Os Monstros Marinhos

“Vem ao Faraó.” Deveria dizer, “Vai ao Faraó.” Mas Ele permitiu Moisés em quartos dentro de quartos, a um monstro do alto mar, do qual vários graus descem.

E Moisés temeu e não se aproximou, excepto daqueles Nilos que são dos seus graus. Mas ele temeu o próprio monstro e não se aproximou porque ele o viu enraizado nas raízes superiores.

Uma vez que o Criador viu que Moisés tinha medo e nenhum outro dos nomeados emissários acima o podia aproximar, o Criador disse, “Eis, Eu estou contra vós, Faraó rei do Egipto, o grande monstro que repousa no meio de seus rios.” O Criador precisou de travar guerra contra ele, e não outro, como está escrito, “Eu, e nenhum emissário.” E eles explicaram a sabedoria do monstro que repousa no meio de seus Nilos para “aqueles que viajam na estrada,” aqueles que conhecem o segredo de seu Mestre.

Zohar para Todos, Bo [Vinde], Itens 36-38

 

O Livro do Zohar fala sobre nós. Ele conta-nos sobre o que acontece dentro de nós e somente dentro de nós — embora de uma maneira muito peculiar que frequentemente parece como um conto de fadas ou um livro de história. Nós temos pulmões, rins, baço e outros órgãos. Mas em acréscimo, nos nossos sentimentos, há muitos desejos, qualidades, pensamentos e impulsos. Por outras palavras, além do corpo físico, existe também o humano em nós.
Quem é o humano em nós? Se abrirmos nossas almas e as examinarmos, descobriremos sobre o que os autores deO Zohar escrevem. No humano em nós há qualidades conhecidas como “Moisés,” “Faraó,” “monstros,” “Nilos,” etc.. Precisamos de tentar os encontrar no interior.
O que os procurar por dentro nos dá? Na verdade, isso não nos dá nada. Contudo, ao tentar encontrar estas qualidades no interior atraímos sobre nós mesmos “a luz que reforma,” e é isto o que é suposto querermos. Não há perigo de mal entendido. Até se compreendermos tudo para trás, não fará diferença. O que conta é o esforço.
Assumamos que uma pessoa sai para o exterior no fim de uma aula de Zohar e pensa, “Saí-me bem hoje! Senti que compreendi realmente o que Moisés e Faraó significam dentro de mim.” Todavia, isto é completamente insignificante. Pode muito bem ser que da próxima vez, essa mesma pessoa sinta, “Eu não apanhei nada dele hoje; é tudo seco. Excepto um minuto ou dois, não consegui sequer me concentrar.” Contudo, esses poucos minutos são exactamente o que essa pessoa ganhou.
É por uma boa razão que Baal HaSulam escreveu na “Introdução a O Estudo das Dez Sefirot” que os estados de ocultação são os estados nos quais um pode trabalhar. Aquele que se esforça durante as trevas e sente que é inútil deve compreender que estados nos quais somos feitos trabalhar sem receber algo para refrescar o ego, orgulho, entendimento, a mente, e o sentimento são muito bons para o nosso progresso espiritual. Devemos acolher estados em que nos sentimos mal, uma vez que é através deles que crescemos.

 

“E Deus criou os grandes monstros marinhos,” que é a baleia e seu parceiro feminino. A palavra “monstro” [em Hebraico] está escrita sem uma Yod, uma vez que ele matou a fêmea, e o Criador a elevou aos justos. Assim, somente um grande monstro sobrou. Também, sabei que uma baleia é um peixe puro.
A baleia e seu parceiro fêmea são de uma raiz muito alta. Isto é porque o mar éMalchut do discernimento de Chochmá, e a mais importante de todas as criaturas do mar é a baleia. Assim, ele é o todo da Chochmá no mar, embora ele não se estenda da própria Chochmá, mas de Biná que retornou aChochmá, a linha esquerda nela, chamada, “o ponto de Shuruk.” É por isso que está escrito sobre eles, “E Deus criou os grandes monstros marinhos,” uma vez que Biná é chamada Beriá.
E todavia, seu lugar não era determinado pelo próprio mar, que é Malchut de Atzilut. Em vez disso, um lugar foi preparado no mundo de Beriá, fora de Atzilut, abaixo de Malchut deAtzilut, que são os dez Nilos.”

Zohar para Todos, Bo [Vinde], Item 39

 

O que nos dá esta descrição se não a compreendemos e não sabemos como a conectar a nós? Baal HaSulam devia ter explicado as palavras de O Zohar num estilo um pouco mais emocional, mais próximo de nós, em acréscimo à explicação da linguagem da Cabala. Todavia, ele deixa-nos espaço para esforço, para procurar o seu significado, para que serve, e onde está a acontecer dentro de nós.
Nós estamos em Ein Sof, e há 125 ocultações da nossa presente sensação até Ein Sof. Devemos tentar sentir o nosso verdadeiro estado mais e mais animicamente para “reganhar consciência.” É nos dada esta história especificamente para que comecemos a procurar. A busca produzirá dentro de nós novas qualidades e discernimentos com os quais começaremos a sentir o que presentemente não conseguimos. Caso contrário, a habilidade de sentir a espiritualidade não se desenvolverá em nós.
Tem de haver um esforço da nossa parte aqui, como está escrito, “A recompensa é de acordo com o esforço.” Não há nada mais senão esforço aqui, que é porque foi dito, “Vós trabalhaste e achaste, acredita.” Quando virá o achado? Quando a luz superior nos afecta suficientemente e o sentido espiritual é complementado dentro de nós no seu primeiro grau.
Saber não tem significado aqui, somente querer. Nós devemos querer sentir o que está realmente a acontecer aqui, e não as palavras. “Realização espiritual,” como o Hazon Ish [1] disse, “É uma subtil inclinação da delicadeza da alma.” É impossível a adquirir com o intelecto, mas somente com a vontade do coração.
É por boa razão que O Livro do Zohar é abstracto. Quando abrirmos esse portão fechado entramos na espiritualidade. Nova e novamente, dia após dia, sem entender o que está a acontecer, avançaremos para um estado onde de súbito, começaremos a sentir algo. Nesse ponto, respostas interiores às palavras despertarão em nós. E assim, naturalmente sentiremos como uma qualidade é formada dentro de nós e como um novo mundo está a ser estruturado no interior.

