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INTRODUÇÃO AO LIVRO, PANIM MEIROT UMASBIROT*

Do livro “Cabala Para o Estudante”

1)            No final do Tratado Uktzin está escrito que “O Criador não encontrou um vaso que contivesse as bênçãos de Israel, se não a paz, como é dito, “Que o Senhor dê força ao Seu povo, Que o Senhor abençoe o Seu povo com paz”.

E a pessoa deve estudar isto profundamente: Primeiramente onde está a prova que não há nada melhor para Israel do que a paz? Em segundo lugar, o texto afirma explicitamente que a paz é a própria benção, como é dito, “outorgando em força e abençoando em paz”. Então de acordo com isto, eles deveriam ter dito, “outorgando em paz”. Em terceiro lugar, por que o dito foi colocado no final do Shás [Shishá Sedarim (Seis Ordens) – outro termo para Mishná]? Nós também precisamos entender as palavras “paz” e “força”, e os seus  significados.

E para explicar o artigo de acordo com o seu verdadeiro significado, nós precisamos entrar em um longo caminho, isto é porque a profundeza do coração daqueles que são mestres da Hagadá (Conto) é inatingível. E portanto o Rabi Autor de Afikei Yehuda, de abençoada memória, escreveu em sua explicação das palavras dos nossos sábios sobre a passagem (Cântico dos Cânticos 2:5): “Me sustenta com uvas passas” que se refere as leis da Halachá, “Me refresca com maçãs” se refere às Hagadot (Contos). E nossos sábios disseram que todas as questões da Torá e da Mitzvá têm coisas reveladas e ocultas, conforme está escrito, “Uma palavra bem dita  é como maçãs de ouro em armações de prata”  (Provérbios 25:11).

De fato, as Halachot (conjunto das Mitzvot derivadas da Torá Escrita e Oral) se assemelham a um cálice de vinho. Quando alguém serve ao seu amigo vinho em um cálice de prata, tanto o interior quanto o exterior são importantes. Isto é porque o cálice também tem seu próprio valor, assim como o vinho que contém.

Mas este não é o caso com as Hagadot (Contos), elas são como maçãs, da qual a sua parte interior é comida e a exterior é jogada fora, porque a parte exterior não possui qualquer valor, todo o valor e importância estão somente na parte interior, no núcleo.

Da mesma forma, nas palavras das Hagadot (Contos), o aspecto óbvio literal não tem significado e valor, a única parte valiosa é o conteúdo interior oculto nas palavras, que é construído unicamente no alicerce da Sabedoria da Verdade, que é transmitida apenas a uns poucos escolhidos. Fim da citação, muda o  idioma.

Quem ousaria extraí-la do coração das massas e investigar seus caminhos, porque sua realização não está completa mesmo nas partes da Torá referidas como Peshat (literal) e Drush (alegoria)? De acordo com eles, a ordem pela qual os quatro níveis da Torá (PARDES) são estudados como segue: começa com o Peshat (literal), então Remez (inferência lógica), então Drush (alegorias) e no final Sod (segredo).

No entanto, nós aprendemos do Sidur (Livro de Orações) do Gaon de Vilna (Rabi Eliahu ben Shlomo Zalman Kremer) que Sod é o nível pelo qual compreensão adequada começa, e depois que a parte Sod da Torá é compreendida, então pode compreender a parte Drush, e então a parte Remez, e apenas após ter se tornado completamente proficiente nestes três aspectos da Torá, é recompensada com a própria compreensão da parte Peshat da Torá. Quando uma pessoa é garantida com o conhecimento completo destas três partes da Torá, ela tem a Torá no coração.

E isto é o que nossos sábios quiseram dizer quando disseram no Tratado Taanit: “Se ele é recompensado, se tornará um elixir da vida, se não é recompensado, se tornará um elixir da morte”. Porque nós precisamos de grande mérito para entender o Peshat dos textos, porque nós primeiro devemos nos comprometer em compreender as três partes interiores na interioridade da Torá, tais que o Peshat se veste, e o Peshat não será simplificado. E se a pessoa não tiver merecido isto, ela precisa de muita misericórdia, para que a Torá não se torne para ela um elixir da morte, Deus proíba.

Sobre os argumentos daqueles que são negligentes com relação a compreensão da interioridade, e que dizem a si mesmos: “Estamos satisfeitos com a compreensão do Peshat, e se pudermos compreendê-lo, estaremos felizes e contentes”. As suas palavras são como as de alguém que deseja pisar no quarto degrau sem ter subido os três primeiros degraus.

2)            De fato, de acordo com isso, nós precisamos entender o grande sigilo que é comum com relação à interioridade da Torá, como foi dito no Tratado Hagiga, um indivíduo não deve estudar MA’ase Bereshit em duplas, e nem a Merkava (Carruagem) sozinho. E da mesma forma, todos os livros que estão em nossa disposição neste assunto estão selados e indisponíveis diante dos olhos do público em geral, que não entendem muito, exceto por alguns aleatórios que entendem o significado pelo Criador, sendo que eles já entendem as raízes por seu próprio conhecimento e pela tradição passada oralmente (lit. boca a boca).

Há algo realmente surpreendente aqui, como podemos prevenir a progressão da sabedoria e entendimento das pessoas, pois esta é a própria vida e a duração de seus dias. E aparentemente isto seria uma transgressão criminal, que é o porquê nossos sábios disseram no Midrash Raba, Bereshit, sobre Achaz, que ele era chamado Achaz (aquele que detém), pois ele detinha sinagogas e seminários, e por isto seu crime é grande etc.

E assim é a lei da natureza, que a pessoa se sente relutante em gastar suas riquezas e propriedades com os outros, mas existe alguém que se sinta relutante em passar sua sabedoria e entendimento aos outros? Ao contrário, mais do que o bezerro quer ser alimentado, a vaca deseja alimentar. Quanto mais, quando se trata da Torá do Criador e da Vontade do Criador.

De fato, nós encontramos mistérios na sabedoria mesmo em sábios seculares nas gerações passadas. E nós aprendemos na introdução do Rabi Butril no seu comentário no Sefer Yetzirá (Livro da Formação), em um artigo atribuído a Platão onde ele adverte seus discípulos dessa forma: “Não passe esta sabedoria para alguém que não pode apreciar suas virtudes”.

E Aristóteles alertou, “Não transmita a sabedoria para alguém que não é digno dela, para que não seja destruída”. Ele (Rabi Butril) comentou que se um sábio ensinar a sabedoria para alguém que não é digno dela, eles a roubarão e a destruirão.

Isto não é o que os sábios seculares estão fazendo em nosso tempo. Ao contrário, eles estão tentando expandir os portões de sua sabedoria para todas as massas entrarem, sem qualquer limite ou condição. E aparentemente, eles têm uma grande disputa com os Rishonim (Antigos Sábios), que fecharam as portas de sua sabedoria e permitiram apenas a uns poucos escolhidos, que eles acharam merecedores deste conhecimento, quando a maioria das pessoas foi deixada tateando as paredes.

3)            E eu devo explicar o assunto. Nós distinguimos entre quatro diferentes classes de pessoas entre as espécies Falantes, e elas são dispostas hierarquicamente. Estas classes são: as Massas, os Heróis, os Ricos e os Sábios. Eles são aproximadamente iguais aos quatro estágios em toda a realidade, denominados “Inanimado”, “Vegetativo”, “Animado” e “Falante”.

Dos Inanimados vêm outras três qualidades, Vegetativo, Animado e Falante. E nós podemos distinguir três valores na quantidade de força benéfica e prejudicial contida neles.

A menor força entre os três é a Vegetativa. Pois embora a flora opere atraindo o que é útil e rejeitando o que é prejudicial, semelhante às espécies humana e animal, embora  não  possua  nenhuma  sensação  particular  dedicada  para  esta finalidade, exceto por uma força geral, que é comum a todas as espécies das plantas no mundo, que está realizando esta operação.

Acima deles está o Animado. Cada criatura sente a si mesma, com relação a atrair o que é benéfico a ela e rejeitando o prejudicial. Segue-se que um animal se iguala em valor a todas as plantas na realidade. Isto é assim porque a força que distingue o benéfico do prejudicial em todo o Vegetativo é encontrada em uma criatura no Animado, separada pela sua própria  individualidade.

A força da sensação que existe nas espécies do Animado é muito limitada em tempo e espaço, já que esta sensação não opera nem mesmo a distância de um fio  de cabelo fora de seu corpo, e não sente nada fora do seu próprio tempo, ou seja, o passado e o futuro, mas apenas no momento  presente.

No topo deles está o Falante, que são compostos pelo poder das sensações e pelo poder do intelecto juntos. E portanto seu poder não é limitado por tempo e espaço, para atrair o que é bom para ele e rejeitar o que é prejudicial, como o Animado.

Isto é assim por causa de sua ciência, que é uma questão espiritual, não limitada por tempo e espaço. E um pode ensinar a todas as pessoas onde quer que estejam em toda a realidade, e no passado e no futuro de geração à geração.

E portanto é encontrado que o valor de um indivíduo das espécies dos Falantes é igual a totalidade das forças das espécies Vegetativo e Animado, que existem em toda a realidade neste tempo, assim como em todas as gerações do passado. Porque seu poder os abrange e os contém e em sua individualidade inclui todas estas forças juntas.

E esta regra também se aplica às quatro diferentes classes dos seres humanos, que são: as Massas, os Heróis, os Ricos e os Sábios. Certamente, todos eles vêm das Massas, que é o primeiro estágio, como está escrito, “todos vêm do pó”.

De fato todas estas virtudes do pó e do seu próprio direito de existe, está de acordo com os três valores do Vegetativo, Animado e Falante que emergem dele. Então também o valor das Massas deve ser concebido de acordo com as qualidades que emergem deles. Razão pela qual eles também tomam a forma da face humana.

Por este motivo, o Criador incutiu nas Massas em geral as três inclinações, chamadas de “inveja”, “luxúria” e “honra”. Devido as quais as Massas se desenvolvem passo a passo até que a face de um ser humano completo seja emergido delas.

Por exemplo, a inclinação para a luxúria induz a Riqueza. Porque os melhores deles têm um forte desejo, assim como luxúria. Eles se sobressaem em adquirir a riqueza, que é o primeiro grau na evolução das Massas. E assim como o estágio Vegetativo na realidade, que é governado por uma força externa, que então os guia para sua inclinação, assim também o poder da luxúria nas espécies humanas é uma força exterior, pois é tomado emprestado das espécies do Animado.

E através da inclinação pela honra os heróis famosos emergem. Eles são aqueles que governam as sinagogas, as cidades, etc. E aqueles dentre eles que têm uma força de vontade mais firme, e também uma inclinação para a honra, se sobressai na capacidade de obter poder de domínio. E eles são o segundo grau da evolução para as Massas, e assim como o grau Animado na realidade em geral, em que o poder que atua dentro deles já reside essencialmente em si mesmos, como mencionamos acima. Afinal, a inclinação para a honra é exclusivo para a espécie humana, e junto com ela o desejo por domínio, conforme é dito nas escrituras: “Tu colocastes todas as coisas debaixo dos Vossos pés”  (Salmos).

E a inclinação para a Inveja induz os sábios dentre eles, como nossos sábios disseram: “A inveja do autor aumenta a sabedoria”. A força de vontade, com a inclinação para a inveja, sobressai em adquirir conhecimento e sabedoria. É como o grau Falante em toda a realidade, em que a força operacional não está limitada pelo tempo e lugar, mas é coletivo e abrange qualquer item do mundo, em todos os tempos.

Também, é a natureza do fogo da inveja ser geral, englobando todos os tempos e toda a realidade. Isso é porque é a conduta de inveja: se alguém não tivesse visto o objeto na posse de um amigo, o desejo pela posse não teria despertado de maneira alguma.

Descobrimos que a sensação de ausência não é pelo que não tem, mas pelo que seu amigo tem, que são todos os descendentes de Adão e Eva, ao longo das gerações. Assim, esta força é ilimitada e é, portanto, apta para o seu papel sublime e exaltado.

No entanto, aqueles que permanecem sem mérito algum, é porque não têm um desejo forte. Assim, todas as três inclinações acima mencionadas operam juntas, misturadas. Às vezes, eles são sensuais, às vezes invejosas, e às vezes anseiam honra. Seus desejos quebram em pedaços, e eles são como crianças, que anseiam por tudo  o que veem, e não pode alcançar qualquer coisa. Assim, seu valor é como a palha e farelo que sobram após a farinha.

É sabido que a força benéfica e a força prejudicial andam de mãos dadas. Em outras palavras, assim como algo pode beneficiar, também pode prejudicar. Assim, desde que a força de uma pessoa é maior que todas as bestas e animais de todos os tempos, uma força nociva os substitui a todos também.

Deste modo, enquanto um não merece seu grau de uma forma que usa uma única força de fazer o bem, é necessário um olhar cuidadoso para que ele não adquira grandes quantidades do nível humano, que é sabedoria e  ciência.

Por esta razão, os primeiros sábios esconderam a sabedoria das massas, com medo de tomar discípulos indecentes que usariam a força da sabedoria para ferir e prejudicar. Estes iriam quebrar e destruir toda a população com sua sensualidade e selvageria bestial, usando as grandes potências do  Homem.

Quando as gerações têm diminuído e os seus sábios eles mesmos começaram a implorar ambas as tábuas, significando uma vida boa para sua corporeidade, também, seus pontos de vista aproximaram-se das massas. Eles negociavam com eles e venderam a sabedoria como prostitutas, pelo preço de um  cão.

Desde então, a muralha que primeiro tinha exercido foi arruinada e as massas a saquearam. Os selvagens encheram as mãos com a força dos homens, apreenderam a sabedoria e a rasgaram. Metade foi herdada por adúlteros e metade por assassinos, e a puseram em vergonha eterna desde esse  dia.

4)            De que você pode deduzir sobre a sabedoria da verdade, a qual contém dentro de si todos os ensinamentos seculares, que são as sete pequenas donzelas.  Esta é a totalidade das espécies humanas e o propósito para o qual todos os mundos foram criados, como está escrito: “Se a minha aliança não ficar com o dia e a noite, se eu não tiver determinado as ordenanças dos céus e da  terra”.

Por isso, nossos sábios tem afirmado (Avot 4, Mishná 7), “Aquele que usa a coroa passa”. Isso é porque eles proibiram-nos de utilizá-la para qualquer tipo de prazeres mundanos.

Isto é o que nos sustentou até agora, manter os exércitos e o muro ao redor da sabedoria da verdade, por isso nenhum estranho ou estrangeiro pede quebrá-la e colocá-la em seus vasos para ir e negociá-las no mercado, como com os sábios seculares. Isto porque todos os que entraram já foram testados por sete testes, até que foi determinado para além de qualquer preocupação e  desconfiança.

Depois destas palavras e verdade, nós encontramos o que parece ser uma grande contradição, de um extremo ao outro, nas palavras de nossos sábios. Está escrito no Zohar que no tempo do Messias, esta sabedoria será revelada ainda aos jovens. No entanto, de acordo com o exposto, aprendemos que nos dias do Messias, que toda geração estará no mais alto nível. Nós não precisaremos de guarda para todos, e as fontes de sabedoria irão se abrir e regar toda a  nação.

No entanto, em Masechet Sutah, 49, e Sanhedrin 97a, eles disseram, “impudência deve soar, no momento do Messias, a sabedoria dos autores deve se desviar, e o justo devem ser desqualificados”. Ele interpreta que não existe nada tão mal como essa geração. Assim, como podemos conciliar as duas declarações, pois ambas são certamente as palavras do Deus vivo?

O ponto é que esse olhar cuidadoso com as portas fechando no hall da sabedoria é por medo de pessoas nas quais o espírito da inveja dos escritores é misturado com a força da luxúria e da honra. Sua inveja não é limitada a querer somente sabedoria e conhecimento.

Assim, ambos os textos estão corretos, e cada um vem e ensina do outro. A face da geração é como a cara do cachorro, significando que latem como cães “Au, Au”, os justos são náufragos e a sabedoria dos autores  extraviou-os.

Daqui resulta que é permitido abrir os portões da sabedoria e remover as guardas com cuidado, pois ela já é naturalmente protegida contra o roubo e a exploração. Não há mais medo de que os discípulos indecentes podem levá-la e vendê-la no mercado para a plebe materialista, uma vez que eles não vão encontrar nenhum comprador para esta mercadoria, pois é abominável aos olhos destes.

E já que eles não têm nenhuma esperança de adquirir a luxúria e honra através dela, ela tornou-se segura e protegida por si. Nenhum estranho se aproximará, exceto os amantes da sabedoria e afins. Assim, quaisquer testes serão retirados dos que entram, até mesmo os muito jovens serão capazes de atingi-la.

Agora você pode entender suas palavras (Sanhedrin 98a): “O Filho de David vem em uma geração que é toda digna ou indigna”. Isto é muito desconcertante. Aparentemente, enquanto há poucos justos na geração, que detêm a redenção. Quando o justo perece da terra, o Messias será capaz de vir. Eu me admiro.

Na verdade, deveríamos compreender profundamente que a questão da redenção e da vinda do Messias que esperamos seja breve em nossos dias, Amén, e é a plenitude da realização superior e conhecimento, como está escrito,” e eles não ensinam mais cada um a seu vizinho, dizendo: ‘Conhece o Senhor”, porque todos Me conhecerão, desde o maior deles até o menor deles”. E com a completude da mente, os corpos estão completos também, como está escrito (Isaías 65), “o mais jovem morrerá com cem anos”.

Quando os filhos de Israel são complementados com o completo conhecimento, as fontes de inteligência e conhecimento devem fluir para além das fronteiras de Israel e regar a todas as nações do mundo, como está escrito (Isaías 11), “a terra se encherá do conhecimento do Senhor”, e como está escrito, “e deve vir ao Senhor e à Sua bondade”.

A proliferação desse conhecimento é a questão da expansão do Rei Messias para todas as nações. No entanto, ocorre o oposto, com as rudes plebes materialistas. Como a sua imaginação está ligada ao poder total do punho, a questão da expansão do Reino de Israel está gravada em sua imaginação apenas como uma espécie de domínio dos corpos sobre os corpos, para ter o seu pedaço do todo com muito orgulho, e de ser arrogante sobre todas as pessoas no  mundo.

E o que posso fazer para eles, se nossos sábios já os rejeitaram, e os gostos deles, na congregação do Senhor, dizendo: “Todos os que têm orgulho, o Criador diz:” ele e Eu não podemos habitar na mesma morada”.

Por outro lado, alguns erram e determinam que, como o corpo tem de existir antes da existência da alma e da percepção completa, a perfeição do corpo e suas necessidades precedem no tempo a realização da alma e da percepção completa. Assim, a percepção completa é negada de um corpo  fraco.

Este é um erro grave, pior que a morte, uma vez que um corpo perfeito não  é concebível antes que seja alcançada a percepção completa. Isto porque, em si, é um saco furado, uma cisterna quebrada. Ele não pode conter nada de benéfico, nem para si nem para os outros, exceto com a realização do conhecimento completo.

Nessa altura, o corpo também aumenta a sua completude com ela, literalmente de mãos dadas. Esta regra aplica-se tanto nos indivíduos como no todo.

Com essas palavras, eu me desvinculo de uma denúncia importante, que eu tenho coragem mais do que todos os meus antecessores na divulgação dos rudimentos normalmente ocultos na sabedoria no meu livro, que foi até agora inexplorado. Refere-se à essência das dez Sefirot e tudo o que lhes diz respeito, Yashár e Chozêr, Pnimi e Makif, o significado da Haka’á e o significado da Hizdakchut.

Os autores que me precederam deliberadamente espalharam as palavras aqui e ali, e em insinuações sutis, então uma mão não seria suficiente para reuni-las. Eu, através da Sua Luz, que apareceu em cima de mim, e com a ajuda dos meus professores, que se reuniram e divulgaram a matéria com bastante clareza e em sua forma espiritual, acima do espaço e do tempo.

Eles poderiam ter vindo para mim com um grande argumento: Se não há adições aos meus professores aqui, então o Ari e Rabi Chaim Vital e os autores do original, os comentaristas de suas palavras, poderiam ter divulgado e explicado as questões de forma tão aberta como eu. E se você quiser dizer que foi revelado a eles, então quem é este escritor, para quem é sem dúvida um grande privilégio de ser pó   e cinza sob os pés, que diz que o lote que lhe confere o Criador é mais do que a sua sorte?

No entanto, como você verá nas referências, eu não adicionei nada aos meus professores, nem inovei na composição. Todas as minhas palavras já estão escritas nos Oito Portões, na A Árvore da Vida, e no Mavo Shearim (Entrada dos Portões) pelo Ari. Eu não acrescentei uma só palavra nelas, mas eles pretendiam ocultar questões, e por isso, eles espalharam as palavras por aqui e por ali.

Isto porque sua geração ainda não era completamente indigna e exigiu grande cuidado. Nós, porém, para os nossos muitos pecados, todas as palavras de nossos sábios são já verdade em nós. Eles haviam dito em relação ao tempo do Messias, para começar, para tanto numa geração que já não tem o medo de revelar    a sabedoria, como já se explicou acima, portanto, minhas palavras estão abertas e em ordem.

Como disse Ben Zuma: “Todos esses foram criados apenas para servir-me, e eu, para servir ao meu Criador”. Ele diz: “O Senhor fez todas as coisas para seus próprios fins”, já que o Criador deseja e anseia a nossa  perfeição.

Diz-se em Bereshit Raba, Parasha 8, que os anjos disseram-Lhe: “O que é o homem, que Tu lembras dele, e o filho do homem, que Tu pensas dele?” Por que Você precisa deste problema? O Criador disse-lhes: “Portanto, por que ovelhas e bois?” O que se assemelham? Um rei que tinha uma torre cheia abundantemente, mas sem convidados. Que prazer tem o rei da sua abundância? Eles prontamente disseram-Lhe: “Ó Senhor, Senhor nosso, quão glorioso é o Teu nome em toda a terra! Faça o que parece bom para você”.

Aparentemente, devemos duvidar daquela alegoria, desde que onde aquela torre cheia abundantemente está? No nosso tempo, nós realmente iríamos enchê-la com os convidados até a borda.

Na verdade, as palavras são sérias, pois você vê que os anjos não fizeram nenhuma reclamação sobre qualquer uma das criaturas que foram criadas durante  os seis dias da Criação, exceto sobre o Homem. Isso é porque ele foi criado à imagem de Deus e consiste no Alto e Baixo juntos.

Quando os anjos viram-no, eles ficaram assustados e perplexos. Como seria   a pura, a alma espiritual descer do seu grau sublime, e vir morar na mesma morada com este sujo, bestial corpo? Em outras palavras, eles se perguntavam: “Por que Você precisa deste problema?”

A resposta que veio para eles é que já existe uma torre cheia abundantemente, e vazia de convidados. Para preenchê-la com os convidados, nos precisamos da existência deste ser humano feito de Superior e inferior juntos. Por este motivo, esta alma pura deve se vestir na forma deste corpo imundo. Eles compreenderam imediatamente e disseram: “Faça o que parece bom para  Você”.

Saiba que esta mesa, cheia abundantemente, implica todo o prazer e a bondade para os quais Ele criou as criaturas, como eles disseram, “A conduta do Bem é fazer o bem”. Portanto, Ele criou os mundos para deleitar Suas  criaturas.

E já que não há passado e futuros nEle deveram perceber que, tão logo Ele tinha Pensado para criar as criaturas e deleitá-las, elas saíram e foram imediatamente feitas antes dEle, elas e todas as suas realizações de deleite e prazer, como ele havia lhes contemplado.

Está escrito no livro, Heftzi Bah (Meu Deleite Está Nela), pelo Ari, que todos os mundos, Superiores e inferiores, estão contidos no Ein Sóf, antes mesmo do Tzimtzum (restrição), através do caminho de Ele é Um e Seu Nome  Um.

O incidente do Tzimtzum, que é a raiz dos mundos ABYA, confinados a este mundo, ocorreu porque as raízes das almas, elas mesmas, desejaram igualar sua forma com o Emanador. Este é o significado de Dvekút (adesão), como separação e Dvekút em algo espiritual são possíveis somente nos valores de Similaridade  de Forma ou de Diferença de Forma.

Desde que Ele queria deleitá-los, o desejo de receber prazer era necessariamente impresso nos receptores. Assim, sua forma foi alterada dEle, uma vez que esta forma não se encontra presente no Emanador, a partir de quem Ele iria receber?

O Tzimtzum e o Gvul (limite/fronteira) foram feitos para este fim, até o surgimento deste mundo para uma realidade de uma vestimenta de uma alma num corpo físico. Quando alguém se engaja na Torá e trabalha a fim de dar satisfação ao Criador, a forma de recepção será voltada à finalidade da  doação.

Este é o significado do texto “e te apegando a ele”, desde então alguém iguala sua forma do seu Criador, e como já dissemos, a equivalência da forma é Dvekút na espiritualidade. Quando a questão de Dvekút é completa em todas as partes da alma, os mundos voltarão ao estado de Ein Sóf, como antes do  Tzimtzum.

“Em suas terras eles irão herdar duplamente”. Isto porque, em seguida, eles serão capazes de receber mais uma vez todo o prazer e deleite, preparado para eles anteriormente no mundo do Ein Sóf. Além disso, agora eles estão preparados para o real Dvekút, sem qualquer Diferença de Forma, desde que a sua recepção não é mais para si mesmos, mas para doar contentamento em seu Criador. Você acha que eles equalizaram na forma de doação com o Criador.

7)            Agora você compreenderá suas palavras, que a Divindade nos inferiores é uma alta necessidade. Esta é a mais desconcertante declaração, embora ande lado a lado com o estudo acima.

Eles compararam o tema a um rei que tem uma mesa abundantemente abastecida, sem nenhum convidado. É certo que ele se senta e espera pelos convidados, ou toda sua preparação terá sido em vão.

É como um grande rei que teve um filho quando ele já era idoso, e ele era muito afeiçoado a ele. Por isso, desde o dia do seu nascimento ele teve pensamentos favoráveis a respeito dele, reuniu todos os livros e os melhores estudiosos da região,  e construiu escolas para ele.

Ele reuniu os melhores construtores da região e construí palácios de prazeres para ele, reuniu todos os músicos e os cantores e construiu para ele salas de concerto. Ele contratou os melhores “chefes de cozinha” e padeiros do país que lhe serviram todas as delícias do mundo e assim por diante.

Lamentavelmente, o garoto cresceu e tornou-se um tolo com nenhum conhecimento. Ele era cego e não poderia ver ou sentir a beleza dos prédios; e ele  era surdo e não poderia ouvir os cantores. Tristemente, ele era diabético, e lhe era permitido comer apenas pão de farinha grossa, despertando desprezo e  ira.

Agora você pode compreender suas palavras a respeito dos versos, “Eu, o Senhor, o acelerarei no seu tempo. O Sanhedrin (98) interpretou, “não recompensado – a seu tempo; recompensado – Eu o apressarei”.

Assim, existem duas maneiras de atingir o objetivo acima mencionado: através da sua própria atenção, que é chamada um “Caminho de Arrependimento”. Se eles foram recompensados por isso, então “Eu O apressarei” será aplicado a eles. Isto significa que não há tempo determinado para isso, mas quando eles estão premiados, a correção assim termina com certeza.

Se eles não são premiados com a atenção, existe outro caminho, chamado “Caminho do Sofrimento”. Como o Sanhedrin disse (97), “Eu lhes coloco um rei tal como Haman, e eles se arrependerão contra sua própria vontade”, ou seja, em seu próprio tempo, porque naquele existe um tempo  determinado.

Por isso, eles queriam mostrar-nos que Seus modos não são os nossos modos. Por esta razão, o caso do rei em carne e sangue (em carne e osso) que se preocupou   a fim de preparar aquelas grandiosas coisas pra seu filho amado e foi finalmente atormentados todos os dias, e todos os seus esforços foram em vão, trazendo desprezo e ira, o que não acontecerá com Ele.

Ao invés disto, todas as ações do Criador são garantidas e verdadeiras, e não há nenhuma fraude nEle. Isto é o que nossos sábios disseram: “Não recompensado – no seu tempo”. O que o desejo não faz, o tempo fará, como está escrito, “Pode você enviar a diante relâmpagos, que eles ir dizendo-lhe: “Aqui estamos  nós”?

Há um caminho de dor que pode limpar todos os defeitos e até o materialismo através dele aprende-se como elevar sua cabeça acima do estado bestial, elevar-se e escalar os degraus da escada da felicidade e sucesso humano, porque seu desejo de aderir à sua raiz é completo e objetivo.

8)            Por conseguinte, venha e veja quão gratos nós devemos ser aos nossos professores, que dão-nos suas Luzes sagradas e dedicam suas almas para fazer o bem para nossas almas. Eles estão no meio entre o caminho de duros tormentos e o caminho do arrependimento. Eles nos salvam do submundo, que é mais difícil do que a morte, e habituam-nos a alcançar os prazeres celestiais, a sublime gentileza e o bem estar que é a nossa herança, pronta e aguardando por nós desde o início, como já dissemos acima. Cada uma delas opera em sua geração, de acordo com o poder da Luz de sua Torá e santidade.

Nossos sábios já disseram, “Você não tem uma geração sem tais como Abraão, Isaac e Jacó”. Na verdade, esse homem de Deus, nosso Rabi Isaac Luria, incomodado nos forneceu a mais completa receita. Ele fez maravilhosamente mais do que seus antecessores, e se eu tivesse uma língua que louvasse, eu louvaria aquele dia em que sua sabedoria apareceu quase como o dia em que a Torá foi dada a Israel.

Não há palavras suficientes para medir a seu sagrado trabalho em nosso favor. As portas das realizações estavam trancadas e lacradas, e ele veio e abriu-as para nós. Assim, todos os que desejam entrar no palácio do Rei, só precisam de pureza e santidade, e banhar-se, raspar os cabelos e usar roupas limpas, de forma a estar de acordo diante da sublime Realeza.

Você encontra uma pessoa com trinta e oito anos de idade, que com sua sabedoria subjugou todos os seus antecessores através de todos os tempos, com sua genialidade. Todos os anciãos da terra, os pastores corajosos, amigos e discípulos do sábio Divino, o Ramak, estava diante dele, como discípulos diante do  Rabi.

Todos os sábios das gerações seguintes até o dia de hoje, sem faltar nenhum, abandonaram todos os livros e composições que o precedem, a Cabalá do Ramak, a Cabalá do Primeiro e a Cabalá do Gênio, bendita seja a memória de todos eles. Eles ligaram sua vida espiritual totalmente e exclusivamente à sua Santa Sabedoria. Naturalmente, não é sem mérito que uma grande vitória é atribuída, como foi atribuído a este jovem pai de sabedoria.

Infelizmente, as obras do diabo conseguiram, e obstáculos foram colocados ao longo do caminho da expansão da sua sabedoria para uma nação santa, e só pouquíssima começaram a conquistá-las.

Isso se deu, principalmente porque suas palavras foram escritas conforme iam sendo ouvidas, como ele interpretava a sabedoria, em seu dia-a-dia e antes de seus discípulos, que já eram idosos e com grande proficiência no Zohar e Tikunim (Correções). Na maioria dos casos, seus ditos sagrados foram organizados de acordo com as questões profundas que eles lhes perguntavam, cada um de acordo com seu próprio interesse.

Por esta razão, ele não transmitiu a sabedoria em uma ordem adequada, como as composições que o precederam. Nós encontramos nos textos que o próprio Ari tinha a intenção de trazer as questões em ordem. A esse respeito, ver o começo das palavras de Rashbi na interpretação do Idra Zuta, em uma breve introdução por Rabi Chaim Vital.

Há também o curto período de tempo de seu ensino, desde que o tempo todo do seu seminário foi de cerca de dezessete meses, como está escrito no Portão das Reencarnações, Portão 8, p 49, desde que ele chegou a Safed do Egito logo antes do Pessach (Páscoa) no ano de 1571, e naquele tempo, Rabi Chaim Vital tinha vinte e nove anos de idade. E em julho de 1572, na véspera do Shabat, Parashat Matot- Masaey21, no início do mês de Av, ele adoeceu, e na terça-feira, quinto dia de Av, na semana seguinte, ele faleceu.

Também está escrito no Portão das Reencarnações, Portão 8, p 71a, que após sua morte, ele ordenou ao Rabi Chaim Vital para não ensinar a sabedoria para os outros, e permitiu-lhe estudar apenas por ele próprio e silenciosamente. O resto dos amigos era proibido de exercê-lo completamente porque ele disse que eles não entendiam a sabedoria corretamente.

Esta é a razão pela qual Rabi Chaim Vital não organizou os textos para todos e deixou-os desorganizados. Naturalmente, ele não explicou as conexões entre as questões, então não teria como ensinar aos outros. Esta é a razão pela qual encontramos cuidados tão grandes de sua parte, como é conhecido por aqueles proficientes nos escritos do Ari.

As modalidades encontradas nos escritos do Ari foram arranjadas e organizadas por uma terceira geração, em três vezes, e por três compiladores. O primeiro compilador foi o sábio MAHARI Tzemach. Ele viveu na mesma época do MAHARA Azulai, que faleceu no ano de 1644.

Uma grande parte dos textos nos veio por ele, e ele organizou muitos de seus livros. O mais importante deles é o livro de Adam Yashár (Homem Íntegro), no qual  ele recolheu a raiz e os ensinamentos essenciais que estavam à sua disposição. No entanto, alguns dos livros que este Rabi tinha compilado foram perdidos. Na introdução de seu livro, Kol BeRama (Uma Alta Voz), ele apresenta todos os livros  que ele havia compilado.

O segundo compilador foi seu discípulo, MAHARAM Paprish. Ele fez mais do que o seu Rabi, uma vez que alguns dos livros que foram realizadas pelo sábio MAHARASH Vital vieram através de suas mãos, e ele compilou muitos livros. O mais importante entre eles são os livros, Etz haChaim (A Árvore da Vida) e Pri Etz haChaim (Fruto da Árvore da Vida). Elas contêm todo o escopo da sabedoria em seu sentido mais amplo.

O terceiro compilador foi o sábio MAHARASH Vital, o filho de MOHARAR Chaim Vital. Ele era um grande e renomado sábio. Ele elaborou o famoso Oito Portais do patrimônio de seu pai lhe havia  deixado.

Assim, vemos que cada um dos compiladores não detém os escritos completos. É muito complexo o arranjo das questões, as quais são inadequadas para aqueles sem verdadeira proficiência no Zohar e Tikunim. Assim, poucos são aqueles que ascendem.

9)            Em troca disso, nós somos privilegiados por Ele ter sido recompensado com o espírito do Baal Shem Tov, cuja grandeza e santidade estão acima de qualquer palavra e qualquer enunciação. Ele não foi contemplado e não será contemplado, exceto por aqueles dignos que tenham servido sob sua Luz, e eles, também, apenas  de forma intermitente, a cada um, segundo o que recebeu em seu coração.

É verdade que a Luz de sua Torá e Sabedoria Sagrada são construídas principalmente nas sagradas bases de Ari. No entanto, eles não são de todo semelhantes. Vou explicar isso com uma alegoria de uma pessoa que está se afogando no rio, subindo e descendo como as pessoas se afogando fazem. Às vezes, só o cabelo é visível, e, então o conselho é agarrá-lo pela sua cabeça. Outras vezes, seu corpo aparece tão bem, e, então o conselho é agarrá-lo do lado oposto ao seu  coração.

Assim é a questão diante de nós. Depois de Israel ter se afogado nas águas do mal do exílio das nações, a partir de então até agora, permanecendo nestas ascensões e quedas, e nem sempre são as mesmas. Na época do Ari, apenas a cabeça era visível. Assim, o Ari estava atribulado o nosso favor a fim de nos salvar através  da mente. Na época de Baal Shem Tov, houve alívio. Dessa forma, foi uma benção para nós para nos salvar do lado oposto do nosso coração, e que foi uma grande e verdadeira salvação para nós.

E para nossos muitos pecados, a roda foi girada novamente em nossa geração e nós temos caímos drasticamente, como se a partir do zênite ao nadir.

Além disso, há a colisão entre as nações, o que confundiu o mundo inteiro. As necessidades têm aumentado e a mente cresceu curta e corrupta na imundície do materialismo, que apreende a liderança. Cavaleiros e ministros servis andam  na terra, e tudo o que é dito em nosso estudo na supramencionada Masechet Sutá tornou-se realidade em nós, por nossos muitos pecados. Novamente, o muro de ferro foi erguido, mesmo com esta grande Luz do Baal Shem Tov, que temos dito iluminado na medida do estabelecimento da nossa redenção  completa.

E o sábio de coração, não acredita na possibilidade de que uma geração viria quando não podia ver pela sua Luz. Agora, nossos olhos se escureceram, nosso bem tem sido roubado, e quando eu vi isso eu disse: “É tempo de agir!” Assim, vim abrir amplamente as portas da Luz do Ari, pois ele é realmente capaz e apto para a nossa geração, também, e “Dois é melhor que um”.

Nós não devemos ser responsabilizados pela brevidade na minha  composição, uma vez que ela corresponde e se adapta a qualquer amante da sabedoria, como muito vinho perde o sabor e a realização se tornará mais difícil para o discípulo.

Além disso, nós não somos responsáveis por aqueles obesos de coração, uma vez que a linguagem para ajudá-los ainda tem que ser criada. Onde quer que eles descansem os olhos, eles acham loucura, e há uma regra que, da mesma fonte onde o sábio faz a sua sabedoria, o tolo faz sua loucura.

Assim, eu estou no início do meu livro e aviso que eu não tenho perturbado a todos, para todos aqueles que gostam de olhar através das janelas. Pelo contrário,   é para aqueles que se importa com as palavras do Criador e por muito tempo para o Criador e Sua Bondade, para completar o objetivo para o qual eles foram criados, para com o desejo de Deus, o verso: “Todos aqueles que Me procuram, Me encontrarão”, deve tornar-se realidade neles.

Está escrito, “para os que são retos de coração”. O oposto é “Um coração que maquina pensamentos perversos”. Encontrei um verso que contém todas as Mitzvot (mandamentos), o qual é, “Tu deves temer o Senhor teu Deus; e a Ele tu deves servir”.

A palavra “temer” contem todas as Mitzvot negativas nas palavras, no coração, e nas ações. Este é o primeiro grau a partir do qual se ascende para a obra de Deus, os quais contem todas as Mitzvot positivas.

Estas acostumarão o coração e o guiarão até aderir-se ao Senhor, para que o homem foi criado. Ele não foi criado para adquirir fortunas ou para a construção de edifícios. Assim, deveria procurar tudo que o trouxesse a amar a Ele, aprender a sabedoria e a busca da fé.

E o Criador abrirá os olhos de seu coração e renovará um espírito diferente dentro dele. Então ele será amado por seu Criador em sua  vida.

Saibam que a Torá foi dada apenas para os homens de coração. Palavras são como cadáveres e Ta’amim (sabores) como almas. Se a pessoa não entende os Ta’amim, todo o seu esforço fica em vão e o trabalho se  perde.

É como se uma pessoa se empenhasse para contar as letras e palavras de um livro de medicina. Nenhuma cura viria desse trabalho. É também, como um camelo transportando seda; que não beneficia a seda, nem a seda o  beneficia.

Nós podemos extrair somente isso de suas palavras; aferre-se à meta para o qual o homem foi criado. Ele diz isso sobre a  Dvekút com o Criador.

Assim, ele diz que se devem procurar todos os meios que induza a amá-Lo, aprender a sabedoria e buscar a fé, até que o Criador o recompense com a abertura dos seus olhos e o renove com um espírito  diferente dentro dele. Neste momento, ele será amado por seu Fazedor.

Ele deliberadamente faz o que é preciso, para ser amado em sua vida por seu Criador. Isso indica que enquanto ele não adquiriu isto, seu trabalho estava incompleto, e o trabalho nos foi dado necessariamente para ser feito hoje. É como ele termina, que a Torá foi dada somente aos homens de coração, significando que adquiriram o coração para amar e desejar a Ele. Os sábios os chamam de “sábios de coração”, desde que já não há mais uma descida, um espírito animalesco lá, porque  a inclinação para o mal está presente somente em um coração vazio de sabedoria.

Ele interpreta e diz que as palavras são como cadáveres e as Ta’amim, como almas. Se alguém não entende as Ta’amim, é semelhante a alguém que se empenha contando páginas e palavras de um livro de medicina. Esse empenho não trará nenhum remédio.

Ele quer dizer que a pessoa é obrigada a achar os meios de adquirir a posse acima mencionada. É porque quando alguém pode provar os sabores da Torá, que   é a sabedoria interior e seus mistérios, e os sabores da Mitzvá, que é o amor interior  e o desejo por Ele.

Sem isso, a pessoa tem somente as palavras e as ações, corpos mortos sem almas. È como alguém que trabalha contando páginas e palavras em um livro de medicina. Etc. Certamente, ele não se aperfeiçoará em medicina sem antes entender o significado da medicina ali descrita.

Mesmo depois que alguém o compra, por qualquer preço que foi pedido, se as realizações do estudo e das ações não estão dispostas a levá-lo a ele, é como um camelo transportando seda, isso não beneficia a seda e a seda não o beneficia, para trazê-lo para completar o objetivo para o qual foi  criado.

11)         De acordo com estas palavras, nossos olhos foram abertos com respeito às palavras do Rabi Shimon in Midrash Raba, Parasha 6, sobre o verso: “Façamos o homem”. Quando o Criador veio para criar o homem, Ele consultou o ministério de anjos, e eles foram divididos em facções e grupos. Alguns diziam “Que ele seja criado” e alguns diziam “Que ele não seja criado” como está escrito, “Misericórdia e verdade se encontraram; a justiça e a paz se beijaram”.

  • A Misericórdia disse: “Deixe-o ser criado, pois ele faz ações misericordiosas”.
  • A Verdade disse: “Não o deixe ser criado, pois ele é todas as mentiras”.
  • Os Justos disseram: “Deixe-o ser criado, pois ele realiza justiça”.
  • A Paz disse: “Não o deixe ser criado, pois ele é toda a contenda”.

O que o Criador fez? Ele tomou a Verdade e a jogou no chão, como está escrito, “E lançou a verdade por terra”. Os anjos disseram perante o Criador: “Por que desgraças seu selo? Deixe a Verdade vir do chão, como está escrito, “A Verdade brota da terra”

Este texto é difícil de todos os lados:

  1. Ele não explicou a gravidade do verso, “Façamos o homem”. É um conselho que Ele precisa, como está escrito, “Deliberação no coração de um conselho?”
  2. Com respeito à Verdade, como isso pode ser dito que toda a espécie humana são todas as mentiras, quando não há uma geração sem tais como Abraãm, Isaac e Jacó?

iii.           Se as palavras da Verdade são sérias, como os anjos da Misericórdia e da Justiça concordaram com um mundo que fosse todas as  mentiras?

  1. Por que a Verdade é chamada “Selo”, o qual vem à borda de uma carta? Certamente, a realidade existe principalmente fora do selo. Não há realidade fora das fronteiras da Verdade?
  2. Podem verdadeiros anjos pensarem do Verdadeiro Operador que a operação dEle é falsa?
  3. Por que a Verdade mereceu uma punição tão áspera para ser jogada na terra e dentro da terra?

vii.          Por que a resposta dos anjos não está na Torá, enquanto que sua pergunta está?

Nós precisamos entender essas duas condutas colocadas diante de nossos olhos, que são completamente opostas. Estas são as condutas da existência de toda realidade desse mundo e as condutas dos modos de existência para a subsistência de cada  um  na  realidade  perante  nós.  Deste  extremo,  encontramos  uma  conduta confiável na orientação totalmente afirmada, a qual controla os feitos de toda e cada criatura na realidade.

Vamos tomar a geração de um ser humano como exemplo. O amor e o prazer são a primeira razão, certa e confiável para sua tarefa. Logo que é desarraigado do cérebro de seu pai, a Providência fornece um lugar seguro e protegido entre os fundamentos do abdômen da mãe, para que nenhum estranho possa tocá-la.

Lá a Providencia lhe fornece o pão de cada dia na medida certa. Isto atende toda sua necessidade sem esquecê-la por um momento sequer, até que ganhe força para sair ao ar de nosso mundo, o qual é cheio de  obstáculos.

Neste momento, a Providência lhe dá poder e força, e como um herói experiente e armado, ela abre as portas e quebra as paredes até que chegue às pessoas que acredita que possa ajudá-las a passar por seus dias de fraqueza com amor e grande compaixão para sustentar sua existência, assim elas são as pessoas mais preciosas para ela no mundo inteiro.

Assim, a Providência a abraça até que a qualifique para existir e continuar sua existência adiante. Assim é com o homem, e assim também é com os animais e  a flora. Todos são maravilhosamente cuidados, assegurando sua existência, e cada cientista da natureza sabe disto.

No outro extremo, quando nós consideramos a ordem da existência e sustento nos modos de vida da realidade inteira, grande e pequeno, nós encontramos ordens confusas, como se um exército estivesse fugindo da campanha doente, espancada, e afligida pelo Criador. Toda sua vida é como a morte, não tendo nenhuma subsistência ao menos que seja atormentada primeiro, arriscando sua vida pelo seu pão.

Mesmo um minúsculo piolho quebra os dentes quando sai para uma refeição. Quanto ele se esforça para obter alimento o bastante para seu sustento? Da mesma forma como acontece com ele, acontece com todos, grandes e pequenos, e tanto mais com seres humanos, a elite da Criação, que está envolvida em tudo.

12)         Nós discernimos dois opostos nas dez Sefirot da Kedushá (Santidade). As primeiras nove Sefirot estão na forma de doação, e Malchut significa recepção. Além disso, as nove primeiras estão preenchidas de Luz, e Malchut não tem nada de si própria.

Este é o significado de nossa discriminação dos dois discernimentos da Luz em cada Partzuf: Ohr Pnimi (Luz Interna) e Ohr Makif (Luz Circundante), e dois discernimentos nos Kelim (Vasos), que são o Kli (Vaso) Interior para Ohr Pnimi e um Kli Exterior para Ohr Makif.

Isto é devido aos dois opostos supramencionados, assim como é impossível para dois opostos estarem no mesmo sujeito. Assim, um sujeito específico é necessário para o Ohr Pnimi e um sujeito específico para o Ohr  Makif.

No entanto, eles não são realmente opostos na Kedushá, uma vez que Malchut está em Zivug (Acoplamento), com as nove Superior, e sua qualidade de doação, também, sob a forma de Ohr Chozêr (Luz Retornante). Mas a Sitra Achra (Outro Lado) não tem nada das nove Superiores. Eles são construídos principalmente a partir do Espaço Vazio, o qual é a forma completa de recepção, no qual o primeiro Tzimtzum (Restrição) ocorreu. Essa raiz ficou sem Luz, mesmo após a iluminação do Kav (Linha) alcançada dentro da Reshimô (Reminiscência).

Por esta razão, eles são dois completos opostos, comparados com a vida e Kedushá, como está escrito: “Deus fez igualmente um, assim como o outro”, daí eles são chamados “mortos”.

Foi explicado acima, Item 6, que a questão do Tzimtzum era somente para o adorno das almas, sobre a Similaridade de Forma com o seu Criador, que é a inversão dos vasos de recepção para a forma de doação.

Você percebe que esse objetivo ainda é negado da perspectiva dos Partzufim de Kedushá (Rostos da Santidade). Isso é porque não há nada lá do Espaço Vazio, que é a forma completa de recepção, sobre a qual estava o Tzimtzum, portanto, nenhuma correção será aplicada a ele, pois não existe na realidade.

Além disso, não há nenhuma correção aqui da perspectiva da Sitra Achra, embora tenha um Espaço Vazio, uma vez que tem um interesse completamente oposto, e tudo o que ele recebe morre.

Por isso, é apenas um humano neste mundo que precisamos. Na infância,  ele é sustentado e apoiado pela Sitra Achra, herdando os Kelim do seu Espaço Vazio. Quando ele cresce, ele se conecta a estrutura do Kedushá através do poder da Torá e Mitzvot para doar contentamento ao seu Fazedor.

Assim, a pessoa transforma a total medida de recepção que já adquiriu para ser exclusivamente organizada para doação. Desse modo, ela equivale a sua forma com o seu Fazedor e o objetivo se torna realidade  nela.

Este é o significado da existência do tempo neste mundo. Você descobre isso em primeiro lugar, esses dois opostos acima foram divididos em dois assuntos separados, chamados Kedushá e Sitra Achra, por meio de, “um assim como o outro”. Eles ainda estão desprovidos da correção acima, pois eles devem estar no mesmo assunto, que é o homem.

Portanto, a existência de uma ordem de tempo é necessária para nós, desde então, os dois opostos irão se transformar em uma pessoa, um por um, ou seja, sentindo             uma       hora      a             Katnut  (infância)            e             em         outra     a             Gadlut  (idade adulta/maturidade).

13)         Agora você pode entender a necessidade da quebra dos vasos e suas propriedades, como está escrito no Zohar e nos escritos do Ari, que duas espécies de Luz estão presentes em cada dez Sefirot, correndo para trás e para  frente.

  • A primeira Luz é Ohr Ein Sóf (Luz do Infinito), que se desloca de Cima para baixo. Ela é chamada Ohr Yashár (Luz Direta).
  • A segunda Luz é resultado do Kli de Malchut, retornando de baixo para Cima, chamada Ohr Chozêr (Luz Retornante).

Ambos unidos num só. Saiba que a partir do Tzimtzum para baixo, o ponto do Tzimtzum é desprovido de qualquer Luz e continua a ser um Espaço Vazio. A Luz Superior não pode mais aparecer na última Bechiná (discernimento) antes do fim da correção, e isso é dito particularmente sobre Ohr Ein Sóf, chamada Ohr Yashár. No entanto, a segunda Luz, chamada Ohr Chozêr, pode aparecer na última Bechiná, uma vez que o caso do Tzimtzum não se aplica a ela.

Agora aprendemos que o sistema da Sitra Achra e das Klipót (Cascas) é uma necessidade para o propósito do Tzimtzum, a fim de instilar na pessoa os grandes vasos de recepção, enquanto em Katnut, quando se está dependente  dela.

Logo, a Sitra Achra também precisa de abundância. Onde ela iria levá-lo se  ela é feita exclusivamente da última Bechiná, a qual é um espaço que está vazio de qualquer Luz, já que desde o Tzimtzum para baixo a Luz Superior é completamente separada dela?

Assim, a questão da quebra dos vasos tinha sido preparada. A quebra indica que uma parte do Ohr Chozêr do mundo de Nekudim descenderam de Atzilut para o Espaço Vazio. E você já sabe que o Ohr Chozêr pode aparecer no Espaço Vazio, também.

Essa parte, o Ohr Chozêr que desceu de Atzilut exteriormente, contém trinta   e duas Bechinot (discernimentos) especiais de toda e cada Sefirá das dez Sefirot de Nekudim. Dez vezes trinta e dois é 320, e estas 320 Bechinot que desceram, foram preparadas para o sustento da existência dos inferiores, que vêm para eles em dois sistemas, como está escrito: “Deus fez igualmente um, assim como os outros”, ou seja, os mundos de ABYA de Kedushá e oposto a eles os mundos de ABYA de Sitra Achra.

Na interpretação do verso, “e uma pessoa será mais forte do que as outras pessoas”, nossos sábios disseram que, quando um se eleva, o outro cai, e Tzor é construída apenas sobre as ruínas de Jerusalém. Isto é assim porque todas estas 320 Bechinot podem aparecer para a Sitra Achra, no momento em que a estrutura do sistema de Kedushá, com relação a esses inferiores, é completamente arruinada.

Além disso, esses 320 Bechinot podem ligar-se exclusivamente à Kedushá. Naquele tempo, o sistema da Sitra Achra é completamente destruído da terra, e elas podem se dividir mais ou menos uniformemente entre elas, de acordo com as ações das pessoas. E assim elas encarnam nos dois sistemas, até que a correção seja concluída.

Após a quebra dos vasos e do declínio das 320 Bechinot de centelhas de Luz de Atzilut para o exterior, 288 delas foram classificadas e se elevaram, ou seja, tudo   o que desceu das primeiras nove Sefirot das dez Sefirot de Nekudim. Nove vezes trinta  e dois são 288 Bechinot, e elas são as que se reconectaram à construção do sistema de Kedushá.

Vemos que apenas trinta e duas Bechinot permaneceram para a Sitra Achra das que haviam descido de Malchut do mundo de Nekudim. Este foi o início da estrutura da Sitra Achra, na sua extrema pequenez, quando ela ainda é imprópria para a sua tarefa. A conclusão de sua construção terminou mais tarde, pelo pecado de Adam HaRishon com a Árvore do Conhecimento.

Assim, vemos que existem dois sistemas, um oposto ao outro, operando na persistência e na sustentação da realidade. A porção de Luz necessária para essa existência é de 320 centelhas. Estas foram preparadas e mensuradas pela quebra dos vasos. Esta porção é para equilibrar os dois sistemas, e é disso que as condutas da sustentação e existência da realidade dependem.

Saiba que o sistema de Kedushá deve conter, pelo menos, uma porção de 288 centelhas para completar suas nove Sefirot superiores, e então ele pode manter e fornecer para a existência dos inferiores. Isto é o que ele tinha antes do pecado de Adam HaRishon, e por isso toda a realidade foi então conduzida pelo sistema de Kedushá, uma vez que tinha todas as 288 centelhas.

14)         Agora, encontramos a abertura para o estudo acima, em relação às quatro seitas, Misericórdia, Justiça, Verdade e Paz, que negociaram com o Criador sobre a criação do homem. Esses anjos são os servos da alma do homem, por isso, Ele negociou com eles, uma vez que o próprio ato da Criação foi criado de acordo com eles, assim como toda e qualquer alma é composta das dez Sefirot em Ohr Pnimi e Ohr Makif.

  • A Misericórdia é Ohr Pnimi das nove primeiras da alma.
  • A Justiça é Ohr Pnimi da Malchut da alma.
  • A Verdade é Ohr Makif da alma.

Já dissemos que Ohr Pnimi e Ohr Makif são opostas, já que Ohr Pnimi é atraída pela lei da iluminação do Kav, que é impedido de aparecer no momento do Tzimtzum, que é a forma de recepção de Gadlut.

Ohr Makif estende do Ohr Ein Sóf, que envolve todos os mundos, uma vez que lá, no Ein Sóf, grandes e pequenos são iguais. Por esta razão, Ohr Makif também brilha e doa em cima do ponto de Tzimtzum muito menos para  Malchut.

Uma vez que eles são opostos, dois Kelim são necessários. Isso ocorre porque Ohr Pnimi ilumina nas nove Superiores. Mesmo para Malchut, ela brilha somente de acordo com a lei das nove Superiores, e não propriamente para ela. No entanto, o Ohr Makif brilha nos Kelim que se estendem especificamente do ponto de Tzimtzum, que é chamado de “Kli Externo”.

Agora você pode entender porque a Verdade é chamada de “Selo”. É um nome emprestado de um selo na borda de uma carta, no fim das matérias. No entanto, ela afirma e lhes dá validade. Sem o selo eles são inúteis, e todo o texto é desperdiçado.

É o mesmo com o Ohr Makif que doa sobre o ponto do Tzimtzum, que é a medida Gadlut de recepção, até que equalize a sua forma com o seu Fazedor em doação. Na verdade, este é o propósito de todos os mundos limitados, Superior e inferior.

O protesto da Verdade sobre a criação do homem é a sua afirmação de que   é tudo mentira. Isto é assim porque, da perspectiva do Criador, o homem não tem um Kli Exterior, que ele precisa tirar do ponto de Tzimtzum, pois ela já foi separada de sua luz. Assim, os Anjos da Verdade não poderiam ajudar o homem a obter a Ohr Makif.

Todos os mundos limitados, Superior e inferior, foram criados exclusivamente para esta conclusão, e este homem deve ser o seu único sujeito. Mas desde que este homem é impróprio para o seu papel, eles são todos abismo e falsidade, e o trabalho neles – inútil.

É o oposto com os anjos da Misericórdia e da Justiça, que pertencem especificamente ao Ohr Pnimi da alma. Porque ele não tem nada do Espaço Vazio, que poderia conceder-lhe todas as Luzes de Neshamá abundantemente, na perfeição mais sublime.

Assim, eles estavam felizes em beneficiá-lo e concordaram de todo coração com a criação do homem. Porque eles são NEHY que entram por Zivug de Haka’á (Acoplamento por Golpe), eles pertencem à metade do Ohr Makif a partir da perspectiva do Ohr Chozêr nele.

Os anjos da Paz alegam que ele é toda a contenda. Em outras palavras, como ele vai receber Ohr Makif? No final, eles não podem vir no mesmo assunto com o Ohr Pnimi, porque são opostos entre si, ou seja, toda a  contenda.

Ohr Makif é discernido em duas: o futuro Ohr Chozêr e o futuro Ohr Makif.  O Kli Externo para o Ohr Chozêr é a Massach (Tela) e o Kli Externo para o Ohr Makif é a própria Aviut de Bechiná Dálet (Quarto Discernimento), chamado o Coração de Pedra.

Vemos que Adam HaRishon carece apenas do Kli Exterior, que pertence aos anjos da Verdade. Ele não carece do Kli Exterior, pertencentes aos anjos da Paz. Assim, eles concordaram com a Criação, mas afirmaram que ele é toda a contenda,  o que significa que o Ohr Makif não pode entrar no Kli Interior, uma vez que são opostos.

15)         Agora nos foi concedida a compreensão do resto dos versos no pecado  da Árvore do Conhecimento do bem e do mal, que são mais profundos. Nossos sábios, que revelaram uma porção deles, ocultaram dez porções com suas palavras.

Como prefácio, está escrito: “E ambos estavam nus, o homem e sua esposa, e não se envergonhavam”. Saiba que a roupa significa um Kli Exterior. Assim, o texto precede para demonstrar a razão para o pecado da Árvore do Conhecimento, assim como está escrito no verso, “Difamação é terrível para os filhos do homem, na difamação você vem sobre ele”.

Isso significa que seu pecado tinha sido preparado com antecedência, e este  é o significado das palavras que Adam e sua esposa não tinham um Kli Exterior no momento da criação, mas apenas Kelim Interiores, que se estendem do sistema de Kedushá, portanto, eles não se envergonhavam. É por isso que não sentiam sua falta, pois a vergonha refere-se a uma sensação de ausência.

Sabe-se que a sensação de ausência é a primeira razão para a realização da deficiência. É como alguém que sente sua doença e está disposto a receber a medicação. No entanto, quando a pessoa não sente que está doente, ela certamente evitará todas as medicações.

Na verdade, essa tarefa é para o Kli Exterior fazer. Uma vez que ele está na construção do corpo e está vazio de Luz, pois ele vem do Espaço Vazio, que gera a sensação de vazio e escassez nele, pelo qual fica envergonhado.

Assim, somos compelidos a voltar a preencher a ausência e extrair a falta do Ohr Makif, que está prestes a preencher esse Kli. Este é o significado do versículo: “E ambos estavam nús, o homem e sua esposa”, do Kli Exterior. Por esta razão, eles não tinham vergonha, pois eles não sentiam a sua ausência. Dessa maneira, eles são desprovidos do propósito pelo qual foram criados.

No entanto, devemos entender a sublimidade daquele homem, feito pelas mãos do Criador. Além disso, sua esposa, a quem o Criador administrou mais inteligência do que ele, como eles escreveram (Nidah 45) na interpretação do verso: “E o Senhor fez a costela”.

Assim, como é que eles falham e se tornam tolos, não sabendo tomar cuidado com a astúcia da serpente? Por outro lado, aquela serpente, de que o texto atesta que era mais esperta do que todos os animais do campo, como ela proferiu tal loucura e vazio de que se eles comessem do fruto da Árvore do Conhecimento eles se tornariam Deus? Além disso, como é que essa loucura se estabeleceu em seus corações?

