CAPÍTULO 4
Do livro “Sabedoria Maravilhosa”
UM PONTO NO CORAÇÃO – A ALMA
Então, qual é o grande mistério da alma, e o que é exatamente?
A alma é um desejo criado pelo Criador para desfrutá-lo (a Luz). Ela está realmente em perfeita aderência com o Criador, assim como quando foi criada. Mas a alma precisa de realizar esta situação por seu próprio direito, para de fato obter uma equivalência de forma independente, e ao fazê-lo tornar-se como o seu Criador. Para realizar esta tarefa, o Criador separa completamente a alma de Si. Isto acontece dando à alma um atributo exatamente oposto ao que Ele possui novamente a vontade de receber.
Através desta disparidade de forma, a alma perde a percepção do Criador e é revestida de um corpo físico com a vontade de receber prazer puramente para seu próprio bem. Portanto, se a alma não sente o Criador, o que é que sente? Sente o “nosso mundo”, o lugar que nós consideramos ser a totalidade da nossa existência. Para atingir novamente o estado original, quando era completa e sentia o Criador, a alma deve assumir a tarefa de alcançar os atributos do Criador. Ela faz isso através de um processo que se assemelha a dar à luz a eles, criando-os.
A alma, como ela existe no “nosso mundo”, não é mais do que um ponto. Deste único ponto, nós só podemos perceber a nossa própria vontade, que é dar prazer aos nossos corpos físicos nos quais residimos. No entanto, a partir deste ponto, tão remoto quanto possível do Criador, nós encontramos o lugar perfeito para começar a nossa viagem de volta ao Criador. È importante aqui não confundir a alma com o desejo de receber para nós mesmos, nossa condição atual. Lembre-se que a alma é um desejo único para desfrutar o Criador. De certa maneira, a alma é como uma parte do Criador. Só que o Criador é o todo, e a alma é uma parte.
Toda a pessoa tem uma alma dentro dela. Quando nos tornamos cientes disso, a alma é sentida como um ponto no coração, o centro de todos os desejos do nosso ego. Mas em que nível está essa alma? Isso é algo que devemos todos descobrir. Vemos milhões de pessoas em todo o mundo, com nenhum desejo absolutamente reconhecível, exceto o de satisfazer os seus próprios desejos. Dentro destas pessoas existe também a alma, mas ainda em estado embrionário. A Cabala chama a esta alma, “um ponto no coração”.
Neste caso, o coração é o desejo de ter prazer em tudo em torno de nós. E esse ponto é o único desejo de todos os outros desejos que uma pessoa possui que não é um desejo de prazeres mundanos. Ele é o desejo de revelar o seu Criador.
Os seres humanos desenvolvem desejos por prazeres físicos e, em seguida por riqueza, poder, controle e conhecimento. Após esses desejos por prazeres mundanos, geralmente chamados de “coração”, está o desejo por espiritualidade. Este desejo é o fim da linha, onde nada neste mundo pode, eventualmente, cumprir essa carência.
O desejo por espiritualidade parece surgir de dentro dos desejos animais, daí o nome, “o ponto no coração”. Naturalmente, estes desejos não têm nada a ver com o coração dos nossos corpos. Se nós transplantarmos um novo coração em alguém, isso não mudará uma única característica nessa pessoa – mesmo que implantemos um novo cérebro. A esfera espiritual não tem nada a ver com o nosso corpo biológico.
O ponto no coração não é considerado realmente a alma, mas a “alma em potencial”. Nesta fase, ele se assemelha a uma carência que simplesmente não pode ser preenchida. Nós sabemos que queremos algo, nós sabemos que está faltando alguma coisa, mas por nada neste mundo, não conseguimos descobrir o que precisamos. O ponto no coração é como uma gota de desejo, um anseio por realização suprema, pelo Criador. Se uma pessoa começa a desenvolvê-lo, ele cresce como o esperma que fertilizou um óvulo humano e que agora se transformou num feto. Quando se torna independente, isso é chamado de “alma”.
