Conectando e Comunicando
Do livro “Interesse Próprio vs. Altruísmo na Era Global”
Os primeiros séculos da Terceira Fase na evolução dos desejos forneceu a base para a expansão de terras e ideias. A Era das Descobertas, a Revolução Científica, o Humanismo, a Reforma e o Movimento Iluminista foram partes de uma profunda mudança que abriu a mente das pessoas e expandiu sua visão acerca do mundo. Esses movimentos e ideologias permitiram às pessoas explorarem além de sua criação na infância e refletirem sobre a vida e seu significado. O período romântico na música clássica, o Sturm und Drang (tempestade e ímpeto) na literatura do mesmo movimento e o estilo impressionista de pintura ressaltaram experiências pessoais e emoções na arte e, de fato, apresentaram uma tendência que só iria se fortalecer no século XX. Essa tendência, que acabou por produzir a epidemia de narcisismo à qual Twenge e Campbell se referem (veja Introdução e Capítulo 5), foi uma precursora do Estágio Quatro na evolução dos desejos.
A existência de ideias nobres como igualdade de oportunidades, direitos humanos e liberdade de expressão não foi suficiente, porém, para desencadear uma nova era. Para isso, eram necessários meios para comunicar essas ideias. O século XVIII e, especialmente, o XIX facilitaram exatamente isto ─ a comunicação e o transporte de massa.
O motor a vapor, inventado no século XVII, foi melhorado drasticamente nos dois séculos seguintes e se tornou o provedor principal de força motriz para a indústria e o transporte. Perto do final do século XVIII, motores a vapor começaram a ser usados em barcos. No século seguinte, esses motores haviam melhorado tanto que se tornaram a principal fonte de força motriz em barcos e navios.
Em terra, a locomotiva a vapor mudou a face do transporte do século XIX. As primeiras tentativas de se desenvolver uma locomotiva a vapor datam da segunda metade do século XVIII. Foi, no entanto, somente após George e Robert Stephenson e da caldeira Rocket de multitubos que uma locomotiva a vapor, comercialmente viável, foi construída. De fato, a locomotiva Rocket foi tão bem sucedida que versões aprimoradas ainda eram usadas comercialmente no século XX e até no começo do XXI (Ilustração nº 8). E embora tenham se tornado uma visão rara, motores a vapor ainda estão em uso até os dias hoje em locomotivas. Assim, com tal meio eficiente de trânsito, o deslocamento se tornou fácil e a migração de pessoas muito mais frequente.
Imagem no. 8: Nova locomotiva a vapor 60163 Tornado, fabricada na Inglaterra, em 2008.
O Transporte privado também estava se desenvolvendo na mesma época. Viam-se várias formas de “carruagens sem cavalos”, como eram chamados os automóveis, que já existiam desde o final do século XVIII. Até o último quarto do século XIX, porém, eles eram tratados como estranhos e frequentemente considerados um incômodo. Em 1865, a Lei da Locomotiva na Grã-Bretanha restringiu a velocidade dos veículos sem cavalos a 4 mph em campo aberto e a 2 mph nas cidades. Além disso, a Lei exigia três motoristas para cada veículo ─ dois para viajarem no veículo e um para andar a sua frente, agitando uma bandeira vermelha.
Em 1876, porém, Nikolaus August Otto inventou com sucesso um motor de quatro tempos, conhecido como o “ciclo Otto”, e, nesse mesmo ano, o primeiro motor de dois tempos bem sucedido foi inventado pelo engenheiro escocês Sir Dugald Clerk. Dez anos mais tarde, os primeiros veículos com motor de combustão interna foram desenvolvidos aproximadamente ao mesmo tempo por dois engenheiros que trabalhavam em lugares diferentes da Alemanha ─ Gottlieb Daimler e Karl Benz. Eles simultaneamente criaram veículos de grande sucesso e praticamente potenciaram veículos que funcionavam de maneira muito parecida com a dos carros que usamos hoje. Esse foi o início da Idade dos Carros Motorizados.
No início do século XX, a fronteira final terrestre foi conquistada ─ o céu. Segundo o Smithsonian National Air and Space Museum, “Em 17 de dezembro de 1903, em Kitty Hawk, na Carolina do Norte, o Flyer Wright [Orville] se tornou a primeira máquina motorizada mais pesada que o ar para alcançar um vôo, sustentado e controlado com um piloto a bordo.”. A partir daí, nem mesmo o céu estava fora dos limites para a humanidade.
No período de tempo entre a escrita de A Árvore da Vida e o início do século XX, o nosso desejo de governar e de lucrar nos levou a desenvolver tais capacidades em ciência, tecnologia, comunicação e transporte que, já no início do século XX, todas as principais massas de terra eram conhecidas, conectadas e negociavam regularmente umas com as outras. Assim, o mundo tinha se tornado efetivamente uma única entidade, uma aldeia global. E embora isso não tenha sido evidente para os cidadãos comuns na época, o século XX, com suas alegrias e tristezas, demonstraria de maneira profunda nossa conexão e interdependência.
Como dissemos no início deste capítulo, precedendo cada nova etapa na evolução dos desejos aparece o precursor apropriado. No caso do Estágio Quatro, seu precursor não era apenas um Cabalista que poderia explicar as coisas melhor do que qualquer um de seus predecessores, mas quase todo um século serviu como um precursor de uma nova era. O século XX não só previu, mas até facilitou o advento do novo desejo. Por essa razão, o século XX merece ser coberto por um capítulo inteiro.
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