Posts

O Livro Aberto

Michael Laitman, PhD

O Livro Aberto apresenta os princípios da antiga e científica sabedoria da Cabala autêntica, com as explicações de suas regras básicas.

 

 

 

Índice de Conteúdos

INTRODUÇÃO AO ZOHAR – QUEM É O CULPADO?

Do livro “O Livro Aberto”

Partes selecionadas da Introdução ao Zohar, palestra dia 19/10/2000

 

Em sua Introdução ao Zohar, Baal HaSulam diz:

66) Conserve em sua lembrança que tudo possui parte interna e parte externa. Israel, os descendentes de Abraão, Isaque e Jacó, é geralmente considerado a parte interna do mundo, e as setenta nações são consideradas sua parte externa. Dentro de Israel há também a parte interna, que são os adoradores sinceros do Senhor, e a parte externa, os quais não se devotam inteiramente à obra de Deus. E entre as nações do mundo também existem partes internas, que são os Justos das Nações, e uma parte externa, que são os rudes e destrutivos entre eles.
E também dentro dos adoradores do Senhor que estão dentro de Israel, existe uma parte interna, que são aqueles que são dotados com a compreensão da essência da parte interna da Torah e seus segredos, e uma parte externa, que são aqueles que meramente observam a parte vigente da Torah. E em cada homem de Israel há uma parte interna, que é Israel dentro dele, sendo o ponto no coração, e uma parte externa, que é as Nações do Mundo dentro dele, sendo o corpo em si. Mas, mesmo as Nações do Mundo dentro dele são consideradas prosélitos, porque elas, ao se apegarem à parte interna dele, se tornam como prosélitos das Nações do Mundo, que se unem a todo Israel.
67) Quando um homem de Israel intensifica e dignifica sua parte interna, que é Israel nele, mais que sua parte externa, que são as Nações do Mundo nele, o que significa que ele dedica a maior parte do seu tempo e esforços para intensificar e exaltar sua parte interna, para o bem de sua alma, e um menor esforço, por mera necessidade, para sustentar suas Nações do Mundo, ou seja, suas necessidades corpóreas, como é dito (Avot 1) – “faça sua Torah permanente e seu trabalho transitório”, com isso ele faz com que – na parte interna e externa do mundo – os Filhos de Israel elevem-se e as Nações do Mundo, que são a parte externa geral, reconheçam e admitam o valor dos Filhos de Israel.
E se, Deus não permita, o contrário ocorrer, de um homem de Israel intensificar e dar atenção à sua parte externa, que é as Nações do Mundo nele, mais que Israel nele – como é dito (Deuteronômio 28) “O estrangeiro que está no meio de ti”, a parte externa nele se elevará, e você, que é a parte interna, o Israel em você, submergirá profundamente. Isso faz com que a parte externa do mundo em geral, que são as Nações do Mundo, se eleve ainda mais e domine Israel, rebaixando-os ao máximo, e com que os Filhos de Israel, a parte interna do mundo, afunde, Deus não permita, ao mais profundo.
68) Não se surpreenda que uma só pessoa cause com sua ação uma descida ou uma ascensão ao mundo todo. Pois essa é uma lei rígida: que o geral e o particular são tão iguais como duas gotas numa lagoa. E tudo que é habitual no geral é habitual no particular também. Além do mais, os particulares formam tudo que há no geral. Pois o geral não pode vir a ser a não ser depois que os particulares foram revelados, de acordo com a quantidade e a qualidade dos particulares.
Evidentemente, o ato do particular, de acordo com seu valor, eleva ou rebaixa o todo. Isso esclarecerá as palavras do Zohar: que através do estudo do Zohar e da Sabedoria da Verdade eles serão redimidos do exílio em completa libertação. Mas qual é na verdade a conexão entre o estudo do Zohar e a libertação de Israel dentre as nações?
69) Foi esclarecido detalhadamente que a Torah também possui sua parte interna e sua parte externa, como o mundo todo possui. Portanto, aquele que esquadrinha a Torah também possui dois níveis. E ao aumentar seu labor na parte interna da Torah e seus segredos, nessa medida ele faz com que a virtude da parte interna do mundo, que é Israel, ascenda sempre mais alto acima da parte externa dele, ou seja, as Nações do Mundo. E todas as nações do mundo reconhecerão e admitirão a ascendência de Israel sobre elas, até que se tornem realidade, as palavras: “Os povos os tomarão e os levarão aos lugares deles, e a casa de Israel os possuirá na terra do Senhor (Isaías 14:2)” “Assim diz o Senhor Deus: Eis que levantarei a mão para as nações e ante os povos arvorarei a minha bandeira; e eles trarão os teus filhos nos braços, e as tuas filhas serão levadas sobre os ombros (Isaías 49:22)”.
Mas se, Deus não permita, o contrário acontecer, que o homem de Israel rebaixe a virtude da parte interna da Torah e de seus segredos, que lidam com as ações de nossas almas e seus níveis, e também a parte da razão das mitzvot (preceitos) em relação à virtude da parte externa da Torah, que lida exclusivamente com a parte prática apenas, e mesmo se ele dedica algum tempo à parte interna da Torah, mas apenas um pouco do seu tempo, quando não é noite nem dia, como se isso fosse, Deus não permita, redundante, com isso ele causa a degradação e o declínio da parte interna do mundo, que são os Filhos de Israel, e intensifica a dominação da parte externa do mundo – ou seja, as Nações do Mundo – sobre eles, e elas humilharão e desgraçarão os Filhos de Israel, e considerarão Israel redundante, como se o mundo não precisasse dele, Deus não permita.
E além do mais, com isso eles fazem que até a parte externa do mundo domine sua parte interna. Pois as piores das Nações do Mundo, que o destroem e prejudicam, ascendem mais alto sobre a parte interna delas (as Nações do Mundo), e então causam a ruína e o massacre horripilante que nossa geração testemunhou. Que Deus nos proteja de agora em diante!
Portanto, você vê que a redenção de Israel e de fato sua ascensão depende do estudo do Zohar e da parte interna da Torah. E vice versa, toda ruína e declínio dos Filhos de Israel resultam do seu abandono da parte interna da Torah, degradando e transformando-a em algo aparentemente redundante, Deus não permita.

Como alguém pode identificar dentro de si, ou de seu povo, ou do mundo à sua volta, quais partes são internas e quais são externas?

As nações do mundo no homem são atributos, desejos (vasos) que não devemos usar até o final da correção. Mas podemos trabalhar com os desejos chamados “Israel”. Israel são os vasos, ou atributos, que são caracterizados por  seu desejo de doar, de conceder. Os “gentios” são os vasos com atributos egoístas, que desejam somente receber. Após a correção de todos os atributos do homem, todos seus vasos, Israel e os gentios se unirão, e o homem sentirá o Criador com perfeição. Mas até atingir essa situação, a correção repousa sobre os ombros do povo de Israel, a representação de Israel neste mundo, que deve ser o primeiro a  se corrigir, antes de todos outros. Por isso, na medida em que corrigimos a nós mesmos, traremos as nações do mundo à sua correção.

O que é interno e o que é externo?

Isso depende do que a pessoa faz e o que ela estuda. Se estiver ocupada aperfeiçoando seus desejos para satisfaze-los com toda sorte de prazer, então é chamada de “gentio”. Se essa pessoa deseja aperfeiçoar seus atributos para se assemelhar ao Criador, então é chamada de “judeu” ou “Israel”, das palavras Yasher (direto, em linha reta) El (a Deus), ou seja, em linha reta até Deus.

A pessoa nasce com um desejo de deleitar a si mesma, mas deve chegar ao oposto, o desejo de ter os mesmos atributos que o Criador. Não construímos esse desejo, que é o oposto completo do desejo natural da pessoa, a partir do nada, mas de um desejo oposto. Ele se desenvolve em cima desse desejo egoísta com o qual nascemos.

Esse desejo natural no homem, o desejo de satisfazer a si mesmo, é um alicerce necessário, e provavelmente o mais benéfico para se atingir o objetivo, principalmente para atingi-lo por si mesmo, se tornando um participante ativo na sua obtenção. Você continua a receber, mas com um propósito diferente,  recebendo apenas na condição de que com isso você deleita o doador. No final do processo de equivalência, chamado de “fim da correção”, a alma-vaso, a Malchut da infinidade (Ein Sof) deseja apenas se unir com o Criador, e com isso ela se  iguala ao atributo de doação do Criador.

É por isso que devemos passar por todas essas situações que criam um desejo de doar, o vaso real para a luz superior, a necessidade de se parecer com o atributo do Criador. É uma lei coletiva que existe para trazer todas as criações ao estado corrigido de semelhança ao Criador. Essa lei governa a todos e em todos os níveis: inanimado, vegetativo, animal e falante (homem).

Quanto mais desenvolvida a criatura é, mais forte ela sente a força que a compele a se assemelhar ao Criador. É por isso que, de todas as criações, o homem é o que sofre mais. E, entre os diversos níveis de seres humanos, Israel sofre mais que todos os outros. E dentro de Israel, aqueles que estão no nível mais íntimo. É porque a luz, a força da vida, que nos atrai para ela, começa a se expandir do  ponto mais íntimo da criação, a partir daqueles desejos que são os mais próximos  à essência da lei, os atributos de doação, de outorga. Após isso, junto com o distanciamento da luz do centro, a luz diminui rumo às camadas exteriores.

A luz da correção brilha a partir do centro. A resposta do vaso a ela  depende da situação do vaso. Se as correções são realizadas voluntariamente, esse é um sinal de que a pessoa está tomando o “caminho da Torah”. Se as correções  são realizadas involuntariamente, não pelo desejo do Criador ou da criatura, os tormentos não diminuem mas aumentam e se acumulam para fazer o  homem odiar a origem do tormento, a má inclinação dentro dele.

Pelo fato do homem ser apenas um “desejo por prazer”, a única maneira de influencia-lo é fazer com que ele sinta um vazio, a sensação da ausência do “desejado” dentro do egoísmo, que chamamos de “sofrimento”.

Por que acontece isso do vaso interno, que é mais corrigido, sentir maior dor, afinal, ele é um vaso menos egoísta que o exterior?

O motivo é que o vaso interno está mais próximo da correção, e o vaso externo está mais distante da correção. Mas em todo caso, tanto o vaso interno como o externo, estão não corrigidos até agora. O vaso interno – “Israel” – possui um egoísmo menor, que é o porquê de Israel ser uma nação pequena.

Os vasos dos gentios são bem maiores do que aqueles de Israel, mas a despeito disso, os outros povos sentem menos desejo que Israel, porque seu vaso ainda não foi aberto completamente. O vaso surge apenas na medida em que pode ser corrigido. Mas, quando o desejo deles desperta, eles começam a odiar Israel imediatamente, até que mesmo povos que nunca estiveram em contato com Israel começam a odiar judeus, apesar deles nunca terem nada a ver com estes. Isso é porque os gentios são aqueles que têm de fazer Israel realizar correções. E, apenas depois da correção do nível de Israel no mundo é que as outras nações serão capazes também de lidar com a correção e desta maneira trazer a correção  coletiva.

Essa é natureza da singular conexão entre Israel e as nações do mundo. A nação israelita deve ser cuidadosa, pois quando eles não realizam as correções necessárias, as nações do mundo tornam-se ávidas para destruí-la, porque não há necessidade de vasos tais como Israel se não podem preencher os vasos das nações do mundo, o que é, de fato, o papel de Israel.

É por isso que o Rabino Yehuda Ashlag, o Baal HaSulam, avisa que o povo de Israel deve se apressar e começar a realizar a tarefa que foi dada a ele. E isso pode ser realizado apenas através da sabedoria da Cabalá, porque é o método para a correção coletiva e não existe outro método.

A correção começa a partir das almas mais puras, as menos egoístas, aquelas que podem ser corrigidas mais rápido, que são Israel. A correção é uma tarefa própria de uma pessoa só, de sua própria alma, e nenhuma outra pessoa é considerada aqui. A pessoa desce ao mundo com esta única finalidade e essa é a única coisa com a qual ela deve lidar. É por isso que ela nasceu, foi criada, e todas as outras coisas que ela faz são consideradas como nada.

Se o povo de Israel lidar com as correções, o ódio das nações contra ele irá crescer ou diminuir?

Se todos de Israel encararem seus inimigos internos, os inimigos externos desaparecerão, porque o que acontece dentro determina o que acontece fora.

A parte externa depende completamente da parte interna, assim como o (nível) inferior depende do superior, o nível inferior nasce e é sustentado pelo superior, assim o comportamento das nações do mundo depende do nosso comportamento.

Mude a intenção dentro de você e verá como a realidade começa a mudar. É assim que você pode determinar eventos futuros.

Que força de doação os Cabalistas deviam ativar para levarem o mundo à  melhor via de correção?

O nível inanimado segue o coletivo, ou seja, leva em consideração aquilo com o qual o público geral pode lidar – isso define o nível das exigências dele, e os limites de quanto pode ser influenciado. O público possui seus próprios limites naturais, porque observa os preceitos e costumes por si mesmo.

Mas na espiritualidade deve-se seguir o indivíduo. No desenvolvimento espiritual é o indivíduo quem decide, através de sua alma, o que fazer e como. Ele determina a conexão entre ele e o Criador, e como se relaciona com a vida. Temos de despertar a nós mesmos não só para mudar um pouquinho a situação do mundo, para termos mais chuva, mais paz, mais felicidade, mas devíamos agir na direção do objetivo espiritual, para levarmos tudo ao fim da correção.

Todos nós devemos chegar lá por nós mesmos, de acordo com a raiz de nossas almas, ou despertamos o interesse de todos por isso?

Como aprendemos dos escritos do Baal HaSulam, as massas devem ser cúmplices nisso. Ele trata sobre um processo de correção coletivo, sobre um grande número de almas que estão para ser parte desta correção. Não foi por  acaso que há dois mil anos atrás o Criador dividiu o povo der Israel em seculares e religiosos, em uma parte que continua a observar Torah e mitzvot por educação, e uma parte que se tornou livre disso. Cada uma delas possui sua própria missão, porque tudo nos é enviado de cima, da providência. Essas duas partes devem trabalhar juntas. Não teria sobrado nada da parte secular se não fosse a parte ortodoxa próxima a ela. Contudo, se continuássemos a trabalhar apenas pela linha de pensamento ortodoxa, provavelmente não seríamos capazes de atingir o propósito da criação.

De fato, vemos que são aqueles que não receberam nenhuma criação ortodoxa que são adequados para a correção através da Cabalá, porque apenas eles sentem imperfeição e são portanto dignos de “receber a Torah”. É por isso que eles conduzirão todos adiante, para a correção, enquanto que a parte ortodoxa provavelmente permanecerá no nível chamado de “inanimado sagrado”, imóvel.

Quanto mais Israel progredir na correção, mais as perturbações  aumentarão, porque estas não são perturbações, mas na verdade  ajuda que  vem de cima em forma de obstáculos?

As ascensões e descidas ocorrem apenas em indivíduos, apenas naquelas almas que passam pelo seu próprio processo de correção. A conexão com o Criador é particular, apesar da liberdade de escolha do homem estar apenas na escolha do grupo do qual ele toma seu caminho na vida, cada pessoa tem sua escolha.

Almas corrigidas normalmente levam outras almas com elas – outros desejos que não foram corrigidos, mas apenas na medida em que podem trazer uma correção coletiva. Isso é chamado de “uma luz para as nações”. Israel leva os gentios junto com ele e ascende com eles através de uma ligação chamada de “inclusão” (hitkalelutI).

Em todo caso, o progresso espiritual de um indivíduo é diferente daquele do todo. A correção é realizada no indivíduo por subidas e descidas pessoais, enquanto que para o todo a correção é realizada ao ligar-se com o indivíduo. As nações do mundo sentem o déficit em seu progresso, sentem-se dependentes de Israel, mas apenas as primeiras correções dependem de Israel, porque as correções que virão depois disso dependerão apenas delas.