 

Notas

[1] Rabi Avraham Isaiah Karlitz (1878-1953), Fé e Confiança

Não Temais Vós, Verme de Jacob

O Criador colocou todas as nações idolatras no mundo sob ministros nomeados, e todas elas seguem seus deuses. Todas derramam sangue e fazem a guerra, roubam, cometem adultério, se misturam entre todos aqueles que agem para prejudicar, e sempre aumentam sua força de prejudicar.

Israel não têm a força e poder para as derrotar, excepto com suas bocas, com oração, como um verme, cuja única força e poder está na sua boca. Mas com a boca, ele quebra tudo, e é por isso que Israel são chamados “um verme.”

“Não temais vós, verme de Jacob.” Nenhuma outra criatura no mundo é como esse verme tecedor de seda, do qual todas as vestes de honra vêm, o vestuário de reis. E depois de tecer, ela semeia e morre. Posteriormente, dessa mesma semente, ela é reanimada como antes e vive novamente. Tais são Israel. Como esse verme, até quando eles morrem, eles regressam e vivem no mundo como antes.

Também se diz, “como barro nas mãos do oleiro, assim vós, a casa de Israel, são nas Minhas mãos.” O material é esse vidro; embora ele quebre, ele é corrigido e pode ser corrigido como antes. Tais são Israel: embora eles morram, eles revivem.

Israel é a árvore da vida, ZA. E porque os filhos de Israel se seguraram à árvore da vida, eles terão vida, e eles se levantarão da poeira e existirão no mundo.

Zohar para Todos, VaYishlach [Jacob Enviou], Itens 250-254

 

O ponto no coração, a predilecção que pode despertar dentro de cada pessoa, onde quer que ela esteja, de alcançar directamente a qualidade de amor e doação do Criador, isto é chamado Israel, Yashar[direito] El [Deus]. O resto das nossas inclinações egocêntricas são chamadas “as nações do mundo.”
No caminho para o Criador, o ponto no coração atravessa muitos estados diferentes até que ele é finalmente recompensado com se apegar à “árvore da vida.”

Jacob, Esau, Labão e Balaão

Estudamo-nos a nós mesmos e desejamos encontrar dentro de nós todas as distinções que O Livro do Zohar descreve.

“Assim vós direis ao meu senhor Esau: ‘Assim diz vosso servo Jacob: ‘Eu vivi com Labão.’’” Jacob imediatamente abriu, para se tornar num escravo perante ele para que Esau não olhasse sobre as bênçãos que seu pai o havia abênçoado, porque Jacob os abandonou para o fim dos dias.

O que viu Jacob que ele procurou por Esau e disse, “Eu vivi com Labão”? Fez-o ele numa missão de Esau? Ao invés, Labão o Arameu, uma voz caminhava no mundo, pois nunca nenhum homem alguma vez foi salvo dele, porque ele foi o adivinho dos adivinhos e o maior encantador, e o pai de Be’or, e Be’or foi o pai de Balaão, como está escrito, “Balaão… filho de Be’or, o adivinho.” E Labão era mais versado em adivinhar e feitiçaria que eles, mas ele não conseguiu prevalecer sobre Jacob. E ele quis destruir Jacob de várias maneiras, como está escrito, “Um Arameu errante foi meu pai.” Por esta razão, ele procurou-o e disse, “Eu vivi com Labão,” para o deixar saber de sua força.

O mundo inteiro sabia que Labão era o maior de todos os sábios e adivinhos e encantadores. E aquele que Labão desejava destruir não podia ser salvo dele. E tudo o que Balaão sabia veio de Labão. Está escrito sobre Balaão, “pois eu sei que aquele que vos abençoais é abençoado.” É tanto quanto o mais com Labão. E o mundo inteiro temia Labão e sua magia. Assim, a primeira palavra que Jacob enviou a Esau foi, “Eu vivi com Labão.” E não por um curto tempo, mas durante vinte anos eu me atrasei com ele.

Zohar para Todos, VaYishlach [Jacob Enviou], Itens 21-23

Se imaginarmos perante nós todas essas formas e explicações que escutámos na escola e na vida em geral sobre as histórias da Bíblia — sobre Jacob, Esau, e outros nomes familiares — e abordarmos o estudo de O Zohar com elas, caímos numa grande confusão e não nos conseguimos focar no que O Zohar realmente diz [1].
Enquanto lendo, devemos praticamente ir para o espaço, como se o planeta terra não existisse, como se estivéssemos só a imaginar que alguma coisa alguma vez tomou lugar nele. Afinal, tempo, movimento e espaço são ilusões que existem somente na nossa presente percepção.
O facto de que imaginamos que alguém lá esteve há milhares de anos atrás, e avançamos para cavar e encontrar achados arqueológicos, é somente nas nossas mentes. Todavia nós chamamos-lhe “realidade.” Agora queremos mudar essa percepção. Queremos ver este mundo como existindo somente na nossa vontade, que é onde ele está verdadeiramente.
Desde que nascemos, estamos acostumados a ver o filme da vida desta maneira — que há aparentemente alguma coisa fora de nós. Contudo, o filme inteiro está a acontecer somente na nossa vontade. Devemos lutar contra nosso hábito e nos convencer a nós mesmos nova e novamente que na realidade, está tudo a acontecer dentro do desejo.
Esta abordagem não nega a realidade porque o desejo é a realidade. Até agora, quando corremos para algo, estamos na realidade a correr para um desejo. Até a sensação de que há cosias a acontecer ao nosso redor é uma manifestação de desejos, forças que aparecem desta maneira perante nós.
Quanto mais tentamos viver esta imagem interior através de O Zohar e nos abstemos de afundar em imagens históricas de histórias bíblicas familiares, mais O Zohar nos promoverá para o interior da Torá, para a verdadeira Torá — a verdadeira percepção da realidade.
O Zohar está a direccionar-nos.

