Capítulo 3: A ORIGEM COMPARTILHADA DA HUMANIDADE

Do livro “Interesse Próprio vs. Altruísmo na Era Global”

No capítulo anterior, falamos sobre o surgimento do desejo de receber no Estágio Um e do desejo de doar no Estágio Dois, como ramificação do desejo primordial de doar na Raiz. Também mostramos que, devido a seu desejo de doar, o desejo de receber foi reativado no Estágio Três e maximizado no Estágio Quatro. A maximização do desejo de receber levou a querer não apenas desfrutar, mas a realmente tornar-se como seu progenitor ─ o Estágio Raiz ─ e até mesmo a ter o status  de primazia do Estágio Raiz.  A realização posterior que não foi (ainda) possível induziu um senso de inferioridade inerente no Estágio Quatro, que levou a uma restrição ─ a eliminação de qualquer sensação de prazer (luz).

Também porque o desejo real do Estágio Quatro é pela primazia da Raiz, ele não se contenta com o prazer ilimitado que recebeu no Estágio Um. Em vez disso, deseja obter a natureza da Raiz, o Pensamento da Criação, e, consequentemente, a primazia da Raiz.

Assim, a eliminação do prazer no Estágio Quatro não é resultado de sua incapacidade de receber, nem consequência da incapacidade de doar da Raiz. A Raiz doa incessantemente, mas o desejo de receber não quer receber algo tão degradante como caridade (como descrito por Ashlag em “A Outorga da Torá”59). Por essa razão, porque o Estágio Quatro deseja adquirir o pensamento do doador e se tornar como seu Criador, a sua restrição é um desdobramento de sua decisão de não receber a não ser com a intenção de doar, porque assim  retribui o desejo de doar do Criador.

Para isso, o Estágio Quatro cria um mecanismo de três partes, chamado Partzuf (Face), para determinar se ele deve receber luz e, em caso afirmativo, quanto, com a intenção de doar a qualquer momento (Figura 6). A seção superior do Partzuf é chamada Rosh (Cabeça). Sua tarefa é determinar o quanto da abundância (luz) será recebida  pelo desejo de receber. O desejo de receber em si mesmo constitui a parte  inferior  do Partzuf, que é chamada Guf (Corpo).

Entre o Rosh (Cabeça) e o Guf (Corpo) ergue-se a Masach (Tela). Assim como uma membrana permeável seletiva permite que apenas algumas moléculas se infiltrem através dela, a Masach bloqueia a luz, permitindo que no Guf entre somente  a quantidade de luz que o Rosh decidiu que poderia receber com a intenção de doar, e, ao mesmo tempo, repele o restante da luz. Dessa forma, a Masach funciona como um guarda, garantindo que a degradação sentida imediatamente antes da restrição não irá retornar.

Figura 6: O mecanismo chamado Partzuf (Face): o Rosh (Cabeça) determina o quanto  da abundância (luz) se pode receber. O Guf (Corpo) é o desejo de receber em si mesmo, e entre o Rosh e o Guf ergue-se a Masach (Tela), que admite no Guf apenas tanta luz quanto possa ser recebida a fim de outorgar.

 

Em certo sentido, um Partzuf pode ser comparado a uma grande empresa, na qual o Masach é como o departamento de Recursos Humanos (HR). Se a gestão, o Rosh (Cabeça), pretende aumentar a produção (doação, nível de ser como o Criador), precisa contratar mais pessoas (desejos) para poder receber mais luz/prazer (para assim doar ao doador). Uma vez que novas pessoas são contratadas, serão admitidas na empresa (Guf, Corpo) e postas para trabalhar: recebendo prazer com a finalidade de doar.

Quando o Rosh decide que é hora de agir, o Masach ─ departamento de RH ─ seleciona os candidatos (desejos) e escolhe apenas os corretos. Um novo funcionário (desejo) não deve ser subqualificado (muito pequeno), uma vez que assim não traria prazer  ao Criador (porque não se pode sentir um grande prazer quando se tem um desejo pequeno por ele). Ele também não pode ser superqualificado (desejos demasiado intensos para serem usados com a intenção de doar), uma vez que despertar o desejo excessivo de receber resulta na degradação da criatura.

Em ambos, no Partzuf e em sua mundana empresa “de trabalho da mesma natureza” a que podemos chamar “Criação”,  um problema permanece sem solução: o  que acontece com os desejos (pessoas) que não foram empregados (para o trabalho de doação no Guf do Partzuf)? Elas estão condenadas ao desemprego eterno (rejeição)? Isso significa que sempre haverá luzes (prazeres) que o Criador deseja transmitir, mas que não podemos receber. Isso desafia o propósito da criação: possibilitar aos destinatários (Criação, nós) receber prazer sem limite, poder, conhecimento e supremacia do Criador.

De fato, eventualmente todos os desejos serão “contratados” e colocados para trabalhar, e todas as luzes serão recebidas. Para evitar sobrecarregar o sistema e correr o risco de um colapso total, alguns desejos, no entanto, devem ser temporariamente suspensos. As luzes que deveriam ser recebidas nesses desejos são, portanto, refletidas e permanecem como “luzes circundantes” (Figura 7).

Os desejos e as luzes que por enquanto não podem ser colocados para trabalhar aplicam uma pressão constante sobre o Partzuf , “lembrando” que há ainda mais prazer para receber se for para receber do Criador tudo o que o Criador deseja transmitir. Em nosso exemplo mundano, o departamento de marketing é a “luz circundante” ─ constantemente relatando novos mercados potenciais nos quais a empresa pode se expandir e gerar lucros substanciais.

Figura 7: Enquanto o Partzuf é incapaz de receber toda a luz, a luz refletida deve permanecer fora do Partzuf. Ela é chamada “luz circundante”.

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