CAPÍTULO 4

Do livro “Sabedoria Maravilhosa”

UM PONTO NO CORAÇÃO – A ALMA

Então, qual é o grande mistério da alma, e o que é exatamente?

A alma é um desejo criado pelo Criador para desfrutá-lo (a Luz). Ela está realmente em perfeita aderência com o Criador, assim como quando foi criada. Mas a alma precisa de realizar esta situação por seu próprio direito, para de fato obter uma equivalência de forma independente, e ao fazê-lo tornar-se como o seu Criador. Para realizar esta tarefa, o Criador separa completamente a alma de Si. Isto acontece dando à alma um atributo exatamente oposto ao que Ele possui novamente a vontade de receber.

Através desta disparidade de forma, a alma perde a percepção do Criador e é revestida de um corpo físico com a vontade de receber prazer puramente para seu próprio bem. Portanto, se a alma não sente o Criador, o que é que sente? Sente o “nosso mundo”, o lugar que nós consideramos ser a totalidade da nossa existência. Para atingir novamente o estado original, quando era completa e sentia o Criador, a alma deve assumir a tarefa de alcançar os atributos do Criador. Ela faz isso através de um processo que se assemelha a dar à luz a eles, criando-os.

A alma, como ela existe no “nosso mundo”, não é mais do que um ponto. Deste único ponto, nós só podemos perceber a nossa própria vontade, que é dar prazer aos nossos corpos físicos nos quais residimos. No entanto, a partir deste ponto, tão remoto quanto possível do Criador, nós encontramos o lugar perfeito para começar a nossa viagem de volta ao Criador. È importante aqui não confundir a alma com o desejo de receber para nós mesmos, nossa condição atual. Lembre-se que a alma é um desejo único para desfrutar o Criador. De certa maneira, a alma é como uma parte do Criador. Só que o Criador é o todo, e a alma é uma parte.

Toda a pessoa tem uma alma dentro dela. Quando nos tornamos cientes disso, a alma é sentida como um ponto no coração, o centro de todos os desejos do nosso ego. Mas em que nível está essa alma? Isso é algo que devemos todos descobrir. Vemos milhões de pessoas em todo o mundo, com nenhum desejo absolutamente reconhecível, exceto o de satisfazer os seus próprios desejos. Dentro destas pessoas existe também a alma, mas ainda em estado embrionário. A Cabala chama a esta alma, “um ponto no coração”.

Neste caso, o coração é o desejo de ter prazer em tudo em torno de nós. E esse ponto é o único desejo de todos os outros desejos que uma pessoa possui que não é um desejo de prazeres mundanos. Ele é o desejo de revelar o seu Criador.

Os seres humanos desenvolvem desejos por prazeres físicos e, em seguida por riqueza, poder, controle e conhecimento. Após esses desejos por prazeres mundanos, geralmente chamados de “coração”, está o desejo por espiritualidade. Este desejo é o fim da linha, onde nada neste mundo pode, eventualmente, cumprir essa carência.

O desejo por espiritualidade parece surgir de dentro dos desejos animais, daí o nome, “o ponto no coração”. Naturalmente, estes desejos não têm nada a ver com o coração dos nossos corpos. Se nós transplantarmos um novo coração em alguém, isso não mudará uma única característica nessa pessoa – mesmo que implantemos um novo cérebro. A esfera espiritual não tem nada a ver com o nosso corpo biológico.

O ponto no coração não é considerado realmente a alma, mas a “alma em potencial”. Nesta fase, ele se assemelha a uma carência que simplesmente não pode ser preenchida. Nós sabemos que queremos algo, nós sabemos que está faltando alguma coisa, mas por nada neste mundo, não conseguimos descobrir o que precisamos. O ponto no coração é como uma gota de desejo, um anseio por realização suprema, pelo Criador. Se uma pessoa começa a desenvolvê-lo, ele cresce como o esperma que fertilizou um óvulo humano e que agora se transformou num feto. Quando se torna independente, isso é chamado de “alma”.

O processo do desenvolvimento e do nascimento da alma pode ser favoravelmente comparado ao mesmo processo que ocorre nos seres humanos. A alma nasce de uma semente espiritual, que é desenvolvida pela Luz que desce sobre uma pessoa quando esta estuda Cabala. O ponto no coração começa assim a crescer e expandir sob a influência dessa Luz, e finalmente evolui em dez atributos completos que a Cabala chama de Sefirot; a estrutura completa da alma é chamada de Partzuf, ou um Guf (corpo) de uma alma. A Luz Superior (a sensação do Criador pela criatura) é capturada por estes dez atributos, ou Sefirot. Esta é a maneira como uma pessoa começa a sentir o mundo espiritual, o Supremo, o Criador.

A alma é o desejo de deliciar-se com o Criador. Por outras palavras, é o desejo de receber a Luz que vem d’Ele. O desejo de receber é chamado de Recipiente, ou Kli. O propósito do Criador é satisfazer esse desejo de prazer dentro da alma, desde que a própria alma queira. Quando isso acontece, ela vai sentir prazer. O Criador resolveu o problema da alma que quer sentir prazer, ao distanciar a alma d’Ele. Quando a alma se afasta do Criador, ela começa a querer aproximar-se d’Ele por sua própria vontade. Isso cria gradualmente um desejo por Ele.

A alma criada é chamada Adam. É, na verdade, a única criação, o desejo de receber prazer do Criador. A alma original foi dividida em 600.000 partes. Um holograma funciona como um bom exemplo para mostrar que aleatoriamente cada parte usada do reino espiritual, é constituída por todas as outras partes, apenas em proporções diminutas de acordo com o nível da parte.

Cada parte da alma evolui gradualmente, do ponto inicial que está escondido, em um Recipiente espiritual (620 vezes maior), ao longo de 6.000 correções consecutivas, chamado de “anos” ou “graus”. Mais uma vez, é importante não confundir o termo “ano” com a nossa expressão terrestre, é uma medição de correções, e não de tempo. Nós falaremos mais tarde sobre estes números.

No início da viagem espiritual neste mundo, há uma mudança nos desejos de uma pessoa: o desejo de deliciar-se dos prazeres mundanos se transforma no desejo de deliciar-se com o Criador. Este é o maior desejo egoísta de todos.

Há um nível inicial de egoísmo que a espiritualidade esconde de nós, chamado “a barreira”. Uma vez para (passando) além da barreira e dentro do mundo espiritual, cada parte da alma passa por uma transformação da intenção para mim, para a intenção “para o Criador”. A esta transformação a Cabala chama uma “correção”. A grandeza desta correção é o grau de satisfação da Luz do Criador, até que a alma esteja definitiva e completamente cheia. Esta sensação não pode ser descrita em palavras, é uma sensação de eternidade, plenitude, equivalência de forma com o Criador. É o propósito da criação.

Todos nascemos com os mesmos cinco sentidos: visão, audição, tacto, paladar e olfato. Uma vez que temos os mesmos sentidos, todos nós vemos este mundo corpóreo da mesma forma. Mas o que estamos realmente sentindo através destes sentidos? Estamos sentindo o nosso desejo de desfrutar, o desejo de prazer. Este desejo manifesta-se ao mesmo tempo em todos os cinco sentidos e é experienciado em cinco níveis diferentes:

  1. Os prazeres animais do sexo, da família e dos alimentos.
  2. O prazer de riqueza e status social.
  3. O prazer de poder (controle) e da fama.
  4. O prazer do conhecimento.
  5. O prazer do Criador.

Claro que, todos nós somos construídos um pouco diferentes, todos nós aspiramos a diferentes formas de prazer. Uma pessoa pode querer ser um professor, outro pode querer ser um advogado, e outro ainda pode querer dirigir um caminhão. Estas diferenças todas são baseadas em diferentes combinações desses desejos aparecendo dentro de cada um de nós. E de acordo com a proporção de desejos dentro do nosso desejo coletivo, cada um de nós experimenta sentimentos diferentes.

É daqui que a singularidade das pessoas vem.

Agora vamos voltar aos Sefirot por um momento. Sefirot são atributos que são dados à criatura, através dos quais irá sentir o Criador. É por isso que os Sefirot expressam supremacia. São atributos que o Criador quer que as Suas criaturas alcancem, para que O sintam. Todo o universo é composto de dez Sefirot, cada um é por sua vez composto por dez Sefirot internas, e assim indefinidamente. Por esse motivo, todas as partículas no universo são sempre compostas por dez partes, ou Sefirot. Mas as proporções entre as partes são sempre únicas para essa partícula.

Pense um pouco sobre como chegamos a conhecer alguém. Obviamente, ao início só estamos em contato com uma pessoa visualmente. Mas à medida que formos conhecendo os seus modos e atributos internos, descobrimos o que é que está por trás do seu corpo externo, quais são os seus atributos internos. A parte externa de uma pessoa só é necessária a fim de fornecer uma espécie de indumentária externa para esses atributos internos.

Podemos dizer que só conhecemos verdadeiramente uma pessoa depois de conhecermos todos os seus atributos e as suas reações a diferentes situações. A Cabala chama ao processo de conhecer o Criador, “alcançar o Criador”. Uma pessoa alcança o Criador através do Sefirot, ou seja, através das aparências exteriores do Criador e de Seus atributos. Através dos Sefirot acabaremos por conhecer a realidade, que é uma indumentária para o Criador, como os nossos corpos são uma indumentária para as nossas almas.

O Criador labora dentro de nós, em nossas almas. Então, se nós aprendermos a alcançar o Criador, nós fazemo-lo, descobrindo as suas ações na nossa alma. Por outras palavras, alcançamos o Criador pela ação da Luz sobre o nosso ponto no coração, o desejo de revelar o Criador. Esse ponto não está vazio, embora se sinta dessa maneira, mas sim cheio de bondade. Contudo, para sentirmos isso, nós precisamos experimentar todas as emoções, e só então aprendemos a sentir a Luz conforme entra num ponto específico da alma. Isto traz um sentimento muito especial que só pode ser descrito como “plenitude”.

Plenitude é um prazer que só é percebido quando há apetite para alguma coisa e escassez da mesma. Ontem eu comi um biscoito e me lembro de seu sabor. Hoje eu quero outro, e este desejo é vivido como incompletude. Por outras palavras, eu lembro-me do prazer de comer o biscoito e agora eu sinto falta. Eu só posso preencher esta falta na extensão da incompletude que sinto, antes de devorar outro biscoito, hoje.

