Como os Desejos se Tornam Mundos

Do livro “Interesse Próprio vs. Altruísmo na Era Global”

Continuando a alegoria Partzuf/empresa, a companhia, também conhecida como “Criação”, começa a organizar os desejos “desempregados” em sua lista de espera, colocando os mais fracos, mais fáceis de lidar no topo da lista, e os mais intensos, indisciplinados no final. A Criação divide esses desejos em quatro categorias, similares aos quatro estágios na evolução dos desejos. Refere-se a cada categoria como um arquivo Olam (mundo), da palavra hebraica Haalama (ocultação), uma vez que esses desejos devem ser mantidos separados e ocultos das luzes até que possam ser operados corretamente ─ com o objetivo de doar. Assim, os desejos com qualidades mais semelhantes ao Estágio Um são chamados “o mundo de Atzilut“; aqueles mais similares ao Estágio Dois, “o mundo de Beriá“; os mais semelhantes ao Estágio Três formam “o mundo de Yetzirá“; e os mais semelhante ao Estágio Quatro tornam-se “o mundo de “Assiyá” (Figura 8). Para simplificar, eles são chamados de “ABYA“.

Figura 8: A Criação divide os desejos remanescentes em quatro categorias, com características semelhantes às quatro fases da evolução dos desejos. Cada categoria se refere a um Olam (mundo), da palavra hebraica Haalama (ocultação).

Quando Cabalistas descrevem o reino espiritual ─ onde os desejos trabalham com a intenção de doar ─, geralmente os dividem em mundos e descrevem o que acontece neles (como os desejos realmente recebem). Eles, portanto, se referem a tudo o que precede o mundo de ABYA como um mundo também e o chamam “o mundo de AK” (Adam Kadmon ─ o homem primordial). De certa forma, o mundo de AK é paralelo ao Estágio Raiz, ou Estágio Zero, na evolução dos desejos.

Note-se que nosso mundo não é mencionado entre os mundos espirituais. Porque nosso mundo está baseado no egoísmo e os mundos da Cabalá refletem níveis de doação, nosso mundo não é considerado parte do sistema espiritual (com o propósito de doar).

O sistema espiritual está incessantemente evoluindo a partir da interação entre as suas forças, gradualmente fazendo mais com que seu desejo seja capaz de receber com a intenção de doar, construindo cada etapa baseado nas conclusões e ações executadas em suas fases anteriores. Da mesma forma como um bebê cresce, suas habilidades físicas  e cognitivas se desenvolvem a partir da construção de capacidades previamente  adquiridas e observações. Sem passar por esses estágios iniciais de desenvolvimento, os bebês não se tornam adultos. É claro, nós não mantemos nem precisamos manter essas observações do início da vida em nossa consciência enquanto vivemos nossa rotina diária, uma vez que se tornaram automáticas, mas, ainda assim, estamos constantemente usando-as em nossa vida adulta.

Ajudamos as crianças a adquirir novas capacidades e dados e as vigiamos para nos certificarmos de que não tentem fazer as coisas prematuramente. Da mesma forma, para completar o “amadurecimento” da criação em ser parecida com o Criador, é necessário aprender com quais desejos se pode trabalhar (receber a fim de doar), bem  como quais os desejos com que ainda não se pode trabalhar, porque iriam despertar os sentimentos de inferioridade e vergonha.

Assim, em cada mundo, a Criação examina cuidadosamente a luz (prazer) que o desejo de doar quis lhe transmitir. Em Atzilut, a Criação recebe toda a luz, já que Atzilut corresponde ao desejo do Primeiro Estágio ─ recepção de toda a  luz  “automaticamente”, não estando seu próprio desejo de receber envolvido. Por  essa razão, a combinação desejo-prazer em Atzilut é chamada “parada” ou “inanimada”, já que ainda é o desejo passivo.

Em Beriá, a Criação recebe menos luz, porque Beriá corresponde ao Estágio Dois,  que é um estado mais desenvolvido do desejo de receber ─ um desejo de doar como o Criador. Como Beriá corresponde ao primeiro desejo que reagiu à luz, a ele foi dado o nome do primeiro nível de vida: “vegetativo”.

Em Yetzirá, a Criação recebe ainda menos luz que em Beriá, porque Yetzirá  corresponde ao Estágio Três no desejo de receber, que recebeu apenas um pouco da luz para começar (veja Capítulo 2, “As Quatro Fases e a Raiz da Criação”). Ainda, é um estágio mais desenvolvido na evolução do desejo de receber, mostrando certo nível de autonomia. Por essa razão recebeu o nome do nível de evolução cujos membros mostraram ao menos alguma autonomia ─ “animado”.

Em Assiyá, a Criação recebe tão pouca luz que ela não é sentida como prazer, mas como mero sustento. Assiyá corresponde ao Estágio Quatro na evolução dos desejos e, assim como o Estágio Quatro experimentou a restrição, o mundo de Assiyá é impedido de experimentar a luz. Como, porém, corresponde ao último, mais desenvolvido e mais complexo nível do desejo, recebe o nome do seu paralelo físico: “humano” ou “falante”.

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