Da Introdução ao Zohar:

70) As correções do Zohar dizem (correção 40): “Desperta e levanta a Divina Presença, pois o seu coração está vazio, sem a sabedoria para a conhecer e atingir, apesar dela estar em você.” E o segredo disso é, como é dito: que uma voz ressoa dentro do coração de cada um de Israel, para orar pela elevação da Divina Presença, que é a assembléia das almas de Israel. Mas a Divina Presença diz: “Não tenho força para levantar-me do pó, pois toda a carne é apenas pasto. Eles são todos como animais que se alimentam do pasto. O que significa que eles cumprem os preceitos de maneira irracional, assim como animais, e toda a sua graça é como a flor do campo, todos os bons atos que realizam são apenas para eles que os realizam.
Isso significa que, com as boas ações que realizam, eles não pretendem agradar seu criador, mas apenas agradar a si mesmos. E mesmo os melhores deles, que dedicaram o tempo todo deles à Torah, fizeram isso apenas para o benefício de seus próprios corpos, ausentes da intenção desejada, de agradar seu criador.
É dito sobre a geração daquela época: “um espírito se vai para nunca mais voltar, esse é o espírito do Messias, aquele que deveria livrar Israel do exílio e da tribulação para a completa redenção, para cumprir as palavras: pois a terra se encherá do conhecimento do Senhor. Esse espírito se foi e não paira sobre o mundo.”
Que pesar! Estas pessoas, que fazem com que o espírito do Messias desapareça do mundo para nunca mais voltar, fazem que a Torah seque, sem o mosto da mente e do conhecimento, pois confinam a si mesmos à parte prática da Torah e não desejam experimentar e compreender a sabedoria da Cabalá, saber e educar a si mesmos nos segredos e na razão por detrás da Torah e dos preceitos. Ai! Por seus feitos, eles causam a pobreza, a ruína e o roubo, a pilhagem, os assassinatos e a destruição no mundo.
71) E o motivo para isso é, como dissemos, que pelo fato de todos que se envolvem na Torah depreciarem sua própria parte interna, e a parte interna da Torah, deixando-a como se fosse desnecessária no mundo, e estudando apenas numa hora que não é dia nem noite. E são como cegos procurando um muro, causando com isso a proliferação de sua própria parte externa, ou seja, o benefício de seu próprio corpo, e consideram a parte externa da Torah superior à parte interna dela – assim causando a expansão de cada aspecto externo do mundo sobre suas partes internas, cada um de acordo com sua própria essência.

Por causa disso, a parte externa de todo Israel, isto é, as Nações do Mundo entre eles, se intensifica e anula a parte interna de todo Israel, que são os Grandes da Torah. E a parte externa dentro das Nações do Mundo também, que são os destruidores entre eles, se intensificam e anulam a parte interna entre eles, que são os Justos do Mundo. E a parte externa do mundo todo, sendo as Nações do Mundo, se intensificam e anulam os Filhos de Israel, que são a parte interna dele.

Numa geração assim, todos os destruidores pertencentes às Nações do Mundo levantam suas cabeças e desejam principalmente destruir e matar os Filhos de Israel, como é dito: (Yebamot 63) “Nenhuma calamidade vem ao mundo senão por Israel”, assim como é dito nas correções acima, que eles causam pobreza, ruína, roubos e assassinatos no mundo todo.
E uma vez que, através de nossas muitas falhas, testemunhamos o supracitado nas correções, e não apenas isso, mas a calamidade atingiu o melhor de nós, como é dito: (Baba Cama 60) “E não começa, a não ser pelos justos”. E de toda a glória que Israel teve nas regiões da Polônia, Lituânia, etc. permaneceu apenas alguns remanescentes em nossa sagrada terra. Agora, “relíquias” estão conosco para corrigir aquele erro terrível. E cada um de nós que restamos se responsabilizará, com o coração e a alma, por intensificar deste dia em diante a parte interna da Torah, e dar a ela seu devido lugar, acima da parte externa da Torah.
Então, cada um será recompensado com a intensificação de sua própria parte interna, ou seja, o Israel nele, que são as necessidades da alma acima do aspecto da própria parte externa daquele, sendo as Nações do Mundo nele, que são as necessidades do corpo. E essa força virá a todo povo de Israel, até que os povos do mundo reconheçam o valor dos Grandes de Israel sobre eles, e os ouçam e obedeçam. E a parte interna das Nações do Mundo também, que são os Justos do Mundo, dominará sua parte externa e reduzirá estes que são os destruidores. E a parte interna do mundo também, que é Israel, se elevará com toda exaltação e virtude sobre a parte externa do mundo, que são as nações. Então, todas as Nações do Mundo irão reconhecer e admitir a supremacia de Israel sobre elas.
E elas cumprirão as palavras: “Os povos os tomarão e os levarão aos lugares deles, e a casa de Israel os possuirá na terra do Senhor (Isaías 14:2)”. E também: “e eles trarão os teus filhos nos braços, e as tuas filhas serão levadas sobre os ombros (Isaías 49:22)”. E é isso que o Zohar diz: “Que através desta obra, que é o livro do Zohar, eles serão libertos do exílio com clemência (Nasah 124)”. Amém, que assim seja.

A pergunta mais importante é: Por que estudamos? Você pode estudar Cabalá para obter sucesso, relaxamento, para adquirir paz e confiança, e você  pode estudar porque você sente que você deve corrigir seus “vasos”, corrigir a situação. É uma diferença enorme na abordagem. E aqui não podemos andar sozinhos, mas, antes, necessitamos de orientação espiritual.

O Baal HaSulam descreve que todos devem atingir o nível de  Moisés. Todos devem retornar à raiz de sua alma. Isto é exigido de todos. Hoje,  alcançamos uma posição onde devemos corrigir nossa sociedade ativamente.  Antes de nossa geração, apenas umas poucas almas escolhidas obtinham correção. Eram Cabalistas ocultos, e a correção não era uma necessidade para todas as pessoas e todas as nações do mundo.

O Baal HaSulam descreve que antes do povo do Israel retornar para a terra de Israel, a nação israelita não era obrigada a se igualar com a terra, para que toda a nação corrigisse a si mesma, até a obtenção do nível espiritual chamado de “a Terra de Israel”. A palavra “terra” (Heb. Eretz) vem da palavra “desejo” (Heb. Ratzon), um desejo dirigido ao Senhor.

Mas, uma vez que o Criador nos trouxe de volta a esta terra, querendo ou não, nós, a nação toda, devemos nos igualar aos atributos espirituais desta terra. Enquanto estamos fisicamente na terra de Israel, devemos também atingir o nível interno, a Terra de Israel espiritual. De outra maneira, não temos o direito de estarmos aqui, porque os níveis interno e externo estão desequilibrados.

Estivemos nesta situação mais de uma vez. Toda vez que o povo de Israel parava de se igualar com a nação de Israel espiritual, que significa o povo que vive diretamente a partir da Terra de Israel, ou seja, o desejo dirigido ao  Senhor, éramos expulsos de nossa terra. Agora estamos de volta novamente, a terra de Israel nos foi dada novamente, mas nós ainda não a recebemos, nós ainda não a merecemos.

Se não aceitarmos isso espontaneamente, como o Baal HaSulam descreve, isto é, se não nos assemelharmos a ela em nosso nível interno-espiriual, por mais que esta terra não nos expulse como antes, ela vai, contudo, nos forçar a nos corrigir e a nos tornamos dignos dela por meio de tormentos horrendos.

Hoje, a missão dos Cabalistas é tentar disseminar a necessidade de correção entre a nação de toda maneira possível, criar um método apropriado a todos, publicar livros e preparar professores. Há muito a ser feito, mas, mesmo um só pensamento sobre correção, mesmo o princípio daquele pensamento, cria mudanças grandes e positivas na terra, e evita sofrimentos terríveis.

A ATUAL GERAÇÃO DA CABALÁ

Do livro “O Livro Aberto”

Muitos Cabalistas escreveram através dos tempos sobre a importância da circulação da Cabalá, começando com os livros de Cabalá mais antigos: “O Anjo Raziel”, escrito pelo primeiro homem, o “Sefer haYetzira”, escrito pelo patriarca Abraão, e o livro do Zohar, escrito pelo Rabino Shimon Bar-Yochay no terceiro século DC. Entre “O Anjo Raziel” e o Zohar, e após o Zohar, muitos livros de Cabalá foram escritos, mas foram publicados apenas entre Cabalistas e nunca foram abertos ao público geral. A Cabalá é a ciência mais importante para o homem. Mas, os Cabalistas são os que a esconderam no passado, e são os Cabalistas que a permitem hoje.

Está escrito no Zohar que quando retornarmos do último exílio – ou seja, em nossa geração – chegaremos a um estado chamado de “os dias do Messias”, e apenas então realmente começaremos a precisar da Cabalá e a usa-la.

O Motivo do Exílio

O motivo de nosso exílio entre as nações e o estabelecimento de outras nações aqui em nosso lugar foi que nosso nível espiritual não combinou com o nível espiritual chamado de Terra de Israel. É impossível viver na terra de Israel enquanto se tem ambições que pertencem a um outro lugar, em outras palavras, desejos materiais ao invés de espirituais.

Cada parte do planeta possui uma força espiritual singular agindo sobre  ela. A força espiritual que age sobre a terra de Israel necessita que os judeus, através de sua influência, adaptem seu nível espiritual e moral a ela. De outra maneira, há uma discrepância entre Israel e a força, resultando em tormentos, guerras, doenças e preocupações. Se a discrepância aumenta além de um determinado ponto, ela nos fará abandonar o lugar no qual age, ou seja, ela nos expulsará da terra de Israel.

É por isso que toda vez que há um declínio no nível espiritual de Israel o templo é arruinado, isto é, um declínio espiritual traz com ele um declínio moral e social na realidade material também.

Hoje, estamos no final do quarto exílio, o último exílio. E, assim como em todos os exílios e retornos anteriores, devemos também retornar dele agora e atingir o retorno espiritual. Temos de sair do exílio espiritual e chegarmos à redenção espiritual, retornarmos ao mundo espiritual, e ascendermos ao nível espiritual no qual somos iguais ao nível espiritual da terra de Israel, para que nossos atributos espirituais, nosso vaso espiritual, combinem com aqueles da terra espiritual de Israel. Todos os tormentos e nossos problemas ocorrem com o propósito único de obrigar-nos a corrigirmos a nós mesmos e trazer-nos à igualdade com a força espiritual que age na terra de Israel.

Assim o Zohar explica, assim os Cabalistas dizem, e eles apontam para  nossa geração como a geração na qual a Cabalá deve ser aberta a todos. Porque é apenas através do estudo da Cabalá e da autocorreção que podemos viver em paz e felicidade. É por isso que a Cabalá está se tornando cada vez mais popular e moderna.

Crescentes Ambições

Em gerações anteriores as pessoas tinham desejos mais simples que ainda não tinham se desenvolvido. Os desejos do homem eram principalmente desejos corpóreos-animais. Em gerações mais recentes, desejos por riqueza, glória, poder e conhecimento começaram a surgir.

Essas fases de desenvolvimento ocorrem por toda parte. Elas ocorrem em todas as nações e em cada indivíduo. A realização destes desejos traz com ela o progresso tecnológico. Mas a humanidade entenderá gradualmente que todos os seus esforços para realizar seus desejos não trarão satisfação, felicidade, ou uma resposta à pergunta: “Qual é o sentido de nossas vidas?” Mas esse entendimento virá apenas depois…

Quando a humanidade começar a perguntar sobre o sentido da vida, ela começará a buscar, e então chegará a vez da sabedoria da Cabalá –  a sabedoria  que foi mantida secreta por milhares de anos. Hoje, assim como escrito no Zohar, a sabedoria da Cabalá está sendo revelada, e é precisamente através da Cabalá, através das forças espirituais escondidas no Zohar, que o retorno do exílio espiritual será feito possível.

De acordo com o Zohar, a humanidade passa por quatro fases de desenvolvimento, que correspondem aos quatro exílios pelos quais o povo de Israel teve de passar. A descoberta da Cabalá ocorrerá no fim do quarto exílio, que começou no início do século XX, quando os primeiros colonos chegaram à terra de Israel.  Em  nossa  época,  no  fim  do  século  XX  e  no  começo  do  século  XXI,  a colonização será concluída, e este será o fim de nosso retorno físico do exílio. Acontecerá então que o estudo da Cabalá se tornará uma necessidade para retornarmos do exílio espiritual também.

Temos de culpar apenas a nós mesmos! Não faz sentido culpar os outros, apenas nós mesmos. A maneira que o mundo nos trata depende apenas de nós, e isso não tem nada a ver com o jeito que nos relacionamos com outros povos, mas com como nos posicionamos em relação às forças espirituais.

Vemos claramente que todos nossos esforços de se amigar com outras nações, apenas trazem desrespeito em relação à nós, porque elas inconscientemente esperam algo diferente de nós, e elas nos desprezam devido  aos nossos esforços para nos tornarmos amigos delas de outras maneiras.

Todos os povos, até o maior deles, são como marionetes. Eles são ativados de cima. O Criador é o único que desperta as nações do mundo para nos tratarem desse jeito. É dito na Torah que “Os corações dos ministros e reis estão na mão de Deus”. Isso significa que não existe outra força que controla todos, e não temos nenhum motivo para culpar nossos inimigos por nos odiarem (isso não significa que temos de ama-los). Devemos entender que a causa do comportamento deles é o próprio destino deles e que o motivo deles nos tratarem do jeito que tratam está dentro de nós.

Não existem milagres, e ninguém pode ajudar uma pessoa a não ser ela mesma. Nos milhares de anos que a humanidade existiu, não foi encontrado nenhum remédio milagroso que pudesse mudar nossa situação. O motivo da dor é que vivemos no mundo como cegos num tiroteio. Não entendemos o que devemos fazer, o que será de nós amanhã, que impacto têm nossas ações e o que o mundo à nossa volta realmente quer de nós quando nos pressiona desse jeito.

Apenas ao intensificarmos nosso envolvimento com tudo que acontece no universo, ou seja, no mundo superior, aprenderemos como controlar  nosso destino. Devemos aprender a ver o mundo superior por trás de nosso mundo físico. As causas para o futuro de nossa existência são encontradas no mundo superior.

As mesmas almas se repetem e vestem os corpos deste mundo de geração a geração. Gradualmente, por milhares de anos, essas almas chegaram à situação em que descobrir o mundo superior é necessário para a existência delas. A Cabalá é a “patente” à nossa disposição para atingirmos esse objetivo.

O que é a “patente” Cabalística?

Enquanto os Cabalistas escrevem seus livros de Cabalá em nosso mundo físico, eles também sentem os mundos espirituais. Quando lemos seus escritos, apesar de não sentirmos o que eles sentiram quando escreveram, despertamos sobre nós uma iluminação do nível espiritual em que o Cabalista estava quando escreveu o livro. Essa luz superior nos purifica e nos ajuda a sentir o mundo superior como o Cabalista sentiu.

Esse atributo especial é chamado de “remédio”, ou “virtude”, e se refere ao estudo do Zohar em particular, e aos livros de Cabalá em geral. Não há nada escondido nesses livros, mas a leitura dos escritos dos Cabalistas conecta a pessoa com o que está acima e a puxa para cima. É por essa razão que estudamos os livros que são feitos para pessoas como nós, que ainda não sentem nada além de nosso mundo, mas querem vir a sentir toda a realidade, toda a criação.

Mas nem todos livros de Cabalá trazem a mesma iluminação. Os principais livros que trazem a luz são o Zohar, os escritos do ARI, e os escritos do Baal HaSulam.

A parte revelada da Cabalá, da qual depende o futuro do mundo, pode ser estudada por qualquer um, incluindo pessoas inexperientes, sem qualquer medo.

Preconceito

Mesmo hoje, muitas pessoas pensam que a Cabalá é alguma sabedoria secreta que não deveríamos ensinar nem tratar sobre ela. O Rabino Yehuda Ashlag escreve na Introdução ao Talmud Esser Sefirot que a Cabalá é composta de duas partes: a primeira é chamada de “os sabores da Torah”, que é o significado da Torah, da vida e da criação, e a segunda é chamada de “os segredos da Torah”.

A parte dos “sabores da Torah” lida com a estrutura dos mundos, a  estrutura da alma, a ascensão do homem aos mundos espirituais, a descoberta do sentido da vida pelo homem, em seus ciclos passados e futuros, o motivo da vida dele e o porquê dele nascer especificamente em sua família, especificamente com esse caráter, o que ele deve fazer nesta vida e o que deve fazer para que não tenha de voltar a este mundo. Tudo isso pertence aos sabores da Torah.

A parte dos segredos da Torah lida com o que os Cabalistas obtém dos mundos superiores. Não existe nenhum livro que fala disso, mas apenas insinuações e alusões em alguns escritos.