Claro, amanhã, provavelmente eu vou querer outro biscoito. Isto acontece porque a natureza providenciou necessidade e realização, fome e satisfação, que não ocorrem ao mesmo tempo. Esta é a situação exata em que o Criador colocou as nossas almas, para sentir a falta, para se sentir incompleta e, assim, desejar o prazer. Como resultado, aprendemos que podemos certamente satisfazer a necessidade ou a fome, mas nunca estamos saciados. Não importa quantos sacos de biscoitos eu vou comprar, quando o saco de biscoitos acabar, eu vou com certeza correr até a loja para comprar outro.

Felizmente, o Criador tem uma solução para esta situação. Ele quer deleitar-nos, e é por isso que Ele nos envia uma satisfação muito especial. Nossas almas tentam não estragar esta satisfação por passar dos limites e devorar o saco inteiro. É somente desta maneira que a alma chega à perfeição. A fome e o desejo, não vão embora, antes pelo contrário. Como resultado desta satisfação especial, a alma prolonga mais a efetivação da plenitude que não desaparece, uma plenitude eterna.

Como funciona esta satisfação especial? Eu gosto de comer este biscoito porque antes de abrir o saco, eu sinto uma fome, uma falta, uma sensação de escassez. Por outras palavras, eu quero um biscoito. Depois de eu comer alguns biscoitos, eu já não quero mais porque a falta foi preenchida. Mas no espiritual, o Criador deu às nossas almas um truque “notável” que a impede de estar saciada, apesar de receber prazer. Quanto mais cheia a nossa alma se sentir, mais esfomeada se torna. Esta é a perfeição da ação do Criador.

Verdadeiro prazer, prazer real, dura enquanto durar o desejo, é insaciável. Mas no plano espiritual, quando o desejo de desfrutar recebe, ele sente vergonha. Veja, a alma não sente apenas o prazer, mas sente também os atributos do Doador. No momento em que sente o Doador, ela descobre que não só não quer o prazer, como também deseja se relacionar com o Doador, ser como Ele. No instante em que o prazer é sentido, quando recebe, o prazer começa a desaparecer. No próprio ato de receber para si, a alma restringe o prazer. É por isso que não podemos alcançar deleite eterno, recebendo, porque receber restringe a Luz, mesmo apagando-a, praticamente anulando-a.

A Cabala chama á sensação espiritual da vergonha, de “inferno”. Não há nada pior do que esta sensação de vergonha, porque é o mesmo que ser totalmente oposto ao Criador. O Criador propositadamente relacionou receber com vergonha. Ele poderia ter evitado isso, mas o fenômeno da vergonha foi criado especificamente para que pudéssemos aprender a receber Dele, nos deleitar sem vergonha.

Para desalento da nossa alma, o próprio ato de receber, o que ela mais quer, seja o motivo com que o prazer recebido, se evapore. Mas o Criador forneceu uma solução maravilhosa. Acontece que o único caminho para a alma receber o prazer, é não desfrutar do prazer em si, mas do contato com o Doador do prazer. Se o prazer do contato com o Doador, é o que você recebe Dele, então o seu prazer não vai desaparecer e não irá diminuir o seu desejo de prazer. Pelo contrário! Quanto mais você recebe, quanto mais você dá, mais você desfruta. Este processo dura indefinidamente!!!

Pense na primeira vez que você encontrou alguém e caiu de amor por ela. No início, nada do que você fez ou do que ela lhe fez importou, simplesmente você recebia prazer por estar com ela. A presença dessa pessoa, simplesmente fez você se sentir maravilhosamente bem. Esta é uma vaga semelhança com o que está sendo descrito, aqui.

Há ainda outra surpresa maravilhosa no espiritual. O prazer que recebemos por sentir Aquele, que dá, é infinitamente maior do que o prazer que sentimos quando recebemos para nós mesmos. Isto acontece, no primeiro caso, porque o receber liga-nos ao Doador Pleno, Eterno, ao Criador.

Mas a alma não começa por ser capaz de fazer isso. A alma, um ponto no coração de cada um de nós, começa por apenas um ponto, um desejo de desfrutar do prazer do Criador. Ela se desenvolve num “Recipiente” para receber este prazer. Ao Recipiente a Cabala chama Kli. Mas, neste estado inicial, é apenas um mero desejo de receber e não é considerado um Recipiente, pois não está apto para a recepção.

Neste momento, estamos tão distantes do Criador como podemos estar, envoltos num duro revestimento de desejo de receber. Na nossa atual existência, esta dissimulação não é evidente para nós, como pessoas. Nós continuamos a nossa vida do dia-a-dia, neste mundo. Trabalhamos, comemos, dormimos, brincamos, procriamos, e experienciamos a nossa vida corpórea, sem qualquer indício de que existe algo além do que experienciamos neste mundo. No entanto, para um ponto no coração que despertou e ultrapassou a barreira para o espiritual, torna-se imediatamente óbvio o que essa “barreira” está bloqueando, o que ela esconde.

Após o despertar deste ponto no coração, descobrimos que é apenas um Recipiente para dar. Um “Recipiente doador” não consegue receber com o objetivo de agradar ao Criador, somente pode abster-se de receber. Está neste estado, porque se o Recipiente recebesse, seria só para si. A alma pode existir sem receber a Luz do Criador, porque a sensação de vergonha causada por receber para si extingue o prazer no momento em que é recebido, tornando o prazer de recepção um tormento.

A solução que permite à alma começar a receber, ao início parece ridícula, quase como em sentido contrário. A alma descobre que só deve receber prazer com a finalidade de agradar o Criador. Vamos repetir. A alma deve ter tal atitude, que não receberá a menos que o ato da sua própria recepção traga prazer ao Criador. A sua própria recepção já não é a força motriz, ela só irá receber se o objetivo desse ato não tiver nada a ver consigo própria, mas apenas com o Criador. É importante que você entenda que estamos a falar de prazer espiritual. A gota de prazer que sentimos no nosso mundo, simplesmente é suficiente para garantir a nossa existência, para vivermos e divertirmo-nos.

O resultado desta descoberta é na verdade uma mudança na intenção da alma, de querer receber para si mesma, para querer receber com o fim de deleitar o Criador. Na Cabala, esta nova e revolucionária intenção é chamada de “barreira”. Só, se houver uma barreira sobre o desejo de desfrutar (uma vontade de ter prazer apenas na medida em que deleita o Criador), fará com que a alma se torne digna de recebimento. Este ponto no coração pode então ser chamado de “Recipiente”.

Então, tudo que temos de fazer é adquirir uma barreira! Na verdade, resume-se a uma mudança na nossa intenção, de querer receber para o de querer dar. Mas como é que esta barreira funciona, e como é que ela nos permite sentir o Criador? A resposta é simples, ela funciona exatamente como os nossos outros sentidos.

Por exemplo, vamos dar uma olhada no processo de audição. Como ouvimos? As ondas de ar atingem uma espécie de barreira do nosso ouvido chamado de tímpano. O tímpano está ligado a órgãos especializados de audição que transformam as vibrações do tímpano em impulsos elétricos que o nosso cérebro interpreta como som.

O sentido da visão não é diferente. A luz atinge uma espécie de barreira, a retina, onde os nervos são estimulados e transferem os sinais elétricos para o cérebro que interpreta como visão, o que vemos. Se você remover uma das “barreiras” destes órgãos sensoriais, não importa a quantidade de ar que é transformado em ondas sonoras, ou quanta luz entra no olho, nós não vamos ouvir ou ver. Os nossos outros sentidos têm os mesmos tipos de mecanismos de barreira. A barreira espiritual não é diferente. A luz é refletida fora da barreira e os sinais são enviados para dentro de nós o que nos permite sentir o Criador.

Vejamos este processo em termos espirituais. Quando o desejo para desfrutar recebe e também sente o Doador, tanto sente prazer como vergonha. A vergonha acontece porque ao receber a alma sente-se oposta ao Criador. A presença do Doador faz com que o receptor sinta vergonha, e essa vergonha impede-nos de desfrutar. Na espiritualidade, quando recebemos, achamos que temos de dar algo de volta ao Doador, para nos igualar ao Doador, de modo a que não sintamos que estamos só recebendo.

Digamos que há anos Betty e Bob saem para jantar todas as sextas à noite com outro casal. Mas se Bob perde o emprego, ele não já não tem dinheiro para isso. Quando Bob liga para o outro casal para lhes dizer que eles já não têm dinheiro para poderem sair, como bons amigos eles entendem a situação e até convencem Betty e Bob em deixá-los pagar a conta. É claro que, Betty e Bob ainda podem desfrutar, mas talvez não tanto quanto eles normalmente fariam. Quando a conta é colocada na mesa, um sentimento constrangedor surge.

E na semana seguinte, quando Bob ainda está desempregado? A certo momento, qualquer um de nós simplesmente diria “não, obrigado”, derivando principalmente, desse sentimento de vergonha, daquele sentimento de que não estamos fazendo a nossa parte. Nós declinamos porque nesse momento o tamanho da vergonha nos faria infelizes. Multiplique esse sentimento de vergonha em vários milhões de vezes, e começa-se a entender que tipo de vergonha está envolvida no que diz respeito a receber prazer do Criador, para nossa própria satisfação e enquanto sentimos Ele. Nossas almas simplesmente não o podem fazer.

Pode-se perguntar, se a presença do Criador evoca tal sensação em nós, como podemos nós dizer que a decisão é realmente para o Criador?

Portanto, a fim de fazermos uma decisão independente de receber para o Criador, e podermos assim assemelhar-nos com Aquele que nos criou, para nos deleitar, o Criador tem de estar oculto, assim como Ele está para nós, hoje. Desta forma, a nossa decisão não será obrigatória, como não pomos as nossas mãos no fogo porque sabemos que o fogo vai queimar.

Na verdade, nós necessitamos da ocultação original. É a nossa garantia de que, até que estejamos prontos para receber apenas para O agradarmos, simplesmente não o podemos fazer. A fim de nos dar essa oportunidade, terá de haver uma situação em que nós, as criaturas sintamos que somos as únicas, aqui. Depois, todas as decisões serão nossas.

A alma não é aparente ou desperta em nós desde o início. Em cada um de nós existe um “embrião” de alma, mas se a alma chega ou não, ao ponto em que está pronta para começar a crescer é uma história totalmente diferente. Se a alma ainda não chegou a esse estado, uma pessoa não vai sentir qualquer desejo de espiritualidade, para o Criador. Mas assim que o ponto no coração começa a se agitar e a interrogar, nós começamos a sentir uma débil pergunta que se transforma num apelo desesperado para saber o propósito das nossas vidas. Essa ardente pergunta torna-se tão intensa, que chegamos a um ponto em que, sem a resposta a essa pergunta, nós simplesmente não podemos continuar a viver.