Além disso, é dito abaixo que eles não comeram por causa do desejo deles  de tornarem-se Deus, mas simplesmente porque a árvore é boa para comer. Este é aparentemente um desejo bestial!

16)         Devemos reconhecer a natureza dos dois tipos de discernimentos a que estamos habituados:

  • O primeiro discernimento é chamado de “discernimento entre o bem e o mal”.
  • O segundo discernimento é chamado de “discernimento entre o verdadeiro e o falso”.

Isso significa que o Criador implantou em cada criatura uma força de discernimento que executa tudo que é bom para ela levando-a a desejada perfeição. O primeiro discernimento é a força física ativa. Ela opera usando a sensação do amargo e doce, que detesta e repele o amargo, uma vez que é ruim para ela, amando e atraindo o doce porque é bom para ela. Essa força operacional é suficiente nos reinos Inanimado, Vegetativo e Animal a fim de levá-los à sua desejada perfeição.

Acima deles está a espécie humana, na qual o Criador instilou uma força operacional racional. Ela atua utilizando a segunda opção de discernimento acima, rejeitando a falsidade e o vazio ao ponto de sentir náusea, atraindo verdades e benefícios com grande amor.

Esse discernimento é chamado de “discernimento entre o verdadeiro e o falso”. Somente existe na espécie humana, cada um na sua própria medida. Saiba que esta segunda força atuante foi criada e colocada no homem por causa da serpente. Na criação, ele possuía apenas a primeira força ativa, do discernimento entre o bem e o mal, que era suficiente para ele àquela  época.

Deixe-me explicar-lhe através de uma alegoria: Se os justos fossem recompensados de acordo com suas boas ações e os fracos punidos de acordo com suas más ações nesse mundo, Kedushá seria determinada para nós na realidade do doce e bom, e a Sitra Achra seria imputada na realidade do mau e amargo.

Nesse estado, o mandamento da escolha nos alcançaria, conforme está escrito, “Veja, eis que Tenho posto diante de ti o doce e o amargo, portanto escolha o doce”. Dessa forma, todos teriam garantia de atingir a perfeição, pois certamente fugiriam do pecado, pois lhes é prejudicial. Estariam ocupados em Suas Mitzvot dia após dia, incessantemente, assim como os tolos de hoje com suas preocupações materiais e suas impurezas, já que é bom e doce para eles. Assim foi a questão de Adam HaRishon quando Ele o criou.

“E o colocou no Jardim do Éden para vesti-lo e protegê-lo”. Nossos sábios interpretam que “para vesti-lo” são as Mitzvot positivas, e “protegê-lo” são as Mitzvot negativas. Suas Mitzvot positivas eram comer e deliciar-se com todas as árvores do Jardim, e suas Mitzvot negativas eram não comer da Árvore do Conhecimento do bem e do mal. As Mitzvot positivas eram doces e agradáveis e as Mitzvot negativas eram afastar-se da frutas amargas que são duras como a morte.

Não é surpresa que essas não possam ser chamadas Mitzvot e trabalho. Nós encontramos suas semelhanças em nossas tarefas atuais, onde, através dos prazeres do Shabat e bons dias somos recompensados com a sublime Kedushá. E também somos recompensados com o distanciamento de répteis e insetos e tudo aquilo que nos incomoda.

Observe que a escolha na tarefa de Adam HaRishon encontrava-se em “portanto escolha o doce”. Entende-se que o paladar físico por si só era suficiente para todas as suas necessidades, para saber o que o Criador ordenou e o que Ele não ordenou.

17)         Agora nos podemos entender a astúcia da serpente, a qual foi adicionada pelos nossos sábios e nos informaram que SAM se revestiu nela, porque suas palavras eram muito elevadas. E começou com: “Sim, Deus disse: ‘Não comerás de nenhuma árvore do jardim?’ Quer dizer que ele começou a falar com ela pois a mulher não foi ordenada pelo Criador. Assim, ela perguntou sobre os modos de verificação, ou seja, como você sabe que a Árvore do Conhecimento tinha sido proibida? Talvez todos   os frutos do Jardim fossem proibidos para você também? “E a mulher disse… ‘Dos frutos das árvores do Jardim nós podemos comer’; …Vós não podereis comê-los nem tocá-los para que não morras”.

Há dois grandes pontos aqui:

  1. Tocar nunca havia sido proibido; ou seja, porque ela incluiu a proibição?
  2. Teria ela duvidado das palavras do Criador? O Criador disse, “tu certamente morrerás” e a mulher disse, “para que não morras”. Poderia ela não ter acreditado na palavra do Criador mesmo antes do pecado?

Porém, a mulher respondeu de acordo com a pergunta da serpente. Ela sabia que o Criador havia proibido, e que todas as árvores do Jardim são doces e gostosas para comer. Contudo, ela já estava perto de tocar a árvore dentro do Jardim, e provar um gosto tão ruim quanto a morte.

Ela constatou a sua própria observação, há o medo da morte mesmo com um simples toque. Por esse motivo ela entendeu a proibição muito mais do que ouvira de seu marido, pois não há nada tão sábio quanto o  experiente.

“Para que não morras” se refere ao toque. A resposta deve ter sido suficiente, pois quem interferiria e negaria outro sabor? Contudo a serpente a contrariou e disse “Certamente não morrerás; pois Deus sabe que o dia que comeres do fruto, seus olhos serão abertos”.

Nós devemos ser precisos sobre a questão de abrir olhos neste lugar. De fato, ela a informou de uma nova coisa, além dela. Isso provou para eles que é insensato pensar que o Criador faria algo que fosse danoso ou prejudicial ao seu próprio mundo. Então tudo que diz respeito ao Criador com certeza não pode ser algo ruim ou prejudicial.

Ao invés dessa amargura que você provará, quando mesmo perto de tocar, e somente na sua parte, uma vez que comer é para te comunicar da altura de seu mérito. Assim, é a Kedushá adicional que você precisa durante o ato, então o seu único objetivo será trazer contentamento ao seu Fazedor, mantendo o objetivo pelo qual você foi criado. Por esta razão parece mau para você, então você entenderá a Kedushá adicional exigida de você.

“Pois no dia em que comeres dela”, ou seja, se o ato está em Kedushá e pureZATão claro quanto o dia, então “serás como Deus, conhecendo o bem e o mal”. Isto significa que como isto é certamente doce ao Criador e completamente igual, então bem e mal será para você equivalente a doce e  suave.

Então é possível duvidar da credibilidade da serpente, uma vez que o Criador não disse isto de Si Mesmo. Portanto, primeiro a serpente disse: “Deus sabe que o dia que comeres os seus olhos serão abertos”.

Isso significa que não é necessário para o Criador notificar você disso, pois ele sabe que se você prestar atenção nisto, e comer no lado de Kedushá, seus olhos serão abertos por si mesmos, para entender a medida de Sua grandeza. Você sentirá a maravilhosa doçura e suavidade que há nEle; portanto, Ele não precisa deixar você saber, logo Ele deu a você a força do discernimento para que você saiba qual é o seu benefício por você mesmo.

Está escrito após isso que: “Quando a mulher viu que árvore era boa para comer, e que era agradável aos olhos”. Isso significa que ela não confiou nas palavras dEle, mas foi e examinou com a sua própria consciência, entendimento, e santificou- se com Kedushá adicional para trazer contentamento ao Criador e para completar os objetivos desejados por ela, e não para ela mesma. Neste momento, seus olhos foram abertos, quando a serpente disse: “E a mulher viu que a árvore era boa para comer”.

Em outras palavras, vendo que “era um deleite para os olhos” antes mesmo dela tocar, ela sentiu a doçura e a luxúria, quando seus olhos viram por si mesmos que ela nunca havia visto algo tão desejável dentre todas as árvores do Jardim.

Ela também aprendeu que a árvore era boa para o conhecimento, ou seja, há muito mais para se desejar e cobiçar naquela árvore do que em todas as demais árvores do Jardim. Isso se refere ao fato de que eles foram criados para este ato de comer, e que esse era o propósito, assim como a serpente tinha lhe dito.

Depois de todas essas observações “ela tomou do seu fruto, e comeu; e ela deu também para ao seu marido com ela, e ele comeu”. O texto escreve precisamente “com ela”, ou seja, com a pura intenção de apenas doar, e não apenas para suas próprias necessidades. Em outras palavras “ela deu também ao seu marido com ela” com ela na Kedushá.

18)         Chegamos agora ao cerne da questão e do erro relativo à sua própria perna. Esta Arvore do Conhecimento do bem e do mal foi misturada com o Espaço Vazio, ou seja, com a forma Gadlut de recepção em que o Tzimtzum foi executado e do qual o Ohr Elyon se afastou.

Também foi explicado que Adam HaRishon não têm qualquer forma Gadlut de recepção em sua estrutura, que se estende do Espaço Vazio. Em vez disso, ele se estendeu exclusivamente do sistema da  Kedushá, voltado apenas para a doação.

Está escrito no Zohar (Kedoshim), que Adam HaRishon não tinha nada deste mundo. Por esta razão, a Árvore do Conhecimento foi proibida a ele, assim como sua raiz e todo o sistema da Kedushá estão separados da Sitra Achra, devido à sua Diferença de Forma, que é a separação.

Assim, ele, também, foi ordenado e advertiu sobre a conexão com ela, pois assim como ele seria separado de sua santa raiz e morreria como a Sitra Achra e as Klipót que morrem devido a sua oposição e separação da Kedushá e da Vida de Vidas.

No entanto, Satan, que é SAM, o anjo da morte que se vestia na serpente, desceu e seduziu Eva com dolo em sua boca: “Vós certamente não morrereis”. Sabe- se que qualquer mentira não se sustenta se não for precedida por palavras de verdade. Por isso, ele começou com uma palavra verdadeira e revelou o propósito da Criação para ela, que só veio para corrigir essa árvore, ou seja, inverter os grandes vasos de recepção, invertendo-os ao lado da doação.

Ele disse a ela que Deus tinha comido dessa árvore e criou o mundo, ou seja, olhou para essa matéria na forma de “O fim de um ato está no pensamento preliminar”, e por esta razão que Ele criou o mundo. Como vimos acima, toda a questão do primeiro Tzimtzum foi só para o homem, destinado a uniformizar a forma de recepção para a doação.

Isto era a verdade, é por isso que ela sucedeu e a mulher acreditou nela quando ela se preparou para receber e desfrutar unicamente em prol de doar. Vemos que, de algum modo, o mal desapareceu da Árvore do Conhecimento do bem e do mal, e a Árvore do Conhecimento do bem  permaneceu.

Isso é porque o mal lá é somente a diferença da forma de recepção para “si mesmo”, que foi gravado nele. No entanto, com a recepção em prol de doar, ele é levado à sua perfeição completa, e assim vemos que ela fez a grande unificação, como deve ser no fim do ato.

No entanto, essa Kedushá sublime ainda era prematura. Ela só estava apta para suportá-la na primeira mordida, mas não na segunda mordida. Vou explicar-lhe que aquele que se abstém do prazer antes de ter provado e se acostuma, não é como aquele que se abstém de prazer, depois de ter provado e se conecta a ele. O primeiro certamente pode abster-se de uma vez por todas, mas o outro precisa se esforçar para se abster de seu desejo pouco a pouco até que o assunto seja  concluído.

Assim é aqui, pois a mulher ainda não havia provado da Árvore do Conhecimento, e estava completamente em doação. Por esta razão, foi fácil para ela realizar a primeira mordida, a fim de doar contentamento ao Criador em Kedushá absoluta. No entanto, depois de ter provado, um grande desejo e cobiça pela Árvore do Conhecimento foi criado nela, ao ponto em que ela não podia se abster de seu desejo, uma vez que a situação havia saído do seu  controle.

É por isso que nossos sábios disseram que ela comeu prematuramente, ou seja, antes de ter maturidade, antes que eles adquirissem força e poder para governar sobre o seu desejo. É semelhante ao que os sábios disseram em Masechet Yevamot, “Eu comi e vou comer mais”. Isto significa que, mesmo quando ele tinha ouvido falar explicitamente que o Criador estava irado com ele, ele ainda não podia abster- se dele, posto que a luxúria já havia se conectado a ele. Vemos que a primeira mordida foi do lado da Kedushá, e a segunda mordida foi em grande imundície.

Agora podemos entender a gravidade da punição da Árvore do Conhecimento, pelas quais todas as pessoas são condenadas à morte. Esta morte provém de comer dele [o fruto], assim como o Criador tinha avisado, “no dia em que comeres dele, certamente morrerás”.

O fato é que a forma de recepção Gadlut estende seus braços do Espaço Vazio, e do Tzimtzum em diante, não sendo mais possível para ela, que esteja sob o mesmo teto com o Ohr Elyon (Luz Superior). Assim, o eterno sopro da vida, expresso no verso, “e soprou nas suas narinas o sopro da vida”, teve que sair de lá e depender de uma fatia de pão para o seu sustento transitório.

Esta vida não é uma vida eterna, como antes, quando era para si mesmo. É, ao invés, semelhante à de um “suor da vida”, uma vida que foi dividida em gotas minúsculas, onde cada gota é um fragmento de sua vida anterior. E este é o significado das centelhas de almas que foram espalhadas ao longo de seus descendentes. Assim, em todos os seus descendentes, todas as pessoas no mundo, em todas as gerações, até a última geração, que conclui o propósito da criação, são uma longa cadeia.

Segue-se que os atos do Criador não mudam em nada pelo pecado da Árvore do Conhecimento. Pelo contrário, esta Luz de vida que foi completa em Adam HaRishon foi ampliada e estendida em uma longa cadeia, girando na roda da transformação da forma até o fim da correção. Não há interrupção por um momento, uma vez que as ações do Criador devem ser vivas e duradouras, “Santidade é elevada, não diminuída”.

Assim é o caso do homem, isso é o que acontece com todas as criaturas no mundo, porque todos eles descendem de uma forma eterna e geral, na roda da transformação da forma, assim como o homem fez.

Tanto o homem quanto o mundo têm um valor interior e um valor exterior. O exterior sempre sobe e desce de acordo com o interior, e este é o significado de “No suor do teu rosto comerás o teu pão”. Ao invés do sopro de vida anterior que o Criador soprou em suas narinas, existe agora um suor da vida em suas narinas.

19)         Nossos sábios disseram (Babba Batra 17), “Ele é a inclinação ao mal, ele   é  Satan, ele é o anjo da morte. Ele desce e incita, sobe e reclama, ele vem e ele toma a sua alma”. Isto ocorre devido a duas corrupções gerais que ocorreram em função do pecado da Árvore do Conhecimento.

A primeira corrupção é a questão de “sobe e reclama”. Ele foi tentado a comer da Árvore do Conhecimento adquirindo um vaso de recepção do Espaço Vazio na estrutura de seu corpo. Isso, por sua vez, causou ódio e distanciamento entre a Luz eterna da vida que o Criador soprou nas narinas e no corpo de Adão.

É semelhante ao que eles disseram, “Todos aqueles que são orgulhosos, diz  o Criador, “ele e Eu não podemos viver na mesma morada”. Isso ocorre porque o orgulho provém dos vasos de recepção do Espaço Vazio, do qual o Ohr Elyon já partiu desde o Tzimtzum.

Está escrito no Zohar que o Criador odeia os corpos que são criados apenas para eles mesmos. Por esta razão, a Luz da vida os abandonou, sendo esta a primeira corrupção.

A segunda corrupção é a queda das 288 centelhas que já se encontravam conectadas ao sistema da Kedushá. Elas foram dadas e desceram para o sistema da Sitra Achra e Klipót evitando que o mundo fosse destruído.

Isso acontece porque o sistema da Kedushá não pode sustentar e nutrir as pessoas e o mundo, devido ao ódio criado entre a Kedushá e os Kelim do Espaço Vazio. Isso está de acordo com a lei dos opostos, “ele e Eu não podemos habitar a mesma morada”. Assim, as 288 centelhas foram dadas para o sistema da Sitra Achra  a fim de que ela nutrisse e sustentasse o homem e o mundo ao longo das encarnações das almas nos corpos, como está escrito, “Dez mil para uma geração, e por mil gerações”, até a correção final.

Agora você entende porque elas são chamadas de Klipót. É porque elas se assemelham às cascas de uma fruta. A casca dura envolve e cobre a fruta a fim de mantê-la longe de qualquer sujeira e perigo até que seja comida. Sem ela, a fruta seria corrompida e não cumpriria seu propósito. Assim vemos que as 288 centelhas foram dadas às Klipót, como forma de sustentar e qualificar a realidade até que se conectem e atinjam seu objetivo desejado.

A segunda corrupção supramencionada é a questão do “vem e toma sua alma”. Eu gostaria de dizer que, mesmo esta pequena parte da alma que permanece para uma pessoa, como “suor da vida anterior”, também é roubado pela Sitra Achra, através desta mesma doação que ela lhe dá a partir das 288 centelhas que caíram nela.

Para entender isso, você precisa de uma figura clara da Sitra Achra como ela realmente é. Assim, você será capaz de examinar todos seus caminhos. Todas as partes da realidade do mundo inferior são ramos, expandindo-se de suas raízes como um selo impresso dos Mundos Superiores, e o Superior daquele Acima dele e o Superior do seu próprio Superior.

Saiba que qualquer diferenciação de ramos a partir das raízes está apenas em relação às suas substâncias. Isso significa que as substâncias nesse mundo são corpóreas e as substâncias no mundo de Yetzirá são espirituais, relacionando-se à espiritualidade em Yetzirá. É assim em todos os mundos.

Entretanto, as ocorrências e os comportamentos neles têm o mesmo valor de cada ramo a partir de sua raiz, como duas gotas num lago, assim como a marca cuja forma é idêntica àquela deixada por um selo aplicado. E, uma vez que você saiba  isso, podemos procurar aquele ramo que a Sitra Achra superior tem nesse mundo e, através dela, conheceremos, também, a raiz da Sitra Achra  superior.

Encontramos no Zohar (Parashat Tazriya) que as aflições no corpo das pessoas são ramos da Sitra Achra superior. Assim, tomemos o nível Animal e vamos aprender a partir dele. Sabemos que o êxtase que ocorre em seu corpo através da aquisição do prazer é o que prolifera sua vida. Por esta razão, a Providência foi impressa nos pequenos, que qualquer lugar que eles repousem seus olhos proporciona-lhes prazer e contentamento, mesmo as coisas mais insignificantes.

Isso acontece porque o nível do menor deve proliferar suficientemente para crescer e brotar, por isso o prazer deles é tão intenso. Dessa forma descobre-se que a Luz do prazer é a progenitora da vida.

Entretanto, esta lei aplica-se apenas aos prazeres que atendam o nível como um todo. Mas no prazer da separação, onde o prazer é concentrado e recebido apenas por uma parte separada do nível Animal, verificamos a regra oposta. Se há uma parte defeituosa em sua carne, que precisa ser arranhada ou coçada, o ato de arranhar já traz a recompensa em si, à medida que a pessoa sente grande prazer nisso. Entretanto, este prazer está manchado com uma gota da porção da morte: se a pessoa não controla seus desejos e sucumbe a essas tentações, o pagamento terá um débito cada vez maior.

Em outras palavras, de acordo com o prazer de coçar, assim a aflição aumenta e o prazer se tornará em dor. Quando ele começar a se curar novamente, uma nova necessidade de coçar aparece, mais forte do que anteriormente. E se o indivíduo ainda não consegue controlar seu desejo, atuando a fim de preencher esta demanda, a aflição aumentará também.

Finalmente, ele traz uma gota amarga, envenenando completamente o  sangue daquele animal. Descobre-se que ele morreu ao receber prazer, já que é um prazer de separação, recebido apenas pela parte separada do nível. Assim, a morte opera no nível da maneira oposta do prazer  administrado ao nível inteiro.

Aqui temos diante de nós a forma da Sitra Achra superior da cabeça aos dedos dos pés. Sua cabeça é o desejo de receber para si mesmo e não compartilhar fora de si mesmo, da mesma forma de exigência que não será cumprida em relação a todo o mundo animal. O corpo da Sitra Achra é uma certa forma de demanda que não será paga. O pagamento que o individuo faz aumenta o débito e a aflição ainda mais, assim como no exemplo de receber prazer ao se coçar.

O dedo do pé da Sitra Achra é a gota da poção da morte que a rouba e separa da última centelha de vida que lhe restou, assim como a gota da poção da morte que intoxica todo o sangue no animal.

Este é o significado do que disseram nossos sábios, “no final, ele veio e tomou sua alma”. Em outras palavras, eles disseram que o anjo da morte veio com sua espada com uma gota de veneno em sua ponta; a pessoa abre a boca, ele joga a gota lá dentro e ela morre.

A espada do anjo da morte é a influência da Sitra Achra, chamada Herev22 em função da separação que aumenta de acordo com a medida da recepção, e a separação o destrói. O individuo é compelido a abrir a boca, uma vez que deve receber a abundância para o sustento e persistência das mãos dela. No final, a gota amarga na ponta da espada o alcança completando a separação de sua última faísca do seu sopro de vida.

20)         Como resultado destas duas corrupções, o corpo do homem também foi corrompido, pois é precisamente adaptado pela Criação para receber a abundância para seu sustento do sistema da Kedushá. Isto é assim porque em qualquer ato viável, suas partes são guardadas de qualquer excesso ou escassez. Um ato que não é viável  é porque suas partes estão desequilibradas e há alguma carência ou excesso neles.

Como ele diz no Poema da Unificação: “De todo o Seu trabalho, nenhuma coisa Você esqueceu; Você não acrescentou, e Você não subtraiu”. É uma lei obrigatória que operações perfeitas provem do Operador  perfeito.

Entretanto, quando uma pessoa passa do sistema da Kedushá ao sistema da Sitra Achra, devido a craca ligada a sua construção pela Árvore do Conhecimento, muitas partes dela estão em excesso, desnecessárias. Isto é porque elas não recebem nada da abundância do sustento dispensada pela autoridade da Sitra Achra, como vemos com o Luz osso (Zohar, Midrash HaNe’elam, Toldot), e também numa certa porção de todo e cada órgão.

Por isso, deve-se receber sustento em seu próprio corpo mais do que o necessário, visto que o excesso se junta a toda demanda que nasce do corpo. Portanto, o corpo recebe por eles. Contudo, o próprio excesso não pode receber sua parte; assim sua parte permanece no corpo como excesso e lixo que o corpo tem que expulsá-lo mais tarde.

Em consequência, as ferramentas de alimentação e digestão esforçam-se em vão. Elas diminuem e se reduzem até a extinção porque sua sentença está predeterminada, como o de qualquer ato desequilibrado, destinado a se desintegrar. Assim constatamos que da perspectiva da construção do corpo, também, sua morte depende da causa e do efeito da Árvore do Conhecimento.

Agora nós conseguimos aprender e conhecer as duas condutas contraditórias e opostas (Item 11). O sustento e a manutenção dos seres criados já passaram do sistema de Kedushá para o sistema da Sitra Achra. Isto acontece devido à craca do grande desejo de receber para si mesmo, presa nos seres criados por comer da Árvore do Conhecimento. Isto induz a separação, oposição, e aversão entre o sistema da Kedushá e a estrutura dos corpos dos seres criados neste  mundo.

E quando a Kedushá não pode mais sustentar e alimentá-los da grande mesa, para não destruir a realidade e para induzir um ato de correção neles, ela dá ao coletivo a abundância do sustento da realidade – suas 288 centelhas – ao sistema da Sitra Achra, então eles abastecerão toda a criação do mundo durante o período de correção.

Por esta razão, as condutas da existência estão muito confusas, uma vez que  o mal brota dos perversos, e se a abundância é reduzida aos seres criados, isto certamente trará ruína e destruição. E se a abundância é aumentada, isto traz força excessiva de separação aos receptores, como nossos sábios dizem, “Aquele que tem cem, quer duzentos; aquele que tem duzentos quer  quatrocentos”.

É como o prazer que o corpo separado e defeituoso sente, onde o prazer aumentou, aumenta a separação e a aflição. Assim, o amor-próprio aumenta imensamente nos receptores, e a pessoa engole o amigo vivo. Também, a vida do corpo encurta, uma vez que a acumulação de recepção traz a gota amarga e o fim mais cedo, e para onde quer que eles se tornem eles apenas se condenam.

Agora você pode compreender o que está escrito em Tosfot (Ktubot p.104): “Quando alguém ora para que a Torá entre no corpo, deveria orar para que nenhuma iguaria entre no seu corpo”. Isto porque a forma de auto-recepção, que é  o oposto da Kedushá, aumenta e se multiplica na medida do prazer que o corpo adquire.

Assim, como alguém pode obter a Luz da Torá dentro do corpo, quando ele está separado e em completa oposição de forma da Kedushá, e há grande ódio entre eles, como em todos os opostos: eles se odeiam uns aos outros e não podem estar debaixo do mesmo teto.

Portanto, deve-se primeiro orar para que nenhum deleite ou prazer entre no corpo, e conforme as ações em Torá e Mitzvot acumulam, lentamente a pessoa se purifica e inverte a forma de recepção em prol de doar. Vemos que a pessoa iguala a sua forma ao sistema da Kedushá, e a equivalência e o amor entre eles retorna, como antes do pecado da Árvore do Conhecimento. Assim, ela é premiada com a Luz da Torá, uma vez que entrou na presença do Criador.

21)         Agora é completamente compreendido porque a resposta dos anjos a respeito da criação do homem, que nós aprendemos no Midrash (Item 11), não é apresentada. É porque até mesmo os anjos de Misericórdia e da Justiça não concordaram com o homem atual, já que ele tem estado completamente fora de suas influências e se tornou totalmente dependente da Sitra  Achra.

O Midrash termina: “Ele tomou a Verdade e a jogou no chão. Todos disseram imediatamente, “Deixe a Verdade brotar da terra”. Isto significa que até mesmo os anjos da Misericórdia e da Justiça lamentaram o consentimento deles, pois nunca concordaram que a Verdade fosse desonrada.

Este incidente ocorreu no momento da mordida da Árvore do Conhecimento, quando a Verdade estava ausente da gestão da sustentação da realidade, pois a força do exame impresso no homem pela Criação, que opera pela sensação de amargo e doce, tem enfraquecido e falhado (Item  17).

Isto é assim porque a provisão para o sustento, que são as 288 Bechinot diferentes, já estavam tão claras como dia, ligado ao sistema da Kedushá. E “o palato prove seu alimento”, para atrair integralmente tudo o que é amado e doce, e rejeitar tudo o que é amargo, então ninguém deve falhar neles.

No entanto, após a primeira degustação da Árvore do Conhecimento, para   a qual a forma Gadlut de auto-recepção ficou presa a eles, seu corpo e a Kedushá tornaram-se dois opostos. Naquele momento, a abundância de sustento, que são as 288 Bechinot, passou para as mãos da Sitra Achra.

Vemos que as 288 centelhas que já haviam sido classificadas foram remixadas pela Sitra Achra. Assim, uma nova forma foi feita na realidade a forma cujo início é doce e cujo fim é amargo.

Isto foi porque a forma das 288 foi alterada pela Sitra Achra, onde a Luz do prazer traz separação e uma gota de amargura. Esta é a forma da mentira; o primeiro e o principal progenitor de toda a destruição e confusão.

Está escrito: “Ele tomou a Verdade e a jogou no chão”. Assim, por causa da serpente, um novo discernimento foi adicionado ao homem – a força cognitiva ativa. Ela opera por discernimentos de verdadeiro e falso, e é preciso usá-la durante todo   o período de correção, pois sem ela o benefício é impossível (Item 17).

Venha e veja toda a confusão causada pela queda das 288 centelhas nas mãos da Sitra Achra. Antes que eles provassem da Árvore do Conhecimento, a mulher não podia nem mesmo tocar a coisa proibida (Item 17). Por mera proximidade da Árvore do Conhecimento, ela provou da amargura que tinha o gosto da morte. Por esta razão, ela entendeu e acrescentou a proibição de tocá-la. E depois da primeira mordida, quando a Sitra Achra e a falsidade já controlavam o sustento da realidade,   a proibição tornou-se tão doce no seu início, que já não podiam se afastar  dela. É por isso que ele disse, “Eu comi e vou comer mais”.

Agora vocês entendem porque a recompensa na Torá é destinada apenas  para os corpos maduros. É porque todo o propósito da Torá é corrigir o pecado da Árvore do Conhecimento, o qual induziu à confusão da conduta do sustento da realidade.

É por esta correção que a Torá foi dada – para elevar as 288 centelhas à Kedushá novamente. Naquela época, a condução do sustento retornará para a Kedushá e as confusões nas formas dos meios de sustento da realidade cessarão. Então,  as  pessoas  serão  levadas  à  perfeição  desejada  por  si  só,  e  apenas  pelo discernimento de amargo e doce, que foi o primeiro operador, antes do pecado da Árvore do Conhecimento.

Os profetas, também, falam apenas da correção deles, como é dito, “Todos os profetas profetizaram apenas para os dias do Messias”. Esse é o significado da restauração das formas de sustento do mundo sob a Providência ordenada, como era antes do pecado. “Mas, para o mundo vindouro” implica o fim da questão, que é a Similaridade de Forma com o Criador, “nem com os olhos se viu um Deus além de Ti”. Também está escrito que nos dias do Messias, se o Egito não subir, não vai chover sobre eles, ou seja, através dos discernimentos do bem e do mal.

22)         Agora que entendemos as palavras de nossos sábios que o Criador não encontrou um vaso que contenha uma bênção para Israel, exceto a paz. Nós perguntamos: “Por que esta declaração foi escolhida ao final da  Mishná?”

De acordo com o exposto acima, entendemos que a alma eterna da vida que o Criador tem soprado em suas narinas, apenas para as necessidades de Adam HaRishon, se afastou por causa do pecado da Árvore do Conhecimento. Ela adquiriu uma nova forma, chamada “Suor da Vida”, ou seja, que o geral foi dividido em um grande número de particulares, gotas minúsculas, divididas entre Adam HaRishon e todos os seus descendentes até o fim dos tempos.

Daqui resulta que não existem alterações nos atos do Criador, mas há, ao invés, uma forma adicional aqui. Esta Luz comum da vida, que estava lotada no nariz de Adam HaRishon se expandiu em uma longa cadeia, girando na roda da transformação da forma de muitos corpos, corpo após corpo, até o fim necessário da correção.

Acontece que ele morreu no mesmo dia em que comeu do fruto da Árvore do Conhecimento e a vida eterna partiu dele. Em vez disso, ele foi amarrado a uma longa cadeia pelo órgão da procriação (que é o significado da copulação, chamada “Paz”).

Vemos que a pessoa não vive para si mesma, mas para toda a cadeia. Assim, cada uma das partes da cadeia não recebe a Luz da vida em si, mas apenas distribui  a Luz da vida para toda a cadeia. Isso também é o que você encontra nos seus próprios dias de vida: aos vinte anos, está apto a se casar com uma mulher; e nos próximos dez anos, ele pode esperar ter filhos, assim, ele certamente será pai aos trinta anos.

Então, ele senta e espera por seu filho até ele estar com quarenta anos de idade, a idade de Biná (entendimento), então ele pode passar para ele a fortuna e o conhecimento que ele adquiriu por si mesmo, e tudo o que tinha aprendido e herdado de seus antepassados, e ele confiará nele para não perdê-lo para questões do mal. Em seguida, ele prontamente morre, e passa à seu filho a continuação da cadeia no lugar de seu pai.

Foi explicado (Item 15) que o incidente do pecado da Árvore do Conhecimento foi obrigatório para Adam HaRishon, como está escrito, “Libel é terrível para os filhos dos homens”. Isto é assim porque é preciso acrescentar à sua estrutura um Kli exterior para receber a Luz Circundante, de modo que os dois opostos virá num só indivíduo, em duas vezes consecutivas. Durante o período de Katnut, ele vai ficar dependente da Sitra Achra. Seus vasos de recepção do Espaço Vazio irão crescer à suas medidas desejadas pelos prazeres separados que se recebe por causa deles.

Finalmente, quando se atinge Gadlut e se engaja em Torá e Mitzvot, a capacidade de transformar os grandes vasos de recepção, em prol de doar, estarão prontamente disponíveis. Este é o objetivo principal, chamado “A Luz da Verdade”  e “O Selo” (Item 14).

No entanto, sabe-se que antes que alguém se conecte à Kedushá, deve se livrar novamente de qualquer forma de recepção que recebeu da mesa da Sitra Achra, tal como o mandamento do amor veio até nós, “com todo o teu coração e com toda a tua alma”. Assim, o que os sábios tem feito por essa correção se alguém perde tudo  o que adquiriu da Sitra Achra?

Por esta razão, Sua Providência proveu a proliferação dos corpos em cada geração, como nossos sábios disseram: “Ele viu que os justos eram poucos, Ele levantou e os plantou em cada geração”. Isto significa que Ele viu que no final, os justos irão repelir o problema da autorrecepção completamente e, portanto, a Luz Circundante deles diminuiria, uma vez que o Kli exterior que está apto para isto será repelido deles.

Por esta razão, Ele plantou em cada geração, porque em todas as gerações, um grande número de pessoas é criado principalmente para os justos, para os portadores dos Kelim do Espaço Vazio para eles. Assim, o Kli Exterior necessariamente operaria no justo involuntariamente.

Isto é assim porque todas as pessoas no mundo estão ligadas uma as outras. Elas afetam umas às outras, tanto em inclinações corporais quanto nas opiniões. Portanto, elas necessariamente trazem a inclinação para a autorrecepção dos justos,  e desta maneira elas podem receber a Luz Circundante  desejada.

No entanto, por conseguinte, o justo e o ímpio deveriam ter sido iguais em peso em cada geração. No entanto, isto não é assim, e para cada justo, nós encontramos muitos milhares de iníquos. No entanto, saiba que existem dois tipos de governança na criação: a) a força qualitativa; b) a força  quantitativa.

A força daqueles que pendem sobre os pés da Sitra Achra é deficiente, desprezível e baixa, indesejável, e sem propósito, e eles são como a  palha soprada pelo vento. Assim, como tais pessoas podem fazer qualquer coisa para as pessoas hábeis cujo caminho é claro com desejo e objetivo, e um pilar da Luz Superior brilha diante delas dia e noite, o suficiente para trazer as minúsculas inclinações em seus corações?

Assim, Ele proveu a força quantitativa na Criação, pois esta força não precisa de qualquer qualidade. Vou explicar-lhes pela forma como encontramos esta força qualitativa na força, tal como nos leões e tigres, onde, devido à grande qualidade da sua força nenhum homem vai lutar contra eles.

Oposto a eles, nós encontramos força e poder, sem nenhuma qualidade, como nas moscas. Mas por causa de seus números, ninguém vai lutar contra eles. Esses andarilhos vagueiam pela casa do homem e ficam sobre a mesa livremente e é o homem que se sente fraco contra eles.

No entanto, com as moscas selvagens, insetos e outros hóspedes indesejados, embora a qualidade de sua força seja maior do que a das moscas domésticas, o homem não vai descansar até que ele as expulse completamente do seu domínio. Isto é assim porque a natureza não lhes atribui à capacidade de reprodução das moscas.

Assim, você pode ver que deve haver necessariamente uma grande multidão para cada justo. Eles transmitem suas inclinações brutas nele através do poder de seus números, pois eles não têm qualidade alguma.

Este é o significado do versículo: “O Senhor dará força ao seu povo”. Isto significa que a Luz eterna da vida, atingida por toda a cadeia da criação, é chamada de “Força”. O texto garante que o Criador certamente nos dará essa força.

No entanto, devemos perguntar: Como assim? Uma vez que cada pessoa não é em toda de si mesma, como nossos sábios escreveram: ‘É melhor para ele não ter nascido do que nascer’, por que então temos certeza da Sua  eternidade?

E o verso termina: “o Senhor abençoará o seu povo com paz”, ou seja, a bênção dos filhos. É como nossos sábios disseram em Masechet Shabat, “quem faz a paz na casa está ocioso”. É assim porque através dos filhos, esta corrente está amarrada e ligada até o fim da correção. Naquela época, todas as peças estarão na eternidade.

Por esta razão, nossos sábios disseram: “O Criador não encontrou um receptáculo que contivesse as bênçãos de Israel, mas a paz”. Porque, assim como Sua bênção é eterna, os receptores devem ser eternos.

Assim, você descobrirá que através dos filhos, os pais criam e mantém entre eles a cadeia de eternidade, apta para manter a bênção eternamente. Daqui resulta que é a paz que mantém e conduz a plenitude da  bênção.

Por isso, nossos sábios terminaram a Mishná com este versículo, uma vez que a paz é o vaso que mantém a bênção da Torá e todas as Mitzvot para nós até a redenção completa e eterna em breve em nossos dias Amén, e tudo virá ao seu lugar em paz.

* Face Iluminada e Acolhedora

21 Nota do tradutor: nome da porção semanal da Torá.

22 Nota do tradutor: Herev significa espada, mas ela vem da palavra Hebraica Harav (destruído)

PREFÁCIO AO LIVRO DO ZOHAR

Do livro “Cabala Para o Estudante”

 

1) A profundidade da sabedoria no sagrado Livro do Zohar encontra-se fechada e enjaulada por trás de mil fechaduras, e nossa linguagem humana é muito pobre para nos prover com expressões suficientes e confiáveis para interpretar algo neste livro do início ao fim. Também, a interpretação que eu fiz não é nada mais que uma escada para ajudar o examinador a subir às alturas das questões e examinar as palavras do livro em si. Assim, eu considerei necessário preparar o leitor e dar a ele um caminho e uma entrada nas definições confiáveis sobre como alguém deve contemplar e estudar o livro.

2) Primeiro, saiba que tudo o que é ditto no Livro do Zohar, e até mesmo suas histórias, são denominações das dez Sefirot, chamadas KACHÁB (Kéter, Chochmá, Biná), CHAGAT (Chéssed, Gvurá, Tiféret), NEH”YM (Netzach, Hod, Yessód, Malchut), e suas permutações. Assim como as vinte e duas letras da linguagem falada, cujas permutações são suficientes para cobrir todo objeto e todo conceito, os conceitos, e permutações dos conceitos, nas dez Sefirot são suficientes para revelar toda a sabedoria no livro dos Céus. No entanto, existem três limites que a pessoa deve ter muita prudência, e não ultrapassá-los enquanto estudar as palavras do livro.

3) Primeiro limite: Existem quatro categorias na condução da aprendizagem, chamadas “Matéria”, “Forma na Matéria”, “Forma Abstrata” e “Essência”. É o mesmo nas dez Sefirot. Saiba que O Livro do Zohar não se envolve na Essência e na Forma Abstrata nas dez Sefirot, mas apenas na Matérias delas, ou na Forma delas, enquanto revestidas na Matéria.

4) Segundo limite: Nós distinguimos três discernimentos na realidade abrangente e Divina no que diz respeito a criação das almas e à conduta de sua existência:

  • Ein Sóf;
  • O mundo de Atzilut;
  • Os três mundos chamados Briá, Yetzirá e Assiá.

Deve-se saber que O Zohar participa somente dos mundos, BYA (Briá, Yetzirá, Assiá), e em Ein Sóf e no mundo de Atzilut, na medida em que BYA recebe deles. Contudo, O Livro do Zohar não se refere à Ein Sóf e ao mundo de Atzilut de forma direta.

5) Terceiro limite: Há três aspectos em cada um dos mundos, BYA:

  • As dez Sefirot, que são as Emanações da Santidade que brilha no mundo;
  • Neshamot (Almas), Ruchot (espíritos), e Nefashot (vida)19 das pessoas;
  • O resto da realidade ali contida é chamado de “anjos”, “corpo” e “palácios” cujos elementos são inumeráveis.

Tenha em mente que embora O Zohar elucide amplamente os detalhes em cada mundo, você deverá ainda saber que a essência das palavras do Zohar sempre focará as almas das pessoas naquele mundo. Ele explica outros aspectos, apenas para sabermos na medida em que as almas recebem deles. O Zohar não menciona sequer uma simples palavra do que não se relaciona à recepção das almas. Logo, você deve aprender que tudo que é apresentado no Livro do Zohar relaciona-se à recepção da alma.

E já que esses três limites são bastante rigorosos, caso o leitor não seja cauteloso com eles e tomar as questões fora do contexto, ele irá compreender o tópico de forma equivocada. Por essa razão considerei necessário questionar e expandir o entendimento dessas três fronteiras tanto quanto pude, de forma que  elas sejam entendidas por todos.

6) Você já sabe que há dez Sefirot, chamados Chochmá, Biná, Tiféret, e Malchut, e sua origem, chamada Kéter. Elas são dez porque Sefirá (singular de Sefirot) Tiféret contém seis Sefirot, chamados Chéssed, Gvurá, Tiféret, Netzach, Hod, e Yessód. Lembre- se que onde costumamos usar dez Sefirot, eles são CHÁB TUM.

Em geral, elas compreendem os quatro mundos ABYA, já que o mundo de Atzilut é a Sefirá Chochmá; o mundo de Briá é a Sefirá Biná; o mundo de Yetzirá é Sefirá Tiféret; e o mundo de Assiá é a Sefirá Malchut. Particularmente, não é somente cada mundo que possui dez Sefirot CHÁB TUM, mas até mesmo o menor elemento em cada mundo possui também essas dez Sefirot CHÁB  TUM.

7) O Zohar comparou essas dez Sefirot, CHÁB TUM, a quatro cores:

  • Branco para Sefirá Chochmá;
  • Vermelho para Sefirá Biná;
  • Verde para Sefirá Tiféret;
  • Preto para Sefirá Malchut.

Ela assemelha-se a um espelho que tem quatro facetas pintadas nas quatro cores acima. E, embora a luz nela seja uma, ela é colorida e ao atravessar essas facetas se transforma em quatro tipos de luz: luz branca, luz vermelha, luz verde e luz preta.

Desse modo, a Luz em todas as Sefirot é simplesmente a Divindade a Unidade, da parte de cima de Atzilut, à parte de baixo de Assiá. A divisão em dez Sefirot CHÁB TUM deve-se aos Kelim (Vasos) chamados CHÁB TUM. Cada Kli (singular para Kelim) é como uma fina divisão através da qual a Luz Divina cruza em direção aos receptores.

Por esse motivo, considera-se que cada Kli ‘pinta’ a Luz de uma cor diferente. O Kli de Chochmá no mundo Atzilut, carrega Luz branca, ou seja, incolor. Isso ocorre porque o Kli de Atzilut é como se fosse a própria luz, e a Luz do Criador não sofre qualquer alteração ao atravessá-la.

Este é o significado do que está escrito no Zohar sobre o mundo de Atzilut, “Ele, Sua Vida, e Ele Mesmo são um”. Assim, a Luz de Atzilut é considerada Luz branca. Porém, quando ela se move através do Kelim dos mundos de Briá, Yetzirá e Assiá, a Luz se modifica e se enfraquece à medida que se move através deles para os receptores. Por exemplo, a Luz vermelha está para Biná, que é Briá; a Luz verde, como a luz do sol, está para Tiféret, que é o mundo de Yetzirá; e a Luz preta está para a Sefirá Malchut, que é o mundo de Assiá.

8) Complementando acima, há uma observação muito importante em relação a essa alegoria das quatro cores. As Luzes Superiores são chamadas de Sefer (livro), como está escrito (Livro da Criação, Capítulo Um, Primeiro Parágrafo), “Ele criou Seu mundo em três livros: Um livro, um “autor, e uma história”.

A revelação da sabedoria em cada livro não se encontra na sua ‘parte branca’, mas, sobretudo nas cores, na tinta, da qual as letras se formam no livro, nas combinações de sabedoria, chegam ao leitor. Ao todo, há três tipos de tinta no livro: vermelha, verde, e preta.

Do mesmo modo, o mundo de Atzilut, que é Chochmá, é toda Divindade, como o branco no livro. Isso significa que não possuímos percepção em nada, mas toda a revelação no livro do Firmamento encontra-se nas Sefirot Biná, Tiféret e Malchut, que são os três mundos BYA, considerados a tinta no livro do Firmamento.

As letras e suas combinações aparecem nos três tipos de tinta mencionados acima, e é somente através deles que a Luz Divina surge para os receptores. Ao mesmo tempo, devemos notar que o branco no livro é o tema principal do livro, e  as letras são todas “predicados” sobre o branco no livro. Dessa forma, não tivesse sido pelo branco, a existência das letras e todas as manifestações de Chochmá nelas, não teriam sido possíveis.

Semelhantemente, o mundo de Atzilut, que é Sefirá Chochmá, é o primeiro objeto de manifestação de Chochmá, que surge através dos mundos de BYA. Este é o significado de, “Na sabedoria Tu fizeste eles todos”.

9) Dissemos acima, no terceiro limite, que o Zohar não fala do mundo interno de Atzilut e dele mesmo, já que é considerada a parte branca do livro, mas de acordo com sua iluminação nos três mundos de BYA. Isso é assim porque é como a tinta, as letras e suas combinações no livro, de duas maneiras:

  • Ou os três mundos BYA recebem a iluminação do mundo Atzilut em seu próprio lugar, cada vez que a Luz for amplamente reduzida, já que ela passa através da Parsá, abaixo do mundo de Atzilut, até que seja percebida como simples iluminação dos Kelim de Atzilut.
  • Ou na forma em que os mundos de BYA ascendam acima da Parsá, para o lugar das Sefirot Biná, Tiféret e Malchut de Atzilut. Nesse momento, eles revestem o mundo de Atzilut e recebem a Luz no local em que ela resplandece.

10) Não obstante, a alegoria e a lição não são exatamente comparáveis, pois no livro de sabedoria neste mundo, ambos, o branco e a tinta em suas letras, não têm vida. A revelação da sabedoria causada por eles não se encontra em sua própria essência, mas fora deles, na mente do investigador.

Porém, nos quatro mundos ABYA, que são o livro do Firmamento, todas as Luzes nas realidades espirituais e corporais estão presentes e continuam nelas. Assim, você deveria saber que o branco contido nele, que é o tópico deste livro, é a matéria aprendida em si, enquanto as três cores da tinta elucidam esse  tópico.

11) Aqui você deveria compreender os quatro modos de percepção, apresentados acima no primeiro limiar:

  • Matéria;
  • Forma Revestida de Matéria;
  • Forma Abstrata;
  • Essência.

Por ora, eu os explicarei utilizando exemplos tangíveis deste mundo. Por exemplo, quando você diz que uma pessoa é forte, verdadeira ou desonesta, etc., você tem à sua frente o seguinte:

  • Sua matéria, representando seu corpo;
  • A forma que a matéria é caracterizada – forte, verdadeira ou desonesta;
  • A forma abstrata. Você pode remover a forma forte, verdadeira ou desonesta da matéria daquela pessoa e analisar essas três formas em si, destituídas de qualquer matéria ou corpo, examinando os atributos de força, verdade e desonestidade e reconhecer mérito ou demérito nelas, enquanto que livres de qualquer substância.
  • A essência da pessoa.

12) Saiba que nós não possuímos nenhuma percepção em relação ao quarto modo, a essência da pessoa em si, sem a matéria. Isso ocorre porque nossos cinco sentidos e nossa imaginação nos oferecem somente manifestações de ações da essência, mas não a essência em si.

Por exemplo, o sentido da visão nos oferece somente sombras da essência, já que são formadas opostas à luz.

Semelhantemente, o sentido da audição é nada mais do que uma força do golpe de uma forma no ar. E o ar que é rejeitado por ela, golpeia o tambor em nosso ouvido, e nós escutamos que há forma próxima a nós.

O sentido do olfato nada mais é do que o ar que emerge da forma e atinge nossos nervos olfativos e então nós cheiramos. Além disso, o sentido do paladar é o resultado do contato de nossos nervos gustativos.

Assim, todos esses quatro sentidos nos proporcionam manifestações de atos que se originam de uma forma, não sendo a própria forma.

Até mesmo o sentido do tato, o mais forte dos sentidos, ao separar o quente do frio e o sólido do macio, é apenas manifestação de ações na forma; não sendo mais do que apenas eventos da forma. Isso ocorre porque o quente pode ser resfriado e o frio pode ser aquecido; o sólido pode ser transformado em líquido por meio de processos químicos e o líquido pode ser transformado em ar, representando somente gás, quando qualquer entendimento dos nossos cinco sentidos tiver findado. Logo,  a essência em si ainda existe, já que se pode transformar o ar em líquido mais uma vez, e o líquido em sólido.

Obviamente que os cinco sentidos não nos revelam qualquer essência, mas somente evidências e manifestações de atividades da essência. Sabe-se que o que não sentimos, não podemos imaginar; e o que não podemos imaginar, nunca irá surgir em nossos pensamentos, e não há forma de se  perceber.

Assim, o pensamento não possui nenhuma percepção na essência. Além do mais, nós nem mesmo conhecemos a nossa própria essência. Eu sinto e sei que ocupo espaço no mundo, que sou sólido, amoroso, e que penso, e outras manifestações de ações de minha essência. Mas se você me perguntar sobre minha própria essência, de onde todas essas manifestações se originam, eu não sei o que  lhe responder.

Assim você nota que a Providência nos impediu de atingirmos qualquer essência. Nós atingimos somente manifestações e imagens de ações que derivam de nossas essências.

13) Temos uma percepção plena do primeiro aspecto, que é a Matéria, representando as manifestações das ações expressas de cada essência. Ou seja, isso nos esclarece que a essência reside na substância, de modo que nós não sofremos de modo algum com a falta da obtenção da essência em si.

Nós não sentimos falta disso como não sentimos falta de um sexto dedo em nossa mão. Essa obtenção, representando a manifestação das ações da essência, é totalmente suficiente para cada uma de nossas necessidades e aprendizado, tanto para alcançarmos o nosso próprio ser, como para alcançarmos o todo que existe fora de nós.

14) O segundo aspecto, a Forma Revestida de Matéria, é também uma realização efetiva e clara, já que nós a adquiramos por meio de experiências práticas e reais, que encontramos na ação de qualquer matéria. Todo nosso conhecimento superior e determinado origina-se desse entendimento.

15) O terceiro aspecto denomina-se Forma Abstrata. Uma vez que a forma foi revelada, enquanto revestida de alguma matéria, nossa imaginação pode abstraí- la por inteiro e percebê-la independente de qualquer substância, semelhantemente  às virtudes e boas qualidades que aparecem em livros éticos, onde se fala das propriedades da verdade e da mentira, da raiva, força, etc., quando destituídos de qualquer matéria. Nós as designamos meritórias ou não, mesmo  sendo abstratas.

Você deveria saber que este terceiro aspecto não é aceito pelo erudito dito sensato, já que é não é possível confiar nele cem por cento, por não ser provido de matéria e por ser passível de erro.

Tome por exemplo alguém com uma moral idealista, alguém que não seja religioso. Devido ao seu profundo compromisso em relação à verdade, enquanto forma abstrata, essa pessoa poderia decidir que mesmo que pudesse salvar as pessoas da morte, dizendo-lhes uma mentira, e mesmo que o mundo inteiro estivesse condenado, ele não diria uma mentira deliberada. Esta não é a visão do Torá, já que nada é mais importante do que salvar vidas (Yoma, 82a).

Certamente, se alguém tivesse aprendido as formas da verdade e da mentira quando providas de matéria, ele iria compreender apenas em relação ao seu benefício ou prejuízo a ela.

Em outras palavras, após o mundo ter passado por muitas provações, tendo visto o grande número de ruína e os danos que pessoas enganosas causaram com suas mentiras e o imenso benefício que pessoas verdadeiras trouxeram, restringindo- se a dizer apenas palavras de verdade, elas concordaram que nenhum mérito é mais importante que a qualidade da verdade, e não há demérito maior quanto à qualidade da falsidade.

E se o idealista tivesse entendido isso, ele certamente concordaria com a visão do Torá, e acharia que a mentira que salva mesmo uma pessoa da morte é muito mais importante do que todo o mérito e louvor da qualidade abstrata da verdade. Assim, não há nenhuma certeza em todos esses conceitos do terceiro aspecto, que são formas abstratas, muito menos com formas abstratas nunca providas de qualquer substância. Tais conceitos nada mais são que perda de  tempo.

16) Agora você aprendeu de forma completa esses quatro aspectos – Matéria, Forma na Matéria, Forma Abstrata e Essência – de modo tangível. Foi esclarecido que não temos qualquer percepção no quarto modo, a essência, e o terceiro modo é um conceito que pode induzir a erro. Apenas a primeira forma, que é a Matéria, e a segunda, que é a Forma Revestida de Matéria, nos são dadas pelo Governo Superior para a obtenção efetiva e clara.

Através deles você será capaz de perceber a existência de objetos espirituais, ou seja, os Mundos Superiores, ABYA, uma vez que não existe um pequeno detalhe neles que não seja dividido pelas quatro maneiras acima. Se, por exemplo, você tomar certo elemento no mundo de Briá, existem Kelim lá de cor vermelha, através dos quais a Luz de Briá é transmitida para os residentes de Briá. Assim, o Kli em Briá, que é a cor vermelha, é considerado Matéria ou objeto, ou seja, a primeira forma.

E mesmo que seja apenas uma cor, que é uma ocorrência e manifestação de uma ação no objeto, já dissemos que não temos a realização na Essência em si, mas apenas na manifestação de uma ação da Essência. E nós nos referimos àquela manifestação como Essência, Matéria, corpo, ou um Kli.

E a Luz Divina, que se move e se reveste através da cor vermelha, é a forma revestida no objeto, representando o segundo aspecto. Por essa razão, a Luz em si parece vermelha, indicando sua roupagem e iluminação através do objeto, considerados o corpo e a substância, ou seja, a cor  vermelha.

E se você quiser remover a Luz Divina do objeto – a cor vermelha – e discuti- la em si, sem revestir um objeto, isto já pertence ao terceiro aspecto – Forma destituída de Matéria, que poderia ser objeto de erros. Por esse motivo, é rigorosamente proibido estudar os Mundos Superiores, e nenhum Cabalista  genuíno se ocuparia disso, muito menos os autores do  Zohar.

Isso se refere ainda mais em relação à Essência de um elemento em Briá, já que não temos qualquer percepção, seja na essência dos objetos corpóreos, quanto mais nos objetos espirituais.

Assim você tem à sua frente quatro aspectos:

  • O Kli de Briá, que é a cor vermelha, considerada o objeto ou substância de Briá;
  • A roupagem da Luz Divina no Kli de Briá, que é a forma no objeto;
  • A Luz Divina em si, destituída do objeto em Briá;
  • A essência do item.

Assim, a primeira fronteira foi completamente explicada, não havendo sequer uma única palavra dos terceiro e quarto aspectos em todo o Zohar, mas somente do primeiro e segundo aspectos.

17) Junto a ela, o segundo aspecto foi esclarecido. Saiba que como esclarecemos os quatro aspectos em um único item no mundo de Briá, especificamente, do mesmo modo eles o são nos quatro mundos de ABYA. As três cores: vermelho, verde, preto, nos três mundos BYA, são consideradas a substância ou o objeto. A cor branca, considerada o mundo de Atzilut, é a forma revestida na matéria, nas três cores, chamada BYA.

Ein Sóf em si é a essência. Isso é o que dizemos primeiramente, que não possuímos percepção na essência, que é a quarta forma, oculta em todos os objetos, mesmo os objetos deste mundo. Quando a cor branca não estiver revestida nas três cores em BYA, ou seja, quando a Luz de Chochmá não estiver revestida de Biná, Tiféret e Malchut, ela é forma abstrata, o que não se refere a  nós.

O Zohar não fala de maneira qualquer, mas apenas no primeiro modo, sendo as três cores BYA, consideradas substância, a saber, as três Sefirot Biná, Tiféret e Malchut, e no segundo modo, que são a iluminação de Atzilut, revestido nas três cores BYA, representando Luz de Chochmá, revestidas de Biná, Tiféret e Malchut, que são, por sua vez, revestidas em forma de matéria. Esses são os dois aspectos que O Livro do Zohar diz respeito em todos os lugares.

Assim, se o leitor não for cauteloso, restringindo seu pensamento e entendimento a aprender sempre as palavras do Zohar estritamente sob as duas formas mencionadas acima, o tópico será prontamente mal compreendido por inteiro, pois as palavras serão tomadas fora de contexto.

18) Como os quatro modos no ABYA geral foram explicados, assim é em cada mundo, mesmo no menor item de algum mundo, tanto no topo do mundo de Atzilut quanto na parte inferior do mundo de Assiá, porque há CHÁB TUM Você acha que a Sefirá Chochmá é considerado uma “forma” e Biná e TM são considerados a “matéria” na qual a forma se reveste, representando o primeiro e segundo aspectos que o Zohar se refere. Porém o Zohar não se refere à Sefirá Chochmá quando despido de Biná e TM, que é forma sem matéria, e muito menos à essência, considerada Ein Sóf nesse item.

Assim, nos dedicamos a Biná, Tiféret e Malchut em cada item, mesmo em Atzilut, mas não em Kéter e Chochmá de cada item em si, mesmo em Malchut do fim de Assiá, quando não revestidos, mas apenas na medida em que revestem Biná e TM. Agora, os dois primeiros limites foram explicados por inteiro. Tudo o que os autores do Zohar se comprometem é com a matéria ou a forma na matéria, que é a primeira fronteira, bem como em BYA, ou a iluminação de Atzilut em BYA, que é a segunda fronteira.

19) Agora explicaremos o terceiro limite. O Zohar se ocupa das Sefirot em cada mundo, sendo a Divindade que brilha nesse mundo, assim como em cada item do IVAF (Inanimado, Vegetal, Animal e Falante), sendo as criaturas nesse mundo. Entretanto, O Zohar se refere principalmente ao Falante nesse mundo.

Deixe-me dar um exemplo da conduta deste mundo. É explicado na “Introdução ao Livro de Zohar” (item 42) que as quatro formas, Inanimada, Vegetal, Animal e Falante em cada mundo, e até mesmo neste, são as quatro partes do desejo de receber. Cada um deles contém seus quatro próprios tipos de IVAF (Inanimada, Vegetal, Animal e Falante). Assim, você percebe que uma pessoa neste mundo deve manter e ser mantida pelas quatro categorias IVAF neste  mundo.

Isso é assim porque o alimento do homem, também contém essas quatro categorias, provenientes das quatro categorias IVAF do corpo do homem. Elas são:

  1. desejo de receber de acordo com a medida necessária para a própria subsistência;
  2. querer mais do que o necessário para o sustento, desejando intensamente luxos, mas restringindo-se unicamente aos desejos físicos; c) ânsia por desejos humanos, tais como a honra e o poder; d) ânsia de

Essas se prolongam para as quatro partes do desejo de receber em nós:

  • Querer o suprimento necessário é considerado o Inanimado do desejo de
  • Querer luxúrias físicas é considerado o Vegetativo do desejo de receber, uma vez que elas vêm somente para aumentar o prazer do Kli (vaso) de alguém, que é a carne do
  • Querer desejos humanos é considerado o Animado no desejo de receber, uma vez que eles exaltam o espírito de alguém.
  • Querer conhecimento é a Falante no desejo de

20) Assim, na primeira categoria – a medida necessária para a própria subsistência – e na segunda categoria, os desejos físicos que excedem a medida para o sustento de alguém – alguém é nutrido de coisas inferiores à pessoa: o inanimado, o vegetativo e o animado. No entanto, na terceira categoria, os desejos humanos tais como o poder e respeito, são recebidos e nutridos por aqueles de sua própria espécie, seus semelhantes. E na quarta categoria, o conhecimento, a pessoa recebe e é alimentada por uma categoria mais elevada do que sua própria – da sabedoria real e do intelecto, que são espirituais.

21) Você notará semelhança nos Mundos Espirituais Superiores, uma vez que os mundos são impressos de um para outro, de Cima para baixo. Assim, todas as categorias de IVAF no mundo de Briá deixam sua marca no mundo de Yetzirá. Os IVAF de Assiá são impressos a partir dos IVAF de Yetzirá. Por último, o IVAF neste mundo é impresso a partir do IVAF do mundo de Assiá.