 

Notas

[1] Todavia, há uma rígida condição durante o envolvimento nesta sabedoria — de não materializar as questões com assuntos imaginários e corpóreos, pois assim eles violam, “Vós não fareis para vós uma imagem gravada, nem qualquer maneira de semelhança” (Baal HaSulam, “Introdução a O Estudo das Dez Sefirot,” item 156).

Ó Mais Formosa Entre As Mulheres

O Que Torna O Sal Tão Importante?

“Nem vos faltará o sal da aliança de vosso Deus de vossa oferenda.” Porque é o sal tão importante? Isso é porque ele purifica e perfuma o amargo, e o torna saboroso. Sal são Dinim [juízos] na Masach [tela] de Hirik, sobre a qual a linha média emerge, que une a direita com a esquerda. Ele purifica, perfuma e adoça os Dinim da esquerda, que são amargos, com as Chasadim [misericórdias] na linha direita. Não houvesse sal, a linha média não teria sido estendida e o mundo não seria capaz de tolerar a amargura.

A Experiência da Leitura no Zohar

“A linguagem de O Zohar remedeia a alma, até quando um não compreende o que ele diz de todo. É similar ao que entra numa perfumaria, até quando ele não leva uma única coisa, ele ainda absorve a fragrância.”

– Rabi Moshe Chaim Ephraim de Sudilkov, 

Dégel Machanê Efraim [A Bandeira do Acampamento de Efraim], Excertos

 

O Livro do Zohar é uma ferramenta maravilhosa. Ele consegue abrir um mundo inteiro de revelações maravilhosas e surpreendentes perante nós O Zohar é como um portão para a verdadeira realidade, presentemente oculta dos nossos sentidos. Porém, para usar o poder dentro dele eficientemente, devemos aprender como ler adequadamente em O Zohar. As cinco regras abaixo resumirão o conteúdo inteiro do livro e vão ajudá-lo a se preparar para a grande jornada nos caminhos de O Zohar.

 

PRIMEIRA REGRA—O CORAÇÃO COMPREENDE.

Não Procure Entendimento Intelectual

O Livro do Zohar ié estudado com o coração, ou seja através da vontade e emoção. O que significa isso? Ao contrário das formas vulgares de estudo, que são baseadas em processamento intelectual de factos e dados, aqui devemos adoptar uma abordagem completamente diferente. Estudar O Zohar visa evocar uma mudança interior em nós e nos preparar para receber a realidade oculta.
A medida do nosso sucesso depende somente da medida do nosso anseio para descobrir e sentir essa realidade. Logo, não há necessidade de conhecimento prévio, habilidade ou qualquer inteligência especial. Tudo o que é requisitado é ter um desejo genuino de abrir bem os seus olhos, de abrir o coração e “devorar” tudo.

 

SEGUNDA REGRA—O HOMEM É UM PEQUENO MUNDO

Interprete as Palavras Correctamente

O Livro do Zohar contém muitas descrições e conceitos com que estamos familiarizados do nosso mundo, tais como “mar,” montanhas,” “árvores,” “flores,” “animais,” “pessoas,” e “viagens.” É importante compreender que todos esses detalhes, imagens e eventos mencionados no livro não falam do mundo exterior ao nosso redor, mas somente sobre o que ocorre dentro de nós.
Logo, enquanto lendo O Zohar nós devemos tentar interpretar as palavras dentro dele como expressões dessas acções internas que tomam lugar na alma, de ver o texto como uma ponte para os nossos desejos e qualidades mais profundas.

 

TERCEIRA REGRA—A LUZ NELE REFORMA

Procure a Luz

Escutamos frequentemente que há uma qualidade especial em O Zohar. Esta qualidade é uma lei natural de desenvolvimento que age em todos os processos da vida e não certo poder místico e imaginário.
Os Cabalistas explicam que o mundo corpóreo é inteiramente governado pelo desejo egoísta de explorar os outros, quanto no mundo espiritual, somente a intenção de amar e dar opera. Assim, é nos dado um meio especial cuja função é conectar entre os mundos opostos, direccionar as nossas qualidades de acordo com a qualidade de amar e dar do mundo espiritual—“a luz que reforma.”
A maneira como a luz nos afecta está presentemente escondida do nosso entendimento. É por isso que nos referimos a ela como um Segula [poder, remédio, virtude] ou como um milagre. Contudo, para os Cabalistas, que conhecem o mundo espiritual, não há milagres lá de todo, apenas um processo perfeitamente natural.
Eles explicam que tudo o que precisamos é de ler O Livro do Zohar e desejar que o poder dentro dele nos afecte durante o estudo. Gradualmente, começamos a sentir a mudança interior a tomar lugar dentro de nós graças a essa luz. O mundo espiritual será aberto e o que primeiro nos parecia um milagre se tornará uma regra clara e directa.

 

QUARTA REGRA—NADA DERROTA A VONTADE

Todos sabemos que esforços são requisitados para que os bebés comecem a tomar os primeiros passos no mundo e com que persistência inspiradora eles o fazem. Eles nunca desistem, repetidamente tentando até que tenham sucesso. Similarmente, devemos continuar a estudar O Zohar com paciência e persistência até que comecemos a “caminhar” por nós mesmos e descubramos o mundo espiritual. O sistema requisitado para o avanço já foi preparado para nós em avançado e a única coisa que devemos trazer é o nosso grande desejo.

 

QUINTA REGRA—COMO UM HOMEM COM UM CORAÇÃO

União é a Chave

O Livro do Zohar foi escrito por um grupo de dez Cabalistas que construiram um Kli perfeito entre eles, uma vontade unida para descobrir a força mais elevada da realidade, o Criador. Somente a conexão interna entre eles, o amor e a conexão, os permitiu romper as fronteiras do mundo corpóreo e se elevarem ao nível da existência eterna de que O Zohar fala. Se os desejamos seguir, devemos tentar construir um laço similar entre nós, procurar o poder da conexão que existia entre os estudantes de Rabbi Shimon Bar Yochai. O Zohar nasceu de amor, daí sua renovada divulgação hoje será possível somente por amor.