Quando chegamos a uma fase em que o ponto no coração começa a se agitar, e começamos o processo de revelação do Criador, nós de repente sentimo-nos atraídos para algo elevado. Essa atração é mal interpretada. Todos sentimos essa sensação preliminar, mas após experimentar essa sensação diversas vezes, ela diminui, porque começamos a aprender corretamente, a criar dentro de nós aquelas barreiras que nos ajudarão a sentir sensações espirituais.

Deixamos de ser como os embriões no útero e nos tornamos mais e mais maduros. As nossas emoções são então redefinidas e analisadas, e crescemos mais distantes da nossa situação inicial. Em vez de querermos estar “envolvidos” em algo maior do que um embrião começamos a aspirar atingir o Supremo Criador, para conscientemente nos envolvermos em Seus atributos, e tentar avançar de forma independente. Isso só é possível se começarmos a adquirir esse Recipiente espiritual para progredirmos para o que chamamos de “Barreira”. Isto é exatamente o que a Cabala ensina.

A alma só cancela a sua primeira restrição, por uma razão. Que sensação temos, quando sentimos o Criador? Nós sentimos o Seu intenso desejo de dar, para nos agradar. Se nós sentimos o desejo do Criador para nos agradar, podemos decidir que, apesar da sensação de vergonha, aceitaremos o prazer porque é isso que o Criador quer. Portanto, ao fazê-lo, podemos dar prazer ao Criador, em Seu nome, e não para nós mesmos. O ato continua como antes, e continuamos a receber tal como fazíamos quando sentíamos vergonha, mas a intenção da nossa recepção, agora mudou.

A decisão foi tomada apenas pelo desejo de agradar ao Criador, apesar da sensação de vergonha. Mas nós como criaturas, descobrimos que, agindo pelo Criador, não nos sentimos como receptores, mas como doadores. Como criaturas, e através da nossa equivalência de forma com o Criador, nós sentimos total plenitude, eternidade e infinito amor e prazer.

Mas a decisão de restringir a recepção da Luz (a Primeira Restrição), e receber a Luz só para o Criador, só virá se nós sentirmos o Criador, o Doador, porque só a sensação do Criador pode despertar em nós tal resolução. Desse ponto em diante, o nosso avanço depende somente de nós.

CAPÍTULO 3

Do livro “Sabedoria Maravilhosa”

DESEJO – O COMBUSTÍVEL QUE NOS PROPULSIONA

Nós comemos porque estamos com fome ou porque não queremos ficar com fome? Nós coçamos nossos narizes por comichão ou porque nós queremos que eles parem de ter comichão? Quando éramos adolescentes, nós limpávamos os nossos quartos ao invés de fazer algo divertido porque nós queríamos limpar nossos quartos, ou porque nós não queríamos os nossos  pais bravos conosco? Eu poderia seguir por diante com estas questões retóricas, mas eu penso que a maioria dos leitores saberá onde tudo isto nos leva.

Cada ato que fazemos, nasce de um desejo. Do menor, mais insignificante e consciente ato, às ações que requerem vastas quantidades de energia, todos eles são feitos por uma única razão: um desejo entrou em nós e nos afetou o suficiente para agirmos de forma a preenchê-lo. A Cabala chama a Força que nos propulsiona ao preenchimento destes desejos de “a vontade de receber”.

Nós somos completamente controlados por desejos; sem um desejo, nós permanecemos perfeitamente imóveis, sem nos mexer um centímetro sequer. Mas qual é a meta? O que nós estamos tentando alcançar através de consciente ou inconscientemente seguir os nossos desejos? A resposta é prazer. Nós os perseguimos a fim de receber prazer de uma forma ou de outra.

Às vezes aquele prazer pode ser a sensação de fazer algo que nós acreditamos ser a coisa certa a ser feita. Outras vezes isto pode ser às custas da felicidade de outrem. Mas não importa qual é o desejo, é o desejo de receber que é a força basilar, que literalmente nos guia pelo nariz de forma a agirmos de uma maneira que satisfaça o desejo.

Este desejo de receber é tão complexo e perspicaz que na melhor das hipóteses, nós raramente percebemos que somos escravos dele. Claro que ninguém no seu perfeito juízo admite que seja escravo de alguém ou de algo. Mas, se a pessoa pára para refletir seriamente porque ele ou ela faz certas coisas, até mesmo ações da mais alta moral, existe somente uma conclusão que explica todas as ações. Nós agimos somente para receber prazer para nós mesmos…… ponto final.

Este é um conceito excepcionalmente difícil de entender.  Como professor de Cabala, eu noto que, a maioria dos estudantes ao início debate-se com tal conceito. Eu, imediatamente recebo uma litania de exemplos de alunos tentando mostrar que o descrito acima está absolutamente errado. Alguns desses exemplos incluem os milhões de pessoas que doam para caridades todos os dias, um homem se joga em cima de uma Granada durante  uma guerra  para  salvar  crianças.  A  Madre  Teresa  construindo  orfanatos  para crianças, a lista é virtualmente sem fim. Ainda assim, quando eu pergunto porque pensam eles que essas pessoas fizeram o que fizeram, a resposta final não é “para salvar a vida das crianças.” É porque a pessoa que fez tal ação sentiu que era a coisa certa a fazer.

Em outras palavras, no julgamento destas pessoas, o ato correto foi determinado por ser exatamente o que eles fizeram. De fato, cada pessoa em cada exemplo fez algo que talvez possa até ter tido um impacto negativo causando grandes sacrifícios a elas mesmas, mas elas não seriam felizes com nenhuma outra ação. Por exemplo, no caso da granada de mão, o soldado colocou o valor da vida das crianças acima da sua própria vida, tornando assim impossível não realizar a ação que fez.

O desejo de receber prazer é tão poderoso que pode até mesmo cancelar a gratificação imediata, tais quais como segurança ou dinheiro, para que no futuro um prazer maior possa ser recebido. No final das contas, se nós tivermos alguma participação em algum resultado, se nós calcularmos maneiras de atingir este resultado, o nosso desejo de receber tomou aquela decisão.

Então, o que acontece realmente com o desejo de receber e por que causa tais ações quando o desejo se apresenta? A resposta é simples – um juízo é feito. Um cálculo ocorre respeitante ao prazer que uma ação pode trazer versus ações alternativas e o prazer que elas podem talvez trazer. Este cálculo ocorre a uma velocidade relâmpago, e nem sempre requer um pensamento consciente. Que ferramenta engenhosa tem tal capacidade para realizar estes cálculos e fazê-los literalmente milhões de vezes ao dia? A resposta está bem entre as nossas orelhas: a maravilha de um computador biológico ao qual nós chamamos cérebro. Nós iremos falar mais sobre esta miraculosa máquina de calcular, mais adiante.

A vontade de receber está desenvolvida de tal modo perfeito em nós, que isto perturba a mente ao considerar quantas ações controla a cada segundo. Cada função do corpo opera através deste meio ambiente. Todos os sistemas agem de maneira coordenada para assegurar a mais alta eficiência para a sobrevivência mínima de uma pessoa, num nível inconsciente; todos os cálculos que requerem um processo cognitivo consciente ocorrem simultaneamente.

Cada segundo, ou cada movimento que fazemos, seja balançando na cadeira do escritório para ajudar a acalmar o estresse ou trazer flores para as nossas esposas depois do trabalho, é o desejo de receber que é deliberado, analisado e calculado antes que qualquer ação aconteça. A maior parte deste processo passa completamente despercebido, sem qualquer esforço cognitivo. Sente-se de braços cruzados e pense por um momento quantos movimentos individuais são necessários para se levantar e pegar num copo de água  quando estamos com sede.

Claro que, aí existe também um cálculo. Entre no cérebro. Os nossos sistemas biológicos detectam o desejo por água, então nós sentimos sede. Nós agora podemos ou não ir buscar um copo de água. Isso depende dos cálculos do cérebro. Por exemplo, se nós estamos sentados em frente á televisão assistindo ao nosso programa preferido ou a um jogo de bola particularmente interessante, nós talvez abriremos mão daquele desejo, pelo menos até o próximo anúncio comercial.

O que aconteceu? O cérebro fez o cálculo, pesando o prazer que nós iríamos receber ao sair da poltrona agora, e ir pegar água em oposição ao prazer que nós sentimos com o que estamos assistindo. Se o indivíduo aqui é um homem, e a sua esposa assiste á sua novela preferida, ele não irá hesitar em levantar-se e pegar água. Mas se for o Campeonato do Mundo e a sua seleção está jogando, a água pode esperar.

O cálculo feito a, como e quando se executar uma ação é um cálculo de trabalho. Esta é a fórmula fundamental que ocorre no cérebro: possível prazer recebido versus o trabalho necessário para receber o prazer. Se estivermos muito doentes, deitados na cama dormindo e o telefone toca à noite, nós provavelmente não iremos sair da cama para atendê-lo. Mas se a casa está pegando fogo nós podemos estar literalmente no nosso leito da morte, mas nós iremos sair de casa, de alguma maneira. O cérebro dá prioridade. Ele corresponde, compara, avalia e toma uma decisão baseado no resultado da sua análise. Uma vez a decisão feita, então somente existe uma ação.

No caso de desejo como sede por água, é fácil ver como o desejo de receber funciona. A confusão acontece quando nós começamos a considerar ações onde a pessoa está aparentemente dando aos outros, assim como pessoas que apóiam caridades, ou Escoteiros que ajudam a velhinha a atravessar a rua. A resposta é que existem duas maneiras de receber para si mesmo.

A primeira é a mais simples: o desejo de receber com a finalidade de receber. A segunda é o desejo de dar para receber. Assim como mencionado anteriormente, o desejo de receber é excepcionalmente perspicaz. Não só encontra maneiras de receber simplesmente para si mesmo, como pode até mesmo encontrar maneiras de receber por dar aos outros.

Na superfície, isto não faz qualquer sentido. Que prazer pode uma pessoa possivelmente receber ao dar? Claro que, quem já foi a uma festa de aniversário, e levou um presente para o amigo e o colocou na mesa com os restantes presentes, está bem ciente de como mal pode esperar para que o  seu amigo abra o presente que trouxe. De fato, é da mais alta importância que o presente que levou seja apreciado pelo aniversariante. Caso contrário, existe um profundo sentimento de tristeza, um desapontamento que é muito difícil de explicar. De fato, nós também sentimos certo tipo de prazer por um ato de doação.

