Colaboração e Autorrealização

Do livro “Interesse Próprio vs. Altruísmo na Era Global”

Com o objetivo de vivenciar a interconexão, devemos agir sobre ela, e não apenas em nível global ou nacional. A consciência de nossa interdependência deve ser uma constante em nossos processos de tomada de decisão e parte inseparável de nossas ações. Devemos aprender a pensar como uma unidade integrada por vários indivíduos colaboradores, e não por indivíduos isolados que interagem de forma desintegrada. Para tanto, devemos começar a reconhecer os benefícios da colaboração.

Inúmeros experimentos acerca dos benefícios da colaboração no sistema educacional já foram realizados. Em um ensaio intitulado “Uma História de Êxito da Psicologia Educacional: Teoria da Interdependência Social e do Aprendizado Cooperativo”, os professores da Universidade de Minnesota, David W. Johnson e Roger T. Johnson, apresentaram um caso contundente a respeito da teoria da “interdependência social”. Em suas palavras, “Mais de 1200 estudos de pesquisa foram realizados nas últimas décadas  sobre esforços cooperativos,  competitivos e  individualistas.  Os   resultados desses estudos validaram, modificaram, refinaram e ampliaram a teoria.”165

Johnson e Johnson explicam que “A interdependência social existe quando os resultados dos indivíduos são afetados por suas ações ou pelas ações de outros.”166 Isso é o contrário de dependência, em que a parte A depende da parte B, mas a parte B pode não depender da parte A. “Existem dois tipos de interdependência social”, dizem

eles, “positiva – quando as ações dos indivíduos promovem os objetivos comuns ─ e negativa – quando as ações dos indivíduos obstruem a realização dos objetivos de  cada um.”167

Se refletirmos sobre o experimento de Christakis-Fowler mencionado no capítulo anterior, e considerarmos a afirmação dos Cabalistas de que somos todos fragmentos de uma única entidade, torna-se claro que, atualmente, agir de maneira individualista não é apenas imprudente, mas também uma bomba-relógio. Essa atitude não reconhece a realidade de total globalização entre todos os membros da raça humana. E, quando ignoramos esse fato, a realidade nos corrige de forma dura, como a crise financeira de 2008 demonstrou claramente.

Depois de estabelecer o significado da interdependência, Johnson e Johnson compararam  a   eficácia   da   aprendizagem   cooperativa   para   o   indivíduo com  a aprendizagem comum individual, competitiva. Os resultados foram inequívocos. Em termos de responsabilidade individual e pessoal, eles concluíram que “A interdependência positiva que une membros de um grupo gera sentimentos de responsabilidade por (a) completar sua parte do trabalho e (b) facilitar o trabalho dos outros membros do grupo. Além disso, quando o desempenho de uma pessoa afeta os resultados dos trabalhos dos colaboradores, a pessoa se sente responsável pelo bem- estar dos colaboradores e também pelo seu próprio bem-estar. Falhar com  os outros é ruim, mas falhar com os outros e consigo mesmo é ainda pior.”168 Em outras palavras, a interdependência positiva transforma pessoas individualistas em seres colaborativos e generosos, o resultado oposto da tendência de crescente individualismo que chega ao ponto do narcisismo.

Johnson e Johnson definem interdependência positiva como “uma correlação positiva entre objetivos individuais; os indivíduos percebem que podem atingir seus objetivos se, e apenas se, os outros indivíduos com os quais está ligado de forma colaborativa puderem  atingir  seus  objetivos  também.”169  E  definem  interdependência negativa como “uma correlação negativa entre as realizações dos indivíduos; os indivíduos percebem que podem atingir seus objetivos se, e apenas se, os demais indivíduos com quem estão ligados de forma competitiva não conseguirem atingir seus objetivos.”170 Globalização implica interdependência positiva. Em outras palavras, ou todos atingimos nossos objetivos ou nenhum de nós.

Com o propósito de demonstrar os benefícios da colaboração, os pesquisadores mediram as realizações dos estudantes que colaboram entre si comparadas com as dos estudantes que competem entre si. “A média das pessoas cooperativas alcançou dois terços do desvio padrão acima da média das pessoas que atuam dentro de um  ambiente competitivo e individualista.”171

Para entender o significado de tal desvio acima da média, considere, por exemplo,  que, se uma criança é média D-, cooperando, a nota dela vai saltar para uma surpreendente média A+. Além disso, eles escrevem: “A cooperação, quando comparada com os esforços competitivos e individualistas, tendem a promover maior memória a longo prazo, maior motivação intrínseca e expectativa de sucesso, mais pensamentos criativos e atitudes mais positivas diante de desafios e na escola.”172

Também dissemos que, exatamente como as crianças se tornam adultos imitando os adultos, nós nos tornamos semelhantes ao Criador imitando o Criador. Sem perceber,  a partir da colaboração, esses alunos estavam imitando a lei de doação, já que o interesse próprio cedeu lugar ao interesse do ambiente, dos grupos. E em vez de atingirem em linha a capacidade média do grupo, os estudantes tornaram-se alunos nota A+.

O resultado que eles alcançaram, no entanto, empalidece em comparação com os benefícios que esses estudantes poderiam alcançar se agissem com o objetivo de  imitar a lei de doação. Nesse caso, eles descobririam essa lei e alcançariam o propósito da Criação. Ou seja, eles se tornariam semelhantes ao Criador.

As crianças imitam o modelo padrão que elas querem se tornar, seja ele um pop star, um atleta famoso ou qualquer pessoa que elas admirem. Dessa mesma maneira, nós temos de desejar ser como o Criador para nos tornarmos como Ele. Isso não acontece “por engano”. Por mais benéfico e colaborativo que tenha sido o comportamento das crianças no experimento, para alcançar um efeito duradouro elas devem agir com o objetivo de descobrir a lei de colocar o interesse próprio abaixo do interesse  do sistema e aspirar a viver assim, tornar-se assim. Caso contrário, seus egos as controlarão da mesma forma que outras pessoas são dominadas pelos seus egos e elas perderão os grandes benefícios que a interdependência social oferece.

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