Foi explicado na “Introdução ao Livro de Zohar” (Item 42) que o inanimado nos mundos espirituais é chamado de Heichalot (Palácios), o vegetativo é chamado Levushim (Revestimentos ou Vestes), o animado é nomeado Mala’achim (Anjos), e a falante é considerado Neshamot (Almas) das pessoas naquele mundo. As Dez Sefirot nesse mundo são a Divindade.

As almas das pessoas são o centro em cada mundo, que são alimentadas pela realidade espiritual daquele mundo, como a fala corpórea alimenta toda a realidade corpórea neste mundo. Assim, a primeira categoria, que é o desejo que alguém tem de receber o sustento necessário, é recebida da iluminação de Heichalot e Levushim.   A segunda categoria, a animada excedente, que aumenta um corpo, é recebida a partir da categoria de Mala’achim, que são iluminações espirituais além da medida necessária para o sustento de alguém, para ampliar os Kelim espirituais que sua alma reveste-se.

Assim, recebe-se a primeira e a segunda categoria de categorias inferiores à sua própria, que são Heichalot, Levushim, e os Mala’achim, que são inferiores às Neshamot (almas) humanas. A terceira categoria, que são os desejos humanos que aumentam o espírito de alguém, é oriunda neste mundo de sua própria espécie. O que ocorre é que se recebe de sua própria espécie também, de todos os Neshamot naquele mundo. Através dele, aumenta-se a iluminação de  Ruach de sua alma.

A  quarta  categoria  de  desejo,  por  conhecimento,  é  recebida  das   Sefirot naquele mundo. Deles, recebe-se o CHABAD para a  alma.

Ocorre que a alma daquele homem, que está presente em cada mundo, deveria crescer e ser completa por todas as categorias existentes naquele mundo. Essa é a terceira fronteira que mencionamos.

Deve-se entender que todas as palavras do Zohar, em cada item dos Mundos Superiores tratados, as Sefirot, Neshamot, Mala’achim, Levushim, e Heichalot, embora  se ajustem em si como se fossem elas próprias, deve-se considerar que são citadas primeiramente com respeito à medida pela qual a alma humana recebe e é encorajada por elas. Logo, todos seus mundos são conectados às necessidades da alma. E se você aprender todas as coisas de acordo com essa linha, você entenderá e seu caminho será bem-sucedido.

22) Após isso tudo, temos ainda que explicar todos esses nomes corpóreos citados no Livro do Zohar, referentes as dez Sefirot, assim como são acima e abaixo, ascendente e descendente, contração e expansão, pequenez e grandiosidade, separação e união, números e gostos, que os inferiores induzem através dos bons e maus atos nas dez Sefirot.

Estas palavras causam perplexidade. Pode ocorrer de a Divindade ser afetada e modificada de modos diferentes em função dos inferiores? Pode-se dizer que essas palavras não se referem à Divindade em si, que se reveste e brilha nas Sefirot, mas somente aos Kelim das Sefirot, que não é Divindade. Na realidade elas foram geradas com a criação das almas, para ocultar ou revelar graus de realização na razão e medida apropriadas para as almas, para trazer-lhes para o fim desejado e sua correção. Isso  se assemelha à alegoria do espelho com as quatro facetas pintada em quatro cores: branco, vermelho, verde e preto. E há também o branco no livro, assim como o significado das letras no livro.

Tudo isso é possível nos três mundos BYA, onde os Kelim das Sefirot são gerados e não é Divindade. No entanto, não é correto de forma alguma, abstrair que, o mundo de Atzilut, onde os Kelim das dez Sefirot é também Divindade completa,  seja Luz Divina em si.

Está escrito nos Tikunim (correções): “Ele, Sua Vida, e Seu Eu, são um”. Ele pertence à essência das Sefirot, que é Ein Sóf. Sua Vida pertence à Luz que brilha nas Sefirot, chamada “Luz de Chaiá”. Isso é assim porque a totalidade do mundo, Atzilut, é considerado Chochmá e a Luz de Chochmá é chamada de “Luz de Chaiá”. É por isso que é chamado “Vida”. Seu Eu refere-se aos Kelim das  Sefirot.

Assim, tudo está completo Divindade e unidade. Como então é possível perceber essas mudanças, induzidas pelos inferiores? Ao mesmo tempo, devemos entender que se tudo é Divindade nesse mundo e nenhuma das criaturas geradas possa ser encontrada lá, onde então perceberemos os três entendimentos acima nos Tikunim do Zohar – Ele, Sua Vida, e Seu Eu – já que são unidades completas?

23) Para entender isso, você deve lembrar-se do explicado anteriormente, no Item 17. Ele coloca que um objeto necessário é uma essência de que não temos percepção, mesmo das essências corpóreas ou até mesmo de nossa própria essência, quanto mais do Necessário.

O mundo de Atzilut é a Forma e os três mundos BYA são Matéria. A Luz de Atzilut em BYA é a Forma revestida de Matéria. Por essa razão, você pode observar que o nome Ein Sóf, não é em absoluto o nome para a essência do Necessário, já que o que não alcançamos como podemos definir com um nome ou uma palavra?

Já que a imaginação e os cinco sentidos nada nos propõem a respeito da essência, mesmo na corporeidade, como poderá haver um pensamento e uma palavra nela, e muito menos no Necessário em Si? Em vez disso, devemos entender  o nome Ein Sóf, como nos foi definido no terceiro limite, que tudo que O Livro do Zohar aborda, refere-se precisamente às almas (Item 21).

Assim, o nome Ein Sóf, não é de maneira alguma O Necessário em Si, mas relaciona-se a todos os mundos e almas incluídos nEle, no Pensamento da Criação, de modo que “O fim de uma ação encontra-se num pensamento inicial”. Logo, Ein Sóf é o nome da conexão com que a Criação completa está conectada, até o fim da correção.

Isto é o que denominamos “o Primeiro Estado das almas” (“Introdução ao Livro de Zohar,” Item 13), visto que todas as almas existem nEle, preenchidas com todo o prazer e bondade, na Altura final, quando receberão ao final da  correção.

24) Deixe-me dar-lhe um exemplo da conduta deste mundo: Uma pessoa quer construir uma bela A princípio, ela vê perante si uma casa elegante com todos seus aposentos e detalhes e como será quando a construção estiver finalizada.

Depois disso, ela faz um projeto do plano de execução, meticulosamente. No tempo devido, ela irá explicar cada detalhe aos trabalhadores: a madeira, os tijolos,  o ferro, e assim por diante. Então ela iniciará a construção real da casa até o fim, como fora determinado antes dela, no pensamento inicial.

Saiba que Ein Sóf diz respeito ao primeiro pensamento, em que o todo da Criação já fora retratado antes dEle em total plenitude. No entanto, a lição não é exatamente como o exemplo, porque nele, o futuro e o presente são iguais. nEle, a idéia se completa e Ele não precisa de ferramentas de atuação, como nós. Assim, nEle, é a realidade autêntica.

O mundo de Atzilut assemelha-se aos detalhes do plano executado, que mais tarde precisará mostrar quando a construção da casa começará de verdade. Saiba que nestes dois, no pensamento preliminar, que é Ein Sóf, e no projeto previsto dos detalhes da execução em tempo hábil, não há sequer um traço das criaturas, uma vez que este é inanimado em potencial, e não de fato.

É semelhante aos humanos: embora eles calculem todos os detalhes — a madeira, os tijolos e o metal — que será necessário para executar o plano, é essencialmente uma questão conceitual. Não há mesmo uma evidência de qualquer madeira real ou tijolos nele. A única diferença é que em uma pessoa, o projeto contemplado não é considerado uma realidade autêntica. Mas no Pensamento Divino, é uma realidade muito mais genuína do que as criaturas reais.

Assim explicamos o significado de Ein Sóf e do mundo de Atzilut, e que como tudo que é dito em relação a eles diz respeito apenas à criação dos seres. Entretanto, eles são inanimados em potencial e sua essência não foi revelada, como com a nossa alegoria sobre a pessoa que desenhou o protótipo, que não contém qualquer madeira, tijolos e metal.

25) Os três mundos BYA e este mundo, são considerados a execução do potencial para o real, assim como aquele que constrói a própria casa, de modo real, e traz a madeira, os tijolos e os trabalhadores até que a casa esteja completa. Logo, a Divindade que resplandece em BYA, reveste os dez Kelim KACHÁB CHAGAT NEH”YM, na medida em que as almas deveriam receber a fim de alcançar sua perfeição. Esses são os verdadeiros Kelim, com respeito à Sua Divindade, significando que eles não são divindade, mas são gerados para as almas

26) Na alegoria acima, você percebe como os três entendimentos de quem contempla a construção de uma casa, são interligados por meio da causa e consequência. A origem deles todos é o primeiro pensamento, já que nenhum item aparece no protótipo planejado, exceto de acordo com o término da ação, que se originou antes, no pensamento preliminar.

Além disso, não se executa nada durante a construção, mas apenas de acordo com os detalhes dispostos diante dele no protótipo. Dessa maneira você pode ver, em relação aos mundos, que não existe uma pequeníssima geração nos mundos que não se desenvolva a partir de Ein Sóf, do primeiro estado das almas, que se encontram lá em sua máxima perfeição do fim da correção, como “No fim de uma ação está o pensamento inicial”. Logo, tudo que se manifestar através do fim da correção, está incluso lá.

Originariamente, há desenvolvimento a partir de Ein Sóf para o mundo de Atzilut, como na alegoria, onde o protótipo se desenvolve a partir do primeiro pensamento. Cada elemento se expande a partir do mundo de Atzilut para os mundos BYA, como na alegoria, onde todos os detalhes se originam do protótipo, quando na verdade são executados durante a construção da  casa.

Assim, não há sequer um pequeno item, gerado neste mundo, que não se desenvolva a partir de Ein Sóf, do primeiro estado das almas. E de Ein Sóf, desenvolve- se para o mundo de Atzilut, ou seja, especificamente associado ao que está na verdade sendo gerado neste mundo. E do mundo de Atzilut, a geração se expande para os  três mundos BYA, onde a geração surge realmente, onde cessa de ser Divindade e se torna uma criatura, e assim para Yetzirá e Assiá, até se estender ao mais inferior neste mundo.

Ocorre que não há geração no mundo que não se desenvolva a partir de sua origem geral em Ein Sóf, e de sua origem oculta em Atzilut. Mais tarde ela se move através de BYA e adota a forma de uma criatura, e então é produzida no mundo.

27) Agora você consegue entender que todas essas mudanças descritas no mundo de Atzilut não pertencem à Divindade em si, mas somente às almas, à medida que recebem de Atzilut por meio dos três mundos BYA. O significado da existência desse mundo encontra-se em relação ao protótipo para com o pensamento preliminar, que é Ein Sóf.

Contudo, tanto em Ein Sóf quanto no mundo de Atzilut, não existe nada em termo de almas, assim como não há nada de tangível na madeira, tijolos ou metal, no modelo da pessoa que o projeta. A existência das almas começa a se manifestar no mundo de Briá. Por essa razão, o Kelim das dez Sefirot, que na realidade distribui uma parte às almas, não é necessariamente Divindade, mas inovação. Isso ocorre porque não pode haver mudanças ou quantificação na  Divindade.

Por isso designamos as três cores, vermelho, verde e preto, ao Kelim das dez Sefirot em BYA. É inconcebível que sejam considerados Divindade, já que não há nenhuma alteração nEle.

Contudo, a Luz revestida nos dez Kelim em BYA é apenas Divindade e unidade, imutáveis. Mesmo a Luz revestida no Kli mais inferior em Assiá é Divindade inteira, sem nenhuma alteração. Isso ocorre porque a Luz em si é uma, e todas as mudanças ocorridas em sua iluminação são efetuadas pelos Kelim das Sefirot, que não é Divindade. Em geral, elas abrangem as três tonalidades acima; especificamente, diversas mudanças foram efetuadas a partir dessas três  tonalidades.

28) No entanto, os Kelim das dez Sefirot de BYA certamente recebe cada pequeno item e detalhe das mudanças, já que há o protótipo de todos os detalhes que se evidenciará na real construção da casa em BYA. Logo, considera-se que o Kelim dos dez Sefirot CHAB TM em BYA recebe de sua característica correspondente no CHAB TM em Atzilut, denotando o protótipo.

Isso se deve a cada detalhe na execução, que se origina de cada detalhe do projeto. Assim, a esse respeito, nominamos o Kelim de Atzilut “branco,” embora ele não seja uma cor.

Contudo, ele é a fonte de todas as cores. E, à semelhança do livro de sabedoria, onde não há percepção do branco nele, e o branco no livro é insignificante pra nós, é ainda o assunto do livro de sabedoria inteiro. Isso ocorre porque ele resplandece por volta e por dentro de cada letra e dá a cada uma sua forma única, e a cada permutação seu lugar original.

Poderíamos dizer o contrário: não possuímos percepção da substância das letras em vermelho, verde, ou preto, e tudo que percebemos e conhecemos das letras do livro é apenas através do branco contido nele. Isso ocorre desse modo, pois é através da luz ao redor de cada letra e dentro de cada uma, que se cria forma nelas,  e essas formas nos revelam toda a sabedoria do livro.

Podemos compará-lo aos dez Sefirot de Atzilut: mesmo que eles se pareçam com a cor branca, é impossível discriminar tudo em relação a eles, nem um número, nem qualquer mudança como o descrito. Não obstante, todas as mudanças necessariamente advêm dos dez Kelim das Sefirot de Atzilut na iluminação do branco para os mundos BYA, que são as três cores do corpo das letras, embora por si só não exista lá Kelim, já que é toda branca. É como a alegoria do branco no livro, com respeito às letras e suas permutações, desde que sua iluminação chegue até BYA e ali produza os Kelim.

29) A partir do que foi expresso, você verá que o Tikunim do Zohar divide o mundo de Atzilut em três entendimentos—Ele, Sua Vida, e Ele em Si, embora seja simples unidade e não haja nada das criaturas ali. Ele pertence à Divindade como ela em si, da qual não possuímos percepção e não se pode perceber nenhuma essência, mesmo as corpóreas. (Item 12). Seu Eu pertence aos dez Kelim CHÁB TUM, que temos assemelhado ao branco no livro da  sabedoria.

Mesmo um número não pode ser observado no branco, uma vez que não há nada lá para representar um número, já que é todo branco. No entanto, não só lhes atribuímos um número, mas também o grande número de alterações que aparecem em BYA, que são a essência das letras, encontradas primeiro no Kelim CHÁB TUM Atzilut em si.

É a postura do branco que dá todas as formas às letras no livro, enquanto ele mesmo não tenha forma. Assim, você acha que o branco é dividido em inúmeras formas, embora ele mesmo não as tenha. Do mesmo modo, os dez Kelim são detalhados com diversas alterações, de acordo com sua iluminação em BYA, como no protótipo, executado no trabalho real da construção da  casa.

Portanto, todas essas mudanças efetuadas em BYA, são apenas da iluminação dos Kelim das dez Sefirot CHÁB TUM de Atzilut. E a variedade de diversidade que encontramos no branco, refere-se aos receptores em BYA. Em relação ao Atzilut em si, é como o branco, despido da tinta nas letras; sem número e sem nada mais. Logo, explicamos o Eu por inteiro, o Kelim, que, em si próprio, é simples unidade, como Ele é.

30) Sua Vida pertence à Luz que é revestida no branco, que são os Kelim. Nós compreendemos esta Luz somente no que diz respeito às almas que recebem de Atzilut, e não na Divindade em si. “Ele” significa que quando os três mundos BYA subirem para Atzilut com as almas das pessoas, a Luz que elas irão receber é considerada a Luz de Chochmá, denominada” a Luz de Chaiá”.

É nesse sentido que nominamos a Luz lá, de “Sua Vida”. Este é também o significado do que está escrito no Tikunim do Zohar, que Ele, Sua Vida, e Seu Eu são somente um. Todos esses três entendimentos relacionam-se aos receptores, onde Seu Eu é a iluminação dos Kelim no lugar de BYA sob a Parsá de Atzilut, uma vez que a Luz de Atzilut nunca estará abaixo da Parsá de Atzilut, mas apenas a iluminação dos Kelim. A categoria “Sua Vida”, é a iluminação da Luz de Atzilut em si, quando BYA subir para Atzilut. E “Ele” pertence à essência da Divindade, que é completamente inacessível.

Os Tikunim do Zohar dizem que, embora nós, os receptores, devamos diferenciar essas três categorias em Atzilut, ela ainda assim refere-se apenas aos receptores. No entanto, com respeito ao mundo de Atzilut em si, mesmo o “Seu Eu” é considerado “Ele,” significando a essência da Divindade. Por isso, não há nenhuma percepção no mundo de Atzilut em si. Este é o significado da cor branca, em que não há percepção de si e tudo é absolutamente simples unidade  lá.

31) O Zohar descreve os Kelim CHÁB TUM em Atzilut como crescente ou decrescente ditados, pelas ações das pessoas. Além disso, encontramos (Zohar, Bo, 32b p), “Israel… dá raiva e força ao Criador”, o que significa que não deve ser tomada literalmente, na Divindade em si, não podendo haver quaisquer alterações na Divindade, como está escrito, “Eu, o Senhor não mudo”.

No entanto, já que o Pensamento da Criação era deleitar Suas criaturas, nos é ensinado que Ele tem um desejo de doar. Descobrimos que neste mundo o contentamento dos doadores cresce quando os receptores dEle se multiplicam e Ele deseja proliferar os receptores. Assim, nesse contexto, dizemos que as Luzes em Atzilut crescem quando os menores são dados a Atzilut, ou que eles a desenvolvem. Inversamente, quando não há inferiores dignos de receber Sua abundância, as Luzes diminuem proporcionalmente, ou seja, não há ninguém para receber  deles.

32) Você pode compará-lo a uma Se você acender mil velas a partir dela, ou se você não acender nenhuma, você não vai achar que ela causou quaisquer alterações na própria vela. É também como Adam HaRishon: se ele tivesse uma prole de milhares, como nós hoje, ou se ele não tivesse nenhuma, não haveria qualquer mudança no Adam HaRishon em si mesmo.

Da mesma forma, não há nenhuma mudança no mundo de Atzilut em si, seja se os inferiores receberem sua grande abundância luxuriante, ou não receberem nada. A grandeza supracitada situa-se apenas nos níveis mais  baixos.

33) Assim, por que os autores do Zohar têm que descrever todas essas mudanças no mundo de Atzilut em si? Eles deveriam ter falado explicitamente apenas em relação aos receptores em BYA, e não falar tão elaboradamente de Atzilut, nos forçando a dar respostas.

Na verdade, há um segredo bem nítido aqui: este é o significado de, “e pelo ministério dos profetas utilizei semelhanças” (Oséias 12). A verdade é que existe uma vontade divina aqui, que essas semelhanças que operam apenas nas almas dos receptores, aparecerão às almas, como Ele Próprio tomando parte nelas para aumentar significativamente a realização das almas.

É como um pai que se limita a mostrar ao seu filho querido uma face de tristeza e uma face de satisfação, embora não haja nem tristeza nem contentamento nele. Ele só faz isso para impressionar seu filho querido e ampliar sua compreensão, de modo a brincar com ele. Somente quando ele crescer ele irá aprender e saber que tudo o que seu pai fez nada mais foi do que apenas brincar com ele. Assim é a questão diante de nós: todas essas imagens e as mudanças começam e terminam apenas com a impressão das almas. No entanto, pela vontade de Deus, elas aparecem como se estivessem nEle Mesmo. Ele faz isso para aumentar e expandir o alcance das almas  ao máximo, de acordo com o Pensamento da Criação, para deleitar Suas criaturas.

34) Não se surpreenda ao encontrar tal conduta na nossa percepção corpórea, também. Tome o nosso sentido da visão, por exemplo: vemos um mundo inteiro diante de nós, maravilhosamente preenchido. Mas, na verdade, nós vemos tudo aquilo somente em nosso próprio interior. Em outras palavras, há uma espécie de máquina fotográfica no nosso cérebro posterior, que retrata tudo o que aparece para nós e nada fora de nós.

Por isso, Ele fez para nós, em nosso cérebro, uma espécie de espelho polido que inverte tudo que é visto ali; assim veremos pelo lado de fora do nosso cérebro,    à frente da nossa face. No entanto, o que vemos fora de nós não é algo real. No entanto, devemos ser gratos à Sua Providência por ter criado esse espelho polido em nossos cérebros, o que nos permite ver e perceber tudo fora de nós. Isso ocorre porque, por meio disso, Ele nos deu o poder de perceber tudo com o conhecimento claro e realização, bem como medir tudo tanto pela parte de dentro quanto pelo lado de fora.

Sem isso, perderíamos a maior parte de nossa percepção. O mesmo sucede com a vontade Divina, no que se refere às percepções Divinas. Apesar de todas essas mudanças se desenrolarem no interior das almas que recebem, elas não deixam de ver tudo no Doador em Si, pois só desta forma são concedidas todas as percepções    e todos os deleites no Pensamento da Criação.

Você também pode deduzir isso a partir da parábola acima. Mesmo que nós vejamos tudo como se realmente estivesse em frente de nós, cada pessoa sensata sabe ao certo que tudo o que vemos está apenas dentro de nossos próprios cérebros. Assim são as almas: Apesar de elas verem todas as imagens no Doador, elas ainda não têm nenhuma dúvida que tudo isso está somente no seu próprio interior, e não no do Doador.

35) Uma vez que essas questões estão no centro do mundo, e receio que o estudante cometa um erro ao percebê-las, vale à pena trazer à tona outras questões e as palavras de ouro do Zohar em si nestes questionamentos (Parashat Bo, item 215) e interpretá-las ao máximo da minha habilidade: “Alguém poderia perguntar, ‘Está escrito no Torá, ‘para o que viste não há ‘Assim, como podemos utilizar nomes e as Sefirot nEle?’ Ele irá responder, ‘Eu vi desta forma, como nas palavras, ‘e à semelhança do que o Senhor vê’”.

Isso significa que a Sefirá Malchut, onde todas as almas e palavras estão radicadas, já que é a raiz de todos os Kelim, por meio de “Os que recebem a partir dela, devem adquirir os Kelim dela,” ela é considerada semelhante a eles. Por conseguinte, é dito sobre ela, “e à semelhança do que o Senhor  vê”.

Mesmo essa semelhança, que nominamos em Sefirá Malchut, não se encontra em seu lugar em relação a si mesma, mas somente quando a Luz de Malchut desce e se expande sobre as pessoas. Nesse momento ela surge a todos e a cada um, de acordo com sua própria aparência, visão e imaginação, ou seja, apenas aos receptores e não  a Sefirá Malchut em si.

Este é o significado de, “e pelo ministério dos profetas utilizei similitudes”. Por isso, o Criador lhes diz: “Embora eu me manifeste a vocês em suas formas, na visão e imaginação, ainda, ‘A quem, me assemelharei, que eu deveria ser igual?” ‘ Afinal de contas, depois de o Criador ter criado uma similitude no mundo, e antes dEle criar uma forma, o Criador era único, sem forma e sem imagens.

E aquele que alcançá-Lo, antes do grau de Briá, que é Biná, onde Ele está além de qualquer semelhança, é proibido atribuir a Ele uma forma e uma imagem do mundo, nem na letra Hey, nem na letra Yud, ou até mesmo chamá-lo pelo nome sagrado de HaVaYaH, ou por qualquer letra e ponto.

Este é o significado do verso, “para vós não verdes forma da forma”. Em outras palavras, o verso, “para vós não verdes forma da forma”, refere-se aos beneficiados pela obtenção dEle acima do grau de Briá, que é Biná. Isso ocorre porque não há forma nem imaginação nos dois Sefirot Kéter e Chochmá, significando Kelim e os limites (item 18). Os Kelim se originam a partir da Sefirá Biná para baixo.

Essa é a razão pela qual todas as implicações em letras, em pontos, ou nos nomes sagrados são apenas oriundas de Biná para baixo. Eles também não estão no lugar das Sefirot em si, mas apenas em relação aos receptores, como na Sefirá Malchut.

36) Parece haver uma contradição em suas palavras: primeiro foi dito que as formas se prolongam para os receptores somente de Sefirá Malchut, e aqui é dito que as formas se prolongam para os receptores de Briá para baixo, ou seja, de Biná para baixo. O fato é que na verdade, a forma e a similitude se estendem apenas a partir de Bechiná Dálet, que é Malchut. Dela os Kelim se estendem até o local dos receptores, não a partir das primeiras nove Sefirot, que são Kéter, Chochmá, Biná, e Tiféret.

No entanto, a associação de Midat haRachamim com Din foi efetuada no Mundo do Tikun. Isso elevou a Sefirá Malchut, considerada Midat haDin, e o trouxe   à Sefirá Biná, considerada Midat haRachamim.

Assim, a partir desse momento, os Kelim de Malchut tornou-se proveniente de Sefirá Biná, como é dito aqui. Por essa razão, o Zohar começa a falar a partir da origem real das imagens, que são os Kelim. Diz-se que elas estão em Malchut, e então que estão em Briá, devido à associação feita para a correção do  mundo.

Nossos sábios também disseram: “No início, o Criador criou o mundo em Midat haDin; Ele viu que o mundo não pôde existir e associou Midat haRachamim a ela”. Saiba que os dez Sefirot KACHÁB TUM possuem denominações diversas no Livro do Zohar, de acordo com suas múltiplas funções.

Quando denominamos Kéter, Atzilut, Briá, Yetzirá e Assiá, sua função é distinguir entre os Kelim anterior, chamado Kéter e Atzilut, representando Kéter e Chochmá, e os posteriores Kelim, chamados Briá, Yetzirá, Assiá, representando Biná, Tiféret, e Malchut. Esse entendimento desenvolveu-se neles por meio da associação   de Midat haDin com Midat haRachamim.

O Zohar pretende sugerir a questão da associação de Malchut em Biná. Assim, o Zohar chama Sefirá Biná pelo nome de Briá. Isso é assim porque antes dessa associação, não havia imagem ou forma em Biná, mesmo em relação aos receptores, mas apenas em Malchut.

37) Ele continua lá: Depois de feita a forma de Merkava de Adam Superior, ele desceu e revestiu-se. É denominado na forma das quatro letras HaVaYaH, ou seja, as dez Sefirot KACHÁB TUM. Isso é porque a ponta do Yud é Kéter, Yud é Chochmá, Hey é Biná, Vav é Tiféret e a última Hey é Malchut. Isso é assim para que  eles o alcançassem através de Seus atributos, representando as Sefirot, em  cada simples atributo nEle.

38) Explicação das questões: De Briá em diante, ou seja, a partir de Biná, após ter sido associada com Midat haDin, que é Malchut, as semelhanças e as formas se estendem para os receptores, que são as almas. No entanto, não no seu lugar, mas somente no lugar dos receptores.

Ele diz que naquele momento ele fez a forma da Merkava de Adam Superior e desceu e o revestiu na forma de Adam. Em outras palavras, toda a forma de Adam, em seus 613 Kelim, se estende a partir dos Kelim da alma, uma vez que a alma tem 613 Kelim, chamados 248 órgãos e 365 tendões espirituais, divididos em cinco categorias, de acordo com as quatro letras HaVaYaH:

  • A ponta da Yud, seu Rosh, é considera Kéter;
  • De a Chazê é Chochmá;
  • De Chazê a Tabúr é Biná;
  • De Tabúr a Siúm Raglin são as duas Sefirot Tiféret e Malchut;

Além disso, a Torá, como um todo, é considerada Partzuf Adam, relacionando-se as 248 Mitzvot positivas, correspondentes aos 248 órgãos. E as 365 Mitzvot negativas correspondem aos 365 tendões. Ela contém cinco divisões, que são os cinco livros de Moisés, chamados “A imagem de Merkava de Adam superior”, representando Adão de Briá, que é Biná, a partir do qual o Kelim começa a estender- se para o lugar das almas.

Ele é chamado “Adam Superior”, porque há três categorias de Adam nas Sefirot: Adam de Briá, Adam de Yetzirá, e Adam de Assiá. Em Kéter e Chochmá, no entanto, não há nenhuma similitude, o que poderia ser chamado por letra e ponto, ou pelas quatro letras HaVaYaH. Já que aqui se fala do mundo de Briá, salientando- se Adam Superior.

Ao mesmo tempo, você deve sempre se lembrar das palavras do Zohar que essas imagens não estão no lugar da Sefirot Biná, Tiféret e Malchut, mas somente no lugar dos receptores. No entanto, essas Sefirot dão atributos aos Kelim e Levushim (revestimentos) para que as almas O atinjam através da Luz que se estende a eles, por medida e limite, de acordo com seus 613 órgãos. Por esse motivo, nós chamamos os doadores também pelo nome de “Adam”, apesar de estarem apenas sob a forma da cor branca (Item 8).

39) Isso não deve ser complicado para você, uma vez que as quatro letras HaVaYaH e a ponta do Yud, são cinco Kelim, já que os Kelim são sempre chamados de “letras”, e elas são as cinco Sefirot KACHÁB TUM. Assim, é evidente que existem Kelim em Kéter e Chochmá também, implícita pela ponta de Yud e o Yud de HaVaYaH.

A única coisa é que as similitudes e os atributos mencionados, que são Kelim, têm início a partir de Briá para baixo, ou seja, apenas as três Sefirot Biná, Tiféret e Malchut, e não em Kéter e Chochmá, sendo representadas do ponto de vista da essência das Sefirot.

No entanto, é sabido que as Sefirot são integradas umas às outras. Há dez Sefirot KACHÁB TUM em Kéter, KACHÁB TUM em Chochmá, KACHÁB TUM em Biná, bem como em Tiféret, e Malchut.

Assim, você percebe que as três Sefirot Biná, Tiféret e Malchut, de onde vêm  os Kelim, são encontrados em cada uma das cinco Sefirot KACHÁB TUM. Agora você observa que o topo da Yud, que são os Kelim de Kéter, indicam Biná e TM que são incorporados em Kéter.

A Yud de HaVaYaH, que é um Kli de Chochmá, indica Biná e TM incorporados em Chochmá. Logo, Kéter e Chochmá incorporados mesmo em Biná e ZON, não possuem Kelim, e em Biná e TM incorporados mesmo em Kéter e Chochmá, há Kelim.

A este respeito, existem cinco categorias em Adam. Biná e TM em todas as cinco Sefirot atribuem forma de Merkavá de Adam. Por essa razão, há Adam na categoria de Kéter, chamado Adam Kadmon, e há Adam na categoria de Chochmá, chamado “Adam de Atzilut”. Há Adam na categoria de Biná, chamado “Adam de Briá”, Adam na categoria de Tiféret é chamado “Adam de Yetzirá”, e Adam na categoria de Malchut, chama-se “Adam de Assiá”.

40) Ele nomeou a Si próprio El, Elokim, Shadai, Tzvaot e Ekie, de modo que cada simples atributo nEle fosse conhecido. Os dez nomes na Torá, que não devem ser apagados pertencem as dez Sefirot, como escrito no Zohar (Vayikra, item 168):

  • A Sefirá Kéter é chamada Ekie;
  • A Sefirá Chochmá é chamada Koh;
  • E a Sefirá Biná é chamada HaVaYaH (evidenciado Elokim);
  • A Sefirá Chéssed é chamada Kel;
  • A Sefirá Gvurá é chamada Elokim;
  • A Sefirá Tiféret é chamada HaVaYaH;
  • As duas Sefirot Netzach e Hod são chamadas Tzvaot;
  • A Sefirá Yessód é chamada El Hay;
  • E a Sefirá Malchut é chamada Adni.

41) Se não houvesse Sua Luz se expandido por todas as criações aparentemente revestindo estas Sefirot sagradas, como as criaturas viriam a conhecê- Lo? E como elas manteriam o verso, “toda a terra está repleta da Sua glória”? Em outras palavras, através disso se explica a vontade Divina de surgir às almas, como se todas essas mudanças nas Sefirot estivessem É para proporcionar às almas espaço para o conhecimento suficiente e realização nEle, que então o verso, “toda a terra está repleta da Sua glória” virá a se tornar realidade.

42) No entanto, ai de quem atribuir qualquer medida a Ele, que disser haver uma medida nEle para Ele mesmo, e até nas medidas espirituais pelas quais Ele aparece para as almas. Ainda mais nas medidas corporais de natureza humana, que são feitas de pó e são transitórias e sem valor.

Como dissemos acima, embora seja um desejo Divino das almas notarem que as mudanças em si estão no Doador, deve-se, contudo, ser claro para com as almas em relação a não haver qualquer mudança ou medida nEle. É apenas um desejo Divino a ser imaginado, como está escrito, “e pelo ministério dos profetas utilizei semelhanças”.

E eles errando, ai deles, pois perderão de imediato a abundância Divina. Isso ainda mais com os tolos que atribuem a Ele algum incidente transitório, da carne sem valor e incidentes de sangue.

19 Nota do tradutor: A tradução usual para Neshamá e Néfesh é Almas, mas aqui tive que escolher uma palavra diferente para Néfesh para distingui-la de Neshamá.

INTRODUÇÃO AO PREFÁCIO À SABEDORIA DA CABALÁ

Do livro “Cabala Para o Estudante”

Está escrito em O Zohar, Vayikra, Parashat Tazria, pág. 40: “Vem e vê, tudo o que existe no mundo, existe para o homem, e tudo existe para ele, como está escrito: ‘Então o Senhor Deus criou o homem’, com um nome completo, como tínhamos estabelecido, que ele é o todo de tudo e contém tudo, e tudo o que está Acima e abaixo, etc., está incluído nessa imagem.”

Assim, ele explica que todos os mundos, Superiores e inferiores, estão incluídos no homem. E também que toda a realidade dentro desses mundos existe só para o homem. E devemos entender estas palavras: É este mundo e tudo contido nele, que o serve e o beneficia, muito pouco para o homem, para ele precisar dos Mundos Superiores e de tudo dentro deles, também? Afinal, eles foram criados exclusivamente para as suas necessidades.

2) Para explicar completamente esta questão, eu teria que apresentar toda a sabedoria da Cabalá. Mas, em geral, as questões serão suficientemente explicadas no livro para que consigam ser entendidas. A sua essência é que a intenção do Criador na Criação foi dar prazer as Suas criaturas. Certamente, a partir do momento em que Ele contemplou criar as almas e lhes dar prazer abundantemente, elas imediatamente surgiram diante dEle, de forma completa e com todas os prazeres que Ele planejara lhes dar. Isto é assim porque Nele, o pensamento só por si conclui, e Ele não precisa de ações como nós. Em consequência, devemos perguntar: “Por que criou Ele os mundos, restrição por restrição, até descer a este mundo obscuro, e vestiu as almas nos corpos obscuros deste mundo?

3) A resposta está escrita em A Árvore da Vida: “para trazer à luz a perfeição dos Seus atos” (A Árvore da Vida, Ramo Um). No entanto, precisamos entender como pode suceder que operações incompletas decorram de um Operador completo, ao ponto que exigissem uma conclusão através de um ato neste mundo?

O que se passa é que devemos distinguir entre Luz e Kli (vaso) nas almas. A essência das almas que foram criadas é o Kli nelas, e toda a graça com que Ele planejara lhes conceder e lhes dar prazer é a Luz nelas. Isto é porque desde que Ele planejara lhes dar prazer, Ele necessariamente as criou como um desejo de receber o Seu prazer, dado que o prazer e o deleite aumentam de acordo com a medida do desejo de receber a abundância.

E saiba que esse desejo de receber é a própria essência da alma no que diz respeito à geração e evocação da existência a partir da ausência. Este é considerado   o Kli da alma, enquanto a alegria e a abundância são consideradas a Luz da alma, estendendo a existência a partir da existência da essência  dEle.

4) Explicação: Criação se refere ao aparecimento de algo que não existia antes. Isto é considerado como existência a partir da ausência. No entanto, como podemos imaginar alguma coisa que não esteja incluída nEle, pois Ele é Todo- Poderoso e inclui todas as coisas juntas? E, também, não podemos dar o que não estiver

Como já dissemos, toda a Criação que Ele criou são apenas os Kelim (plural para Kli) das almas, que é o desejo de receber. Isto é bastante evidente, dado que Ele necessariamente não possui um desejo de receber, pois de quem iria Ele receber? Assim, esta é realmente uma nova Criação, não um traço do que existia anteriormente, sendo, portanto, considerada existência a partir da ausência.

5) Devemos saber que unificação e separação aplicadas na espiritualidade se referem apenas à equivalência de forma e à disparidade de Isto porque se dois objetos espirituais são da mesma forma, eles estão unidos, e eles são um e não dois, pois não há nada a separá-los um do outro. Eles só podem ser distinguidos como dois quando houver alguma disparidade de forma entre si.

Ademais, até à extensão da sua disparidade de forma, é a medida da sua distância um do outro. Portanto, se forem de formas opostas, eles são considerados como estando tão remotos como o leste está do oeste, ou seja, a maior distância que conseguimos imaginar na realidade.

6) Todavia no Criador não há qualquer pensamento ou percepção, e não podemos pronunciar ou dizer seja o que for a Seu respeito. Mas visto que O conhecemos pelas Suas ações, devemos discernir que Ele é um desejo de doar, dado que Ele criou tudo para dar prazer as Suas criaturas e espalhar a Sua abundância sobre nós.

Assim, as almas estão em oposição de forma relativamente a Ele, pois Ele é todo doação e não tem vontade de receber coisa alguma, enquanto que as almas foram forjadas com um desejo de receber para si próprias. E já dissemos que não há maior oposição de forma do que isso.

Daqui resulta que tivessem as almas permanecido com o desejo de receber, teriam permanecido eternamente separadas dEle.

7) Agora você entenderá o que está escrito (A Árvore da Vida, Ramo Um), que a razão para a criação dos mundos foi que Ele deve ser completo em todas as Suas ações e poderes, e se Ele não executasse as Suas ações e poderes na realidade, Ele aparentemente não seria considerado inteiro. Isto parece perplexo, pois como podem ações incompletas emergir de um operador completo, na medida em que elas viessem a precisar de correção?

Do que foi explicado, você pode ver que a essência da Criação é apenas o desejo de receber. Por um lado, é extremamente deficiente, uma vez que é oposto em forma ao Doador, que é a separação dEle, mas por outro lado, esta é a inovação e toda a existência a partir da ausência que Ele criara, pela qual se pode receber dEle  o que Ele planejara lhes dar.

No entanto, tivessem elas permanecido separadas do Emanador, ficaria Ele aparentemente incompleto, dado que, no final, as operações completas devem emanar do Operador completo.

Por esta razão, Ele restringiu a Sua Luz e criou os mundos, de restrição em restrição, até descer a este mundo, e vestiu a alma num corpo mundano. E através da prática da Torá e das Mitzvot, a alma obtém a perfeição que lhe faltava antes da Criação: a equivalência de forma com Ele. Assim, ficará apta para receber toda a abundância e todo o prazer incluídos no Pensamento da Criação, e também estará em completa Dvekút (adesão) com ele, em equivalência de forma.

8) A questão da Segulá (poder) da Torá e Mitzvot para trazer a alma a Dvekút com Ele só se aplica quando o envolvimento não é com o objetivo de receber qualquer recompensa, mas apenas dar contentamento ao seu Criador. Isto é assim porque então a alma adquire gradualmente equivalência de forma com o seu Criador, como posteriormente estará escrito relativamente às palavras do Rabino Chanina, no início do livro (“Prefácio à Sabedoria da Cabalá”).

Ao todo, existem cinco graus: Néfesh, Ruach, Neshamá, Chaiá, Yechidá (NARANCHAY) – que provêm dos cinco mundos chamados AK, Atzilut, Briá, Yetzirá e Assiá. Além disso, existem cinco graus NARANCHAY particulares, que provêm dos cinco Partzufim (plural de Partzuf) particulares em cada um dos cinco mundos. Depois, há cinco NARANCHAY sub-particulares, que provêm das dez Sefirot em cada Partzuf, como estará escrito no livro (“Prefácio a Sabedoria da Cabalá”).

E através da Torá e das Mitzvot para transmitir satisfação ao Criador, somos gradualmente recompensados com os Kelim sob a forma de desejo de doar, que provêm nestes graus, de grau em grau, até alcançarem equivalência total de forma com Ele. Nesse estado, o Pensamento da Criação, receber todo prazer, ternura e abundância que Ele planejara para eles, é realizado. Adicionalmente, eles recebem  a maior recompensa, uma vez que são recompensados com verdadeira Dvekút, dado terem obtido o desejo de doar, como o seu Criador.

9) Agora, não será difícil para você entender as palavras anteriores de O Zohar, que todos os mundos, Superiores e inferiores e tudo dentro deles, foram criados apenas para o homem. Isto é assim porque todos estes níveis e mundos vieram apenas complementar as almas na medida de Dvekút que lhes faltava relativamente ao Pensamento da Criação.

No início, eles foram restringidos e descidos de grau em grau, e mundo após mundo, até ao nosso mundo material, para trazer a alma a um corpo deste mundo, que é totalmente para receber e não para doar, como animais e bestas. Está escrito: “quando a cria do asno montês nascer homem”. Este é considerado o desejo de receber completo, que não tem nada sob a forma de doar. Nesse estado, um homem é considerado como o completo oposto dEle, e não há maior afastamento do que isso.

Posteriormente, através da alma que o veste, ele se ocupa da Torá e das Mitzvot. Gradual e lentamente, de baixo para Cima, ele obtém a mesma forma de doar que o Seu Criador, através de todos os discernimentos que descem de Cima para baixo, que não são mais do que níveis e medidas sob a forma do desejo de doar.

Cada nível Superior significa que está mais longe do desejo de receber e mais perto de ser apenas para doar. No final, a pessoa é premiada como sendo inteiramente para doar e não receber nada para si mesmo. Nessa altura, a pessoa é completado com Dvekút verdadeira com Ele, pois esta é a única razão pela qual o homem foi criado. Portanto, todos os mundos, e tudo o que contêm, foram criados apenas para o homem.

10) Agora que passou a conhecer tudo isto, você tem permissão para estudar esta sabedoria sem qualquer medo de materialização. Isso ocorre porque os alunos são muito confundidos: por um lado, diz-se que as dez Sefirot e os Partzufim, desde o início das dez Sefirot de Atzilut até ao final das dez Sefirot de Assiá, são unidade e Divindade completa.

No entanto, por outro lado, diz-se que todos estes mundos são gerados e aparecem após a Tzimtzum (restrição); porém como pode isso mesmo ser concebido em Divindade? E também existem os números, e Acima e abaixo, e outras alterações do gênero, e subidas e descidas e Zivúgim (acoplamentos). Mas está escrito: “Eu, o Senhor, não mudo”.

11) Do que é esclarecido perante nós, está claro que todas estas subidas, descidas, restrições e os números apenas são considerados como Kelim (vasos) dos receptores, as almas. E devemos distinguir entre o potencial e o real em si mesmos, como uma pessoa que constrói uma casa: o fim do ato está no seu pensamento preliminar.

Todavia, a qualidade da casa na sua mente não se assemelha à casa que realmente deve ser construída, uma vez que a casa concebida é espiritualidade, uma substância conceitual, e é considerada a substância da pessoa pensante. Nessa altura, a casa existe apenas em potencial. Mas quando a construção da casa começa na realidade, ela adquire uma substância completamente diferente, a de madeira e tijolos.

Do mesmo modo, devemos discernir o potencial e o real nas almas. O início da sua emergência do Emanador em almas “reais” começa apenas no mundo de Briá. E a sua integração em Ein Sóf, antes da Tzimtzum, relativamente ao Pensamento da Criação, como escrito no Item 2, se refere apenas ao “potencial”, sem qualquer manifestação real.

Nesse sentido, diz-se que todas as almas foram integradas em Malchut de Ein Sóf, chamado “o ponto médio”, já que este ponto está incluído em “potencial” em todos os Kelim das almas que estão destinadas a “realmente” emergir do mundo de Briá para baixo. E a primeira restrição ocorreu somente neste ponto médio, ou seja, precisamente naquele discernimento e medida considerados o “potencial” das almas futuras, e não, de todo, em si mesmo.

Você deve saber que todos os Kelim das Sefirot e os mundos, através do mundo de Briá, que pendem e emergem a partir deste ponto, ou devido ao seu Zivug de Haka’á, chamado Ohr Chôzer, também são considerados meramente potenciais, sem qualquer essência das almas. Mas estas mudanças estão destinadas a afetar subsequentemente as almas cuja essência começa a emergir do mundo de Briá para baixo, já que elas ainda não se hão separado da essência do Emanador.

12) E vou lhe dar uma alegoria das condutas deste Por exemplo, uma pessoa que se cubra e esconda por detrás de roupas e vestuário para que o seu amigo não o veja e repare nele, será possível que ele próprio possa ser afetado pela ocultação provocada por todas as roupas que o cobrem?

Similarmente, tome como exemplo as dez Sefirot que chamamos Kéter, Chochmá, Biná, Chéssed, Gvurá, Tiféret, Netzach, Hod, Yessod, Malchut. Estas são apenas dez coberturas pelas quais Ein Sóf está coberto e escondido. As almas que estão destinadas a receber daí serão obrigadas a receber através dessas medidas distribuídas pelas dez Sefirot. Assim, os receptores são afetados por este número de dez Sefirot, e não pela Sua Luz, que é uma, única e imutável.

Os receptores se dividem em dez graus, precisamente de acordo com as qualidades destes nomes. Além disso, mesmo estas coberturas de que falamos pertencem somente ao mundo de Briá e abaixo, uma vez que é neste lugar que se encontram as almas que recebem estas dez Sefirot. Mas nos mundos AK e Atzilut nem as almas existem, uma vez que elas estão apenas em potencial.

Consequentemente, as dez coberturas superiores nas dez Sefirot governam apenas nos três mundos inferiores, chamados Briá, Yetzirá e Assiá. Mas nos mundos BYA as dez Sefirot são consideradas Divindade até ao final de Assiá, tal como em AK  e ABYA, e como antes da Tzimtzum.

A única diferença está nos Kelim das dez Sefirot: em AK e Atzilut, eles nem sequer revelam a sua posição dominante, já que ali se encontram apenas em “potencial”, e só em BYA começam os Kelim das dez Sefirot a manifestar a sua força de cobertura e ocultação. Porém, na Luz das dez Sefirot não há qualquer mudança devido a estas coberturas, como foi escrito na alegoria. Este é o significado de “Eu,   o Senhor, não mudo”.

13) Podemos perguntar: “Como não há revelação da essência da alma dos receptores, em AK e Atzilut, para que servem esses Kelim chamados de dez Sefirot, e quem escondem e cobrem nessas medidas?”

Há duas respostas para isso: a primeira é a suspensão, como você vai encontrar no interior do livro. A segunda é que as almas, também, estão destinados a receber essas dez Sefirot em AK e Atzilut, através da ascensão dos três mundos BYA até eles (como estará escrito no Item 163 no “Prefácio à Sabedoria da Cabalá”). Portanto, devemos discernir estas mudanças nas dez Sefirot em AK e Atzilut, igualmente de acordo com a Luz que elas estão destinadas a brilhar sobre as almas,   a partir do momento em que subam até aí com os mundos BYA, pois então elas receberão de acordo com o nível daquelas dez Sefirot.

14) Em consequência, esclarecemos totalmente que os mundos, a geração, as mudanças, o número de níveis, etc., foram ditos apenas relativamente aos Kelim que dão às almas, e escondem e medem por elas, para que possam gradualmente receber nelas a Luz de Ein Sóf. Mas eles não afetam a Luz de Ein Sóf de forma alguma, uma vez que nenhuma cobertura afeta o que é coberto, mas apenas o outro, que deseja senti-lo e receber dele, como dito na alegoria.

15) Em geral,  devemos  distinguir  estes  três  discernimentos  nas  Sefirot Partzufim, onde quer que estejam: Atzmuto (Sua Essência), Kelim e Luzes.

Em Atzilut não há qualquer pensamento ou percepção. Nos Kelim, há sempre dois discernimentos opostos: ocultação e revelação. Isto é assim porque, no início, o Kli cobre Atzmuto de uma forma que estes dez Kelim nas dez Sefirot são dez graus de ocultações.

Todavia uma vez que as almas recebem esses Kelim sob todas as condições neles, estas ocultações se tornam revelações para a realização das almas. Por conseguinte, os Kelim contêm dois discernimentos opostos, os quais são um só. Isto ocorre porque a medida da revelação no Kli é exatamente como a medida de ocultação no Kli, e quanto mais espesso o Kli, mais ele esconde Atzmuto e revela um grau mais Elevado. Assim, estes dois opostos são um.

 

E as luzes nas Sefirot se referem a essa medida do grau adequado para aparecer para a realização das almas. Uma vez que tudo se estende desde Atzmuto e, no entanto, não há realização nEle, mas apenas nas qualidades dos Kelim, existem necessariamente dez Luzes nestes dez Kelim, ou seja, graus de revelação para aqueles que recebem nas qualidades desses Kelim.

Assim, a Sua Luz e a Sua Essência são indistinguíveis, exceto que na Sua Essência não há qualquer realização ou percepção, com exceção relativamente ao que vem dEle até nós coberto nos Kelim das dez Sefirot. E, nesse sentido, nos referimos a tudo o que alcançamos pelo nome:  “Luzes”.

INTRODUÇÃO AO LIVRO, DA BOCA DE UM SÁBIO

Do livro “Cabala Para o Estudante”

É sabido, de livros e autores, que o estudo da sabedoria da Cabalá é uma necessidade absoluta para qualquer pessoa de Israel. E se houver uma pessoa que estude a Torá e conheça de cor a Mishná e o Gemará, e se existir uma pessoa que seja plena de virtudes e boas ações ainda mais do que todos os seus contemporâneos, mas que não tenha aprendido a sabedoria da Cabalá, tal pessoa deve reencarnar neste mundo para estudar os segredos da Torá e da sabedoria da verdade. Isto está presente em vários trechos nos escritos dos nossos sábios.

Isto é o que O Zohar escreve na interpretação do Cântico dos Cânticos, explicando o versículo: “Se não o sabes, ó mais formosa entre as mulheres” que os nossos sábios interpretaram como uma alma que se apresenta diante do Trono depois de seu falecimento.

O Criador afirma: “Se não o sabes, ó mais formosa entre as mulheres.” Embora você seja a mais formosa (justa) entre as mulheres e mais virtuosa em boas ações do que todas as almas, se não tem conhecimento nos segredos da Torá: “volta para trás pelas pegadas do rebanho”, saia daqui e não regresse mais a este mundo.   “E alimenta as crianças, junto às tendas dos pastores”, vá para os seminários e aprenda os segredos da Torá  da boca dos discípulos dos nossos sábios.

Devemos compreender as suas palavras, condicionando nossa perfeição através do estudo da sabedoria da verdade. Aparentemente, como isso é diferente das outras palavras da Torá revelada? Não encontramos em lugar algum que a pessoa seja obrigada a entender todos os assuntos da Torá, e que não estará completo caso algum assunto da Torá esteja em falta. Além disso, os nossos sábios disseram que não é o estudo que é o mais importante, mas sim o ato. Os nossos sábios também disseram: “Um faz muito, o outro pouco, desde que direcionem os seus corações para o Céu”, e há muitos outros ditados semelhantes.

A fim de atingir a profundidade das suas palavras mencionadas anteriormente, devemos primeiro compreender o que já foi escrito muitas vezes em O Zohar e nos Tikunim (Correções do Zohar), sábia e graciosamente: “A Torá, o Criador e Israel são um.” Isto parece ser muito paradoxal.

Antes que eu elucide as palavras deles, aviso-lhe que os nossos sábios definiram uma grande regra para nós relativamente a todos os nomes sagrados e denominações nos livros. Estas são as palavras de ouro deles: “Aquilo que não alcançamos, não definimos por um nome.”

Interpretação: É sabido que não há qualquer pensamento e percepção nEle, como está escrito no artigo “Patach  Eliyahu (Elias Abriu)” no início dos Tikunim de O Zohar. Por esse motivo, até o pensamento do “Ser” do Criador é proibido, quanto mais o discurso.

Todos os nomes que atribuímos a Ele não se referem ao Seu Eu, mas apenas às Suas Luzes, que se expandem a partir dEle para os inferiores. Mesmo o nome sagrado, Ein Sóf (Infinito), apresentado nos livros da Cabalá, é considerado também como Luz que se expande da Sua Essência.

Mas desde que Ele determinou que a Sua Luz, que se expande do Seu Eu, será alcançada pelos inferiores como Ein Sóf, devemos, portanto, defini-lo por esse nome. No entanto, isto não se refere à Sua Essência, uma vez que não há absolutamente nenhuma percepção ou pensamento nEle. Assim, como poderemos defini-lO por um nome e uma palavra, se tudo aquilo que não alcançamos não definimos por um nome?

Qualquer noviço na sabedoria da verdade deve contemplar a grande regra acima descrita antes de qualquer escrutínio num livro da Cabalá, que mesmo o pensamento é proibido no Seu Eu, uma vez que não há qualquer percepção nEle. Portanto, como podemos mencionar um nome ou uma palavra nEle, que indique realização?

No entanto, é um grande Mitzvá examinar e pesquisar nas Suas iluminações, que se expandem dEle, que são todas as denominações e nomes sagrados contidos nos livros. É uma absoluta necessidade para qualquer pessoa de Israel estudar e compreender os segredos da Torá e todas as formas de Sua doação sobre os inferiores, que são a essência da sabedoria da verdade e a recompensa futura das almas no final da correção.

Está escrito nas palavras dos nossos sábios, em O Zohar e nos Tikunim, que todos os Mundos Superiores e todas as Sefirot Sagradas dos cinco mundos AK e ABYA foram previamente preparados em quantidade e qualidade para complementar os filhos de Israel. Isso acontece porque a alma de um de Israel é uma parte de Deus Acima e “O fim de um ato está no pensamento preliminar.”

Surgiu na Sua Simples Vontade se deliciar com recompensa pelo trabalho deles. E por essa razão, toda a realidade se expandiu perante Ele por via de uma sequência de causas e respectivas consequências na descida dos níveis através dos mundos AK e ABYA. Finalmente, eles suscitaram dois discernimentos incorporados um no outro: a alma pertencente às ocultações do céu, que se expande e veste o corpo físico.

A essência da realidade se expandiu através do último nível, que é o corpo físico com uma alma. Similarmente, o encadeamento foi feita por via de causa e consequência, se relacionando com a essência da existência da realidade, que são as formas de Seu doar pendentes por diferentes graus.

Assim, a Luz Superior é Mais Alta do que Alta e acabará por se expandir e chegar à alma vestida no corpo físico neste mundo, como está escrito: “pois a terra será cheia do conhecimento do Senhor, e eles não ensinarão mais cada homem seu vizinho, e cada homem o seu irmão, dizendo: ‘Conheçam o Senhor’, porque todos Me conhecerão, do menor ao maior deles.”

Está escrito pelos nossos sábios e em O Livro de Zohar: “Toda a Torá são os nomes do Criador.” Todas as estórias e as leis e as frases, todos são os Seus Nomes Sagrados.

De acordo com o explicado anteriormente, que “Tudo que nós não alcançamos não definimos com um nome”, você vai entender imediatamente o significado dos Nomes Sagrados do Criador. Estas são as realizações que se expandem desde Ele até aos Seus servos, os profetas e os justos, cada um segundo o seu mérito, como está escrito: “somos distintos, eu e o Teu povo, de todos os povos que há sobre a face da terra”.

Esta distinção vem até nós através da recepção da Torá e do cumprimento das Mitzvot, inicialmente apenas na forma revelada. Tem o mérito de purificar os nossos corpos e de elevar as nossas almas até ao ponto em que nos tornamos dignos de alcançar toda a Torá e os seus Mitzvot como sendo os Seus Nomes. Esta é a recompensa completa pretendida para as almas no final da correção. No entanto, para este mundo também, como está escrito na Gemará, “Verás o teu mundo na tua vida.”

Isso explica-nos porque ele chama as 613 Mitzvot de 613 conselhos em vários lugares em O Zohar, e em muitos outros lugares em O Zohar ele chama as 613 Mitzvot de “613 depósitos.” É assim porque, em primeiro lugar, deve manter-se a Torá e as Mitzvot para purificar o corpo e desenvolver a alma. Naquele período, as 613 Mitzvot são como 613 conselhos para ele, “dicas” através das quais podemos gradualmente purificar e ser premiado com presença diante do Rei, e receber a Luz de sua face. Isto porque manter a Torá e as Mitzvot purifica-o gradualmente, até ele ser recompensado com a Luz da face do Rei.

Além disso, está escrito igualmente na Gemará: “O Criador não se importa  se a pessoa abate pela garganta ou abate pela parte de trás do pescoço? Pelo contrário, foi-nos concedida a Torá apenas para purificar Israel”.

No entanto, depois de se ter sido suficientemente purificado e merecer a Luz da face do Rei, os olhos e a alma da pessoa se abrem e se é recompensado com a realização das 613 Luzes Sagradas encontradas nas 613 Mitzvot. Estes são os Seus Nomes Sagrados, aqueles que a pessoa pode alcançar.

Por cumprir cada um das Mitzvot, a pessoa recebe a parte da Luz depositada nesse Mitzvá, visto que A Mitzvá é um Kli (vaso) onde a Luz é vestida, significando um Nome Sagrado que pertence especificamente a esse Mitzvá. Este é o significado de: “A  Mitzvá é uma vela e a Torá–Luz.”

Naquele momento, ele chama as 613 Mitzvot de “613 mandamentos (depósitos)”. É como alguém que deposita pedras preciosas num vaso e diz à sua amada: “Toma este Kli para ti, mas protege-o de ladrões e assaltantes”. Assim, eles só falam do vaso, mas a sua principal intenção são as pedras preciosas depositadas lá.

É sabido nos livros de Cabalá que o significado do Nome Sagrado: “O Sagrado Bendito seja Ele” ou Kudsha Berich Hu (o mesmo nome em Aramaico) trazido pelos nossos sábios e presente em O Zohar, deriva de HaVaYaH (Yud-Hey-Vav- Hey). Este Nome Sagrado contém todos os Nomes Sagrados até ao Mais Alto do que Alto. Assim, aprendemos que “a Torá e o Criador são um”, embora as massas não O vejam na Torá, mas apenas estórias, frases e leis.

Na verdade, já expliquei que “maçãs de ouro em salvas de prata” é como os 613 depósitos são chamados, como disseram os nossos sábios: “Toda a Torá são os nomes do Criador.” Portanto, a Torá e o Criador são um.

Agora ainda devemos explicarmos o discernimento de Israel. Primeiramente, você deve compreender a questão da multiplicidade de formas separadas na espiritualidade, ou seja, como elas estão divididas e em quê. Coisas corpóreas são separadas por uma faca ou algo similar, ou então o tempo ou o espaço separam-nas  e distinguem-nas. Entretanto, isso é impensável na espiritualidade, por estar acima do tempo e do espaço, como é conhecido.
Não obstante, existe o geral e o particular, em que o Criador é o conjunto de todos os nomes, e a Luz geral, e a Torá é dividida em 613 Luzes. Daqui resulta que todos eles juntos são um, e são o Próprio Criador.

Todavia, saiba que toda a diferença na espiritualidade entre as Luzes Superiores está apenas na disparidade de forma. Por exemplo: as almas mentais das pessoas estão certamente divididas em almas distintas. Cada indivíduo tem uma  alma diferente.

Porém, a diferença essencial entre elas não vai além do decorrente da sua disparidade de forma, que a alma de um é boa, e a do outro é má; uma adquiriu sabedoria e a outra insensatez, etc. Os nossos sábios afirmam sobre isso: “Como suas faces diferem umas das outras, os seus pontos de vista diferem uns dos  outros”.

Agora podemos compreender que, se fosse para todas as pessoas terem conceitos e tendências iguais, sem diferença alguma, todas as almas de todas as pessoas seriam consideradas como uma só alma. O seu valor seria como a luz do sol: o sol cobre todos os habitantes do mundo, mas não conseguimos distinguir a existência de diferentes formas na luz do sol. De forma similar, uma alma conceptual revestiria muitos corpos, visto que os lugares não se separam, de forma alguma, em questões espirituais se não existirem formas distintas nas suas qualidades.