Algumas pessoas descobriram quão agradável este tipo de recepção pode ser, e literalmente dão milhões de dólares para caridades pelo mundo todo. Não é que eles gostem necessariamente de gastar o seu dinheiro ganho através de trabalho duro, é que simplesmente eles recebem um prazer que é maior ao dar do que poupar e gastar só com eles mesmos. De fato, algumas pessoas são tão dependentes deste tipo de prazer que se você fosse de alguma maneira proibi-los de continuar com isso, eles considerariam que não vale mais a pena viver.

É importante esclarecer aqui, que a Cabala não diz que as pessoas que recebem com a finalidade de receber, ou dão com a finalidade de receber são de alguma maneira, más. De fato, é bem ao contrário e existe uma razão especial para isto. Veja, aqueles desejos que causam tais ações vêem diretamente do Criador. Diariamente, as pessoas seguem simplesmente o programa sob o qual elas foram criadas. Assim como um computador sofisticado que diz “se sim, faça isto, se não, faça aquilo”, elas caminham  felizes no dia a dia, recebendo desejos, calculando, e satisfazendo – ou não – dependendo dos resultados do cálculo.

As pessoas recebem os seus desejos de dois lugares distintos. Primeiro, existem os desejos animais, que são os mesmos de qualquer outro animal biológico. Estes desejos por comida, descanso, abrigo e procriação são genéticos e evidentes, não importa se a pessoa vive em sociedade ou não. O que nós precisamos realmente? Precisamos de um pedaço de comida para mastigar, uma caverna para nos abrigarmos dos elementos atmosféricos e  para descanso, um parceiro para satisfazermos os desejos físicos e de procriação, tal como qualquer outro animal.

Depois a sociedade assume o controle. Existem desejos, tais como dinheiro, honra, conhecimento e poder que nós dependemos da  sociedade para obtê-los. O que estes nos oferecem? O dinheiro determina se nós comemos aquele pedaço de comida ou se nós saboreamos um filé mignon nalgum restaurante caro. Este determina também se nós ficamos na caverna  ou se vivemos numa mansão de 20 quartos, ou qualquer coisa pelo meio. Por vezes, o dinheiro determina até mesmo, o parceiro que nós escolhemos.

Todos querem se sentir bem com eles mesmos, e se não incomodá-los, isto não exige muito esforço.

Todavia, é aqui que a sociedade começa realmente a entrar em jogo. Como? A nossa opinião a respeito do nosso valor pessoal, é drasticamente influenciada por como somos considerados pela sociedade na qual vivemos. Não é de admirar que o mendigo, desempregado e todos aqueles com problemas de droga têm pouca, ou nenhuma auto-estima. Tudo o que é preciso fazer é observar como a sociedade vê tais pessoas.

Depois, existe o nosso meio ambiente mais próximo. Todos nós já experienciamos a síndrome de “fazer ou ter como o vizinho”. Se o nosso meio ambiente mais próximo nos ditar que é importante ter certo tipo de carro, você verá garagens cheias deles. Se há certo estilo de cabelo, toda a mulher o estará usando. Se caçar é o que determina a masculinidade de um indivíduo em certa área, caçar será um esporte popular. Por outras palavras, a nossa sociedade fornece-nos com o que ela considera importante nestas áreas.

Hoje, uma formação universitária é uma necessidade virtual ou real. De fato, o seu valor mais se compara ao valor de uma formação do segundo grau alguns anos atrás, quando o diploma do segundo grau era considerado uma “vantagem”. No mundo atual da tecnologia, o diploma de pós-graduação é a vantagem.

Mas, se uma pessoa se muda para um país atingido pela pobreza e é deixada lá sem posses, as mais simples questões de sobrevivência serão consideradas da mais alta importância. Comer, beber e ter abrigo pode ser considerado honroso, enquanto educação não significará virtualmente nada, exceto talvez para se escapar deste ambiente desafiador.

Claro, que nós temos alguma liberdade de escolha. As modas atuais oferecem uma variedade de cores e formas, o último tipo de carro virá em modelos diferentes, feito por diferentes companhias, e nós temos uma variedade de escolhas para aquele diploma universitário. Mas mesmo nestes, as nossas escolhas serão baseadas em desejos, o que compreendemos dar- nos-á maior prazer. Se algo em mim prefere o verde, a probabilidade é que o meu carro será verde. Por quê? Porque eu me sinto melhor com um carro verde.

Para resumir, toda a ação é predeterminada pelos nossos desejos e de cada um de nós. Nós recebemos estes desejos de duas fontes diferentes: da nossa genética e do nosso meio ambiente. Nós somos pressionados de uma maneira ou de outra a satisfazer o que nós calculamos que nos irá trazer maior prazer, baseados nos desejos que nós recebemos. Contrariar estas pressões é praticamente impossível.

Os desejos da sociedade entram em nós através dos nossos cinco sentidos. Quando nós cheiramos uma torta de maçã, um desejo que anteriormente não estava lá aparece. Existe alguém que só comeu uma batata frita e não estendeu a mão para pegar outra? O sentido do paladar imediatamente é aguçado e de repente, nós sentimos que a nossa vida será incompleta sem a próxima batata frita.

Mas existe mais um desejo; o desejo mencionado no primeiro capítulo deste livro. Qual é este desejo e de onde vem ele? Por que ele primeiro nos provoca, depois nos irrita, e finalmente nos leva a procurar respostas? Qual é a base fundamental para este desejo e como o realizar? Quem somos nós, realmente? A resposta está na descoberta singular daquela entidade espiritual chamada “a alma!”

 

CAPÍTULO 2

Do livro “Sabedoria Maravilhosa”

ESPIRITUALIDADE

Espiritualidade. A própria palavra provoca uma cavalgada de descrições, que varia entre o que encontramos no fundo de uma garrafa de tequila, a religião, a cultos, a fantasmas e a gnomos. Mas o que é essa coisa a que chamamos de “espiritualidade?” É um lugar como o céu? É uma religião como o Cristianismo, o Judaísmo ou o Islã? É uma condição? É um estado de espírito? Ou é uma combinação?

Se considerarmos a carência do qual sofremos, nós podemos resumi-la. Seja o que a espiritualidade for, não é definitivamente daqui, deste mundo em que vivemos, comemos, dormimos, respiramos e satisfazemos uma quantidade generosa dos nossos desejos. O tema tem sido discutido, refutado, pontificado, enterrado, e ressuscitado mais vezes do que pode ser enumerado. Contudo, qualquer que seja a razão, uma definição única de “espiritualidade” ainda nos escapa.

Tendo sido examinada de vários sentidos, a maioria das pessoas concorda com um fato: a espiritualidade é onde a “alma” reside. Em outras palavras, é o meio ambiente da alma. Isto é tudo muito bom, mas não define nada até sabermos o que é uma alma. É como dizer a alguém de outro planeta que “isto é uma casa de cachorro” sem saber o que é um cachorro.

Em geral, existem quatro atitudes comuns acerca da alma, bem como da nossa existência física e espiritual. Essas quatro atitudes são religiosa, secular, científica e filosófica. A seguinte descrição é retirada de “Attaining the Worlds Beyond” e oferece uma breve explicação de cada uma:

 

DEFINIÇÃO RELIGIOSA DE ESPIRITUALIDADE

Vestida dentro de cada um dos nossos corpos físicos, há uma entidade eterna chamada de “alma”. A alma é eterna, e como objeto não tem praticamente nada a ver com o mundo em que vivemos fisicamente, salvo se habita um corpo. Tem uma existência completamente independente do corpo físico e existe antes, durante e depois da existência do corpo físico.

A alma não é um “corpo”, como o conhecemos, não tem órgãos ou atributos físicos, e pode ser considerada “una” ou indivisível. É como dividir a água de um cântaro por três copos, a água em cada um dos copos contém todos os elementos da substância original, não faltando nada. A alma contém certas qualidades que ela expressa, quando vestida em um corpo físico. Mais ainda, o corpo físico assume as qualidades espirituais da alma, enquanto esta  o habita.

O próprio corpo é simplesmente uma substância física e biológica sem características próprias até que a alma o habite. O domiciliar de uma alma num corpo é chamado de “nascimento” físico e a saída de uma alma de um corpo é chamada de “morte” física. Sem a alma, o corpo não se move ou interage de forma nenhuma, porque a alma é responsável pela vida e movimento do corpo.

 

SECULAR

Esta abordagem também é conhecida como abordagem “dualista”, para explicar a existência da alma, bem como para explicar a  nossa  existência física. A maior parte dos estudantes universitários que tiveram aulas de biologia está muito familiarizada com uma experiência que foi repetida muitas vezes. Sob as condições correta, químicos, gasosos e sólidos são misturados dentro de uma câmara de vácuo, uma faísca elétrica é induzida e pronto, a vida instantânea aparece. A descoberta de tal ciência levou a uma expansão da  idéia religiosa inicial. Ela é algo como isto:

Com certeza as almas habitam os corpos, mas não necessitam fazê-lo para que o corpo físico exista. O corpo biológico pode existir como uma unidade totalmente independente, capaz de executar todas as funções da vida. Ele exibe qualidades próprias, apesar de nenhuma ser espiritual. Mas aqui é que está a questão. A fim de possuir realmente qualidades espirituais, a alma deve habitar o corpo, tal como no conceito original religioso. E, uma vez que a alma é uma entidade espiritual, o corpo é o destinatário das boas qualidades unicamente quando habitado pela alma. Caso contrário, ele é simplesmente como qualquer outro animal, até ao momento em que é habitado pela alma.

Mas a alma é a força controladora atual, porque é o que faz o corpo nascer e o mantém também.

 

CIENTÍFICA

Esta abordagem também é conhecida como a atitude “descrente”.

Basicamente esta idéia nega completamente a existência de uma alma ou espiritualidade. Na verdade, a única coisa que existe é o que está aqui, o que pode ser visto ou detectado fisicamente. Todo o evento que o corpo realiza é uma função dos cálculos do cérebro no que diz respeito à dor e prazer. Os dados são recebidos através dos nossos sentidos e analisados pelo cérebro, que então determina se o que está sendo percebido causa dor ou prazer.

O cérebro também tem a capacidade de armazenar informações sobre o que ele tem vivido como dor ou prazer. Ele tenta recriar as situações de prazer repetidamente. O inverso também é verdadeiro no que diz respeito à dor. Portanto,  neste  conceito,  quase  tudo  funciona  por  exemplos  e  memória.

Naturalmente, o cérebro é capaz de adivinhar o que percebe como prazer e  que algo semelhante vai também produzir prazer.

