Lutando pelo Equilíbrio

Do livro “Cabala, Ciência e o Sentido da Vida”

Quando crianças, muitos de nós acreditavam que o mundo estava repleto de todos os tipos de forças, tais como fantasmas nos contos de fadas. À medida que nós crescemos, nós gradualmente abandonamos essa crença, mas de vez em quando ainda sentimos o quão forte essas forças realmente existem.

Na verdade, nós estamos buscando por elas a todo o momento. Nós queremos saber sobre o mundo em que vivemos, porque se não o fizermos, nós nunca seremos libertados dessa sensação de incerteza, para vivermos em paz e confiança. Nós sentimos curiosidade em entender o mundo em que vivemos para melhorarmos nossa condição de vida. Esta curiosidade evoca  questões como: “Quem sou eu?”, “Onde estou?”, “O que será de mim?”. Tais questões nos estimulam a buscar conhecer a realidade em que vivemos.

A realidade é dividida em duas partes: o ser humano e seu ambiente. Alguns dizem que nós só devemos estudar e mudar a nós mesmos, afirmando que fazendo assim, nós nos sentiremos tranqüilos e atentos ao mundo mais positivamente. Outros, entretanto, dizem que nós devemos permanecer como somos, tirar o máximo proveito do que o mundo nos dá, e mudar o mundo para que se ele se ajuste às nossas necessidades. De qualquer maneira, isso não significa que nossas vidas estão indo muito bem.

O melhor estado no qual nós podemos nos entender com o mundo é através do equilíbrio.  Se  todos me entendessem e quisessem exatamente o que eu quero, este seria o estado de equilíbrio. Não existe estado mais perfeito que o sentimento de estar em equilíbrio com o mundo. Isto só pode ser comparado ao estado de feto dentro do útero da minha mãe: tudo existe somente para cuidar de mim; não há necessidade de se erguer quaisquer defesas.

A ciência se refere a esse estado como “homeostase”. A palavra grega homo” significa mesmo  ou similar, e stasis” significa condição. Este é o estado de existência que qualquer objeto na realidade busca alcançar.

As leis da física, química e biologia explicam que a única razão para qualquer movimento da matéria, seja ela inanimada, vegetativa, animada ou falante, está em seu desejo de estar em equilíbrio com seu ambiente. Para nós, como seres humanos, estarmos em equilíbrio com nosso ambiente, nós precisamos conhecer a natureza do mundo à nossa volta e como podemos nos igualar a ela.

Somente então nós saberemos como alcançar o estado onde todos desejarão aquilo que nós queremos, terão os mesmos pensamentos e não guardarão nenhum rancor contra os outros. Assim, todos revelariam a paz e o amor. Este é o objetivo pelo qual a Cabala existe; ela nos ensina como obter a paz entre toda a humanidade, e entre a humanidade e a natureza.

Todas as nossas investigações do mundo e de nós mesmos são realizadas pela ciência. Lamentavelmente, o progresso da ciência e da tecnologia não nos tem feito mais felizes. Graças a todos os esforços para se alcançar um estado de tranqüilidade, plenitude e felicidade, a nossa realidade está se tornando mais dura e ameaçadora a cada dia que passa.

Mas se todos nós estamos nos esforçando pelo melhor, por existem problemas? Os problemas existem porque nós não conhecemos toda a realidade, como ele se comporta, sua estrutura ou como ela age sobre nós. Nós não sabemos o que precisamos igualar.

Parece que quanto mais nós investigamos a matéria, quanto mais tentamos entender nossa própria natureza e a natureza do mundo exterior, mais falhamos em enxergar o que a natureza quer de nós, por que ela existe, e qual o propósito de cada elemento na natureza.

Alguns pesquisadores investigam a camada externa da matéria; outros pesquisam a fundo sua estrutura, até o nível molecular e os relacionamentos entre os átomos e as partículas subatômicas. Os mais avançados pesquisadores afirmam que, em certo nível, a matéria se torna evasiva. Desse ponto em diante eles não entendem o que acontece. Entretanto, a razão pela qual eles falham em entender a existência abaixo do nível subatômico não está na falta de ferramentas de pesquisa mais sofisticadas, mas na incapacidade do ser humano de perceber a realidade de forma geral.

Enquanto nós contamos apenas com os nossos cinco sentidos, nós sentimos que podemos fazer com a realidade o que queremos. Ao entrarmos no mundo espiritual, entretanto, nós percebemos que, de fato, é a realidade que faz conosco aquilo que ela quer. De certo nível da espiritualidade em diante nós entendemos que somos nós que estamos construindo nossa própria realidade. Em outras palavras, nós reconhecemos que a realidade é uma espécie de projeção de nós mesmos.

Este último nível é o que os pesquisadores contemporâneos descrevem. Eles afirmam que existe certo limite além do qual nós não podemos perceber. Este ponto entre o mundo físico e perceptível e o que se estende além da nossa percepção é o ponto de encontro entre a ciência e a Cabala.