Todos os livros de Cabalá lidam com os sabores da Torah. Portanto, o livro do Zohar pode ser revelado, como também o “Árvore da Vida”, e todos os outros livros escritos por Cabalistas, em qualquer lugar e em qualquer livraria. Tudo que está escrito nos livros de Cabalá não tem nada a ver com a parte oculta da Cabalá, mas apenas com a parte revelada que devemos todos estudar, porque é esta parte que permite que a pessoa atinja a correção e atinja o mundo fora de si mesma, o mundo superior, porque lá encontramos as causas para tudo que acontece aqui, agora e no futuro. A Cabalá ensina ao homem como determinar seu próprio futuro por si mesmo para o seu próprio bem e para o de todos.

As conseqüências de nossas ações sobem ao mundo superior. Não posso  ver e sentir o que minhas ações fazem no mundo superior, no meu estado atual: como exatamente ele reage ao que faço, o que desce a mim e ao mundo todo como resultado delas. Eu de alguma maneira afeto a mim mesmo e ao mundo todo, mas não entendo esse circuito fechado de informação. Precisamos da Cabalá para um estado de autopercepção como esse.

É por isso que a Cabalá é chamada de “a sabedoria da Cabalá”, uma ciência, não uma religião. Ela permite ao homem ver o verdadeiro aspecto do mundo no qual ele vive, incluindo toda a criação, ou seja, todos os mundos. Apenas então, ele começa a entender o que age sobre ele e como ele deve agir.

É por isso que é um dever para todos saber sobre tudo que tenha a ver com a parte revelada da Cabalá. Estamos vivendo numa época muito especial; ainda não retornamos do exílio para a terra de Israel por nossa própria força, ou seja, nosso retorno para Israel não foi por nossa escolha, mas pela pressão da força superior – o Criador nos livrou e nos trouxe do exílio para cá.

Mas se não ascendermos ao nível espiritual da terra de Israel, sofreremos cada vez mais através de nossos inimigos, tanto externos como internos, que são  as forças pelas quais o Criador nos fará ascender ao nível espiritual chamado de “Terra de Israel”.

A propagação da Cabalá

Tenho lidado com a Cabalá por vinte e sete anos até agora, e há uma verdadeira revolução acontecendo diante de meus próprios olhos; uma revolução na maneira da humanidade ver a vida. As pessoas percebem qual é a coisa mais importante na vida, elas sentem que existem forças espirituais que agem sobre elas e que apenas se estabelecermos contato com essas forças seremos capazes de nos salvar.

Está se tornando mais claro a cada dia, mais próximo de todos nós. É por isso que estamos começando a ensinar Cabalá em tantos lugares, e estamos felizes com cada um que vem estudar. Afinal de contas, o sagrado ARI, o maior Cabalista do século XVI, e fundador da Cabalá Luriânica, escreveu em sua introdução ao  seu livro “A Árvore da Vida” que, conforme todos estudarem Cabalá, a humanidade se libertará do mal nela e atingirá a revelação do doador benevolente.

A INTENÇÃO DURANTE O ESTUDO REDUZ O PERÍODO DE CORREÇÃO

Do livro “O Livro Aberto”

Se uma pessoa reconhece um defeito em si mesma, mas ainda não consegue começar a odiar esse atributo, isso significa que ela não está completamente cônscia do mal nela, e portanto essa sensação não é chamada ainda de reconhecimento do mal. Mas isto já é um começo: ela se concentra em sobrepujar aquele defeito e vê que uma força superior a ajuda com isso.

Por exemplo: uma pessoa recebe um sinal de cima de que uma pessoa está menosprezando outra. Com isso, a força superior está tentando mostrar o atributo mau que está nela. Na mesma medida que a pessoa sente o mal, ela pode ficar longe dele. Se uma pessoa faz esforços espirituais, identifica os atributos negativos nela mesma, ela reduz o período de correção e diminui a dor. Se, no entanto, insiste, ela recebe mais pancadas, até que sucumbe e exclama: “Chega!”

Se o ladrão é pego durante o roubo começa a amaldiçoar sua vida. Mas no próximo instante se acalma, quando vê que era um falso alarme. No instante em que o medo vai embora, ele está pronto e disposto a roubar novamente.

Como é possível ser liberto desse atributo? Se o prazer é maior que a dor, estou disposto a aceitar o fato que o prazer é incompleto, impróprio? O que deve ser feito se uma pessoa quer corrigir suas características más, mas não encontra força suficiente em si para encarar isto sozinha?

Uma oração – uma súplica por correção – é respondida pelo Criador apenas se vem do fundo do coração, porque Ele responde apenas a orações sinceras, completas e eternas. Uma súplica pela correção dos atributos maus é quando o homem finalmente  admite que não pode fazer isso por sua própria conta.

Nossos mestres contam-nos que existe apenas um meio para a correção – a intenção  de  ser  corrigido  (expressada  na  oração)  durante  o  estudo  de  textos genuínos de Cabalá. Durante o estudo, a pessoa não deve esquecer o propósito de seu estudo e pedir forças espirituais continuamente para controla-lo, para pensar sobre ele. Isso irá funcionar.

Pelo fato de grandes Cabalistas terem nos dado os livros que escreveram quando estavam em um alto nível espiritual e eram capazes de ver a luz superior, quando estudamos a sabedoria da Cabalá com esses livros, expandimos essa luz sobre nós, desde que queiramos correção.

Em outras palavras, se penso sobre o problema do qual estou tentando me livrar durante o estudo, é como se eu expandisse a luz superior sobre mim mesmo, uma que cura e corrige, que me traz de volta ao Criador.

Você deve constantemente pensar sobre o que você precisa corrigir em si mesmo, durante a aula, ou quando você estuda por sua conta, ou ouve fitas. Você também pode pensar sobre saúde e outros problemas como esse, mas você deve antes de tudo se concentrar em suplicar por correção espiritual, porque ela dá ao homem muito mais do que qualquer outra súplica ou pedido.

Você não pode pedir: “corrija este ou aquele atributo”, mas você pode pensar sobre ele, enquanto estuda ou ouve uma fita. Não é necessário sentir. Se você estuda a Torah, você já se sente bem. É suficiente apenas lembrar e pensar sobre aquele problema enquanto estuda.

Se, por exemplo, eu ouço uma fita, não importa o quanto eu entendo do conteúdo sendo discutido. É suficiente que pense sobre como corrigir meus atributos. Se ouço uma fita e perco a concentração, mas o tempo todo penso na luz do Criador, sobre meu desejo de ser corrigido, de se aproximar do Criador, esse é

o uso mais eficiente das fontes de Cabalá. É, de fato, a única força que pode ajudar uma pessoa a mudar.

Eu sugiro que faça tudo simultaneamente: ouvir a fita, sentir a sabedoria, a sensação do Criador, como Ele se relaciona com você (por um lado), enquanto que por outro lado você continua a pensar sobre desejar ser corrigido. Neste caso a luz que desce sobre você durante o estudo chega no problema que você quer  consertar. É exatamente durante o estudo e durante o trabalho na disseminação da sabedoria da Cabalá que você deve orar e pedir por correção. Isso também se aplica a orações por outras pessoas.

Uma pessoa que apenas ouve a fita e tenta processar o material, expande a luz, mas não faz nada com ela. A luz vem de cima para baixo, mas não estabelece contato com o egoísmo. Ao invés disso, passa por nós e vai embora. A luz precisa adentrar o egoísmo que você põe no caminho dela, de outra maneira você não corrige seus atributos, mas apenas recebe conhecimento. Mesmo se minha oração é artificial, eu ainda sou corrigido. Com isso eu apresso o processo do reconhecimento do mal, e em seguida vem a correção.

ALGUMAS PERGUNTAS

Do livro “O Livro Aberto”

O que é “O Sofrer do Justo”?

O Sofrer do Justo é um estado espiritual que precede o estado espiritual de “alegria”, ou seja, O Regozijar do Justo – a situação que vem depois da revelação. Mas o que o homem descobre depois da “grande alegria”? O fato de que ele agora é capaz de, de acordo com seu nível atual, doar infinitamente ao Criador. Quando a pessoa atinge realmente esse desejo, ela possui um vaso, a habilidade de se unir com o Criador.

Como podemos acelerar o processo de correção e merecermos a revelação do Criador?

Você tem de pedir a revelação do Criador com o propósito de corrigir os vasos. Malchut do infinito (Malchut de Ein Sof), o desejo máximo de receber, se restringe. O que isso pode nos ensinar? Se sentimos o Criador, sentimos Sua presença, isso nos dá forças tão poderosas que nos tornamos capazes de controlar nossa própria natureza!

Graças à revelação do Criador, a pessoa entende claramente onde o Criador está, e onde estamos. Esse processo de revelação do Criador é como a sensação de estarmos diante Dele. O resultado é que imediatamente nos dispomos a restringir a nós mesmos e a agirmos com a intenção “para o nome Dela”. Esse é o significado da frase: “A luz nela corrige”.

Qual o significado da frase: “Eu criei a má inclinação, Eu criei a Torah como um remédio”? Como o poder da Torah é manifestado? Ao começarmos a sentir a grandeza do Criador enquanto ainda recebemos. Se pedirmos que o Criador seja revelado, mas não porque queremos prazer, e sim para sermos capazes de usar essa revelação para corrigir nosso próprio vaso, seremos dotados com essa revelação.

Existe a luz da correção, e existe a luz do propósito da criação, a satisfação. Se recebermos a luz para termos a habilidade de corrigirmos a nós mesmos, ela será revelada a nós não como prazer sublime, mas como a “real essência”, para que desejemos doar ao Criador. Graças a isso, recebemos vasos altruístas, a intenção certa – precisamos de todas essas coisas para alcançar a revelação da Divindade dentro de nós.

No livro “Shamati”, artigo nº 4, o Rabino Baruch Ashlag pergunta: “Qual a razão por detrás do peso que a pessoa sente quando se anula diante do Criador?” Ele responde: “…é uma coisa simples chamada falta de fé, ou seja, ela não vê  diante de quem se anula, o que significa que ela não sente a existência do Criador, e isso faz com que ela sinta o peso. Mas quando ela começa a sentir a presença do Criador, imediatamente anseia por se anular e se unir com a raiz, incluída nela, como  uma vela diante  de  uma tocha, sem  nenhum  intelecto  ou conhecimento…

…deste modo, conclui-se que o trabalho do homem é principalmente alcançar a sensação da existência do Criador… …e não pensar em nada, além de que a recompensa que deseja por seu trabalho é que seja dotado com fé no Criador.”

Não quero receber prazer do Criador, mas apenas força para corrigir a mim mesmo. O homem chega (lentamente) à decisão de que ao invés de sua rotina atual, ao invés dos prazeres e desprazeres do dia a dia (ele pára de preocupar com seu futuro), ele quer uma coisa só: corrigir a si mesmo com o auxílio do Criador, aceitar Seus atributos, se tornar como Ele. Essa aspiração espiritual começa a acumular-se gradualmente no homem.

Esse desejo também é uma vontade de obter prazer, mas na correção. Não fomos feitos para sofrer. O propósito da criação é dar prazer às criaturas. Mas o prazer precisa resultar do aproximar-se do Criador, porque esse é o único prazer infinito.

No começo da refeição eu estava com fome, mas agora estou satisfeito. A fome começou a desaparecer no momento em que comecei a comer, até que não pude sequer olhar para a comida. Por que não quero comer mais? Porque não me dá mais nenhum prazer.

Por nosso vaso ser limitado, quando o prazer é recebido nele, ele imediatamente começa a diminuir. Existe apenas uma solução que permite a recepção de prazer infinito, receber para conceder, ou seja, receber para doar. Neste último caso, eu não recebo para o meu próprio prazer, mas para trazer contentamento ao Criador. Se uma pessoa aspira por esse tipo de prazer, ela pode com certeza atingi-lo.

 

A LIBERDADE DE ESCOLHA

Do livro “O Livro Aberto”

O Baal HaSulam (Rabino Yehuda Ashlag) escreveu um ensaio intitulado “A Liberdade”. Devemos agora tentar investigar em profundidade a questão da liberdade e esclarecer o sentido deste artigo.

A liberdade (em hebraico: Herut), independência, como o Baal HaSulam explica para nós em seu ensaio, existe como uma necessidade básica humana. Mas por outro lado precisamos conferir e ver: há liberdade em alguma de nossas ações?

Se nascemos com todos os parâmetros dados adiantadamente: nossas emoções, sensações, caráter, cada pessoa “sob seu signo”, assim por dizer, e visto que é dito: “Não existe sequer uma folha de grama abaixo que não tenha um anjo acima que a afete e diga: cresça!”, podemos então sequer falar de algum tipo de escolha?

Se toda a natureza à nossa volta, todas as mudanças cosmológicas, as mudanças sociais, não dependem de nenhum de nós, existe alguma liberdade de escolha?

A vida nos é dada, independentemente de nosso desejo, não na época que escolhemos, em condições iniciais que não definimos. Surgimos numa família que não escolhemos, numa sociedade que não escolhemos… assim, o que podemos escolher então?

Se todos esses parâmetros são predefinidos, sobre qual liberdade de escolha podemos falar? Existe uma certa medida de liberdade de escolha? E se não existe, sobre o que então devemos falar, escrever, ou mesmo pensar? Nós apenas seguimos ordens e desempenhamos nosso fim por meio das leis da natureza? E se é assim, é impossível entender com qual propósito existe o mundo que nos cerca?

O Rabino Yehuda Ashlag mostra neste ensaio, que existe um componente da realidade que está dentro de nós, que através dele podemos afetar tudo mais,  se soubermos como alcança-lo e controla-lo. Saberemos então precisamente como o alterarmos para melhor ou para pior, iremos parar de ser completamente dependentes da natureza.

Precisamos aprender a entender as características singulares, a natureza desse componente “livre”, e também a entender exatamente do que precisamos, qual é o nosso objetivo. A medida de nosso controle deste componente, nossa habilidade de altera-lo em si, depende desse entendimento.

Se agirmos assim, poderemos realmente mudar nossa situação neste mundo por nós mesmos e nos tornarmos independentes da natureza, de quando não sabíamos o que iria acontecer um minuto a frente.

Essa habilidade é dada ao homem como uma força primordial, a diferença essencial que o separa do resto do universo. É por isso que é dito na Torah que os dez mandamentos foram “esculpidos (heb: harut) nas tábuas”, e nossos sábios explicam que devemos ler essas palavras não como harut (esculpido), mas como herut (liberdade), ou seja, liberdade e independência. Em hebraico, essas duas palavras são escritas do mesmo jeito.

Com isso, nossos sábios querem salientar que o significado da outorga da Torah, é que se esculpirmos eles (N.T.: os mandamentos) na pedra (e conseqüentemente em nosso coração de pedra – o ponto mais egoísta do homem), se mantermos o seu significado genuíno, espiritual, eles nos trarão à situação espiritual chamada de “liberdade.” Por esta razão nos foi outorgada a Torah.

Após isso, o Baal HaSulam escreve que essa instrução – de não ler como esculpido, mas como liberdade – exige uma interpretação muito mais profunda. Não podemos entender que conexão há entre a outorga da Torah e a liberdade do homem. Qual é o significado da liberdade que recebemos quando observamos os dez mandamentos? É essa, a liberdade com a qual sonhei? A liberdade do homem é representada principalmente pela liberdade da morte. Se o homem fosse imortal, isso alteraria significativamente sua atitude com relação a si mesmo, ao mundo, à vida. Então, não chamaríamos esta realidade de “vida”…

Para entendermos que a liberdade é essencialmente a liberdade da morte, precisamos entender completamente o significado de “liberdade”. Se avaliarmos o mundo à nossa volta de maneira geral, veremos que o inanimado, o vegetativo e o animal (incluindo o homem), não podem tolerar o cativeiro.

Todas as formas de vida sofrem com a limitação de sua mobilidade, de sua liberdade de se desenvolver, da liberdade de se expressarem. É por isso que o Baal HaSulam diz que a humanidade fez esforços tão grandes para atingir a liberdade.

Mas se perguntarmos às pessoas, o que exatamente é a liberdade de  escolha, ou tentarmos pensar por nós mesmos por um momento o que esse termo significa, veremos que de fato não podemos definir claramente o que é a  liberdade:  A liberdade  para  trabalhar?  Para  descansar?  Para  ter  filhos? Para se

 

mover? O que a liberdade significa? Como ela é representada e por que o Baal HaSulam buscou a resposta a essa pergunta?