Então, nesta visão, o que nos separa dos animais? A diferença  entre nós e digamos, o dedicado animal de estimação que está deitado a seus pés, é simplesmente o desenvolvimento avançado do cérebro humano. O cérebro humano analisa e atua em centenas de milhares de vezes mais dados do que o seu companheiro animal. Esta enorme quantidade de análise é a nossa “razão” e é a responsável pela nossa superioridade sobre qualquer outra criatura.

Esta razão decorre tanto da quantidade de dados que podemos processar e da velocidade com que os processamos. Assim, os animais são categorizados pelo volume e velocidade com que analisam e processam. Evidentemente, esta abordagem é de longe a mais científica. Ela se baseia totalmente no que temos diante de nós, o que podemos ver ou detectar através de experiências científicas. A base para toda a ação ou não ação do que fazemos, é o tratamento de dados que chega até nós através do nosso ambiente.

A desvantagem desta abordagem é que retira qualquer conceito romântico de humanidade e relega-nos a meros escravos do nosso ambiente, constantemente calculando prazer versus dor. Qualquer conceito de  livre arbítrio vai direto pela janela fora, sendo todas as nossas ações apenas uma combinação da nossa composição genética inicial e do nosso ambiente. Deste grande enigma, que não atrai a maioria dos cientistas, veio a tentativa final de criar uma abordagem mais saborosa que nós referimos como “filosófica”.

 

FILOSÓFICA

O conceito “filosófico” ou “moderno” retira o melhor de todos os três conceitos e tenta fornecer uma explicação para a nossa existência física e espiritual. Sim, a alma existe. Sim, a alma é o verdadeiro “nós”. Sim, a alma é um ser eterno e espiritual. Sim, a nossa composição genética e o ambiente afetam fortemente a nossa maneira de ser. Claro que, e mais uma vez, levantamos muitas questões, mais do que as que respondemos, mesmo que combinemos estas três definições.

No fim de contas, os três conceitos que aceitam a existência da alma não nos conseguem explicar como ela se relaciona ao corpo, neste mundo.  Nós sentimo-nos mais confortáveis com o que podemos ver, ouvir, cheirar, tocar e sentir. No entanto, a versão científica da espiritualidade deixa completamente sem resposta, esta sensação de carência, incrivelmente forte. O que a maioria de nós acaba fazendo é fantasiar sobre o espiritual, simplesmente assumir que ele existe. Aqueles que acreditam que não há nada para além do que temos aqui são muito poucos, pois quem quer acreditar que  a sua existência termina com a morte física?

Aqui estamos nós, lutando contra uma velha dicotomia. Nós queremos acreditar em espiritualidade e na alma, mas não temos por base, absolutamente nada de concreto. Se aplicarmos o nosso raciocínio normal para o problema, a nossa conclusão lógica é muito dolorosa para a maioria de nós engolirmos. Para resumirmos o problema ao básico, não podemos logicamente dizer que “aceitamos” a existência de algo a não ser que realmente a experimentemos. Nossa única solução seria, de alguma forma, experienciar a percepção de algo espiritual, ainda que não tenhamos nenhuma idéia concreta de perceber o que definimos como “espiritual”… ou temos?

Quase todo mundo tem uma opinião sobre o que a espiritualidade é,  mas quase ninguém tem qualquer ligação com o mundo espiritual ou qualquer idéia como ele funciona. As pessoas têm argumentado que o espiritual pode ser entendido através das artes, como música, ou através da ciência, da religião, até mesmo psicologia. Mas a espiritualidade realmente só pode ser compreendida quando experimentada. Isto significa que uma pessoa precisa  de algum modo ser capaz de entrar no “local do espiritual”, de pesquisá-lo e determinar quais as suas propriedades. Por outras palavras, devem empreender um processo de descoberta. A ferramenta para este processo é chamada de “Cabala”.

Cabala é um sistema claro e conciso, que nos ajuda a descobrir essa misteriosa carência, e fornece-nos então um método comprovado para preenchê-la. Não se pode atingir o espiritual através do psicológico ou qualquer outro meio terrestre. Métodos que envolvem meditação ou música especial, certamente produzem fenômenos psicológicos que nos fazem sentir bem, mas que não é a espiritualidade a que me refiro.

O mundo espiritual a que me refiro só pode ser revelado através de uma sabedoria que se apresente como um ramo, uma tábua de salvação, uma conexão entre o “aqui” e o “lá”. O nosso mundo, bem como o espiritual, operam através de forças. O estudo do método da Cabala é um sistema complexo composto do trabalho da pessoa, que atrai sobre si uma força muito especial e única.

A esta força especial a Cabala refere-se como “Luz” que desperta o desejo espiritual em nós, o desejo de preencher a carência que originalmente nos trouxe em busca de respostas. Esta carência é o nosso desejo de  continuar a viver neste mundo, mas essencialmente no corpo animal a partir de uma perspectiva física. O que muda é tudo o que tem a ver com as nossas mentes e os nossos desejos; devem operar numa frequência totalmente diferente, como que rompendo uma barreira invisível para outro mundo.

Este tipo de descoberta espiritual que geralmente cunhamos de “realização” não pode ser vista, apresentada ou dada a conhecer a ninguém.  As pessoas que não a experimentaram, não podem sentir ou compreender as explicações para tal. Realização é um sentimento único, completamente íntimo, uma sensação que é alcançada através do estudo desta sabedoria  maravilhosa.

Colocado de uma maneira simples, a Cabala é um método que permite uma pessoa experienciar e investigar o espiritual. Ao fazê-lo, descobre e atinge diversos graus espirituais e estados. O processo que nos permite ter estes discernimentos    incríveis    deriva     de     um    conceito    espiritual    chamado “Equivalência da forma”, que será descrito em detalhe neste livro.

Para começar, vamos fazer um breve resumo do que está exatamente contido no espiritual. Basicamente, existem dois elementos e um processo. Estes dois elementos são o Criador e a criatura. O processo é um método semelhante a uma máquina que começa com estes dois elementos, afastados um do outro como o oeste do leste. Através de uma sucessiva série de etapas espirituais, a criatura lentamente se aproxima do seu Criador. Ao fazer isto, mais e mais, o Criador é revelado gradualmente.

O CRIADOR

A Sabedoria da Cabala, a nossa ferramenta de pesquisa, utiliza a sua própria linguagem específica, a fim de descrever certos aspectos da vida espiritual. Por exemplo, termos como Deus, Criador e Emanador são realmente os rótulos de forças específicas e graus. Os diferentes nomes de Deus usados dentro da Sabedoria simplesmente descrevem a nossa percepção  de  uma única Força de uma perspectiva diferente do experimentado anteriormente. Por outras palavras, a diferença entre um grau espiritual e outro, não significa que o Criador tenha mudado, é só que um pouco mais Dele nos foi revelado porque nós mudamos.

Muitos, quando começam os estudos, estão sob o equívoco que a Cabala é mais do que uma Força, mas não é. Eles perguntam: “Quer isto dizer que não existe uma única Força, uma Força suprema em todo o universo?”  Pelo contrário, é a nossa mudança de perspectiva que provoca esta ilusão de que há mais do que uma Força e diferentes Luzes – estas são diferentes percepções do Criador.

Nós experimentamos um grau de cada vez, assim, tudo o que nós experimentamos como o grau imediatamente superior, percebemos sempre como o Criador. Na verdade, quando descobrimos um grau, ele vai parecer tão perfeito, tão certo, que achamos virtualmente impossível que haja qualquer outra coisa, exceto este grau. A nossa experiência é “É isto, eu encontrei tudo”. No entanto, com o passar do tempo, outra camada será adicionada, desde que continuemos a trabalhar nesse sentido.

Pode-se olhar também para este processo a partir de outro ponto de vista. O Criador também pode ser considerado como a Coleção das Forças que vamos descobrindo, a Soma das partes. Esta Força Coletiva na verdade, controla todo o sistema da criação. Sob esta perspectiva, o Criador é Uno e é completamente Único. Esta força, o Criador, tem apenas uma única missão, deliciar Suas criaturas, de qualquer maneira possível, para que possam ser deliciados. Esta é considerada a lei principal dos mundos espirituais.

Todas as outras leis são um ramo dessa lei, que caem em cascata e são responsáveis por tudo o que acontece. Como devemos observar esta lei? A resposta mais simples, é que cada coisa que acontece a você a cada segundo do dia, tem um único objetivo: levá-lo ao ponto de êxtase absoluto, e ser completamente preenchido pela Luz do Criador.

A Cabala rompe a estrutura do espiritual em pedaços, depois esses pedaços em mais pedaços. Pode-se também visualizar toda a estrutura, como uma cebola com cinco camadas. No centro está o coração, o Criador. Nós, as almas, estamos na camada mais externa da cebola. Estamos ocultos do Criador por estas cinco camadas, que a Cabala chama de “mundos”.

Pode-se pensar nestas camadas como revestimentos, ou véus, que escondem o que está no interior. A primeira camada da cebola, o primeiro mundo, é chamado Adam Kadmon. Os mundos seguintes, as camadas adicionais entre o Criador e nós, a Cabala dá os nomes de Atzilut, Beria,  Yetzira e Assiya, a camada mais externa.

Do ponto mais íntimo, do coração da cebola, o Criador puxa-nos para ele. Se colocarmos uma bala de canhão na nossa cama, depois uma bola menor na beira da cama, observamos que a bola menor impulsiona-se em direção á bala de canhão. Evidentemente, todos nós já testemunhamos o efeito da gravidade. O Criador funciona de maneira muito parecida com esta força, puxando constantemente as Suas criaturas para mais perto Dele.

Quando nós, como Suas criaturas, sentimos aquele rebocar, a puxar para o interior, normalmente sentimos isso como dor. Essa dor é o resultado da nossa resistência. Mas quando começamos a colaborar com essa Força e a trabalhar com ela, com a intenção de chegarmos mais perto do Criador, nós não iremos sentir qualquer dor. Em vez disso, a Força vai se tornar uma fonte de prazer. Ela será uma boa sensação. Evidentemente, a antítese também está correta. Quanto mais nós resistimos, mais dor se sente. Esta é a fonte dos nossos problemas e dos problemas que a sociedade enfrenta como um todo

Assim, podemos olhar para a Cabala de uma maneira diferente. Sua sabedoria maravilhosa fornece-nos um método com o qual podemos ver, de modo a que não importa qual seja a situação ou circunstância, estamos sempre de acordo com essa Força. Ao fazê-lo, estamos sempre indo na direção certa, na direção do Criador. Assim, embora a Cabala não dê respostas aos nossos desejos no nosso mundo, tem um propósito ainda mais importante:  dar-nos uma percepção de uma nova realidade que se abre diante de nós, uma vida nova que nos satisfaça.