Agora chegamos ao verdadeiro escrutínio: Sabe-se que o significado das almas dos filhos de Israel é que eles são uma parte de Deus Acima. A alma desceu em cascata por meio de causa e consequência e baixou nível após nível, até se tornar adequada para chegar a este mundo e vestir o imundo corpo  físico.

Ao cumprir a Torá e observar seus Mitzvot, sobe nível após nível, até o seu desenvolvimento estar concluído e ficar apta para receber a sua recompensa d’O Todo. Esta foi previamente preparada, ou seja, atingir a sagrada Torá por via dos Nomes do Criador, que são os 613 depósitos.

Agora você pode ver com os seus próprios olhos que “a Torá e Israel são um.” E a única diferença entre a Torá e a alma é devido à disparidade de forma na alma, que foi reduzida a uma Luz muito, muito pequena, e a Torá é Luz Simples que se expande da Essência dEle, cuja sublimidade é infinita, como está escrito: “A Torá  e  o Criador são um”.

No entanto, quando a alma está completa em sua plena estatura e recebe a Torá por via dos Nomes dEle, ou seja, alcança toda a Luz depositada na Torá e nas Mitzvot, você descobre que, de qualquer forma, a Luz da alma é igual à Luz da Torá. Isso é porque a alma já alcançou toda a luz da Torá.

É considerada ainda incompleta enquanto houver alguma falta no alcance  de uma parte pequena e subtil da Luz geral da Torá. Isso ocorre porque toda a sua Luz foi preparada para as almas, como já expliquei anteriormente: “Tudo o que não alcançamos, não definimos por um nome”.

E visto que a Luz foi preparada para o alcance da alma, e a alma ainda não a alcançou inteiramente, é, portanto, considerada incompleta, como em: “Vou cumprir toda a Torá, com exceção de uma coisa. Certamente, ele é um completo ímpio.”

No entanto, como tal você pode declarar no cumprimento da Torá e das Mitzvot alcançando os 613 depósitos. Está incompleto enquanto faltar mesmo que seja apenas uma coisa, grande ou pequena.

Por conseguinte, atingirá finalmente a perfeição completa, ou seja, alcançar toda a Luz da Torá. Nesse momento, não haverá qualquer disparidade de forma entre a Luz da alma e da Luz da Torá. Assim, você graciosamente descobrirá que “A  Torá  e Israel são um”, literalmente.

Porque não há nenhuma diferença ou disparidade de forma entre si, são literalmente um. E uma vez que já havíamos provado que “O Criador e a Torá são um”, e que agora provamos que “A Torá  e Israel são um”, é portanto evidente que  “a Torá e o Criador e Israel são um”.

De tudo o que foi exposto, você descobre que existem duas partes na Torá e nas Mitzvot:

  1. A Torá e as Mitzvot como se apresentam a todos, estando o cumprimento das Mitzvot e o estudo da Torá sob a forma de 613 Estes têm  o poder de purificar e limpar o corpo e reforçar a força da alma, para ser digno e merecer receber a Luz da face do Rei, como a alma estava em sua raiz, antes de diminuir e vir a este corpo básico  no mundo básico.
  2. Cumprir as Mitzvot e estudar a Torá sob a forma de 613 depósitos, ou seja, a questão de alcançar os Nomes dEle e a recompensa total das O mérito da última parte sobre a primeira é como o mérito do Céu sobre a Terra. Isso ocorre porque a primeira parte é mera preparação e a segunda parte é a verdadeira plenitude e o propósito da Criação.

Isso explica a nossa questão anterior sobre as palavras dos nossos sábios, que, mesmo que uma pessoa se destaque na Torá e nas boas ações mais do que todos os seus contemporâneos, se ela não tiver aprendido os segredos da Torá e a sabedoria da verdade, ela deve reencarnar no mundo.

Nós perguntamos: “Qual é a diferença entre este assunto na sabedoria da verdade de outros assuntos na Torá?” Não encontramos em nenhum lugar que a pessoa é obrigada a se ocupar em todos os temas na Torá. Pelo contrário, temos encontrado oposição a tal em muitos lugares, tais como: “Um faz muito, o outro pouco, desde que direcionem os seus corações para o Céu”, e também: “não é o estudo que é importante, mas o ato em si.”

Agora o assunto está esclarecido: toda a parte da Torá revelada, não é senão uma preparação para se tornar digno de mérito e merecer atingir a parte escondida. É a parte oculta que é a verdadeira plenitude e a finalidade para a qual o homem é criado.

Portanto, claramente, se uma parte da parte oculta estiver ausente, embora  se possa cumprir a Torá e observar os seus mandamentos na parte revelada, a pessoa ainda terá de reencarnar neste mundo e receber o que deveria receber, ou seja, a parte escondida, por meio de 613 depósitos. Apenas assim é a alma completada, da maneira que o Criador pré-determinou.

Você pode ver, portanto, a necessidade absoluta para qualquer um de Israel, seja ele quem for, envolver-se na interioridade da Torá e nos seus segredos. Sem isso, a intenção da Criação não estará concluída nele.

Esta é a razão pela qual reencarnamos, geração após geração, até à nossa geração atual, que é o resíduo das almas sobre as quais a intenção da Criação não ficou concluída, dado não terem atingido os segredos da Torá nas gerações passadas.

Por esta razão, eles disseram em O Zohar: “Os segredos da Torá e os seus mistérios estão destinados a serem revelados na época do Messias.” Está claro para qualquer pessoa que entenda, que uma vez que completem a intenção da Criação, serão recompensadas com a vinda do Messias. Assim, inevitavelmente, os segredos  da Torá serão abertamente revelados entre eles, sendo que se a correção for bloqueada eles serão obrigados a reencarnar.

Isto deve lhe explicar o que devemos questionar sobre esta interpretação em geral, pois quem sou eu, e quem são os meus pais, para me ter sido concedido fazer   a interpretação para expandir o conhecimento dos segredos escondidos em O Zohar  e nos escritos do Ari? Ademais, porque é que ainda não encontramos ninguém que interprete esta sabedoria de forma tão aberta como eu?

Agora você pode ver que, nossa geração está realmente na época do Messias, e estamos todos à beira da correção completa, e a única resistência é o abandono completo da sabedoria da verdade nesta geração, devido à dificuldade da língua e à dispersão das matérias.

Além de tudo isso, há a pequenez da mente e os problemas abundantes na nossa geração. Assim, quando o Senhor desejou acelerar a redenção das nossas almas, Ele colocou na minha mão um privilégio para divulgar a medida nesta interpretação, e a vontade de Deus obteve sucesso na minha  mão.

E eu tinha outra razão para fazer esta interpretação aberta, como está escrito em O Zohar: “É preciso aprender um pouco, mesmo com um disparate”, como está escrito: “na medida em que a luz exceda a escuridão.” Depois de eu ter terminado a minha época na cidade de Varsóvia, na Polônia, confinado ao meu quarto, não tendo nada a ver com a escuridão do meu ambiente, fui abençoado com o estabelecimento na Cidade Santa de Jerusalém.

E quando caminhava entre as pessoas aqui, eu vi a miséria do meu povo, a pobreza da sua mente. O seu riso tolo soava nos meus ouvidos como o barulho de panelas sob a cidade, zombando e calcando o coração e a alma dos nossos anseios, caluniando o Senhor, a Sua Lei e o Seu povo em voz alta, sem qualquer sabedoria, entendimento e conhecimento na sabedoria da Cabalá, qualquer que seja. Pelo contrário, é um conjunto de palavras e nomes, sem sentido e sem moral, apenas palavras literais.

É um privilégio trocar palavras soltas no texto escrito com fé completa afirmando que são coisas sagradas, e que, portanto, a finalidade da Criação será concluída sobre nós. E quando aqueles que se dedicam aos textos literais com completa fé aumentarem em número, o Rei Messias virá imediatamente, pois devido a isso a correção total estará completada, e nada mais será  necessário.

Finalmente, encontrei-me com os famosos entre eles, pessoas que já gastaram os seus anos mergulhados nos escritos do Ari e O Zohar. Eles foram tão bem sucedidos que se tornaram proficientes e familiarizados com todos os escritos do Ari.

Eles têm a reputação de serem as pessoas mais sagradas na terra. Perguntei- lhes se haviam estudado com um Rav que alcançara a interioridade das coisas. Eles responderam: “Céus, não! Não há aqui qualquer interioridade, mas textos precisos, que nos foram dados, e nada mais do que isso, Deus proíba.”

Perguntei-lhes se Rav Chaim Vital tinha atingido a interioridade das coisas. Eles responderam: “Ele certamente não atingiu mais do que nós.” Então, perguntei- lhes sobre o próprio Ari. Eles responderam: “Ele certamente não conhecia a interioridade mais do que nós, e tudo o que ele sabia, ele passou para o seu discípulo, Rav Chaim Vital, tendo assim chegado às nossas mãos.”

Eu ri deles: “Como, então, estavam os assuntos compostos no coração do Ari, sem qualquer compreensão e conhecimento?” Eles responderam: “Ele recebeu  a composição destes assuntos de Elias, e este conhecia a interioridade, visto ser um anjo.” Aqui a minha ira se derramou sobre eles, pois terminara a minha paciência para estar com eles.

E quando eu vi que a insensatez deles havia se enraizado em quase todos os que se dedicavam a esta sabedoria, nessa altura, coitados dos ouvidos que tal ouvem, “Será que ele até forçará a rainha perante mim na casa?”

O Sagrado Zohar já lamentara amargamente a negação dos pecadores nas suas almas, que dizem não haver segredos internos na Torá, conforme está escrito em Parashat Vayerá: “Será que a Torá veio para mostrar-nos fábulas e contos históricos? Tais histórias e fábulas são encontradas entre outras nações, também”. Os nossos sábios disseram que eles arrancam pelas raízes as plantações, pois eles tomam apenas Malchut.

O que diriam os autores de O Zohar vendo a cultura desse povo tão pecador, negando que haja qualquer conhecimento ou sabedoria nas palavras de O Zohar e  da própria sabedoria da verdade? Sobre os próprios segredos da Torá, eles dizem que não existe conhecimento ou percepção revelada neste mundo, mas apenas palavras vazias. Assim, eles vieram para forçar a Sagrada Divindade dentro do palácio do Rei. Coitados deles, pois causaram danos às suas almas.

Os nossos sábios disseram que a Torá Sagrada lamenta-se diante do Criador: “Os Teus filhos transformaram-me numa canção em casas públicas.” Mas eles não fazem da Torá sequer a semelhança de uma canção, apenas palavras assustadoras para qualquer ouvinte que suscitam desprezo e ira.

Ademais, eles querem ser recompensados como Pinchas (Finéias), dizendo que o fazem com completa fé. A escritura diz sobre eles: “Porquanto este povo se aproxima, e com a sua boca e com os seus lábios honram-Me, mas afastaram o seu coração de Mim”, e esta é a razão para a ruína do Primeiro Templo.

O demônio ainda dança entre nós, precisamente no tempo do Messias, o tempo do fim dos segredos da Torá. O zelo do Senhor dos Exércitos veio como fogo que não se vai extinguir nos meus ossos. Por causa disso, fui despertado para levantar o véu de tal forma que eles saberão que há sabedoria em Israel.

Este foi um dos principais motivos que me levou a esta explicação. Você deve ver em cada objetivo e em cada meta que é absolutamente simples. Toda a sagacidade, a inteligência e muitas questões são formadas durante a preparação, até que o objetivo seja alcançado. Por exemplo, quando alguém quer se estabelecer numa casa, precisa de inteligência e conhecimento do projeto, do artesanato e da qualidade e quantidade dos quartos e das posses.

O objetivo final é uma coisa simples: habitar lá. Este é o significado das palavras: “de acordo com a beleza de um homem, habitar na casa.” É um pensamento simples, sem conceitos nem proliferação, e sem sagacidade, mas uma simples vontade.

Saiba que todas as sofisticações no conhecimento são principalmente erros que devem perecer perante a verdade. No entanto, a verdade em si é simples, sem sagacidade.

Há um segredo nisso, constituindo principalmente o muro de ferro que nos separa do nosso Pai no Céu: há coisas que estão escondidas devido à sua grande altura e profundidade, e há coisas que estão escondidas devido à sua extrema subtileza, como moscas no ar, demasiado finas para serem  vistas.

Dado que a Sua Luz é Luz Simples de tal forma que a mente humana, que sente apenas uma pequena porção de alguma coisa, simplesmente não percebe. É como as menores coisas de uma determinada medida, que exigem uma ferramenta real para ver.

Isto é assim porque, embora nem toda a profundidade da altura e a profundidade da largura sejam percebidas, você consegue contudo perceber  de forma aproximada. No entanto, com coisas subtis, é como se elas não existissem de forma alguma, visto você não alcança nem um pedacinho  delas.

A MENTE ATUANTE

Do livro “Cabala Para o Estudante”

A passagem que diz que toda pessoa é obrigada a entender a raiz de sua alma significa que o propósito desejado e esperado do Criador por Suas criaturas é a Dvekút com Ele, como está escrito, “e aderir-se a Ele” (Deuteronômio 11:22), e os sábios explicaram isto no sentido de aderir-se às qualidades do Criador, assim como Ele é misericordioso, etc. E as qualidades do Criador são manifestadas pelas Santas Sefirot, como sabemos. E este é o segredo da mente atuante que causa e conduz Seu mundo e mede o impacto de Sua benevolência e a  abundância.

Mas é preciso entender porque isto é chamado de Dvekút com o Criador, uma vez que parece ser um mero estudo. Eu vou usar uma analogia para explicar o conceito que com cada ação no mundo, a mente que a causa, se adere a ela e permanece com ela. Assim como em uma mesa, oculta dentro dela está a mente do carpinteiro e seu ofício, grande ou pequena, visto que, enquanto ele trabalha, ele planejou isto de acordo com sua mente. Quando uma pessoa vê a ação completa, e compreende a consciência oculta nela, então, naquele momento, ela adere a esta consciência que a causou. Ou seja, elas se tornam completamente  unidas.

Porque na verdade, não há distância ou separação entre as coisas espirituais, mesmo quando elas são vestidas em formas físicas divididas, mas a mente dentro de cada uma delas não pode ser descrita em partes separadas, porque não há faca que possa cortar o espiritual para deixa-lo em partes separadas. Pelo contrário, a principal diferença entre as coisas espirituais está em sua classificação, ou seja, se eles são dignos de louvor ou condenação, e também de acordo com seus componentes compatíveis, pois a mente que pensa sobre a sabedoria das estrelas não pode se aderir à mente científica.

E mesmo dentro de uma dada sabedoria, existem muitos ensinamentos, pois se a pessoa for mais sábia do que outra mesmo em um aspecto da sabedoria, isto divide os dois espiritualmente. Mas quando duas pessoas sábias contemplam a mesma sabedoria e seu entendimento disto é igual, então elas são verdadeiramente unidas, pois nada as divide, leia isto cuidadosamente.

Portanto, quando uma pessoa pensa sobre as ações de outra e compreende a consciência por trás de sua ação, ambas têm a mesma medida de poder e pensamento, e elas são verdadeiramente unidas. Isto é como uma pessoa que encontra um amigo amado no mercado e o abraça e beija, e eles não podem ser separados devido à grande unidade entre eles.

E assim, de acordo com esta regra que a mente do Falante é a força que está mais próxima e mais compatível com o Criador, e isto é considerado como “o meio”. Isto significa que o Criador emanou uma centelha da força e por esta centelha tudo pode retornar à Ele.

E está escrito: “Fizeste todas as coisas com Tua sabedoria” (Salmos 104:24), ou seja, todo o mundo foi criado através da sabedoria do Criador, e portanto, aquele que merece perceber as condutas em que o Criador criou o mundo e suas ordens se adere à Mente que as causou, assim ele se adere ao  Criador.

E este é o segredo da Torá, que é todos os Nomes do Criador, que são aplicáveis às Suas criaturas. E os criados atingem por elas a Mente do Criador, pois   o Criador estava olhando a Torá quando Ele criou o mundo como sabemos. E através da iluminação que a pessoa atinge através da Criação, sempre se aderindo a esta Mente, a pessoa se adere ao Criador.

E através disto, nós entendemos porque o Criador nos mostrou todas as Suas ferramentas de trabalho: “Nós precisamos deste conhecimento para criar mundos?” Disto, nós aprendemos que o Criador nos mostrou Suas condutas para que soubéssemos como aderir a Ele, que é ao “aderir às Suas qualidades” (Yalkut Shimoni).

ISTO É PARA JUDÁ

Do livro “Cabala Para o Estudante”

Do Comentário sobre a Hagadá de Pêssach publicado em 1930

 

“Este é o pão da aflição, que os nossos pais comeram na terra do Egito.” A Mitzvá de comer Matzá23 foi dada aos filhos de Israel mesmo antes deles terem partido do Egito. Que foi em nome da futura Redenção, que era para ser às pressas. Daqui resulta que a Mitzvá de comer Matzá lhes foi dada enquanto eles ainda eram escravos. A Mitzvá na verdade se referia ao tempo da Redenção, visto que eles partiram apressadamente.

É por isto que, quando nós comemos Matzá hoje, nós gostamos de mencionar do consumo da Matzá no Egito, pois nós também estamos em dias de escravidão, em exílio. E nossa intenção na Mitzvá de comer a Matzá é trazer a Redenção futura breve em nossos dias, Amén, da mesma forma que nossos pais fizeram quando comeram Matzá no Egito.

“Agora somos escravos, no próximo ano seremos livres.” Como dissemos acima, a intenção por trás desta Mitzvá é despertar a Redenção futura que é garantida, ao comer a Matzá da forma que nossos pais comeram no  Egito.

“Éramos escravos…” Nós aprendemos em Masechet Pesachim, pág. 116a, que “começa com condenação e termina com louvor”. Sobre a condenação, Rav e Shmuel discordam, o Rav diz que nós devemos começar com “no início, os nossos pais eram idólatras” e Shmuel disse que devemos começar com: “éramos escravos”.  A Halachá é de acordo com Shmuel.

É importante compreender esta discordância. E a razão para “começar com condenação e terminar com louvor”

Precisamos compreender esta discordância. A razão para “começa com condenação e termina com louvor” é a mesma de “a luz é melhor do que as trevas” (Eclesiastes 2:13). Mas primeiro devemos reconhecer a condenação para que nós apreciemos completamente a bondade do Criador e o que  Ele fez por nós.

É sabido que todo nosso princípio veio de um lugar de condenação, dado que a não existência, ou ausência, precede a existência. É por isto que “de um jumento selvagem nasce um homem” (11:12) e, no final, adquire a forma de um homem, que é comum a tudo na Criação, este também é o processo de enraizamento de toda a nação Israelita.

Isto significa que visto que o Criador trouxe a Criação à existência como “existência a partir da ausência”. Não há um ser existente que não era anteriormente uma forma não existente, embora cada item individual da Criação tenha sua própria forma separada da não existência. Então, quando nós dividimos a existência em quatro tipos: Inanimado, Vegetativo, Animado e Falante, nós encontramos que necessariamente o início de cada item Inanimado começou da não existência completa, enquanto que cada item Vegetal começa e resulta de seu tipo precedente de existência e não de uma não existência total.

O início do item Vegetal não é da não existência total mas, pelo contrário, ele começa e resulta de seu tipo precedente de existência, que é considerado como sua forma de não existência relativamente. Assim, o processo de semeadura e decadência, que é necessário a cada semente, é considerado como sendo recebido  do Inanimado. Da mesma forma, é com a fase não existente do Animado e Falante, pois a forma Vegetal é considerada como não existência relativo a forma Animada,  e a forma Animada é não existência relativa ao ser Falante.

Assim, este verso nos ensina sobre a forma não existente, que precede a forma Falante, ou seja a Animada, dizendo, “de um jumento selvagem nasce um homem”, onde o ser humano necessariamente começa como um animal. E também está escrito: “Tu salvas, Senhor, os homens e animais” (Salmos 36:7) e assim como o Criador fornece tudo que o animal precisa para sobreviver e cumprir seu propósito, assim Ele fornece ao ser humano com tudo o que ele precisa para sobreviver e cumprir seu propósito.

Portanto, precisamos entender a superioridade intrínseca do ser humano sobre o animal. Isto pode ser visto pelas suas necessidades e desejos, pois os desejos do ser humano são certamente diferentes daqueles das bestas, e ao mesmo nível, a salvação de Deus para o ser humano é distinguida da salvação de Deus para a besta.

Após investigar este conceito completamente, nós encontramos uma diferença intrínseca entre as necessidades do ser humano e a do reino animal, exceto pelo despertar para a Divina Dvekút (adesão), que é inerente apenas ao ser humano.

Nós encontramos que toda a existência dos seres humanos pode ser medida apenas pelo nível do anseio inerente a fazer o trabalho do Criador, e esta é a medida de sua superioridade ao reino animal. E muitos já trouxeram esta ideia que mesmo   a mente inteligente lidando com artesanato ou habilidades políticas pode também ser encontrado em muitas espécies do reino animal.

E através disto, nós também podemos entender a ausência que precede a existência do ser humano, a não existência do desejo de estar próximo ao Criador,  o nível da besta, como nós mencionamos acima. Através disto nós podemos entender as palavras da Mishná: “Começa com condenação e termina com louvor”, que significa que nós devemos relembrar e compreender esta falta em uma maneira positiva. Esta é a condenação que precede o louvor, e disto nós entenderemos o louvor mais profundamente e poderosamente, através de “começando com condenação e terminando com louvor”.

Isto também ilustra o conceito de nossos quatro exílios, exílio após exílio que precedem as quatro Redenções, Redenção após Redenção até a quarta Redenção que é a perfeição desejada absoluta que nós esperamos breve em nossos dias, Amén. O exílio é a não existência que precede a existência. E existência é Redenção. Dado que esta não existência é o estágio de preparação da existência, assim como semear    é a preparação do estágio de colher, como é explicado nos livros. Portanto todas as letras de GE’ulá (Redenção) são encontradas na palavra Golá (exílio)24 exceto pela letra Álef, que se refere ao “Aluf (Campeão) do mundo”, que nos ensina assim como os sábios disseram que a forma da ausência é apenas a não existência da  existência.

A forma desta existência é a Redenção, como as escrituras nos dizem: “e não ensinarão mais cada um ao seu próximo… porque todos Me conhecerão, do menor ao maior deles” (Jeremias 31:33). Portanto, a forma da não existência precedente, o exílio, é a única não existência do conhecimento do Criador, que é indicado pela Álef que falta, que está faltando no Golá (exílio) e esperamos por ela na GE’ulá (Redenção). Esta é a Dvekút com o Campeão do mundo, como nós mencionamos. Esta é precisamente a Redenção de nossas almas, nem mais e nem menos, e é o que nós dissemos sobre todas as letras em GE’ulá estão presentes em Golá, exceto a Álef, que é o Campeão do mundo, entenda isto bem.

Para entender este importante conceito que cada não existência prepara o caminho para sua entidade correspondente de existência, nós podemos aprender sobre isto das coisas neste mundo material. Nós vemos que o conceito de liberdade, que é um ideal sublime, só é compreendido por uns poucos escolhidos, e apenas eles pela forma da preparação apropriada. A maioria das pessoas não pode provar isto pois elas não têm conceito disto. Por outro lado, na escravidão, os grandes e pequenos são iguais, e nem mesmo os menores das pessoas podem tolerar isto.

(Nós vimos isto com o povo Polonês, que apenas perderam seu reino porque a maioria deles não apreciava a importância de sua liberdade e não a guardou de perto. Eles caíram à escravidão sobre o regime Russo por cem anos. Então todos eles gemeram sob o jugo da escravidão e todos eles, grandes e pequenos, imploraram por liberdade. E embora eles não saibam como apreciar a verdadeira essência da liberdade real, e cada um a imagine como lhe agrada, da falta de liberdade, que é a escravidão, o valor da liberdade foi marcado em suas almas para apreciar e amar a liberdade.

Porém, quando eles foram libertados do jugo da escravidão, muitos deles ficaram confusos e não apreciaram o que eles ganharam por sua liberdade. Alguns  se arrependeram disto e disseram que seu governo os sobrecarregava com taxas ainda maiores do que o governo estrangeiro, e eles desejaram que as coisas não tivessem mudado, porque o poder da ausência de liberdade não tinha agido sobre eles como deveria.)

Agora podemos entender a discordância entre Rav e Shmuel. O Rav interpreta a Mishná que diz que “começa com condenação…” ou seja, que isto nos fará apreciar a Redenção ainda mais, e portanto, nós começamos com o tempo de Terach, e ele discorda com Shmuel, porque no Egito, alguns já tinham o amor e serviço do Criador instilado neles, e a dificuldade extra de escravidão no Egito não   é uma falta por si própria para a nação chamada “Adam”, como discutimos acima.

E Shmuel diz, ao contrário do Rav, que o conceito da liberdade nacional através do conhecimento do Criador é um conceito extremamente sublime que apenas uns poucos podem compreender, e apenas através da preparação adequada. Mas a maioria da nação não estava neste nível ainda. Por outro lado, o conceito da dificuldade da escravidão é compreensível a todos, como Ibn Ezra escreveu em sua interpretação do início da Parashat Mishpatim: “Não há nada mais difícil para o ser humano do que estar sob a autoridade de outro ser humano como ele mesmo”.

E ele interpreta a Mishná dizendo que a não existência prepara o caminho para a existência, e é portanto considerada uma parte da Redenção do Criador pela qual devemos ser gratos. Portanto, nós não devemos começar com: “…no início, os nossos pais eram idólatras”, visto que naquele tempo não era o caso de não existência preparando o caminho para uma existência. Eles estavam longes de ter uma existência “humana” porque eles estavam muito longes do amor do Criador.

Então nós começamos com a escravidão no Egito, quando uma pequena centelha do amor do Criador já estava queimando em seus corações. Mas com o trabalho duro, esta centelha estava desvanecendo, e assim, pode ser considerado como a ausência que precedeu a existência. Portanto nós começamos com: “Éramos escravos”.

 

23 Nota do tradutor: pão sem fermento comido pelos judeus na festividade de Páscoa.
24 Nota do tradutor: Em Hebraico, a diferença entre as palavras Ge’ulá (Redenção – Gimel, Álef, Vav, Lamed, Hey) e Golá (Exílio – Gimel, Vav, Lamed, Hey) é na adição da letra Álef à última.

MATÉRIA E FORMA NA SABEDORIA DA CABALÁ

Do livro “Cabala Para o Estudante”

A ciência em geral tem duas divisões. A primeira é chamada o conhecimento da matéria e a segunda é chamada o conhecimento da forma. Não há nada no mundo que não consista de matéria e forma.

Por exemplo, a madeira é a matéria da mesa e o formato da mesa é a forma. A matéria, madeira, é a base para a forma que é a mesa. Similarmente, a palavra mentiroso tem matéria, uma pessoa, e a mentira em si é a forma. A matéria, que é a pessoa, é a base para a forma que é a mentira, ou seja, alguém que é usado para Mentiras. O mesmo é verdade para todas as coisas.

A ciência, que por sua natureza lida com os detalhes da realidade, também é dividida em duas divisões: o conhecimento da matéria e o conhecimento da forma. O conhecimento da ciência que está lidando com a natureza das matérias da realidade com ou sem forma é chamado Conhecimento da Matéria. Este conhecimento é baseado na experiência, isto é, em provas e analogias tomadas da experiência prática. Estas experiências são tomadas como uma base segura para conclusões verdadeiras.

A segunda divisão da ciência lida com formas abstratas das matérias sem se importar em si com a própria matéria. Elas eliminam os aspectos de verdade ou mentira na forma da matéria, que são as pessoas que as carregam. Os cientistas lidam unicamente com os valores de importância, ou falta deles, nestas formas de verdade  e mentira, tais como elas possam ser, cada uma de acordo com sua própria essência nua, como se elas não fossem englobadas por qualquer matéria. Isto é chamado o Conhecimento da Forma.

Este conhecimento não é baseado em qualquer experiência prática, pois formas abstratas como estas não entram na experiência prática. Elas não são parte   da realidade prática. A forma abstrata é tomada unicamente da imaginação. Apenas  a imaginação pode formá-la, embora não seja a realidade  prática.

Portanto, todo conhecimento científico deste tipo é construído unicamente sobre a base do processo de pensamento profundo. Não é tomado da experiência prática, mas unicamente do dar e receber do processo de pensamento profundo.

Toda a alta filosofia é deste tipo. Portanto, uma grande porção dos pensadores modernos a abandonaram. Eles não estão satisfeitos com o dar e receber construído em um processo de pensamento profundo, porque em sua opinião, isto cria uma base incerta. Eles condiram apenas a base prática como  certa.

A Cabalá também é dividida em duas categorias: O estudo do material e o estudo do abstrato. Mas existe uma distinção importante entre a Cabalá e a ciência secular. Na Cabalá, mesmo o estudo da forma é construído inteiramente sobre um estudo de entendimento prático, isto é, na base de experiência  prática.

OCULTAÇÃO E REVELAÇÃO DA FACE DO CRIADOR

Do livro “Cabala Para o Estudante”

A segunda ocultação a que os livros se referem como “ocultação dentro da ocultação”, significa que a pessoa não pode ver nem mesmo as costas do Criador.  Ao invés, esta diz que o Criador a abandonou e a desconsidera completamente. Ela atribui todos os sofrimentos que sente ao destino cego e a natureza, uma vez que os caminhos da Providência se tornam tão complexos aos seus olhos estes a levam a negação.

Isto significa (descrição) que uma pessoa ora e dá caridade pelos seus problemas, mas não recebe qualquer resposta. E precisamente quando ela para de orar pelos seus problemas, ela é respondida. Sempre que ela supera, acredita na Providência e melhora suas ações, a sorte se distancia dela e impiedosamente se retira. E quando ela nega e começa a piorar suas ações, ela se torna bem sucedida e se sente muito aliviada.

A pessoa não encontra seu sustento de forma apropriada, mas enganando os outros ou profanando o Shabat. Ou, todos os seus conhecidos que guardam a Torá   e as Mitzvot (mandamentos) sofrem de pobreza, doenças e são desprezados pelas pessoas. Estes observadores das Mitzvot parecem para ela mal educados, naturalmente desmiolados e tão hipócritas que ela mal pode ficar entre eles sequer por um minuto.

Reciprocamente, todos os seus conhecidos perversos, que zombam de sua fé, são bem sucedidos, prósperos e saudáveis. Eles não conhecem a doença, são inteligentes, virtuosos e de bom temperamento. São despreocupados, confiantes e tranquilos o dia todo, todos os dias.

Quando a Providencia arranja as coisas deste modo para uma pessoa, isto é chamado de “ocultação dentro da ocultação”. Isto porque então a pessoa cai sobre seu próprio peso e não consegue continuar a fortalecer a crença de que a sua dor vem do Criador por alguma razão oculta. Finalmente, ela fracassa, torna-se herética   e diz que o Criador não está cuidando de Suas criações, e tudo que transpira, transpira pelo destino e pela natureza cega. Isto é não enxergar até mesmo as costas.

DESCRIÇÃO DA OCULTAÇÃO DA FACE
  1. Sofrendo tormentos tais como falta de renda, problemas de saúde, desgraças, fracasso em realizar seus próprios planos, e insatisfação emocional tal como evitar atormentar o seu
  2. Orando sem ser respondida. Declinando quando melhora suas próprias ações, e tendo sucesso quando as piora. Obtendo seu sustento de forma imprópria: enganando, roubando, ou profanando o Shabat.
  3. Todos os seus conhecidos honestos sofrem pobreza, doenças, e degradações de todos os tipos, e seus conhecidos perversos zombam dela todos os dias e sucedem na saúde, riqueza e levam uma vida despreocupada.
  4. Todos os seus conhecidos justos que guardam Torá e Mitzvot parecem cruéis, egoístas, estranhos ou naturalmente estúpidos e mal-educados, mesmo no Jardim do Éden, e ela não pode ficar entre eles nem mesmo por um

Uma ocultação (descrição): Sua Face não é revelada; isto é, o Criador não se comporta em relação a pessoa de acordo com Seu Nome – O Bom que Faz o Bem. Ao invés, é o contrário – ela é afligida por Ele ou sofre com renda pobre, e muitas pessoas querem cobrar suas dívidas dela e tornar sua vida mais amarga. Todo seu dia é preenchido com problemas e preocupações. Ou, ela sobre de problemas de saúde   e desrespeito das pessoas. Todo plano que começa fracassa por completo, e ela está constantemente frustrada.

Desta maneira, é claro que ela não vê a Boa Face do Criador, isto é, se ela acredita que o Criador é aquele que faz estas coisas a ela, ou como punição por transgressões ou para a recompensar no final. Isto segue o verso, “quem o Senhor ama, Ele corrige”, e também, “o justo começa com sofrimento, já que o Criador deseja eventualmente dá-lo grande paz”.

Porém, ela não falha em dizer que tudo isto veio a ela por destino cego e pela natureza sem qualquer razão e consideração. Ao invés, ela se fortalece em acreditar que o Criador, com Sua Orientação, lhe causou tudo isto. Isto é, no entanto, considerado ver as costas do Criador.

 

DESCRIÇÃO DA REVELAÇÃO DA FACE

Mas uma vez que ela tenha completamente descoberto a especiaria – a Luz que ela exala em seu corpo – através do fortalecimento da fé no Criador, ela se torna digna da Orientação com Sua Face revelada. Isto significa que o Criador se comporta com ela como é digno ao Seu Nome, “O Bom que Faz o  Bem”.

Assim (descrição), ela recebe abundantemente o bem e grande paz do Criador e está sempre satisfeita. Isto é porque ela obtém seu sustento com facilidade e ao máximo, nunca passando por problemas ou pressões, não conhece a doença, é altamente respeitada pelas pessoas, facilmente conclui qualquer plano que vêm a sua mente, e sucede em tudo que faz.

E quando ela deseja algo, ela ora e é instantaneamente respondida, pois Ele sempre responde tudo que ela pede dEle, e nem uma única oração é negada. Quando ela se fortalece com boas ações, ela sucede ainda mais, e quando é negligente, seu sucesso  proporcionalmente diminui.

Todos os seus conhecidos são honestos, de boa renda e saúde. Eles são altamente respeitados aos olhos das pessoas e não tem quaisquer preocupações. Eles estão em paz todos os dias e sempre. Eles são inteligentes, confiáveis, e tão graciosos que ela se sente abençoada de estar entre eles.

Por outro lado, todos os seus conhecidos que não seguem o caminho da Torá são pobres de sustento, preocupados com pesadas dívidas, e não conseguem achar descanso até mesmo um único momento. Eles estão doentes, em dor, e desprezíveis aos olhos das pessoas. Eles parecem a ela estúpidos, grosseiros, perversos e cruéis com as pessoas, enganadora e tão bajuladores que é intolerável estar entre eles.

Seu Nome nos mostra que Ele é benevolente com todas Suas criações em todas as formas de benefício, suficiente para todo tipo de receptor dentre Israel. Certamente, o prazer de um não é como o prazer de outro. Por exemplo, aquele que engaja na sabedoria não desfruta honra e riqueza, e aquele que não engaja na sabedoria não desfruta de grandes realizações e invenções na sabedoria.  Assim, Ele dá riqueza e honra a um, e maravilhosas realizações na sabedoria a  outro.

Seu pedido para se tornar forte na crença em Sua Orientação sob o mundo durante o período de ocultação a leva a contemplar os livros, a Torá, e a atrair de lá  a Luz e a compreensão de como fortalecer sua fé na Sua Orientação. Estas iluminações e observações que ela recebe através da Torá são chamadas “a especiaria da Torá”. Quando elas são recolhidas a uma certa quantidade, o Criador tem misericórdia dela e derrama sobre ela o espírito do Alto, isto é, a Grande Abundância.

DESCRIÇÃO DA REVELAÇÃO DA FACE
  1. Recepção abundante do bem e paz, e obtenção de seu sustento com facilidade e ao máximo. Nunca sente escassez ou problemas de saúde, é respeitada onde quer que for, e com sucesso e facilmente realiza qualquer plano que venha à sua mente.
  2. Quando ora, é imediatamente respondido. Quando melhora seus caminhos, é muito bem sucedido, e quando piora seus caminhos, perde seu sucesso.
  3. Todos os seus conhecidos que andam no caminho certo são ricos, saudáveis, não conhecem a doença, são altamente respeitados pelas pessoas, e habitam em paz e tranquilidade. E os conhecidos que não seguem o caminho certo são de renda pobre, cheios de problemas e dores, são doentes, e repugnantes aos olhos das pessoas.
  4. Considera todos os conhecidos justos como inteligentes, sensatos, bem educados, confiáveis, e tão graciosos que é mais agradável estar entre eles.

 

A LIBERDADE

Do livro “Cabala Para o Estudante”

Charut (gravado) nas pedras”; não pronuncie Charut (gravado), mas ao invés Cherut (liberdade), para nos  ensinar  que  eles  atingiram  liberdade  do  Anjo da Morte.”

Midrash Shemot Raba, 41:7

 

Estas palavras precisam ser clarificadas, porque como a recepção da Torá tem relação com a libertação da humanidade da morte? E além disso, uma vez que eles tenham atingido, através da recepção da Torá, um corpo eterno, onde a morte não se aplica, como eles o perderam novamente? Pode algo eterno se tornar  ausente?

 

LIVRE ARBÍTRIO

Para entender o conceito sublime da “liberdade do Anjo da Morte”, precisamos primeiro entender o conceito de liberdade como é normalmente entendido pela humanidade.

De um modo geral, a liberdade é considerada uma lei natural que se aplica à todos os viventes, como podemos ver com os animais que estão em nosso cuidado que morrem quando nós os privamos de sua liberdade. E esta é uma prova clara que a Providência não permite a escravidão de qualquer ser vivente. Não é por nada que a humanidade tem lutado há centenas de anos pela liberdade do indivíduo em certos níveis.

Porém, este conceito, que é expresso pela palavra “liberdade”, permanece obscuro, e se nós nos aprofundarmos no significado mais profundo desta palavra, quase nada permanecerá dela. Porque antes de você poder entender a liberdade do indivíduo, você precisa assumir que todo indivíduo tem a característica chamada “liberdade, isto é, ele pode agir de acordo com seu próprio livre arbítrio.

PRAZER E DOR

Quando observamos as ações de um indivíduo, e encontramos que elas são uma obrigação e são impostas sobre o indivíduo, e que ele não tem escolha a não ser fazê- las. Isto é como um alimento em uma panela no fogão que não tem escolha a não  ser cozinhas, já que a Providência atrelou todos os viventes com duas rédeas: prazer   e dor.

Os animais não têm livre arbítrio para escolher a dor ou rejeitar o prazer. E a superioridade da humanidade sobre os Animais é que a humanidade pode olhar em direção à uma meta distante. Ele pode escolher aceitar um certo nível de sofrimento através de sua escolha do prazer ou benefício que virá para si no futuro.

Mas a verdade é que isto é nada mais que mera contabilidade, que parece ser comercial. Nós estimamos o prazer ou benefício futuro para saber se há vantagem sobre a dor e sofrimento que passamos, para que concordemos em assumir sobre  nós para percorrer nesse meio tempo. Isto é apenas uma questão de subtrair a dor e sofrimento do prazer esperado, e algo extra é deixado.

Afinal, nós somos atraídos apenas pelo prazer. E assim ocorre que algumas vezes nós causamos o nosso sofrimento quando o prazer esperado não é maior do que a dor que sofremos por ele. Portanto, nós estamos “em déficit”, assim como os mercadores.

Em última análise, não há diferença entre a humanidade e os animais, e portanto não há livre arbítrio consciente. Pelo contrário, há uma força que atrai a pessoa para um prazer disponível em qualquer forma e repele a pessoa da dor. E através do poder destas duas forças, a Providência nos guia por onde quer que ela queira sem pedir nossa permissão.

Além disso, mesmo a natureza do prazer ou o benefício não é inteiramente determinada pelo livre arbítrio do indivíduo, mas, pelo contrário, pela vontade dos outros: como eles querem, e não ele. Por exemplo, eu me sento, eu me visto, eu falo, eu como. Eu faço todas estas coisas não porque eu quero sentar desta maneira, me vestir desta maneira, falar desta maneira ou comer desta maneira. Mas porque os outros querem que eu sente, me vista, fale ou coma desta  maneira.

Tudo isto é determinado pela vontade e gosto da sociedade, não pelo meu próprio livre arbítrio. Além disso, eu normalmente faço estas coisas contra minha vontade, porque eu preferiria me comportar em simplicidade, sem fardos ou limitações, mas eu estou escravizado em grilhões de ferro em todas as minhas ações, através dos gostos e condutas dos outros, que são a sociedade.

Se isto é assim, então me diga onde está meu livre arbítrio? E por outro lado, se nós assumirmos que não há livre arbítrio, então todos nós somos nada mais que um tipo de máquina que é controlada pelas forças externas que nos obriga a agir de certa maneira. Isto significa que cada um de nós está aprisionado na prisão da Providência, que através de seus dois grilhões do prazer e dor, nos empurra e puxa para onde quer que ela queira de acordo com a sua vontade, para que não haja egoísmo no mundo.

Isto é porque não há ninguém que é livre e seja proprietário de si mesmo – eu não sou responsável por minhas ações e eu não sou aquele que as faz porque eu quero, pelo contrário eu sou forçado a fazê-las contra a minha vontade. A conclusão é que recompensa e punição deixam de existir.

Isto é muito peculiar, não só para os ortodoxos, que acreditam na Divina Providência e que de qualquer maneira tem certeza e confiança que Deus faz tudo isto pelo propósito bom e desejado. Mas é ainda mais estranho para aqueles que acreditam na Natureza, onde cada um de nós é aprisionado pelos grilhões da Natureza cega, onde não há consciência e nem plano apurado. E nós, os mais elevados dos seres, que têm sabedoria e conhecimento, somos como brinquedos nas mãos da Natureza cega que nos leva cativos, para quem sabe onde?

A LEI DA CAUSALIDADE

Nós devemos tomar tempo para entender este conceito importante. Isto é, como nós existimos neste mundo como uma entidade de egoísmo enquanto que cada um de nós sente que é um ser especial que age de acordo com sua própria vontade, independente de forças externas e desconhecidas, e como esta entidade de egoísmo se revela em nossa mente?

É verdade que existe uma conexão geral entre todos os detalhes da realidade que é posta diante de nós, que vai de acordo com a Lei da Causalidade, através da Causa e Efeito. Assim como isto é verdade ao geral, é também verdade para cada indivíduo em particular. Isto é, toda Criação no mundo, de todos os tipos – Inanimado, Vegetativo, Animado e Falante – é sujeito à Lei da Causalidade, através da Causa e Efeito.

Além disso, cada forma individual e tipo de comportamento da Criação, enquanto exista, é motivado pelas causas precedentes que o compelem a se comportar desta forma e não de outra. E isto é óbvio para qualquer um que observe os sistemas da natureza puramente cientificamente sem qualquer envolvimento pessoal. Nós precisamos analisar isto cuidadosamente para examiná-lo de todos os aspectos e ângulos.

 

QUATRO FATORES

Saiba que tudo que vem a existir às Criações do mundo é um resultado não da “existência a partir da ausência”, mas da “existência a partir da existência”. Isto é, através de uma entidade real que foi removida de sua forma anterior e vestida em sua forma atual.

Assim, nós precisamos entender que tudo no mundo possui Quatro Causas até vir   a existir. Todas quatro juntas determinam seu ser, e elas  são chamadas:

  1. A Fundação.
  2. As condutas de Causa e Efeito que são associadas com as características da Fundação e que não
  3. Suas condutas internas de Causa e Efeito, que mudam através do contato com forças
  4. As condutas de Causa e Efeito através das forças externas que influenciam de

E eu as explicarei uma por uma.

 

A)   A PRIMEIRA CAUSA: A FUNDAÇÃO, O PRIMEIRO  ASSUNTO

A “fundação” é a Primeira Substância relacionado a este ser, pois “não há nada novo abaixo do sol” (Eclesiastes 1:10). E tudo que acontece no nosso mundo não é “existência a partir da ausência”, mas “existência a partir da existência”. De modo que é uma entidade que despiu sua forma anterior e tomou uma forma diferente, diferente da forma que era anteriormente.

E esta mesma entidade que foi despida de sua forma anterior é definida pela palavra “Fundação”, que contém a forma potencial que será revelada no futuro e também a forma final do ser dado será determinada. Portanto, ela deve ser considerada a Primeira Causa em relação ao ser.

 

B)      A SEGUNDA CAUSA: CAUSA E EFEITO PROVENIENTES DAS CARACTERÍSTICAS DE SUA FUNDAÇÃO

Esta é a conduta da Causa e Efeito que se relaciona com as condutas da própria Fundação, que não muda. Por exemplo, um grão de trigo que foi decomposto na terra e se tornou uma semente plantada. Este estado de decomposição é chamado “Fundação”. Isto é dizer que a essência do grão de trigo se despiu de sua forma anterior, que é a forma de um grão de trigo, e tomou uma nova forma, a do grão decomposto do trigo, que é a semente chamada a “Fundação”, que não tem forma. Após se decompor no solo ela é capaz de assumir qualquer outra forma, a de um talo de trigo que pode crescer da Fundação, que é a semente.

É sabido a todos que esta Fundação não tomará a forma de qualquer outro grão, como a aveia, mas apenas a que se correlacione com sua forma anterior que ele se despiu – a do grão de trigo. Embora ela se difira de certas formas em termos de qualidade ou quantidade em termos do sabor ou beleza – onde em sua forma anterior era apenas um grão de trigo e agora é um talo de trigo com dez grãos de trigo – a forma básica, a do trigo, não muda.

Nós temos aqui um sistema de Causa e Efeito que se relaciona às condutas da própria Fundação e nunca muda, já que o trigo não produzirá aveia, como nós explicamos. E isto é chamado a Segunda Causa.

C)  A TERCEIRA CAUSA: CAUSA E EFEITO INTERNAS DA FUNDAÇÃO

Esta é a conduta da Causa e Efeito interna da Fundação, onde a mudança ocorre devido ao contato com forças externas em seu ambiente. Por exemplo, nós podemos encontrar que um grão de trigo que se decompôs no solo produz muitos grãos de trigo, alguns dos quais possam ser até mesmo maiores e melhores do que o grão original de trigo.

Segue-se que aqui nós temos forças ambientais adicionais que participam e combinam com o potencial oculto na Fundação. Esta Causa muda em qualidade e quantidade, que não existe na forma anterior do grão de trigo. Estes são os fertilizantes e minerais no solo, a chuva, o Sol, todos dos quais agem nele dando-lhe seu poder ao potencial imbuído na própria Fundação, que através das condutas de Causa e Efeito trazem a proliferação da qualidade e quantidade em sua manifestação.

Precisamos entender que esta Terceira Causa combina com a Fundação internamente, porque o potencial imbuído na Fundação é a mais forte, de forma que no fim todas as mudanças não se aplicam do reino do trigo, ou seja, as mudanças se aplicam apenas às espécies de trigo e não a outras espécies. Portanto, nós as definimos como “causas internas”, e elas são diferentes da Segunda Causa que não mudam de forma alguma. Isto não é verdade na Terceira Causa, que muda em termos de quantidade e qualidade.

 

D)   A QUARTA CAUSA: CAUSA E EFEITO POR FORÇAS EXTERNAS

Esta é uma conduta de Causa e Efeito através de forças externas que agem sob ele de fora. Isto significa que elas não têm relação direta ao trigo como o Sol ou a chuva. Estes são fatores estranhos, tais como outras plantas próximas a ele, ou acontecimentos externos tais como o granizo, o vento etc.

Assim, encontramos que estas Quatro Causas se combinam no grão do trigo ao longo de seu crescimento. E cada estado individual que o grão de trigo passa é determinado por todos os quatro. A qualidade e quantidade do trigo são determinadas por elas. Assim como com o trigo que nós descrevemos, a lei se aplica  a todo tipo de manifestação no mundo, mesmo pensamentos e  consciência.

Por exemplo, se nós descrevermos o estado mental de uma pessoa, tal como uma pessoa religiosa, ou uma pessoa secular, seja ela extremamente religiosa ou extremamente secular, ou medíocre, nós entendemos também que este estado é determinado pelas Quatro Causas acima mencionadas.

 

POSSESSÕES HEREDITÁRIAS

A Primeira Causa é a Fundação, que é a Primeira Substância. Já que uma pessoa é criada como “existência a partir da existência” isto é, do fruto das mentes de seus pais, nós encontramos um certo nível de similaridade ou duplicação, como a duplicação de um livro. Isto é dizer que quase todas as características encontradas nos pais e dos pais dos seus pais é duplicada no filho.

Porém, a diferença está no despir da forma. Assim como o grão de trigo não está pronto para brotar até que se decomponha no chão e seja despido de sua forma anterior, também a gota de sêmen da qual uma pessoa nasce não tem nada da forma de seus pais – apenas forças potenciais ocultas.

Os traços mentais dos pais se tornam meras tendências, que são chamados instintos, ou hábitos, e a pessoa nem mesmo sabe porque ela se comporta da forma que faz, porque estes são, de fato, forças ocultas que ela herdou de seus pais. Não apenas nossas propriedades físicas são herdadas de nossos pais, nós também herdamos propriedades espirituais deles. Nós herdamos as ideias espirituais e intelectuais de nossos pais, que passam de geração a  geração.

Disto surgem todos os tipos de tendências que são encontradas entre as pessoas, tais como a tendência de acreditar ou criticar, a tendência de estar satisfeito com uma vida materialista ou ser atraído a ideias espirituais e rejeitar a vida que não é desejada, ser avarento ou indulgente, corajoso ou  tímido.

Todas estas características vistas nas pessoas não são propriedades que elas adquiriram por si mesmas – elas são simplesmente características que foi herdade de seus pais e ancestrais. Como os psicólogos sabem, há um lugar especial na mente humana que guardam estas características inerentes, e é chamado de Môach HaMeoréch (medula alongada), ou o subconsciente, onde todas estas tendências são reveladas.

No entanto, como a consciência de nossos pais, que foi adquirida através de suas experiências, se tornaram meras tendências em nós, elas são como o grão de trigo que se despiu de sua forma anterior e foi deixado nu, e apenas suas forças potenciais estão prontas para assumir novas formas. Em nosso caso, as características podem tomar a forma de consciência, que são consideradas como a Primeira Substância e a Primeira Causa que nós chamamos de a Fundação, contendo todas  as tendências que são herdadas dos pais. Isto é chamado de “herança parental”.

Saiba que todas estas tendências, algumas vêm em uma forma negativa. Isto é, o oposto de sua manifestação em seus pais. Por esta razão, é dito que o que está oculto no coração do pai é revelado no filho  abertamente.

E a razão para isto é que a Fundação se despe de sua forma anterior para tomar uma nova forma. Portanto, ela pode estar muito próxima de perder as formas da consciência dos pais, como o grão de trigo que se decompõe no solo e se despe  de toda a forma que ele tinha como um grão de trigo. Porém tudo isto depende das outras Três Causas, como eu mencionei acima.

INFLUÊNCIA  DO AMBIENTE

A Segunda Causa é a conduta de Causa e Efeito que se relaciona diretamente com as propriedades da própria Fundação e que não mudam. Ou seja, retornando à nossa analogia do grão de trigo que se decompõe no solo, a Fundação está sujeita a forças ambientais tais como a terra, minerais, chuva, o ar e o Sol, como nós explicamos acima. Todas estas agem sobre a semente através de uma longa cadeia de Causa e Efeito, estado após estado, até que o trigo amadureça.

Então a Fundação retoma sua forma anterior, a do trigo, embora diferindo em qualidade e quantidade. Em um aspecto geral, não há mudança, o trigo não se torna aveia ou centeio. Mas certas mudanças individuais ocorrem em quantidade, isto é, de um grão de trigo crescem dez ou vinte grãos, e também em qualidade, o trigo pode ser melhor ou pior do que o grão-mãe do trigo.

Da mesma forma, o indivíduo como uma Fundação é determinado pelo ambiente, isto é, a sociedade, e ele é necessariamente influenciado por ela assim como o grão de trigo é influenciado por seu ambiente. A Fundação está apenas em sua forma básica, e portanto, através de um contato contínuo com seu ambiente e sociedade, ele é influenciado por eles gradualmente, através de uma série de situações, uma após a outra por ordem de Causa e Efeito.

Neste momento, as tendências que são parte de sua Fundação mudam e assumem aspectos conceituais. Por exemplo, se ele herda a tendência de ser mesquinho dos seus pais, quando ele crescer ele constrói para si mesmo um sistema de pensamentos e ideias que o permitem tirar a conclusão que é bom ser mesquinho. Nós já sabemos que mesmo se seu pai for generoso, ele pode ainda herdar a tendência oposta e se tornar mesquinho, já que o oposto é também herdado assim como a própria característica.

Ou ele pode herdar a tendência de ser mente aberta, e construir para si mesmo um sistema de pensamentos através dos quais ele atraia a conclusão que é bom para a pessoa ser livre.

Então de onde ela tira suas declarações e formas de discussão e debate? Ela tira todas elas de seu ambiente involuntariamente, já que eles influenciam suas opiniões e sabores através de uma série gradual de Causa e Efeito de tal forma que a pessoa pensa que elas são suas próprias inclinações que ela adquiriu através de seu livre pensamento.

Mas isto é também como o grão de trigo. Há uma parte geral dele que não deixa de ser a Fundação, isto é, no fim ele mantém as tendências que ele herdou. Eles são os mesmos como eram em seus pais, e isto é chamado a Segunda Causa.

HÁBITO  TORNA-SE SEGUNDA NATUREZA

A Terceira Causa é uma conduta de Causa e Efeito direta, que a Fundação passa e pela qual ela muda. Porque as tendências herdadas são mudadas pelo ambiente em ideias, elas agem nas mesmas direções que são determinadas por estas ideias. Por exemplo, um nascido mesquinho cuja tendência e mudada por seu ambiente em uma ideia que entende a mesquinhez de acordo com alguma definição  conceitual.

Vamos dizer que através desta definição conceitual ele assume que se protege através deste hábito para não ser dependente dos outros. Fazendo isto, ele atinge uma escala para sua mesquinhez, e agora ele é capaz de abandoná-la quando a realidade daquele medo não estiver presente.

Encontramos que, da característica que ele herdou de seus pais, ele mudou para melhor. Então algumas vezes ele pode desenraizar uma tendência negativa de dentro de si mesmo completamente, através do hábito, que tem a capacidade de se tornar uma segunda natureza.

Desta maneira, o poder do ser humano é mais forte do que o das plantas, já que a única mudança que um grão de trigo passa é em termos dos detalhes de suas características. Este não é o caso de um ser humano, que tem a capacidade de usar o poder da Causa e Efeito de seu ambiente e desenraizar uma tendência e transformá- la em seu oposto.

FATORES EXTERNOS

A Quarta Causa é a conduta de Causa e Efeito que afeta a Fundação através de coisas completamente estranhas e age sobre ela de fora. Isto significa que estas coisas não tem nada a ver com o sistema de crescimento da Fundação diretamente e afeta ele apenas indiretamente. Por exemplo, questões monetárias, encargos ou os ventos etc., que têm dentro de si mesmos uma série gradual de estados de Causa e Efeito, que fazem com que as ideias de uma pessoa mudem para melhor ou para pior.

Assim, eu estabeleci Quatro Causas Naturais que todo pensamento e ideia de cada ser humano é meramente um resultado. E mesmo se uma pessoa sentar e estudar algo por um dia inteiro, ela não pode adicionar ou mudar ao que estas Quatro Causas a proveram. Qualquer coisa que ela adicione é em termos de quantidade, dependendo se seus poderes mentais são grandes ou pequenos. Isto não é verdade em termos de qualidade, em que ela não pode adicionar nada, já que estas causas determinam para nós o caráter e a forma da mente e conclusões sem nossa volição, sem nos consultar. Desta forma nós estamos sujeitos a estas Quatro Causas, assim como a argila nas mãos do oleiro.

 

LIVRE ESCOLHA

No entanto, quando examinamos estas Quatro Causas, nós encontramos que embora nós sejamos muito fracos para desafiar a Primeira Causa, que é a Fundação, nós ainda temos a capacidade e a livre escolha de nos proteger das outras Três Causas, através das quais a Fundação muda em termos de detalhe particular e algumas vezes também em geral. Ou seja, pelo hábito através do qual nós adquirimos uma segunda natureza, como explicado acima.

O AMBIENTE COMO UMA CAUSA

O significado desta proteção é que nós sempre podemos mudar nosso ambiente – nossos amigos, livros, professores e assim por diante. Da mesma forma, se uma pessoa herda um talo de trigo de seu pai, ele pode crescer dezenas de talos dele, isto é, apenas ao escolher um ambiente adequado para a “Fundação”, a terra rica que tenha todos os minerais e elementos que possam nutrir o trigo e ajuda-lo a crescer plenamente.

Isto também é verdade do trabalho de uma pessoa, ao melhorar as condições ambientais para que elas sejam condutivas ao crescimento. Um sábio pode fazer isto intencionalmente e escolher as melhores condições, e ele encontrará a benção. Enquanto que um tolo aceitará tudo que vier diante dele e sua semeadura será uma maldição e não uma benção.

Toda esta melhora e prosperidade dependem da escolha do ambiente quando semear a semente. Mas uma vez que a semente é semeada no lugar escolhido, a forma final do trigo já está determinada pelo nível de influência do ambiente.

Assim é o caso com nosso assunto, pois é verdade que não há livre arbítrio porque tudo é operado pelas Quatro Causas mencionadas acima. E nós somos forçados a pensar e refletir nos assuntos de acordo com eles, sem nem mesmo um pingo de poder para corrigir ou mudar, assim como o grão de trigo que foi semeado em seu ambiente.

No entanto, nós temos livre arbítrio para escolher um ambiente do princípio, através dos livros e guias que nos influenciam com boas ideias. E se nós não desejarmos fazer isto, e nós aceitarmos qualquer ambiente que apareça, e lermos qualquer livro que encontrarmos, nós certamente nos encontraremos em um ambiente negativo ou desperdiçaremos nosso tempo em livros inúteis, que são os mais abundantes e disponíveis. Através disto, ideias más e ruins são forças sobre nós nos levando a pecar e cometer más ações pelas quais seremos certamente punidos, não devido aos nossos pensamentos e ações ruins, sobre as quais não temos escolha, mas devido a não termos escolhido um bom ambiente, já que nós certamente temos uma escolha sobre isto, como nós explicamos.

Portanto aquele que faz um esforço para sempre escolher um bom ambiente é digno de louvor e recompensa. Aqui também, isto não é devido aos pensamentos e ações da pessoa, sobre os quais ela não tem escolha, mas devido aos seus esforços em adquirir um bom ambiente que lhe leve aos bons pensamentos e ações. É por isto que o Rabi Yehoshua Ben Perachia disse, “Faça para ti um Rav e compre um amigo” (Avot, Capítulo 1, Mishná 6).

 

A NECESSIDADE DE ESCOLHER UM BOM  AMBIENTE

Através disto você pode entender as palavras do Rabi Yosi Ben Kisma (Avot, Capítulo 6), que respondeu a um homem que lhe pediu para vir e morar em sua cidade, pelo qual ele pagaria milhares sobre milhares de moedas de ouro. Rabi Yosi Ben Kisma lhe respondeu, “Mesmo se você me desse toda a prata, ouro, pedras preciosas e jóias no mundo, eu não viveria se não em um lugar de  Torá”.

Pode parecer que estas palavras estão além de nossa simples compreensão. Como ele poderia deixar passar milhares sobre milhares de dinares de ouro por uma coisa tão pequena só porque ele não queria viver em uma cidade onde não haviam estudiosos da Torá, quando ele próprio era um grande sábio e não precisava aprender de ninguém? Este é um grande mistério.