Ele quer nos mostrar que todas nossas ambições por sermos livres não têm nada a ver com o termo “liberdade”. A liberdade, no seu sentido verdadeiro, é a ausência de qualquer limitação, ou seja, a ausência da morte, de qualquer tipo de fim, ela é a total compreensão, o prazer eterno, onde tudo é perfeito.

Se juntarmos todos estes requisitos, então provavelmente poderemos de alguma maneira chegar a uma situação que pode ser chamada de “liberdade,” ou seja, sem limitações. É por isso que o Rabino Ashlag diz que precisamos primeiro vir a conhecer a situação espiritual que é representada pela palavra “liberdade”, e apenas depois decidirmos se devemos, ou não, nos achegar a ela, e quais esforços  e sacrifícios estamos dispostos a fazer por ela.

Se examinarmos uma pessoa, perceberemos que realiza suas ações cotidianas como um dever. Ela não possui escolha com relação a elas, porque tanto nossa natureza interna quanto a externa nos afetam através de duas forças: o prazer e a dor. Qualquer um que sinta este impacto sobre ele – plantas, animais, pessoas – se sente negado da liberdade de escolha, porque não pode escolher a dor ou rejeitar o prazer de jeito nenhum. Assim, a essência de nossa natureza é desejo por prazer. É por isso que se fizermos uma escolha, ela sempre objetivará atingir o máximo de prazer com o mínimo de esforço.

Suponhamos que realmente não queira ir trabalhar de manhã, chego em casa cansado à noite, mas, pelo menos, sei que assim posso sustentar minha família. Faço um cálculo simples, que tenho de sofrer o dia inteiro para sobreviver e o fato é que substituo a minha dor – meus esforços – pelo que preciso para sobreviver.

O Rabino Ashlag escreve que a única diferença entre homem e animal é que o homem pode olhar para o “futuro”, fazer uma análise prévia dos eventos futuros. Por esta razão, o homem é capaz de aceitar mais sofrimento se vê algum lucro futuro em compensação por seu sofrimento atual.

Os animais, crianças pequeninas, e pessoas pouco desenvolvidas não são capazes de fazer seus cálculos a partir da antecipação do futuro, eles carecem da sensação do futuro, e assim, agem apenas baseados no ganho momentâneo.

Mas em todo caso, todo corpo que existe em nosso mundo faz esse cálculo, porque sente sua vida como uma série de prazeres que são  recebidos ou dores  que se vão, e vive apenas pelo cálculo da dor e do prazer e não possui um plano  de conduta determinado.

Cada um de nós tem seu próprio caráter, atributos de nascença, valores e conceitos que adquirimos durante a vida, nossa educação e nossos sentidos, pressão social, individualidade, etc.

Isso cria um sistema em nós, um mecanismo através do qual agimos e calculamos.

Portanto, porque todos nossos atributos são predefinidos de dentro, e todas as circunstâncias são predefinidas de fora, verifica-se que o homem não possui liberdade de escolha. Nós então não podemos afirmar que o homem possui a habilidade de fazer qualquer escolha livre, livre da influência de dados internos  ou externos que foram predefinidos e predeterminados.

O Baal HaSulam afirma que nem mesmo entende por que a humanidade não tentou se concentrar nesse problema até agora. Deve ser porque a humanidade é incapaz de lidar, de resolver o problema. Se os religiosos crêem que existe um Criador que criou tudo e que estamos todos sob Seu controle, que tudo acontece sob Sua direção, e que realizam tudo contra si mesmos, ou mesmo, a partir da liberdade de escolha deles próprios, então podem justificar sua  existência.

Mas se nos referirmos ao público não-religioso, é bastante difícil discutir o significado de nossas vidas. Porque se uma pessoa está realmente cônscia de que todas as suas ações são predeterminadas e que tudo está nas mãos da natureza, tanto interna quanto externa, então todo o sentido de sua vida está perdido. Nesse caso, ela não é nada além de algo que existe em algum lugar entre a natureza interna e a externa.

Para que entendamos isso, precisamos entender que toda nossa natureza está focada em um só desejo – o de obter prazer. Esse desejo por prazer é criado pelo Criador: “existência a partir da ausência”. É criado porque o Criador quer nos dar prazer, porque Sua natureza é de absoluta perfeição, Sua natureza O compele  a doar e para isso Ele teve de criar o homem, o desejo de receber prazer.

O prazer que o Criador quer dar às criaturas é determinado por um só atributo – a perfeição, ou seja, o estado do Criador. É precisamente isso que Ele tenta passar para nós. O Criador é perfeito e singular. Além desse estado, não há nada completo. A partir dessa perfeição, Ele deseja dotar a criação com essa perfeição, é a única coisa que Ele pode doar – Sua perfeição. É por isso que o propósito da criação é chegar ao estado espiritual perfeito do Criador.

Para que a criação seja capaz de alcançar um estado espiritual perfeito como esse do Criador, o Criador criou a criação e a permitiu “interpretar” Sua situação,  a situação de perfeição. Essa reação é chamada de “desejo por prazer”. A habilidade de perceber um nível espiritual completo, ou menos que completo, é a própria essência de nossa natureza, na qual o nível espiritual do Criador significa perfeição total e a ausência completa da sensação do Criador significa o nível de imperfeição completa.

Gostemos disso ou não, aspiramos por uma coisa só – por sentir o Criador, ou como é denominado na Cabalá: por sentir a luz. Naturalmente, nosso objetivo é chegar ao nível do Criador, se unir com Ele, receber Seus atributos. Após a correção, temos de estar no mesmo nível espiritual que o Criador. É impossível que existam dois estados de perfeição que se assemelhem um ao outro. Existe apenas uma perfeição, e por definição, ela inclui tudo, e portanto não há nada que possa ser como ela.

Assim, podemos apenas reagir à presença ou ausência de prazer. Junto com a sensação de perfeição, a sensação de prazer, ou a falta dela, surge uma nova ferramenta: a mente. Essa ferramenta nos ajuda a atingir novos estados espirituais (níveis de perfeição que sentimos como prazer) de maneira mais rápida e eficaz.

A mente humana é resultado do desenvolvimento do nosso desejo por prazer. É criada e controlada por nosso desejo, como um equipamento adicional, para buscar e descobrir novas maneiras de obter prazer. Vemos isso na natureza à nossa volta: se a força do desejo por prazer é pequena, a mente também não é desenvolvida. Quanto maior o desejo de doar, mais desenvolvida é a mente.

A humanidade está se desenvolvendo não porque quer ser mais inteligente, mas porque quer prazeres maiores. A busca por prazer estimula a humanidade a desenvolver a mente, a ciência e tudo mais. Dizem que “o amor e a fome governam o mundo”. Isso significa que nossa busca por prazer e o desejo de evitar a dor controlam todos nossos movimentos e, de fato, o mundo. Nossa mente se desenvolve de acordo com a medida de nossa dependência do desejo de receber prazer.

Nosso desenvolvimento depende diretamente da nossa sensação de dor. Quanto mais uma pessoa sofre, mais ela deseja obter, mais ela sente a necessidade de obter habilidades intelectuais superiores, e mais nossa mente se desenvolve.

O oposto também é verdade. É possível que uma pessoa possua fantásticas habilidades analíticas e intelectuais inatas, mas se obter tudo na vida sem nenhum esforço, sua mente não se desenvolverá, mas regredirá. É por isso que não vale a pena invejar pessoas ricas que vivem completamente como animais, porque essa sociedade está em declínio espiritual. A história de nosso povo prova constantemente a eficiência da busca constante por uma maneira de existir sob condições impossíveis.

Assim, o pensar é apenas uma função adicional, e se desenvolve como um processo paralelo, para nos ajudar a obter prazer. Nossa natureza básica é apenas  a busca por prazer, que, de fato, definimos dentro de nós de maneira inconsciente como a percepção da perfeição do Criador.

Para entendermos exatamente como essa ambição se desenvolve em nós, para que sejamos capazes de atingir o nível espiritual da perfeição, o Rabino Ashlag divide os fenômenos de nosso mundo, espiritual e físico, em quatro elementos distintos que afetam nosso desenvolvimento. O primeiro elemento – a “base” – é o fundamento, o genoma do homem.

O segundo elemento – as leis pelas quais nossa essência, a base, se desenvolve. Existem dados predefinidos em nossa essência. Por exemplo: quando colocamos uma semente no solo, sabemos exatamente através de quais leis ela se desenvolverá. As leis e a essência do desenvolvimento determinam seu resultado final, desde que seja afetada apenas por elementos internos.

Contudo, o Baal HaSulam afirma que existem também dois elementos externos da evolução. Existem condições externas que me afetam, que determinam como tenho de me corrigir de acordo com essas condições externas. Assim, além  de mim mesmo (ou seja, minha essência, que é o primeiro elemento), e além de meu plano interno (o segundo elemento), também existe um elemento externo que influencia o programa interno.

Esse elemento externo, que afeta meu plano de desenvolvimento interno, opera por suas próprias leis de desenvolvimento, as leis de desenvolvimento da sociedade, da natureza e do universo. Todas estas leis me afetam também, ou seja, existem elementos internos que não mudam, que são predefinidos, e também existe um terceiro elemento em mim, que muda sob a influência do ambiente externo, e existe um ambiente externo que muda de acordo com suas próprias leis de desenvolvimento predefinidas, e assim isso me afeta também.

Não posso mudar meus elementos internos e externos predefinidos. Sou também incapaz de mudar condições externas que mudam de acordo com suas próprias leis de evolução, que não posso sequer compreender. Posso apenas influenciar essa força externa que afeta minha parte interna. Mas, a Torah diz que através disso posso corrigir a mim mesmo, controlar a mim mesmo e  as percepções de meu mundo.Através de minha interação com meu ambiente, controlarei o caminho do progresso espiritual.

Nota-se que existe uma determinada maneira através da qual posso fazer diferença. Isso significa que não sou um robô, agindo por parâmetros predefinidos, eu tenho a liberdade de escolher! E quando posso influenciar aquele elemento, posso, de fato, mudar tudo, exceto os parâmetros fixados da  alma. Então, o que fica comigo? O meu caminho fica comigo, tudo que deve me acontecer no curso de minha vida!

O primeiro elemento, aquele que determina o nível espiritual do homem, a base, é nossa substância básica que recebemos do Criador. O Criador criou-a: “existência a partir da ausência”. Essa substância primitiva é predeterminada e predefinida para nós e dentro de nós.

Nossa essência é como uma semente. Contudo, não estamos no nível das plantas, mas acima dele. É por isso que podemos examinar e estudar o ciclo de vida da semente e controla-lo: nós a semeamos, e ela começa a se tornar uma nova vida, ou apodrece e morre.

Somos, no entanto, incapazes de analisar nosso próprio ciclo de vida da mesma maneira, porque ele resulta do mesmo nível espiritual em que estamos. Apenas se conseguirmos transcender o nível de nosso mundo, rumo a um nível mais elevado, ao mundo espiritual, seremos capazes de ver o que acontece  conosco em seguida, em nossas encarnações futuras.

Quando a semente apodrece, e nada de material sobra dela, quando se torna terra, ou seja, inanimada, apenas então a nova forma de vida começa a se desenvolver. A forma anterior neste meio tempo desaparece completamente, e tudo que resta é o espírito – a força que gera o início de uma nova vida.

Se estivéssemos no mesmo nível que essa semente seríamos incapazes de avaliar e analisar aquele ciclo de vida e as mudanças pelas quais passa. A semente morre, se deteriora completamente e desaparece, em comparação à sua vida anterior… e então começa a crescer novamente. Quando a nova semente cresce, todos os atributos fundamentais da vida anterior permanecem na nova vida, por mais que nada de físico tenha restado. Tudo apodrece, mas a partir da força espiritual que permaneceu, da alma, emerge um novo embrião. Assim começa um novo ciclo de vida.

Mas, o que é isso que resta do estado anterior e passa para o próximo? O que acontece com a semente é muito parecido com o que acontece conosco, com nosso corpo físico. Nosso corpo apodrece, obtemos um novo, e a alma, nosso potencial espiritual, permanece na semente como os genes, a força da informação, e passa do estado anterior, do antigo corpo para o novo, através da extirpação física.

Há uma amputação física: o antigo corpo morre e apodrece, um novo corpo nasce a partir do antigo, e da semente que se deteriorou há agora uma nova semente. Por que podemos ver a transição de uma vida passada para uma nova vida na semente, mas não podemos identifica-la em nós mesmos? É porque estamos observando o ciclo de vida de dentro de nosso mundo, enquanto estamos no mesmo nível em que o processo está ocorrendo.

Nossas almas passam por um processo um pouco diferente. Porque a alma não é animal, ela não segue de mãos dadas com o corpo, mas constitui uma parte do Criador acima. A alma não é um produto deste mundo, enquanto que a semente não possui nada além de uma série de dados genéticos fixados.

Uma alma que vem do Criador é chamada de “tela”, ou “luz refletida”. É uma parte do Criador, atributos espirituais que não possuem raízes nem paralelos em nosso mundo, porque são totalmente altruístas. E apesar de até agora sermos incapazes de sentir esses atributos dentro de nós, é apenas através deles que brilha a luz tênue que nos dá o espírito de vida.

É por isso que, logo que a alma é separada do corpo, ela se move para um corpo diferente. Não é necessário esperar o corpo físico desaparecer, para que a

 

alma adentre outro corpo. Um corpo que é solto da alma, perde todo o contato  com ela. Apesar de todas as religiões e crenças atribuírem singularidade e sublimidade ao corpo físico, o Rabino Yehuda Ashlag disse de maneira muito simples: “Não poderia me importar menos com onde o meu saco de ossos será enterrado”.

Lembro-me como meu rabino, quando lhe perguntaram onde queria que enterrasse sua última esposa, respondeu de maneira simples: “O que importa? No cemitério mais próximo”. A propósito, como seu pai, ele não se preocupou de jeito nenhum com um local de enterro “respeitável” para si mesmo.

Forças espirituais que vão de uma parte anterior para uma posterior no  ciclo são chamadas de “base”, o banco de dados espiritual, a essência. Se ela era uma semente de trigo permanecerá uma semente de trigo. Se ela era uma determinada alma, permanecerá aquela alma, mas em outro corpo.

Em qual corpo a alma virá? No mais apropriado para o plano gravado naquela alma. Os atributos internos da alma, sua estrutura e seu caminho para correção determinam os atributos do corpo físico no qual ela virá.

Conforme o que foi dito acima, podemos descobrir que as diferenças em atributos, caráter, necessidades e aspirações, que os desejos que as pessoas obtêm de nascença, são todos determinados pelos atributos internos da alma, pela necessidade de realizar o plano para o qual desceu a este mundo.

É por isso que existem pessoas deficientes no mundo, ou pessoas  com danos cerebrais, problemas psiquiátricos e outros defeitos de nascença. Tudo é determinado pelos atributos da alma, seus parâmetros preliminares. Nós, que não podemos ver e entender o contexto geral da encarnação, não podemos compreender e, é claro, não podemos justificar esses casos de providência.

Para justificar as ações do Criador, o homem precisa ver e entender o quadro geral do universo. De outra maneira, ele é compelido a encontrar falhas mais ou menos severas na providência. É por isso que apenas um Cabalista, que pode perceber este contexto geral, merece ser chamado de justo – aquele que considera que os atos do Criador são justos (corretos).

Mas, para a pessoa fazer um uso adequado de seus parâmetros inicias da “base”, ela precisa ser hábil – no mínimo – no campo espiritual no qual espera-se que seja ativa. É por isso que a pessoa pode realizar ações espirituais na medida  em que avança na espiritualidade e ascende ao mundo superior. O homem pode começar a “substituir” o Criador na condução do mundo apenas na medida em que sua tela, a aceitação dos atributos do Criador, o permite. Essa é a essência da sabedoria da Cabalá.

Resumindo: o primeiro elemento em nosso desenvolvimento é a “base”,  que é nossa essência. O segundo elemento é o desenvolvimento funcional da base. Nossa mente precisa se desenvolver de uma determinada maneira, passar por certas    fases    de    progresso    espiritual.    Cada    semente,    cada    objeto    em desenvolvimento passa por suas próprias fases exclusivas.