Igualar o Criador significa ser igual a Ele em todas as manifestações. Não faz referência à Força Superior em si, mas à forma como Ele se relaciona às coisas, como Ele aparece diante de nós, dentro de nós, como um Poder Supremo, como Essência, da mesma forma que Ele quer que você O sinta. Uma palavra de cautela é necessária aqui. O acima exposto não quer dizer que nos tornamos Deus ou que nós somos Deus. Significa simplesmente que quando entramos no espiritual, sejamos capazes de igualar o atributo do Criador (i.e. outorga), não a Sua essência. Esta confusão levou a equívocos graves onde as pessoas pensaram, “Nós somos Deus”.

O Criador nos criou do Seu desejo de dar, de conceder. Ele criou a nossa vontade de receber exatamente na mesma quantidade que ele queria dar. É por isso que temos de alcançar tudo o que Ele nos quer dar – a eternidade, a força, a perfeição, o controle total. Portanto, a nossa meta é obter as mesmas características.

A principal lei da criação é a singularidade do Criador – Um só e único Poder que controla tudo.

A segunda lei da criação é que o Criador é totalmente benevolente.

Nós não podemos resolver a contradição entre estas  duas leis, como elas aparecem na nossa concepção da realidade. Se nós explorarmos o mundo que nos rodeia, certamente não parece que o Criador está sendo benevolente. Mas as pessoas que alcançam a equivalência da forma irão dizer-lhe que não é teoria, mas puro fato. Como eles sabem isso? Eles descobrem este fato dentro dessa sensação do Criador. As pessoas, que entram no espiritual e trabalham para a obtenção de equivalência da forma são chamadas de “Cabalistas”.

O trabalho que eles executam é chamado de “correção”. Esta correção não é como a correção de uma criança que se tenha comportado mal, mas  mais como a correção feita quando se sintoniza a estação no rádio, recebendo assim a estação mais claramente. Haverá muito mais sobre isto mais tarde.

A CRIATURA

Como criaturas, nós estamos no centro da criação do Criador.  Nós fomos criados para um único propósito: primeiro, para estabelecer contato com Ele, depois começar um relacionamento com Ele. Evidentemente, nosso objetivo final é realizar, ou seja, transformar em realidade o Seu único propósito, o deleite da Sua criação. Nós realizamos esta tarefa através de um processo chamado de “correção”, que significa conseguir a equivalência da forma.

A correção de uma pessoa torna possível, ela ser preenchida com a Luz do Criador, que significa sentir o Criador. Esta sensação é exatamente onde experienciamos o mundo espiritual. Para realizar a nossa tarefa, devemos estar completamente preenchidos com o Criador. Partimos de um estado que a Cabala chama de “este mundo”, onde o Criador está totalmente oculto de nós.

Os mundos espirituais são medidas de ocultação do Criador de Suas criaturas. A fim de esclarecer este ponto, deixe-me repetir que os mundos espirituais não são mundos como pensamos deles na corporalidade. Eles são apenas ferramentas de medição, os seus rótulos são semelhantes a sinais de diferentes níveis de ocultação do Criador.

A nossa percepção inicial, aquele primeiro contato, é considerada a ascensão da alma ao primeiro grau espiritual. O que acontece depois? A alma continua  o  processo  de  correção,  tornando-se  mais  e  mais  semelhante ao Criador. Claro que, em cada grau atingido, nós sentimos muito mais fortemente o Criador. Então, a certo ponto, chegamos a uma etapa final da nossa correção pessoal. A Cabala chama a isso de Gmar Tikkun, ou o “fim da correção” da alma.

A CORREÇÃO

O desejo de apreciar o que foi criado pelo Criador é chamado de “criatura”, ou “substância” da criação. No entanto, este desejo não pode ser preenchido na sua forma primitiva, porque assim que é preenchido com prazer, a alegria desaparece. Qualquer um, que já mergulhou numa enorme fatia da sua sobremesa favorita experimentou este fenômeno. Quanto mais comemos, a mais deliciosa das sobremesas, menos nos deliciamos. Na verdade, se nós comermos demais, vamos acabar doentes.

Portanto, há um problema. Os desejos que experimentamos são incompletos. A intenção do Criador desde o início foi fazer o desejo completo. No entanto, isto só acontece quando a nossa intenção é semelhante ao atributo de outorga do Criador, pelo nosso livre arbítrio. Uma vez que este atributo não é limitado na sua utilização pelas emoções, podemos alcançar a perfeição e a eternidade. Uma pessoa pode se cansar da sobremesa, mas se sente prazer dando-a a mais alguém, então o prazer simplesmente continua a  crescer, nunca negando o desejo.

Correção, significa que cada pessoa é obrigada a transformar a vontade de auto-prazer em vontade de agradar ao Criador. Ao executar esta simples tarefa, o resultado é que o nosso desejo de desfrutar iguala justamente o  desejo do Criador em nos dar prazer. O principal ponto aqui é que o Criador está levando a Sua criação a um ponto, onde ela pode realmente usar o seu único atributo, o desejo de receber, de uma maneira correta.

Assim, a correção pertence apenas à correção do objetivo, acima dos desejos que aparecem numa pessoa. Por outras palavras, para cada desejo único que aparece numa pessoa, ele ou ela deve, eventualmente, utilizá-lo  para beneficiar os outros. É importante notar que estas correções não podem ser realizadas pela criatura, mas sim pelo Criador. Por outras palavras, elas  são realizadas num grau espiritual mais elevado, do que o nosso atual. Nós nunca temos a força para realizar auto-correções. Devemos simplesmente cultivar o desejo de sermos corrigidos, que é uma oração para a correção, até certa intensidade. O Criador vai cuidar do resto. O próximo grau superior irá executá-lo. Aqueles que estão sendo ou que tenham sido submetidos a este processo de correção são chamados de “Cabalistas”.

Para uma verdadeira correção, temos de escolher um lugar que sentimos no nosso coração, ser exatamente o lugar certo para nós

Esta necessidade não precisa ser por causa da presença de um grande professor,  altamente  considerado  pelos  outros,  e  também não  porque esse professor é eloquente e instruído. É preciso escolher um local onde as coisas faladas, são as que se deseja saber, de coração.

Então o que devemos fazer quando começamos a perceber o nosso propósito e a necessidade de cumpri-lo? Como é que começamos este processo de revelar o Criador? Devemos procurar em nossos corações e sermos honestos com nós mesmos, não concordando com nada a menos que achemos certo. Isto inclui até mesmo a menor das coisas, porque a alma deve encontrar o local onde ela será corrigida.

A primeira pergunta que a maioria das pessoas que descobrem esta carência faz, é: “Como é ter a sensação do Criador?” A sensação do Criador não pode ser descrita com precisão, em palavras. Por quê? Nós simplesmente não temos palavras para descrevê-la, apesar de ser uma sensação muito real, de fato, conforme está escrito: “Prove e veja que o Senhor é bom”.

 

CAPÍTULO 1

Do livro “Sabedoria Maravilhosa”

Por que Escolhi este Livro?

Ao longo da história da humanidade, nós, como criaturas temos procurado encontrar uma maneira de viver esta existência incrivelmente curta que todos nós experimentamos como “nossa vida” de forma pacífica e tranquila. No entanto, por alguma razão, o processo parece andar para trás. Paz e tranquilidade parecem estar presentes apenas nos primeiros anos da nossa vida, seguido por uma longa série de situações cada vez mais intensas, que nos conduzem a um labirinto de caos a que chamamos de “vida adulta”.

Como crianças, começamos com a mais ínfima das preocupações, apenas por alimentação, sono e calor humano. No entanto, a partir do primeiro elemento de responsabilidade forçado em nós, as nossas vidas começam um lento mas persistente processo de aumento de estresse e sofrimento, embora geralmente intercaladas com pequenas pausas de alegria e felicidade.

A adolescência traz uma miríade de mudanças internas e externas, e junto com elas, um passeio de montanha-russa de altos e baixos emocionais. Estes altos e baixos são sentidos tão intensamente, que o adolescente normal pode mudar do sentimento de “meu mundo está acabando” para o de “a vida é maravilhosa”, várias vezes ao dia e normalmente o faz.

Enquanto jovens adultos trocamos uma série de problemas por outros totalmente diferentes. Conhecemos “o outro significativo” com o qual, provavelmente passaremos a maior parte das nossas vidas. Esta união geralmente leva a adicionais expressões de amor, que não só aumentam a nossa alegria, mas também as nossas dores de cabeça, preocupações e gastos mensais.

Com o passar dos anos, que aparentemente se move um pouco mais rápido, apercebemo-nos que muitos dos nossos esforços de vida originais, foram trocados por algum outro elemento de segurança, a fim de prover para a casa agora cheia de entes queridos. Uma carreira estável tornou-se uma necessidade para prover a nossa família com as suas necessidades e desejos. Escolaridade adequada é uma necessidade absoluta nesta era de alta tecnologia, e o entretenimento tornou-se a parte mais importante para fugir do estresse associado á nossa luta incansável para educar, prover e divertir.

Uma manhã acordamos, nos olhamos ao espelho e vemos alguém cujo cabelo escuro grosso, a que não dávamos a devida importância, possui agora uma tonalidade adicional, que por vezes, chamamos carinhosamente de “loira”. Aquele duro, esguio corpo tem crescido milagrosamente um pouco mais suave na cintura, e quando nos levantamos, há algumas partes que não acordam tão rápido como as outras. Descobrimos que fomos golpeados por uma condição que adquirimos após anos de conflito: a meia-idade. Novamente, as responsabilidades mudam, algumas desaparecem outras são adicionadas.

E ao vermos os anos a evaporarem-se para novos ambientes como netos e aposentadoria, os acontecimentos que dantes nos causavam a perda de cabelo alteraram-se para problemas como a saúde, segurança, e até mesmo solidão. Apercebemo-nos que a nossa paciência tem crescido mais e mais, e o nosso objetivo são agora reduzidos para empreendimentos mais realistas que não requerem décadas para serem concluídos.

Mas este processo incrível chamado “vida como a conhecemos”, pode por vezes incluir uma irritação adicional. Esta contrariedade em particular, pode surgir a qualquer momento nas nossas vidas, e sem solução aparente aos seus anseios. Geralmente é tão sutil que ao princípio nem sequer reconhecemos qual é o problema. Qual é a preocupante questão sem resposta aparente? É uma questão excepcional, uma maravilha que é ao mesmo tempo cruel, mas justa.

Esta pergunta é:

“Qual é o sentido da minha vida?”

Esta questão vem até nós numa variedade de formas.

“O que estou fazendo no planeta?”
“Porque é que a minha vida está do jeito que está?”