 

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Para este capítulo, que resume o livro, seleccionámos excertos especiais de O Zohar. Entre os excertos acrescentámos explicações, orientação para como com a intenção certa durante a leitura e mais para o ajudar a conectar com a luz ímbuida em O Zohar.
É recomendado que leia esta selecção lentamente. O Livro do Zohar, o nosso guia para o desenvolvimento espiritual, não foi feito para leitura superficial, mas para uma leitura relaxada juntamente com uma profunda busca interior.

 

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“Nós não criamos nada de novo. O nosso trabalho é somente iluminar o que está escondido no interior.”

Menachem Mendel de Kotzk

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Parte II: O Mundo Foi Criado para Mim. Capítulo 6: O Exterior É Interior

 Todos aqueles que maculam, maculam com o seu próprio defeito.

Talmude Babilónico, Kidushin 70b

Não é coincidência que tenhamos sido feitos para percepcionar a realidade como dividida em duas partes, eu e o que está fora de mim. Se a nossa percepção fosse só interior nunca seríamos capazes de nos elevar acima dos nossos egos em direcção à qualidade de amor e doação. Estaríamos cunhados num lugar, “perseguindo as nossas próprias caudas.”

Aqui está um exemplo para clarificar o que isto significa. Cada um de nós tem uma certa quantia de tendências egocêntricas tais como desejos por dominação ou orgulho. Quando nos examinamos a nós mesmos, não reparamos realmente nelas. Mas quando vemos outros a agirem por um desejo de dominar ou de sobressair, na maioria isso incomoda-nos. Fomos predestinados com ódio e repulsa aos outros para nos permitir não sermos tendenciosos e definirmos a nossa atitude para estas tendências de uma maneira sábia e crítica. Como um rigído de perceptivo, o nosso ego ajuda-nos a examinar o mal que aparece perante nós nos outros, o julgar meticulosamente, profundamente e em grande detalhe.

A nossa percepção exterior abre os nossos olhos e permite-nos detectar coisas más fora de nós. Posteriormente, percebemos que na verdade, está tudo dentro de nós. Diz-se que, “Todos os que culpam, culpam o seu próprio defeito.” Contudo, estamos destinados a descobrir que não é que “ele seja arrogante” e “ela seja uma snob,” mas que somos nós que estamos a vê-los desta maneira devido aos nossos próprios desejos mimados.

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A desejada meta do Criador para a criação que Ele criou é doar sobre Suas criaturas para que elas conheçam Sua veracidade e grandeza e recebam todo o deleite e prazer que Ele preparou para elas.

Baal HaSulam, “Introdução a O Livro do Zohar,” Item 39

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Como afirmado acima, é o desejo que forma a nossa percepção da realidade. Agora tentamos compreender que partes perfazem o desejo, porque fomos criados expecificamente como somos e como podemos mudar a nossa realidade para o melhor.

Durante o caminho, descobriremos porque tais emoções como ódio e amor para os outros aparecem em nós; o que nos faz ficar alegres quando vemos que outra pessoa está a sofrer e porque somos invejosos quando o vizinho compra um novo carro.

Pergunta: se o propósito da criação é ser deleitado, porque é que parece que as coisas estão constantemente a piorar? O Livro do Zohar explica que na verdade, nós existimos num sistema perfeito que foi criado pelo Criador. Toda a substância da criação é a vontade de receber e o sistema perfeito é na realidade a vontade abrangente que foi criada. Esta é também chamada “a alma geral” ou “a alma de Adam HaRishon.” Porém, o Criador quebrou a alma geral em muitos pedaços e em cada um de nós há somente uma minúscula fracção da alma geral.

Antes da quebra, todos nós nos sentiamos como órgãos de um único corpo no sistema. Tudo era perfeito e ilimitado, assim, nessa altura, o sistema era chamado “o mundo de Ein Sof [infinito].”

No mundo de Ein Sof, todas as partes do sistema estão conectadas com amor e estão preenchidas de luz. Contudo, o Criador colocou 125 “filtros” sobre este sistema, que oculta os mundos para que agora não possamos sentir que há qualquer luz lá.

É como uma bela imagem coberta com nylon manchado, em cima do qual há outro lençol manchado e outro, então a imagem original torna-se cada vez mais escondida. Nós estamos na camada mais exterior e não temos sensação que se pareça das camadas anteriores, assim a conexão entre nós está completamente distorcida. Em vez de sentir o amor que nos conecta no mundo de Ein Sof, há ódio e repulsa entre nós. Não sentimos a conexão abrangente entre nós, em vez disso, estamos separados e desconexos.

O Criador quis que voltássemos ao estado bom e iluminado por nós mesmos, ao mundo de Ein Sof. Este é o programa da criação que se divide em três fases:

  • Fase um: o estado inicial (o mundo de Ein Sof);
  • Fase Dois: o estado quebrado (este mundo);
  • E Fase Três: o estado perfeito, que temos de criar por nós mesmos (regressar ao mundo de Ein Sof).

É muito similar à maneira como nos comportamos com as crianças. Nós tiramos uma fotografia, cortamos-a em pedaços então deixamos-as voltar a reunir os pedaços. O processo de reunião desenvolve a criança.

Como resultado da quebra, a vontade (conhecida como Kli [vaso]) de cada pessoa foi dividida em duas partes principais: Kelim internos [vasos], conhecidos como “raiz,” “alma,” e “corpo,” e Kelim externos, conhecidos como “vestes” e “palácio.” Eu percepciono os meus Kelim internos como “eu,” desta forma eu cuido deles e eu percepciono os Kelim externos como estranhos, não meus. Os Kelim internos e os Kelim externos contradizem-se uns aos outros, quanto mais eu amo os meus Kelim internos, mais eu odeio os meus Kelim externos.