O processo do desenvolvimento e do nascimento da alma pode ser favoravelmente comparado ao mesmo processo que ocorre nos seres humanos. A alma nasce de uma semente espiritual, que é desenvolvida pela Luz que desce sobre uma pessoa quando esta estuda Cabala. O ponto no coração começa assim a crescer e expandir sob a influência dessa Luz, e finalmente evolui em dez atributos completos que a Cabala chama de Sefirot; a estrutura completa da alma é chamada de Partzuf, ou um Guf (corpo) de uma alma. A Luz Superior (a sensação do Criador pela criatura) é capturada por estes dez atributos, ou Sefirot. Esta é a maneira como uma pessoa começa a sentir o mundo espiritual, o Supremo, o Criador.
A alma é o desejo de deliciar-se com o Criador. Por outras palavras, é o desejo de receber a Luz que vem d’Ele. O desejo de receber é chamado de Recipiente, ou Kli. O propósito do Criador é satisfazer esse desejo de prazer dentro da alma, desde que a própria alma queira. Quando isso acontece, ela vai sentir prazer. O Criador resolveu o problema da alma que quer sentir prazer, ao distanciar a alma d’Ele. Quando a alma se afasta do Criador, ela começa a querer aproximar-se d’Ele por sua própria vontade. Isso cria gradualmente um desejo por Ele.
A alma criada é chamada Adam. É, na verdade, a única criação, o desejo de receber prazer do Criador. A alma original foi dividida em 600.000 partes. Um holograma funciona como um bom exemplo para mostrar que aleatoriamente cada parte usada do reino espiritual, é constituída por todas as outras partes, apenas em proporções diminutas de acordo com o nível da parte.
Cada parte da alma evolui gradualmente, do ponto inicial que está escondido, em um Recipiente espiritual (620 vezes maior), ao longo de 6.000 correções consecutivas, chamado de “anos” ou “graus”. Mais uma vez, é importante não confundir o termo “ano” com a nossa expressão terrestre, é uma medição de correções, e não de tempo. Nós falaremos mais tarde sobre estes números.
No início da viagem espiritual neste mundo, há uma mudança nos desejos de uma pessoa: o desejo de deliciar-se dos prazeres mundanos se transforma no desejo de deliciar-se com o Criador. Este é o maior desejo egoísta de todos.
Há um nível inicial de egoísmo que a espiritualidade esconde de nós, chamado “a barreira”. Uma vez para (passando) além da barreira e dentro do mundo espiritual, cada parte da alma passa por uma transformação da intenção para mim, para a intenção “para o Criador”. A esta transformação a Cabala chama uma “correção”. A grandeza desta correção é o grau de satisfação da Luz do Criador, até que a alma esteja definitiva e completamente cheia. Esta sensação não pode ser descrita em palavras, é uma sensação de eternidade, plenitude, equivalência de forma com o Criador. É o propósito da criação.
Todos nascemos com os mesmos cinco sentidos: visão, audição, tacto, paladar e olfato. Uma vez que temos os mesmos sentidos, todos nós vemos este mundo corpóreo da mesma forma. Mas o que estamos realmente sentindo através destes sentidos? Estamos sentindo o nosso desejo de desfrutar, o desejo de prazer. Este desejo manifesta-se ao mesmo tempo em todos os cinco sentidos e é experienciado em cinco níveis diferentes:
- Os prazeres animais do sexo, da família e dos alimentos.
- O prazer de riqueza e status social.
- O prazer de poder (controle) e da fama.
- O prazer do conhecimento.
- O prazer do Criador.
Claro que, todos nós somos construídos um pouco diferentes, todos nós aspiramos a diferentes formas de prazer. Uma pessoa pode querer ser um professor, outro pode querer ser um advogado, e outro ainda pode querer dirigir um caminhão. Estas diferenças todas são baseadas em diferentes combinações desses desejos aparecendo dentro de cada um de nós. E de acordo com a proporção de desejos dentro do nosso desejo coletivo, cada um de nós experimenta sentimentos diferentes.