“O que eu deveria fazer aqui? Isto é tudo?”

Geralmente, encontramos esta pergunta a intrometer-se nos nossos pensamentos sempre que atravessamos uma crise particularmente exigente. A intensidade desta pergunta é quase sempre diretamente relacionada com o sofrimento que estamos a experimentar a um dado momento. Quanto mais sofremos, maior é a gritaria. Para alguns de nós no planeta, a questão torna-se tão nítida e exigente que, começamos a procurar uma resposta.
No início, a busca só levanta questões adicionais, tais como:

“O que procuro?”
“Por onde começo?”
“Pode realmente haver mais do que apenas… isto?”

A nossa pesquisa leva-nos por inúmeros caminhos, uma infinidade de soluções, variando de diferentes exercícios físicos a cultos estranhos, todos prometendo de uma maneira ou de outra, satisfazer o nosso desejo crescente pelo que é normalmente considerada “a verdade”.

Aquele de nós, que sofrem desta busca insaciável, nos pegou indo a este encontro ou aquela palestra, lendo um livro ou assistindo a algum vídeo, sempre em busca de algo que simplesmente não conseguimos identificar. Nós sabemos o que queremos, apenas não sabemos exatamente o que é que nós queremos. Há uma carência, um vazio, falta alguma coisa. Quanto mais se procura, quanto mais tentamos soluções prometidas para anular esta “carência”, mais frustrados ficamos, quando a solução prometida só nos tira o nosso tempo, ou pior, esvazia as nossas carteiras.

Este livro foi escrito para todos vocês que sabem exatamente do que eu estou a falar, para aqueles que experimentaram esta “carência”. Se você se encontra na descrição acima geralmente referida como “buscadores”, com toda a certeza é a razão de ter aberto este livro.

Candidatos podem ser encontrados em todas as camadas sociais. Você pode encontrá-los nas mais horríveis das circunstâncias, na miséria, tendo sofrido de calamidades numerosas demais para contar, ou pode encontrá-los na outra extremidade do espectro. Quantas vezes já ouvimos histórias de pessoas que aparentemente têm tudo, dinheiro, respeito, bens, amigos, família, e mesmo assim, acabam justamente de entrar para uma clínica de reabilitação, ou pior.

Muitas vezes aqueles que, literalmente “têm tudo” afinal não têm. Na verdade, eles trocariam tudo o que têm por algo que simplesmente não conseguem identificar. Eles sabem que falta algo, mas literalmente não têm idéia do que seja. Portanto, eles se voltam para as drogas, relacionamentos, e uma matriz de prazeres superficiais para saciar este crescimento constante de “carência”.

Finalmente, há muitos de nós que não sofreram uma grande tragédia.

Certamente, a maioria de nós teve a sua quota de sofrimento, mas em regra estamos razoavelmente confortáveis. Temos os nossos trabalhos diários, alimentamos e apoiamos a nossa família, e levamos vidas “normais”. No entanto, esta carência parece formigar dentro de nós, provocando e insultando. Ela nos impulsiona na busca e é o que fazemos.

Não importa qual a sua situação, este livro oferece-lhe ajuda, fornece algumas dessas respostas que você está procurando. Seu objetivo é duplo: primeiro, explicar-lhe a origem da carência que você sente dentro de si. Segundo, ajudá-lo a descobrir a solução para esse sentimento de carência.

Este mundo não oferece nenhuma satisfação ou solução para a sua pergunta, e nenhuma resposta para saciar a sua sede, como o que lhe falta não está disponível aqui. Por “aqui”, refiro-me ao mundo em que você vive. Seu sentimento de vazio revela não só carência, mas uma necessidade de descoberta.

Isso traz a pergunta: “O que no mundo precisa ser descoberto?” Não descobrimos já tudo? O que há para descobrir neste planeta? Não começamos a explorar os céus? Não são milagres médicos encontrados para uma enorme variedade de males todos os dias? Não são os nossos computadores tão rápidos como relâmpagos, já que podemos nos comunicar imediatamente com o mundo inteiro, graças a este novo e incrível brinquedo chamado “Internet?”

O que resta para descobrir?

O objeto da descoberta é um reino que ainda não habitamos. É o domínio das fontes, desejos, sentimentos e pensamentos. É o reino do Criador, e é simplesmente chamado de “espiritualidade”.

INTRODUÇÃO

Do livro “Sabedoria Maravilhosa”

Por toda a história do desenvolvimento social, incontáveis descobertas científicas têm sido feitas por homens e mulheres procurando soluções para uma grande variedade de problemas. Através de experiências,  combinadas com um apurado senso de curiosidade, os seres humanos trouxeram grandes benefícios para o seu mundo através destas descobertas, e o processo está na verdade acelerando.

Mas o que é realmente uma descoberta? Não é de fato a criação de alguma coisa nova; é simplesmente encontrar o que já estava lá, mesmo que isso seja um conceito básico ou uma idéia. Invenções históricas que revolucionaram as nossas vidas tais como, a impressora de Guttenberg, a máquina a vapor, e o computador foram culminações de idéias já existentes e esperando para serem postas em prática. Em outras palavras, todas as grandes inovações, sejam consideradas invenções ou conceitos, são como o último elo de uma série de elos numa corrente.

Um programa de TV chamado “Conexões” publicou a interconexão entre o que a maioria das pessoas considerava um evento único, e as origens desse evento. O narrador guiou os expectadores por uma série de eventos que, no final do programa, foram tecidos juntos para produzir um resultado final, geralmente uma invenção de algum tipo.

As origens, ou raízes de qualquer assunto são de grande importância, e como estudante da Cabala eu sinto grande responsabilidade em transmitir de onde a informação contida neste livro se originou. Assim, como tudo o que foi descoberto, as raízes da minha descoberta da Cabala não está nas palavras  de um livro, ou nem veio de alguma brilhante e independente visão compenetrada. Pelo contrário, as minhas descobertas têm sido um processo de recuperação de antigas informações, providas por escritores Cabalistas que, durante séculos, têm transmitido esta maravilhosa sabedoria a toda a humanidade.

Nas profundezas de todos e cada um de nós existe uma pergunta. É a respeito da própria natureza de nossa existência, e é geralmente precedida por uma cavalgada de questões preliminares. Esta questão permanece dormente até um dado momento, momento esse que ninguém pode prever. Mas quando esta questão evolui, até ao ponto em que demanda uma resposta, esta é sempre fornecida por um “fornecedor final” daquele conhecimento – um professor.

Meu professor, Cabalista Rav Michael Laitman, PHD, é autor de vinte e três livros no assunto da Cabala. Os seus livros são atualmente traduzidos em nove línguas. Eu posso apenas transmitir como esta sabedoria maravilhosa é transferida de professor para aluno, ao dedicar algumas páginas desta introdução à história de Dr. Laitman, assim como àqueles que foram responsáveis por passar este livro a ele.

A jornada de Dr. Laitman à sabedoria da Cabala começou como a jornada espiritual de qualquer outro indivíduo, com aquela mesma pergunta ardente no fundo: “Por que eu existo?” E como em todos nós, a pergunta de Dr. Laitman foi originalmente ignorada ou colocada de lado pelos seus esforços de levar uma vida normal, confortável, buscando interesses educacionais e de negócios. Após imigrar para Israel em 1974, Dr. Laitman, bio-ciberneticista por profissão, levava uma vida razoavelmente normal com as buscas usuais e as dificuldades vividas por muitos israelenses nos anos 70. No entanto, aquela pergunta ardente ainda voltava para assombrá-lo repetidamente.

Um dia em 1975, Dr. Laitman decidiu participar de uma palestra sobre Cabala. Depois, sentindo uma forte atração à Sabedoria, Dr. Laitman procurou um professor. No entanto, apesar de ele ter iniciado aulas com vários instrutores, a maior parte dos esforços iniciais foi descontinuada, já que ele não conseguiu encontrar um professor que pudesse prover respostas satisfatórias às suas perguntas. Assim, como ele escreveu em seu livro, Attaining  the Worlds Beyond (Alcançando os Mundos Superiores), “Eu comecei a procurar por professores de verdade. Eu procurei por todo o país e participei de muitas aulas. Mas de alguma maneira, uma voz interna continuava me dizendo que tudo o que eu me deparei não era Cabala verdadeira, porque não falava de mim, mas sobre assuntos abstratos e distantes.”

Em 1979, através de uma memorável sequência de acontecimentos que o levaram a perguntar a um total estranho onde ele pudesse talvez achar instrução em Cabala, Dr. Laitman foi direcionado ao homem que seria seu professor e mentor, Rav Baruch Ashlag. Suas aulas iniciais, agendadas entre 3 e 6 da manhã, começavam com um dos instrutores lendo um artigo, em “Introdução ao livro do Zohar.” O instrutor lia um parágrafo, e depois explicava  o que o parágrafo significava. E assim, os estudos de Dr. Laitman se iniciaram.

Um dia, meses após o inicio de suas aulas, foi perguntado a Dr. Laitman se ele poderia levar o ancião principal de seu grupo de estudos para ver um medico em Tel Aviv. Aquele ancião principal era Rav Baruch Ashlag, filho do grande Cabalista, Rav Yehuda Ashlag. Durante esta viagem e em subsequentes viagens ao médico, Rav Ashlag começou a instruir Dr. Laitman em Cabala. Até mesmo quando Baruch Ashlag foi eventualmente hospitalizado, Dr. Laitman ia ao hospital às 4 da manhã para estudar com ele. O que parecia mais como um precário início se tornou um forte relacionamento  entre Cabalista e aluno que iria durar os doze anos seguintes.

Os dois fragmentos seguintes descrevem seu professor bem como o professor de seu professor.

 

RAV BARUCH ASHLAG – RABASH – (1907 – 1991)

Rav Baruch Ashlag foi à fase seguinte na evolução da Cabala, após seu pai, Rav Yehuda Ashlag. Baruch Ashlag era o filho mais velho de Yehuda Ashlag. Nascido na Polônia em 1907, ele veio com seu pai para Israel com a idade de 15 anos. Ele sempre trabalhou em empregos simples: trabalhador de construção, em obras rodoviárias, sapateiro, ou caixa de comércio. Ele jamais teve vergonha de fazer tais tarefas subalternas, tratando-as como uma necessidade para sobreviver neste mundo.

Foram-lhe oferecidos vários cargos elevados, mas jamais aceitou nenhum deles. Ele era grande conhecedor da Tora e do Talmud, mas nunca serviu como um Rav. Pelo contrário, ele passou toda a sua vida seguindo as pegadas de seu pai e avançando no estudo da Cabala. Quando seu  pai faleceu, Baruch Ashlag tomou o seu lugar e aceitou os discípulos do pai, continuando o seu trabalho publicando o Zohar com os comentários do pai, assim como escrevendo vários outros livros.