Há uma fronteira entre esses dois tipos de Kelim, a margem da quebra. Ela é uma espécie de partição que me faz olhar para fora só com uma mentalidade de “O que posso eu receber de lá para melhorar a minha situação? O que é que isso me dá?” Ela compele-me a me relacionar sempre aos outros de maneira egoísta, desejando os explorar.

Eu avalio sempre a minha situação pela diferença entre mim mesmo e o resto do mundo. Assim, por muito surpreendente como estranho que possa soar, quanto pior é para o mundo, melhor é para mim, desde que isso não coloque a minha segurança pessoal em qualquer perigo.

Eu não consigo tolerar o preenchimento dos Kelim externos. Eu não consigo permanecer indiferente para outro ou me comportar como se não me preocupasse com ele ou ela. Quando outra pessoa tem sucesso, é me muito doloroso, isso destrói-me realmente. Eu comparo constantemente. Se, por exemplo, eu ganho 100 mil dólares por ano e as pessoas ao meu redor ganham 50 mil, eu sinto grande satisfação. Eu não me consigo livrar a mim mesmo deste pensamento e acomodo-me ao que tenho porque é tão importante para mim que os outros tenham menos que eu.

Eu simplesmente não consigo ignorar esses Kelim externos porque nós os sentimos como nos pertencendo. Se não houvesse conexão entre nós, isso seria outra estória. Porém, a quebra criou uma conexão negativa entre nós para que se até se não fizéssemos nada de mau uns aos outros, a força da quebra torna-nos de facto inimigos.

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Mas o lado igual em todas as pessoas do mundo é que cada um de nós encontra-se pronto para abusar e explorar todas as pessoas pelo seu próprio benefício privado com todos os meios possíveis, sem tomar qualquer consideração que ele se vai edificar a si mesmo sobre a ruína do seu amigo.

Baal HaSulam, “Paz no Mundo”

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Compreender como estas questões funcionam é extremamente importante porque isso serve como um meio para mudar, uma alavanca para o desenvolvimento. Examinemos outro exemplo que, precisamente por ser extremo, nos ajuda a compreender o problema com mais precisão.

Todos os vilões da humanidade agiam sobre o mesmo impulso interno para expandir a fenda entre os seus próprios Kelim internos e os seus Kelim externos. A alemanha Nazi, por exemplo, não se ficou por realizar o grande potencial humano do povo alemão de criar um país próspero. Em vez disso, um impulso apareceu nela de ser superior aos outros, de os governar, de os destruir. Apenas então sentiria ela que era verdadeiramente grande.

O egoísmo humano sente que matar outras pessoas, explorá-las e as dominar é prazenteiro para ele. Este é o resultado da quebra, o homem está a magoar-se a si mesmo, aos seus próprios Kelim externos, mas ele não o sabe. Quando descobrirmos que todo o mal que temos tentado infligir aos outros foi na realidade inflingido em nós mesmos, experimentaremos imensa desilusão e dor. Todavia, é precisamente esta dor e desilusão que nos ajudam a levar a cabo a própria correcção.

Não estamos acostumados a discutir estas matérias e temos tendência a esconde-las, mas onde é distintamente visível é na política. Até encontrámos um nome respeitável para este mundo de mentiras, “diplomacia.” Cada lado se esforça por dominar o outro, mas pela falta de outras escolhas, assina uma aliança com o outro lado. Na sociedade humana, construímos muitos sistemas para nos permitir viver com a fricção mínima entre os Kelim internos e os Kelim externos de cada um. Compreendemos que caso contrário seremos todos prejudicados. Estabelecemos a Segurança Social, sistemas de bem-estar e caridades porque estamos todos aterrorizados que amanhã nós, também, estaremos nesse estado de carência. Logo, preparamos a cura antes do golpe.

Ódio entre os Kelim internos e externos é um fenómeno humano que não existe no reino animal. Quando um leão come uma zebra, ele não a odeia e a zebra não odeia o leão. O leão considera a zebra como alimento e a zebra tenta não ser comida. Mas não há ódio entre eles. A Natureza governa ambos perfeitamente.

Se não houvesse conexões entre nós, não seríamos capazes de descobrir a razão para o que está mal nas nossas vidas. Porém, porque estamos a descobrir que as conexões entre nós são más, podemos então torná-las boas.

Examinemos o presente estado da humanidade. No passado, laços entre países praticamente não existiam. Cada país estava conectado só a alguns poucos outros países. Quando estávamos longe uns dos outros, não havia muito contacto, logo o mal não era tão evidente. Mas quando o mundo se tornou globalizado, todos se tornaram conectados, afectando todos os outros. Subitamente, não havia lugar para onde fugir. Não temos outra terra, logo o ódio entre nós está a vir à superfície. Todavia, é precisamente este ódio que nos compelirá a corrigir os nossos relacionamentos.

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Mesmo que vejamos tudo como estando na realidade à nossa frente, toda a pessoa razoável sabe de certeza que tudo o que vemos está somente dentro dos nossos próprios cérebros.

Baal HaSulam, “Prefácio a O Livro do Zohar”

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Agora que a imagem das nossas relações com os outros se tornou um pouco mais clara, podemos avançar. Como dissemos acima, a força que divide a nossa imagem da realidade em duas partes, interna e externa, é a força da quebra. Antes da quebra, parte dos nossos desejos (os nossos Kelim externos, “vestes” e “palácio”) não eram sentidos como sendo nossos. É como uma pessoa que recebeu um anestésico na perna e enquanto a sua perna era amputada, ela ria-se e falava, comportando-se como se nada lhe estivesse a acontecer porque ela não sentia nada.

Nestas partes da vontade, “vestes” e “palácio,” nós sentimos tudo o que não somos nós, ou seja o mundo exterior. Ao nosso redor estão pessoas, processos em desenvolvimento e o mundo inteiro quando na realidade, eles são todos partes do nosso próprio desejo.

Estamos a viver numa longa metragem na qual os nossos desejos são projectados perante os nossos olhos e o que determina a imagem que vemos em cada momento do filme são os Reshimot [recordações].

