Capítulo 1: A Busca do Homem pela Unidade
Do livro “Interesse Próprio vs. Altruísmo na Era Global”
Quando a pior crise financeira desde a Grande Depressão eclodiu em agosto de 2008, muitos políticos e financistas em posições-chave enfatizaram a necessidade de unidade e cooperação. Eles expressaram a necessidade de conter o quadro egocêntrico da mente dominando Wall Street e expressaram um medo de tendências separatistas e protecionistas. Manchetes como a de The Economic Times, “Líderes Mundiais Procuram a Unidade para o Combate à Crise Financeira”, prevaleceram em jornais de todo o mundo, sinalizando uma disposição geral para a união e cooperação diante da incerteza econômica.
À primeira vista, esse espírito é compreensível, senão necessário. Afinal, financistas do mundo sabiam que suas instituições estavam ligadas entre si tão firmemente que, se uma falhasse, as outras falhariam também, e os políticos foram advertidos de que, se não salvassem os bancos em seus países, suas próprias economias entrariam em colapso, precipitando um efeito dominó que faria a economia global despencar.
Frente a uma crise, no entanto, é natural fazer o oposto da união: fechar-se e proteger o que é seu. Essa parece ser uma rota mais segura do que unir forças com “estrangeiros”, especialmente quando os estrangeiros podem ser considerados culpados ou, pelo menos, colaboradores na ocorrência dessa situação.
Assim, os Estados Unidos ─ país geralmente considerado como principal perpetrador do surto e da rápida escalada da crise financeira ─ não sofrem de isolamento, porque a interconexão da economia mundial obriga economias como a da China a comprar dólares e, dessa forma, prover o sustento da economia americana.
Para os políticos, parece mais natural colocar seus países em primeiro lugar, como revelam as tarifas British Corn Laws, do século XIX, e o ato Buy American, do Presidente Hoover, de 1933. Como o delicado equilíbrio entre cooperação e interesses próprios ocila para frente e para trás, investigamos a destruição causada pela crise financeira e descobrimos que a maioria das vozes clama por união e denuncia o protecionismo e a separação. Por que isso acontece?
Se considerarmos essa questão por um aspecto puramente econômico ou psicológico, não chegaremos a uma resposta conclusiva. Quando a analisamos a partir da perspectiva da ciência da Cabala, vemos, no entanto, que as forças envolvidas nas relações internacionais, e na verdade em qualquer relação, são forças de integração, não de isolamento. Elas são muito mais poderosas do que qualquer processo racional ou irracional na tomada de decisão e determinam os nossos movimentos “nos bastidores”.
Em nível internacional, essas forças determinam comércio globalizado, política, tratados, conflitos e ecologia. Em nível nacional, determinam tendências em educação, política social, mídia e economia local. Em nível pessoal, elas determinam nossas relações com nossas famílias e, no nível mais profundo da existência, determinam a evolução ─ a nossa e a de todos os outros elementos da Natureza.
Quando compreendermos essas forças, entenderemos por que Napoleão, por exemplo, mordeu mais do que podia mastigar quando tentou conquistar a Rússia, por que Hitler fez o mesmo (e no mesmo país), e por que Bernard Madoff não parou até ser detido. A síndrome da “ponte longe demais” é uma armadilha tipicamente humana a que os maiores líderes do mundo e os futuros líderes não conseguem resistir. De fato, as forças que nos levam a nos comportar como o fazemos são tão parte de nós e de nosso mundo que não reconhecê-las é um risco que não devemos correr.
Para compreender as forças e os elementos que criam a realidade e alteram seu curso, é preciso primeiramente conhecer suas origens e seus destinos finais. Caso contrário, tentar compreender a realidade é como tentar compreender o funcionamento interno do motor de um carro, a conexão com a embreagem, a maneira como a embreagem muda a velocidade das rodas, e assim por diante, sem explicar que um carro é uma máquina construída para transportar pessoas com segurança, conforto e rapidamente de um lugar A para um lugar B. Sem explicar o propósito do carro, de que adianta discutir sua estrutura?
Como a ciência, a Cabalá investiga o funcionamento interno da realidade. Diferentemente da ciência, porém, que observa os fenômenos e oferece teorias quanto a seu objetivo final, a Cabalá vê primeiro o objetivo e, a partir daí, explica a estrutura. Esse objetivo, como explica a Cabalá, é que cada pessoa no mundo descubra a força única e fundamental que cria e governa toda a vida. Em outras palavras, o objetivo da Cabalá é que cada pessoa descubra a força criativa da vida, a obtenha e colha todos os benefícios que essa descoberta implica.
O Cabalista do século XX, Yehuda Ashlag, conhecido como Baal HaSulam (Dono da Escada) por seu Sulam (Escada), comentário sobre O Livro do Zohar, descreveu a Cabalá e o propósito da vida da seguinte maneira: “Esta sabedoria é nada mais, nada menos do que uma sequência de raízes, que pendem por meio de causa e consequência, por regras fixas e determinadas, entrelaçadas com um objetivo único e elevado, descrito como ‘a revelação do Criador para as criaturas neste mundo’”.
Nossas vidas são o veículo para alcançarmos esse propósito. Por isso os Cabalistas respeitam os fenômenos do nosso mundo físico, histórico e social como fases em direção a um objetivo final, e é dessa perspectiva que este livro irá discutir a história da humanidade e seu estado atual.
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