Eu já procurava um professor há quatro anos quando eu vim ao Rav Baruch Ashlag em 1979. Eu estava estudando sozinho e com uma variedade de “Cabalistas.” Eu percorri um longo caminho sabendo que precisava estudar Cabala, mas sem saber quem iria me ensinar. Eu soube que este era o meu lugar desde a primeira aula com Rav Ashlag. Eu permaneci com ele por doze anos, até a sua morte. Quando ele faleceu, eu estava ao lado dele.

Rav Baruch Ashlag seguiu as pegadas de seu pai. Ele escreveu cinco livros de artigos, chamados Shlavey HaSulam (Os degraus da escada), onde ele expressou com sucesso, todas as situações internas de uma pessoa que está no caminho de conquistar o Mundo Superior.

Ele estudou cada situação possível, cada passo e movimento que nós fazemos no caminho, explicou o êxodo para o mundo espiritual, e como sentir e vivê-lo. Ele construiu um sistema para o indivíduo alcançar o Mundo Superior, algo que prévios Cabalistas não fizeram. A singularidade dos seus artigos é especialmente significativa para aqueles que querem alcançar o mundo espiritual. Sem estes, é impossível até mesmo imaginar uma saída para o mundo espiritual. Ele também nos deixou um manuscrito de sermões que ele ouviu de seu pai, o qual ele chamou de Shamati (Eu ouvi). Utilizando estes artigos, pode-se definir a nossa situação, suas características e como continuar a ascensão espiritual, nessa situação. O livro é base para todas as situações no mundo espiritual e suas várias combinações, todas as quais podem afetar a alma de um indivíduo que aspira obtê-las.

Os trabalhos de Rav Baruch Ashlag são essenciais para qualquer um que deseja abrir-se ao mundo espiritual. Após a morte de Rav Ashlag, um  grupo foi estabelecido levando o seu nome – Bnei Baruch (Os filhos de Baruch) – que continua estudando os seus passos.

Rav Baruch Ashlag obteve a sua grande sabedoria através de seu pai, Yehuda Ashlag, também conhecido como Baal HaSulam. O próximo fragmento de “Entrevista com o Futuro” oferece informação sobre este grande Cabalista.

 

RAV YEHUDA ASHLAG, BAAL HASULAM (1885 -1954)

Nem o Zohar, nem os escritos do Ari foram planejados para um estudo sistêmico da Cabala. Apesar da Cabala ser de fato uma ciência, antes do  século 20, não havia na verdade um livro de estudo. Com a finalidade de preencher os vazios, Rav Yehuda Ashlag, o grande Cabalista que morou em Jerusalém de 1922 até sua morte em 1954, escreveu um comentário sobre o livro do Zohar e os textos do Ari. Ele desenvolveu-se enquanto escrevia os comentários, e publicou o seu trabalho primário, Talmud Eser Sefirot (O estudo das dez Sefirot), considerado o livro de estudo predominante do nosso tempo.

É somente em nossos dias que o grande Cabalista, Rav Yehuda Ashlag, estabeleceu o compreensivo e conciso método apropriado a todas as almas que descendem a este mundo. Rav Yehuda Ashlag nasceu em Warsaw em 1885 e foi para Jerusalém in 1922. Ele foi nomeado Rav de uma das vizinhanças de Jerusalém, e começou a escrever “O Estudo das Dez Sefirot”. Ele deu à sua composição este nome porque o mundo espiritual e este mundo, as almas nos Mundos Superiores e na verdade todo o universo é composto por dez Sefirot.

Este compêndio de seis volumes contém mais de duas mil páginas.  Inclui tudo o que os Cabalistas têm escrito desde a alvorada do tempo, dos escritos de Adam (o Primeiro Homem) Abraão o Patriarca, Moisés, Rav Shimon Bar-Yochai, àqueles do sagrado Ari. Este livro mostra a Cabala de uma  maneira concisa e apropriada ao estudo. Portanto, nós temos conosco hoje, tudo o que precisamos para aprender como a criação foi formada, como ela desceu até nós e como podemos influenciá-la a partir debaixo até ao mais elevado mundo, para ter o futuro que desejamos. É por isto que os Cabalistas hoje estudam somente os livros de Rav Yehuda Ashlag.

Quando nós aprendemos do livro “O Estudo das Dez Sefirot” sobre as corretas condições, quer dizer da maneira correta e sobre a correta orientação, o Mundo Superior se abre. Há uma abordagem especial ao material deste livro, e um ponto chave que explica como ler o texto, para fazê-lo abrir corretamente. Quando nós estudamos desta maneira, começamos a sentir o universo, a ver e a sentir em cada sensação o que existe além do alcance dos nossos sentidos, porque nossos sentidos são corporais e limitados, e não podem perceber nada além de seu alcance.

Rav Yehuda Ashlag, chamado de Baal HaSulam, escreve na introdução ao “O Estudo das Dez Sefirot” que, graças à permissão que ele recebeu do Alto para escrever o livro, qualquer um pode obter o mais elevado ponto da  evolução da alma em nosso mundo, e qualquer um pode obter equivalência de forma com a Força Superior, quer dizer, o Criador. Nós podemos obter o mais elevado dos níveis espirituais enquanto vivemos neste mundo, porque o corpo já não se posiciona como uma barreira entre nós e as nossas almas. Não importa se a nossa alma está vestida num corpo ou não, porque nós podemos livremente mover-nos de mundo para mundo, existindo em todos os mundos simultaneamente, num estado de eternidade e perfeição. Então nós nos tornamos eternos, imóveis e infinitos.

Baal HaSulam escreve que ao usar este método, todas essas situações são atingíveis; ele escreve que este método, todas essas situações são adequadas a qualquer um, sem exceção. Além de “O Estudo das Dez Sefirot,” ele também escreveu um comentário sobre o livro do Zohar e sobre os escritos do Ari. Baal HaSulam escreve sobre ele mesmo, que ele é a reencarnação de uma alma que se iniciou com o Primeiro Homem, continuando com Abraão – o Patriarca, Moisés, Rav Shimon Bar-Yochai, o Ari e finalmente ele mesmo. Por tudo isto, ele pôde pegar nas composições destes Cabalistas, processá-las, e apresentá-las a nós de uma maneira apropriada à nossa geração.

Apesar de Baal HaSulam viver em nossa geração, o que aconteceu com os seus escritos foi quase o mesmo que aconteceu com o Zohar e os escritos do Ari: alguns dos seus escritos foram escondidos e somente agora estão sendo publicados. Eu, também, tenho vários manuscritos de Baal HaSulam que meus alunos e eu preparamos para publicação. São manuscritos que eu recebi como herança espiritual do meu Rav, Baruch Ashlag

E assim, o conhecimento tem passado de Cabalista a Cabalista. Através de incontáveis gerações, esta grande sabedoria tem fluído de doador a receptor, de boca em boca e de professor para aluno. Este grande legado de ensinamento de Rav para discípulo está presentemente expresso através de duas organizações, Bnei Baruch, levando o nome de Baruch Ashlag, e do Ashlag Research Institute (ARI). Eu estou imensamente honrado em pertencer a ambos os grupos.

Por que Cabala é aprendida de tal maneira, passando de professor a aluno? A resposta é simples: não existe outra maneira. A Cabala é um método e este método de instrução é um processo, não uma instrução em uma filosofia ou uma religião. Não é uma matéria de descoberta, mas antes uma matéria  para aprender este processo. Por esta razão, ninguém pode descobrir o mundo espiritual sozinho.

Através das páginas deste livro, você irá ler palavras que eu não posso reivindicar, porque os ensinamentos neste livro foram-me entregues, como foram seguramente apresentados ao meu professor pelos seus predecessores.

Este livro é feito de informações de muitos artigos, aulas, discussões particulares, e de livros do meu professor ou daqueles que o instruíram.

A verdadeira autoria de tal informação jamais pode ser reclamada, e até mesmo o estilo em que o material é apresentado, tem sido fortemente influenciado pelo estilo da fonte de informação.

Esta informação está disponível para qualquer um que tenha o desejo  de abrir um livro, virar uma página ou ouvir uma aula. Certamente um indivíduo pode pagar uma quantia pequena pelo papel em que ele foi impressa, e até mesmo pela capa que seguram as páginas dos textos Cabalistas, mas as sabedorias contidas nestes textos não têm preço. Porque é que este livro foi escrito? Uma vez, Thomas Jefferson foi questionado porque a “Declaração da Independência” foi escrita. Sua resposta – “Para colocar perante a humanidade o senso comum sobre o assunto, em tais termos quanto ao comando da sua ascensão” – descreve o exato propósito pelo seu trabalho humilde.

O leitor não deve considerar este livro como um livro acadêmico do ensino da Cabala, mas preferencialmente uma apurada introdução  à Sabedoria. Para leitores que desejem aprofundar os seus estudos da Cabala, Bnei Baruch oferece uma extensa quantidade de informação no maior site da internet no mundo,  www.kabbalah.info.

 

PREFÁCIO

Do livro “Sabedoria Maravilhosa”

Por Rav Michael Laitman, PHD.

 

Todo professor tem o seu aluno ou aluna estrela, e eu estou orgulhoso de dizer que Mike Kellogg é tal exemplo. Mike Kellogg é um aluno de muito tempo do Ashlag Research Institute (ARI), e do Bnei Baruch – Kabbalah Research & Education Institute. A sua vasta experiência em lecionar e a sua eloquência e habilidade em escrever são expressas por toda esta excelente composição.

Seu sucesso comprovado em liderar grupos de estudos lhe deu justamente um nome como professor por seus próprios méritos, eu estou contente em saber que há pessoas tão habilidosas na América, uma terra que tem passado por provas e atribulações em passado recente e remoto.

Pelo fato deste livro ter sido escrito da perspectiva de quem costumava ser um aluno, que sente a dificuldade de um novato, e ao mesmo tempo, sabe em primeira mão as intrigas das subtilezas americanas, tenho a certeza que este livro servirá bem os seus leitores ao oferecer um prefácio à sabedoria maravilhosa da Cabala. Ele contém todo o básico, e algo mais. Eu espero que você aprecie a leitura tanto quanto Mike diz ter apreciado escrevê-lo.

 

 

Rav Michael Laitman, PhD. Fundador e Presidente,
Ashlag Research Institute (ARI)
Bnei Baruch – Kabbalah Education & Research Institute