É daqui que a singularidade das pessoas vem.
Agora vamos voltar aos Sefirot por um momento. Sefirot são atributos que são dados à criatura, através dos quais irá sentir o Criador. É por isso que os Sefirot expressam supremacia. São atributos que o Criador quer que as Suas criaturas alcancem, para que O sintam. Todo o universo é composto de dez Sefirot, cada um é por sua vez composto por dez Sefirot internas, e assim indefinidamente. Por esse motivo, todas as partículas no universo são sempre compostas por dez partes, ou Sefirot. Mas as proporções entre as partes são sempre únicas para essa partícula.
Pense um pouco sobre como chegamos a conhecer alguém. Obviamente, ao início só estamos em contato com uma pessoa visualmente. Mas à medida que formos conhecendo os seus modos e atributos internos, descobrimos o que é que está por trás do seu corpo externo, quais são os seus atributos internos. A parte externa de uma pessoa só é necessária a fim de fornecer uma espécie de indumentária externa para esses atributos internos.
Podemos dizer que só conhecemos verdadeiramente uma pessoa depois de conhecermos todos os seus atributos e as suas reações a diferentes situações. A Cabala chama ao processo de conhecer o Criador, “alcançar o Criador”. Uma pessoa alcança o Criador através do Sefirot, ou seja, através das aparências exteriores do Criador e de Seus atributos. Através dos Sefirot acabaremos por conhecer a realidade, que é uma indumentária para o Criador, como os nossos corpos são uma indumentária para as nossas almas.
O Criador labora dentro de nós, em nossas almas. Então, se nós aprendermos a alcançar o Criador, nós fazemo-lo, descobrindo as suas ações na nossa alma. Por outras palavras, alcançamos o Criador pela ação da Luz sobre o nosso ponto no coração, o desejo de revelar o Criador. Esse ponto não está vazio, embora se sinta dessa maneira, mas sim cheio de bondade. Contudo, para sentirmos isso, nós precisamos experimentar todas as emoções, e só então aprendemos a sentir a Luz conforme entra num ponto específico da alma. Isto traz um sentimento muito especial que só pode ser descrito como “plenitude”.
Plenitude é um prazer que só é percebido quando há apetite para alguma coisa e escassez da mesma. Ontem eu comi um biscoito e me lembro de seu sabor. Hoje eu quero outro, e este desejo é vivido como incompletude. Por outras palavras, eu lembro-me do prazer de comer o biscoito e agora eu sinto falta. Eu só posso preencher esta falta na extensão da incompletude que sinto, antes de devorar outro biscoito, hoje.
Claro, amanhã, provavelmente eu vou querer outro biscoito. Isto acontece porque a natureza providenciou necessidade e realização, fome e satisfação, que não ocorrem ao mesmo tempo. Esta é a situação exata em que o Criador colocou as nossas almas, para sentir a falta, para se sentir incompleta e, assim, desejar o prazer. Como resultado, aprendemos que podemos certamente satisfazer a necessidade ou a fome, mas nunca estamos saciados. Não importa quantos sacos de biscoitos eu vou comprar, quando o saco de biscoitos acabar, eu vou com certeza correr até a loja para comprar outro.
Felizmente, o Criador tem uma solução para esta situação. Ele quer deleitar-nos, e é por isso que Ele nos envia uma satisfação muito especial. Nossas almas tentam não estragar esta satisfação por passar dos limites e devorar o saco inteiro. É somente desta maneira que a alma chega à perfeição. A fome e o desejo, não vão embora, antes pelo contrário. Como resultado desta satisfação especial, a alma prolonga mais a efetivação da plenitude que não desaparece, uma plenitude eterna.