A Cabala explica que existe um estilo de pesquisa que nos permite penetrar no “nível das causas”. Ao usá-lo, a pessoa pode entender com certeza o motivo no qual o mundo existe, o que ele quer de nós, e como nós podemos existir em equilíbrio com ele, um equilíbrio que nós experimentaremos como paz e tranqüilidade. Aqueles que já pesquisaram esse reino são chamados “Cabalistas” e seus escritos descrevem o resultado de suas pesquisas.

Os Cabalistas dizem que além da matéria visível encontra-se o desejo e a deliberação da Natureza, que envolve toda a realidade. Esse desejo e deliberação circundam a realidade, protegem-na, e a operam para poder beneficiarem-se dela. Além disso, esse desejo e deliberação constituem a lei geral da realidade. Em outras palavras, a lei geral da realidade é a doação absoluta, e toda a matéria na realidade precisa igualar-se a ela.

A sabedoria da Cabala nos ajuda a perceber e a sentir a verdadeira atitude da Natureza em relação a nós. Dessa forma, nós podemos tratar a Natureza com a mesma atitude e, assim, nos igualarmos a ela.

Os níveis de revelação da verdadeira realidade são chamados “mundos”. Assim como os cientistas examinam a estrutura dos materiais com microscópios, ou investigam as profundezas do espaço com telescópios, os Cabalistas também penetram no pensamento que envolve a realidade usando a sabedoria da Cabala.

O nosso progresso na pesquisa da realidade é uma verdadeira aventura. Nós podemos começar a sentir o nosso passado e o futuro, e descobrir que o tempo na verdade não existe; que, de fato, tudo já existe. Um Cabalista pode viajar no tempo, tal como o percebemos agora, e progredir ou regredir além do estado atual.

As pessoas que são capazes de tais “saltos no tempo” são chamadas “profetas”. Elas não prevêem ou imaginam o futuro, mas simplesmente se deslocam vários níveis à frente, em direção a um  nível específico da realidade que o resto da humanidade um dia alcançará. Elas nos falam “de lá” e nos dizem o que sentem em suas “épocas presentes”. Elas poderiam com a mesma facilidade serem grandes historiadores, regredindo a estados que a humanidade uma vez experimentou, revivê-los, e nos falar sobre eles.

Muitas vezes, nós podemos encontrar escritos Cabalísticos que descrevem eventos antes do seu próprio tempo, tal com Abraão vagando de um lugar ao outro, encontrando pessoas, aprendendo o que elas diziam e o que faziam. Para saber tudo isso, o pesquisador Cabalístico precisa voltar no tempo para alcançar o mesmo estado que Abraão alcançou, isto é, um nível específico, e nos dizer sobre aquela realidade estando totalmente presente nela. Um Cabalista pode colher impressões daquela época e transmiti-las a nós.

O Baal HaSulam descreve isso da seguinte maneira: Porém, como aqueles que alcançaram o nível onde Abraão estava, ou qualquer um, eles vêem e sabem o que Abraão viu e sabia. Por essa razão eles sabem o que Abraão diria, e da mesma forma em todos os dizeres dos nossos sábios quando eles interpretaram os versos da Torá. Tudo isso porque eles também atingiram o nível, e cada nível na espiritualidade é uma realidade. Todo mundo vê a realidade, como aqueles que chegam à cidade de Londres na Inglaterra vêm o que está na cidade o que é dito nela.

–Baal HaSulam, Shamati, artigo 98: A Espiritualidade É Aquilo Que Nunca Será Perdido.

Além da capacidade de se mover no tempo, os Cabalistas descobrem outras forças na realidade. Não é por coincidência que as lendas falam de fantasmas, demônios e anjos. Embora elas realmente tenham um significado muito diferente daquilo que nós atualmente atribuímos a elas, tais forças existem. Um Cabalista que investiga as profundezas da natureza começa a ver suas forças operativas, conecta-se a elas, e utiliza-as beneficiar a si próprio e toda a humanidade.

A admissão ao estudo da realidade requer certos esforços, mas isso também absorve toda a vida interior da pessoa e provê uma realização plena. A pessoa que estuda a realidade descobre a razão da nossa existência, sabe onde todos nós temos que chegar, e entende as razões de nossos múltiplos problemas.

Portanto, a Cabala não é uma mera pesquisa científica. Pelo contrário, ela é um método prático destinado a nos ajudar em todos os momentos de nossas vidas. Através da Cabala, a pessoa descobre o futuro, o passado, seus atributos quando ela desceu pela primeira vez a este mundo há muitas vidas, e o caminho que ainda precisa ser transposto.

Vendo ambos os lados da moeda, a pessoa entende o que fazer e como fazer da melhor forma. Os Cabalistas também conseguem perceber as forças agindo sobre eles a todo instante, tal como o porquê alguém deveria casar com certo indivíduo, ou porque as crianças de alguém são com elas são. Todos esses detalhes são pré-determinados. De fato, atualmente até mesmo a ciência reconhece que esta informação é determinada nos genes.