Como mencionado no capítulo 2, Reshimot são pedaços de informação que definem o nosso plano pessoal de desenvolvimento. Revejamos o que dissemos antes para restaurar alguma ordem.

A realidade consiste de três elementos: a luz, o poder do amor e dar (o Criador), a vontade de receber (a criatura) e os Reshimot (o plano de desenvolvimento da criatura). Primeiro, o Criador criou a criatura, ou seja um desejo de receber prazer. Então o Criador quebrou o desejo numa parte interna (raiz, alma, corpo) e uma parte externa (vestes, palácio), e criou nela uma sensação egoísta de “eu versus o mundo.”

Dentro do desejo está o seu plano de desenvolvimento, que consiste de Reshimot. Cada tal Reshimo [singular de Reshimot] constitui um certo estado que a criatura tem de experimentar até que ela corrija a quebra, se equalize com as qualidades do Criador e realize o propósito da criação.

Se regressarmos ao filme, o que vejo agora é uma realização dos Reshimo que eu sinto nas cinco partes do meu desejo e não há mais nada senão isso.

Em cada momento, novos Reshimot despertam no meu desejo e evocam novas impressões em mim, que imediatamente me fazem ver um mundo diferente. A minha vida inteira, o todo da realidade são Reshimot que passam através de mim e se tornam realizados. A luz afecta-me, ao meu desejo, através do qual os Reshimot começam a atravessar numa corrente como se em frames de uma película de celulóide.

Eu sinto que a minha vida é o que estou a viver, mas sou realmente eu a vivê-la? Se eu olhar anos atrás, acreditarei que era realmente eu? Parece como se um filme de cinema me tivesse atravessado. Muitas pessoas se sentem dessa maneira, que a vida passa por elas como se num sonho, que não eram elas a fazerem e a experimentarem, mas certa projecção, um filme que foi projectado e elas estavam a desempenhar os seus papeis nele.

O Zohar explica que não há nada senão Reshimot, luz e desejo. Cada Reshimo que passa divide o desejo em dois, interno e externo. Nós experimentamos-nos a nós mesmos e a outro algo, que parece estar fora de nós, árvores, sol, lua, pessoas. Temos filhos, estamos no trabalho, há sempre nós e outra coisa. Porquê?

A sensação da realidade foi como que dividida em dois que nos permite reconhecer que além de nós há outra força, a luz, o Criador, que nos compele a procurá-la.

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Todos os mundos, Superiores e inferiores, estão incluídos no homem.

Baal HaSulam, “Introdução ao Prefácio à Sabedoria da Cabala,” Item 1

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O Livro do Zohar está escondido no sentido que as pessoas não sabem como ler e compreender o que está escrito nele porque a chave para o ler está na percepção da realidade. O Zohar exige que compreendamos que a realidade que percebemos está a acontecer dentro, não fora. Até o mundo superior, para o qual O Zohar nos está a levar, será experimentado dentro de nós. É inútil procurar o letreiro para o mundo superior além do horizonte. Em vez disso, ele é somente uma mudança nas nossas qualidades internas.

O Zohar fala de uma realidade que existe “acima” do que sentimos neste momento, “acima” do tempo, espaço e movimento. Esta realidade externa que ele descreve e que parece estar fora de nós não se encontra em lado algum. Está tudo dentro da nossa vontade. Todos os fenómenos, sensações do passado, presente e futuro são retratadas dentro dela. História é meramente um processo que visualizamos como algo que ocorreu algures no passado, quando na verdade, não há tempo de todo, nem movimento e todos os lugares são imaginários. Há somente um lugar onde tudo ocorre, o desejo.

O curso natural das coisas, as diferentes partes do nosso desejo (interno e externo, eu e os outros) colidem uma com a outra. O Livro do Zohar assiste-nos a corrigir a conexão entre elas, ao as juntar até que elas se tornem uma e não sintamos qualquer diferença entre elas. Esta é a almejada mudança na nossa percepção da realidade.

É assim que descobrimos o mundo superior, também conhecido como “o mundo vindouro.” Não é que nos preparemos a nós mesmos aqui e subsequentemente alcancemos certo outro lugar. Em vez disso, quando mais mostramos amor uns para os outros em vez de ódio, mais começamos a sentir o que é chamado “o mundo superior” ou “o mundo vindouro.” Todos os mundos estão aqui na conexão entre nós e no que presentemente nos parece estar fora de nós, afastado.

Desejos que nos parecem como outros estão divididos em vários círculos em respeito ao nosso ego. No círculo mais próximo são família, familiares e amigos. No próximo círculo são pessoas que nos ajudam e que nos beneficiam pela sua existência, tais como médicos. Então são pessoas que só queremos usar, prejudicar, mas as mantermos vivas. E no mais afastado são pessoas que odiamos verdadeiramente e podemos até estar preparados a matar.

Todavia, todas elas são os nossos próprios desejos. Quando os reconectarmos a nós mesmos, iremos tornar-nos a alma geral que o Criador criou e regressaremos ao mundo de Ein Sof.

É importante salientar que o processo da correcção da percepção da realidade não é suposto ser levado a cabo artificialmente. Se o meu vizinho me gritasse amanhã, eu não responderia com algo como, “Relaxa, meu amigo. Afinal, somos todos uma vontade.” Não é uma mudança simplista de “interior em vez de exterior.” Em vez disso, é uma profunda transformação e para a executar precisamos de O Livro do Zohar para nos ajudar a construir essa nova percepção dentro de nós, bem como da companhia das pessoas que nos apoiarão no processo de correcção.

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O mais escondido é dado aos sábios de coração.

Zohar para Todos, Lech Lechá [Vai em Diante], Item 96

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Tudo É Alcançado Pela Equivalência De Forma

Baal HaSulam, “Introdução ao Livro do Zohar“, Item 41: Tenha em mente que a realidade de todos o mundos é geralmente dividida em cinco mundos, chamados: a) Adam Kadmonb) Atzilut, c) Beria, d) Yetzira, e e) Assia.