Se for uma planta diferente, milho, por exemplo, se desenvolverá por leis diferentes, num ritmo diferente, com qualidades diferentes e em quantidades diferentes. Isso significa que não é apenas a essência que permanece, mas também as leis de desenvolvimento que são transferidas da semente apodrecida para o novo germe. Esse é o segundo elemento que determina de que maneira o novo germe crescerá, se será um só germe, ou uma porção, ainda que do mesmo tipo e forma, obedecendo a leis de desenvolvimento bem definidas e predeterminadas (o primeiro elemento).

Uma das características singulares da manipulação do desenvolvimento de nossa essência, é que durante a transição de uma vida para a próxima existe uma amputação, o desaparecimento do corpo físico. Isso permite mudanças nítidas nos atributos da nova entidade a assumir o lugar na nova vida. Essas mudanças são feitas possíveis porque há separação física completa entre a vida anterior e a atual.

O Baal HaSulam diz que existem apenas quatro elementos que determinam o estado da criação em cada estágio do desenvolvimento espiritual. Esses elementos dão forma à essência da criação em todos os níveis da natureza, no nosso mundo, como também no espiritual. Somos apenas um produto, uma conseqüência do efeito desses quatro elementos.

Aprendemos tudo isso para sabermos se podemos de alguma maneira  afetar no mínimo um, se não vários dos elementos em alguma proporção, e qual é a maneira mais eficaz de fazer isso.

O terceiro elemento, como dissemos, muda sob a influência de condições externas. O que significa que podem existir condições externas tais que mudarão a direção do desenvolvimento para melhor ou para pior. A evolução continuará, é inevitável. Mas o tipo do desenvolvimento pode variar de maneira significativa graças à influência de condições externas.

Suponhamos que temos alguns pedaços de terra, e plantamos um tipo de grão em cada um deles, e criamos condições climáticas diferentes para cada um deles. Bloqueamos a luz do sol em um canteiro, deixamos o outro sem água, deixamos as ervas daninhas no outro, etc. Veremos o quanto elementos externos tais como o sol, a água, a temperatura e as ervas daninhas afetam o desenvolvimento da planta.

Embora o plano interno de desenvolvimento seja dado adiantadamente, sua realização é influenciada por condições externas. Assim, chegamos à conclusão, como veremos depois, que se uma pessoa encontra um ambiente ideal, um que dá suporte ao seu desenvolvimento espiritual, ela pode concretizar seus atributos inatos de maneira mais eficiente, ou seja, utilizar seus primeiro e segundo elementos ao máximo.

Uma pessoa pode nascer com atributos que são bastante “prejudiciais” ao desenvolvimento espiritual positivo, tais como: fraqueza física, mental, psíquica ou espiritual. Assim como a semente, ela será sujeita às influências de tais fatores externos positivos que mudarão sua situação radicalmente e trarão resultados surpreendentes, sem nenhuma conexão aparente com os atributos naturais.

Talvez aquela pessoa não obteve uma chance de desenvolver-se espiritualmente, ao julgar por seus atributos naturais, mas no final ela poderá atingir um desenvolvimento espiritual tremendo sob a influência da sociedade, e às vezes é difícil de acreditar nas mudanças pelas quais ela passou. Tudo isso é porque ela está no lugar certo na hora certa, numa sociedade que ajuda e  incentiva.

Você pode ver isso de maneira clara no grão. Isso significa que nosso problema é qual resultado final queremos obter da semente. Criamos toda uma ciência para cultivar as melhores safras possíveis na terra, porque sentimos que precisamos disso para nossa existência. Estamos bastante cônscios dos resultados desejáveis, sabemos pelo que aspirar e onde devemos chegar no final.

Conhecemos o objetivo final da semente e construímos toda a cadeia de desenvolvimento: planejamos um processo de desenvolvimento curto e intensivo, que deve nos prover com uma determinada quantia de carboidratos, proteínas e gordura em cada semente, para traze-la a uma determinada cor e tamanho, etc.

Por sabermos como a semente se desenvolve, como se desenvolveria sob quais condições, podemos criar as mais amigáveis condições para a semente. Se superaquecermos a semente, ela será queimada; se dermos a ela muita água, ela apodrecerá. Tenho de saber exatamente que parâmetro são necessários para o crescimento de cada grão. Quando sei de tudo isso, sei o que estou tentando obter e consigo atingir os resultados desejáveis.

Isso significa que não é suficiente entender nossos atributos. Podemos influenciar nossos próprios atributos ao criar diferentes condições externas. O problema é que para isso temos de ser peritos em nossa natureza. Temos de entender o produto final do homem e o resultado ao qual precisamos chegar.

Se resolvermos esse problema com o resultado ideal, isso significa que atingimos um nível espiritual de perfeição. Somos em essência, um desejo de receber prazer. O prazer para nós é a percepção da luz, o Criador, ou seja, a percepção da perfeição. Vemos o Criador como a forma final de prazer.

Como posso evoluir ao nível espiritual de perceber o Criador? Tenho de estar unido, conectado de maneira firme com o Criador todo o tempo. Então, sempre estarei no nível espiritual da percepção do Criador.

Mas, o que significa estar sempre com o Criador, num lugar onde não há morte, nem imperfeição? Como podemos obter isso?

A sabedoria da Cabalá explica para nós que, no que se refere ao mundo espiritual, se aproximar de algo significa aceitar seus atributos. Não posso me aproximar do Criador ao diminuir a distância física em nosso mundo. Tenho de compensar a disparidade espiritual entre nós. O Criador não está escondido de mim. Simplesmente, isso é assim porque graças à falta de equivalência em nossos atributos estou distante do Criador no mundo espiritual, e simplesmente  não posso senti-Lo.

Hoje, me dizem que meus atributos espirituais são completamente opostos àqueles do Criador, e esse é o porquê de não poder senti-Lo. Começar a sentir o Criador é adentrar o mundo espiritual, o mundo superior. O ingresso no mundo espiritual significa compreensão, percepção espiritual. Mas para começar a sentir, o objetivo é receber os atributos do Criador para que eles estejam dentro de mim.

Após isso, através de mudanças espirituais, gradualmente serei capaz de atingir um nível espiritual no qual me uno completamente com o Criador, ocupo Seu lugar. Para isso acontecer, preciso adotar completamente todos Seus atributos. Então serei capaz de obter compreensão e revelação eternas, prazer infinito. Posso chegar conscientemente a um nível espiritual desses?

Obviamente, devo criar um certo ambiente à minha volta, que me afetaria de uma tal maneira que serei capaz de receber os atributos do Criador. Nesse caso, começaria a me aproximar Dele gradualmente. Mas, onde encontrarei tais ambientes que dão apoio, e como saberei onde e se existe tal ambiente?

Se começar a procurar por todo o mundo, encontrarei um lugar assim? As pessoas têm procurado por todo o mundo por milhares de anos… e até agora nenhuma delas tem qualquer sinal dele. Milhares de anos e mesmo assim nenhuma resposta. Centenas de livros foram escritos, as mais estranhas filosofias foram inventadas, mas existem tão poucas pessoas felizes sobre a Terra, e uma sociedade assim provavelmente não existe. Então, o que podemos fazer para sermos capazes de influenciar nossos atributos e de impulsionarmos a nós mesmos, rumo à proximidade espiritual com o Criador, à perfeição?

O Criador não criou uma terra especial, uma ilha, ou qualquer lugar especial no qual todo aquele que quiser ser corrigido e atingir a perfeição pode vir e adentrar aquele ambiente singular, que iria guia-lo e mostrar a ele o que tem de fazer em cada passo do caminho, para que adote os atributos do Criador, e deste modo, ajude-o a ser corrigido, mude-o interiormente.

O Criador não criou esse elemento que afetaria a natureza do homem abertamente. Não existe um lugar assim sobre a Terra, que possui essas condições. Ao invés, o Criador criou algo completamente diferente: Ele nos deu a Torah.

Atualmente, se uma pessoa deseja começar a mudar seu terceiro elemento, sob a influência do elemento externo, ela pode fazê-lo porque possui os livros. Se ela estuda pelo livro, com uma intenção honesta, com um desejo genuíno de ser corrigida, esse livro começará a corrigi-la.

Como ele fará isso? A luz circundante começará a brilhar de fora sobre o homem. Essa luz circundante é o já mencionado ambiente externo que a pessoa pode criar em volta de si mesma, para que ele afete seu terceiro elemento, e finalmente todo seu desenvolvimento espiritual, para que a  semente  não apodreça, mas desenvolva-se belamente e atinja a maturação, a maturidade e um nível espiritual de perfeição.

A sabedoria da Cabalá afirma que existem vários livros com os quais podemos criar um ambiente favorável, ou seja, extrair a luz circundante para nos corrigir e desenvolver espiritualmente. Para isso, precisamos aumentar a intensidade da luz circundante, para que ela afete o homem com mais força.

É dito (Introdução ao Talmud Esser Sefirot, item 155) que podemos atrair  essa luz circundante apenas com a ajuda do estudo de livros autênticos de Cabalá, porque é exatamente neles que há uma luz mais poderosa do que em qualquer outro livro da Torah.

Os Cabalistas também nos dizem que o importante não é tentar e entender  o significado dos textos em si, mas o desejo da pessoa de ser corrigida, e que essa seja a razão por que ela lê esses livros. O mais importante é a necessidade da alma de expandir as forças espirituais. Desta maneira a pessoa será capaz de criar em torno dela o ambiente mais incentivador, isto é, a luz circundante.

Essa luz circundante brilha sobre o homem na medida em que ele queira atrai-la para si mesmo. Se uma pessoa não aspira pela luz, ou seja, se ela não tem a intenção de ser corrigida, de receber os atributos espirituais do Criador, a luz não chegará a ela. Cada pessoa possui uma certa quantidade de luz que deve atrair para dentro de sua alma. Neste meio tempo, essa luz permanece do lado de fora da alma e espera por uma chance de entrar. É por isso que é chamada de luz circundante.

Você pode incitar essa luz circundante, esse ambiente, estar nele, mas apenas tanto quanto você sente que precisa dele. Para isso a pessoa precisa aspirar pelo mundo espiritual. É possível receber a aspiração espiritual ao estudar em grupo. O homem encontra-se sob a influência da sociedade por natureza. Você estuda em um grupo e começa a sentir o efeito dos outros sobre você. Eles dão a você a sensação de importância, e você recebe uma ambição mais forte pelo mundo espiritual.

Se o seu desejo espiritual não é forte, mas consistente, o grupo dá a você a chance de estar próximo àquele desejo, conserva-lo e até intensifica-lo, ou seja, exigir mais ajuda espiritual do Criador.

Dessa maneira, através da correção adequada, guiado pelo líder do grupo, você recebe a intenção adequada, e começa a atrair a luz circundante, enquanto fica em um grupo incentivador que pode ajudar você a se desenvolver espiritualmente da maneira mais eficiente, assim como uma semente que desfruta de condições de cultivo ideais.

É como se você viesse de um pedaço de terra escasso para um bom, com  sol, água e ar, e nada de ervas daninhas. Se a pessoa fizer esta passagem, ela atingirá o objetivo – como é dito na Introdução ao Talmud Esser Sefirot – dentro de três a cinco anos, e começará a sentir o Criador, receberá Seus atributos, cruzará a barreira e subirá ao primeiro nível de adesão.

Depois ela subirá ao próximo nível, e assim por diante. No todo, existem 620 níveis como esses, 613 mitzvot e sete mitzvot a mais “de nossos rabinos (derabanan)” – 620 níveis durante os quais a pessoa corrige 620 desejos em si mesma. Cada nível é um determinado desejo. Em suma, podemos dizer  que somos capazes de corrigir nossos desejos apenas sob influência externa. É por isso que a essência de nosso objetivo é escolher e determinar nosso ambiente de vida adequado.

Além disso, existe o quarto elemento. O quarto elemento é: as condições externas do elemento que nos afeta. Por isso, elas também podem mudar, e geralmente de maneira drástica. Por exemplo, pode ocorrer uma seca, ou muita chuva, e o que foi plantado morrerá.

Não estou livre para discutir a implicação desse elemento neste foro,  porque estamos conversando sobre situações que estão neste meio tempo além de nossos entendimento e julgamento, e não podemos influenciar essas condições. Ao menos hoje, não podemos controlar e dirigir esse elemento em nosso estado espiritual presente. Mas, ao menos devemos dar um exemplo sobre tais circunstâncias, um exemplo do efeito do quarto elemento, porque esse também tem seu peso natural e objetivo no curso de nosso desenvolvimento espiritual.

O Talmud nos dá um exemplo: Em uma pequena cidade vivera outrora um homem muito sábio. Havia muitos outros homens sábios naquela cidade, e a presença deles criou um ambiente único: havia a sensação de que muitos homens sábios viviam naquela cidade. Um dia, um homem rico de uma cidade próxima chegou à cidade. Ele aproximou-se do homem sábio, que também era pobre e disse: “Construirei uma yeshiva (uma escola para o aprendizado de Torah) para você em nossa cidade, você terá muitos alunos, pagarei todas as despesas, tomarei todos os problemas para mim e você se tornará um grande rabbi (mestre). Qualquer um que quiser virá e estudará com você, e até eu começarei a estudar sob sua orientação.” Mas, o homem sábio recusou a oferta. Ele explicou: “Isto, é uma antiga história de dois mil anos”, ele disse. “A questão é que se eu me mudar para um novo lugar, sairei da influência do ambiente em que estou agora, onde  me desenvolvi, e graças ao qual me tornei sábio. Lá, estarei sujeito à influência da sociedade de sua cidade, da qual você é o exemplo mais notável. Sua sociedade  me afetará, e o resultado é que apesar de ser sábio hoje e não precisar aprender de ninguém, pois atingi a sabedoria por mim mesmo, eu ainda serei afetado.  Portanto, mesmo que eu seja completo e tenha atingido um grande conhecimento, estar perto de você e de pessoas como você irá finalmente fazer com que eu perca meu nível e desça ao seu nível espiritual. Perderei meus desejos e me tornarei como você.”

É um exemplo bastante claro; não existem mistérios aqui, e é precisamente dessa maneira na realidade: a pessoa pode deteriorar-se inconscientemente na espiritualidade sob o impacto negativo da sociedade, e muito rápido, na verdade. Além do mais, em todo o decurso, ela justificará a si mesma e à sociedade. É isso que acontece numa sociedade materialista. Em um ambiente espiritual, sob a influência dos livros, do grupo, estas situações afetam o homem com velocidade e forças tremendas, e ele imediatamente começa a mudar.

É por isso que qualquer um que queira provar a sabedoria da Cabalá na ponta de sua língua, entender o Criador, mesmo que apenas um pouco, precisa estar completamente separado de seu atual ambiente, remover dele todos os elementos que possam influenciar negativamente seu desenvolvimento espiritual: livros irrelevantes que tratam de outros métodos espirituais, diversos tipos de filosofias, grupos que praticam diversos tipos de misticismo, etc.

Resumindo, uma pessoa séria precisa estar cônscia de quais elementos a afetam, e a seu desenvolvimento em qualquer dado momento. Colegas no trabalho, com os quais ela conversa sobre assuntos gerais, não podem influenciar significativamente o curso de sua vida.

O Rabino Yehuda Ashlag escreve em uma carta que a carruagem do  Criador passa por uma estrada bem estreita: a pessoa precisa examinar suas ações e pensamentos constantemente: estão na direção correta? Ela precisa corrigi-los em cada passo do caminho, ou seja, em cada novo pensamento que vem a ela. Contudo, se a pessoa estiver sob a influência da sociedade errada, naturalmente, ela não será capaz de fazer isso.

Inquietações variadas e a influência negativa dos outros diminuem a velocidade do progresso espiritual; detêm, impedem, desviam, corrompem e alteram a direção do desenvolvimento do homem. Mas se uma pessoa que estuda Cabalá observa outros métodos de aparente desenvolvimento espiritual, ela se desencaminha por completo, porque não está apenas sob a influência de um determinado método místico, mas está sob uma combinação da Cabalá com algum outro método. Essa combinação pode ser bastante perigosa, pois traz resultados imprevisíveis.

É impossível viver em diversos ambientes de uma só vez. Isso pode influenciar a pessoa de uma maneira imprevisível, e sempre bastante negativa. Você pode assistir comédias, rir, ouvir as notícias, mas você jamais deve engolir idéias que podem desvia-lo do caminho certo.

Como você pode ver, a escolha do ambiente determina o futuro do homem, independente do nível espiritual em que esteja. Mesmo o maior sábio sabe como  se guardar de outras influências – ele jamais irá, sob nenhuma condição, se colocar em uma sociedade que o afeta de maneira negativa, não tomará parte na vida de uma sociedade assim, porque sabe que não pode resistir à sua influência.