Como funciona esta satisfação especial? Eu gosto de comer este biscoito porque antes de abrir o saco, eu sinto uma fome, uma falta, uma sensação de escassez. Por outras palavras, eu quero um biscoito. Depois de eu comer alguns biscoitos, eu já não quero mais porque a falta foi preenchida. Mas no espiritual, o Criador deu às nossas almas um truque “notável” que a impede de estar saciada, apesar de receber prazer. Quanto mais cheia a nossa alma se sentir, mais esfomeada se torna. Esta é a perfeição da ação do Criador.
Verdadeiro prazer, prazer real, dura enquanto durar o desejo, é insaciável. Mas no plano espiritual, quando o desejo de desfrutar recebe, ele sente vergonha. Veja, a alma não sente apenas o prazer, mas sente também os atributos do Doador. No momento em que sente o Doador, ela descobre que não só não quer o prazer, como também deseja se relacionar com o Doador, ser como Ele. No instante em que o prazer é sentido, quando recebe, o prazer começa a desaparecer. No próprio ato de receber para si, a alma restringe o prazer. É por isso que não podemos alcançar deleite eterno, recebendo, porque receber restringe a Luz, mesmo apagando-a, praticamente anulando-a.
A Cabala chama á sensação espiritual da vergonha, de “inferno”. Não há nada pior do que esta sensação de vergonha, porque é o mesmo que ser totalmente oposto ao Criador. O Criador propositadamente relacionou receber com vergonha. Ele poderia ter evitado isso, mas o fenômeno da vergonha foi criado especificamente para que pudéssemos aprender a receber Dele, nos deleitar sem vergonha.
Para desalento da nossa alma, o próprio ato de receber, o que ela mais quer, seja o motivo com que o prazer recebido, se evapore. Mas o Criador forneceu uma solução maravilhosa. Acontece que o único caminho para a alma receber o prazer, é não desfrutar do prazer em si, mas do contato com o Doador do prazer. Se o prazer do contato com o Doador, é o que você recebe Dele, então o seu prazer não vai desaparecer e não irá diminuir o seu desejo de prazer. Pelo contrário! Quanto mais você recebe, quanto mais você dá, mais você desfruta. Este processo dura indefinidamente!!!
Pense na primeira vez que você encontrou alguém e caiu de amor por ela. No início, nada do que você fez ou do que ela lhe fez importou, simplesmente você recebia prazer por estar com ela. A presença dessa pessoa, simplesmente fez você se sentir maravilhosamente bem. Esta é uma vaga semelhança com o que está sendo descrito, aqui.
Há ainda outra surpresa maravilhosa no espiritual. O prazer que recebemos por sentir Aquele, que dá, é infinitamente maior do que o prazer que sentimos quando recebemos para nós mesmos. Isto acontece, no primeiro caso, porque o receber liga-nos ao Doador Pleno, Eterno, ao Criador.
Mas a alma não começa por ser capaz de fazer isso. A alma, um ponto no coração de cada um de nós, começa por apenas um ponto, um desejo de desfrutar do prazer do Criador. Ela se desenvolve num “Recipiente” para receber este prazer. Ao Recipiente a Cabala chama Kli. Mas, neste estado inicial, é apenas um mero desejo de receber e não é considerado um Recipiente, pois não está apto para a recepção.
Neste momento, estamos tão distantes do Criador como podemos estar, envoltos num duro revestimento de desejo de receber. Na nossa atual existência, esta dissimulação não é evidente para nós, como pessoas. Nós continuamos a nossa vida do dia-a-dia, neste mundo. Trabalhamos, comemos, dormimos, brincamos, procriamos, e experienciamos a nossa vida corpórea, sem qualquer indício de que existe algo além do que experienciamos neste mundo. No entanto, para um ponto no coração que despertou e ultrapassou a barreira para o espiritual, torna-se imediatamente óbvio o que essa “barreira” está bloqueando, o que ela esconde.
Após o despertar deste ponto no coração, descobrimos que é apenas um Recipiente para dar. Um “Recipiente doador” não consegue receber com o objetivo de agradar ao Criador, somente pode abster-se de receber. Está neste estado, porque se o Recipiente recebesse, seria só para si. A alma pode existir sem receber a Luz do Criador, porque a sensação de vergonha causada por receber para si extingue o prazer no momento em que é recebido, tornando o prazer de recepção um tormento.