Esses “mundos” são os níveis da minha proximidade interna com o Criador, com a doação. É como se eu olhasse através do prisma deles. Ao mesmo tempo, eu posso aceitar a doação em certo nível de Aviut (espessura), de zero a quatro. Em geral, estes são todos os níveis de realização até a adesão total.

Pergunta: Para que nós precisamos desses mundos, dessas ocultações?

Resposta: Para que descubramos gradualmente o Criador de acordo com a nossa equivalência de forma com Ele. É uma lei: cada fenômeno na realidade só pode ser alcançado de acordo com uma equivalência de forma. Enquanto eu, de acordo com a minha natureza egoísta, sou externo a ele e não sou compatível com ele, eu não posso senti-lo. Quando o ponto no coração desperta em mim, eu começo a sentir minha oposição ao Criador, e posso crescer, aumentar meu ponto e minha proximidade com Ele. Mas até então, eu estou desconectado Dele pelo meu ego: Ele é doação total e eu sou recepção total, e eu não tenho nenhuma conexão com Ele. É assim que funciona a lei da equivalência de forma.

 

 

Pergunta: Podemos dizer que os níveis de equivalência refletem minha sensibilidade para com os outros?

Resposta: Sim. Minha atitude para com os outros ou para com o Criador é, na verdade, a mesma coisa. O mais importante é a direção de mim para fora.

Nós devemos entender que estamos num estado chamado “mundo de Ein Sof (Infinito)”, ou “Malchut de Ein Sof“. Mas nós estamos separados por cinco níveis de opacidade dos sentidos. Masachim (telas) especiais os enfraquecem como filtros que são vestidos na percepção do mundo de Ein Sof. Como resultado, nós sentimos apenas o “mundo externo”, embora tudo realmente aconteça dentro.

 

 

A realidade é fixa, mas ela é descrita para nós sob a forma deste mundo. A única diferença é a imprecisão, no embotamento dos sentidos.

Pergunta: Como podemos aguçar nossos sentidos?

Resposta: Depende da sua sensibilidade para com os outros em sentir o outro e se eu posso sentir que ele é tão importante como eu sou. Portanto, diz-se: “Ama o teu amigo como a ti mesmo”.

 

– Da 4ª parte da Lição Diária de Cabalá 14/04/13, “Introdução ao Livro do Zohar“

Descobrir a Lei Geral da Natureza

A vontade de receber é a substância inteira da Criação do principio ao fim.

Baal HaSulam, “Prefácio à Sabedoria da Cabala,” Item 1

Quando queremos ser impressionados por algo, seja emocional, intelectualmente, ou de outra forma, devemos estar no mesmo “comprimento de onda” com isso e assim possuir a mesma qualidade. Por exemplo, para detectar ondas de rádio, o receptor tem de produzir o mesmo comprimento de onda, e somente então conseguimos nós detectar a onda no exterior.
A força geral da Natureza é um “desejo de dar,” de doar, de conceder abundância. Reciprocamente, nossa natureza é uma de “desejo de receber deleite e prazer,” um desejo de desfrutar somente para nós mesmos. Nossa natureza é egocêntrica; foi assim que fomos feitos, como a Cabala nos conta. Por outras palavras, estamos em contraste com a força superior, opostos a ela, e logo não a conseguimos sentir.
Há alguma coisa que possamos fazer para a sentir? Não podemos destruir nossa natureza e nossa vontade de receber, nem precisamos de o fazer. Devemos continuar com nossas vidas como costume, e ao mesmo tempo adquirir novas ferramentas de percepção.
Mas onde podemos encontrar tal instrumento que nos suplemente com a nova natureza — de dar — em acréscimo à nossa natureza original — de receber? Aqui, a sabedoria da Cabala vem à nossa ajuda. Neste momento, somos receptores. Absorvemos. E se damos alguma coisa a alguém, e somente depois de termos calculado que é vantajoso para nós o fazer. Nossa natureza previne-nos de dar sem receber algo em retorno. Ela simplesmente nos nega a energia de realizar uma acção que não produza lucro.
Estamos dispostos a dar $50 se recebermos $100 em retorno. Podemos também dar $80 em retorno por $100. Mas se tentarmos dar $101 em retorno por $100 é impossível. Este modus operandi é verdadeiro não só com dinheiro ou uma acção para os outros, mas para qualquer coisa, como Baal HaSulam o explicou:

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É bem sabido aos investigadores da Natureza que um não consegue realizar sequer o mais ligeiro movimento sem motivação, sem de algum modo se beneficiar a si mesmo. Quando, por exemplo, um movimenta sua mão da cadeira para a mesa, é porque este pensa que ao colocar a mão na mesa isso será mais prazenteiro. Se ele não o pensasse, ele deixaria sua mão na cadeira para o resto da sua vida sem a movimentar de todo. É tanto quanto o mais com esforços maiores.

Baal HaSulam, “A Paz”

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Até pessoas que assistem outras pessoas mais que a maioria, tais como voluntários em hospitais ou algures, só o fazem porque, no fim do dia, isso lhes dá prazer.
Baal HaSulam explica que dentro da humanidade, há sempre até dez porcento de “altruístas naturais.” Tais pessoas respondem aos outros um pouco diferentemente que a maioria. Eles simpatizam com os outros e sentem sua dor como se fosse a sua própria, e esta sensação os impele a tentar ajudar os outros. Naturalmente, esta inclinação altruísta repousa sobre uma base egocêntrica que requer correcção, também, mas ela está escondida do olho, como estudos sobre genética comportamental demonstram.  [1]

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A própria essência do homem é somente receber para si mesmo. Por natureza, somos incapazes de fazer até a mais pequena coisa para beneficiar os outros. Em vez disso, quando damos aos outros, somos impelidos a esperar que no final, recebamos uma recompensa vantajosa.