É por isso que qualquer um que começa a estudar conosco precisa estar ciente e entender que, para atingir um resultado positivo a partir do estudo da sabedoria da Cabalá, ele precisará tomar uma parte ativa na vida do nosso grupo. Vir e participar nas aulas, mas não na vida social, é, de fato, uma maneira muito ineficiente.

O mesmo se aplica para aqueles que estudam através da Internet. Apesar   de estarem bem distantes de nós, devido às circunstâncias que estão além do controle deles, você pode dizer pelos esforços espirituais que fazem que é apenas a falta de contato físico com o grupo que os detêm de avançar no ritmo desejado ao mundo superior.

Do nosso lado, o website abrangente que estabelecemos, a publicação de livros, as aulas, os artigos jornalísticos, tudo isso é feito para criar o novo ambiente em nosso mundo, que afetaria o mundo com suas idéias espirituais.

Tudo que fazemos, é feito de um jeito prático, para que possamos finalmente criar uma sociedade grande e homogênea de pequenos grupos e indivíduos, com os mesmos valores e idéias espirituais, e juntos podemos influenciar o ambiente espiritual do mundo.

A despeito disso, a influência do grupo permanece o fator decisivo. Vemos, a partir da experiência com estudantes do mundo todo, que se uma pessoa está a uma longa distância de seu núcleo espiritual, se estuda Cabalá por si própria sem  o auxílio do grupo, não tem, de fato, nenhuma chance de se desenvolver corretamente no sentido espiritual.

Realizo palestras em Israel, nos Estados Unidos, Canadá e Europa, pelo rádio, pela televisão e em universidades, e vejo essas pessoas. Quando chego lá, estão dispostas a estudar todo dia, mas, depois que vou embora, elas esquecem. O corpo não quer sofrer, e sabendo que não há progresso, ele subjuga o desejo pela espiritualidade e prefere esquecer o propósito da vida e abandona-lo. Quando as deixo, já sei que o ambiente que as circunda imediatamente as puxará de volta, à satisfação de suas necessidades terrestres.

Portanto, qualquer um que seriamente considere o progresso espiritual, precisa encontrar um ambiente para si, construir um grupo, porque este é o único jeito dele poder trabalhar em si mesmo, em seu desenvolvimento espiritual. Tudo que a pessoa investe no grupo ela recebe de volta. Quanto mais ela doa, mais o grupo a afeta. Não importa quão grande o grupo seja, ou qual sua qualidade espiritual. O tamanho e a qualidade de um grupo são termos objetivos, mas o que a pessoa pode obter deles depende inteiramente de sua atitude subjetiva com relação a eles.

O efeito da sociedade e do grupo também é destinado às fases de descidas. Se a pessoa cai, ele pode levanta-la várias vezes, e através disso, encurtar o tempo de transição entre os níveis, especialmente durante momentos difíceis.

A sociedade ajuda a pessoa a lidar com as situações mais difíceis, porque o poder de sua influência sobre o estado espiritual de uma pessoa é imenso. É como estar em um ambiente ideal de desenvolvimento, onde há a quantidade correta de todas as coisas: sol, água, fertilizantes; e tudo começa a crescer muito mais rápido.

É por isso que não devemos nos preocupar com nada além do estar no ambiente correto. Dos quatro elementos que influenciam a pessoa, o Rabino Yehuda Ashlag salienta apenas um elemento que a pessoa pode influenciar para corrigir a si mesma para chegar ao propósito da criação.

Isso significa que não nos é permitido nem pensar em quaisquer outros fatores. Não devemos pensar que por causa de nosso estado preliminar não estamos preparados para a unificação com o Criador, que estamos em condições erradas, afetados por circunstâncias externas que não podemos controlar. Existe apenas uma coisa que posso controlar, e essa é a única coisa que posso e devo fazer – criar o ambiente correto.

Você diz: existem vários caminhos para o Criador, e um caminho não deveria interferir como o outro. Isso é verdade (até existe uma frase na Torah que diz: “Existem vários caminhos para o Criador”). Mas isso significa que cada alma possui suas próprias situações individuais, um caminho exclusivo para se aproximar do Criador. Mas aquilo que traz a pessoa para o Criador, o efeito do grupo, isso nunca muda.

ALGUMAS REFLEXÕES

Do livro “O Livro Aberto”

Até hoje, a forma de sociedade mais correta, com certeza foi o grupo de estudantes, do qual os membros estavam unidos por um desejo singular de obedecer a seu líder – o sábio, o rabino. Essa aspiração originava-se de um reconhecimento absoluto da retidão do rabino, e não do seu carisma – de suas conexões especiais com o Criador, ou do temor de Seus oficiais e exércitos.

Toda a história religiosa da humanidade testifica a inabilidade do homem de guardar, ou de exigir que os outros guardem os dez mandamentos, ou até de esperar que alguma vez eles serão guardados, sem saber de quem os recebemos. Apenas a revelação e a compreensão do Criador podem dar-nos o poder para guardarmos os mandamentos, e apenas na medida em que a pessoa entende o poder, a singularidade e a grandeza do Criador.

Os níveis em nossa habilidade de guardar os dez mandamentos são, de  fato, os níveis espirituais da revelação do Criador, da compreensão Dele, da ascensão espiritual, os degraus da escada, da escada de Jacó.

De outra maneira, se a sociedade humana quebra a parte essencial da observância dos mandamentos (não os observando através da compreensão do Criador, da revelação Dele pela criação), ela precisa encontrar uma justificativa para guardar os dez mandamentos em sua vida cotidiana, ou seja, a vida em si deve justificar a observância dos mandamentos.

O gerador da criação de leis e códigos da sociedade humana, tanto cíveis quanto criminais, é uma distorção do princípio da observância dos mandamentos. É por isso que apenas na última geração a humanidade será capaz de retornar à observância genuína das leis da natureza, que são perfeitamente compatíveis com nossa natureza e efetuam uma correção genuína.

Nenhuma lei poderá fazer com que as pessoas sigam todos os dez mandamentos em sua forma genuína, e é apenas a revelação do Criador que fará com que todos guardem os dez mandamentos espontaneamente.

O Baal HaSulam chama essa condição (em sua Introdução ao Talmud Esser Sefirot) de observar voluntariamente a palavra do “testemunho” de Deus, ou seja,  o Criador testemunha por meio de Sua manifestação ao homem, como num tribunal, que aquela pessoa não poderá errar mais, porque a revelação do poder e da grandeza do Criador obriga o homem a observar espontaneamente e naturalmente todos os mandamentos do Criador.

A substância da qual somos feitos é o desejo egoísta por prazer, e podemos apenas realizar aquilo que percebemos como benéfico para nós. É por isso que a revelação do Criador cria em nós uma outra decisão: de seguir Seu desejo; porque nos traria apenas o bem. Mas se a pessoa passa pelas fases do reconhecimento de sua natureza pecaminosa, e vê que sem aquela coerção ela vive em constante dor e sofrimento de geração a geração, ela é convencida de que qualquer decisão que vem a ela de cima, por mais difícil que seja, traz no final apenas o bem e é preferível a todas suas buscas e à liberdade fictícia que desfruta hoje.

Depois, desperta no homem uma exigência pelo Criador, para que surja diante dele como testemunha, ou, de fato, como garantia de que o homem apenas tomará o caminho certo de agora em diante e não cometerá mais esses amargos enganos, e assim não sofrerá por seus enganos.

Verifica-se que o desejo, como o entendemos em nossas vidas, em nosso entendimento corpóreo, foi dado a nós apenas para entendermos, logo que tenhamos descoberto toda a beleza fictícia e amarga dessa liberdade, que de fato não somos livres de jeito nenhum, porque seguimos nossos próprios desejos egoístas, o mal em nós, e não podemos nos libertar.

Se nos tornássemos escravos do altruísmo, para que ele nos controle da maneira que o egoísmo nos controla hoje, significando que inconscientemente trocaríamos uma escravidão por outra e o Criador substituiria uma natureza por outra, apesar de querermos exatamente uma passagem dessas, de um dono para outro, nós ainda obteríamos do Criador algo de uma qualidade diferente. Ele cria em nós um mecanismo de três linhas no qual usamos nosso egoísmo de outro  jeito, para a doação, após realizarmos a primeira restrição, uma vez que haja uma completa separação da aspiração por prazer.

Uma pessoa não pode alterar seus próprios desejos por prazer, de receber, de satisfazer suas necessidades materiais, morais e espirituais. Mas, em ser satisfeito para mim mesmo ou para o Criador está a completa diferença entre egoísmo e altruísmo. Antes da pessoa se separar do “para mim”, ela não pode entender que essa intenção foi dada a ela de cima. Não é uma intenção natural, mas algo que acompanha seu desejo por prazer.

E, adicionasse, o Criador, ao desejo de receber dela, a intenção “para Seu nome”, ela também começaria a usar seu desejo de receber prazer com essa nova intenção.

Esse estado de transição de “ter prazer na misericórdia”, no qual a pessoa recebe de cima a força para refrear-se de fazer quaisquer cálculos egoístas produz sua libertação espiritual. Após isso, a pessoa opta por um uso diferente de seu desejo de receber prazer: para o Criador. Se não fosse por esse novo elemento, o estado espiritual de “ter prazer na misericórdia”, o homem não se sentiria livre em seu desejo e intenção “para o Criador”.

Mas, exatamente por chegar a essa situação de “ter prazer na misericórdia”, ele pode escolher suas ações de maneira livre, completamente. E se escolher o altruísmo neste ponto, essa é uma decisão de livre escolha, e não para escapar do sofrimento. Uma pessoa não vende sua liberdade de escolha e sua liberdade de decisão por uma vida indolor, mas escolhe a liberdade voluntária e independentemente.

Cada geração passa para a próxima, a experiência coletiva que humanidade acumulou, além das realizações científicas e culturais. Esta recordação humana passa de geração a geração, da mesma maneira que a energia de uma semente apodrecida passa para o imaturo botão. Existe apenas transferência de memória, energia, e lembrança (reshimot). Toda substância está destinada a apodrecer, assim como o corpo do homem apodrece, e toda a informação passa para a alma que ascende. Então, após sua entrada em novos corpos, ela implementa essa memória acumulada.

Qual a diferença entre a transferência de informação por meio de uma semente, quando um jovem casal tem filhos, e a transferência de informação quando a alma da pessoa falecida se move para um novo corpo? Afinal, os pais ainda estão vivos, e seus filhos também. Então, que almas adentram os corpos dessas crianças pequeninas?

Em todas as gerações e em todos os povos existe um desejo enorme de passar o conhecimento acumulado para as próximas gerações, de passar o melhor, na maior parte, valores morais. As melhores realizações desse desejo não estão no estudo, não na educação, ele é realizado no “inanimado sagrado” (o religioso ortodoxo), à maneira antiga.

A transferência é executada por meio do “pacote espiritual”, e portanto, a melhor coisa que uma pessoa pode fazer para passar boas lembranças para a próxima geração é corrigir a si mesma, melhorar as qualidades de sua alma, certificar que ela deixe seu corpo na forma mais corrigida possível.

Então, vemos que o homem passa sua alma para a próxima geração, e nela ele passa tudo que é necessário, e não passa nada vitalmente importante através  de um sistema externo de valores, ou da educação, de nada que tenha a ver com este mundo. A transferência genuína existe apenas no nível espiritual, não no corpóreo.

Encontramos deformações no entendimento dos termos: humanismo e altruísmo, no cotidiano. Para ser preciso, uma má interpretação das palavras da Bíblia! As leis do Criador são propositadas, voltadas a um objetivo. Elas têm de ser estudadas em estreita relação com o propósito da criação, de outra maneira, elas são mal interpretadas e até contradizem umas às outras.

É por isso que para toda ação que realizamos, a justificação ou a desaprovação dela é apenas possível quando podemos aborda-la em relação ao propósito da criação, ou seja, em relação ao objetivo do Criador que escolhe agir  de uma determinada maneira. De outra forma, jamais seremos capazes de avaliar corretamente qualquer fenômeno do mundo.

Se formos sábios o suficiente para comunicar aos nossos descendentes esse ponto de vista sobre o mundo, sobre as ações deles, não por meio da ética  religiosa, mas criativamente e não por causa do medo da punição, eles estarão cientes da existência do Criador, da natureza, e se desenvolverão mais rápido espiritualmente , e chegarão à compreensão espiritual de que devemos e, de fato, podemos influenciar a providência.

No século XX houve uma divisão entre as sociedades religiosa e secular. Essa divisão começará a se reduzir logo, porque os dois grupos estão começando a chegar ao entendimento do verdadeiro caminho. Esse caminho não é nem  religioso nem secular, é algo no meio, um caminho dourado, o caminho do Criador.

O egoísmo absoluto é expresso em cada nação através do automelhoramento, da elevada auto-estima, do referir-se à minha nação como  uma nação íntegra. Talvez estas imagens percam um pouco do seu poder em determinados períodos, porém mais tarde, a falta de fundamento para a auto- estima exagerada acaba causando agressão, motivada pela ausência de auto- estima.

As pessoas continuam reclamando sobre depressão, sofrimento, tormentos, e de fato, falta de alegria em suas vidas. Posso recomendar, assim como aquele sábio que (quando ouviu sobre a falta de espaço na casa de seu amigo) sugeriu  que deixasse o bode do quintal entrar. Depois de algum tempo ele sugeriu que o bode fosse novamente colocado lá fora.

Recomendo a todos aqueles em depressão: tapem seus olhos e ouvidos. Fiquem assim por alguns minutos até que sintam um forte desejo de ver e ouvir, sofram um pouco mais, e mais um pouquinho, e então removam a venda e os tapa ouvidos e vocês verão quão belo e maravilhoso este mundo é!

Você pode dizer que, basicamente, as teorias de Freud, Marx e Einstein são a  mesma  busca  pelo  Criador,  mas  não  de  maneira  direta,  e  sim  através  das contradições na sociedade, no homem, na ciência. Todos eles procuraram por algo perfeito, ou seja, pelo Criador, mas procuraram abaixo da barreira, em nosso mundo, contudo com o reconhecimento interno de que não existe solução em nosso mundo.

O entendimento e o reconhecimento do poder do Criador não é apenas que Ele é a única razão para tudo, que “Não há nada além Dele”, mas uma aspiração espiritual pelo mundo superior, um desejo de se unir a Ele, sendo que Ele é o único. Porque o entendimento de que o Criador é singular compele o homem a manter sua própria singularidade ao igualar seus atributos aos do Criador, para se unir a Ele.

*          *          *

As diferenças da prática de ioga e outros métodos, em oposição à Cabalá, são que todos os outros métodos e religiões oferecem um método para a performance exterior, física, ou seja, atividades práticas, dietas, costumes, exercícios. Apenas a sabedoria da Cabalá não se ocupa com nenhuma ação exterior, mas toda a prática, do começo ao fim, se concentra na alma do homem, em seus pensamentos, aspirações espirituais, ou seja, uma prática espiritual interior.

Se a pessoa obedece às leis da natureza, e ao mesmo tempo tenta imaginar o Criador, ela sempre vê as diferenças entre si mesma, a egoísta, e o Criador, o altruísta. Essa comparação cria religiões no qual o homem é representado como tendo atributos opostos ao Criador, o desejo de receber, que certamente é oposto aos atributos do Criador, e então o caminho espiritual dele é dedicado à supressão de sua própria natureza e de sua liberdade de escolha.

Apenas aquele que pode imaginar toda a realidade feita apenas do Criador, e não do Criador e da criação, não verá as contradições entre si mesmo e  o Criador. Como resultado, sua abordagem, seu caminho para o Criador não terá como foco a batalha contra seus próprios atributos, mas a igual aceitação dos atributos seus e os do Criador.

Essa pessoa jamais fundamentará sua educação nas ameaças, coerções e limitações; por mais que esse caminho permita resultados visíveis em curto prazo, jamais guiará o homem à correção espiritual genuína. Assim que as condições mudarem, tudo entrará em colapso numa maneira horrível e distorcida.