A solução que permite à alma começar a receber, ao início parece ridícula, quase como em sentido contrário. A alma descobre que só deve receber prazer com a finalidade de agradar o Criador. Vamos repetir. A alma deve ter tal atitude, que não receberá a menos que o ato da sua própria recepção traga prazer ao Criador. A sua própria recepção já não é a força motriz, ela só irá receber se o objetivo desse ato não tiver nada a ver consigo própria, mas apenas com o Criador. É importante que você entenda que estamos a falar de prazer espiritual. A gota de prazer que sentimos no nosso mundo, simplesmente é suficiente para garantir a nossa existência, para vivermos e divertirmo-nos.
O resultado desta descoberta é na verdade uma mudança na intenção da alma, de querer receber para si mesma, para querer receber com o fim de deleitar o Criador. Na Cabala, esta nova e revolucionária intenção é chamada de “barreira”. Só, se houver uma barreira sobre o desejo de desfrutar (uma vontade de ter prazer apenas na medida em que deleita o Criador), fará com que a alma se torne digna de recebimento. Este ponto no coração pode então ser chamado de “Recipiente”.
Então, tudo que temos de fazer é adquirir uma barreira! Na verdade, resume-se a uma mudança na nossa intenção, de querer receber para o de querer dar. Mas como é que esta barreira funciona, e como é que ela nos permite sentir o Criador? A resposta é simples, ela funciona exatamente como os nossos outros sentidos.
Por exemplo, vamos dar uma olhada no processo de audição. Como ouvimos? As ondas de ar atingem uma espécie de barreira do nosso ouvido chamado de tímpano. O tímpano está ligado a órgãos especializados de audição que transformam as vibrações do tímpano em impulsos elétricos que o nosso cérebro interpreta como som.
O sentido da visão não é diferente. A luz atinge uma espécie de barreira, a retina, onde os nervos são estimulados e transferem os sinais elétricos para o cérebro que interpreta como visão, o que vemos. Se você remover uma das “barreiras” destes órgãos sensoriais, não importa a quantidade de ar que é transformado em ondas sonoras, ou quanta luz entra no olho, nós não vamos ouvir ou ver. Os nossos outros sentidos têm os mesmos tipos de mecanismos de barreira. A barreira espiritual não é diferente. A luz é refletida fora da barreira e os sinais são enviados para dentro de nós o que nos permite sentir o Criador.
Vejamos este processo em termos espirituais. Quando o desejo para desfrutar recebe e também sente o Doador, tanto sente prazer como vergonha. A vergonha acontece porque ao receber a alma sente-se oposta ao Criador. A presença do Doador faz com que o receptor sinta vergonha, e essa vergonha impede-nos de desfrutar. Na espiritualidade, quando recebemos, achamos que temos de dar algo de volta ao Doador, para nos igualar ao Doador, de modo a que não sintamos que estamos só recebendo.
Digamos que há anos Betty e Bob saem para jantar todas as sextas à noite com outro casal. Mas se Bob perde o emprego, ele não já não tem dinheiro para isso. Quando Bob liga para o outro casal para lhes dizer que eles já não têm dinheiro para poderem sair, como bons amigos eles entendem a situação e até convencem Betty e Bob em deixá-los pagar a conta. É claro que, Betty e Bob ainda podem desfrutar, mas talvez não tanto quanto eles normalmente fariam. Quando a conta é colocada na mesa, um sentimento constrangedor surge.
E na semana seguinte, quando Bob ainda está desempregado? A certo momento, qualquer um de nós simplesmente diria “não, obrigado”, derivando principalmente, desse sentimento de vergonha, daquele sentimento de que não estamos fazendo a nossa parte. Nós declinamos porque nesse momento o tamanho da vergonha nos faria infelizes. Multiplique esse sentimento de vergonha em vários milhões de vezes, e começa-se a entender que tipo de vergonha está envolvida no que diz respeito a receber prazer do Criador, para nossa própria satisfação e enquanto sentimos Ele. Nossas almas simplesmente não o podem fazer.