No entanto, isto é algo muito simples, e deve se aplicar a todo e cada um de nós. Porque embora cada um de nós tenha uma “Fundação” própria, nosso potencial se manifesta apenas através de nosso ambiente, assim como a semente que é semeada no solo manifesta seu potencial unicamente através de seu ambiente que é o solo, a chuva e a luz do Sol.

Assim, nós vemos que Rabi Yosi Ben Kisma estava certo ao assumir que se ele deixasse seu bom ambiente que nós escolhemos, e fosse para um ambiente negativo e prejudicial, ou seja, para uma cidade sem Torá, não apenas sua sabedoria anterior deterioraria, os poderes remanescentes inerentes em sua Fundação que ainda não foram manifestados, permaneceriam ocultos. Eles não estariam mais em um ambiente adequado que os levaria de potencial para  realidade.

Como explicamos acima, apenas através da escolha do ambiente a pessoa pode governar sua vida, pela qual ela merece sua recompensa ou punição. Portanto, não há dúvida sobre um sábio como Rabi Yosi Ben Kisma, que escolheu  o bom e rejeitou o ruim, e não foi seduzido por coisas materiais, como é concluído, “Quando um homem morre, ele não é escoltado por prata, ouro, pedras preciosas ou joias, mas apenas pelo estudo da Torá e boas  ações”.

E assim os sábios nos instruíram: “Faça para ti um Rav e compre um amigo”. Isto é também verdade para os livros. Pois apenas esta é a sua vantagem ou desvantagem, isto é, sua escolha do ambiente. Porém, uma vez que tenha escolhido um ambiente, ela está sujeita a ele como a argila nas mãos  do oleiro.

 

O CONTROLE DA MENTE SOBRE O CORPO

Existem muitos estudiosos modernos que, após examinar o assunto mencionado acima e ver como a mente humana é como um fruto que cresce das experiências da vida, como explicamos anteriormente, vieram a conclusão que a mente não tem controle sobre o corpo de forma alguma. Apenas as experiências da vida que são gravadas nos neurônios físicos do cérebro controlam e ativam a pessoa. E a mente  de uma pessoa é como um espelho que recebe as imagens colocadas perante ele. E embora o espelho contenha estas imagens, ele não tem poder para agir sobre as imagens refletidas nele.

Assim também é a mente. Embora as experiências da vida, ao longo de todos os aspectos de Causa e Efeito, são percebidas e conhecidas pela mente, a mente em  si não controla o corpo e não pode movê-lo. Isto é, ela não pode leva-lo mais próximo daquilo que o beneficia nem distancia-lo daquilo que o prejudica, pois o espiritual e o físico estão completamente distantes um do outro. E não existem meios para trazê- los juntos para que a mente espiritual possa agir sobre e controlar o corpo, que é físico, como foi discutido extensivamente.

Mas seu ponto forte é também sua pedra de tropeço, pois a imaginação da pessoa serve a mente assim como um microscópio serve aos olhos. Sem um microscópio, os olhos não podem ver nada porque é muito pequeno. Mas uma vez que a entidade negativa é vista através do microscópio, o ser humano pode evitar aquele germe prejudicial.

Assim, nós vemos que o microscópio e não os sentidos causam as pessoas a agir para evitar o germe, porque os sentidos não podem detectar o germe. Da mesma maneira, a mente não controla o corpo completamente e distancia-o do mau e o leva próximo do bom. Ele faz isto em todos os casos onde o corpo é muito fraco para reconhecer algo benéfico ou prejudicial. Apenas a mente pode fazer  isto.

Além disso, conforme a pessoa reconhece a existência da mente que lhe leva às conclusões certas através da experiência, ela também é capaz de adquirir conhecimento de outra pessoa confiável e aceita-lo como fato, mesmo se suas experiências da vida não sejam suficientes para revelar isto a ele. É como pedir conselho para um médico, a pessoa ouve e aceita seu conselho, embora entenda,  com sua própria mente, nada sobre isto. Assim, a pessoa usa as mentes dos outros e  é ajudada por elas não menos do que por sua própria.

Isto é o que nós explicamos acima, que existem dois caminhos da Providência que asseguram que o ser humano atinja a meta boa e final, que são:

O CAMINHO DA DOR E O CAMINHO DA  TORÁ

Nós aprendemos que toda a claridade que nós explicamos acima, que está no Caminho da Torá, vem daquelas sabedorias e clarezas que estão reveladas, manifestadas e reconhecidas pelo olho, após uma longa cadeia de eventos nas vidas dos profetas, homens de nome e podem ser usados por todos em sua completa extensão e atingem o benefício em fazer isto, como se eles fossem eventos que são parte de sua própria vida. Assim, é claro que através disto, a pessoa não precisa sofrer e passar por todas as experiências amargas para desenvolver para si mesma uma mente clara. Então uma pessoa é poupada do caos e também poupa tempo.

Isto é como um paciente que não quer seguir o conselho do seu médico até que entenda por si mesmo como este conselho a curará. Então ele começa a estudar medicina, e ele pode morrer de sua doença antes de conseguir aprender e entender  a arte da medicina.

Assim é O Caminho da Dor vs. O Caminho da Torá. Pois alguém que não acredita nele e aceita as ideias que a Torá e as profecias sugerem, sem entende-las, pode chegar apenas às mesmas ideias através de uma série de Causa e Efeito da experiência da vida. Isto acelera a capacidade da pessoa em desenvolver um sentido de reconhecimento daquilo que é mal, não através da escolha, como nós explicamos, mas através dos esforços da pessoa em adquirir um ambiente bom que a permita ter estes pensamentos e ações.

 

A LIBERDADE DO INDIVÍDUO

Agora chegamos a um entendimento completo e preciso da liberdade do indivíduo. No entanto, isto se aplica apenas à Primeira Causa, a “Fundação”, que é a Primeira Substância de cada pessoa. Isto é, em termos das tendências que nós herdamos de nossos pais e ancestrais, que distingue uma pessoa da outra.

Você pode ver que mesmo entre as milhares de pessoas que vivem no mesmo ambiente em que as Três outras Causas as afetam no mesmo nível, você não encontrará duas que compartilhem o mesmo atributo.

O motivo para isto é que cada uma delas tem sua própria Fundação única,  de acordo com sua própria essência, que é como a Fundação do grão de trigo, embora ela seja afetada significantemente pelas Três últimas Causas, ela ainda retém sua forma anterior de trigo e nunca pode assumir a forma de outras espécies.

A FORMA GERAL DO PROGENITOR NUNCA É  PERDIDA

Assim é neste caso. Cada Fundação que perde a forma anterior de seus pais, e assume uma nova forma através das Três Causas que a afetam e mudam significantemente, ainda retém a forma geral de seus pais e não as perde, e nunca assumirá a forma de outra pessoa que se assemelha a ela, assim como um grão de aveia não pode ser similar à forma do trigo.

Assim, nós vemos que cada uma das Fundações tem uma longa sequência de gerações de algumas centenas de gerações. E cada Fundação inclui a consciência de todas elas juntas, mas elas não são manifestadas da mesma forma em que elas são encontradas nos pais da pessoa, que está na forma de consciência, portanto despindo sua forma. Assim, a pessoa retém as formas básicas, que são chamadas “tendências”  e “instintos”, sem saber porque atua de uma certa maneira, como explicado acima. Assim, é inconcebível que duas pessoas tenham os mesmos  atributos.

Isto é assim devido a toda e cada fonte ser, em si mesma, uma longa sequência de gerações compreendidas de várias centenas de gerações, e a fonte inclui as concepções de todas elas. No entanto, elas não são reveladas nela das mesmas formas que elas apareceram nos ancestrais, isto é, na forma de ideias, mas apenas como formas abstratas. Portanto, elas existem nela na forma de forças abstratas chamadas “tendências” e “instintos”, sem ela conhecer sua razão ou porque ela faz o que faz. Assim, nunca podem haver duas pessoas com o mesmo atributo.

A NECESSIDADE DE PRESERVAR A LIBERDADE DO INDIVÍDUO

Saiba que esta é a única verdadeira posse do indivíduo, então ela não pode ser prejudicada ou alterada. Isto é porque todas estas tendências contidas na  “Fundação” eventualmente agirão e receberão formas de consciência, quando o indivíduo amadurece e tem sua própria mente, como explicado acima. E através do poder da Lei do Desenvolvimento, que governa esta cadeia de Causa e Efeito, que lhe compele sempre adiante, como explicado no artigo “A Paz”, nós encontramos que cada tendência eventualmente se transforma em uma consciência muito elevada, importante e inestimável.

Assim, encontramos que qualquer um que destrua e desenraize uma tendência de um indivíduo causa a perda de uma ideia sublime e maravilhosa, que era destinada a emergir e evoluir. Pois esta tendência nunca poderá emergia novamente em qualquer outra pessoa senão ela.

Aqui nós precisamos entender que quando uma tendência muda e assume a forma de uma consciência, diferenças de bom e mau não podem mais ser reconhecidas nela pois estas diferenças são aparentes apenas enquanto as tendências ou consciências ainda não estão maduras, e nada delas é reconhecível quando elas assumem a forma da verdadeira consciência. Isto será explicado nos próximos artigos com os devidos fundamentos e argumentos.

Disto, nós entendemos o terrível dano que as nações causam quando elas forçam seu domínio sobre as minorias, privando-as da liberdade sem as permitir exercer a sua forma de vida de acordo com suas tendências que elas herdaram de seus pais, elas são consideradas como assassinos de  almas.

E mesmo aqueles que não acreditam na religião e na Providência proposital podem entender o imperativo de proteger a liberdade do indivíduo através de seu entendimento dos sistemas da natureza. Isto é porque nós vimos como cada nação que caiu à ruína ao longo das gerações, caíram através de sua imposição sobre as minorias e os indivíduos. Fazendo isto, elas lhes superaram e destruíram. Assim, é claro para todos que não há como atingir a paz no mundo se nós não levarmos em conta a liberdade do indivíduo, pois sem isso, a paz não duraria e a destruição só pioraria.

Assim, nós claramente explicamos e definimos precisamente a entidade do indivíduo, excluindo tudo que vem da comunidade. Agora a questão é, onde está o próprio indivíduo? Porque tudo que nós dissemos até agora em termos do indivíduo só pode ser entendido em termos das propriedades do indivíduo que é o legado herdado pelos seus ancestrais.

Quem é que herda e possui estas possessões? Aquele que exige preservar suas possessões? Porque após todas as coisas que nós já explicamos, nós ainda não encontramos o ponto do “eu” do ser humano, aquele ponto do qual nós podemos examinar como uma unidade independente. E qual é o significado da Primeira Causa, que é uma longa série de milhares de pessoas, uma após a outra, de geração  a geração, que se combina para determinar o caráter do indivíduo como um herdeiro?

E qual é o significado das outras Três Causas, que são as milhares de pessoas existindo próximas uma da outra em uma única geração, quando no fim cada indivíduo será julgado em termos de uma única máquina comunitária que está sempre pronta para servir as necessidades e desejos da  comunidade?

Isto significa que o indivíduo está sujeito aos dois  tipos de comunidade:

  1. Em termos da Primeira Causa, a pessoa está sujeita à comunidade massiva das gerações anteriores que vieram uma após a
  2. E em termos das outras Três Causas, a pessoa está sujeita à comunidade em que ela vive com aquela geração em

Esta é verdadeiramente uma questão universal, e por esta razão existem tantas pessoas que se opõem à aproximação mencionada acima, embora elas reconheçam   completamente   sua   validade.   E   elas   escolhem   as aproximações metafísicas, dualísticas ou transcendentais para visualizar uma entidade espiritual e como ela reside dentro do corpo humano como “a alma humana”, que é inteligente e opera o corpo, que é a essência do próprio humano e seu “eu”, ou ego.

Todas estas explicações devem ser suficientes, mas o problema é que elas não têm explicação científica para como um objeto espiritual pode ter qualquer tipo de contato com os átomos espirituais e físicos do corpo e portanto causando qualquer tipo de movimento. Toda a sua sabedoria é inútil para eles para encontrar qualquer coisa suficiente para preencher esta ampla e profunda coluna entre a entidade espiritual e o átomo corpóreo. Assim, a ciência não foi a lugar algum com todos estes métodos metafísicos.

O DESEJO DE RECEBER – EXISTÊNCIA A PARTIR DA AUSÊNCIA

Para tomar um passo adiante com este método científico, tudo que nós precisamos   é a sabedoria da Cabalá, pois todas as sabedorias no mundo são incluídas na sabedoria da Cabalá. E como eu expliquei (no meu comentário Panim Masbirot na questão das “Luzes Espirituais e Vasos” no livro A Árvore da Vida, ramo 1), qualquer coisa nova em termos da Criação que Ele criou “existência a partir da ausência”, somente se aplica a um conceito, que é definido como o Desejo de Receber.

Nenhuma outra coisa na Criação pode ser definida como “nova” pois elas não são “existência a partir da ausência”, mas, pelo contrário, “existência a partir da existência”. Isto é, elas derivam diretamente da Sua essência como a luz é derivada do Sol – não há nada novo sobre isto, aquilo que é contido na essência do Sol estende-se dele.

Isto não é verdade para o Desejo de Receber mencionado acima, que é totalmente novo. Isto é, antes da Criação não havia tal realidade, porque o Criador não tem nada a ver com o Desejo de Receber. Afinal, o Criador precedeu tudo, e do que ou quem Ele receberia? Portanto, este Desejo de Receber, que Ele criou como “existência a partir da ausência”, pode ser considerado como uma entidade completamente nova.

Isto não é verdade para nada além disto, nada mais pode ser considerado “novo” que pode ser chamado uma “criação”. Portanto, todos os vasos e objetos, sejam realidades espirituais ou mundos físicos, são considerados como substância espiritual ou física, cuja natureza é o Desejo de Receber.

 

DUAS FORÇAS NO DESEJO DE RECEBER: FORÇA DE ATRAÇÃO E FORÇA DE REPULSÃO

Além disso, dentro do poder que nós chamamos o Desejo de Receber, nós podemos distinguir entre dos poderes separados que são chamados:

  1. A força de atração.
  2. A força de repulsão.

A razão para isto é que cada vaso ou objeto que é definido pelo Desejo de Receber é limitado em termos de quantidade e qualidade do que ele pode receber. Portanto, vemos que tudo que está além do objeto ou da capacidade do vaso receber em termos de quantidade ou qualidade é considerado sendo contra sua natureza, e por causa disto ele as repele. Por definição ele é Desejo de Receber. Embora isto seja considerado força de atração, neste caso, necessariamente, ele também se torna força de repulsão, entenda isto bem.

 

UMA LEI PARA TODOS OS MUNDOS

Embora a sabedoria da Cabalá não mencione nada do nosso mundo físico, todos os mundos são sujeitos à uma lei (veja o artigo “A Essência da Sabedoria da Cabalá”, começando com: “A Lei de Raízes e Ramos”). Assim, nós também encontramos que qualquer uma de todas as essências que são encontradas em nosso mundo, isto é, seja Inanimado, Vegetativo, Animado, substância espiritual ou substância material, quando vamos determinar o “eu” e a individualidade de cada um deles em termos do que os torna diferentes um do outro mesmo na menor das partículas, é nada além do Desejo de Receber mencionado acima. Esta é toda a forma individual em termos da Criação renovada, e que o limita em termos de quantidade e qualidade como mencionado acima, e através disto deriva sua força de atração e força repulsão.

Mas qualquer coisa que contenha mais do que estas duas forças é considerada como a Shefá (abundância) de Sua essência, e esta Shefá é igual entre todas as criações. Não há nada novo sobre esta Shefá em termos da Criação, visto que é “existência a partir da existência” e ela não pode ser considerada como uma unidade individual, mas, pelo contrário, algo que é comum à todas as criações, grandes e pequenas. Porque cada uma recebe esta Shefá de acordo com as limitações de seu Desejo de Receber, esta limitação se torna aquilo que distingue um indivíduo do outro.

Assim, eu claramente defini de uma forma puramente científica o “eu” ou ego de cada indivíduo através da lógica científica que não pode ser desaprovada ou criticada, mesmo de acordo com os métodos materialistas fanáticos automáticos.

D agora em diante, nós não precisamos mais destes métodos imperfeitos mergulhados na metafísica. Claramente, não faz diferença se esta força, o Desejo de Receber, vem do material descoberto através da química ou do material que vem desta força, pois nós entendemos o ponto que apenas esta força, que é inerente em cada criatura e átomo como o Desejo de Receber de acordo com suas limitações, é a única coisa onde é separado e reconhecível do seu ambiente. Isto também se aplica para tanto um átomo individual quanto um grupo de átomos que formam um corpo.

E todos os outros aspectos em que encontramos mais do que este pode não têm nada a ver com esta partícula ou grupo de partículas em termos da individualidade, exceto em geral, que é a Shefá (abundância) que se estende à elas do Criador. Isto é o que todas as partes da Criação têm em comum, e esta não é uma questão de corpos individuais, como nós explicamos.

Agora nós podemos entender o conceito da liberdade do indivíduo, de acordo com a definição incluída na Primeira Causa, que nós chamamos a “Fundação”, em que todas as gerações anteriores, que são os ancestrais deste indivíduo, foram imbuídas em sua natureza, como discutimos anteriormente. De acordo com esta explicação a definição da palavra “indivíduo” é nada mais que a limitação do Desejo de Receber inerente neste grupo de  partículas.

Assim, vemos que todas as tendências que o indivíduo herdou de seus ancestrais não são nada além da limitação de seu Desejo de Receber, em termos da força de atração dentro dele ou da força de repulsão nele. Nós vemos que estas tendências à mesquinhez ou generosidade, se misturar com os outros ou ficar sozinho, e assim por diante.

Por isso, eles são manifestados como o ego, que luta por seu direito de existir. Assim, se nós destruirmos alguma tendência de um dado indivíduo, é como se nós tivéssemos cortado um de seus membros, e isto é verdadeiramente uma perda para toda Criação, pois não há nada e nunca haverá outro como ele, como explicamos acima.

Agora que nós claramente explicamos o direito justificável do indivíduo à liberdade de acordo com as Leis da Natureza, vamos ver como é possível manter isto na prática, sem violar as Leis da Ética ou diplomacia, e o mais importante, como nós o manteremos de acordo com nossa Santa Torá.

A REGRA DE SEGUIR A MAIORIA

Nossas escrituras dizem: “Siga a Maioria” (Êxodo 23:2) que significa que onde quer que haja uma diferença de opinião entre um indivíduo e um grupo, nós devemos decidir de acordo com a vontade do grupo. É claro que o grupo tem o direito de violar a liberdade do indivíduo.

No entanto, isto nos traz outra pergunta mais difícil. Porque parece que esta lei levaria à regressão, não ao avançamento da civilização, pois a maioria das pessoas é menos avançada e as avançadas são a minoria. E se nós sempre fizermos decisões  de acordo com a maioria, que são menos avançados e imprudentes, vemos que as opiniões e desejos dos sábios e das pessoas avançadas entre a sociedade, que sempre estão na minoria, não serão ouvidas ou levadas em conta. Assim, nós condenamos nossa civilização à regressão e ela não poderá tomar nem mesmo um passo afrente.

Nós explicamos no artigo “A Paz”, no parágrafo que começa com: “A Necessidade de ser Cuidadoso com as Leis da Natureza”, que já que nós somos ordenados pela Providência Divina a viver entre a sociedade, nós somos obrigados a observar todas as leis pertencentes à manutenção da sociedade. Se nós  formos mesmo um pouco negligentes, a NatureZATomará sua vingança de sua própria maneira, independentemente de entendermos as razões destas leis ou não, leia isto cuidadosamente.

Nós podemos ver que não há nenhuma ordem a vida em sociedade sem a Regra de Seguir a Maioria, que cobre cada argumento e infortúnio dentro da sociedade. Esta lei é o único meio para manter o direito da sociedade de existir. Como resultado, entendemos esta lei como parte das Mitzvot (mandamentos) Naturais da Providência, e nós devemos aceitar e observá-los meticulosamente, independente de nossa compreensão deles, assim como com o resto das Mitzvot da Torá, que são todas as Leis da Natureza e da Providência Divina, e que vem a  nós “de Cima para baixo”.

Eu já expliquei (no artigo “A Essência da Sabedoria da Cabalá”, começando com: “A Lei de Raízes e Ramos”) que toda a teimosia aparente nas condutas da natureza neste mundo é apenas porque elas se derivam das leis e regras dos Mundos Superiores Espirituais.

Através disto, você também pode entender que as Mitzvot da Torá não são nada além das leis e regras dos Mundos Superiores, que são as raízes de todas as condutas da Natureza neste nosso mundo. Portanto, as Leis da Torá e as Leis da Natureza neste mundo são sempre semelhantes como duas gotas d’água. E assim nós provamos que a Regra de Seguir a Maioria é uma lei tanto da Providência quanto da Natureza.

 

O CAMINHO DA TORÁ E O CAMINHO DO  SOFRIMENTO

Com tudo isto, nosso dilema sobre a regressão que vem como resultado desta lei ainda não é reconciliada com estas palavras. É nosso papel encontrar formas de consertar isto. Porém, a Providência não perde por causa disto, pois ela cerca a humanidade em dois caminhos: “O Caminho da Torá” e “O Caminho do Sofrimento”, de tal forma que ela assegura o desenvolvimento da humanidade e seu avanço contínuo em direção à meta. E não há nada que possa impedir isto (como explicado no artigo “A Paz” em “Tudo é Dado em Garantia”). Porém, guardar esta lei é uma obrigação natural, como nós explicamos.

O DIREITO DA MAIORIA DE VIOLAR A LIBERDADE DO INDIVÍDUO

Além disso, nós devemos perguntar se estas coisas se aplicam aos assuntos entre uma pessoa e seu próximo, em que nós podemos aceitar a Regra de Seguir a Maioria, pela obrigação da Providência, que exige que nós nos preocupemos constantemente com o sustento dos outros, como nós explicamos.

Porém, a Torá nos obriga a seguir esta Regra de Seguir a Maioria em desacordos sobre as questões que concernem o relacionamento entre um ser humano e o Criador também, embora parece que isto não tem relação com a manutenção da sociedade. Isto nos traz de volta à questão: Como esta lei pode ser justificável se ela nos obriga a aceitar a opinião da maioria, que como nós vimos, não é avançada, e rejeitar as opiniões das pessoas avançadas, que são sempre uma pequena minoria?

De acordo com o que nós provamos (no artigo: “A Essência da Religião e  Seu Propósito”, começando com “Desenvolvimento Consciente e Desenvolvimento Inconsciente”), toda a Torá e as Mitzvot foram dadas apenas para purificar Israel, isto é, para desenvolver em nós o reconhecimento do mal, que é inerente em nós desde o nascimento e definido em termos gerais como amor egoísta, e para chegar ao bem puro, definido como amor aos outros. Este é o único caminho para o amor ao Criador. E isto traz as Mitzvot sobre o homem e o Criador como sendo o meio mais poderoso para distanciar o homem do amor egoísta, que é prejudicial à sociedade.

Assim, é claro que também os casos de discordância sobre as questões que concernem às Mitzvot entre o homem e Deus se relacionam com o problema do direito da sociedade de existir. Portanto, elas também estão sujeitas à Regra de Seguir a Maioria.

Disto, nós podemos entender a prática de distinguir entre as Halachot (Leis da Torá) e Hagadá (histórias bíblicas), porque apenas na Halachá as leis se aplicam: Entre o indivíduo e a maioria, a decisão vai conforme à maioria, e este não é o caso com a Hagadá. As coisas encontradas na Hagadá são mais elevadas do que as coisas pertencentes à existência da sociedade, porque elas falam das condutas das pessoas nas questões entre o homem e Deus, que não tem influência na existência e felicidade física da sociedade.

Portanto, a maioria não tem justificação ou direito de rejeitar ou nulificar a opinião do indivíduo. Isto não é verdade nas Halachot que tratam do cumprimento das Mitzvot da Torá, todas as que se aplicam à existência da sociedade. Pois não há forma de manter a lei e a ordem exceto através da regra de Seguir a Maioria, como nós explicamos.

A VIDA SOCIAL TEM UMA LEI: SIGA A  MAIORIA

Agora que nós clarificamos os assuntos sobre a liberdade do indivíduo, há uma pergunta importante a se fazer: Onde a maioria recebe o direito de violar a liberdade do indivíduo e negá-lo da coisa mais preciosa, a liberdade, quando parece como se isto pudesse ser descrito apenas como uma opressão  física?

Porém, nós já explicamos claramente que esta é uma lie natural e uma obrigação da Providência. E porque a Providência obriga cada um de nós a viver entre sociedade, nós devemos concluir que cada um dos indivíduos é obrigado a assegurar a existência e felicidade da sociedade. Isto não pode acontecer a menor que a lei e ordem sejam asseguradas através da Regra de Seguir a Maioria, em que a opinião do indivíduo não é ouvida ou contada.

Assim, é claro que esta é a origem do direito e justificação da maioria para violar a liberdade do indivíduo contra sua vontade e subjuga-lo. Portanto, segue-se que em todos os assuntos que não pertencem à manutenção da vida material da sociedade, a maioria não tem qualquer direito ou justificação para roubar a liberdade do indivíduo. E se eles fizerem isso, eles são ladrões e violadores que preferem a força física para forçar os direitos e justiça no mundo. Neste caso, a obrigação da Providência não se aplica ao indivíduo, forçando-o a ser subjugado à vontade da maioria.

NA VIDA ESPIRITUAL A REGRA É: “SIGA O  INDIVÍDUO”

Nós vemos que em termos da vida espiritual, o indivíduo não é obrigado pela Lei Natural de ser sujeito de qualquer forma à sociedade, pelo contrário, neste caso a  Lei Natural obriga a maioria a se subjugar ao indivíduo. E como explicado no artigo “A Paz”, existem dois caminhos pelos quais a Providência nos envolve e nos circunda para nos levar à meta final:

  1. O Caminho do Sofrimento, que nos desenvolve não estando conscientes.
  2. O Caminho da Torá e Sabedoria, que nos desenvolve conscientemente, sem necessidade do sofrimento. Leia isto

E uma vez que as pessoas mais avançadas em uma dada geração sempre estão em minoria, segue-se que quando a maioria chega ao ponto onde deseja se libertar do terrível sofrimento e assumir o aspecto do desenvolvimento, estando consciente   e voluntariamente, que é o Caminho da Torá, ela deve subjugar a si mesma e sua liberdade física à disciplina do indivíduo e seguir as ordens e Segulot (plural de Segulá: uma prática, remédio, proteção, meio especial) do  indivíduo.

Assim, vemos que nos assuntos espirituais, o direito da maioria se torna sua obrigação. Disto deriva a Regra de Seguir o Indivíduo, que se refere ao indivíduo avançado. Pois é fácil ver que as pessoas avançadas e educadas são sempre uma pequena minoria dentro da sociedade. E encontramos que o sucesso e a felicidade espiritual da sociedade dependem desta minoria, entenda isto  bem.

Logo, a maioria é obrigada a guardar cuidadosamente as opiniões destes indivíduos para que elas nunca sejam violadas. Eles precisam saber por certo, com certeza absoluta, que estas opiniões mais avançadas e verdadeiras nunca estão nas mãos pela maioria dominante, mas pelo setor mais fraco da sociedade, que é a minoria invisível. A natureza de toda sabedoria e tudo que é precioso vem ao mundo em pequenas quantidades. Assim, somos instruídos a preservar as opiniões dos indivíduos, pois a maioria não é capaz de distinguir entre  eles.

CRITICISMO COMO UM MEIO AO SUCESSO – FALTA DE CRITICISMO COMO MEIO DE DEGENERAÇÃO

Devemos acrescentar ao mencionado acima que a realidade apresenta perante nós uma total contradição entre as coisas materiais e os assuntos das opiniões e ideias sobre este assunto. Visto que a unidade social, que pode ser a fonte de toda felicidade e sucesso só se aplica às coisas materiais e corpóreas nas pessoas, a desunião entre  elas é a fonte de todos os problemas e desgraças.

No entanto, em assuntos de opinião e pensamentos, que é o polar oposto pois a união e falta de criticismo são a fonte de toda falha e ficam no caminho de todo avanço e fertilidade intelectual. Tirar as conclusões corretas é baseado no argumento e diferenças baseadas na multiplicidade de opiniões. Quanto mais oposição, contradição e criticismo houverem, maior sabedoria e entendimento podem se proliferar, e as coisas se tornam mais claras e fáceis de se entender.

Toda falha e degeneração do entendimento vem como resultado da falta de criticismo e discordâncias. Assim, é claro que toda a base para o sucesso material é a unidade entre a sociedade. E a base para as ideias e o sucesso intelectual é a desunião e discordância.

Nós vemos que quando a humanidade atinge sua meta em termos de sucesso físico, que é a realização completa do nível do amor aos outros, então todos os corpos de todos no mundo se unirão como um corpo e um coração (como explicado no artigo “A Paz”), pois apenas então toda a esperada felicidade da humanidade será revelada.

Portanto, por outro lado, nós devemos ser cuidadosos em não deixar as opiniões da humanidade se tornarem tão similares que o argumento e a discordância dos sábios e estudiosos desapareçam, pois o amor físico naturalmente causa à similaridade de opinião. E se a discordância e criticismo desaparecerem, todas as ideias e avançamento intelectual cessarão, e a fonte de sabedoria irá, como entendemos, secar do mundo.

Esta é uma prova clara da obrigação de proteger a liberdade do indivíduo em termos dos pensamentos e opiniões porque todos os avanços da sabedoria e conhecimento são baseados nesta liberdade do indivíduo. Portanto, somos alertados a proteger este direito muito cuidadosamente, proteger cada uma das formas dentro de nós que nós chamamos o indivíduo, isto é, o poder pessoal da pessoa individual, que em termos gerais é chamado o Desejo de Receber.

HERANÇA ANCESTRAL

Isto também é verdade para todos os componentes, que são incluídos no Desejo de Receber, onde nós os definimos pelo termo “Fundação” ou “Primeira Causa”, que se refere à todas as tendências e hábitos etc. que alguém herda de seus pais e ancestrais. Nós vemos isto como uma longa cadeia de milhares de pessoas que viveram em seu próprio tempo e que ficam uma abaixo da outra. Cada uma delas é a essência de  seus pais, e através desta essência todos herdam as propriedades espirituais de seus ancestrais através de seu “Môach HaMeoréch” (medula alongada), chamado “subconsciente”, de tal forma que o dado indivíduo tem todas as milhares de heranças espirituais de cada indivíduo na cadeia de pais e ancestrais que levaram a elas.

Portanto, assim como a face de cada indivíduo difere, suas opiniões diferem. Não existem duas pessoas no mundo que tenham as mesmas opiniões, visto que cada uma possui sua própria grande e sublime propriedade que herdou de seus milhares de ancestrais, e outros não têm nenhum pingo delas.

Portanto, todas estas propriedades são consideradas a propriedade do indivíduo, que a sociedade é instruída a proteger para que eles não sejam distorcidos pelo ambiente, mas pelo contrário cada indivíduo retém sua herança completa. Então a oposição e contradição entre eles permanecerá para sempre, para assegurar que o criticismo e o avanço de sabedoria permanecerão conosco para sempre. Isto é tudo o que torna a humanidade superior com todos os seus anseios verdadeiros e eternos.

E agora que nós reconhecemos a certa medida o conceito do egoísmo humano, que nós definimos em termos do potencial e como o Desejo de Receber, e o ponto da individualidade de todas as coisas vivas, nós também podemos entender claramente em sua dimensão plena, o nível e as propriedades únicas de cada indivíduo, que nós definimos como “herança ancestral”. Isto se refere à todas as tendências e características que nós herdamos através de nossa “Fundação”, que é a Primeira Substância de cada pessoa, isto é, a semente de seus pais. Nós explicaremos agora os dois aspectos do Desejo de Receber.

DOIS DISCERNIMENTOS: A) POTENCIAL, B) REAL

Primeiro, nós precisamos entender que embora este egoísmo, que nós definimos como o Desejo de Receber, é a base da essência do ser humano, é impossível dizer que ela possui qualquer existência real mesmo por um momento. Porque o que nós definimos como “potencialidade”, isto é, antes do potencial se tornar real, apenas existe no pensamento, ou seja, nós só podemos determina-lo através do pensamento.

Porém, nós não podemos imaginar qualquer força real quando está em repouso e não em ação, pois a força só existe quando e para que nível ela se manifesta como ação. Assim como nós não podemos dizer que um bebê é muito forte quando ele não consegue nem mesmo erguer um peso leve, mas nós podemos dizer que vemos que quando o bebê crescer ele será muito  forte.

No entanto, nós podemos dizer que o poder e a força que encontramos em uma pessoa uma vez que tenha crescido estava aparente em seus membros e em seu corpo quando era um pequeno bebê, mas esta força estava então oculta, e não manifesta na realidade. É verdade que era possível determinar (os poderes destinados que seriam eventualmente manifestados) em pensamento, pois a mente demanda isto. Porém, no corpo real do bebê certamente não há poder e força, pois nenhuma força real foi manifesta nas ações do bebê.

O mesmo se aplica ao apetite. Este poder não se manifesta no corpo real da pessoa quando os órgãos não são capazes de comer, isto é, quando se está saciado. No entanto, mesmo quando a pessoa está saciada, o apetite existe em potencial, mas é oculto no corpo, e depois, após a digestão, se manifesta novamente, e vai de potencialidade à realidade.

Porém, esta declaração (sobre a potencialidade que não foi manifestada na realidade) se aplica às condutas dos pensamentos da mente, embora ele não existe  na realidade. Quando estamos saciados nós sentimos isto, e é claro que nosso apetite desapareceu. Quando buscamos por ele, ele se foi.

Assim nós vemos que não podemos conceber uma força como um sujeito que carrega, suporta, descansa ou existe por si mesmo, mas pelo contrário é concebido como um predicado, isto é, quando a ação ocorre na realidade a força se manifesta através da ação.

Embora conceitualmente falando nós necessariamente tenhamos duas coisas aqui, o sujeito e o predicado, isto é, o potencial e o real, tal como o apetite, que é o sujeito, e a imaginação do alimento a ser comido, que é o predicado e a realidade,  na realidade eles se manifestam como uma coisa. Nunca acontecerá que a força do apetite se manifeste em uma pessoa a menos que ela imagine algo para comer, pois estas são as duas metades da mesma coisa. O poder do apetite deve se vestir com aquela imagem, e entenda isto bem, o sujeito e o predicado se manifestam de uma vez só e desaparecem ao mesmo tempo.

Disto, é claro que pelo Desejo de Receber, que nós apresentamos como egoísmo, não queremos dizer que há no ser humano uma força que anseia e deseje receber como um predicado passivo. Pelo contrário, isto significa que isto está no sujeito, ou seja, ele toma a imagem de algo digno de ser comido e sua ação é manifestada como uma imagem do preenchimento do alimento. Esta ação é chamada de “desejo”, o poder do apetite que se manifesta através da ação da imagem do preenchimento.

Assim é com nosso assunto, o Desejo de Receber em geral, que é o núcleo e a essência do ser humano. Ele se manifesta e existe apenas quando ele toma a forma das coisas que é suscetível a receber. Apenas então, e em nenhum outro, ele existe como um sujeito. Nós nos referimos a esta ação como “vida”, que é a “essência da vida do ser humano”, ou seja, que o Desejo de Receber se manifesta e age através das coisas que ele deseja receber. E o nível ao qual esta ação se manifesta é o nível ao qual a pessoa está viva, assim como dissemos sobre a ação que nós chamamos “desejo”.

DUAS CRIAÇÕES: A) ADAM (SER HUMANO), B) A ALMA  VIVENTE

Desta explicação nós podemos entender claramente as escrituras: “E Deus formou Adam do pó da terra e Ele soprou em suas narinas o sopro da vida, e Adam se tornou uma Néfesh Chaiá (alma vivente)” (Gênesis 2:7). Aqui encontramos duas  Criações:

  1. O próprio Adam
  2. A própria Alma Vivente

Esta passagem nos diz que Adam foi primeiro criado como o pó da terra, isto é, a combinação de um certo número de moléculas que incluem a essência do ser humano, isto é, seu Desejo de Receber. Este Desejo de Receber é imbuído em todas as moléculas da existência, como nós explicamos acima, e deles todos os quatro tipos  de existência foram criados: Inanimado, Vegetativo, Animado e Falante. A este respeito, o ser humano não é superior aos outros tipos de Criação. Este é o significado das palavras “pó da terra”.

No entanto, como nós já explicamos, esta força que nós chamamos o Desejo de Receber não tem existência a menos que se manifeste e aja através das coisas que ela desejou. Esta ação é chamada “vida”, e assim nós encontramos que antes de Adam atingir as formas de receber do prazer humano, que são diferentes daquelas das outras criações, ele era considerado como morto e inerte, pois seu Desejo de Receber não tinha como se manifestar e revelar suas ações, que é a manifestação da vida, como dissemos.

É por isto que dissemos: “…e Ele soprou em suas narinas o sopro (nishmat) da vida”, que é a combinação das formas de recepção, que se aplicam ao ser humano. A palavra nishmat (alma) vem da palavra “shamin” a terra, ou seja, avaliar ou estimar. (A origem da palavra “neshamá” pode ser entendida do verso: “O espírito de Deus  me formou, e a alma do Todo Poderoso me deu vida” (33:4), veja o comentário pelo Malbim). E a palavra “neshamá” é um verbo passivo como “falta” (Nifkad), “acusado” (Ne’esham), e “acusada” (Ne’eshama – termo feminino de  Ne’esham).

E esta passagem nos ensina que “…e Ele soprou em suas natinas” significa que Deus injetou uma alma (Neshamá) dentro da internalidade de Adam a avaliação  e dimensionamento da “vida”, que significa a soma total de todas as formas que são dignas de serem desejadas através de seu Desejo de Receber. E então esta força do Desejo de Receber, que estava contida em suas moléculas, encontrou um lugar no qual se vestir e agir, isto é, através das mesmas formas de recepção que o Criador lhe deu. Esta ação é chamada “vida”, como explicamos acima.

É por isto que a passagem termina com: “…e Adam se tornou uma alma vivente”. Então uma vez que o Desejo de Receber começou a agir dentro dele de acordo com os níveis destas formas de recepção, imediatamente a vida se manifestou nele e ele se tornou uma alma vivente. Isto não ocorreu antes de ele receber as formas de recepção. Embora ele já estivesse imbuído com a força do Desejo de Receber, ele ainda era considerado como um corpo morto inerte, pois ele não tinha lugar para ser visto e vir dentro dele como uma manifestação de uma ação, como explicamos.

Como vimos acima, embora a essência do ser humano seja o Desejo de Receber, esta é apenas metade dela, pois ela precisa de algo real para se vestir para que venha desta forma, e portanto, o desejo e a imagem daquilo que deseja são literalmente uma coisa. O desejo não pode existir nem mesmo por um momento sem a imagem desejada, como nós explicamos.

Assim, quando o corpo está à altura de seus poderes, que é no meio do seu tempo de vida, e seu ego está em sua altura total como inerente desde o nascimento, é então quando ele sente o Desejo de Receber em sua completa medida e força. Em outras palavras, ele anseia atingir muita riqueza, honra e tudo o que vê. Isto é devido a completude do ego da pessoa, que atrai para si mesma as formas das estruturas e conceitos em que se vestir e, portanto, existir.

Porém, conforme a meia idade passa, começam os dias de declínio, e sua essência é os dias de morte, pois a pessoa não morre de uma vez, assim como não adquire sua forma final de uma vez, mas pelo contrário sua “vela”, que é seu ego, apaga gradualmente e juntamente com ela, as imagens das coisas que  desejava receber desvanecem.

Ela começa a abrir mão das coisas que sonhava em sua juventude, e cada vez mais abre mão da intensidade das coisas conforme se aproxima da velhice, até que esteja muito velho e a sombra da morte paira sobre todo o seu ser. Neste momento, ela se contra em “tempos sem apelo”, dado que o Desejo de Receber, que é seu ego, gradualmente desvanece e desaparece até que é deixado sua centelha pequena e oculta, isto é, na manifestação de algum objeto. E portanto, nestes dias não há apelo ou esperança por qualquer imagem de recepção.

Assim, nós provamos que o Desejo de Receber e a imagem do objeto que a pessoa deseja são a mesma coisa, onde a manifestação é a mesma, e o nível da vida é o mesmo, e a medida é a mesma.

Porém, há uma distinção importante na medida da forma de concessão que ocorre no fim da vida da pessoa. Esta concessão não é porque a pessoa está saciada   e está abrindo mão de qualquer desejo de comer, mas pelo contrário, pelo desespero. Em outras palavras, que o ego, quando a pessoa começa a morrer nos dias de declínio, sente sua própria fraqueza e morte se aproximando, e portanto a pessoa aumenta seu desespero e desiste de seus  sonhos e esperanças de sua juventude.

Examine cuidadosamente a diferença entre a concessão da saciedade, que não causa dor e não pode ser chamada uma “morte parcial”, mas pelo contrário é uma ação que foi completa. Mas a concessão pelo desespero é cheia de dor e sofrimento, e portanto, pode ser chamada “morte parcial”, entenda isto  bem.

LIBERDADE DO ANJO DA MORTE

Agora, baseado em tudo que nós declaramos, encontramos uma abertura para entender corretamente as palavras dos sábios que ensinaram: “‘Charut (gravado) nas pedras’, não pronuncie ‘Charut (gravado)’, mas ao invés ‘Cherut (liberdade)’”, que se refere à liberdade do Anjo da Morte.

Pois como nós explicamos nos artigos “Matan Torá” e “Arvut”, antes da entrega da Torá, eles assumiram sobre si mesmos a renúncia de toda propriedade privada ao nível expresso pelas palavras “um Reino de Sacerdotes”. E eles aceitaram  a meta de toda Criação, aderir a Ele através da Similaridade de Forma com Ele, que compartilha e não recebe. É por isto que eles só compartilharão e não receberão, que é o último nível de Dvekút (adesão) como expresso pelas palavras “Nação Santa”, como declarado no fim do artigo “Arvut”.

Eu já te levei a perceber que a essência da individualidade de uma pessoa, ou seja, seu egoísmo, definido como o Desejo de Receber, é apenas metade de uma coisa,  e não pode existir sem se vestir em alguma imagem de uma posse ou esperança por uma posse, pois apenas então nosso assunto é completo, e pode ser chamado de individualidade de uma pessoa.

Assim, quando os filhos de Israel foram recompensados com completa Dvekút naquela Santa Ocasião, seus vasos de recepção foram completamente esvaziados de qualquer posse mundana e eles aderiram a Ele em Similaridade de Forma. Isto significa que eles não tinham qualquer desejo por posse para si mesmos, mas apenas à extensão que eles podiam dar prazer ao  Fazedor.

E uma vez que seu Desejo de Receber tinha se vestido em uma imagem de posse, ele se vestiu nele e se ligou a ele para compor um ser completo. Portanto, eles foram certamente libertos do Anjo da Morte, pois a morte é necessariamente a ausência e negação da existência de qualquer coisa. Isto é apenas possível enquanto há alguma centelha que deseja existir para seu próprio prazer. Nós podemos dizer que esta centelha deixou de existir, pois ela desapareceu e morreu.

Este não é o caso se o ser humano não possui estas centelhas mencionadas acima, mas todas as centelhas de sua individualidade se manifestam através da doação de contentamento ao Fazedor, e não pode ser nem ausente nem morta. Pois mesmo quando o corpo concede, ele concede apenas do aspecto do desejo egoísta. O Desejo de Receber é vestido nele e não pode existir de outra forma.

Porém, quando a pessoa atinge o Propósito da Criação e o Criador recebe prazer dela, uma vez que é feita a Sua vontade, nós encontramos que a essência da pessoa se veste através daquele prazer do Criador e através disto ela recebe a completa eternidade como o Criador e, portanto, merece a liberdade do Anjo da Morte.

Este é o significado do Midrash: “…liberdade do Anjo da Morte” (Shemot Raba 41:7) e da Mishná: “Gravado nas pedras…” (Avot 6). Não leia ‘Charut (gravado)’, mas ao invés ‘Cherut (liberdade)’. Pois ninguém está livre, exceto aquele que se aplica no estudo da Torá.

INTRODUÇÃO AO ESTUDO DAS DEZ SEFIROT

Do livro “Cabala Para o Estudante”

1) No princípio das minhas palavras, eu encontrei uma grande necessidade de quebrar um muro de ferro que existe e nos tem separado da Sabedoria da Cabalá desde a destruição do Templo até a nossa atual geração. Ela colocou uma carga intensa e pesada em nossos ombros, e levanta temores de que a Cabalá pode, Deus proíba, ser esquecida dos Israelitas.

E sempre que eu começo a falar para o coração de alguém sobre o seu envolvimento neste estudo, sua primeira questão é: “Porque eu devo saber quantos anjos há nos Céus e quais são os seus nomes? Eu não posso cumprir toda a Torá, com todos os seus detalhes e particularidades, sem toda esta informação?”.

Segundo, a pessoa pergunta ainda: “Os sábios já estabeleceram que se deve primeiro encher sua barriga com Mishná e Halachá. Mas quem poderia iludir-se que já terminou de estudar toda a Torá Revelada, e que a única coisa faltando para ela é a Torá Oculta? ”

Terceiro, esta pessoa tem temor que ela possa, Deus proíba, perder-se por causa do seu envolvimento. Afinal, existem vários exemplos de pessoas que se desviaram do caminho da Torá porque elas se envolveram com a Cabalá. “E se este  é o caso”, “por que eu preciso deste problema? Quem seria tão tolo ao ponto de colocar a si mesmo em perigo sem motivo? ”.

Quarto, “Mesmo aqueles que estão a favor deste estudo não permitem a todos, exceto aos santos, servos do Criador, ‘nem todos que desejam tomar posse do Nome podem vir e tomar’”. (Tratado Berachot 17b).

Quinto, e mais importante: “Há uma regra que em todo caso de dúvida, devemos sair e ver o que a maioria das pessoas fazem. E eu vejo que, todos os eruditos em Torá da minha geração têm uma opinião semelhante a minha – e eles evitam o estudo do Oculto. Eles até mesmo aconselham aqueles que perguntam que, sem dúvida alguma, é muito melhor estudar uma página na Gemará do que este envolvimento”.

2) De fato, se somente focarmos nossa atenção em responder uma pergunta muito bem conhecida, eu tenho certeza que todas estas questões e dúvidas desaparecerão do horizonte; e você olhará para este lugar mas elas desapareceram. Esta é uma pergunta muito pequena questionada por todos os seres humanos, a saber: Qual é o propósito (lit. motivo, gosto) das nossas vidas? Em outras palavras, quem aprecia todos estes anos de nossas vidas, que são tão custosos para nós em termos de todo o sofrimento e dor que experimentamos, para concluirmos a vida completamente até o seu fim? Ou mais precisamente: A quem eu estou beneficiando?

É verdade que os estudiosos através das gerações se desgastaram ao contemplar ela, e é preciso dizer, ninguém pôde nem mesmo considerá-la em nossa geração. No entanto, ao mesmo tempo, a questão ainda está com toda a sua validade e amargura. Pois às vezes, ela nos encontra sem ser convidada e atormenta nossa mente, fazendo-nos ajoelhar em humilhação até que consigamos encontrar o esquema bem conhecido – isto é, prosseguirmos sem pensar, fluindo nas correntes da vida, como no passado.

3) De fato, para resolver este dilema, as Escrituras dizem: “Prova e veja que o Criador é bom!” (Salmos 33:8). Pois aqueles que seguem a Torá e cumprem as Mitzvot de acordo com a Halachá são aqueles que provam o “sabor da vida” e que veem e testemunham que o Criador é bom. Assim como nossos sábios falaram: “Ele criou os Mundos para beneficiar Suas criaturas pois a natureza do Bom é fazer o bem”.

Mas, certamente, quem ainda não provou a vida do cumprimento da Torá e das Mitzvot não pode entender e sentir que o Criador é bom, de acordo com as palavras dos nossos sábios que disseram que o único propósito pelo qual o Criador criou o homem foi para beneficiá-lo. No entanto, ele não tem outro conselho se não cumprir a Torá e as Mitzvot de acordo com a Halachá. Isto é o porquê é dito na Torá: “Veja, eu ponho diante de ti este dia a vida e o bem, a morte e o mal…”. (Deuteronômio 30:15)

Antes de a Torá ser entregue, nós não tínhamos nada além da morte e o mal na frente de nós. O significado é conforme segue: Os sábios disseram que os malfeitores são chamados mortos mesmo estando vivos (Tratado Berachot, 19b) pois   é melhor para eles estarem mortos do que vivos, uma vez que o sofrimento e a dor que eles passam para sustentar suas vidas excedem muitas vezes sobre o prazer insignificante que eles decorrem nesta vida. E, de fato, agora que tivemos o mérito  de receber a Torá e as Mitzvot, nós obtemos – ao cumpri-las – a vida real e feliz, que alegra seus donos, conforme é dito nas Escrituras: “Prova e veja que o Criador é bom!” (Salmos 33:8) E é por isso que as Escrituras dizem: “Veja, eu coloquei diante de ti a vida e o bem,” (Deuteronômio 30:15) que não era de forma alguma parte de nossa realidade antes da Torá ser entregue.

E é por isto que as Escrituras terminam com: “Escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e a tua semente”. (Deuteronômio 30:19) Existe uma aparente redundância aqui: “…escolhe, pois, a vida, para que vivas”. No entanto, é uma referência para a vida no cumprimento da Torá e as Mitzvot, pois somente então existe realmente a vida. Este não é o caso vivendo sem a Torá e as Mitzvot, este tipo de vida é mais difícil do que a morte. Isto é o que os nossos sábios queriam dizer quando disseram que o malfeitor é chamado morto mesmo enquanto ainda está vivo. E este é o significado do que a escritura diz: “…para que você e seus descendentes vivam,” que é para dizer que a vida sem a Torá não somente não provê alegria alguma para os seus donos, mas eles também não podem trazer nenhuma alegria aos outros.

A pessoa não pode nem mesmo desfrutar dos filhos que ela dá à luz, porque até mesmo suas vidas são mais difíceis do que a morte, então que tipo de presente  ela está dando a eles? Mas aqueles que vivem com a Torá e as Mitzvot não somente tem a alegria de sua própria vida, mas também se alegram por dar à luz à mais filhos e legar-lhes esta boa vida. Este é o significado de: “…que você e seus descendentes vivam,” pois tem um deleite adicional nas vidas dos seus filhos, da qual foi à causa.

4 ) Da passagem anterior, você deve ser capaz de entender as palavras dos nossos sábios em relação ao que disseram: “Escolha a vida,” (veja o comentário do Rashi, Deuteronômio 30:19) que diz o seguinte: “Eu estou instruindo você a escolher a parte da vida, assim como um homem fala ao seu filho: Escolha para si a melhor parte da minha terra. E leva ele até a melhor parte da terra e lhe diz: Escolha esta! E sobre isto, é dito: “O Criador é a porção da minha herança e do meu cálice, Tu sustentas o meu lote.” (Salmos 16:5) Tu colocaste minha mão no bom lote, dizendo: Toma este para ti.” Estas palavras parecem ser intrigantes.

As Escrituras dizem: “Escolha a vida,” que significa que a pessoa faz sua própria escolha. Eles dizem que Ele leva-o ao bom lote, e se este é o caso, não há escolha. Não apenas isto, eles também dizem que o Criador coloca a mão da pessoa no bom lote, e isto é bastante intrigante pois se é assim, onde está o livre arbítrio da pessoa?

Com a seguinte explicação, você entenderá estas palavras no seu correto significado.

Pois é verdade e correto que o Próprio Criador coloca a mão de uma pessoa no bom lote, isto é, dá a ela uma vida de prazer e satisfação dentro da vida material que está cheia de sofrimento e dor, e desprovida de qualquer substância; que a pessoa pode inevitavelmente desligar-se e fugir dela no primeiro momento em que vê um lugar tranquilo, mesmo que aparentemente apareça em meio as rachaduras [Cântico dos Cânticos 2:9], assim ela pode fugir desta vida que é mais difícil do que a morte. Então, não há nada maior para a pessoa que o Criador colocar a mão do homem no bom lote.

A escolha da pessoa cinge-se apenas ao seu fortalecimento pois certamente muito trabalho e esforço são necessários até que a pessoa possa purificar seu corpo  ao ponto de ser capaz de cumprir corretamente a Torá e as Mitzvot, isto é, não para seu próprio prazer mas para dar prazer ao seu Criador. Isto é chamado Lishmá (em Nome Dela), pois somente desta forma podemos receber a vida de felicidade e prazeres que acompanham o cumprimento da Torá. E certamente, antes de atingir esta pureza, existe certamente o livre arbítrio para perseverar no caminho do bem, usando toda a sorte de meios e táticas. Sua mão deveria encontrar força para fazer  até que o trabalho de purificação seja feito, para que ela não, Deus proíba, caia no meio do caminho com todo o seu fardo.

5) De acordo com o mencionado acima, podemos entender as palavras dos nossos sábios no Tratado de Avot (6:4): “Este é o caminho da Torá: comereis pão com sal, bebereis pouca água, dormireis no chão, vivereis uma vida sofrida e de trabalho em Torá. Se fizer isto, ‘feliz serás e te irá bem.’ (Salmos 128:2) Feliz serás – neste mundo; e ‘te irá bem’ – no Mundo Vindouro”.

Podemos questionar suas palavras. Qual é a diferença entre a sabedoria da Torá e todos os outros ramos mundanos de conhecimento, que não requerem este tipo de asceticismo (prática de abstenção de prazeres) e uma vida sofrida? Nestes outros ramos, esforço em si é completamente suficiente para atingi-lo. Na sabedoria da Torá, mesmo que coloquemos muito esforço nela, isto ainda não é suficiente para atingi-la. A única forma é através do asceticismo, como “pão com sal etc. e a vida sofrida etc.”.

E o fim destas palavras é ainda mais intrigante pois diz: “Se fizer isto, feliz serás neste mundo, e irá bem no Mundo Vindouro.” Embora seja possível que tudo vá bem comigo no Mundo Vindouro, como eu posso dizer que neste mundo, enquanto eu me auto mortificar com o comer, beber e dormir, e viver em grande sofrimento: “Feliz serás neste mundo.” Isto pode ser chamado de uma vida feliz no contexto deste mundo?

6) De fato, o comentário acima indica que se envolver com a Torá e cumprir corretamente as Mitzvot é, no sentido mais amplo, dar prazer ao nosso Criador e não ao nosso próprio prazer. Nós não podemos chegar neste nível exceto através de muito trabalho e grande esforço em purificar nosso corpo. O primeiro esquema para fazer isto é criar o hábito de nunca receber nada para o nosso próprio prazer, mesmo com relação às coisas que são permitidas e necessárias para o sustento do nosso corpo, tais como comida, bebida, dormir, e outros requisitos similares. Assim, podemos evitar completamente até mesmo o prazer que inevitavelmente vem do provimento do nosso sustento, ao ponto que nós estamos literalmente vivendo uma vida literalmente vivendo uma vida sofrida.

E então, quando já tivermos chegado a este hábito e nosso corpo não tenha mais desejo de receber qualquer prazer para si mesmo, podemos começar a nos envolver com a Torá e cumprir as Mitzvot daquela maneira, que é, dar prazer ao nosso Criador e não para nós mesmos. (Isto é verdade se nós não perguntarmos sobre aquelas palavras, conforme é dito em Tosafot do Tratado de Rosh Hashaná, página 4, começando com as palavras: Com o propósito…, veja lá; e também há um segredo lá, como foi dito por Maimônides e nada mais deve ser dito aqui). E quando nós finalmente merecermos isto, então mereceremos provar a vida feliz, cheia de todo tipo de bondade e prazer, não contaminada com qualquer tipo de tristeza – o tipo de vida que é revelado através do envolvimento com a Torá e as Mitzvot Lishmá (em Nome Dela).

Assim como Rav Meir disse (Tratado Avot 6a): “Qualquer um que se envolva na Torá Lishmá merece muitas coisas; e não só isso, mas ele é digno de desfrutar de todo o mundo etc. … E os segredos da Torá são revelados para ele; e ele se torna como uma fonte abundante etc.” Estude isto bem. E desta pessoa as Escrituras dizem: “Prova e veja que o Criador é bom!” (como discutimos acima, Item 3) pois aquele que prova o sabor de envolver-se com a Torá e Mitzvot Lishmá recebe o mérito de ver para si mesmo o Propósito da Criação, que é somente trazer a bondade para os seres criados já que a natureza do bom é doar bondade. E ele alegra-se e regozija-se com os anos de vida que o Criador doou a ele, e “ele é digno de desfrutar de todo o mundo”.

7) Agora você pode entender os dois lados da moeda em como se envolver com a Torá e as Mitzvot. O primeiro lado é o Caminho da Torá, isto é, a preparação extensiva que o homem precisa passar através da purificação do seu corpo antes de ele merecer realmente cumprir a Torá e as Mitzvot. Neste estado, irá necessariamente se envolver com a Torá e as Mitzvot Lo Lishmá (Não para Seu Nome), mas com uma mistura de prazer pessoal. Isto porque ele ainda não conseguiu corrigir e purificar seu corpo deste desejo de receber prazer das vaidades do mundo.

Durante este período, precisa viver uma vida de sofrimento e precisa trabalhar na Torá, conforme é dito na Mishná. De fato, depois de ter terminado e completado o Caminho da Torá, e já ter corrigido seu corpo e ser agora qualificado para cumprir a Torá e Mitzvot Lishmá, para dar prazer ao seu Criador, então se move ao outro lado da moeda: uma vida de prazer e grande paz, que é o pretendido para   a Criação por “beneficiar Suas criaturas”. Esta é a vida mais feliz neste mundo e no Mundo Vindouro.

8) Temos então que clarificar a grande diferença entre a sabedoria da Torá e os outros tipos de sabedoria. Atingir outros tipos de sabedoria não melhora a vida neste mundo, assim como elas não oferecem nem o menor alívio para a pessoa pela dor e sofrimento que ela sofre ao longo de sua vida. Por este motivo, não precisa purificar seu corpo; o trabalho e esforço que investe para obter tal tipo de sabedoria são suficientes, da mesma maneira que quaisquer outros bens mundanos são obtidos através de esforço e trabalho. Este não é o caso, porém, com a Torá e as Mitzvot pois todo o seu propósito é preparar a pessoa para estar pronta para receber toda a bondade que está incluída no Propósito da Criação: “fazer o bem às Suas criaturas”. Por este motivo, a pessoa certamente precisa purificar seu corpo para que seja digno e condizente a este bem Divino.

9) Isto também clarifica o dito na Mishná que “Se assim o fizeres, serás feliz neste mundo”. Eles foram intencionalmente precisos em nos ensinar que a vida feliz neste mundo é disponível apenas para aqueles que completaram o Caminho da Torá. Isto significa que a austeridade em comida, bebida, e dormir assim como levar uma vida sofrida; tudo falado aqui são praticados apenas quando se está no Caminho da Torá, que é o porquê eles especificamente disseram: “Este é o Caminho da Torá etc.”. E depois de você completar este caminho de Lo Lishmá, com austeridade e uma vida sofrida, a Mishná conclui: “Serás feliz neste mundo”, pois você terá obtido a mesma felicidade e bondade que foi incluída no Propósito da Criação, e você será digno de desfrutar “o mundo inteiro”, referindo-se a este mundo e mais ainda no Mundo Vindouro.

10) E isto é o que está escrito no Zohar (Gênesis A 37:351) sobre o verso, “E o Criador disse, ‘Sejas Luz’, e foi Luz” (Gênesis 1:3): “‘Sejas Luz’ – para neste mundo; e ‘foi Luz’ – para o Mundo Vindouro”. Ou seja, que durante o Ato da Criação, foram criadas em sua forma definitiva e estatura plena, como nossos sábios disseram; isto  é, em seu propósito final de completa perfeição e glória. E de acordo com isto, a Luz que foi criada no primeiro dia emergiu em toda sua completa perfeição, que incluiu a vida neste mundo no refinamento e prazer absolutos à extensão que é expressa nas palavras: “Sejas Luz”.