Apenas uma mudança espiritual que a pessoa realiza voluntariamente, gradualmente, dentro de sua alma, como resultado da influência do grupo, do professor (o Cabalista), do ambiente próximo que ela livremente escolhe para  ficar, fará ela mudar. A influência do grupo é apenas tão eficiente quanto esteja cônscia de que precisa ser corrigida e por isso precisa aceitar o grupo como o fator influenciador máximo. Nessa medida o homem poderá também absorver do grupo a idéia de ascensão espiritual, e nessa medida será capaz de aspirar pelo Criador e acelerar sua ascensão espiritual, do caminho da pessoa comum para aquele dos poucos escolhidos. Para uma pessoa assim não existem limitações, apenas mudanças internas.

OS QUATRO NÍVEIS DE DESENVOLVIMENTO DO DESEJO

Do livro “O Livro Aberto”

 

Prefácio do livro “Panim Meirot Umasbirot”

O Criador criou o desejo. Ele não criou nada além do desejo de receber. Na terminologia da Cabalá ele é chamado de “desejo de receber”, que significa  receber prazer.

Portanto, tudo o que existe é o Criador e o desejo de receber o prazer que Ele criou. Mas, de receber que prazer? O Próprio Criador? A sensação do Criador nas criações é sinônima à sensação de prazer. A Cabalá chama esse prazer de “luz”, o desejo de receber é chamado de “vaso”. Assim, existe o Criador e a criatura, o desejo de receber e o prazer, a luz e o vaso.

A aspiração espiritual de receber a luz em nosso mundo pode ser dividida em quatro níveis: inanimado, vegetativo, animal e falante (homem). A intensidade e a situação do desejo de receber a luz muda de um nível para o outro.

A força inferior está no nível inanimado. O desejo é tão pequeno naquele nível que nenhum movimento é iniciado. A criação entretanto sente algo mesmo neste nível, porque se ela foi criada então há um desejo de receber nela, mas ele não é expresso de maneira alguma porque a força daquele desejo é muito  pequena.

Os resultados positivos e negativos do desejo de receber prazer e do egoísmo coincidem com a força da aspiração espiritual, e é por isso que um objeto inanimado não pode fazer nenhum mal, ou beneficiar a alguém ou a algo mais, porque é inerte.

No nível vegetativo, o desejo de receber a luz é mais desenvolvido, possui um desejo mais poderoso que aquele do inanimado. Por causa disso, possui a habilidade de crescer. Comparado ao inanimado, o vegetativo já pode atrair o bem e remover o mal, é portanto capaz de desenvolver-se.

Há um ciclo fixo nas plantas. O vegetativo vive e morre, é muito mais dependente de seu ambiente que um objeto inanimado. Ele sente as variações  entre dia e noite. É uma forma de vida completamente diferente comparada ao inanimado, e todas essas mudanças ocorrem exclusivamente graças ao aumento  na força do desejo de receber a luz.

No nível animal, a força do desejo de receber é ainda mais forte. O que é acrescentado ao animal em comparação às plantas? Cada animal sente seu ambiente individualmente, e pode se aproximar do bem e se afastar do mal. A intensidade da sensação de mal e bem em todas as plantas reunidas somada ao bem e o mal que podem causar são similares à força do desejo de um só corpo do nível animal.

Um animal se movimenta de um lugar para o outro, ele possui sentidos e impressões individuais, possui seu próprio caráter. Cada um possui seu próprio caráter individual. Porque o desejo de receber a luz nos animais é mais forte que nas plantas, eles possuem características pessoais, exclusivas. Contudo, os animais são ainda limitados em sua noção de tempo: podem sentir apenas a eles mesmos e são incapazes de sentir os outros, o passado, ou de ter qualquer interesse no futuro.

O próximo nível – o falante – é o homem. Ele abrange dois componentes: mente e coração (emoções). Os dois fatores ajudam-se mutuamente a se desenvolver, e é por isso que a força do homem não é limitada pelo espaço ou tempo.

O que não pode ser percebido por um componente, pode ser compreendido por outro. Por exemplo: eu não posso perceber eventos que ocorreram há mil anos atrás, mas posso analisar e entender estes eventos com a minha mente e compensar o déficit até o ponto em que possa perceber. A habilidade de pensar ajuda as emoções e os sentidos.

Pode existir também uma situação oposta: eu percebo algo. Como que esta percepção pode me afetar para melhor ou para pior? Eu acrescento minha habilidade de pensar aos meus sentimentos e assim analiso a situação. As emoções e pensamentos, da mesma maneira, expandem minha compreensão de fatores de tempo e espaço, eu não mais me sinto limitado, posso compreender outro ser humano e experimentar situações que não experimentei através de minhas percepções. Graças a essa habilidade, o homem é capaz de transcender o tempo e  o espaço.

Uma pessoa pode estar em qualquer nível de desenvolvimento no sentido espiritual: inanimado, vegetativo e animal, simultaneamente. Mas, uma pessoa que descobre o “ponto no coração” e começa a desenvolve-lo até que se torne dez sefirot, até que se torne um vaso no qual o homem percebe a revelação do Criador, é chamada de “Cabalista” e contém dentro dela todos aqueles que estão no nível falante, de todas as épocas e nações, da primeira geração até a última.

Essa pirâmide reflete a proporção entre as cinco formas de criação que existem na realidade: inanimada, vegetativa, animal, e o homem em nosso mundo, o nível falante; onde cada item individual de um nível superior supera toda a criação do nível inferior reunida.

Isto é expresso exclusivamente em nossos desejos:

Um só desejo do nível vegetativo pode causar tanto mal ou bem quanto todos os desejos do nível inanimado no universo.

Um só desejo do nível animal pode causar tanto mal ou bem quanto todos os desejos do nível vegetativo do universo.

Um só desejo do nível falante pode causar tanto mal ou bem quanto todos os desejos do nível animal do universo.

Se o ponto no coração, a raiz da alma, aparecer em todos nós, e começar a se desenvolver à proporção de um vaso espiritual, sua força será igual à força de todas as pessoas de todos os lugares e épocas. Essa é a pirâmide! Mas, quanto mais elevado é o objeto, menos exemplares dele existem, e mais exclusivos e prevalecentes se tornam na criação.

Distinguimos cinco níveis no desejo que Criador criou, que são indicados como (a próxima seção se refere ao significado das letra hebraicas do nome do Criador – ה-ו-ה-י):

O ponto mais alto do Yod

A letra Yod: י A letra Hey: ה A letra Vav: ו A letra Hey: ה

Esse é um símbolo do desejo que o Criador criou, um símbolo da criação. O desejo abrange cinco partes que são simbolizadas por cinco símbolos, letras. E não dizemos que esse é o nome da criação, mas o nome do Criador, porque o desejo é preenchido com luz, com a percepção do Criador. A única coisa que a  criação pode sentir é o Criador, e nada mais.

É por isso que a situação da criação, ou seja, o mundo que a criação sente, sua sensação de “eu”, é chamada pelo nome do Criador – a sensação coletiva da criação é uma expressão da intenção do Criador, como é expressa na criação. É por isso que esse vaso é nomeado de acordo com o Criador. Apenas quatro letras são pronunciadas, além do ponto mais alto do Yod (י), chamamos essas letras de Yod – Hey – Vav – Hey (ה-ו-ה-י).

Para resumir, esta é a estrutura da criação:

י O ponto mais alto do Yod – um desejo que ainda não é sentido.

י Yod – corresponde ao nível inanimado.

ה O primeiro Hey – corresponde ao nível vegetativo.

ו Vav – corresponde ao nível animal.

ה O último Hey – corresponde ao nível falante.

Cada nível do desejo – inanimado, vegetativo, animal e falante – é dividido em sub-níveis: inanimado, vegetativo, animal e falante. Isso significa que mesmo no nível inanimado existe uma divisão em níveis: inanimado, vegetativo, animal e falante.

Nosso propósito é compreender o que de fato é o homem, o que ele representa. Uma só planta encontra-se acima de toda a natureza inanimada, um só animal encontra-se acima de todo o plantio e um só humano encontra-se acima de todos os animais. Mas, o que “acima” significa? Significa que se o homem corrige  a si mesmo, seu desenvolvimento espiritual o conduz acima de qualquer outra forma de criação inferior.

É por isso que é dito que tudo está dentro do homem. E em sua ascensão espiritual o homem pode elevar todos os mundos, e depois todos os mundos servem aquela pessoa. É por isso que se uma pessoa realiza uma correção, toda a criação ascende de maneira correspondente. É por isso que apenas o homem tem de corrigir a si mesmo.

Mas, o que significa correção? É uma correção de nossa atitude, nossa compreensão do Criador (se Ele nos tiver dado o desejo e os poderes para isso). Aquele que recebeu esse desejo é chamado de “homem”. Abaixo desse nível há o “falante”, os animais, as plantas e o inanimado dentro do homem em nosso mundo.

São as pessoas que têm de corrigir toda a natureza, porque o homem possui uma alma – o desejo espiritual mais evoluído. A pessoa que descobre o ponto no coração neste mundo, que forma o embrião de sua alma, e começa a desenvolve- lo, torna-se muitíssimo significante e influente tanto no mundo corpóreo como no espiritual. Ela recebe poderes espirituais que a permite descobrir o Criador e se unir com Ele, se tornar como Ele. Todos os quatro níveis da criação existem dentro do homem.

Naturalmente, tudo é baseado no nível inanimado (pó/terra). A existência desse nível espiritual é justificada porque todos os níveis, as plantas, os animais e  o homem, contam com a terra para o seu sustento. Por um lado, a terra é em si um fator insignificante, mas em compensação, nenhuma forma de vida pode existir sem ela.

O mesmo pode ser dito das massas no nível inanimado: elas têm três direções possíveis de desenvolvimento. Dentro das massas existe a possibilidade de criar formas mais avançadas de desejo, às quais a Cabalá se refere como: “os ricos”, “dominadores” e “sábios”, que correspondem aos desejos por riqueza, poder e conhecimento que evoluem a partir do nível inanimado.

À conclusão do desenvolvimento espiritual do homem em um desejo, eis que se desenvolve um desejo mais maduro, sob a influência dos três desejos: a “cobiça”, a “inveja” e a busca por honra.

Graças a esses desejos, o homem se desenvolve espiritualmente e ascende a níveis mais elevados, até que alcance o último – a perfeição. Resumindo: por causa do desejo do primeiro nível, o atributo da cobiça que é dado ao homem separa o “rico” das massas. Esse nível espiritual corresponde ao nível vegetativo no universo.

Depois, quando a pessoa recebe o atributo da inveja, os dominadores são separados das massas. Esse é o segundo nível, e corresponde ao nível animal na natureza.

O próximo desejo na seqüência, “a busca por honra”, existe apenas em humanos. A pessoa que quer ser honrada precisa receber honra de outras pessoas. Esse é um nível de existência completamente diferente. Ela precisa de outras pessoas. Sua ambição já se desenvolveu ao ponto em que não é suficiente controlar algo inanimado. Ela também precisa controlar outras pessoas para que outras pessoas satisfaçam seu desejo por prazer. Ela anseia por estar em seu coração. Isso é chamado de “honra”.

A “inveja” ajuda a separar os “sábios” das massas. Pessoas que possuem um grande desejo e são motivadas pela inveja adquirem conhecimento  e sabedoria. Esse nível corresponde ao nível “falante” na estrutura do universo.

Suas ações não são limitadas pelo tempo ou espaço. O homem às vezes inveja de maneira tão intensa alguém que morreu há muito tempo atrás que é como se aquela pessoa estivesse viva ainda hoje. O tempo não pode influenciar essa sensação. O homem inveja outra pessoa não apenas porque ela possui algo que não tenho, mas também se ambos tiverem a mesma coisa, ou seja, o homem não aspira apenas por receber tudo que o outro tem (a ambição e o atributo do outro), mas também por arruinar a aspiração do outro, para que ele não tenha nada.

Se, por exemplo, estou no nível espiritual “falante”, minha ambição é tão forte que desejo receber tudo que os outros têm, e mais, desejo que não tenham nada, e assim serei capaz de intensificar minha ambição de maneira infinita – desejar tudo que os outros têm, o que significa que sozinho me igualarei à toda humanidade. Somos todos assim.

Este atributo é uma característica apenas do homem. As pessoas que não estão no nível “falante” não podem intensificar seu desejo, elas apenas seguem a honra e a ganância. Elas precisam de certeza na satisfação de suas necessidades, mas apenas de suas próprias. Se não fosse pela inveja, o homem seria incapaz de intensificar seu desejo de receber de maneira infinita.

Contudo, tais pessoas finalmente acabam desamparadas, incuráveis,  porque seu desejo não é forte o suficiente. É por isso que misturam todas as três direções, e porque seus desejos estão espalhados entre essas três direções, são quebrados em partes pequenas, e não existe uma aspiração direcionada que permitirá a obtenção de algo concreto. A pessoa constantemente muda sua  direção, busca por algo mais, desperdiça sua energia.

É como uma criança pequena que quer tudo que vê. Mesmo que  uma pessoa possua um forte desejo, mas se ela mantém-se alternando entre riquezas, honra, poder e conhecimento, acabará finalmente de mãos vazias. As pessoas no nível espiritual inanimado estão cientes de suas necessidades domésticas, suas necessidades por sexo, comida, lazer, televisão. A vida toda delas é como um dia.

Quando uma pessoa começa a desejar riquezas está disposta a trabalhar dia e noite apenas para ganhar dinheiro cada vez mais. Ela já não se interessa mais por coisa alguma. O mesmo acontece com uma pessoa que quer honra ou poder: ela quer ser eleita ao parlamento, se tornar o próximo presidente, tudo mais vem depois disso. Não há tempo para férias, família, prazer, nada existe além do desejo irresistível por poder e controle.

O problema daqueles que chegam ao nível da inveja é que olham para os outros e para tudo que têm, e querem ter tudo isso de uma só vez. É por isto que não podem obter nada. Mas, apesar disso, são capazes de tomar os desejos de outras pessoas, na medida em que desenvolvem um desejo forte assim, tão forte como o desejo do mundo todo reunido, e apesar desse desejo não estar nem de perto apontado para a direção correta, ele ainda possui um grande poder.

As forças negativas e positivas têm o mesmo poder, portanto, porque  a força de uma pessoa é maior que a força de todo o mundo animal, em todas as épocas, passado, presente e futuro, ela pode causar mais danos que todos os animais reunidos, e nessa medida ela pode também fazer o bem.

É por isso que antes de uma pessoa estar pronta para a ascensão espiritual, ou seja, antes de ser capaz de usar suas forças apenas para fazer o bem, ela precisa de um contrapeso espiritual.

Isso significa que neste meio tempo ela não pode invejar o nível “humano”, que é determinado de acordo com o nível da sabedoria e conhecimento da pessoa, ou seja, a ela não pode ser dado o conhecimento pelo qual ela pode prejudicar os outros e tomar o que possuem. A ela não pode ser dada forças e habilidades além daquelas que já possui porque seus desejos não estão balanceados pela sabedoria e pelo nível moral.

É por isso que os primeiros sábios esconderam seu conhecimento das massas, por temerem que estudantes indignos usassem mal o conhecimento que a eles fosse dado e que revertessem a energia espiritual para satisfazer seus desejos animais e causar a destruição do mundo.

A sabedoria tem de ser um recurso suplementar, uma força espiritual que a pessoa tem em acréscimo às forças naturais, e de acordo com seu nível espiritual e moral. De outra maneira, apenas prejudicará. A despeito de suas habilidades ilimitadas, eles viveram humildemente, na pobreza, e recusaram qualquer tipo de prazer material apenas por causa da compreensão espiritual.

Mas com o passar do tempo a moralidade decaiu; os sábios quiseram ser ricos também, e obter controle. Como resultado, a moral deles se deteriorou até o nível das massas, os muros de proteção em volta da sabedoria foram quebrados e eis que começou a haver um mau uso dela, para satisfazer as necessidades animais do homem, que prevalece até hoje.

Se não tivesse ocorrido o desenvolvimento científico no mundo, como ele seria? Poderíamos imaginar que haveria de fato algum desenvolvimento na espiritualidade e nos valores espirituais, apesar disso ser apenas uma suposição de que poderíamos continuar a se desenvolver de acordo com a ascensão espiritual.

Mas se o progresso combinasse com o nível moral, ainda estaríamos hoje na mesma situação que as pessoas estavam há dois mil anos atrás, de acordo com a medida de nossa correção. Devemos aprender disto que tudo que acontece além disso é de fato corrupção, corrupção com a finalidade de correção.