Baal HaSulam, “Um Discurso pela Conclusão de O Zohar”

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Quando um bebé nasce, ele começa a escutar, a ver, e a reagir. Ele aprende e desenvolve a partir dos exemplos que lhe apresentamos.
Se deixarmos o bebé para crescer no bosque, ele imitaria os animais e cresceria como um animal. Com a excepção de alguns instintos e reflexos, tudo acerca de nós vem da aprendizagem.
Podemos nós aprender o sistema superior da mesma maneira se não o sentimos? Como podemos ser como esse bebé, ou até uma gota de sémen que só deseja nascer numa nova qualidade chamada “dar”?
Por outras palavras, uma criança humana evoluí a partir de uma gota de sémen corpóreo. Ela aprende dos exemplos e eventualmente se torna um adulto. E agora, uma gota de semente espiritual, chamada “o ponto no coração,” aparece nessa pessoa, um novo desejo — de saber para que ele ou ela está a viver, para alcançar o que existe além da vida, a força que nos afecta e opera. No crescimento corpóreo, o ego desenvolve-se e a qualidade de recepção para si mesmo se torna melhorada. No processo de crescimento espiritual, a qualidade de dar desenvolve-se dentro de nós.
Então do que precisamos em prol de começar o processo? Precisamos de exemplos — professores espirituais. Foi por isso que O Livro do Zohar foi escrito. Tal como crianças olham com olhos esbugalhados e boquiabertas, desejando devorar o mundo e aprender tudo sobre ele, devemos abordar O Livro do Zohar, que nos fornece os exemplos da qualidade de dar.
Quanto mais aprendermos a dar, mais nos assemelharemos ao poder abrangente da Natureza, o poder do amor e dar. Na terminologia da Cabala, isso é chamado “equivalência de forma,” que é um processo gradual que nos conduz a sentir a força geral da Natureza à extensão que nos tornamos similares a ela.

 

Notas

[1] Mudar certas sequências de genes afecta a habilidade da pessoa de ser boa para as outras, Prof. Ebstein e uma equipa de investigadores da genética comportamental descobriram. Os pesquisadores assumem que há uma recompensa imediata para o comportamento altruísta na forma de um químico chamado “dopamina,” libertado no cérebro do benfeitor e promovento uma sensação agradável.

M. R. Bachner, I. Gritsenko, L. Nemanov, A. H. Zohar, C. Dina & R. P. Ebstein, “Dopaminergic Polymorphisms Associated with Self-Report Measures of Human Altruism: A Fresh Phenotype for the Dopamine D4 Receptor”, Molecular Psychiatry10 (4), April 2005, pp. 333-335

Natureza e Nós

É melhor para nós aceitarmos as palavras do Cabalista, que HaTeva [a natureza] é igual [em Gematria] a Elokim [Deus].

Baal HaSulam, “A Paz”

O Livro do Zohar explica que existimos num único, vasto sistema, chamado “Natureza” ou Elokim [Deus], todavia sentimos somente uma fracção desse sistema, uma fracção chamada “este mundo.”
O propósito da nossa existência é nos elevarmos acima das fronteiras deste mundo e sentirmos a inteireza do sistema conhecido como “Natureza,” a força superior. Quando alcançarmos este grau, seremos preenchidos de abundância, prazer infinito e luz, com sublime percepção e entendimento, um sentido de equilíbrio, completude e harmonia como elas existem na Natureza geral.
Para compreender ao que devemos fazer para chegar a todo este tesouro, O Zohar recomenda que examinemos a conduta da Natureza de um angulo ligeiramente mais amplo que o normal.
O nosso mundo é um mundo fechado. Existimos num único sistema geral cujas todas partes estão interligadas. Não nos podemos considerar a nós mesmos acima da Natureza e omnipotentes; isso é uma maneira certa de nos destruirmos a nós mesmos. Não podemos escapar à Natureza porque somos uma parte integral dela. Logo, devemos estudar a lei geral da Natureza e andar mão-a-mão com ela.
Nosso impulso de evoluir é maravilhoso, mas devemos fazê-lo da maneira certa, na direcção de uma conexão saudável entre nós e o resto da Criação de uma maneira que isso não viole a harmonia e o equilíbrio geral da Natureza. Isto, na realidade, é a base da sabedoria da Cabala.
Observar a Natureza ensina-nos que todos os organismos vivos estão construídos sobre a base de se preocuparem com os outros. Células num organismo conectam-se umas às outras através de doação mútua pelo propósito de sustentar o organismo inteiro. Cada célula no corpo recebe o que ela precisa para sua existência e gasta o resto dos seus esforços ao cuidar da totalidade do organismo. Uma célula desconsiderada que não toma seu meio ambiente em consideração e o domina para o seu próprio bem é uma célula cancerígena. Tal acto egoísta eventualmente conduz à morte do organismo inteiro.
Nos níveis do inanimado, vegetativo, e animado, o específico age para o bem do geral e encontra sua completude nisso. Sem tal actividade harmoniosa, a existência não seria possível. A única excepção é a sociedade humana. Porquê? Porque ao contrário dos outros graus, onde a lei da Natureza aplica equilíbrio e harmonia, a Natureza deu aos seres humanos livre arbítrio, um lugar para sua participação consciente na harmonia geral da Natureza.
Se tomarmos parte no sistema incorrectamente, a corrupção que infligirmos se reflecte em nós e experimentamos-a como sofrimento. Assim, gradualmente, durante milhares de gerações, a Natureza está a conduzir-nos a compreender que devemos estudar sua lei geral e eventualmente agir de acordo.
O problema é que não sentimos a força abrangente da Natureza a nos afectar — a força de amor e doação — também conhecida como o “Criador.” Contudo, a ciência de hoje está a avançar para descobrir que a Natureza tem uma “mente,” “emoção,” e o poder de grande sabedoria que sustenta e governa tudo. E todavia, nossos egos não desejam que o vejamos.
O presente estado do mundo prova que tamanha cegueira e inconsciência do sistema da Natureza não podem perdurar. Baal HaSulam escreveu sobre isso nos anos 30:

“Agora é vitalmente importante para nós examinarmos os mandamentos da Natureza, saber o que ela exige de nós, caso contrário ela nos punirá sem misericórdia.”

(Baal HaSulam, “A Paz”)