Mas para preparar espaço para o livre arbítrio e trabalho, Ele a ocultou para os justos nos dias futuros, conforme os sábios disseram (Bereshit Rabá). Este é o porquê eles disseram em sua linguagem pura: “Seja Luz para este mundo”. No entanto, não permaneceu desta forma, mas se tornou, ao invés: “E foi Luz no Mundo Vindouro”, ou seja, que aqueles que se envolvem com a Torá e Mitzvot Lishmá obterão a Luz somente no futuro, referindo ao futuro que é esperado vir quando a purificação do seu corpo no Caminho da Torá for completada. Então serão elegíveis para a grande Luz mesmo neste mundo, conforme os sábios disseram: “Verás teu mundo em tua vida”. (Tratado Berachot 17a)

11) De fato, encontramos e vemos nas palavras dos sábios do Talmud que eles fizeram o Caminho da Torá mais fácil para nós, mais do que os sábios da Mishná, porque eles disseram: “Uma pessoa deve sempre se envolver com a Torá e Mitzvot, mesmo se é Lo Lishmá, pois de Lo Lishmá, chegará a Lishmá, (Tratado Sanhedrin 105b) já que a Luz nela a reforma.

Assim, eles nos deram um novo método para substituir a austeridade do Tratado Avot na Mishná que foi mencionado acima. “A Luz está na Torá”, que tem poder suficiente nela para reformar a pessoa e levá-la a envolver-se com a Torá e Mitzvot Lishmá. Eles não mencionam austeridade, apenas que se envolver com a Torá e Mitzvot é suficiente para prover-lhe a Luz que reforma, e permitir a ela se envolver com a Torá e as Mitzvot para dar prazer ao seu Criador e não para seus próprios prazeres. E isto é chamado Lishmá.

12) Mas deve-se aparentemente refletir em suas palavras. Afinal, encontramos um número de pessoas estudando e para os quais o envolvimento com a Torá não fez muito bem para merecer que a Luz na Torá os ajude a chegar em Lishmá. Envolver-se com a Torá e Mitzvot Lo Lishmá significa que alguém acredita no Criador, na Torá, e em recompensa e punição, e que se envolve com a Torá porque o Criador ordenou, ainda que também incorpore seu próprio benefício junto com dar prazer ao seu Criador.

Mas se, depois de todo o seu esforço em se envolver com a Torá e as Mitzvot, entender que por seu grande envolvimento e grande esforço, não obtiver nenhum prazer e benefício pessoal, lamenta ter lutado por tanto tempo. Isto é porque enganou-se a si mesmo desde o início, pensando que ela, também, poderia também receber algum prazer do seu esforço. Este exemplo é chamado Lo Lishmá (conforme mencionado em Tosafot do Tratado Rosh Hashaná, página 4, começando com as palavras: “Pelo propósito…”). Porém, nossos sábios permitiram começar a se  envolver com a Torá e Mitzvot Lo Lishmá pois de Lo Lishmá, uma pessoa chegará até Lishmá, conforme foi explicado.

Sem dúvida, se esta pessoa que está se envolvendo com a Torá e as Mitzvot ainda não tiver obtido confiança no Criador e Sua Torá, mas se, Deus proíba, vive em suas dúvidas, ela não é a pessoa que nossos sábios disseram que de Lo Lishmá chegará à Lishmá. Nem é ela a pessoa a quem é dito (no Midrash Rabá na abertura de Lamentações (Eichá), e no Talmud de Jerusalém, Tratado Hagigá 1:7) que ao envolver- se com a Torá, a Luz nela as reforma, pois a Luz da Torá brilha somente para aqueles que dominam a confiança.

Além disso, a força desta Luz está em proporção com a força da confiança da pessoa. E para aqueles que, Deus proíba, faltam confiança, o oposto é verdade. Conforme é dito: “Para aqueles que tomam o caminho da esquerda, será como a poção da morte” (Tratado Shabat página 8), pois eles receberão escuridão da Torá e seus olhos ficarão cegos.

13) E os sábios já fizeram uma parábola interessante a este respeito, comentando o verso: “Ai daquele que deseja o dia do Criador! Para que desejas o dia do Criador? É escuridão, e não luz.” (Amós 5:18) Isto é como o galo e o morcego que estão esperando pela luz. O galo disse ao morcego, “Eu estou esperando pela luz porque a luz é minha, mas para que você precisa da luz?” (Tratado Sanhedrin, página 98b). Estude isto bem!

É óbvio que para aqueles que estudam a Torá que não mereceram sair de Lo Lishmá para Lishmá, devido a sua falta de confiança, Deus proíba. Portanto, eles não receberam nenhuma Luz da Torá, e conformemente, eles andam na escuridão e “eles morrem, mas sem sabedoria”. (4:21)

Mas aqueles que mereceram completa confiança são prometidos pelas palavras dos sábios que mesmo se eles se envolverem com a Torá Lo Lishmá, a Luz dela as reforma. E assim eles merecerão, mesmo sem passar pela austeridade e uma vida de dor, envolver-se com a Torá Lishmá, que traz uma vida de felicidade e bondades neste mundo e no Mundo Vindouro, conforme mencionado acima. E as Escrituras dizem sobre eles: “Então vocês terão deleite no Criador, e eu vos farei cavalgar sobre as alturas da terra etc.” (Isaías 58:14)

14) Associado com o problema mencionado acima eu outrora traduzi um dito de nossos sábios: “Sua Torá é seu comércio”, (Tratado Shabat, 11a) a forma que se envolve com a Torá mostra seu nível de confiança (emunato) pois “seu comércio” (umanuto) é soletrado [em Hebraico] com as mesmas letras que “sua confiança” (emunato). Isto é análogo a uma pessoa que tem confiança em seu amigo e empresta- lhe dinheiro. Talvez ela confie em seu amigo com uma libra, mas se o amigo pedisse duas libras, ela poderia recusar. Ou talvez ela confie em seu amigo com até cem libras, mas não mais que isto. Ou talvez ela possa confiar em seu amigo e emprestar- lhe metade de suas possessões, mas não todas as suas possessões. Pode ainda ser possível que ela possa confiar em seu amigo com todas as suas possessões, sem nenhuma sombra de temor. Apenas a confiança da última é considerada confiança completa, mas os exemplos anteriores de confiança são considerados confiança incompleta ou parcial, quer seja menor ou maior.

Semelhantemente, uma pessoa aloca para si, de acordo com o grau de sua confiança no Criador, uma hora do seu dia para envolver-se com a Torá e com trabalho. Outra pessoa aloca duas horas, de acordo com o grau de sua confiança no Criador. Mas a terceira não desperdiça nem mesmo uma hora do seu tempo livre sem se envolver com a Torá e com trabalho. Isto significa que somente a última pessoa tem confiança completa porque ela confia no Criador com todas suas possessões, ao contrário dos outros, cuja confiança ainda não está  completa. Mas não devemos elaborar muito nisto.

15) E se torna claro que não se deve esperar que envolver-se com a Torá e Mitzvot Lo Lishmá deve trazê-lo ao envolvimento com eles Lishmá. Pois somente quando sabe em sua alma que ela está obtendo confiança própria no Criador e Sua Torá, então a Luz nela a reforma e ela merecerá o “dia do Criador”, que é absolutamente Luz, pois a santidade da confiança purifica os seus olhos para que eles possam desfrutar da Luz. Então a Luz na Torá a  reforma.

De fato, aqueles que tem falta de confiança são semelhantes aos morcegos que não podem ver a luz do dia. A luz do dia torna-se severa escuridão para eles, mais que a escuridão da noite pois eles recebem sua nutrição durante a escuridão da noite. Desta forma, os olhos daqueles que têm falta de confiança estão cegos pela  Luz do Criador, e, portanto, a Luz torna-se escuridão para eles e a poção da vida torna-se para eles a poção da morte. E estas são as pessoas de quem está escrito: “Ai daquele que deseja o dia do Criador! Para que desejas o dia do Criador? É escuridão, e não luz”. Pois conforme dissemos anteriormente, uma pessoa deve primeiro alcançar confiança completa.

16) E o que foi dito até agora explica a questão do Tosafot (Tratado Ta’anit, página 5, ‘E tudo…’). Está dito lá: “Aquele que se envolve com a Torá Lishmá, a Torá torna-se para ele uma poção de vida , aquele que se envolve com a Torá Lo Lishmá, a Torá torna-se para ele uma poção de morte”. E levanta uma questão: Mas está dito que deve-se sempre se envolver com a Torá, mesmo quando é Lo Lishmá, por fim começa-se a envolver-se com ela Lishmá, veja acima. Agora de acordo com o que foi explicado, isto deve ser dividido de maneira simples.

Aquele que se envolve com a Torá para o bem de aprender a Torá, e acredita em recompensa e punição ainda que incorpore seu próprio prazer e benefício com esta intenção de dar prazer ao seu Criador, então a Luz nela a reforma e ela irá se envolver com a Torá Lishmá. Aqui, no entanto, é alguém que se envolve com a Torá não pelo propósito de cumprir a Mitzvá de estudar a Torá – porque ela não acredita em recompensa e punição a tal grau que ela tentará o suficiente – pois todo o esforço que faz é apenas para seu próprio benefício e por causa disso, torna-se como uma poção de morte para ela, já que sua Luz torna-se escuridão para ela, conforme explicado.

17) E, portanto, antes de começar seu estudo, o estudante tem que se comprometer em fortalecer sua confiança no Criador, em Sua Providência, e em recompensa e punição, conforme os sábios disseram: “O seu empregador é obrigado a pagar-lhe o valor dos seus esforços”. (Avot, 2:13) Então ela precisa direcionar seu esforço em direção ao propósito de cumprir a Mitzvá da Torá, e desta forma, merecerá desfrutar desta Luz. E sua confiança também se tornará mais forte e maior pela virtude desta Luz, conforme é dito: “Será a cura para sua carne e um remédio para seus ossos”. (Provérbios 3:8) E então irá assegurar em seu coração que de Lo Lishmá, irá para Lishmá.

Desta forma, mesmo que alguém que saiba que ela ainda não mereceu ter confiança, Deus proíba, no entanto ainda há esperança para ela através do envolvimento com a Torá. Pois se ela focar seu coração e mente em receber confiança do Criador através da Torá, não há maior forma de cumprir as Mitzvot do que esta, conforme  nossos  sábios  disseram  (Tratado  Makot,  24)  “Habacuque  veio  e  os condensou todos em um (princípio): ‘O justo viverá por sua confiança (emunato)’”. (Habacuque 2:4)

Não apenas isto, mas ele não tem outra alternativa, conforme aprendemos (Tratado Baba Batra, 16a): “Raba disse: Jó queria isentar todo o mundo do Julgamento, e ele disse a Ele, Senhor do Universo… Vós criastes os justos, Vós criastes os maus; quem pode ficar no Teu caminho?” E o Rashi comentou neste verso: “Vós criastes os justos através da boa inclinação; Vós criastes os maus através da má inclinação; e, portanto, ninguém pode sobreviver a Tua mão, pois quem pode Te parar? Os pecadores não têm escolha”.

“E o que os amigos de Jó lhe falaram? ‘Mas mesmo tu destróis a reverência e dificultas a meditação diante do Criador’ (15:4). O Criador criou a má inclinação, criou a Torá como antídoto”. Comentário do Rashi neste verso diz: “Ele criou a Torá, que em si mesma é um antídoto porque ela apaga os pensamentos das transgressões, conforme está escrito ‘Se você encontrar este vilão, puxe-o ao Beit Midrash, se ele é feito de pedra, ele amolecerá…’ (Tratado Kidushim, 30) Portanto,  eles não são deixados sem escolha porque depois de tudo, eles poderão se salvar”. Veja este Tratado e estude-o bem.

18) E está claro que eles não podem se isentar do Julgamento se eles disserem que apesar de receber este antídoto, eles ainda têm pensamentos pecaminosos – isto é, eles ainda vivem em dúvida, Deus proíba, e a má inclinação ainda não se O Criador, que criou a má inclinação e deu-lhe a sua validade, também sabia como criar a cura e o antídoto que são obrigados a esgotar a má inclinação e limpá-la completamente.

E se uma pessoa esteve envolvida com a Torá e ainda não foi capaz de remover a má inclinação de si mesma, isto foi porque ou ela negligenciou gastar o devido esforço e a labuta necessária pelo envolvimento com a Torá, conforme é dito “Eu não trabalhei e encontrei, não acredite!” (Tratado Megilá 6b) Ou ela realmente cumpriu a “quantidade” necessária de trabalho mas foi negligente na medida de sua “qualidade”. Isto significa que ela não prestou atenção nem focou sua intenção durante seu envolvimento com a Torá para merecer atrair a Luz da Torá, que infunde confiança no coração da pessoa. Ao invés disso, ela se envolveu com a Torá desatenta da essência requerida da Torá, que é a Luz que leva a confiança, conforme dito acima.

E apesar de esta ter sido sua intenção no início, sua mente se desviou disto durante o curso do seu estudo. Em todo caso, uma pessoa não deve se isentar do julgamento, clamando que ela não teve nenhuma escolha, pois nossos sábios declaram estritamente: “Eu criei a má inclinação, Eu criei a Torá como seu antídoto”, e se houvesse qualquer exceção nisto, então a questão de Jó seria legitimada, Deus proíba. Estude isto bem.

19) E por toda a explicação até este ponto, eu tenho removido uma grande queixa que tem sido expressa com espanto, em reação às palavras do Rav Chaim Vital em sua introdução ao Sha’ar Há’akdamot (Portão das Introduções) do Ari, também na introdução ao livro A Árvore da Vida (Etz HaChaim, 1910 edição de Jerusalém). Esta é a linguagem de Rav Chaim Vital: “Uma pessoa não deve dizer, ‘Irei e me envolverei com a Sabedoria da Cabalá antes de aprender a Torá e a Mishná e o Talmud’, pois nossos antigos professores já nos falaram que não se deve entrar no mistério da Cabalá (PARDES) a menos que sua barriga esteja cheia de carne e vinho. Isto seria como uma alma sem um corpo, que não tem nem recompensa, nem ação, nem acerto de contas até que o corpo esteja completo e corrigido através das Mitzvot da Torá, as 613 Mitzvot”.

E o oposto também é verdade. Se alguém se envolve com a sabedoria da Mishná e o Talmud Babilônico mas não devota parte dos seus estudos com os segredos da Torá e seus mistérios, é como um corpo sentado no escuro sem a alma humana, que é a chama do Criador brilhando dentro dela. Desta forma, o corpo torna-se seco, já que não deriva vitalidade da Fonte da vida etc. Assim, o estudante da Torá que se envolve com a Torá Lishmá precisa primeiro estudar tanto Tanakh, Mishná e Talmud conforme sua mente e intelecto podem absorver, e somente depois tentar conhecer seu Criador através da Sabedoria da Verdade. E como o Rei David ordenou ao seu filho Salomão: “Conheça o Criador do seu pai, e O sirva”. (1 Crônicas 28:9)

E se para tal pessoa estudar o Talmud for difícil e penoso, pode ser melhor a ela se retirar disto, depois de ter examinado sua sorte nesta sabedoria, e entrar na Sabedoria da Verdade. E é por isto que é dito que um estudante que não vê um sinal de sucesso dentro de cinco anos em seus estudos da Mishná é improvável que alguma vez veja tal sinal (Tratado Chulin, 24). E, de fato, todas as pessoas para quem é fácil estudar são chamadas a passar uma ou duas horas por dia estudando a Halachá e pensando profundamente e dando argumentos adequados sobre as consultas que tem a ver com a interpretação literal da Halachá. Por isto, sua linguagem sagrada é citada, palavra por palavra.

20) E suas palavras são aparentemente muito desconcertantes porque ele diz que antes de uma pessoa suceder com o estudo do Revelado ela deve ir e se envolver com a Sabedoria da Verdade. Isto está em contradição as suas próprias palavras anteriores que a Sabedoria da Cabalá, sem os ensinamentos revelados, é como uma alma sem corpo, que não tem ação, nem acerto de contas, nem recompensa. E a evidência que ele apresenta em relação a um estudante que não viu um sinal de sucesso é ainda mais peculiar. Afinal, nossos sábios instruíram ele a abandonar seu estudo da Torá por causa disto, Deus proíba? Certamente, eles estão tentando alertá- lo a refletir em seus caminhos e tentar com outro Rav ou em um tratado diferente, mas certamente não deixar a Torá, Deus proíba, nem mesmo a Torá Revelada.

21) E uma dificuldade adicional com as palavras de Rav Chaim Vital e as palavras da Gemará é que suas palavras implicam que a pessoa deve ter alguma preparação especial e nível de excelência como um pré-requisito para merecer a sabedoria da Torá. Mas nossos sábios disseram (no Midrash Rabá, em relação à porção da semana “Zot HaBrachá”): “O Criador disse ao povo de Israel, ‘Por sua vida! A sabedoria e toda a Torá é um assunto muito fácil; qualquer um que tenha temor por Mim e cumpra as palavras da Torá, toda a sabedoria e toda a Torá estarão dentro do seu coração’”, fim da citação. Portanto, aqui, não se precisa qualquer excelência anterior: A virtude de estar em temor ao Criador e cumprir as Mitzvot é, em si mesmo, suficiente para obter toda a sabedoria da Torá.

22) De fato, se prestarmos atenção às palavras, elas se tornarão claras para nós como os claros céus Quando ele escreveu: “Seria melhor para ele se retirar dele, depois de ter examinado sua sorte na sabedoria do Revelado (veja aqui no Item 19),” ele não quis dizer a “sorte” da esperteza e proficiência, mas refere-se, ao invés, a nossa interpretação do comentário acima em: “Eu criei a má inclinação, criei a Torá como antídoto”. Isto significa que uma pessoa pode ter trabalhado e labutado na Torá Revelada, ainda que a má inclinação esteja totalmente lá e não tenha se dissolvido porque ela ainda não foi salva dos pensamentos pecaminosos, conforme Rashi disse em seu comentário acima em: “Eu criei a Torá como seu antídoto” (estude isto bem).

Assim, alerta a desapegar dela e, ao invés, estudar a Sabedoria da Verdade, pois, é mais fácil revelar a Luz da Torá ao se envolver no estudo e colocar esforço na Sabedoria da Verdade do que ao colocar esforço na sabedoria da Torá Revelada. E   o motivo é muito simples: É porque a sabedoria da Torá Revelada é coberta com Vestimentas externas e materiais, ou seja, roubos, saqueamentos, lesões etc. Por este motivo, é muito difícil e pesado para qualquer um sintonizar-se com o Criador durante seu estudo para revelar a Luz da Torá, e é ainda mais assim para uma pessoa que é lenta e acha difícil estudar o Talmud em si.

Então como pode esta pessoa, além disso, lembrar-se do Criador durante seu tempo de estudo? À medida que o estudo em si lida com assuntos materiais,  eles não podem, Deus proíba, se combinar em si ao mesmo tempo, junto com a intenção do Criador.

Portanto, alerta a se envolver com a Sabedoria da Cabalá porque esta sabedoria está totalmente vestida nos Nomes do Criador, assim será capaz de focar sua mente e seu coração no Criador durante seu estudo sem nenhum esforço, mesmo se ela achar extremamente difícil estudar, pois o estudo dos assuntos da Sabedoria e o Criador são um e o mesmo, e isto é muito simples.

23) E assim, ele traz evidências apropriadas às palavras da Gemará (veja aqui, Item 19): “Disto, aprendemos que um estudante que não vê um sinal positivo em seus estudos dentro de cinco anos não o verá, portanto, mais”. Por que o estudante não viu um sinal positivo em seus estudos da Mishná? Certamente o motivo pode ser somente que não tem a intenção do coração e não por causa da falta de talento. A sabedoria da Torá não precisa de nenhum talento, mas conforme é dito na Mishná acima (veja aqui, Item 21): “O Criador disse ao povo de Israel, ‘Por sua vida! A sabedoria e toda a Torá é um assunto muito fácil; qualquer um que tenha temor por Mim e cumpra as palavras da Torá, toda a sabedoria e toda a Torá estarão dentro do seu coração’”.

Claro, precisa-se de tempo para se adaptar a Luz da Torá e as Mitzvot, embora eu não saiba quanto. Pode-se ainda estar esperando um sinal durante seus setenta anos, é por isto que o Braita (Tratado Chulin, 24) nos adverte que não devemos aguardar por mais que cinco anos, e Rav Yossi diz (veja Tratado Chulin, 24) que três anos são mais do que suficientes para obter a sabedoria da Torá. Então, se uma pessoa não ver um sinal positivo dentro deste tempo, mas o contrário, ela deve saber que nunca verá um sinal positivo. Portanto, deve imediatamente encontrar para si mesma um esquema inteligente, um que a permita atingir Lishmá e merecer a sabedoria da Torá.

O Braita não especifica que sistema deve ser, mas apenas dá o alerta que não se deve continuar na mesma situação e esperar mais. Isto é o que o Rav diz, que o sistema melhor e mais seguro seria se envolver no estudo da Sabedoria da Cabalá e se retirar completamente do estudo da Torá Revelada, pois, afinal, já testou sua “sorte” com ela e não sucedeu. E deve dar todo seu tempo para a Sabedoria da Cabalá, que garante o seu sucesso, pelos motivos que nós mencionamos anteriormente. Estude isto bem.

24) E isto é muito simples. Não estamos falando aqui sobre o estudo da Torá Revelada que considera tudo o que é preciso saber para praticar na forma aprovada (de acordo com a Halachá). Porque um ignorante não pode ser um Chassid (piedoso), um erro não intencional no estudo da Torá é equivalente a um ato malicioso (Tratado Avot), e um só pecador destrói muitos bens (Eclesiastes  9:18).

Consequentemente, é imperativo que os examine quantas vezes forem necessárias para ele, para que não falhe quando for praticar. O que está sendo discutido aqui se refere apenas ao estudo da sabedoria da Torá Revelada para entender e resolver as dificuldades que aparecem no entendimento simples da Halachá, conforme o próprio Rav Chaim Vital concluiu (veja aqui, Item 19), ou seja, a parte do estudo da Torá que não atingiu o estágio da aplicação e nem a Halachá que é aplicada na prática.

De fato, este pode tomar menos severidade e ser aprendido da versão curta   e não das fontes. E mesmo isto merece contemplação profunda porque aquele que conhece a Halachá da fonte não pode ser comparado a aquele que aprende do estudo de um único relance ou de uma versão abreviada. E para não cometer um erro, Rav Chaim Vital imediatamente no princípio de suas palavras afirmou que a alma não pode se conectar ao corpo a menos que ele esteja completo com as 613 Mitzvot e aperfeiçoado por elas.

25) Agora você verá que todas as questões que levantamos no início da introdução são Vaidade das Vaidades, isto é, elas são redes de pesca que a má inclinação coloca para pegar almas inocentes e fazê-las partir deste mundo sem paixão.

Olhe para a primeira questão em que as pessoas se imaginam estando capazes de praticar toda a Torá sem saber nada sobre a Sabedoria da Cabalá. Mas eu por este meio as digo: Certamente, se você puder realmente estudar a Torá e praticar as Mitzvot de acordo com a Halachá Lishmá, isto é, apenas para trazer prazer ao Criador, então você realmente não precisa estudar Cabalá, porque de tais pessoas é dito: “A alma da pessoa a ensinará”. Em tal caso, todos os segredos da Torá serão revelados a ela como uma fonte sem fim, conforme Rav Meir disse (na Mishná acima do Tratado Avot, veja aqui no Item 6), sem você precisar de qualquer ajuda dos  livros.

Mas se você ainda continua na categoria de envolver-se Lo Lishmá na esperança que através disto, você irá merecer atingir Lishmá, então eu tenho que te perguntar: por quantos anos você tem feito isto? Se você ainda está dentro dos cinco anos de acordo com o Tana Kama (o primeiro Tana) ou dentro dos três anos (de acordo com o Rav Yossi), então você deve continuar aguardando e esperar. Mas se você já está se envolvendo com a Torá Lo Lishmá por mais do que três anos de acordo com o Rav Yossi ou mais do que cinco anos de acordo com o Tana Kama (o primeiro Tana), então o Braita te alerta que você não verá nenhum sucesso neste caminho que você está andando.

Por que então você deveria iludir-se em falsas esperanças quando você tem um esquema muito próximo e certo como o estudo da Sabedoria da Cabalá, como eu comprovei acima? Afinal, o estudo dos vários tópicos nesta sabedoria é um e o mesmo assim como o Próprio Criador. Estude isto bem. (Veja aqui o Item 19)

26) Vamos tocar a segunda questão que se devemos primeiro preencher nossas barrigas com Mishná e a Halachá. Isto é com certeza assim, pois todos dizem isso. No entanto refere-se a se uma pessoa já teve o mérito de aprender a Torá Lishmá ou mesmo Lo Lishmá se ela está dentro dos três anos ou cinco anos, mas não assim após este período. O Braita nos alerta que depois desse período, você nunca terá sucesso, conforme foi explicado acima. E se este é o caso, você precisa tentar e ver se você é capaz de suceder no estudo da Cabalá.

27) Além disso, saiba que há duas partes na Sabedoria da Verdade. A parte um é a que é chamada Sitrei Torá (Segredos da Torá), que não podem ser revelados exceto pela forma de insinuação por um sábio cabalista para um recipiente que compreende-o por conta própria; também a MA’ase Merkavá (estudo das Carruagens Superiores) e MA’ase Bereshit (Processo da Criação) pertencem a esta parte. Os sábios do Zohar chamam esta parte “As Primeiras Três Sefirot”: Kéter, Chochmá, Biná. Isto é também chamado o “Rosh (Cabeça) do Partzuf”.

A segunda parte é chamada Ta’amei Torá (Sabores da Torá), que são permitidos a serem revelados – de fato, é considerado uma grande Mitzvá revelá-los. No Zohar, isto é chamado “As Sete Sefirot Inferiores do Partzuf”, que é também chamado o “Guf (Corpo) do Partzuf”.

As Dez Sefirot podem ser encontradas em todo e cada Partzuf de Kedushá, e são chamadas: Kéter, Chochmá, Biná, Chéssed, Gevurá, Tiféret, Netzach, Hod, Yessód e Malchut. As Três Superiores destas Sefirot são chamadas o “Rosh do Partzuf”, e as Sete Sefirot Inferiores são chamadas o “Guf do Partzuf”. Mesmo na alma dos seres humanos inferiores, existem aspectos destas Dez Sefirot de acordo com seus nomes acima mencionados. E isto é assim com toda fase, nos Mundos Superiores e nos Mundos Inferiores. Com a ajuda do Criador, estes assuntos, juntamente com seus significados, serão clarificados neste livro.

E o motivo pelo qual as Sete Sefirot Inferiores, que são o Guf do Partzuf, são chamados Ta’amei Torá (os Significados ou Sabores da Torá) reside no segredo do dito na escritura: “O palato saboreia o alimento” (12:11). As Luzes que são reveladas abaixo das Três Superiores, que são o segredo de Rosh, são chamadas de Ta’amim (sabores, significados), e Malchut de Rosh é chamado Chech  (palato).

Por este motivo, eles são chamados os Ta’amim da Torá. Isto significa que eles são descobertos através do “Palato de Rosh”, ou a fonte de todos os Ta’amim, que é Malchut de Rosh. De lá para baixo, não há proibição em revelá-lo. Ao contrário, a recompensa para aquele que os revela é grande além do fim e além da medida.

De fato, estas Três Sefirot Superiores e estas Sete Sefirot Inferiores que são mencionadas aqui são interpretadas como segue: ou na forma geral completa ou na forma mais particular que pode possivelmente ser dividida, ou seja que mesmo as Três Primeiras Sefirot de Malchut no fim do Mundo de Assiá, pertencem à parte dos Sitrei Torá que não é para ser revelada, as Sete Sefirot Inferiores em Kéter do Rosh do Mundo de Atzilut, pertencem aos “Ta’amim da Torá” que são permitidos serem revelados. E estas coisas foram publicadas em muitos livros de  Cabalá.

28) E você pode localizar a referência a estas coisas no Tratado Pesachim (página 119b), onde é dito: “Sua mercadoria e sua locação serão dedicados ao Criador; não será armazenado ou acumulado, mas sua mercadoria fornecerá comida abundante e roupas finas para aqueles que habitam perante o Criador”. (Isaías 23:18)

O que “roupas finas” (mechase atik – literalmente, vestimentas antigas) significa? É aquele que cobre (mechase) questões em que o Atik Yomin (Antigo de Dias) foi oculto. E o que são elas? São os Sitrei Torá. E há aqueles que dizem: “Aquele que revela coisas que foram ocultas pelo Atik Yomin. O que são eles? São os  Ta’amei Torá”.

E Rashbam (Rav Shmuel ben Meir) interpretou isto como segue: “Atik Yomin é o Criador, conforme está escrito: ‘Atik Yomin (O Antigo de Dias) senta (Daniel, 7:9). Os Sitrei Torá se referem ao estudo de MA’ase Merkavá e MA’ase Bereshit, conforme está escrito (Êxodo 3:15): ‘Este é Meu Nome para sempre’. E ‘Ele quem cobre’ significa que Ele não os dá para qualquer pessoa, mas apenas para a que tem um coração aflito, conforme está escrito ‘Eles não comentarão sobre’  (Tratado Hagigá 13a): ‘Aquele que revela os sujeitos que estavam ocultos pelo Atik Yomin’ refere-se a pessoa que cobre os Sitrei Torá que foram cobertos no início, e o Atik Yomin os descobre e dá permissão para revelá-los. E qualquer um que os revele obtém o que ele diz neste verso (Isaías 23:18)”. Fim da citação.

29) E aqui você explicitamente tem a grande diferença entre os Sitrei Torá, onde qualquer que os entenda recebe tudo desta grande recompensa (explicado na Gemará no comentário no texto) por ocultá-los e não revelá-los. E por outro lado Ta’amei Torá: qualquer um que entenda os Ta’amei Torá recebe toda sua grande recompensa por revelá-los aos outros. Agora, “aqueles que dizem” (mencionados aqui no Item 28) não contradizem a primeira afirmação, ao invés apenas o significado de: “Elas não devem ser comentadas” está em disputa.

A primeira afirmação relaciona-se ao final do verso: mechase Atik (“e ele que cobre Atik”). Isto é porquê comenta no atingimento da grande recompensa por quem oculta os Segredos da Torá. “Aqueles que dizem” relaciona-se ao começo do verso, “e comer até se satisfazer”, que refere-se aos Ta’amei Torá, de acordo com o segredo do dito na escritura, “O palato saboreia o alimento” (12:11), pois as Luzes dos Ta’amim são chamados “alimentos”. E é por isto que eles comentam que quem revela os Ta’amim da Torá atingem uma grande recompensa mencionada no verso. No entanto, os dois lados acreditam que os Sitrei Torá precisam ser ocultos e os Ta’amim da Torá precisam ser revelados.

30) Aqui você tem uma clara resposta para a quarta e quinta questões que foram levantadas no início desta introdução, em relação ao que você encontra nas palavras dos nossos sábios, assim como nos Santos Escritos: que deve ser passada apenas para quem tem um coração aflito etc. (veja aqui o Item 28). Esta refere-se à parte que é chamada Sitrei Torá, que é o aspecto das Três Primeiras Sefirot, ou o aspecto de Rosh. Esta sabedoria não é para ser passada adiante, exceto para os modestos sob condições E em todos os livros de Cabalá, os escritos assim como aqueles que foram imprimidos, você não encontrará nem mesmo a menor menção deles porque estas são coisas cobertas pelo Atik Yomin, conforme mencionado acima na Gemará (veja aqui no Item 27).

E, além disso, diga por si mesmo se é possível imaginar ou mesmo considerar remotamente que todos estes grandes santos e pessoas justas famosas, que são os maiores membros da nossa nação e os melhores dos melhores – tais como os autores do Sefer Yetzirá (Livro da Formação) e o Zohar, e Rav Yishmael, autor do Braita, e Rav Hai Gaon, e Rav Hamai Gaon, e Rav Eliezer de Worms, e o restante dos Primeiros Rabis até o Rav Moshe ben Nachman (Nachmanides), e o autor do Shulchan Aruch, até o Gaon de Vilna (Rav Eliyahu de Vilnius), e o Gaon de Liadi, e o restante dos justos de abençoada memória dos quais recebemos a totalidade da Torá Revelada e por cujas bocas vivemos para saber que ações devemos fazer para encontrar favor aos olhos do Criador.

De fato, todos estes escreveram e publicaram livros sobre a Sabedoria da Cabalá. Afinal, não há maior exposição que escrever um livro, onde a pessoa escrevendo não tem ideia de quem poderia estudar seu livro. É possível, Deus proíba, que algumas pessoas más possam olhar. Se assim, não há maior revelação dos Segredos da Torá que esta e, Deus proíba, que poderíamos duvidar destas pessoas puras, santas depois de sua morte, e suspeitar que elas poderiam ter transgredido mesmo um pingo do que está escrito e explicado na Mishná e Gemará (no Tratado Hagigá) em relação a “Eles não devem ser  comentados”.

Assim, definitivamente, todos os livros escritos e impressos são o aspecto do Ta’amei Torá, que o Atik Yomin ocultou primeiramente e então revelou, de acordo com o segredo de “o palato saboreia o alimento”, conforme mencionamos anteriormente (aqui, Item 27). A pessoa não é proibida de revelar estes segredos, mas, de fato, é também um grande dever revelá-los, conforme mencionamos acima (Tratado Pesachim, 119). E qualquer um que saiba como revelá-los e de fato faz isto, sua recompensa é tremendamente grande por que a vinda do Goel Tzedek (o Justo Redentor) – depende inequivocamente em revelar estas Luzes para as massas. Que seja breve em nossos dias, Amén.

31) E é crucial explicar de uma vez por todas porque a vinda do Goel Tzedek (o Justo Redentor) depende da disseminação dos ensinamentos da Cabalá para as massas, que é tantas vezes mencionado no Zohar e em todos os livros de Cabalá. Mas as massas ligaram todos os tipos de bobagens a isto – insuportavelmente. A interpretação deste assunto é explicada no Tikuney Zohar (Tikun 30, começando com as palavras: Netiv Tanina [Segundo Caminho]), que é o seguinte:

“Segundo Caminho (Netiv Tanina), ‘E a Ruach do Criador pairava sobre a face das águas’. (Gênesis 1:2) O que as palavras ‘e a Ruach’ significam? Certamente, quando a Shechiná está no exílio, então sua Ruach paira sobre aqueles que estudam    a Torá, assim a Shechiná habita entre eles etc., ‘toda a carne é palha seca’, eles são como bestas no campo que comem feno e palha. ‘E toda sua graça é como os brotos do campo’ (Isaías 40:6), toda a bondade que eles mostram é para si mesmos etc.

“E mesmo todos aqueles que estão se esforçando em Torá, toda a bondade que eles mostram é para seu próprio benefício. E naquele tempo “Ele deve lembrar que eles são carne, um vento (Ruach) [Ruach em Hebraico significa “vento” e também “espírito”] que passa, e nunca retorna, (Salmos 78:39) e esta é a Ruach do Messias. Ai daqueles que fazem-no partir do mundo e não retornar nunca mais, pois eles são aqueles que fazem a Torá secar já que eles não querem se envolver no estudo da Sabedoria da Cabalá. E eles fazem com que a Fonte da Sabedoria – a letra Yud no nome HaVaYaH – se afaste etc. E esta Ruach que se afasta é o Espírito do Messias; é o “Espírito da Santidade; o Espírito da sabedoria e entendimento; o Espírito do conselho e fortaleza; o Espírito do conhecimento e temor ao Criador”. (Isaías 11:2)

“Segunda Mitzvá: ‘E o Criador disse, Sejas Luz, e foi Luz’. (Gênesis 1:3) Isto é amor, que é o amor pela bondade, conforme está escrito: ‘Eu te amei com um amor eterno; por isso, eu estendi a bondade sobre ti’. (Jeremias 31:3) E em referência a isto, é dito: ‘Não levante ou desperte o amor até que seja desejado…’ (Cântico dos Cânticos 2:7) Mostrando bondade e amor, esta é a questão principal, seja para o bem ou para o mal, e por causa disto é chamado temor e amor, pelo bem de receber uma recompensa. E por causa disto o Criador disse, ‘Eu vos ordeno, filhas de Jerusalém, pelas gazelas e veados do campo; não mexam-se nem despertem o amor até que seja desejado” [Cântico dos Cânticos 2:7], referindo-se a mostrar bondade sem recompensa, não pelo bem de receber uma recompensa porque o temor e amor pelo bem de receber uma recompensa pertence à Shifcha (serva). ‘E sobre três coisas a Terra treme com ira etc.’ (Provérbios 30:21): sobre “um escravo, quando ele governa’ e “uma serva, quando ela sucede sua senhora’ (Provérbios 30:22-23).” Fim da citação do Zohar.

32) E começaremos interpretando o Tikunei HaZohar do final ao início. É dito com relação ao temor e amor que um é por se envolver com a Torá e as Mitzvot para receber uma recompensa – ou seja, sua esperança é que obterá algum benefício ao envolver-se com a Torá e com o trabalho – que é como uma Shifcha (serva), de quem está escrito: “quando uma serva sucede sua senhora”. Isto é aparentemente perplexo porque foi estabelecido que deve-se sempre se envolver com a Torá e as Mitzvot, mesmo se Lo Lishmá (veja aqui, Item 11), então por que a Terra treme com ira? Também, temos que entender o relacionamento entre Lo Lishmá e a frase “Shifcha” (serva), assim como a expressão “sucedendo sua senhora”. Que sorte de sucessão existe aqui?

33) E você deve entender, na luz de tudo o que ficou claro nesta introdução, que o assunto de Lo Lishmá foi somente permitido por causa de “de Lo Lishmá, a pessoa atingirá Lishmá, já que a Luz nela reforma”. E, portanto, o envolvimento Lo Lishmá é considerado ser a Shifcha (serva), que ajuda e faz as tarefas menores para sua senhora, que é a Santa Shechiná. Isto é porque eventualmente, é destinado a obter Lishmá e obterá a Inspiração Divina da Shechiná. Então a serva que está se envolvendo com a Torá Lo Lishmá se tornará a Shifcha (serva) da Santidade, pois ela é aquela que ajuda a  Santidade e a  prepara, embora  ela  seja chamada  o aspecto  do  Mundo de Assiá de Kedushá (Santidade).

Obviamente se, Deus proíba, a confiança não está completa e se ela não se envolve na Torá e em ações de trabalho mas somente porque foi ordenada pelo Criador estudar, então, como já foi feito claro, no caso de tal Torá e ações de trabalho espiritual, a Luz da Torá não será revelada. Isto é porque seus olhos são defeituosos, fazendo com o que a Luz torne-se escuridão, semelhante aos morcegos, conforme dissemos anteriormente (veja aqui Item 11).

E tal aspecto do estudo já deixou o domínio da Shifcha (serva) da Santidade, pois, neste caso ainda não, Deus proíba, mereceu por ele chegar e se envolver com a Torá Lishmá. E é por isto que se move para o domínio da Shifcha (serva) das Klipót (cascas), que herdam esta Torá e o trabalho espiritual e a usurpam para si próprias.  E é por isto que a Terra treme com ira – eretz (terra) sendo um nome comumente conhecido para a Santa Shechiná, mas a empregada inferior usurpa-os e os degrada para que eles tornem-se a possessão das Klipót (cascas). E por isto, é desta forma que  a Shifcha (serva) sucede sua senhora, Deus proíba.

34) E o Tikunei HaZohar explicou o segredo do juramento: “Não levante ou desperte amor até que seja desejado”. A ênfase particular é que os Israelitas atrairão a Luz Superior, que é chamada o Amor da Bondade, porque isto é o que é desejado. E é atraída, em particular, através do seu envolvimento com a Torá e as Mitzvot sem nenhuma intenção de receber qualquer recompensa. E o motivo para isto é que por esta Luz da Bondade, os Israelitas recebem a Luz da Sabedoria Superior, que é revelada e envolve a si mesma com esta Luz da Bondade que os Israelitas atraíram.

E esta Luz da Sabedoria é o significado oculto da passagem: “E a Ruach do Criador recairá sobre ti, o Espírito da sabedoria e entendimento, o Espírito do conselho e fortaleza, o Espírito do conhecimento, e o temor ao Criador”. (Isaías 11:2) Isto é dito sobre o Rei Messias. E conforme diz ainda mais em: “Ele levantará um estandarte para as nações, e ajuntará os desterrados de Israel, e reunirá os dispersos de Judá dos quatro cantos da Terra”. (Isaías 11:12)

Depois de os Israelitas atraírem a Luz da Sabedoria pela Luz da Bondade – pelo segredo de “o Espírito da sabedoria e entendimento etc.” – então o Messias é revelado e ele “reúne os dispersos de Israel etc.” (Isaías 56:8) Afinal, tudo depende do envolvimento com a Torá e a adoração Lishmá, que possui a habilidade de atrair  a grande Luz da Misericórdia, na qual a Luz da Sabedoria é atraída e envolve-se com ela. Este é o segredo do juramento para “Não levante ou desperte amor  etc.”

Isto é porque a completa redenção e o ajuntamento dos Exilados não pode acontecer sem isto, já que os canais para a Santidade são dispostos  assim.

35) E há mais interpretações: “E a Ruach do Criador pairava sobre a face das águas”. O que é a Ruach do Criador? Certamente quando a Shechiná está em exílio, então sua Ruach paira sobre aqueles que estudam a Torá, conforme a Shechiná habita entre eles”. Isto significa que durante o Exílio, enquanto que os Israelitas ainda se envolvem com a Torá e as Mitzvot Lo Lishmá – se eles estão, de fato, no estágio “de Lo Lishmá eles chegarão ao Lishmá” – então a Shechiná está entre eles, ainda que do aspecto do Exílio porque eles ainda não atingiram Lishmá, conforme mencionado acima no segredo de “a serva da Santidade”.

Isto é o que se entende por “porque a Shechiná habita sobre eles”, mas em ocultamento. Ainda que no final, eles sejam sujeitos ao mérito da revelação da Shechiná. E então o Espírito do Rei Messias paira acima daqueles que assim se envolvem e despertam para o envolvimento Lishmá. Este é o significado oculto por trás de “a Luz nela a reforma”: Ele ajuda e prepara a emanação da Shechiná, que é “Sua Senhora”. Ao mesmo tempo, se, Deus proíba, este assunto de envolvimento Lo Lishmá por motivos que mencionamos anteriormente, então a Shechiná fica angustiada e diz, “Toda carne é como palha seca”, eles são todos como bestas que se alimentam com feno e palha.

Isto significa que a elevação do espírito humano não pode ser encontrada entre as pessoas que se envolvem com a Torá, mas, ao invés, elas são satisfeitas com  o espírito animal que move-se para baixo. E eles explicam o motivo: porque “toda sua bondade é como os brotos do campo”, toda a bondade que eles mostram – mesmo todos aqueles que se envolvem com a Torá – é unicamente para seu próprio benefício. Isto significa que todos seus envolvimentos com a Torá e as Mitzvot são para seu próprio benefício e seu prazer pessoal, e assim, seu envolvimento com a Torá não pode trazê-los, Deus proíba, para Lishmá.

E estas são as palavras que foram escritas aqui: “E naquele tempo, ‘Ele deve lembrar que eles são apenas carne’, uma rajada de vento (Heb. também Ruach) que vai e nunca retorna”, e esta é a Ruach do Messias. Isto significa que o Espírito do Messias não paira acima deles, mas desaparece deles e não volta porque a serva impura explora sua Torá e sucede a senhora, conforme mencionamos  anteriormente. Porque eles não estão no caminho de mover-se de Lo Lishmá para Lishmá, conforme discutido anteriormente (veja aqui, Itens 11,  17).

Portanto, a conclusão lá é que estas são aquelas que fazem a Torá secar, uma vez que não querem estudar a Sabedoria da Cabalá. Isto significa que mesmo que elas não tenham sucesso através do estudo da Torá Revelada porque não é Luz e torna-se seca devido a sua pequena mentalidade (conforme mencionamos acima, item 15, começando com as palavras do Rav “E assim…”), entretanto, eles podem suceder através do envolvimento com o estudo da Cabalá porque a Luz nela é vestida com as Vestes do Criador, ou seja, Nomes Sagrados e as  Sefirot.

Eles poderiam muito facilmente cair sob a categoria de Lo Lishmá, que leva a Lishmá. E neste caso, a Ruach do Criador pode pairar sobre eles, que é o segredo de “A Luz nela a reforma”. Mas eles não querem estudar Cabalá de qualquer forma. E por isto é dito: “Ai deles, pois eles trazem miséria, destruição, saqueamento, derramamento de sangue e desânimo ao mundo, e a Ruach que parte é a Ruach do Messias, conforme é dito: ‘Esta é a Ruach da Santidade, que é o Espírito da Sabedoria e Entendimento etc.’”.

36) O que se tornou claro dos escritos do Tikunei HaZohar é que há um juramento de que a Luz da misericórdia e amor não devem ser despertadas no mundo até que as ações dos Israelitas de seguir a Torá e as Mitzvot seja com a intenção única de dar prazer ao Criador e não para o bem de receber qualquer recompensa. Este é o significado oculto do juramento: “Eu vos ordeno, filhas de Jerusalém” [Cântico dos Cânticos 2:7], que significa que a extensão do Exílio e a dor que sofremos estão pendentes e nos aguardando até que mereçamos nos envolver com a Torá e as Mitzvot Lishmá. Mas se merecermos isto, então imediatamente esta Luz de amor e misericórdia serão despertadas. Esta Luz tem a habilidade de atrair sobre nós o significado oculto da passagem: “E o Espírito do Criador repousará sobre ele, e o Espírito da sabedoria e entendimento, o Espírito do conselho e fortaleza etc.”. (Isaías 11:2) E então mereceremos a redenção completa.

E também foi feito claro que é impossível para a totalidade dos Israelitas chegar a esta grande pureza exceto através do estudo da Cabalá, que é a forma mais fácil e boa o suficiente até para as pessoas com pouco entendimento. Isto está em oposição ao caminho do envolvimento apenas com os aspectos revelados da Torá. Não pode ser atingido exceto por uns poucos indivíduos privilegiados e escolhidos,   e através do esforço extensivo. Não é adequado para a maioria da população, por motivos explicados acima (veja aqui Item 22). E isto demonstra muito claramente a insignificância das perguntas quatro e cinco no começo  desta introdução.

37) A terceira pergunta, que é o temor de se desviar, aqui não há nenhum medo porque o desvio do caminho do Criador, Deus proíba, que costumava acontecer, ocorria por dois motivos: Ou as pessoas transgrediam as instruções dos sábios sobre as questões que não deveriam ser reveladas, ou eles compreenderam as palavras da Cabalá em seu significado externo, isto é, em indicações físicas e transgrediram a Mitzvá de “Não farás para ti imagem de escultura nem de alguma semelhança…” (Êxodo 20:3).

Por este motivo, houve legitimamente uma parede sólida em torno desta sabedoria até os dias de hoje. De fato, muitos tentaram e começaram a estudar esta sabedoria e não foram capazes de seguir com isto por causa de sua falta de entendimento e por causa dos nomes e terminologias físicas e mundanas. É por isto que eu coloquei muito esforço na criação do comentário “Panim Meirot ve Panim Masbirot”  (Face  Iluminada  e  Face  Acolhedora)  para  interpretar  o  grande  livro A Árvore da Vida, pelo Ari. Meu propósito foi despir, as formas físicas e colocá-las de acordo com suas leis espirituais além do espaço e tempo de forma que todo iniciante pudesse ser capaz de entender as coisas juntamente com seu significado e seu raciocínio, com argumentos muito claros e com grande simplicidade, para que fosse apenas tão compreensível como a Gemará ampliada pelo comentário  do Rashi.

38) E nós continuaremos a expor sobre a necessidade de envolver-se com a Torá e as Mitzvot Lishmá, de que eu comecei a falar. Devemos entender aqui este termo: “Torá Lishmá”, isto é, “Lishmá”. Por que a forma completa e desejada do trabalho é referida como Lishmá, enquanto a forma indesejada do trabalho é referida como Lo Lishmá? Afinal, se formos pelo significado muito simples – que uma pessoa se envolvendo com a Torá e as Mitzvot tem o dever de focar seu coração em dar prazer ao seu Criador ao invés de para seu próprio bem – então deve ser chamado e referido como “Torá Lishmá” e “Torá Lo Lishmá”, isto é, pelo bem do Céu. Então, por que é referido como Lishmá e Lo Lishmá, que significa pelo bem da Torá?

Certamente existem alguns entendimentos profundos daquilo que temos apenas discutido por causa do uso da linguagem aqui prova que Torá Lishmá – isto  é, dar prazer ao seu Criador – não é suficiente; mas, precisa ser Lishmá, que significa pelo Bem (ou Nome) da Torá. Isto precisa de uma  explicação.

39) E o problema do assunto é, que é conhecido que o nome da Torá é: Torat Chayim (Torá da Vida), conforme é dito: “Pois ela é vida para aqueles que a encontram” (Provérbios 4:22). E as Escrituras também dizem: “Não é insignificante para ti, mas é tua vida etc.” (Deuteronômio 32:47). E sendo este o caso, então o significado da Torá Lishmá é que se envolver com a Torá e as Mitzvot fornece vida e longos anos, e então a Torá é realmente como seu nome. Isto acontece, Deus proíba, para quem quer que não foque seu coração e mente nisto, que seu envolvimento com a Torá e as Mitzvot a levem ao oposto da vida e longos anos, isto é, completamente Lo Lishmá, já que seu nome é “Torá da Vida”. Entenda isto.

Estes problemas aparecem explicitamente nas palavras dos sábios (Tratado Ta’anit 7a): “Qualquer um que se envolva com a Torá Lo Lishmá, sua Torá torna-se para ele uma poção de morte (aqui, Item 17); mas qualquer que se envolva na Torá Lishmá, sua Torá torna-se para ele uma poção da vida”. De fato, suas palavras requerem clarificação para entendermos como e pelo que a Santa Torá torna-se uma “poção da morte” para ele! No mínimo, o esforço desta pessoa seria em vão e sem propósito, e ela não obteria nenhum benefício deste seu esforço e labuta, Deus proíba. Mas acrescenta ainda mais que a própria “Torá e o trabalho” inverte-se e torna-se uma “poção de morte” – este ponto é muito  espantoso.

40) E devemos primeiro entender as palavras dos nossos sábios que disseram: “Eu trabalhei e encontrei, acredite; Eu não trabalhei e encontrei, não acredite”. (Tratado Megilá 6b) Podemos levantar questionamentos sobre esta terminologia: “Eu trabalhei e encontrei”, que parecem se contradizer um ao Afinal, “trabalhar” é uma questão de trabalho e inconveniência, que é dado por um preço em troca de qualquer objeto desejado. Também, para adquirir um objeto importante, mais esforço é necessário, enquanto que para comprar um objeto de menor valor, menos esforço é necessário.

E isto é exatamente o oposto de “encontrar”, que normalmente atinge uma pessoa completamente sem antecipação e sem os pré-requisitos do trabalho, esforço, ou um preço. Se assim, por que dizemos aqui, “Eu trabalhei e encontrei?” Se trabalhar é o que está sendo falado aqui, então devemos dizer, “Eu trabalhei e adquiri” ou “Eu trabalhei e obtive”, ou algo dessa natureza, ao invés de “Eu trabalhei e encontrei”.

41) E nós aprendemos no Zohar, em relação à passagem: “…aqueles que Me buscam diligentemente Me encontrarão” (Provérbios 8:17) que foi perguntado: Onde alguém encontra o Criador? E eles responderam que o único lugar onde pode-se encontrá-Lo é na Torá. E eles comentaram semelhantemente na passagem: “Verdadeiramente, tu és um Criador Que oculta-se” (Isaías 45:15), que o Criador oculta-se em Sua Santa Torá. E as palavras dos sábios devem ser propriamente entendidas, pois semelhantemente o Criador está oculto apenas em coisas materiais e caminhos e em todas as vaidades do mundo que estão fora da Tora. Então como alguém pode dizer o oposto: que Ele oculta-se apenas na Torá?

Também, em relação a ideia geral que o Criador oculta-se de uma forma que Ele tem que ser procurado, por que Ele precisa desta ocultação? E em relação “que todos aqueles que O buscam O encontrarão”, o significado das palavras: “aqueles que Me buscam diligentemente Me encontrarão”, isto deveria ser entendido bem. Do que este “buscar” e “encontrar” se tratam? Qual é  seu propósito?

42) Saiba que o motivo para toda esta distância – porque estamos tão longe do Criador e porque estamos tão propensos a violar Sua Vontade – é tudo devido a uma causa, que se tornou a fonte de toda a dor e agonia que sofremos, e de todas as transgressões intencionais e intencionais pelas quais caímos, Deus proíba, conforme nos deparamos. Ao mesmo tempo, é obvio que removendo esta causa, nós imediatamente nos livramos de toda tristeza e toda dor, e são imediatamente premiados com adesão a Ele com todo o nosso coração, alma e poder. E deixe-me te falar que a causa original é nenhuma outra senão esta: Nosso mínimo entendimento de Sua Providência sobre Suas criaturas, pois não O entendemos propriamente.

43) Vamos assumir que o Criador interagisse com Suas criaturas através de uma Providência clara e visível. Por exemplo, todo mundo que come algo proibido (não kasher) fosse engasgar imediatamente, e todo mundo que cumprisse uma Mitzvá fosse imediatamente encontrar um prazer maravilhoso, semelhante aos prazeres mais maravilhosos deste mundo material. Neste caso, quem poderia ser tolo o suficiente para mesmo considerar degustar algo que é proibido sabendo que sua vida seria imediatamente perdida como resultado, assim como a pessoa não consideraria pular no fogo? E quem seria tolo o suficiente de deixar qualquer Mitzvá sem ser cumprida com grande velocidade, assim como não deixaria ou adiaria qualquer deleite que viesse no seu caminho e, ao invés, o aceitaria com toda a rapidez possível. Isto significa que onde temos uma Providência Revelada todas as pessoas do mundo seriam completamente tzadikim (justos).

44) Isto é uma evidência clara que perdemos nada em nosso mundo exceto por uma Providência visível, porque se tivéssemos a Providência visível, todas as pessoas do mundo seriam completamente tzadikim (justos). E elas teriam completamente aderido a Ele com absoluto amor porque isto seria uma grande honra para cada uma das pessoas ser amiga e amá-Lo com todo seu coração e alma, e aderir a Ele sempre, sem nunca perder um Mas este não é o caso: Ao invés, a recompensa de cumprir uma Mitzvá não é neste mundo. Além disso, não apenas aqueles que transgredem Sua Vontade não são punidos em frente a seus olhos, mas o Criador é muito paciente com elas.

Mais ainda, algumas vezes o oposto parece ser verdade para nós, Deus proíba. Conforme é dito: “Veja, estes são os perversos; sempre à vontade, eles aumentam em riqueza…” (Salmos 73:12) Portanto, não é que todo mundo que queira tomar o Nome pode apenas vir e pegá-lo; ao invés, somos enfrentados a cada um dos passos, Deus proíba. Conforme os sábios dizem (Vayikra Raba, 2) em relação à passagem: “Um homem em mil eu encontrei” (Eclesiastes 7:28), mil pessoas entram na sala da Torá    e um deles sai para ser um professor. Portanto, o entendimento de Sua Providência  é o motivo para todo o bem, e o mal entendido disto é o motivo para todo o mal. E verifica-se que esta é a polaridade que todos os seres humanos oscilam, entre: para o bem ou para o mal.

45) Quando examinamos de perto a obtenção Providência conforme é sentido pelos humanos, encontramos quatro tipos, onde cada tipo recebe a Divina Providência em uma forma especial. Assim, existem quatro aspectos para compreender a Providência, apesar, de fato, haverem apenas dois, que são: Ocultação da Face e Revelação da Face. Eles são divididos posteriormente em quatro porque existem dois aspectos da Providência no contexto da Ocultação da Face, isto é, Um Ocultamento e Ocultamento dentro de E existem dois aspectos da Providência no contexto da Revelação da Face: Providência de recompensa e punição, e Providência da eternidade, como será explicado posteriormente com a ajuda do Criador.

46) E aqui as Escrituras dizem: “Então Minha ira se acenderá sobre eles naquele dia, e Eu os abandonarei e ‘ocultarei Minha Face’ deles, e eles serão devorados; e muitos males e problemas virão sobre eles; e eles dirão naquele dia, ‘Não é que porque meu Criador não está dentro de mim que estes males me alcançaram?’ E Eu ‘esconderei e ocultarei’ Minha Face naquele dia por todo o mal que eles fizeram porque eles se voltaram para outros Deuses.” (Deuteronômio 31:17- 18)

E se você olhar de perto, você verá que primeiro está escrito: “Minha ira se acenderá etc.” … “e Eu ocultarei Minha Face” [vehistarti Panay], ou seja, Uma Ocultação; e então está escrito: “…e muitos males e problemas virão sobre eles etc.”

… “E Eu esconderei e ocultarei Minha face” [Haster Astir], que significa uma Dupla Ocultação. Precisamos entender o que este Dupla Ocultação  significa.

47) Primeiramente, precisamos entender o que a Face do Criador significa quando as Escrituras dizem: ‘Eu ocultarei Minha Face”. Você precisa entender que isto é semelhante à uma pessoa que vê a face do seu amigo e imediatamente o reconhece. No entanto, este não é o caso quando o vê de costas porque então não está certo em relação à identificação e pode ter dúvidas, pensando que poderia ser alguém diferente do seu amigo.

Este é também o caso com o que está aqui em nossa frente. Porque todo mundo sabe e sente que o Criador é bom e que é a natureza do bem fazer o bem, portanto quando o Criador continua a fazer o bem às Suas criaturas, que Ele criou para a generosidade, é considerado como se Sua Face estivesse exposta às Suas criaturas. E então todo mundo O conhece e está familiar com Ele, na medida em que Ele se comporta de uma forma que é apropriada ao Seu Nome e estatura, conforme foi clarificado acima em relação à visibilidade da Providência. (Estude isto bem, Itens 54-55; 97-98)

48) De fato, quando Ele se comporta com Suas criaturas de forma oposta a mencionada acima – quando recebem dor e sofrimento Neste Mundo – é equivalente às Costas do Criador porque Sua Face, isto é, o grau do seu bem completo, está completamente oculto deles porque este tipo de comportamento não se encaixa com Seu Isto é semelhante a ver o seu amigo de costas e ter dúvidas em relação a sua identidade pensando que ele pode ser outra pessoa.

E este é o significado da passagem: “Então Minha ira se acenderá sobre eles… e Eu ocultarei Minha face deles”. (Deuteronômio 31:17) Quando o Criador está durante a ira e as pessoas são afligidas com problemas e dores, verifica-se que o Criador ocultou Sua Face, Sua absoluta benevolência, e apenas Suas Costas são percebidas. Neste estágio, grande fortalecimento em nossa confiança nEle é necessário para que tenhamos cuidado com pensamentos de transgressão já que é difícil conhecê-Lo de costas. E isto é chamado Uma Ocultação.

49) De fato, quando problema e dor são aumentados para um grau excepcional, Deus proíba, isto causa uma dupla ocultação, que é chamada nos livros, Ocultação dentro da Ocultação, que significa que mesmo Suas Costas não podem mais ser vistas, Deus proíba. Isto significa que as pessoas não acreditam que o Criador está irado com elas e estão lhes punindo, mas, Deus proíba, elas culpam tudo no acaso e na natureza, e através disto chegam a negação herética da Sua Providência de recompensa e punição. E isto é o que se entende por “e Eu esconderei e ocultarei Minha Face [Haster Astir]… porque eles se voltaram para outros deuses”. Em outras palavras, se chegou à heresia e, Deus proíba, voltaram-se à  idolatria.