Pode-se perguntar, se a presença do Criador evoca tal sensação em nós, como podemos nós dizer que a decisão é realmente para o Criador?
Portanto, a fim de fazermos uma decisão independente de receber para o Criador, e podermos assim assemelhar-nos com Aquele que nos criou, para nos deleitar, o Criador tem de estar oculto, assim como Ele está para nós, hoje. Desta forma, a nossa decisão não será obrigatória, como não pomos as nossas mãos no fogo porque sabemos que o fogo vai queimar.
Na verdade, nós necessitamos da ocultação original. É a nossa garantia de que, até que estejamos prontos para receber apenas para O agradarmos, simplesmente não o podemos fazer. A fim de nos dar essa oportunidade, terá de haver uma situação em que nós, as criaturas sintamos que somos as únicas, aqui. Depois, todas as decisões serão nossas.
A alma não é aparente ou desperta em nós desde o início. Em cada um de nós existe um “embrião” de alma, mas se a alma chega ou não, ao ponto em que está pronta para começar a crescer é uma história totalmente diferente. Se a alma ainda não chegou a esse estado, uma pessoa não vai sentir qualquer desejo de espiritualidade, para o Criador. Mas assim que o ponto no coração começa a se agitar e a interrogar, nós começamos a sentir uma débil pergunta que se transforma num apelo desesperado para saber o propósito das nossas vidas. Essa ardente pergunta torna-se tão intensa, que chegamos a um ponto em que, sem a resposta a essa pergunta, nós simplesmente não podemos continuar a viver.
Quando chegamos a uma fase em que o ponto no coração começa a se agitar, e começamos o processo de revelação do Criador, nós de repente sentimo-nos atraídos para algo elevado. Essa atração é mal interpretada. Todos sentimos essa sensação preliminar, mas após experimentar essa sensação diversas vezes, ela diminui, porque começamos a aprender corretamente, a criar dentro de nós aquelas barreiras que nos ajudarão a sentir sensações espirituais.
Deixamos de ser como os embriões no útero e nos tornamos mais e mais maduros. As nossas emoções são então redefinidas e analisadas, e crescemos mais distantes da nossa situação inicial. Em vez de querermos estar “envolvidos” em algo maior do que um embrião começamos a aspirar atingir o Supremo Criador, para conscientemente nos envolvermos em Seus atributos, e tentar avançar de forma independente. Isso só é possível se começarmos a adquirir esse Recipiente espiritual para progredirmos para o que chamamos de “Barreira”. Isto é exatamente o que a Cabala ensina.
A alma só cancela a sua primeira restrição, por uma razão. Que sensação temos, quando sentimos o Criador? Nós sentimos o Seu intenso desejo de dar, para nos agradar. Se nós sentimos o desejo do Criador para nos agradar, podemos decidir que, apesar da sensação de vergonha, aceitaremos o prazer porque é isso que o Criador quer. Portanto, ao fazê-lo, podemos dar prazer ao Criador, em Seu nome, e não para nós mesmos. O ato continua como antes, e continuamos a receber tal como fazíamos quando sentíamos vergonha, mas a intenção da nossa recepção, agora mudou.
A decisão foi tomada apenas pelo desejo de agradar ao Criador, apesar da sensação de vergonha. Mas nós como criaturas, descobrimos que, agindo pelo Criador, não nos sentimos como receptores, mas como doadores. Como criaturas, e através da nossa equivalência de forma com o Criador, nós sentimos total plenitude, eternidade e infinito amor e prazer.
Mas a decisão de restringir a recepção da Luz (a Primeira Restrição), e receber a Luz só para o Criador, só virá se nós sentirmos o Criador, o Doador, porque só a sensação do Criador pode despertar em nós tal resolução. Desse ponto em diante, o nosso avanço depende somente de nós.