Existe uma famosa história sobre gêmeos que foram separados quando eram muito jovens e perderam contato um com o outro. Trinta anos depois eles se reuniram e descobriram que ambos tinham a mesma ocupação, suas esposas tinham o mesmo nome, eles tiveram filhos com os mesmos nomes, e até mesmo as casas em que viviam eram do mesmo número. As coisas se desenrolam dessa maneira por causa de nossa informação interna, que define tudo que acontecerá conosco e cada um dos estados que nós experimentaremos na vida.

A Cabala denomina essas predefinições internas que guiam a vida de uma pessoa, Reshimot. As Reshimot existem em cada pessoa, e cada estágio que ela vivencia tem a intenção de ensinar algo que estimulará a pessoa a avançar em direção à conquista do objetivo final.

Se nós conhecêssemos as forças que agem sobre nós e a nossa estrutura interior, nós poderíamos nos preparar para cada estágio futuro. Se nós soubéssemos como estar em equilíbrio com a lei geral da realidade, a realidade nos pareceria totalmente oposta à aparência atual.

A sabedoria da Cabala não tem o propósito de nos ensinar sobre a realidade de uma maneira simplesmente científica, de modo que nós possamos filosofar sobre os “habitantes” dos Mundos Superiores. Mais do que isso, ela nos ensina a controlar nosso destino a cada momento. Todas as forças e eventos que nos pressionam têm a intenção de nos ajudar a nos tornarmos líderes de nossa própria realidade. “Líderes da realidade” significa que nós estamos em equilíbrio com a realidade em cada momento da existência. Portanto, a nossa tarefa é descobrir o que significa “estar em um estado de equilíbrio”.

Controlando o Mundo Material

Os investigadores Cabalísticos da realidade descobriram que a realidade é composta pelo nosso mundo e os mundos superiores. O mais inferior de todos os mundos é o nosso mundo material; o resto são mundos espirituais. Nos mundos espirituais, não existe tal coisa como a matéria física na forma que existe no nosso mundo material. A substância dos mundos espirituais contém somente desejos, forças e pensamentos.

Nós pensamos que podemos controlar os problemas do nosso mundo, mas quando nós  ascendemos a um nível superior, nós imediatamente entendemos que o problema é só uma conseqüência. A matéria é operada pelas Forças Superiores, os Mundos Superiores. Como nós ainda não estamos nestes mundos, não estamos aptos a controlá-la.

Se nós quisermos mudar alguma coisa, nós precisamos ascender ao nível acima do nosso, onde as preparações são feitas antes de serem implantadas em nós. Somente neste nível nós adquirimos certo nível de entendimento e habilidade para mudar qualquer coisa. A vida seguidamente nos prova que não controlamos nada, e, na maioria dos casos, nós estamos na 3ª idade antes de percebermos que a vida simplesmente passou.

Apesar do progresso tecnológico, a humanidade está totalmente confusa em relação ao seu progresso. Nós estamos em um estado terrível porque estamos o mais longe possível do equilíbrio, e até que nós adquiramos o conhecimento e a força para mudarmos qualquer coisa em um nível mais elevado do que a matéria, nós não teremos um momento de descanso. Somente quando nós nos elevarmos ao nível e às forças que operam o nosso mundo é que alcançaremos o equilíbrio tão desejado.

 

Abrindo Nossos Olhos

Toda a realidade é um pensamento simples e imutável de doação e outorga. Os Cabalistas se referem a esse pensamento pelo nome de “O Pensamento da Criação”. Eles dizem que  sua essência é o desejo do Criador de fazer o bem às Suas criações. Se nós não nos relacionarmos de forma semelhante a esse abrangente pensamento da realidade, nós estaremos em desequilíbrio com ele, o qual nós experimentaremos como sofrimento.

Obviamente, nós não o sentimos. E mesmo que depois venhamos a senti-lo, nós acharemos difícil entendê-lo. Mas se nós percebêssemos que era assim que a realidade funciona, nós mudaríamos nossos hábitos.

Assim, o nosso único objetivo seria abrir os nossos olhos e ver que de fato é assim. A sabedoria da Cabala nos ajuda a perceber isso; quando o fizermos, nós certamente mudaremos.

Se eu percebesse que alguma coisa poderia melhorar a minha situação, eu a perseguiria de todas as maneiras possíveis. E se eu tivesse que dar alguma coisa para melhorar, eu a daria, desde que ela melhorasse meu estado de ser. Entretanto, a dificuldade primordial é abrir nossos olhos e perceber o que está atualmente oculto de nós.

Todos os nossos estágios evolutivos são pré-ordenados no pensamento da Criação, mas o caminho e a velocidade com que nós os atravessamos dependem inteiramente de nós. De fato, nós podemos andar por todo o caminho hoje, e nos equivalermos ao Pensamento da Criação.

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