50) Este não foi o caso anteriormente, onde as Escrituras falam sobre apenas uma ocultação e terminam dizendo: “Não é que porque meu Criador não está dentro de mim que estes males me alcançaram?” (Deuteronômio 31:17) Isto significa que as pessoas ainda acreditam na Providência de recompensa e punição, e elas dizem que elas merecem este problema e dor porque elas não aderiram ao Criador, conforme é dito: “É porque meu Criador não está dentro de mim que estes maus problemas aconteceram a mim”. Aqui é considerado que eles ainda veem o Criador, mas apenas de Suas É por isto que é chamado Uma Ocultação: isto é, apenas a Ocultação da Face.

51) Isto explica os dois aspectos da Providência Oculta que as criaturas criadas percebem: isto é, Uma Ocultação e Ocultação dentro da Ocultação. Uma Ocultação significa apenas a Ocultação da Face, mas as Costas ainda são vistas. Isto significa que elas acreditam que o Criador as fez sofrer como punição, e mesmo que elas sejam levadas a transgressão porque é mais difícil sempre reconhecer o Criador de Suas Costas, conforme explicamos acima elas são referidas como um “perverso incompleto”. Isto significa que suas transgressões são semelhantes a transgressões não intencionais porque elas fizeram elas por causa de seu grande grau de sofrimento. Mas em geral, ainda acreditam em recompensa e punição, conforme discutimos.

52) E Ocultação dentro de Ocultação significa que mesmo as Costas do Criador estão ocultas delas porque elas não acreditam em recompensa e punição, conforme mencionado acima. Neste caso, suas transgressões são consideradas como sendo ações intencionais e elas são chamadas “completamente más” porque elas são hereges que dizem que o Criador não supervisiona sobre Suas criaturas. E assim elas se voltam à idolatria, conforme está escrito: “… eles se voltaram para outros deuses”, Deus proíba.

53) Devemos saber que quando se trata do trabalho que se coloca para realizar a Torá e as Mitzvot através do livre arbítrio que é através dos dois aspectos da Providência Oculta, conforme explicado anteriormente. E sobre tal tempo, Ben Ha- Ha diz, “A recompensa é de acordo com o esforço”. (Tratado Avot 5:22) Isto é porque Sua Providência não é Revelada e é impossível vê-Lo exceto através da Ocultação da Face, isto é, apenas pelas Costas. Isto é semelhante a uma pessoa que vê seu amigo pelas costas e pode duvidar e pensar que é outra pessoa.

Assim, desta forma, o livre arbítrio entre cumprir a Vontade do Criador ou, Deus proíba, transgredi-La, está sempre nas mãos do indivíduo porque o problema   e a dor que ele experimenta o faz duvidar a realidade da supervisão do Criador sobre Suas criaturas, como explicado acima. Se esta toma a primeira forma, que é transgressão não intencional, ou, Deus proíba, a segunda forma, que é intencional.

Se é uma ou a outra, ela está em grande tristeza e passa por muito trabalho e esforço. E sobre tal tempo, as Escrituras dizem: “O que estiver em sua capacidade de fazer, faça com todo teu poder etc.” (Eclesiastes 9:10). Isto é porque a pessoa não merecerá a revelação da Face, que significa a completa medida de Sua bondade, antes que ela faça um esforço e faça qualquer coisa e tudo que estiver dentro de seu poder a fazer, e a recompensa de acordo com o esforço.

54) E, de fato, depois de o Criador ver que esta pessoa completou seu trabalho e terminou tudo que ela precisava fazer com o poder do seu livre arbítrio e um aumento da força em sua confiança no Criador, então o Criador a ajuda e ela merece atingir a Providência visível, isto é, a Revelação da Face. E então ela obtém completo arrependimento (teshuvá), que significa que ela “retorna” (shav) e novamente adere ao Criador com todo seu coração, alma e poder. É como se ela fosse puxada ao lado de estar ciente da Providência visível.

55) A consciência e arrependimento mencionados acima vem para uma pessoa em dois estágios. O primeiro é uma percepção absoluta da Providência de recompensa e punição. Além de perceber muito claramente que a recompensa de cada Mitzvá é para o Mundo Vindouro, ela é também presenteada com um deleite maravilhoso imediatamente neste mundo durante o cumprimento da Mitzvá. E, ainda, além de receber a punição amarga, que será atraída depois de sua morte por cada transgressão, ela também obterá a habilidade de sentir o gosto amargo de cada transgressão mesmo enquanto ainda está viva.

E claro, uma pessoa que merece a Providência visível está absolutamente confiante em si mesma que nunca irá novamente cometer qualquer pecado, assim como uma pessoa que certamente não cortaria seus próprios membros e causaria a   si mesma tremenda agonia. E ela também se torna muito confiante em si mesma que ela não deixará qualquer Mitzvá sem cumprir imediatamente assim que surgir em  seu caminho, assim como uma pessoa que certamente não negligenciaria qualquer prazer ou qualquer grande lucro que viria em seu caminho neste mundo.

56) Através disto, você entenderá o que nossos sábios disseram: “Como sabemos que o arrependimento (teshuvá) foi feito?” – “Quando Aquele que conhece todos os mistérios testemunha que não retornará a sua tolice novamente”. (De acordo com os Salmos, 85:9) Isto parece ser palavras surpreendentes pois quem pode ascender aos Céus para ouvir o testemunho do Criador, e perante quem o Criador dá este testemunho? Não é suficiente que o Próprio Criador saiba que esta pessoa se arrependeu verdadeiramente com todo seu coração e não pecará novamente?

E do que foi explicado, verifica-se que isto é muito simples. Na verdade, antes de atingir a consciência da Providência da recompensa e punição que foi comentada, ou seja, a Revelação da Face, conforme mencionado acima, nunca se tem certeza que não pecará mais. E esta Revelação da Face que vem como salvação do Criador é chamada “testemunho”, pois esta é a salvação do Próprio Criador que o levou a percepção da recompensa e punição, que garante que a vontade da pessoa nunca peque novamente, conforme explicado acima.

Isto é equivalente ao Criador testificar para ela. E isto é o que se entende por: “Como sabemos que o arrependimento foi feito?” ou exposto diferentemente: “Como alguém se torna certo que atingiu completo arrependimento?” Por isso um sinal muito claro foi dado, ou seja, “Quando Aquele que conhece todos os mistérios testemunha que ela não retornará a esta tolice novamente”, ou seja, que ela merecerá esta Revelação da Face, e então a salvação do Criador testificará “que ela não retornará a esta tolice novamente”, conforme explicamos.

57) Este dito arrependimento é chamado Arrependimento por Temor. Isto é porque retorna ao Criador com todo seu coração e alma, a extensão que Aquele que conhece todos os mistérios testemunha em seu favor, que ela não retornará a esta tolice novamente, conforme explicado anteriormente. Ao mesmo tempo, no entanto, toda esta certeza que ela não pecará novamente é por causa de sua consciência e apreensão da punição terrível e das terríveis torturas que são atraídas pelas suas transgressões. É por isto que ela está tão confiante que não pecará novamente, conforme mencionado anteriormente, da mesma forma que está certa que não fará para si mesma torturas terríveis, embora eventualmente, este arrependimento e esta confiança sejam apenas um resultado do temor da punição causada pela transgressão. Isto significa que seu arrependimento é apenas por causa do temor da punição, e por este motivo, está se referindo como Arrependimento por Temor.

58) Isto explica as palavras dos sábios “Uma pessoa que faz Arrependimento por Temor merece que seus atos de malícia (transgressões intencionais) tornem-se erros não intencionais” (Tratado Yoma 86b). E precisamos entender como isto é feito. O que foi dito acima te ajudará a entender isto Explicou-se anteriormente (no Item 52, começando com as palavras “E a Ocultação…”), que as transgressões intencionais que alguém faz vem sobre ela do aspecto de receber a Providência da Dupla Ocultação, que é Ocultação dentro da Ocultação. Isto significa que ela não acredita na Providência de recompensa e punição, Deus proíba.

Mas no aspecto de Uma Ocultação, que significa que ela acredita na Providência de recompensa e punição, mas devido à abundância do sofrimento, algumas vezes ela pode ser levada por pensamentos pecaminosos. Porque apesar de ela acreditar que recebe este sofrimento como punição, ela é ainda análoga a alguém que vê seu amigo de costas e pode perder a confiança e pensar que talvez seja outra pessoa (como mencionado acima; estude isto bem). Então seus pecados são apenas erros não intencionais porque, em geral, ela acredita em recompensa e punição.

59) Portanto, após ela chegar neste Arrependimento por Temor, isto é, a uma clara percepção da Providência de recompensa e punição ao ponto que está certa que não pecará, então o aspecto da Ocultação dentro da Ocultação é completamente corrigido para ela. Porque agora ela vê claramente que há recompensa e punição e é claro para ela que a abundância do sofrimento que ela sentiu a qualquer momento do passado foi uma punição vinda diretamente da Providência do Criador pelos pecados que ela cometeu. Assim em retrospecto, é claro para ela que cometeu, então, um erro amargo.

Portanto, ela arranca todos aqueles atos que ela fez intencionalmente de malícia, ainda que não completamente, pois eles tornam-se erros não intencionais. Em outras palavras, isto é semelhante às transgressões que ela cometeu que estavam na categoria de Uma Ocultação; quando ela falhou devido à confusão que se abateu sobre ela causada pela abundância de seu sofrimento que a deixavam fora de si. E estes são considerados erros não intencionais, conforme mencionado acima.

60) No entanto, a primeira Ocultação da Face, que foi seu quadro antes, não era correta para este arrependimento; isto é apenas deste ponto em diante – depois que ela mereceu a Revelação da Face, conforme mencionado acima. Mas em termos do passado, antes de ela obter o arrependimento, a Ocultação da Face e todas as suas transgressões não intencionais continuam como se estivem sem nenhuma correção ou mudança porque mesmo naquele momento ela acreditava que o problema e sofrimento vinham a ela por causa da punição, conforme é dito (veja aqui, Item 46): “Não foi porque o meu Criador não está dentro de mim que estes males me alcançaram?” Conforme mencionado acima. Estude isto bem.

61) No entanto, ela ainda não é chamada “justo completo”. Apenas aquela que merece a Revelação da Face, ou seja, a completa quantidade da bondade do Criador como O convém (conforme mencionado acima, Item 55, começando com as palavras “A consciência e arrependimento…”) é chamada de tzadik (justa) porque justifica a Providência como ela realmente é: isto é, Ele trata Suas criaturas com bondade e perfeição absolutas, de tal forma que Ele faz o bem para os bons e para os perversos. Aquela que obteve a Revelação da Face deste ponto em diante é merecedora de ser chamada tzadik (justa).

Contudo, porque ela corrigiu apenas o aspecto da Ocultação dentro da Ocultação, Uma Ocultação ainda não foi corrigida exceto deste ponto em diante. Como se vê, que naquele tempo, antes de ela adquirir arrependimento, ela ainda não é merecedora de ser chamada “justa” porque a Ocultação da Face ainda continua como estava. E por causa disto, ela é chamada de “justo incompleto”, ou seja, que  ela ainda tem que corrigir seu passado.

62) E é também chamada uma “medíocre” porque depois que ela adquiriu de qualquer forma Arrependimento por Temor, ela então fez o ajuste para merecer Arrependimento por Amor assim como por seu completo envolvimento com a Torá e com as boas ações. E então ela mereceria o nível de “justo completo”. Como resultado ela está agora no meio entre amor e temor, que é o porquê é chamada de uma “medíocre”. Este não foi o caso anteriormente, quando nem mesmo se ajustou para se preparar para o Arrependimento por Amor. (Tratado  Yoma)

63) E por este meio explicamos bem o primeiro estágio da percepção da Revelação da Face, isto é, compreender e sentir a Providência da Recompensa e Punição como a forma que Aquele que conhece todos os mistérios testemunha no comportamento que ela não voltará mais a sua tolice, como mencionado acima (Item 56). Isto é chamado Arrependimento por Temor, onde as ações maliciosas são consideradas como erros. Isto é chamado de um “justo incompleto” e é também chamado um “medíocre”, conforme mencionamos anteriormente.

64) E agora clarificaremos o segundo estágio da percepção da Revelação da Face, que é a percepção completa, verdadeira e Eterna Providência (Hashgacha). Isto significa que o Criador supervisiona (mashgiach) Suas criaturas no sentido que Ele sendo bom assim como o provedor da bondade para o mal e o bom. Portanto, agora ela é chamada um “justo completo”, e seu arrependimento é por amor. Então agora suas ações maliciosas tornam-se virtuosas. Assim explicamos os quatro aspectos do entendimento da Providência, que são comuns entre as criaturas. E vimos que os primeiros três aspectos – Dupla Ocultação, Uma Ocultação, e Percepção da Providência Sobre Recompensa e Punição – são preparações através das quais se obtém o quarto aspecto, que é a percepção da verdadeira e eterna Providência, que será clarificada posteriormente, com a ajuda do Criador.

65) E nós devemos entender porque o terceiro grau, que é a Percepção da Providência Sobre Recompensa e Punição, não é suficiente para a pessoa. Assim como dissemos, é um em que Aquele que conhece todos os mistérios testemunha no comportamento que ela não pecará novamente, assim, por que ela ainda é chamada de uma “medíocre” ou um “justo incompleto”? Já que este nome prova que seu trabalho não é ainda desejado aos olhos do Criador, e ainda há alguma falta e algum defeito na sua Torá e seu trabalho.

66) Vamos começar a clarificar a questão que alguns comentaristas levantaram em relação à Mitzvá de amar o Criador. Como pode a Santa Torá nos impor a realizar uma Mitzvá que nós somos completamente incapazes de cumprir? É completamente possível para um ser humano forçar-se a se comprometer-se em fazer qualquer coisa – mas quando se trata de amor, nenhuma coerção e nenhuma coação neste mundo pode ajudar. E eles explicam que uma vez que a pessoa cumpre todas as 612 Mitzvot de acordo com a Halachá, então o amor pelo Criador é automaticamente atraído sobre ela, e portanto, considera-se estar dentro do seu alcance cumprir porque ela é capaz de se forçar e comprometer a realizar as 612 Mitzvot e cumpri-las propriamente. E assim ela também obtém o amor pelo Criador.

67) De fato, estas palavras precisam de uma explicação mais compreensiva pois o amor derradeiro pelo Criador não deve chegar até nós como uma Mitzvá, já que isto não constitui nenhuma ação ou comprometimento em nossa parte. Ao contrário, vem por si só depois de cumprirmos as 612 Mitzvot. Mas se este é o caso, o mandamento de realizar as 612 Mitzvot deveria ser suficiente para nós, então porque a Mitzvá do amor foi escrita?

68) Para entender isto, primeiro precisamos obter um verdadeiro entendimento da essência do amor pelo Criador. E deve-se saber que todas as tendências e midot (atributos) inerentes no ser humano pelo bem de interagir com seus amigos são as mesmíssimas tendências e atributos naturais que são necessárias para o trabalho para o Criador. De fato, eles foram criados e são inerentes nos humanos para começar com o motivo para sua função final, que é o destino e o propósito final de todos os humanos. Isto está de acordo com o significado secreto da passagem: “…que cogita meios, para que não fique banido dele o seu desterrado” (II Samuel 14:14), pois Ele precisa de todos eles para tornar-se completo de forma a receber a abundância e cumprir o desejo do Criador.

E isto é o que se entende pela passagem: “Todos que são chamados pelo Meu Nome, que Eu criei para Minha glória, que Eu formei e fiz” (Isaías 43:7), e também: “O Criador fez tudo para Seu bem”. (Provérbios 16:4) Então, por enquanto, o mundo inteiro foi preparado para os seres humanos, pois todas estas tendências naturais e atributos que estão nele evoluirão e se aperfeiçoarão por sua interação com as criaturas, de forma que elas serão dignas de seu propósito derradeiro. E isto é o que nossos sábios disseram: “Deve-se dizer, ‘O mundo foi criado para mim’”, pois todas as criaturas do mundo são necessárias para cada indivíduo, pois elas são aquelas que desenvolvem e preparam as tendências e atributos de cada indivíduo, até que elas estejam aptas e preparadas para se tornar instrumentos a serviço do Seu trabalho.

69) Este sendo o caso, precisamos entender a essência do amor ao Criador pelos atributos do amor que alguém aplica a seu amigo. Isto é porque o amor pelo Criador, necessariamente, flui através destes atributos também porque eles foram incorporados nos humanos desde o princípio somente pelo Nome do Criador conforme explicado acima. E quando olhamos aos atributos de amor entre uma pessoa e seu amigo, encontramos nela quatro níveis de amor, um acima do outro; isto é, dois que são quatro.

70) O primeiro é o Amor que Depende de Algo “Amor Condicional”, que significa que por causa da abundância da bondade, prazer e benefício que alguém recebeu do seu amigo, sua alma se apega a ele com um amor incrível. Neste, existem dois níveis. O primeiro é que antes deles aprenderem a conhecer e amar um ao outro, eles causaram algum dano um ao outro, mas eles não querem se lembrar disto porque “o amor cobre todas as falhas” (Provérbios 10:12). E o segundo nível é que eles sempre têm feito apenas o bem um ao outro e trazem benefício um ao outro, e nenhum vestígio de dano ou má ação já ocorreu entre  eles.

72) O segundo é o Amor que Não Depende de Algo “Amor Incondicional”, ou seja, que se reconheceu que a excelente qualidade do seu amigo é incrível e vai além de qualquer coisa que possa ser aproximada ou imaginada, e por isto, sua alma se adere a ele indefinidamente e com infinito amor abundante. E aqui também existem dois níveis. Um nível é antes de conhecer todos os hábitos e atividades do seu amigo com as outras pessoas. Este é considerado um amor não absoluto porque seu amigo pode ter algumas interações com outros, que visto superficialmente parece que seu descuido faz-lhes mal e dano, de tal forma que se a pessoa amada vê-los, então a excelência do seu amigo poderia ser manchada, e o amor entre eles seria arruinado. No entanto, se ele não visse estas atividades, assim, seu amor é completo, grande, e sumamente maravilhoso.

73) O segundo nível no Amor que Não Depende de Algo é o quarto nível do amor em geral. Ele também vem do reconhecimento da qualidade elevada do seu amigo, conforme declarado acima (veja aqui, Item 72), exceto que agora acrescentado a isto está o fato que ela sabe tudo sobre as atividades e interações com todo mundo; nenhuma está E ela investigou e encontrou que não apenas elas não têm nenhum defeito nelas, mas sua bondade supera elas sem fim, e vai de modo muito além de tudo o que é aproximado e imaginado, e agora é um “amor eterno e absoluto”.

74) Estes quatro atributos do amor que ocorrem entre uma pessoa e seu amigo também ocorrem entre uma pessoa e o Criador. Não apenas isto, mas eles aparecem aqui em estágios, no amor pelo Criador, pela forma de causa e efeito. É impossível atingir qualquer um deles sem ter-se atingido primeiro o atributo do Amor que Depende de Algo “Amor condicional”. Uma vez que ela o obteve completamente, então seu primeiro nível torna-se a causa para ela obter o segundo, e depois que ela obtenha o segundo e atinja seu final, então torna-se a causa para ela obter o terceiro nível, e então o terceiro a leva para o quarto, o amor eterno.

75) Isto levanta uma questão: Como pode ser imaginado que para uma pessoa merecer o primeiro grau de amor ao Criador, que é o primeiro atributo do Amor que Depende de Algo, referindo-se ao amor que vem pela grande bondade recebida do seu amado quando sabemos que “a recompensa não é recebida neste mundo?” (veja Item 44)

E ainda mais assim, quando de acordo com o explicado, todo mundo tem que passar através dos primeiros dois aspectos da Providência em modo de Ocultação da Face, que significa que Sua Face, isto é, Sua bondade – já que é a natureza do bom fazer o bem – foi oculta naquele momento, conforme mencionado acima (Item 47 começando com as palavras “Primeiramente…”) estude isto bem. E   é por isto que recebemos tristeza e sofrimento (veja lá).

De fato, foi explicado que todo o envolvimento na Torá e no trabalho através do livre arbítrio ocorre principalmente durante o tempo da Ocultação da Face (veja aqui, Itens 47, 48). Sendo este o caso, como podemos imaginar que alguém pode obter o segundo nível do Amor que Depende de Algo – ou seja, que desde o início até este mesmo dia, a pessoa amada só o fez favores abundantes e maravilhosos, e não o causou qualquer rastro de mal de qualquer tipo – sem dizer nada sobre obter o terceiro e quatro graus?

76) Temos, de fato, mergulhado em águas muito profundas, e pelo menos devemos voltar com uma pérola preciosa. Portanto, interpretaremos as palavras dos nossos sábios: “Nossos sábios estavam saindo da casa do Rav Ami e alguns disseram ao Rav Chanina – eles disseram a ele como segue: ‘Definitivamente, verás teu mundo em tua vida! E estás destinado a vida no Mundo Vindouro etc…. e teus passos se apressarão a ouvir as palavras de Atik Yomin (Antigo dos Dias)’”. (Tratado Berachot 17a) Fim da citação.

E isto exige um entendimento: Por que eles não disseram, “Receberás teu mundo em tua vida”, mas ao invés, “Verás?” E se eles vieram abençoar, eles deveriam ter abençoado completamente, isto é, que ela poderia atingir e receber seu mundo em sua vida. E devemos também entender porque uma pessoa deve ver o Mundo Vindouro enquanto ainda viva, sendo satisfeita com a vida que ela obterá no Mundo Vindouro. E mais: Por que eles mencionam esta benção em primeiro lugar?

77) Primeiro de tudo, deve-se entender o que esta “visão” do Mundo Vindouro na vida de alguém realmente significa, porque certamente nada espiritual pode ser visto através dos olhos físicos. Além disso, não é o costume do Criador mudar as leis que foram estabelecidas em Gênesis. Isto é porque todas as leis ordenadas estabelecidas no princípio da Criação foram organizadas pelo Criador em uma forma específica, porque elas são as mais úteis e bem sucedidas pelo propósito desejado delas: que através delas, o homem pudesse ser capaz de aderir a Ele, conforme explicado anteriormente, como dizem as Escrituras: “O Criador fez tudo para Seu bem” (Provérbios 17:4). Este sendo o caso, precisamos entender como uma pessoa verá o próximo mundo enquanto ainda viva.

78) Deixe-me dizer-lhe que esta “visão” vem para a pessoa através da “abertura dos olhos” para a Santa Torá, conforme está escrito: “Abra meus olhos, para que eu veja as maravilhas da Tua Torá” (Salmos 119:18). E é por isso que é feito a alma jurar antes de entrar em seu corpo (Tratado Nidá, 30b) que mesmo que o mundo inteiro te falar que você é justo e virtuoso, pareça perverso “em teus olhos”. Enfatizando “em teus olhos” porque enquanto você não tiver obtido a “abertura dos olhos” para a Torá, considere-se perverso. E não se iluda pela grande reputação que obteve por ser Pois isto torna claro o porquê de “verás teu mundo com teus próprios olhos” estar no início das bênçãos, pois antes disto, não se mereceu sequer o grau de ser um “justo incompleto”.

79) De fato, isto deve ser entendido propriamente: Se alguém verdadeiramente sabe que já seguiu e aprendeu toda a Torá; e se o mundo todo, de algum modo, concorda com ele naquilo, por que tudo isto não seria suficiente? Ao invés, ela está jurando a continuamente se considerar como “um perverso”. E porque está perdendo a maravilhosa fase da “abertura dos olhos” para a Torá, permitindo- lhe ver seu mundo enquanto ainda vive, você considera-o perverso – isto é muito peculiar!

80) As quatro formas que as pessoas concebem da Providência foram explicadas, e estas incluem duas da categoria da Ocultação da Face e duas da categoria da Revelação da Face. E foi explicado que o sentido da Ocultação da Face das criaturas com grande intenção foi dar as pessoas espaço para trabalhar e se envolver em Seu trabalho – através da Torá e as Mitzvot – pelo livre arbítrio. Isto é porque um grande prazer espiritual está sendo elevado até o Criador juntamente com seus envolvimentos com Sua Torá e Suas Mitzvot, de fato mais prazeroso do que com Seus anjos no Alto, “que não tem livre arbítrio” que são, ao invés, obrigados a realizar sua missão, como sabemos. Há outros motivos significativos para isto, mas este não é o lugar para considerar em sua extensão.

81) E apesar de todos os elogios sobre a categoria da Ocultação da Face, isto ainda não é considerado perfeição, mas apenas uma transição. Isto porque é o lugar do qual a totalidade da perfeição que é aspirada é obtida. Isto significa que toda a recompensa que foi preparada para o homem não é obtida apenas através do seu esforço em estudar a Torá e realizar boas ações durante o tempo da Ocultação da Face, isto é, fazer estas coisas pelo livre arbítrio. Este período é quando se experimenta agonia porque está se tornando mais fixado em sua confiança no Criador e em realizar Sua Vontade. Toda a recompensa que obtém está em proporção à tristeza que experimenta em viver de acordo com a Torá e as Mitzvot. Nas palavras do Ben Ha-Ha: “A recompensa está em proporção direta ao esforço”.

82) E, portanto, toda pessoa precisa passar por esta transição começando com o tempo da Ocultação da Face, e quando isto é feito, recebe a Providência visível, isto é, a Revelação da Face, conforme mencionado acima. Mas antes de obter a Revelação da Face, mesmo que se veja as Costas, é impossível não pecar de vez em quando, como mencionado acima (Item 53, começando com as palavras “Devemos…;” estude isto bem).

Não apenas a pessoa é incapaz de cumprir às 613 Mitzvot porque o amor não vem através da coerção e força, mas não é nem mesmo completa em relação às 612 Mitzvot porque seu desejo “por temor” não está corretamente definido, conforme mencionamos anteriormente. Este é o segredo do valor numérico (Guematria) da palavra “Torá”, que é 611 (toda Guematria é o segredo das Costas), de forma que não pode nem mesmo cumprir 612 Mitzvot. E este é o segredo de “pois não deve lutar [Heb. ב”ירי] para sempre” (Salmos 103:9), porque no final, é obrigada a receber a Revelação da Face, como mencionado.

83) O primeiro grau da Revelação da Face, que é a percepção da Providência de recompensa e punição em completa clareza, não vem para a pessoa a menos que seja através da salvação, quando ela é, então, privilegiada de entendimento maravilhoso com a “abertura dos olhos” para a Santa Torá. E torna-se como uma fonte que sempre flui, de acordo com o Rav Meir (Tratado Avot 6a). E através de cada Mitzvá da Santa Torá que foi realizada pelo trabalho e pelo seu próprio livre arbítrio, merece ver a devida recompensa que espera por ela no Mundo Vindouro. Assim como com a grande perda que vem com a transgressão.

84) E embora a recompensa não a atingiu ainda torna-se “a recompensa da Mitzvá não se aplica neste mundo”, ainda esta percepção muito clara é suficiente para ela daqui em diante, para sentir o grande deleite de cumprir cada Mitzvá porque “o que é devido a ser recolhido pode ser considerado como já recebido”. Isto é como um mercante que fez um negócio que rendeu-lhe uma grande soma de dinheiro. Embora o dinheiro esteja destinado a alcançá-lo depois de um longo tempo, todavia, se ele está certo sem nenhuma sombra de dúvida que o lucro o alcançará no tempo, ele fica, então, tão feliz como se ele tivesse recebido imediatamente.

85) Claro, tal Providência visível indica que de agora em diante, se aderirá à Torá e às Mitzvot com todo o seu coração, alma e ser, e também que irá renunciar e fugir das transgressões como se fugisse do fogo. E embora ela ainda não seja um ‘justo completo’, como mencionado acima, pois ainda não mereceu Arrependimento Por Amor, ainda assim sua grande adesão à Torá e as boas ações o ajudarão gradualmente a também merecer a Revelação da Face. E então poderá cumprir todas as 613 Mitzvot completamente e tornar-se um “justo completo”.

86) E agora a questão que fizemos em relação ao juramento – que mesmo se o mundo inteiro te falar que você é justo, você deve se considerar como perverso – que a alma fez antes de vir a este muito ficou claro para nós. (Tratado Nidá 30b, veja também aqui, Item 78). Perguntamos porque, se o mundo inteiro concorda que ela é justa, ela é obrigada a se considerar como perversa, o mundo inteiro não seria confiável? E devemos perguntar ainda mais – em relação à frase: “mesmo se o mundo inteiro disser ” – que o testemunho do mundo inteiro tem a ver com este assunto, já que a pessoa se conhece muito melhor que o mundo inteiro. Assim poderia ter feito ela jurar que “mesmo se você conhece em si mesma que você é justa etc.”.

E especialmente difícil é que na Gemará explicitamente Raba diz: “Uma pessoa deve se conhecer se ela é completamente justa ou não”. (Tratado Berachot 61b) Fim da citação. Isto significa que há uma obrigação e uma realidade prática em verdadeiramente tornar-se um “justo completo”. Além disso, se é obrigada a investigar esta verdade e informar-se sobre ela. E se este é o caso, por que a alma é feita jurar que ela sempre se considerará “em seus próprios olhos” como perversa e, portanto, nunca saberia por si mesma a verdade, depois de nossos sábios fazerem uma demanda oposta, como explicado?

87) De fato, estas são palavras muito precisas. Certamente a própria pessoa, enquanto ela ainda não mereceu esta “abertura dos olhos” para a Torá pela maravilhosa percepção suficientemente para ela obter a percepção completa do entendimento de recompensa e punição, não seria capaz de conter de si mesma como um justo. Isto porque ela ainda precisa sentir que está faltando duas das Mitzvot mais inclusivas da Torá, que são Temor e Amor.

Mesmo atingindo o temor perfeitamente – no mesmo sentido que Aquele que conhece todos os mistérios poderia ser capaz de testemunhar em seu nome, garantindo que ela não retornaria a sua tolice por causa de seu profundo temor da punição e a perda causada pela transgressão, como mencionado anteriormente – é algo totalmente difícil para alguém imaginar antes de ter atingido um entendimento completo, claro e absoluto em relação à Providência de recompensa e punição. Isto significa obter o primeiro estágio da Revelação da Face, onde se atinge pela “abertura dos olhos” para a Torá, como mencionado anteriormente. E é desnecessário dizer em relação ao amor, que está completamente além da habilidade porque depende  do Entendimento do Coração, e nenhuma quantidade de trabalho duro ou coerção a ajudariam lá.

88) Consequentemente, o texto do juramento é “mesmo se o mundo inteiro te disser que você é justo (tzadik) etc.”. Isto é porque estas duas Mitzvot, Amor e Temor, são dadas para cada pessoa, e ninguém entre todos os seres humanos, exceto a pessoa, pode reconhecê-la e conhecê-la. Por este motivo, quando as pessoas a veem como tendo completado em relação as 611 Mitzvot, elas imediatamente dizem que é muito provável que ela adquiriu as Mitzvot de amor e temor também. Mas porque a natureza do ser humano é sempre acreditar no mundo, ela é muito propensa a cometer um erro grave, mesmo antes de vir a este mundo – e isto pode ter algum benefício para nós. Embora, na medida que a própria pessoa, ela é obrigada a procurar e encontrar dentro de sua própria alma se ela é completamente justa, conforme mencionado acima (Item 86).

89) Nós também clarificamos a questão que foi levantada acima em relação ao mérito do amor. Perguntamos como poderíamos até mesmo obter o primeiro grau de amor enquanto que, ao mesmo tempo, “a recompensa da Mitzvá não se aplica a este mundo.” (Itens 44, 75, 84; estude isto bem). E agora está muito claro que não se precisa realmente receber a recompensa por ter cumprido a Mitzvá em sua vida, que é o porquê fizeram-no mais preciso: “Verás” teu mundo em tua vida, mas o teu fim com ela no Mundo Vindouro (Itens 76-77). Isto indica que a recompensa por cumprir as Mitzvot não se aplica a este mundo, mas, ao invés, ao Mundo Vindouro.

Certamente, para ver, conhecer, e sentir a recompensa que a pessoa está destinada a ter no futuro no Mundo Vindouro, ela tem que conhecer isto verdadeiramente e com completa clareza enquanto ainda é viva. Através de seu entendimento maravilhoso da Torá, como mencionado acima. É então que ela merece, pelo menos, o grau do Amor que Depende de Algo “Amor condicional”, que é o primeiro grau ao sair da “Ocultação da Face” e vir para a Revelação da Face. Isto é essencial para ela propriamente cumprir a Torá e as Mitzvot, de tal forma que “Aquele que conhece todos os mistérios testemunhará em seu favor, garantindo que ela não retornará a sua tolice”, conforme discutido acima (Item 56 começando com as palavras: “Do que foi explicado…”). Estude isto bem.

90) E, doravante, por causa do seu esforço em observar a Torá e as Mitzvot pelo Amor Que Depende de Algo, que vem do conhecimento e a recompensa que pode esperar no Mundo Vindouro do aspecto de “o que é devido ser recolhido pode ser considerado como já recebido”, como mencionado acima (Item 84, começando com as palavras: E embora…), ela então vai e merece o segundo grau da Revelação da Face – o aspecto da Providência no mundo que vem da Sua Eternidade e Sua Verdade. Em outras palavras, Ele é bom e benevolente às más assim como às boas, assim a pessoa obtém Amor que Não Depende de Algo “Amor incondicional”, quando suas ações maliciosas são transformadas em méritos (veja Itens 53-58). E daí em diante, ela é chamada um “justo completo” porque ela pode cumprir a Torá e as Mitzvot com Amor e Temor e assim chamada “completa” porque ela obteve todas as 613 Mitzvot em sua completude.

91) Temos assim resolvido nossas questões anteriores (Itens 55-56) em relação à pessoa que merece o terceiro grau da Providência, ou seja, a Providência sobre recompensa e punição, porque Aquele que conhece todos os mistérios já testemunhou o comportamento, garantindo que ela não retornará a sua tolice novamente, ainda que ela ainda seja chamada como “justo incompleto”; veja lá. E agora é bem sabido que ela ainda está faltando a última Mitzvá, que é a Mitzvá do amor, conforme explicado. E certamente não está completa porque ainda, necessariamente, precisa completar o número de 613 Mitzvot, que por sua vez são os primeiros passos acima do limite em direção à perfeição.

92) E em tudo que foi dito as questões específicas colocadas por eles tornaram-se muito claras para nós. Pois eles perguntaram: Como pode a Torá nos ordenar a amar, enquanto esta Mitzvá não está em nossas mãos para nos envolvermos de qualquer forma, ou até mesmo tocar de qualquer forma? Estude isto E agora, entenderemos e veremos que isto é o que nossos sábios nos alertaram: “Trabalhei e não encontrei, não acredite.” (Tratado Megilá, 6b) E também: “uma pessoa deve sempre se envolver com Torá e Mitzvot Lo Lishmá porque de Lo Lishmá ela chegará a Lishmá.” (Tratado Pesachim 50 e também veja aqui no Item 17) E é com referência a este assunto que o verso declara: “Aqueles que Me buscam diligentemente Me encontrarão” (Provérbios 8:17 e também aqui, Item 41).

93) E estas são as palavras dos sábios (Tratado Megilá, 6b): “Rav Yitzchak disse: se uma pessoa te falar, trabalhei e não encontrei, não acredite; não trabalhei mas encontrei, não acredite; trabalhei e encontrei, Estas palavras referem- se ao envolvimento nos estudos da Torá, mas em negociações, é alcançado através  da ajuda dos Céus”. E nós perguntamos (veja acima, Item 40, começando com as palavras: E devemos primeiro entender…) sobre o que é dito – “Trabalhei e encontrei, acredite” – pois a linguagem parece contradizer-se a si mesma. Afinal “trabalhar” está relacionado com adquirir propriedade, enquanto “encontrar” está relacionado com algo que alguém recebe não intencionalmente e sem nenhum esforço qualquer. Assim o que deveria ter sido dito é: “Trabalhei e obtive a posse”. Veja lá (Item 40).

Contudo, saiba que o termo “encontrar” que é mencionado lá refere-se às palavras da passagem: “Aqueles que Me buscam diligentemente Me encontrarão” (Provérbios 8:17). Isto refere-se à presença da Face do Criador, conforme aprendemos no Zohar que não se pode encontrá-Lo exceto na Torá. Isto significa que ao trabalhar na Torá, finalmente merece encontrar a Revelação da Face do Criador. (veja Item 41)

Portanto, os sábios foram muito precisos quando eles disseram, “Trabalhei e encontrei, acredite”. Porque o “trabalhar” está na Torá, e “encontrar” é em relação   à Revelação da Face da Providência do Criador (como mencionamos acima Item 47, começando com as palavras: Primeiramente…). E foi deliberado que eles não digam, “Trabalhei e obtive, portanto acredite”, ou “Trabalhei e obtive posse”, porque então poderia ter sido enganoso, indicando que a obtenção ou a aquisição da posse pertence apenas em torno a “obter posse” da Torá. Por este motivo, eles usaram uma linguagem muito precisa, dizendo, “encontrei”, ou seja, que a intenção é algo sobre  e acima de “obter posse” da Torá, isto é, “encontrando” a Revelação da Face do Criador, como explicado acima.

94) E agora o que foi dito está sendo clarificado: “Não trabalhei e encontrei, não acredite”, porque isto parece estranho. Quem poderia ser tão tolo assim para considerar em sua mente a possibilidade de obter a Torá sem a necessidade do trabalho por isto? Mas já que tudo está no contexto de “aqueles que Me procuram diligentemente Me encontrarão”, isto significa que qualquer um, seja pequeno ou grande, que busca o Criador, O encontrará logo. Isto é o que é indicado pela linguagem “aqueles que Me buscam diligentemente”. Poder-se-ia pensar que isto não precisa de muito trabalho e que mesmo uma pessoa inferior, que não deseja investir muito esforço nisto, também poderia O encontrar. Por este motivo, fomos alertados pelos sábios que tal explicação não deve ser acreditada. Ao invés, o trabalho é muito necessário aqui, por isso: “Não trabalhei e achei, não acredite”.

95) E agora você entenderá porque a Torá é chamada pelo nome “Vida” (veja novamente Item 3), conforme é dito: “Veja, coloquei diante de ti este dia a vida e o bem… etc.”, (Deuteronômio 30:15) e também: “… escolha a vida etc.” (Ibid. 19), e também: “Pois ela é vida para quem a encontra” (Provérbios 4:22), porque ele estende- se da passagem das escrituras: “Na Luz da Face do Rei está a Vida” (Provérbios 16:15). Já que o Criador é a fonte de toda a vida e bondade, a vida é atraída a aqueles ramos que se aderem à sua Fonte. Isto é dito em relação a aqueles que trabalharam e encontraram a Luz da Sua Face na Torá, que significa que eles obtiveram a “abertura dos olhos” na Torá com percepção maravilhosa até que eles mereçam a ‘revelação da Face do Criador’, ou seja, a percepção da Providência real, que é digna do Nome do Criador “o Bom” porque é a natureza do Bom fazer o bem, conforme mencionamos anteriormente (veja acima, Item 8 começando com as palavras: Temos assim…); estude isto bem.

96) E os dignos não são mais capazes de se divorciarem de cumprir as Mitzvot propriamente, assim como alguém que não pode se divorciar de um grande prazer que caiu sobre ele. Da mesma forma, fogem da transgressão assim como se corre do fogo (como mencionado acima (Item 83), começando com as palavras: O primeiro…); estude isto bem. E sobre elas, é dito: “Mas vós que aderistes ao Senhor, teu Criador, estais todos vivos neste dia” (Deuteronômio 4:4) porque Seu amor vem a eles e é outorgado a eles com amor natural através dos canais naturais que foram feitos prontos para cada pessoa pela própria natureza da Criação. Isto é porque agora o ramo está propriamente anexado a sua raiz e a vida está constantemente sendo outorgada sobre ela com grande abundância desta Fonte. E por este motivo, a Torá é chamada “Chayim” (Vida).

97) Portanto, nossos sábios nos alertaram em um número de lugares que esta é uma pré-condição necessária para o estudo da Torá: que seja especificamente Lishmá, ou seja, que será feito de forma que a pessoa obtenha vida dela porque é uma Torá da vida. E é por isto que ela nos foi dada, conforme é dito: “Escolha a vida”. Portanto, toda pessoa, enquanto se envolver com a Torá, precisa trabalhar nela e dá-la a sua mente e seu coração, e encontrar nela a Luz da Face do Rei da Vida. Isto é, perceber a Providência visível, que é chamada a Luz da Face (como mencionado acima (Item 47), começando com as palavras:  Primeiramente).

E todo mundo é capaz disto, conforme é dito: “Aqueles que Me buscam diligentemente Me encontrarão”, e como é dito: “Trabalhei e não encontrei, não acredite”. E não há nada que uma pessoa não tenha a este respeito além de seu trabalho, de acordo com o verso: “Qualquer um que se envolver com a Torá Lishmá apenas, seu estudo da Torá se torna para ela uma poção da vida.” (Tratado Ta’anit, 7a). Isto é, precisa apenas colocar sua mente e seu coração para merecer a vida, que  é o significado de Lishmá, como explicamos (Item 17).

98) Agora veremos que o que os comentaristas perguntaram sobre a Mitzvá do Amor – isto é, que esta Mitzvá não está dentro das nossas mãos para cumprir porque o amor não vem através de coerção e subjugação – não é realmente uma questão porque está completamente dentro do nosso alcance. Afinal, é possível para qualquer um colocar esforço na Torá, até que encontre a percepção de Sua “Providência visível.”. Isto é o que nossos sábios queriam dizer quando disseram: “Trabalhei e encontrei, acredite”. E quando ela atinge a “Providência visível” o amor já foi estendido a ele através dos seus próprios canais naturais, conforme discutimos acima (veja Item 66).

E qualquer que não acredite que pode atingir este nível através do seu esforço, por qualquer razão que seja, não, necessariamente, acredita nas palavras dos sábios, Deus proíba. Ela imagina a si mesma que trabalhar não é suficiente para toda e cada pessoa, que é o oposto do dito: “Trabalhei e não encontrei, não acredite”. E Isto é também contrário à passagem das escrituras: “Aqueles que Me buscam diligentemente Me encontrarão”, que diz particularmente “aqueles que Me buscam diligentemente”, quem quer que “aqueles” possam ser, jovens ou velhos, já que esforço é certamente requerido deles.

99) Deste comentário, você pode também entender o que nossos sábios disseram: que quem quer que se envolva com a Torá Lo Lishmá, então sua Torá torna- se para ela uma poção de morte. (Tratado Ta’anit, 7a e aqui, Item 17) Também, referindo à passagem: “Verdadeiramente, Tu és um Criador (El) que Se oculta” (Isaías 54:15), já que o Criador Se oculta na Torá. E levantamos uma dificuldade (veja acima (Item 41), começando com as palavras: E nós aprendemos…): seria razoável pensar que o Criador poderia se ocultar, particularmente em matérias mundanas e em vaidades deste mundo, que estão fora da Torá, e não na própria Torá, porque toda revelação ocorre apenas lá. O Zohar diz (Terumá, 260), que o Criador está Se ocultando para que Ele seja procurado e encontrado – e perguntamos mais sobre esta ocultação: “Para que eu preciso disso?”

100) Do comentário acima, você entenderá bem esta ocultação – onde o Criador Se oculta para ser procurado – refere-se à Ocultação da Face, Sua forma de lidar com Suas criaturas, com seus dois aspectos: Uma Ocultação e Ocultação dentro de Ocultação (como mencionado acima (veja Item 80), começando com as palavras: As quatro formas). E o Zohar nos permite saber que ninguém deve nem mesmo pensar que o Criador quer continuar, Deus proíba, no estágio da Providência da Ocultação da Face das Suas criaturas.

Mas assim como uma pessoa que se oculta de propósito para que seu amigo a procure e encontre, assim também, o Criador, quando Ele interage com Suas criaturas em modo de Ocultação da Face, só está fazendo isto porque Ele quer que Suas criaturas procurem pela Revelação da Sua Face e O encontrem. E tudo isto é porque não haveria outra forma ou maneira para as criaturas serem merecedoras da Luz da Face do Rei da Vida, se Ele não tivesse primeiro interagido com elas através da Ocultação da Face de tal forma que esta ocultação é apenas uma preparação para a Revelação da Face, (como explicado acima (Item 93) começando com as palavras:  E nós perguntamos…).

101) O verso diz (veja Item 41) que o Criador Se ocultou na Torá. Em relação ao sofrimento e a tristeza que alguém passa durante o período da Ocultação da Face não é o mesmo para alguém que teve muitas transgressões e que se envolveu pouco com a Torá e as Mitzvot, comparado com alguém que se envolveu extensivamente com a Torá e as Mitzvot. Isto é porque o primeiro é obrigado a julgar seu Criador pelo lado do mérito – isto é, acreditar que seu sofrimento foi também desejado por ele por causa dos seus pecados e a escassez de Torá.

Não assim para a outra: É muito difícil para ela passar julgamento favorável ao seu Criador porquê de acordo com ela, não merece tais punições severas. Isto é ainda mais assim quando ela vê que seus amigos, que são muito piores que ela, não estão sofrendo tanto, conforme dito nas Escrituras (Salmos 73:12-13): “Veja, estes são os perversos; sempre à vontade, eles aumentam em riquezas, e assim tudo em vão tenho guardado meu coração em tristeza”. (Veja também Item  44)

Daqui, você pode ver que enquanto uma pessoa não obtém a Providência da Revelação da Face, ela acha que a Torá e as Mitzvot que ela se envolveu abundantemente, a sobrecarrega muito com a Ocultação da Face. É por isto que é dito que o Criador Se oculta na Torá – contemple este ponto profundamente. De fato, todo este grande peso que sente profundamente por causa da Torá é porque é uma mensagem de sortes. Este é um meio para a Santa Torá convidá-lo e insisti-lo a se apressar rapidamente dar a quantidade de trabalho que é requerida a ela para que possa atingir a Revelação da Face sem demora, como o Criador deseja; entenda isto bem.

 

102) E é por isto que é dito que: “qualquer um que aprenda Lo Lishmá, a Torá torna-se como uma poção de morte para si”. Não apenas não sai do aspecto da Ocultação da Face para a Revelação da Face, porque não pretende trabalhar para merecer, mas acima e além disso, quanto mais se envolve com a Torá, mais aumenta a Ocultação da Face por um grande grau até que, Deus proíba, caia na Ocultação dentro de Ocultação. E isto equivale à morte – ser completamente desconectado de sua raiz – e desta forma, sua Torá torna-se uma poção de morte para  si.

103) E aqui os dois nomes que foram usados para a Torá – a Revelada e a Oculta – são explicados, pois deve-se entender os assuntos de “por que eu devo [me envolver com] a Torá Oculta?” e “por que toda a Torá não é Revelada?” De fato, existe uma intenção profunda aqui porque a Torá “Oculta” é uma dica para nós que o Criador “se oculta na Torá”, como explicado acima (Item 41), que é o porquê é chamada a Torá Oculta. E o nome “Revelada” existe porque o Criador é “revelado pela Torá”, como mencionado acima.

Portanto, os cabalistas nos falaram – e temos também aprendido isto no Sidur (livro de orações) do Rav Eliyahu de Vilnius (o Gaon de Vilna) – que a ordem para o entendimento da Torá começa do sod (segredo, também referido como “oculto”) e termina com o peshat (simples, o literal, também referido como o “revelado”). Isto significa, como explicamos, que através do esforço apropriado que se coloca estudando a Torá Oculta no começo, se atinge a Torá Revelada, que é o peshat (literal), como foi bem explicado acima. Então se começa com o Oculto, que é o sod (segredo), e quando merecer, termina com o peshat (literal).

104) O que perguntamos anteriormente (Item 75, começando com as palavras: Isto levanta uma questão…) foi bem explicado. Isto é, como obter o primeiro grau de amor, que é Amor Que Depende de Algo. Viemos a aprender que embora a recompensa por cumprir uma Mitzvá não se aplique a este mundo, perceber a recompensa pela Mitzvá é, em todo caso, atingível neste mundo, e esta percepção vem para a pessoa através da “abertura dos olhos” na Torá etc.

E como foi mencionado acima, esta clara percepção é completamente semelhante a ele como se tivesse recebido a recompensa de cumprir a Mitzvá na hora, (como mencionado acima [Item 84] começando com as palavras: E embora…); estude isto bem. Assim por causa disso, sente a grande beneficência contida no Pensamento da Criação, que é trazer plenitude para Suas criaturas de acordo com Sua completa, boa e abundante mão. E pela grande bondade que ela obtém, um grande amor entre ela e a Providência é revelada. Ele é doado a ela infinitamente, das mesmas formas e canais que o amor natural é revelado etc., como mencionado acima (Item 47).

105) De fato, tudo isto acontece a ela do momento em diante que atinge esta consciência. No que diz respeito a todos os sofrimentos causados pela Providência da Ocultação da Face, que ela suportou antes de atingir a Revelação da Face acima mencionada – mesmo que não queira se lembrar porque “o amor cobre todos os crimes”, (Provérbios 10:12), eles ainda são considerados como um grande defeito, mesmo do ponto de vista do amor entre pessoas (como mencionado acima (veja Item 70), começando com as palavras: O primeiro…). Para não mencionar no que diz respeito a integridade da Sua Providência, que Ele é bom e benevolente às más assim como com as boas.

Portanto, deve-se entender como é possível merecer o amor do Criador de tal forma que sinta e saiba que o Criador sempre fez grandes favores maravilhosos para si desde o momento do seu nascimento em diante, e nunca jamais lhe causou mesmo um pingo de dano, e nunca irá. E esta é a segunda virtude do amor (como mencionado acima (veja Item 70), começando com as palavras: O  primeiro…).

106) Para entender isto, precisamos das palavras dos nossos sábios, que disseram que uma pessoa que se Arrependeu Por Amor, que suas ações maliciosas (intencionais) se transformam em méritos (veja Item 64). Isto significa que não apenas o Criador perdoa suas ações maliciosas, mas também o Criador transforma cada ação perversa e toda transgressão que já cometeu em mérito de ter cumprido uma Mitzvá.

107) E, portanto, depois da pessoa ter obtido a Iluminação da Face a tal grau que toda transgressão que já cometeu – mesmo aquelas que realizou com má intenção – é transformada e se torna uma Mitzvá para ela, então como resultado, esta pessoa torna-se feliz e contente com todos seus sentimentos anteriores de sofrimentos amargos e dores assim como os muitos problemas que teve que passar, desde o tempo que estava sob a influência dos dois aspectos das acima mencionadas Ocultação da Face. Isto é porque foram eles que causaram todas as ações maliciosas, que foram agora transformadas em Mitzvot. E isto é devido a Iluminação da Face do Criador, o Maravilhoso Criador de Milagres, como é mencionado acima.

E toda e cada tristeza e problema, que fizeram ela perder seu autocontrole e falhar por cometer vários erros, como em Uma Ocultação, ou por cometer ações maliciosas intencionais, como em Dupla Ocultação (como mencionado acima (veja Item 52), começando com as palavras: E Ocultação…) – todas estas são agora transformadas e tornam-se uma plataforma para si e uma preparação para cumprir uma Mitzvá, receber uma grande e maravilhosa recompensa por toda eternidade dela. E, portanto, toda agonia torna-se para si uma grande alegria, e todo mal em um benefício maravilhoso.

108) Isto é análogo à história que é contada por muitos sobre um Israelita que era um trabalhador de confiança para um certo mestre e a quem o mestre amava como a si mesmo. E aconteceu uma vez que o mestre viajou e nomeou um substituto para lidar com seu negócio. Este substituto era um antissemita. O que ele fez? Ele pegou o Israelita e o feriu cinco vezes em público para todos verem, para humilhá-lo profundamente.

E quando o mestre retornou, o Israelita foi até ele e o contou tudo o que tinha acontecido. E ele ficou muito irado, e chamou seu substituo e o ordenou imediatamente entregar mil moedas para o Israelita por cada vez que ele o feriu. O Israelita pegou as moedas e voltou para casa. Sua esposa o encontrou chorando, então ela lhe disse com grande preocupação, “O que acontece a você com o mestre?” Ele disse, “Estou chorando porque ele me feriu apenas cinco vezes. Gostaria que ele tivesse me ferido pelo menos dez vezes porque então eu teria obtido dez mil moedas”.

109) E aqui você aprende que após uma pessoa obter perdão pelos seus pecados de tal forma que suas ações maliciosas tornam-se como méritos para si, então também merece se aproximar do Criador no aspecto do amor em relação ao segundo grau, onde aquele que é amado nunca fez nenhum mal para aquele que o amou, nem mesmo uma sombra de mal, mas ao invés, ele continuou fazendo-o muitos favores maravilhosos durante todo o tempo de sua vida, (como mencionado acima (veja Item 70), começando com as palavras: O ..), de tal forma, que o Arrependimento por Amor e a transformação das ações maliciosas em méritos vem como um, como mencionado pelos ditos dos sábios acima (veja  Item 64).

110) Até agora, temos explicado apenas o aspecto do Amor Que Depende de Algo “Amor Condicional” em seus dois aspectos. Mas precisamos ainda entender como uma pessoa merece aproximar-se do Seu Criador nos dois aspectos do Amor Que Não Depende de Algo “Amor Incondicional”. E a este respeito, precisamos entender as palavras dos sábios (Tratado Kidushin, 40b): “Nossos sábios disseram o seguinte: Uma pessoa deve sempre ver-se como se metade dela é culpada e a outra metade é inocente. Tendo cumprido uma Mitzvá, tem a sorte de ter desequilibrado para si mesma em direção a escala da inocência; tendo cometido uma transgressão, ai dela por ter desequilibrado em direção ao lado da culpa, conforme é dito: “Um pecador perde muitos bens”. (Eclesiastes 9:18)

Rav Elazar, filho do Rav Shimon, diz, “Já que o mundo é julgado pela sua maioria e o indivíduo é julgado pela maioria, tendo cumprido uma Mitzvá, é afortunado de ter desequilibrado em direção ao lado do mérito para si mesmo e para o mundo; tendo realizado uma transgressão; ai dele por ter desequilibrado para si mesmo e para o mundo em direção a escala da culpa, conforme é dito: “Um pecador perde muitos bens”. E por causa deste pecado que cometeu, ele e o mundo inteiro perdem muitos bens”. (Fim da citação do Tratado Kidushin)

111) Estes pontos parecem ser difíceis de se entender do início ao fim porque ele diz que qualquer um que realize uma Mitzvá imediatamente aponta em direção ao lado do mérito, já que é julgado de acordo com a maioria. De fato, isto se refere àquelas pessoas que são meio culpadas e meio inocentes, algo que Rav Elazar, filho do Rav Shimon, não fala sobre, e a parte principal está faltando no livro.

E Rashi comentou nas palavras, referindo-se às palavras do Tana Kama, que diz, “Uma pessoa deve sempre ver-se como se metade dela é culpada e a outra metade é inocente”. E Rav Elazar adiciona que deve também ver o mundo todo como se metade é culpado e metade é inocente; estude isto bem. Mas, de fato, a parte principal está faltando no livro. E, além disso, por que ele não mudou sua linguagem? Por que ele não falou com a mesma linguagem que o Tana Kama, se o significado é um e o mesmo?

112) A ideia principal, é que a pessoa deve ver-se como se ela fosse apenas metade culpada é particularmente difícil. Isto é um espanto: Se a pessoa sabe de suas muitas transgressões, poderia ela mentir para si mesma dizendo que ela é meio e meio? A Torá nos ordena: “Mantenha-se longe da mentira” (Êxodo 23:7). Além disso, é relativo à frase: “Um pecador perde muitos bens”, ou seja, que por causa de uma transgressão, aponta a si mesmo e o mundo todo em direção a escala da culpa. Portanto, estamos falando sobre uma realidade verdadeira e não apenas alguma falsa imaginação que uma pessoa tem para si mesma e para o mundo.

113) E outra coisa também é peculiar: Poderia ser que não existem muitas pessoas que cumprem uma Mitzvá em toda e cada geração, e ainda que o mundo não seja apontado em direção ao lado da inocência? Isto pode significar que a situação não mudou; ao invés, o mundo se comporta de acordo com seus hábitos de todos os tempos. Em vez disso, grande profundidade é necessária aqui, porque na superfície, estas coisas não fazem nenhum sentido.

Certamente o Braita não falou sobre uma pessoa que sabe em si mesma que seus pecados são muitos, ensinando-a a mentir que é meio e meio, assim como induzi-la que lhe falta apenas uma Mitzvá. Este não é, de forma alguma, o caminho dos sábios. Em vez disso, o Braita fala sobre uma pessoa que sente e imagina que é totalmente um justo completo e considera a si mesma como sendo a encarnação da perfeição. Isto é porque já obteve o primeiro grau de amor pela “abertura dos olhos” na Torá, como mencionado acima, tanto que ‘Aquele que conhece todos os mistérios’ testifica em seu comportamento que nunca voltará a sua tolice, como mencionado acima (começando das palavras veja Item 56: E do que foi explicado…).

E é a ele que o Tana fala e classifica seus caminhos e lhe prova que não é ainda um justo, mas um medíocre, ou seja, meio-culpado e meio-inocente. E é por isto que ainda falta “uma Mitzvá” das 613 Mitzvot da Torá. É a Mitzvá do Amor, como mencionado acima ((veja Item 71) começando com as palavras: Temos então definido) estude isto bem. O testemunho de Aquele que conhece todos os mistérios que ela não mais pecará é apenas por causa da clareza do seu entendimento da grande perda por toda transgressão, como mencionado acima, e consequentemente, é considerado como temor da punição, e por este motivo, é chamado Arrependimento por Temor, como explicamos extensivamente acima (veja Item 109 começando com as palavras: E aqui…).

114) Foi também explicado acima que este estágio de Arrependimento por Temor não corrige a pessoa, ao invés apenas do momento do arrependimento em diante. Toda a agonia e penosidade que sofreu antes de merecer a Revelação da Face continua como se estivessem sem nenhuma correção. Além disso, as transgressões que realizou não estão completamente corrigidas, mas, ao invés elas estão lá em forma de erros, como explicamos extensivamente anteriormente (veja Item 58 começando das palavras. Isto explica…), estude isto bem.

115) E, portanto, o Tana Kama diz que uma pessoa que ainda falta “uma Mitzvá” deve ver a si mesma como se metade dela é culpada e metade é inocente. Isto é, deve imaginar em si mesma que o ponto onde se purificou com o arrependimento foi na metade de seus anos. Desta forma, é metade culpada. Isto significa que na metade particular dos seus anos que ela viveu antes de se arrepender, foi certamente culpada porque o Arrependimento da Culpa não corrige elas como mencionado anteriormente (veja Item 59). E isto também resulta que é metade inocente, ou seja, na metade dos seus anos do tempo que se arrependeu em diante.

Pois neste momento, é certamente inocente porque está certa que não irá mais pecar, como mencionado acima. Assim, na primeira metade dos seus anos, é culpada, e na última metade dos seus anos, é inocente.

116) E o Tana o diz para considerar que se cumpre “uma Mitzvá”, isto é, a Mitzvá que faltava das 613 (como mencionado acima (veja Item 91), começando com as palavras: Temos assim…), então seria afortunado por ter apontado a si mesma em direção a escala da inocência, porque as ações maliciosas de quem quer que obtenha a Mitzvá do Amor – isto é, através do Arrependimento por Amor, como mencionado acima – são transformados em méritos. E então toda a dor e tristeza que tenha sofrido antes da sua purificação com o arrependimento são transformadas em deleites maravilhosos sem fim, ao ponto onde está arrependida de não ter sofrido duas vezes mais (como mencionado acima sobre o mestre e seu amado servo Israelita; (veja Item 108), começando com as palavras: Isto é…). Isto é o que se pretende por “apontar em direção ao lado da inocência (zchut)” porque todos seus sentimentos em relação aos erros e ações maliciosas foram transformados em mérito (zchut). E este é o apontamento em direção ao lado da inocência (zchut) porque toda a escala cheia de culpa foi transformada em uma escala cheia de mérito (zchut). E na linguagem dos sábios, esta transformação é chamada, “decisão”.

