o termo “Criador” significa e como elas podem se tornar como Ele.
Também dissemos (capítulo 3) que toda a realidade consiste de uma entidade única, quebrada, chamada de “a alma quebrada de Adão” ou “a alma quebrada”, e o termo “alma” refere-se a um desejo de receber com a intenção de doar. Quando os Cabalistas dizem que algo está quebrado, eles não estão se referindo a qualquer quebra física, mas à ruptura das ligações entre todas as partes da alma, o desejo coletivo que constitui a nossa realidade. Essa ruptura ocorre quando as peças na alma começam a operar no seu próprio interesse e não no interesse do sistema. É como se as células em um organismo começassem a operar por si mesmas, causando a morte e a desintegração do organismo.
Ao contrário dos organismos, a alma, no entanto, não pode se desintegrar, por ela ser um desejo único. Assim, enquanto as ligações estão lá, podemos desfrutar dos benefícios da conexão. As células saudáveis beneficiam umas às outras em um organismo, apoiando mutuamente suas existências, mas as células cancerosas competem umas com as outras por sangue e alimento, prejudicando-se, assim, constantemente, umas às outras. No caso da humanidade, nem sequer somos conscientes de que estamos conectados, o que nos impede de tentar nos conectar da maneira correta.
Independentemente, porém, de nossa consciência, somos muito ligados. No dia 10 de setembro de 2009, O New York Times publicou uma reportagem intitulada “Seus Amigos o Tornam mais Gordo?”, por Clive Thompson. Na sua história, Thompson descreve uma experiência fascinante realizada em Framingham, Massachusetts. No experimento, certos detalhes da vida de cerca de 15000 pessoas foram documentados e registrados periodicamente ao longo de mais de 50 anos. Isso permitiu aos pesquisadores, Dr. Nicholas Christakis, médico e sociólogo de Harvard, e James Fowler, na época um estudante diplomado em Ciência Política, por Harvard, criar um mapa de interconexões e examinar o impacto a longo prazo que as pessoas causavam umas às outras.
Christakis e Fowler constataram que havia uma rede de inter-relações entre mais de 5000 dos participantes. Christakis e Fowler descobriram que, na rede, as pessoas se afetavam entre si e eram afetadas umas pelas outras. Esses efeitos pareciam funcionar não apenas em questões sociais, mas, surpreendentemente, com problemas físicos também.
“Ao analisar os dados de Framingham”, Thompson escreveu, “Christakis e Fowler dizem ter, pela primeira vez, encontrado uma base sólida para uma teoria potencialmente poderosa em epidemiologia: que os bons comportamentos ─ como parar de fumar ou se manter esbelto ou ser feliz ─ passam de amigo para amigo quase como se fossem vírus contagiosos. Os participantes de Framingham, os dados sugeriam, influenciavam a saúde uns dos outros apenas por socializarem. E o mesmo era verdadeiro quando se tratava de maus comportamentos ─ grupos de amigos pareciam “contagiar” uns aos outros com a obesidade, a infelicidade e o tabagismo. Permanecer saudável, ao que parece, não é apenas uma questão de seus genes e sua dieta. Boa saúde é também um produto, em parte, de sua proximidade com outras pessoas saudáveis.”
Ainda mais surpreendente foi a descoberta dos pesquisadores de que essas infecções poderiam saltar por sobre as conexões. Eles explicaram que as pessoas podiam afetar umas às outras até mesmo sem se conhecerem. Além disso, Christakis e Fowler encontraram evidências desses efeitos até mesmo com três graus de separação (amigo de um amigo de um amigo). Nas palavras de Thompson, “Quando um residente de Framingham se tornava obeso, provavelmente 57% de seus amigos ou amigas estariam propensos a se tornarem obesos também. Ainda mais surpreendente… até parecia que as conexões eram ignoradas. Um residente de Framingham era cerca de 20% mais propenso a se tornar obeso se o amigo de um amigo fosse obeso ─ mesmo se o amigo que os conectava não houvesse engordado uma única libra. De fato, o risco de uma pessoa ser obesa subia cerca de 10%, mesmo se um amigo de um amigo de um amigo ganhasse peso.”
Como Christakis e Fowler descreveram em Connected: O Poder Surpreendente das Nossas Redes Sociais e como Elas Moldam as Nossas Vidas, o seu (então a ser publicado e agora comemorado) livro sobre suas descobertas: “Você não pode conhecê- lo pessoalmente, mas o marido da amiga de sua colega de trabalho pode torná-lo gordo. E o amigo do namorado de sua irmã pode torná-lo magro.”
Citando Christakis, Thompson escreveu: “Em certo sentido, podemos começar a entender as emoções humanas, como a felicidade, da mesma maneira que podemos estudar o debandar de um búfalo. Você não pode perguntar a um único búfalo ‘Por que você está correndo para a esquerda?’ A resposta é que o bando todo está correndo para a esquerda.”
Da mesma forma, em seu ensaio “A Liberdade”, Baal HaSulam escreveu “Aquele que se esforça continuamente para escolher um melhor ambiente é digno de louvor e recompensa. Mas aqui, também, não é por causa de seus bons pensamentos e ações, que vêm até ele sem sua escolha, mas por causa de seu esforço em adquirir um bom ambiente, que lhe traz esses bons pensamentos e ações.”
Assim, enquanto as ligações existirem, como o estudo acima demonstra, o nosso egocentrismo nos impedirá de sermos conscientes delas. “O achado estranho de Christakis e Fowler”, escreveu Thompson, “é a ideia de que um comportamento pode ignorar ligações, se espalhando de um amigo a um amigo, sem afetar a pessoa que os conecta. Se as pessoas no meio de uma cadeia estão de alguma forma passando por um contágio social, não faz sentido, em face disso, que elas não sejam afetadas também. Os dois pesquisadores dizem que eles não sabem ao certo como funciona a conexão de saltos “.
De fato, agimos como se não estivéssemos conectados, quando na realidade estamos e muito. Hoje, a nossa interconexão tornou-se uma interdependência e, portanto, o abismo entre a realidade e a nossa incessante negação representa uma ameaça real. Essa é a verdadeira causa da crise mundial que estamos vivendo.
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