117) E o Tana fala mais e alerta ela que enquanto for medíocre e não tiver obtido ainda aquela “uma Mitzvá” que está faltando das 613, não deve confiar em si mesma até o dia da sua morte. E não deve nem mesmo confiar no testemunho “Daquele que conhece todos os mistérios” que não retornaria a sua tolice, mas, ao invés que poderia ainda cometer um pecado. Portanto, precisa pensar em sua mente que ai dela se cometer uma transgressão, porque ela se governa em direção ao lado da culpa. E então imediatamente perde todas as suas percepções maravilhosas na Torá e toda a Revelação da Face que obteve, e retorna à Ocultação da Face. E assim aponta-se em direção ao lado da culpa porque os méritos e bondades se perderão mesmo na segunda metade da sua vida. E sobre isto, o Tana lhe proporciona evidência do texto: “E um pecador perde muitos bens” (Eclesiastes 9:18).

118) Agora você entenderá a adição que o Rav Elazar, filho do Rav Shimon, faz às palavras do Tana Kama, assim como o motivo que ele não traz a linguagem de ser ‘meio-culpado e meio-inocente’, como o Tana Kama Isto é porque o Tana Kama fala sobre o segundo e terceiro graus do amor, como explicado acima (veja Item 70 começando com as palavras: O primeiro atributo…), e então: O segundo atributo. E Rav Elazar, filho do Rav Shimon, fala em relação ao quarto grau do amor, como mencionado anteriormente (veja Item 73 começando com as palavras: O segundo nível…), que é o amor eterno: isto é, a Revelação da Face como ela verdadeiramente é, no sentido de “Aquele que é bom e faz o bem para aqueles que são bons e para aqueles que são maus”.

119) E foi explicado lá que não há forma de obter o quarto grau exceto quando está familiarizado, experiente e proficiente com todas as ocupações do Amado e como Ele se comporta com todos os outros, sem deixar nenhum. Portanto, um grande privilégio que uma pessoa obtém por apontar para si mesma em direção ao lado da inocência ainda não é suficiente para ela obter o amor completo, ou seja, o quarto grau, porque até agora, ainda não percebe a grandeza do Criador do aspecto de “Aquele que é bom faz o bem para as más e para as boas”. Mas, ao invés, percebe apenas através da Sua Providência com ele pessoalmente, semelhante ao que foi mencionado acima (veja Item 107 começando com as palavras: E, portanto…). No entanto, ainda não conhece sobre a Providência nesta forma magnífica e maravilhosa, com o resto das pessoas do mundo.

E foi explicado acima que enquanto não souber sobre todas as relações do Amado com os outros ao ponto que nem mesmo uma delas esteja faltando, então o amor ainda não é eterno, (como mencionado acima (veja Item 73) começando com as palavras: O segundo nível…); estude isto bem. Portanto, é exortado a governar o mundo todo em direção ao lado da inocência, pois somente então o amor eterno será revelado a ela.

120) E é por isto que o Rav Elazar, filho do Rav Shimon diz (Itens 110-111): ““Já que o mundo é julgado pela maioria e o indivíduo é julgado pela maioria etc.”. Mas porque ele está falando sobre todas as pessoas, não pode se expressar como Tana Kama (o primeiro Tana) e que possa considerá-las como se metade delas fossem culpadas e metade fossem inocentes; este grau vem para a pessoa apenas após receber a Revelação da Face e Arrependimento por Temor, como mencionado acima (Itens 57, 113). Como ele pode dizer sobre as pessoas do mundo quando elas ainda não ganharam este tipo de arrependimento? Portanto, ele poderia apenas dizer que o mundo é julgado de acordo com sua maioria e que um indivíduo é julgado de acordo com sua maioria.

Isto significa que é possível concluir que uma pessoa pode obter a categoria de justo completo apenas quando não tem transgressão e nunca, jamais pecou, e aqueles que falharam cometendo pecados e ofensas intencionais não são mais dignos de obter a categoria de completamente justos. Portanto, Rav Elazar, filho do Rav Shimon, nos ensina que este não é o caso, mas que o mundo é julgado pela maioria, como no caso com o indivíduo. Isto significa que ela emerge da categoria de medíocre – isto é, depois que faz seu Arrependimento por Temor, como mencionado (Item 88) acima, então imediatamente obtém as 612 Mitzvot e é chamada um medíocre – ou seja, metade de sua vida é culpado e metade de sua vida é inocente, como mencionado acima. (Item 113)

E depois disto, se ela adicionar apenas uma Mitzvá, ou seja, a Mitzvá do Amor, será considerada como se a sua maioria fosse inocente e iria apontar tudo ao lado  da  inocência.  Isto  significa  que  a  bandeja  das  transgressões  também  é

transformada em méritos, como mencionado nas palavras do Tana Kama (o primeiro Tana); veja aqui (Itens 110-111). Portanto, mesmo se seu lado é cheio de transgressões e atos maliciosos, eles são todos transformados em méritos, e assemelha-se a alguém que certamente nunca pecou e é considerado um justo completo.

E o que foi dito é que o mundo e o indivíduo são julgados por cada um da maioria, que significa que as transgressões que fez antes de seu arrependimento não são levadas em consideração porque elas foram transformadas em méritos. Assim, nesse sentido, mesmo aqueles que são completamente maus, uma vez que obtiverem Arrependimento por Amor, serão considerados justos completos. (veja Itens 64, 106, 109, 117).

121) E este é o porquê é dito que se o indivíduo que realizou “uma Mitzvá”, referindo-se à depois do Arrependimento por Temor quando apenas o cumprimento de “uma Mitzvá” faltava para si, como mencionado acima (Itens 110-111), “feliz é aquele que já apontou a si mesmo e ao mundo inteiro em direção ao lado do mérito”. Isto significa que não apenas ele mereceu apontar em direção ao lado do mérito para si mesmo, através do Arrependimento por Amor que fez, como Tana Kama (o primeiro Tana) disse, mas também é encontrado que ele também consegue apontar o mundo inteiro em direção ao lado do mérito.

Isto significa que consegue ascender em novas percepções maravilhosas sobre a Santa Torá, até que seja revelada para si como as pessoas do mundo inteiro estão ligadas para obter Arrependimento por Amor, no momento em que a mesma Providência maravilhosa que é atingida por si mesma será revelada e vista por eles também. E a balança também será apontada para eles em direção ao lado do mérito, e então: “Que os pecadores sejam consumidos da Terra, e os perversos não existam mais!” (Salmos 104:35)

E apesar das próprias pessoas do mundo ainda não terem obtido mesmo o Arrependimento por Temor, porém, depois de um indivíduo perceber o apontamento em direção ao lado do mérito, que eventualmente as alcançará também, de uma forma que é absolutamente clara, então esta situação é semelhante ao [conceito (mencionado nos Itens 76-77):] “Verás teu mundo em tua vida”, que é dito sobre uma pessoa que faz Arrependimento por Temor. E ela fica surpresa e encantada por isto, assim como dissemos, e é como se já tivesse em sua mão porque tudo o que é devido a ser coletado pode ser visto como já tendo sido recebido, como mencionado acima (Item 84 começando com as palavras: E embora…); estude isto bem.

E aqui também, para este indivíduo que percebe o arrependimento do mundo todo, é considerado como se elas próprias já tivessem merecido atingir Arrependimento por Amor e que toda e cada uma delas tivesse apontado suas próprias culpas em direção ao lado do mérito à extensão que é suficiente para ela conhecer  as relações com toda e cada uma entre as pessoas do mundo.

E é por isto que Rav Elazar, filho do Rav Shimon, disse, “Bendito é aquele que aponta para si mesmo e para o mundo inteiro em direção ao lado do mérito” (Itens 110-111) porque deste ponto em diante, ele conhece todos os caminhos da Providência com toda e cada criatura do aspecto da Revelação de Sua verdadeira Face, ou seja, “Aquele que é bom faz o bem para as boas e más”. E entendendo isto, ela obtém o quarto grau do amor, que é o amor eterno, como explicado (acima no Item 73, começando com as palavras: O segundo  nível…).

E Rav Elazar, filho do Rav Shimon, assim como Tana Kama, também lhe alerta que mesmo depois de ter merecido apontar para o mundo todo em direção ao lado da inocência, ainda não deve confiar em si mesma até o dia de sua morte porque se, Deus proíba, ela falhar em uma única transgressão, todas as suas realizações e maravilhosas bondades serão imediatamente perdidas, conforme é dito: “Um pecador perde muitos bens” (Eclesiastes 9:18) como o Tana Kama (primeiro Tana) disse (Itens 110-111).

E assim, a diferença entre o Tana Kama e Rav Elazar, filho do Rav Shimon, foi deixada clara. Tana Kama fala apenas sobre a segunda e terceira categorias do amor, e portanto não menciona o apontamento do mundo inteiro. Mas Rav Elazar, filho do Rav Shimon, fala sobre o quarto grau do amor, que não pode ser imaginado exceto através da percepção do apontamento do mundo todo em direção ao lado do mérito, como explicado (Item 119). No entanto, deve-se ainda entender como atingimos esta maravilhosa percepção de apontar a balança do mundo todo em direção ao lado do mérito.

122) E nós devemos entender aqui as palavras dos sábios (Tratado Ta’anit, 11a), que são como segue: “Verificamos ainda que, quando a comunidade é absorvida em tristeza, não se deve dizer, ‘Eu irei para casa, comerei, beberei e deixarei minha alma estar em paz’. E se fizer isto, ele é aquele a quem as Escrituras dizem: ‘E eis que, alegria e prazer; matam os bois e as ovelhas, comem carne e bebem vinho; comamos e bebamos, pois amanhã morreremos’ (Isaías 22:13). O que está escrito mais adiante? ‘E será revelado que os ouvidos do Deus dos Exércitos, e certamente não será esquecida de ti até que morras’. (Ibid. 14)

Até aqui, o atributo do medíocre. Mas o que fala sobre o atributo do perverso? ‘Venha, tomemos vinho, e nos satisfaçamos com licor; e o dia seguinte será como este dia’ (Isaías 56:12). O que está escrito após isto? ‘Os justos pereceram, e ninguém considera isto em seu coração por causa do mal, os justos são levados’ (Isaías 57:1). Então se deve estar junto com a comunidade em tristeza etc. … “Então merecerá receber a consolação junto com a comunidade”. Fim da citação (do Tratado Ta’anit).

123) Estas palavras parecem não ter conexão uma com a outra. Ele quer trazer prova das Escrituras que o indivíduo é obrigado a lamentar junto com a comunidade, mas se for assim, por que teríamos o trabalho lá de separar e dividir entre o atributo do medíocre e o atributo do perverso? Além disso, por que o texto diz explicitamente “o atributo do medíocre e o atributo do perverso” ao invés de dizer, “o medíocre e o perverso”? Por que ele fala sobre os atributos?

E além disso, de onde é que entendemos que o texto fala sobre o pecado de não tomar parte das tristezas da comunidade? Também, não vimos nenhuma punição em relação ao atributo do perverso, apenas uma referência ao que foi dito: “o justo perece, e ninguém considera isto em seu coração etc.”. Mas se o perverso pecou, o que foi que o justo fez para ser punido? E por que o perverso deveria se importar se o justo foi levado ou não?

124) De fato, saiba que estes atributos do medíocre, do perverso e do justo (tzadik) mencionados neste Braita não se referem às pessoas específicas – ao invés, todos os três estão presentes em toda e cada pessoa no mundo. Isto é porque estes três atributos devem ser observados em toda e cada pessoa. Durante o momento da Ocultação da Face para uma pessoa – ou seja, antes de ela obter Arrependimento por Temor – ela é considerada pertencendo ao atributo do perverso (Item 52).

Posteriormente, se merecer Arrependimento por Temor (Item 57), é considerada como pertencendo ao atributo do medíocre, como mencionado acima (Item 62). E então, se também merecer Arrependimento por Amor, que é o quarto nível, ou seja, o amor eterno, como mencionado acima (Itens 64 e 73), é considerada como um justo completo. Portanto, eles não disseram apenas “medíocre” e “justo”, mas “o atributo do medíocre” e “o atributo do perverso”, como explicado (Item 122).

125) Além disso, precisamos nos lembrar que não se pode merecer o quarto grau do amor acima mencionado sem primeiro obter o aspecto da Revelação da Face, que é destinado a aparecer ao mundo todo e através do qual tem poder suficiente para apontar a balança para todas as pessoas do mundo em direção ao lado da inocência, como mencionado acima nas palavras do Rav Elazar, filho do Rav Shimon (Item 118). E já explicamos que a Revelação da Face é obrigada a transformar toda tristeza e sofrimento que apareceram durante o período da Ocultação da Face, transformando-as em deleites maravilhosos, tanto que poderia se arrepender por ter sofrido tão pouco, como explicamos bem (acima Item 121 começando com as palavras: E este é o porquê…); estude isto bem.

Sendo este o caso, devemos perguntar: Quando uma pessoa aponta a balança em direção ao lado da inocência, certamente lembra-se de todas experiências tristes   e dolorosas que sofreu durante o período da Ocultação da Face. E assim, há uma realidade lá, onde todas elas são transformadas em deleites maravilhosos para si, como foi dito. Mas quando aponta o mundo inteiro em direção ao lado da inocência, como sabe o grau da tristeza e penosidades que todas as pessoas no mundo estão passando, e assim entender como elas estão apontadas em direção ao lado da inocência, da mesma forma que clarificamos em relação à pessoa que aponta sua própria balança? (Veja acima, (Item 121) começando com as palavras: E este é o porquê…).

A escala do mérito para o mundo todo não deveria faltar no momento que   a pessoa é capaz de apontá-la em direção ao lado da inocência. A pessoa não tem outro esquema a não ser se certificar que sempre irá sentir tristeza em si mesma enfatizando com as tristezas da comunidade, assim como sentiria tristeza por suas próprias tristezas. Então a escala da culpa do mundo todo estará pronta dentro de   si, assim como sua própria culpa, de forma que se merecer dominar a si mesma em direção ao lado da inocência, poderá ser capaz de dominar o mundo todo em direção ao lado da inocência. E então merecerá ser um justo  completo.

126) E apesar destas explicações, as palavras do Braita podem ser entendidas propriamente: que se uma pessoa não participar das tristezas da comunidade, então é encontrado que mesmo quando ela obter Arrependimento por Temor, que é o atributo do medíocre, como mencionado acima ((Item 62) começando com as palavras: E é também ..), as Escrituras se referem a ela e falam em seu favor, dizendo (Item 122): “Eis que alegria e prazer”. Ou seja, que a pessoa obteve a benção de “Verás teu mundo em tua vida” (Itens 76-78) e vê todas as recompensas de suas ações de acordo com as Mitzvot – recompensas prontas para si no Mundo Vindouro – certamente está “cheia de alegria e prazer”, e diz a si mesma, “matam os bois e as ovelhas, comem carne e bebem vinho; comamos e bebamos, pois amanhã morreremos” (Item 122). Isto significa que está cheia de grande alegria por causa da recompensa que é prometida e si no Mundo Vindouro, e é o porquê diz muito alegremente, “Pois amanhã morreremos”, recolherei minha vida no Mundo Vindouro, já que devo ser paga após minha morte.

Mas quando está escrito o seguinte: “E será revelado aos ouvidos do Deus dos Exércitos, e certamente esta iniquidade não será esquecida de ti até que morras”? (Isaías 22:14) Isto significa que as Escrituras estão lhe repreendendo pelos pecados não intencionais que cometeu porque foi explicado que os pecados intencionais daquele que faz Arrependimento por Temor, são transformados apenas em pecados não intencionais, como explicado acima (Item 121 começando com as palavras: E este é o porquê…). Sendo este o caso, já que não lamentou com a comunidade e não pode merecer o Arrependimento por Amor – onde seus pecados intencionais seriam transformados em méritos (Itens 110-111) – segue necessariamente que os pecados não intencionais que realizou não serão esquecidos durante sua vida, assim como   ela pode ser feliz com sua vida no Mundo Vindouro? E isto é o que as Escrituras querem dizer em: “Certamente esta iniquidade não será esquecida” (aqui, Item 122), ou seja, os pecados ou erros não intencionais, “até que morras”, isto é, antes de morrer, pois está sendo privado da expiação.

127) E o Braita continua dizendo (Item 122) que “este é o atributo do medíocre”, ou seja, que a passagem das escrituras está falando do momento em que se fez Arrependimento por Temor em diante, um período no qual é chamado “um medíocre”, como mencionado acima (Item 62). “Mas do atributo do perverso, o que foi escrito?” ou seja, o que acontece no momento que a pessoa estava em Ocultação da Face, que é chamado “o atributo do perverso?” como mencionado acima (Item 122). E foi explicado que o Arrependimento por Temor não corrige o que a pessoa passou antes de fazer o arrependimento, e, portanto, o Braita traz outra passagem das escrituras sobre estas pessoas, que é “Venha, tomemos vinho, e nos satisfaçamos com licor; e o dia seguinte será como este dia”. (Item  122)

O significado disto é que aqueles dias e anos que atravessou desde o momento da Ocultação da Face e que ainda não foram corrigidos (como mencionado anteriormente Itens 80-82) são chamados “o atributo do perverso”. Eles não querem que ele morra porque não tem parte depois da morte no Mundo Vindouro, sendo o atributo do perverso. E, portanto, ao mesmo tempo o atributo  do medíocre é feliz e alegre, “pois amanhã morreremos”, e obterão a vida no Mundo Vindouro, simultaneamente o atributo do perverso nele não diz assim, mas diz, “e o dia seguinte será como este dia”. Isto significa que ele quer ser feliz e viver neste mundo para sempre, já que não tem nenhuma parte no Mundo Vindouro porque não o corrigiu, como explicado acima, pois não pode ser corrigido exceto pelo Arrependimento por Amor.

128) E com isto, o Braita conclui: “O que está escrito no seguinte? ‘Os justos pereceram’” significa que o aspecto do justo completo que esta pessoa atingiu falta nela. ‘… e ninguém considera isto em seu coração por causa do mal, os justos são levados’ (Item 122) significa que porque o medíocre não lamentava junto com o público, ele, portanto, não podia obter Arrependimento por Amor, que transforma as ações maliciosas em méritos e miséria em deleites maravilhosos, como foi mencionado acima (Itens 110-111). Ao invés, todos os pecados não intencionais e tristezas que sofreu antes de obter Arrependimento por Temor ainda são válidos porque ainda existem no aspecto do “atributo do perverso”, que ainda sente tristeza da Sua Providência. E por causa destas tristezas que ainda sente, não pode merecer ser um justo completo.

E as Escrituras dizem: “E ninguém considera isto em seu coração”, que significa que a pessoa não considera isto no seu coração “porque devido ao mal”, ou seja, devido às “tristezas” que ainda sente das vezes passadas da Providência, “os justos são levados”, que significa que o atributo de ser um justo é levado e morrerá   e partirá do mundo apenas o aspecto do medíocre, como mencionado acima. E tudo isto é porque alguém que não sente tristeza junto com o público não consegue ver a consolação do público porque não estará apto a apontar a escala deles em direção ao lado da inocência e vê suas consolações, como explicado. E, portanto, nunca será capaz de merecer o aspecto do justo, que foi explicado extensivamente  acima.

129) De tudo o que foi dito até este ponto, tivemos o mérito de aprender que não existe ser nascido de uma mulher a quem as seguintes três midot (atributos e também níveis) mencionados acima não se aplicam: o atributo do perverso, o atributo do medíocre, e o atributo do Eles são chamados midot (atributos, níveis) porque são derivados dos midot (níveis) de entendimento de Sua Providência.

E isto o que é dito pelos nossos sábios: “De acordo com o nível (midá) que se avalia (moded), está assim sendo avaliado (modedim lo)” (Tratado Sotá, 5b), ou seja,  que aqueles que percebem a mida (nível de avaliação) da Sua Providência do aspecto da Ocultação da Face são “avaliados” para estar na midá do perverso – ou não completamente perverso, que corresponde a Uma Ocultação, ou completamente perverso, correspondendo à Dupla Ocultação (como mencionado acima, (Item 124) começando com a palavra: De fato…).

E de acordo com seus pensamentos e sentimentos, o mundo é conduzido com a má Providência, Deus proíba, da mesma forma que eles trazem o mal sobre si mesmos recebendo o sofrimento e dor da Providência e sentindo apenas o mal ao longo de todos os dias. E ainda trazem o mal sobre si mesmos por pensar que todas as pessoas do mundo são supervisionadas, com eles, através desta má Providência, Deus proíba. E, portanto, aqueles que percebem a Providência do aspecto da Ocultação da Face são chamados perversos ou maus.

E entenda que este nome é revelando dentro deles pela profundeza dos seus sentimentos. Depende do entendimento do coração e não há importância de qualquer discurso ou pensamento justificando Sua Providência, quando esta contradiz o sentimento de todos os órgãos e sentidos que não sabem como mentir mesmo quando é forçado.

Portanto, aqueles que estão no nível de perceber esta Providência são considerados como tendo apontado para si mesmos e para o mundo todo em direção ao lado da culpa, como mencionado acima (Itens 110-111) nas palavras do Rav Elazar, filho do Rav Shimon; estude isto bem. Isto é porque o motivo descrito anteriormente: que imaginam que todas as pessoas do mundo são como eles – sendo supervisionado com a má Providência, Deus proíba, como convém a natureza do Criador, Que é bom e faz o bem aos perversos e aos  justos.

130) E aqueles que merecem perceber e sentir Sua Providência do aspecto da Revelação da Face em seu primeiro grau, que é chamado Arrependimento por Temor (como mencionado acima, ((Item 109) começando com as palavras: E aqui…  e também Item 62), são considerados no nível (atributo) do medíocre porque suas emoções são dividias em duas partes, que são chamadas “as duas bandejas da escala”. Isto é porque agora que mereceram a Revelação da Face do aspecto de “verás teu mundo em tua vida (Itens 76-78)”, como mencionado acima ((Item 117) começando com as palavras: E o Tana ..), perceberam Sua boa Providência pelo menos deste ponto em diante, que convém a Seu bom nome, e, portanto, tem “a escala do mérito (inocência)”.

No entanto, toda a tristeza e sofrimento amargo que foi profundamente gravado em suas emoções por todos os dias e anos durante os quais recebeu a Providência da Ocultação da Face (Itens 80-82) – isto é, dos tempos passados antes de obter o dito Arrependimento – ainda são válidos, e são chamados de “a escala da culpa (Item 110)”. E têm as duas bandejas definidas uma contra a outra. Do momento do seu arrependimento e antes, o lado da culpa é disposto e ainda válido; e do momento de seu arrependimento em diante, a escala da inocência é disposta e garantida. Isto significa que o momento do arrependimento é definido  entre  (bein)  a culpa e (bein) a inocência, e, portanto, são chamados medíocres (beinonim).

131) E aqueles que merecem o segundo grau da Revelação da Face, que é chamada Arrependimento Por Amor (Item 64), onde suas ações maliciosas tornam- se méritos para eles (como mencionado acima, (Item 121) começando com as palavras: E este é o porquê…), são considerados como se tivessem apontado o lado da culpa mencionado acima ao lado da inocência. Isto significa que toda a tristeza e penosidade que foram gravadas nos seus ossos enquanto estavam sobre a Providência da Ocultação da Face é agora governado e apontado ao lado da inocência por causa de toda a tristeza e sofrimento foram transformadas em prazeres maravilhosos e ilimitados, (como mencionado acima (Item 108) começando com as palavras: Isto é análogo à…). E eles são agora chamados tzadikim [plural de tzadik, que significa “justo” ou “reto”] porque eles justificam (matzdikim) Sua Providência.

133) Também temos que saber que as coisas que dissemos em relação ao assunto do livre arbítrio sendo validos apenas durante o tempo da Ocultação da Face, (como mencionado acima (Item 53) começando com as palavras: Devemos saber…), não significa que depois que obtenha a Providência da Revelação da Face,   é livre para trabalhar e colocar esforço na Torá e as Mitzvot. O oposto é o caso: O trabalho principal na Torá e as Mitzvot propriamente começa depois que obtenha Arrependimento por Amor, porque apenas então é possível se envolver com a Torá  e as Mitzvot por amor e temor, como fomos ordenados, pois “o mundo foi criado se não para os justos completos”. (Tratado Berachot 61b)E devemos saber que o atributo acima mencionado do medíocre está também em vigor mesmo quando a pessoa está sob a Providência da Ocultação da Face, porque quando elas fazem um grande esforço em acreditar em recompensa e punição, uma Luz de grande certeza no Criador é revelada neles, e obtém, por enquanto, o nível da Revelação de Sua Face, como convém ao atributo de um medíocre. Mas a desvantagem é que não podem depender deste atributo permanecer permanentemente porque a única forma de mantê-lo permanentemente é através do Arrependimento por Temor, (como mencionado acima (Item 109) começando com as palavras: E aqui…).

Isto é análogo ao rei que desejou selecionar todos os seus sujeitos mais leais   e amados em seu país para si mesmo e colocá-los trabalhando dentro de seu palácio. O que ele fez? Ele emitiu e abriu um decreto no país, dizendo que qualquer um que queira, seja jovem ou venho, pode vir a ele e se envolver nos seus trabalhos internos do seu palácio. Mas ele levou muitos dos seus escravos e os colocou como guardas  na entrada do palácio e em todas as estradas que levavam ao seu palácio, instruindo- os a astuciosamente enganar todos aqueles que se aproximassem e os desviassem da estrada levando ao palácio.

Claro, todas as pessoas do país começaram a correr em direção ao palácio real, mas ao chegar, eram enganadas pela astúcia dos guardas diligentes. Muitos deles superaram os guardas e conseguiram se aproximar do portão do palácio. Mas os guardas no portão eram muito conscientes, e qualquer que chegasse próximo do portão era movido e empurrado com grande astúcia e habilidade ao ponto que eles voltavam de onde tinham vindo. E assim eles vinham e voltavam novamente; e novamente ganhavam força, vinham novamente e voltavam, e assim eles fizeram de novo e de novo por dias e anos até que eles ficaram desmotivados de tentar mais. E apenas o mais valente deles, que teve paciência suficiente, derrotou estes guardas e abriu o portão imediatamente, conseguindo ser recebido e ver a face do rei, que deu a cada um a tarefa própria que melhor convinha.

E, naturalmente, daí em diante, eles não tiveram mais relações com estes guardas, que tentaram desviá-los e empurrá-los para longe e fizeram suas vidas amargas por muitos dias e anos, ao ir e voltar diante do portão, porque eles mereceram trabalhar e servir com respeito à glória da luz da face do rei dentro do palácio. E este é também o caso no trabalho do justo (tzadik) completo, já que o livre arbítrio que era válido durante o tempo da Ocultação da Face certamente não é mais válido no momento que eles abrem o portão e percebem a Providência Visível.

De fato, se começa com a essência do trabalho no aspecto da Revelação da Face porque é quando se começa a subir os muitos degraus da escada que tem base na Terra e seu topo atinge os Céus. Este é o segredo da passagem: “E os justos irão de um triunfo a outro” (Salmos 84:8). E isto é o que se entende pelas palavras dos sábios: “que todo justo é queimado pela copa de seu amigo” (Tratado Bava Batra 7a) porque estes trabalhos os preparam para a Vontade do Criador, para que Seu Pensamento da Criação – que é “satisfazer Suas criaturas com alegria” de acordo com Sua generosidade e bondade – seja manifesto neles.

134) E é bom conhecer esta lei Superior: que não há revelação exceto no lugar onde havia ocultação antes. Este é também o caso com assuntos mundanos, onde o vazio existe antes da revelação; por exemplo, o crescimento do trigo é revelado apenas onde foi semeado e E este é também o caso nos assuntos Superiores, onde a ocultação e revelação são relacionadas uma com a outra, assim como o pavio e a luz que se adere a ele, porque depois de qualquer ocultação atingir correção, a luz particular relacionada a este tipo de ocultação é revelada devido a ele. E a luz que é manifesta se adere a ela assim como a luz ao pavio, e lembre-se disto  em todas as tuas jornadas.

135) Agora você deve entender o que nossos sábios disseram: que toda a Torá consiste dos Nomes do Criador (Zohar, Há’azinu, 281). Isto é aparentemente algo peculiar porque se pode encontrar muitas coisas rudes, como os nomes dos perversos, como Faraó e Bilam e outros como eles, assim como as proibições e impurezas, e maldições cruéis em duas admoestações (nas porções Bechukotai e Ki Tavo), e semelhantes. Assim como podemos entender que tudo isto podem ser os Nomes do Criador?

136) Para entender isto, temos que saber que Seus caminhos não são nossos caminhos porque nosso caminho é ir da imperfeição para a perfeição, enquanto Seu caminho é que todas as revelações cheguem a nós da Perfeição para a imperfeição. No princípio, a Perfeição completa foi emanada e emergiu dEle, e esta Perfeição descendeu de dentro da Sua Face e rolou a baixo por uma contração após outra através de vários estágios até que atingiu o estágio final mais contraído, que é mais apropriado a nosso mundo material, e então é revelada para nós aqui neste mundo.

137) E do que foi dito, você aprenderá que a Torá Sagrada, a excelência do que é sem fim, não emanou e veio dEle de uma vez, pois ela existe antes de nós aqui neste mundo, pois é conhecido que a Torá e o Criador eram um e o mesmo, mas na Torá deste mundo, isto não é Não apenas isto, mas (veja Item 17) qualquer que estude a Torá Lo Lishmá, a Torá torna-se para si uma poção de morte, (como foi mencionado acima (Item 102) começando com as palavras: E é por isto que é dito…).

Mas como mencionamos anteriormente, quando ela emanou dEle no princípio, ela emanou e emergiu em completa perfeição, ou seja, de acordo com o aspecto da Torá e o Criador sendo realmente um e o mesmo. E é por isto que é chamada a Torá de Atzilut (Emanação), como aprendemos (na Introdução ao Tikunei HaZohar página 3b): que Ele e Sua Essência e Suas causações são Um. E depois, desceu da Frente de Sua Face, e contraiu-se por muitos estágios de contração até ser dada no Sinai, onde foi escrita da mesma forma como temos agora neste mundo, como foi vestida nas Vestes rudes que são do mundo  material.

138) Entretanto, saiba que mesmo apesar da distância entre as Vestes que a Torá é vestida neste mundo e aquelas no Olam Atzilut seja imensurável, como mencionado acima (veja Item 137); porém, a Torá em si, ou seja, a Luz dentro destas Vestes, não é diferente, assim não há diferença entre a Torá do Olam Atzilut e a Torá deste mundo. Este é o segredo do verso: “Pois Eu, o Criador, não mudo” (Malachi 3:6). Além disto, estas Vestes rudes da nossa Torá de Assiá (Ação) não são, Deus proíba, uma degradação para a Luz que se cobre com elas. Ao contrário, visto da perspectiva do fim da sua correção, sua importância é imensuravelmente mais que qualquer uma de suas Vestes puras que estão nos Mundos Superiores.

E o motivo para isto é que a ocultação é a causa para a revelação. Porque quando a ocultação é corrigida durante o tempo da revelação, ela se torna a revelação assim como o pavio é para a luz que se adere a ela, como mencionado acima. Durante a correção, quanto maior é a ocultação, maior a Luz que será revelada e aderida a  ela. Assim, todas estas Vestes rudes que a Torá assumiu neste mundo não constituem nenhuma diminuição de valor relativo à Luz que a veste, ao contrário, é o oposto, como explicado.

139) E com o seguinte, Moisés teve a vitória sobre os anjos, alegando “Existe inveja entre vocês? Pode a má intenção ser encontrada entre vocês?” (Tratado Shabat, 79a) Estude isto bem. Isto significa, como explicado, que a maior ocultação revela a maior Luz. E ele os mostrou que as Vestes puras que a Torá se cobre no mundo dos anjos não são adequadas para revelar as maiores Luzes, como é possível com as Vestes deste mundo, como foi explicado.

140) E foi deixado claro que não há mudança, Deus proíba, em qualquer coisa da Torá de Atzilut até a Torá deste mundo porque a Torá e o Criador são um e o mesmo. Toda a diferença está nas Vestes, porque as Vestes deste mundo ocultam o Criador e O escondem, como mencionado anteriormente ((Item 101) começando com as palavras: O verso diz…). E saiba que porque Ele Se cobriu com a Torá, Ele é chamado “Professor” (morê), que vai lhe mostrar que mesmo durante a Ocultação da Face, e mesmo no seu aspecto de Dupla Ocultação (Ocultação dentro de Ocultação), (como mencionado anteriormente (Item 52) começando com as palavras: E Ocultação…), o Criador prevalece na Torá e é envolvido por ela.

Isto é porque Ele é o “Morê” (Professor) e ela é a “Torá” (Ensinamento), exceto que as Vestes rudes da Torá parecem aos nossos olhos como asas (kanaf), que cobrem e ocultam o Professor, Que é envolvido por elas e é oculto dentro delas. E, de fato, quando uma pessoa obtém a Revelação da Face, isto é, o Arrependimento por Amor em seu quarto grau (como mencionado anteriormente, (Item 73) começando com  as palavras: O segundo nível…; e (Item 121) começando com as palavras: E este é o porquê…), é dito sobre si: “Teu Professor não Se esconderá (lit. yiknaf, “não se cobrirá por asas”) mais, mas teus olhos verão teu Professor” (Isaías 30:20). Pois deste momento em diante, as Vestes da “Torá” (Ensinamento), e Ele (o Criador) é revelada para ela eternamente, porque a Torá e o Professor são um e o mesmo.

141) E isto clarificará as palavras dos nossos sábios na passagem: “Eles Me abandonaram mas mantiveram Minha Torá”, que significa: “Gostaria que eles Me abandonassem, mas mantivessem Minha Torá porque a Luz nela os reforma” (Talmud de Jerusalém, Tratado Hagigá 81a:7) Isto pode parecer estranho, mas sua intenção foi que jejuando e realizando austeridades, para encontrar a Revelação da Sua Face, conforme é dito: “Eles buscam a proximidade com o Criador” (Isaías 58:2). E as Escrituras lhes falam em nome do Criador, Que diz, “Gostaria que vocês Me deixassem porque todos os seus esforços são em vão e inúteis porque Eu não sou encontrado em nenhum lugar exceto na Torá; portanto, siga a Torá e Me procure  lá, e a Luz nela os reformará, e vocês Me encontrarão”, (como explicado acima (Item 95) começando com as palavras: E agora…), na passagem das escrituras: “Aqueles que Me buscam diligentemente Me encontrarão”, (Provérbios 8:17) estude lá (Itens 41 e 93-94).

142) Agora podemos explicar um pouco o significado da sabedoria da Cabalá em uma forma que poderia ser suficiente para nos dar uma ideia verdadeira da natureza desta sabedoria, para não nos iludir com falsas noções que a maioria das pessoas imaginam em suas mentes. E é importante que você saiba que a Santa Torá é dividida em quatro aspectos que envolvem toda a realidade. Existem três aspectos que são discernidos constituindo a totalidade da realidade neste mundo, e são chamados “Mundo” (Olam), “Ano” (Shaná) e “Alma” (Néfesh); o quarto aspecto é a forma que estes três aspectos da realidade coexistem, isto é, sua nutrição, sua conduta e todas as suas interações.

143) Explicação: Os valores externos da realidade, tais como os Céus, os firmamentos, a Terra, os mares etc., mencionados na Santa Torá, são todos referidos pelo termo “Mundo” (Olam). A parte interior da realidade, ou seja, os vários tipos de homens, bestas, animais e vários pássaros mencionados na Torá que podem ser encontrados naqueles lugares que são chamados externos, são referidos pelo termo “Alma” (Néfesh).

E o desdobramento do desenvolvimento dentro da realidade, juntamente com suas gerações, são causa e efeito – por exemplo, a cadeira das “cabeças das gerações” mencionadas na Torá, de Adão até Josué e Caleb que chegaram na terra de Israel, onde o pai é considerado a “causa” relativo ao filho, que é o “efeito” – assim o aspecto deste desdobramento do desenvolvimento da realidade, em termos de causa e efeito, é chamado pelo nome “Ano” (Shaná). E todas as formas de existência de toda a realidade, em termos de seus aspectos exteriores e interiores, como mencionado acima, incluindo todas as formas que eles são conduzidos e suas interações mencionadas na Torá, são chamados “a existência da  realidade”.

144) E saiba que os Quatro Mundos referidos na Sabedoria da Cabalá – Atzilut, Briá, Yetzirá e Assiá – se desenrolam como uma cadeia de eventos. Eles vêm um do outro como um aspecto de “carimbo e selo”. Isto significa que tudo que é inscrito no carimbo é, necessariamente, revelado e vem no selo que vem dele, nem mais e nem menos. Este foi o caso na cadeia de evolução dos Mundos, ou seja, como todos os quatro aspectos – Mundo, Ano, Alma e sua existência, como mencionado acima – que existem no Mundo de Atzilut – emergiu pois sua forma foi selada e apareceu também no Mundo de Briá, e então do Mundo de Briá ao Mundo de Yetzirá, até o Mundo de Assiá.

De tal maneira, que todos os aspectos da realidade antes de nós chamados Mundo, Ano e Alma (Néfesh), com todas as suas formas de existência dispostos na nossa frente aqui neste mundo, foram estendidos do Mundo de Yetzirá e apareceram aqui. E o Mundo de Yetzirá foi estendido do que estava acima dele de tal forma que a fonte de todos estes detalhes inumeráveis em frente dos nossos olhos existe no Mundo de Atzilut. Não apenas isto, mas também estas inovações que aparecem em nosso mundo nestes dias precisam primeiro serem reveladas acima no Mundo de Atzilut.

E é de lá que desce e se revela aqui neste mundo. Como nossos sábios disseram: “Não há uma planta abaixo que não tenha um mazal (signo, anjo) que lhe golpeia e diz, ‘Cresça!’” (Bereshit Rabá, 10:6) E este é o segredo por trás da passagem: “Ninguém levanta um dedo Abaixo a não ser que seja declarado Acima” (Tratado Chulin, 7b). Entenda isto bem.

145) E saiba que o aspecto da Torá vestido nos três aspectos da realidade – Mundo, Ano, Alma e sua existência física neste mundo, como mencionado acima (Item 142) – é onde temos o proibido, o impuro, e o desqualificado que aparece na Torá Revelada, em que o Criador é vestido, como explicado anteriormente (Itens 101 e 140). Este é o segredo de “o Criador e a Torá são um e o mesmo” embora através do desaparecimento e grande ocultação, porque estas Vestes materiais são as asas que O cobrem e ocultam. E como para a Torá ser vestida no aspecto do puro Mundo, Ano e Alma e sua existência nos três Mundos Superiores de Atzilut, Briá e Yetzirá – estes são chamados, apesar de tudo, “a Sabedoria da Cabalá”.

146) Assim, a Sabedoria da Cabalá e a Torá Revelada são um e o mesmo. Mas enquanto uma pessoa experimenta o aspecto da Providência como a Ocultação da Face e o Criador se oculta na Torá (como mencionado acima, (Item 101) começando com as palavras: O verso diz…), é considerado que está se envolvendo com a Torá Revelada. Isto significa que não é capaz de receber nenhuma iluminação da Torá de Yetzirá, e é desnecessário dizer, menos ainda dos acima de Yetzirá.

Mas quando uma pessoa merece a Revelação da Face, como mencionado acima ((Item 109) começando com as palavras: E aqui…), ela então começa a se envolver com a Sabedoria da Cabalá. Isto é porque as próprias Vestes da Torá Revelada são feitas puras através dela, e sua Torá torna-se a Torá de Yetzirá, que é chamada “a Sabedoria da Cabalá”.

E mesmo para aquele que obtém a Torá de Atzilut (Emanação), isto não significa, Deus proíba, que as letras da Torá alteraram sua ordem, mas que as mesmas Vestes da Torá Revelada foram purificadas por ela. Estas se tornam extremamente transparentes, tornando-se de acordo com o segredo da passagem: “Teu Professor não Se ocultará mais, e teus olhos verão teu Professor”, como mencionado acima (Item 140), porque então todas as Vestes tornam-se “Ele, Sua Essência e Suas causações são Um e o mesmo”, como mencionado acima (Item 140).

147) Para trazer isto mais próximo ao nosso entendimento, te darei um exemplo. Enquanto a pessoa estava no período da Ocultação da Face, as letras e as Vestes da Torá estavam, necessariamente, ocultando o Criador. Este é o porquê falhou através dos pecados intencionais e não intencionais que cometeu e esteve sob a vara da punição, Deus proíba, destas Vestes rudes da Torá, que são as impurezas, proibições, desqualificações, etc.

No entanto, quando merece a Providência Visível e goza do Arrependimento por Amor (Item 64), onde seus pecados intencionais tornam-se como méritos para  si, então todas as más ações e erros que falhou durante o tempo que estava sob a Ocultação da Face, foram agora tiradas suas Vestes muito rudes e amargas e as cobriram com Vestes da Luz, Mitzvot e méritos, (como dissemos acima (Item 121) começando com as palavras: E este é o porquê…); estude isto bem. Então agora elas são o aspecto das Vestes que estendem do Mundo de Atzilut (Emanação), ou Briá (Criação), e elas não ocultam (maknifim, “cobrem como se com asas”) o Professor. Muito pelo contrário, de fato: “Teus olhos verão teu Professor”, como mencionado acima (Item 140).

Assim, não há troca de nada, Deus proíba, entre a Torá de Atzilut e a Torá deste mundo, isto é, entre a Sabedoria da Cabalá e a Torá Revelada. A única distinção é em relação à pessoa que se envolve com a Torá: Você pode ter dois indivíduos que se envolvem com a Torá com relação à mesma Halachá e literalmente usando uma linguagem, e com tudo isto, a Torá para um será do aspecto da Sabedoria da Cabalá e a Torá de Atzilut, enquanto para o outro, será a Torá de Assiá e a Torá Revelada, e entenda isto bem.

148) E por isto, você entenderá quão legítimas são as palavras do Gaon, Rav Eliyahu de Vilnius (em seu livro de orações, nas bênçãos da Torá). Ele escreve que deve-se começar a Torá com o Sod (segredo, oculto), ou seja, a Torá Revelada de Assiá, que está na categoria do oculto porque o Criador Se oculta nela completamente, como mencionado acima (Item  41).

E, após, deve continuar com o Remez (dica), que significa o que foi revelado na sua maior parte na Torá de Yetzirá. E finalmente, chega ao Peshat (literal, explícito), que é o segredo da Torá de Atzilut, que é chamado Peshat (literal, explícito) porque são retiradas (nitpashta) todas as Vestes que ocultam o Criador, como explicado.

149) E após termos alcançado este ponto, podemos dar alguma ideia e discernimento em relação aos Quatro Mundos conhecidos na Cabalá pelos nomes: Atzilut, Briá, Yetzirá e Assiá de Kedushá (Santidade). E os quatro Mundos: ABYA das Klipót (cascas), que são dispostos de acordo com o segredo de: “um oposto ao ” (Eclesiastes 7:14) em relação à ABYA de Kedushá que foi mencionada acima.

Todas estas podem ser entendidas da explicação acima (Item 64), sobre os quatro aspectos de perceber a Providência do Criador e sobre os quatro estágios do amor. Assim, primeiro, explicaremos os quatro Mundos ABYA de Kedushá, começando do mais abaixo, do Mundo de Assiá.

150) Nós explicamos acima (Item 19, começando com as palavras: E aqui…) os primeiros dois aspectos da Providência da perspectiva da Ocultação da Face; estude isto bem. E saiba que os dois correspondem ao Mundo de Assiá (Ação), e é por isto que foi afirmado no livro A Árvore da Vida (Etz Chayim, Portão 48, Item 3) que o Mundo de Assiá (Ação) é na maior parte mal, e mesmo a menor quantidade de bondade que está nele é também misturada com o mal, tanto de modo que é irreconhecível (fim da citação).

Isto significa que à medida que se trata de Uma Ocultação (como mencionado acima, Item 50, começando com as palavras: Este não foi…), podemos entender que é na maior parte mal, aludindo ao sofrimento e dor que as pessoas sentem sob esta Providência. E à medida que se trata da Dupla Ocultação (Ocultação dentro de Ocultação), encontramos que o bom também se mistura com o mal, mas  o bom passa completamente despercebido (como mencionado acima, Item 52, começando com as palavras: E Ocultação…).

O primeiro aspecto da Revelação da Face é o aspecto do Mundo de Yetzirá,  é o porquê é afirmado no livro A Árvore da Vida (Portão 48, Item 3) que o Mundo  de Yetzirá é meio mal e meio bom (fim da citação). Isto significa, (como vimos acima (Item 138) começando com as palavras: Entretanto…), que qualquer que perceba o primeiro aspecto da Revelação da Face – o primeiro grau do Amor que Depende de Algo – que é chamado Arrependimento por Temor – é chamado um medíocre, e metade dele é culpado e metade dele é inocente, como mencionado acima (Item 114).

O segundo aspecto do amor – (como mencionado acima, (Item 70) começando com as palavras: O primeiro atributo…), que também Depende de Algo, mas não tem traço de qualquer mal ou dano nele – também o terceiro grau do amor – (como mencionado acima Itens 72-73), que é o primeiro grau do Amor que Não Depende de Algo – ambos correspondem ao Mundo de Briá. Portanto, é afirmado no livro A Árvore da Vida (Portão 48, Item 3) que o Mundo de Briá é na maior parte bom e menos mal, e que o menor mal não é notado; estude isto bem. Isto significa, (como mencionado acima (Item 117) começando com as palavras: E o Tanna fala…) no comentário do Braita, que porque o medíocre merece uma Mitzvá, ele aponta sua própria balança em direção ao lado da inocência, e por este motivo é referido como na maior parte bom; ou seja, o segundo grau do amor.

E o menor mal imperceptível que é encontrado no Mundo de Briá estende do terceiro grau do amor, que não depende de algo, e também já se apontou a escalar para si mesmo em direção ao lado da inocência (Item 110), mas ainda não apontou  a balança para o mundo todo (como mencionado acima, (Item 119) começando com as palavras: E foi explicado…). E a conclusão é que o mínimo de mal está nela porque este amor ainda não é considerado eterno, como mencionado lá; estude isto bem.  De fato, este menor mal não é perceptível porque não se sentiu qualquer mal ou dano mesmo em relação aos outros (como mencionado acima, (Item 72) começando com as palavras: O segundo atributo…).

O quarto grau do amor – amor que não depende de algo e é também eterno (como mencionado acima (Item 73) começando com as palavras: O segundo nível…  e (Item 121) começando com as palavras: E este é o porquê…) – corresponde ao Mundo de Atzilut (Emanação). E isto é o que é dito no livro, A Árvore da Vida [Portão das Klipót 48:3]: que no Mundo de Atzilut, não há qualquer mal, e este é o significado secreto da passagem: “O mal não pode permanecer com Você” (Salmos 5:5). Porque aquele que aponta para o mundo todo em direção ao lado da inocência, o amor torna-se eterno e absoluto, e toda a cobertura e ocultação se foram para sempre.

Isto é porque é o local da completa Revelação da Face, de acordo com o significado secreto das palavras: “Teu Professor não Se ocultará mais, mas teus olhos verão teu Professor” (Item 140), porque agora já sabe todas as formas que o Criador trata com Suas criaturas, de acordo com o aspecto da verdadeira Providência que é manifesta pelo Nome. Aquele que é bom e faz o bem para o mal e o bom, como mencionado acima (Item 73).

151) Através disto, você pode entender também os quatro Mundos ABYA das Klipót como eles são dispostos contra os Mundos ABYA de Kedushá. Este é o significado secreto de: “O Criador fez um oposto ao outro” [(Eclesiastes 7:14)] (Item 149). Isto é porque a Carruagem das Klipót de Assiá (Ação) corresponde à Ocultação da Face nos dois graus porque esta Carruagem governa para fazer com que a pessoa aponte em direção ao lado da culpa, Deus proíba.

E o Mundo de Yetzirá das Klipót detém a escala da culpa com suas mãos, que não foi corrigido no Mundo de Yetzirá de Kedushá (como discutido acima, Item 121, começando com as palavras: E este é o porquê…). E assim, eles tomam o controle sobre os medíocres, que recebem do Mundo de Yetzirá, como mencionado acima,   de acordo com o segredo: “O Criador fez um oposto ao  outro”.

E o Mundo de Briá das Klipót tem o mesmo poder de cancelar o amor que depende de algo; isto é, cancelar as coisas em que o amor depende, que é a imperfeição do amor do segundo grau.

E o Mundo de Atzilut das Klipót apega firmemente sobre o menor mal imperceptível que existe no Mundo de Briá através do poder do terceiro grau do amor. Embora seja o amor real que vem do poder de “Aquele que é bom e faz o bem para os maus assim como para os bons”, que é o aspecto de Atzilut de Kedushá, ainda com tudo isto, porque não mereceu em sua forma apontar o mundo todo para o lado da inocência, a Klipá (Casca) tem o poder de fazer este amor falhar, pelo poder da Providência sobre os outros (como mencionado acima, (Item 72) começando com as palavras: O segundo atributo…).

152) E isto é o que é dito em Etz Chayim (A Árvore da Vida): que o Mundo de Atzilut das Klipót (Cascas) está contra o Mundo de Briá e não Atzilut; estude lá. Isto significa, conforme dissemos, que no Mundo de Atzilut de Kedushá, do q apenas o quarto grau do amor é estendido, as Klipót não têm qualquer controle. Isto é porque já apontou para o mundo todo em direção ao lado da inocência, e sabe todas as relações do Criador – incluindo Sua Providência sobre todas as criaturas – como  a Providência do Seu Nome: “Aquele que é bom e faz o bem para o mal e para o bom”. Mas no Mundo de Briá – do qual o terceiro grau vem, que ainda não foi apontada para o mundo todo – as Klipót ainda têm alguma retenção. Estas Klipót,  no entanto, são consideradas a Atzilut das Klipót porque elas estão contra o terceiro grau, que é ‘amor que não depende de algo’, como mencionado acima (Item 72). Este amor é o aspecto de Atzilut.

153) E, por este meio, os Quatro Mundos ABYA de Kedushá foram bem explicadas, assim como a das Klipót que constituem o “lado oposto” de todo e cada Mundo. Elas são o aspecto do vazio que existe em oposição aos Mundos de Kedushá. E elas são chamadas os Quatro Mundo ABYA das Klipót, como explicado.

154) Estas palavras são suficientes para qualquer estudante de alguma forma sentir a essência da Sabedoria da Cabalá. E saiba que a maioria dos autores dos livros de Cabalá apenas quiseram escrever para aqueles estudantes que já tivessem recebido a Revelação da Face e todos os Entendimentos Superiores, como mencionado E não devemos perguntar: mas se eles já ganharam Entendimento, então eles sabem tudo por seus próprios insights, assim porque eles deveriam estudar os livros de Cabalá de outros?

De fato, esta questão não é sábia porque é como uma pessoa que se envolve com a Torá Revelada mas não tem ideia sobre a forma que este mundo é conduzido em termos de Mundo (Olam), Ano (Shaná) e Alma (Néfesh) deste mundo, como mencionado acima, e não conhece os vários caminhos dos humanos e como eles se conduzem e como eles se interagem com os outros. Também não conhecem as bestas, os animais e as aves que estão neste mundo. E você poderia imaginar que tal pessoa seria capaz de entender propriamente algo na Torá? Pois tal pessoa transformaria a Torá, chamando o mal “bom” e o bom “mal”, e não seria capaz de encontrar tanto os braços ou pernas em algo.

Este é o caso com o assunto em questão, porque mesmo que alguém mereça Entendimento – e mesmo se o Entendimento é da Torá de Atzilut (Emanação) – ainda não sabe nada exceto coisas que tem relevância em relação a sua alma e si mesmo. Ele ainda tem que conhecer – em completa consciência – todos os três aspectos mencionados anteriormente: Mundo, Ano e Alma, em todos os seus casos  e formas de comportamento, para que seja capaz de entender o assunto da Torá que se relaciona àquele Mundo. Isto é porque estes assuntos, em todos seus detalhes e sutilezas, são explicados no Zohar e em verdadeiros textos da Cabalá que cada sábio que compreende isto por conta própria precisa contemplar dia e  noite.

155) Consequentemente, se deveria perguntar porque, portanto, os cabalistas exortaram todas as pessoas para estudar a Sabedoria da Cabalá. Há de fato uma grande questão lá, e é digno tornar-se conhecido por todos! Há uma virtude inestimável para aqueles que se envolvem no estudo da Sabedoria da Cabalá – mesmo quando não entendem o que estão estudando – já que é pelo forte desejo e a vontade de entender o que estão estudando que os estudantes despertam sobre si mesmos as Luzes Circundantes de suas almas. Isto significa que todo Israelita tem a garantia que eventualmente alcançará todos os Entendimentos maravilhosos que o Criador planejou em Seu Pensamento da Criação – conceder o prazer sobre todas  as criaturas.

E qualquer que não atinja isto em sua encarnação atingirá na próxima, ou na próxima, ou na próxima etc., até que consiga completar o Pensamento do Criador que Ele planejou para si e isto foi explicado no Zohar, como é bem conhecido. Agora, enquanto a pessoa não obtiver esta completude, estas Luzes que vão alcançá-lo no futuro são consideradas como sendo o aspecto das Luzes Circundantes. Isto significa que elas estão em pé prontas para ela, mas elas esperam pela pessoa merecer purificar seu Receptor de Recepção, e então estas Luzes entrarão nos Receptores apropriados.

Portanto, mesmo quando ainda faltam os Receptores, no entanto, quando uma pessoa se envolve com esta Sabedoria e menciona os Nomes das Luzes e Receptores, que, na medida que se trata da alma, pertencente a ela, elas imediatamente brilham sobre ela até um certo grau, embora elas brilhem sobre ela sem incorporarem-se na interioridade de sua alma. Isto é porque os Receptores apropriados para Recepção estão ausentes, como explicado. De fato, a iluminação que recebe repetidamente durante seu envolvimento faz a graça se estender a ela desde Cima e o concede uma abundância de santidade e pureza, que o traz muito próximo de atingir sua perfeição.

156) Mas, há uma condição estrita durante o envolvimento nesta Sabedoria – não deve tentar materializar os assuntos através de questões imaginárias e materiais. Porque isto pode constituir uma violação de: “Não faça para si uma imagem de escultura, nem qualquer tipo de semelhança”. Neste caso, receberia realmente dano ao invés de benefício. Por isso, nossos sábios alertaram a estudar esta Sabedoria apenas após os quarenta anos, ou de um Rabi, e outras precauções do gênero. E tudo isto é por causa do motivo acima.

Portanto, com a ajuda do Criador, eu preparei os comentários “Face Iluminada” [Panim Meirot] e “Face Acolhedora” [V’Panim Masbirot], que comentam  o livro Etz Chayim (A Árvore da Vida) e, que eu preparei para salvar  os estudantes  de qualquer materialização.

De fato, depois das primeiras quatro partes destes comentários serem imprimidas e disseminadas entre os estudantes, eu percebi que não tinha terminado minha tarefa como comentarista como eu tinha pensado, e que todos os grandes esforços colocados em explicar e expor para que estas coisas ficassem claras sem quase nenhuma dificuldade. Isto é porque os estudantes não sentem qualquer grande obrigação em estudar diligentemente o significado de toda e cada palavra diante deles e repeti-las numerosas vezes de forma suficiente para eles lembrarem delas bem depois no livro toda vez que esta mesma palavra aparecesse novamente. E por esquecer o significado de certa palavra, algumas coisas ficariam confusas. Isto é porque estes assuntos são tão sutis que não ter o significado de uma palavra poderia ser suficiente para confundir todo o assunto.

Assim aqui, para corrigir isto, eu comecei a escrever “O Significado dos Mundos”, organizado alfabeticamente, de todas as palavras que são apresentadas nos textos da Cabalá que precisam de comentário. Por um lado, eu reuni todos os comentários do Ari e o restante dos primeiros cabalistas, citei tudo o que eles disseram sobre uma palavra em particular; e por outro lado, eu expliquei a essência de todos estes comentários e coloquei junto uma definição fiel para clarificar o significado daquela palavra ao ponto onde esta definição seria suficiente para o estudante entender a palavra em todo e cada lugar que encontrasse em todos os livros autênticos de Cabalá, dos mais antigos aos mais recentes. E eu fiz isso para todas as palavras comumente usadas para a Sabedoria da  Cabalá.

E com a ajuda do Criador, eu já imprimi as palavras começando com a letra Álef e também algumas da letra Bet, e apenas de um lado, e elas chegaram próximas de mil páginas. De fato, por causa da falta de dinheiro, eu parei o trabalho neste início. Já faz mais de um ano desde que eu interrompi esta importante tarefa e apenas o Criador sabe se ou não eu serei capaz de suceder nisto porque as despesas são muito grandes e eu não tenho ninguém para me ajudar neste momento.

Portanto, eu tomei agora uma rota diferente, de acordo com o provérbio “ter menos é ter mais” e que está neste livro: Talmud Eser Sefirot – O Estudo das Dez Sefirot do Ari. Eu preparei uma coleção de artigos dos livros escritos pelo Ari, especialmente deste livro Etz Chayim (A Árvore da Vida). Estes são todos os artigos principais que tem a ver com a explicação das Dez Sefirot, e eu os coloquei na parte superior de cada página. Então eu procedi fazendo um comentário extensivo chamado “Ohr Pnimi – Luz Interior” e um segundo comentário chamado “Histaklut Pnimi – Observação Interior”, que explica cada palavra e cada assunto mencionado nas palavras do Ari que aparecem na parte superior da página. Eu usei uma linguagem simples e fácil o máximo que pude.

Eu dividi o livro em dezesseis partes, cada parte sendo uma lição em um tópico particular nas Dez Sefirot, com a “Ohr Pnimi – Luz Interior” explicando principalmente as palavras do Ari citadas naquela lição, e “Histaklut Pnimi – Observação Interior” explicando a essência do assunto em geral. Em cima destas, eu organizei uma Tabela de Perguntas e uma Tabela de Respostas cobrindo todas as palavras e conceitos que são discutidos em cada seção. Depois de o estudante ter completado cada seção, ele pode se testar respondendo propriamente cada pergunta contida na Tabela de Perguntas.

E depois que responder, pode olhar para a Tabela de Respostas, na resposta pertencente àquela pergunta, para ver se as respondeu corretamente. E mesmo se souber todas as respostas para todas as perguntas na memória, ele deve repetir as perguntas várias vezes, até que elas estejam como se contidas em uma caixa, porque então será capaz de lembrar a palavra sempre que for necessário, ou pelo menos lembrar onde está localizado para poder encontrá-la. “E que seja a Vontade do Criador que seja bem sucedido”.

A Ordem do Estudo

Estude primeiro o artigo “interior” – isto é, as palavras do Ari impressas no topo da página – até o fim do livro. E mesmo que você não entenda, repita-as várias vezes, de acordo com o dito: “Do início ao fim, o entendimento é aprimorado”. Depois disto, estude o comentário “Ohr Pnimi – Luz Interior” e ponha esforço nele, ao ponto que você seja capaz de estudar e compreender o artigo interior mesmo sem ajuda do comentário. E depois disto, estude o comentário “Histaklut Pnimi – Observação Interior” até que você o entenda e lembre-se dele completamente. E depois de tudo isto, teste-se com a Tabela de Perguntas, e depois de você ter respondido cada pergunta, cheque a resposta que está marcada com a mesma letra que a questão; faça isto com toda e cada pergunta.

Estude, memorize e repita elas um número de vezes até que você lembre-se delas tão bem até que você se lembre das primeiras duas partes para que nenhum significado fique faltando. E a pior coisa seria que o estudante nem percebesse que ele esqueceu; ao invés, ou as coisas iriam confundi-lo, ou ele chegaria a uma má interpretação do assunto por causa do seu esquecimento. E, claro, um erro é seguido por dez outros erros, até que chega a uma completa incompreensão e tenha que largar o estudo completamente.