Não devemos nos desconectar de tudo e começar a viver do jeito  que nossos pais viveram há dois mil anos atrás, mas precisamos entender que  qualquer processo de desenvolvimento é um processo desequilibrado; as forças positivas e negativas na sociedade, como também no homem, são desequilibradas. Não importa o quanto queiramos melhorar nossas vidas, fazermos que  sejam fáceis e agradáveis, isso será possível apenas por meio de esforços espirituais.

É por isso que uma pessoa que aspira por progresso espiritual finalmente acaba querendo viver uma vida simples, humilde, ela não espera nada das maravilhas do mundo moderno e vê os produtos do progresso à sua volta como algo supérfluo.

O avanço da humanidade por meio da ciência é um desenvolvimento num caminho  de  dor.  A  humanidade  continuará  a  evoluir  até  descobrir  que  essa estrada não leva a lugar nenhum. Temos de nos separar dos últimos dois mil anos de progresso e começar a buscar por uma outra maneira. Verifica-se que após dois mil anos, a humanidade descobre que realmente não evoluímos em todo esse tempo, mas que ao invés disso nos movemos na direção oposta. Se tivéssemos investido nossos esforços no espiritual, teríamos chegado a resultados muito mais positivos!

A realidade existe apenas para um único propósito – para o homem realizar uma correção através da sabedoria da Cabalá. A Cabalá foi barrada das massas até hoje, mas na última geração, antes da vinda do Messias, a sabedoria da Cabalá deve ser aberta a todos, até para os mais jovens.

Se todos devem começar a estudar Cabalá, isso significa que seu nível espiritual deve ser alto o suficiente para esse propósito? Porém, nossos sábios disseram que nessa geração as pessoas seriam rudes e insolentes e não desejariam entender a sabedoria da Cabalá. Então, como isso é possível? E por que ocorre de hoje ser permitido revelar a sabedoria da Cabalá a todos?

Está escrito que “A face da geração será como a face do cão”. Não terá nenhum interesse na sabedoria da Cabalá, desejará apenas receber para si mesma. É por isso que não há o temor de que estudantes indignos venham a aprender, porque ninguém desejará esse conhecimento. A sabedoria da Cabalá afirma que antes de você poder receber os atributos do Criador, você tem de corrigir sua natureza de uma intenção de receber para uma intenção de doar, e apenas assim você será capaz de compreender a sabedoria da Cabalá. É por isso que nenhum teste é necessário para ver se um estudante é digno.

Os desejos se intensificaram tanto em todos nós que não estamos mais interessados em nada além de recompensas materiais, e apenas aqueles que aspiram pela compreensão e revelação da espiritualidade desejarão atingir a sabedoria da Cabalá, enquanto que todos os outros promoverão desordem com ela, tentando vende-la para lucrar.

Todos terão sua chance de começar a estudar, mas as pessoas serão capazes de compreender o Criador apenas na medida de sua aptidão espiritual e na medida de sua pureza espiritual. Apenas a pessoa que entender que a sabedoria  da Cabalá não traz nenhum ganho material, mas apenas dá a ela a chance de devolver prazer ao Criador, de dar contentamento a Ele, será capaz de avançar espiritualmente.

Se o homem tiver esse forte desejo (todos os outros desejos continuam presentes, mas em uma proporção completamente diferente), ele começará a estudar a sabedoria da Cabalá. As outras pessoas simplesmente não irão deseja-la. Mas, aprendemos disso o quanto tudo depende dos desejos da pessoa, precisamente, do que a pessoa quer alcançar.

O livro é aberto a uma pessoa, ela começa a estudar. Depois de algum tempo ela pode ver se está pronta ou não para isso. O desejo do homem é o fator que determina onde ele estará e o que fará. Apenas seu ponto interno pode dizer a ele exatamente em que nível espiritual ele está. Ele começa a gradualmente entender que além da unificação com o Criador, ele não obterá nada! Nenhum prazer terrestre, nenhuma riqueza, ou honra, ou qualquer tipo de poder. É por isso que apenas aqueles que estão cientes desse fato, e aspiram apenas pela revelação e pela obtenção da satisfação espiritual interior, permanecem.

No decorrer do avanço espiritual cada vez menos pessoas permanecem. Quanto mais um grupo se aproxima do objetivo, a escolha se torna mais difícil, e apenas os verdadeiramente dignos permanecem. O processo de estudo em si confere poderes e peneira os estudantes.

A LINGUAGEM DOS CABALISTAS

Do livro “O Livro Aberto”

Palavras e letras provêem um código que aponta para o objeto espiritual e para sua situação exclusiva. Quando um Cabalista lê o que outro Cabalista escreveu, pode reconstruir o texto e sentir exatamente o que seu colega Cabalista queria dizer, da mesma maneira que um músico pode reconstruir uma peça musical, que foi escrita por um outro compositor há 500 anos atrás, através de notas, ou, da mesma maneira que representamos os sinais matemáticos com símbolos que são números.

Suponhamos que encontremos uma criatura do espaço sideral, e que ela  fale nossa língua, ou seja, ela usa nossas palavras, mas o conteúdo que ela atribui a elas é completamente diferente; podemos ainda chamá-la de “nossa língua”? Para aprende-la teríamos de saber o que essa criatura quer dizer com aquelas palavras conhecidas. Os Cabalistas também podem transmitir o conhecimento uns aos outros em nossa língua, mas nas palavras há um conteúdo completamente diferente que aponta para uma sensação, um ato ou uma obtenção do resultado “correto”. E isso é porque eles possuem sensações em comum e uma base em comum para estas realizações. A linguagem deles em nosso mundo é a linguagem dos ramos, na qual cada nome aponta para um objeto espiritual específico que simboliza.

Quando os Cabalistas utilizam um nome de nosso mundo, eles vêem a raiz do mundo superior que permanece atrás dele de maneira bem clara. A completa diferença entre nós e os Cabalistas é que, quando lemos os livros de Cabalá, vemos imagens de nosso mundo diante de nossos olhos que são completamente diferentes daquilo que o Cabalista que escreveu queria expressar, enquanto que quando um Cabalista lê o livro, ele vê as raízes espirituais do mundo superior nas palavras. É por isso que muitas vezes encontramos em livros de Cabalá palavras que parecem inapropriadas para termos espirituais, tais como: beijo, coito, abraço, vagina, útero. É claro que o significado espiritual delas não é o significado espiritual  que atribuímos às palavras em nosso mundo. Mesmo uma pessoa não familiarizada com a sabedoria da Cabalá concordará facilmente que esta área está acima de nossa razão. De acordo com nosso entendimento, a espiritualidade não pode advir de tais desejos egoístas desprezíveis e do uso de uma linguagem mundana como essa, então como é que encontramos expressões tão “vulgares”que quase nunca usamos mesmo em nossa vida cotidiana?

A questão é que: uma vez que os Cabalistas escolheram as palavras da “linguagem dos ramos” para a descrição dos objetos espirituais, eles não podem trocar uma palavra por outra ao seu bel prazer. Eles devem usar as palavras que indicam precisamente aquelas raízes superiores, e não podem abandonar sequer uma única palavra só porque parece vulgar ou imprópria. Da mesma maneira que dois fios de cabelo não podem crescer da mesma raiz, assim dois ramos não podem originar-se da mesma raiz espiritual. Toda criatura tem a sua própria raiz superior, e não pode ser substituída por outra.

Cada objeto em nosso mundo possui uma raiz superior que tem o mesmo nome. Não podem existir duas raízes diferentes com o mesmo nome, assim como duas criaturas separadas em nosso mundo não podem ter o mesmo nome, porque são diferentes no mínimo em alguma coisa, senão seriam a mesma coisa. Cada objeto ou fenômeno da natureza precisa ter um nome específico e, uma vez que tenha sido dado, aquele não pode ser chamado por nenhum outro nome.

Se trocássemos as palavras “obscenas” por outras, quebraríamos a firme conexão entre o ramo e sua raiz superior. Não saberíamos qual objeto relacionaríamos a qual palavra escrita, porque não existe outra ciência no mundo com uma correlação tão perfeita entre a raiz e o ramo. Os Cabalistas são pessoas que atingem aquelas raízes; eles percebem claramente aqueles “fios” que não podemos, que ligam a raiz ao seu ramo abaixo.

Do começo ao fim da criação, existe um processo contínuo de correção e elevação, em conformidade com um plano que desce do mundo superior e que  nos ordena tudo. Toda criatura percorre seu próprio caminho nesse processo coletivo, e nenhum “eu” desaparece neste processo. Ele pode adotar diferentes formas, mas sempre se mantém.

É claro que num sistema complexo assim você não pode trocar um nome por outro. Para escolher uma “linguagem código” exata é preciso que seja aplicável sob qualquer condição – ou seja, sempre usar a palavra que aponta para sua raiz superior, como nos livros autênticos de Cabalá. As pessoas que escreveram esses livros atingiram as raízes e estavam em tais níveis espirituais dos quais nos proveram com definições precisas. É por isso que sua linguagem descreve os mundos superiores com absoluta precisão. Aprendemos com isto que livros que são escritos por pessoas que se auto-intitulam “Cabalistas” são inúteis e apenas enganam e desviam o leitor do entendimento e do avanço no caminho certo.

Todos os termos que encontramos em livros de Cabalá, tais como: beijo, coito, vestir/ornar, expansão, carne, circuncisão, etc.; todos falam das raízes superiores e de maneira alguma sobre processos terrestres. Elas são chamadas assim simplesmente porque é impossível encontrar outro nome que apontará para aquela raiz superior em nossa linguagem, e não porque os processos nas raízes superiores de alguma maneira se assemelham aos do nosso mundo. Não devemos imaginar corpos sublimes se unindo ou se beijando.

Por causa disso, é bastante difícil para uma pessoa, que não sabe como traduzir as palavras para a linguagem espiritual, ler os livros de Cabalá, e isso se aplica à Torah (Bíblia) também. Nas lendas e na Torah e principalmente no Cântico dos Cânticos (que parece falar do amor conforme o entendemos) é bastante difícil distinguir entre o significado comum que atribuímos às palavras e o significado espiritual delas, porque existe uma sólida conexão entre as palavras e nossas emoções. (A propósito, é mais fácil para aqueles dos quais a língua materna não é  o hebraico, porque eles não conectam diretamente as palavras hebraicas com suas emoções).

Com o tempo, aquela conexão é rompida no estudante e, gradualmente, ele cria uma nova conexão, de acordo com o seu trabalho e esforço para sentir os conceitos espirituais que permanecem por trás da linguagem dos ramos. Um leitor comum da Bíblia, ou da Guemará, não pode simplesmente se libertar do significado familiar das palavras que ele conhece, que de fato existem para coisas que são completamente desconhecidas para ele. O problema todo é que a Torah é compreendida corretamente apenas por um punhado de pessoas, contudo a própria Torah declara: “A Torah toda é os nomes do Criador.” Mas o que isso significa?

Damos nome a um objeto de acordo com seus atributos, depois de os ter atingido e de saber qual é sua essência. Quando um Cabalista ascende com seus sentimentos ao mundo espiritual, ele começa a sentir a revelação do Criador, de Suas ações, de Seus atributos, do Próprio Criador, e ele dá nome ao que ele sente. Apenas uma pessoa que pode sentir o Criador pode dar nome a Ele. O nome não resulta da leitura de um livro. O Cabalista chama o Criador por um nome quando não O sente menos do que sentimos algo em nosso mundo.

É por isso que a expressão: “A Torah toda é os nomes do Criador” significa que a revelação da Torah é apenas para aqueles que se elevam em suas sensações espirituais e podem sentir o Criador.

A luz que o Cabalista recebe é chamada de Torah. Apenas as pessoas que atingem as raízes, ou seja, os Cabalistas, podem perceber facilmente o que está por trás das palavras da Torah. É assim também que nossos livros sagrados são  escritos, esse é o porquê deles serem sagrados. Eles falam da Divindade, sobre o mundo do Criador.

Um Cabalista é chamado de acordo com o nível mais alto que ele atinge – a revelação mais alta do Criador que ele atinge define seu nome. Por exemplo: aprendemos que um partzuf (um objeto espiritual) é chamado de acordo com o  tipo de luz em sua cabeça. Se for a luz da sabedoria, é um partzuf da sabedoria (Hochma), se a cabeça contém a luz da misericórdia, ele é chamado de partzuf Bina. Em nosso mundo também, chamamos a pessoa de acordo com sua maior realização, por exemplo: Professor, Doutor, etc.

É quase impossível entender os livros de Cabalá, porque eles foram escritos com termos do nosso mundo. É dito sobre o primeiro homem que foi criado pelo Criador, que ele era um ladrão, sobre a esposa de Moisés – “mulher vulgar”, sobre Labão (que é na verdade a luz da sabedoria, a luz superior), que era um “impostor”. Simplesmente não compreendemos o real significado espiritual por trás das palavras já conhecidas. Toda língua possui sua própria raiz, assim como tudo em nosso mundo, mas há com certeza uma diferença entre uma raiz espiritual e a outra. No final da correção, aquelas diferenças espirituais desaparecerão, mas, até então, existirão raízes superiores e raízes inferiores, mais importantes e menos importantes.

O mundo é construído como uma pirâmide espiritual, e, até o final da correção, não seremos todos iguais em relação ao mundo espiritual, e não poderemos determinar a posição de uma pessoa que se envolve na correção espiritual por sua aparência. Aquele que está mais próximo de adentrar o mundo espiritual pode ter um caráter pior, mas está mais familiarizado com seus atributos, com a inferioridade de sua natureza. Aqueles que estão mais distantes  da entrada do mundo espiritual têm atributos mais agradáveis. Precisamos lembrar que estamos apenas falando de pessoas que estão trabalhando em sua correção espiritual. Com relação a uma pessoa que não está estudando Cabalá não há nada a dizer em qualquer caso, porque elas ainda não podem sentir nada real, porque não possuem uma escala espiritual para se compararem. Por esta razão, há uma diferença entre a espiritualidade das raízes superiores e os ramos em nosso mundo. Então, qualquer língua pode ser escolhida como linguagem dos ramos?  De fato, toda língua possui sua própria raiz superior, mas o hebraico é a única língua da qual conhecemos o código espiritual. O mundo foi criado por suas  letras, e toda palavra expressa a essência do objeto.

É por isso que a Torah foi “dada” em hebraico. Nos mundos superiores não existem letras, mas os atributos espirituais nos foram descritos na forma de letras hebraicas.

O ARI, o grande Cabalista de Zefat (cidade hebréia), descreveu o mundo espiritual através de dez sefirot. Ele explicou as razões para tudo que acontece no mundo espiritual através de uma tela e da luz superior, o que permite que qualquer iniciante estude Cabalá. Antes do ARI, todos os livros eram escritos na linguagem  das  lendas  ou  midrash,  como  o  Zohar.  Até  então,  os  Cabalistas escreviam seus livros como uma história que contava sobre o que percebiam no mundo espiritual, e não como uma descrição científica do que acontece lá, por meio da extensão da luz de cima para baixo, ou das cinco fases no vaso e a tela que se reveste sobre ele. Você poderia dizer com certeza que existiram Cabalistas que atingiram níveis mais elevados que aquele do ARI, mas ele foi o primeiro ao qual foi dada permissão de cima para transmitir para nós toda a sabedoria da Cabalá. Baal HaSulam, Rabino Yehuda Ashlag, interpretou todas as partes dos escritos do ARI que precisavam ser privadas de termos de tempo, espaço e movimento.

Como então, Baal HaSulam refinou a linguagem a um determinado nível que agora não há lugar para a materialização da espiritualidade? Ele “apenas” explicou as dez sefirot, e nada mais. As primeiras nove sefirot descrevem como o Criador se relaciona com a criatura, e a última sefirah é Malchut – a própria criatura. Não há nada em toda a criação além da inclusão do Criador na criatura.

No seguinte exemplo tentaremos entender melhor o que é a “linguagem  dos ramos”. Por exemplo: alguns cientistas medem um determinado nível de influência que o mundo externo tem sobre uma determinada pessoa, através de instrumentos que eles conectam aos órgãos sensoriais e ao coração dela, que é o vaso de recepção dela para a reação. Desta maneira, constroem tabelas e gráficos que expressam a dependência entre as reações internas dela e os estímulos externos. Depois, conectam a fonte de sinais elétricos ao corpo dela e os enviam à sua mente, como se viessem da fonte real. A pessoa não sente nenhuma diferença, ela recebe os sinais como se viessem da fonte verdadeira. Eles dão nomes técnicos aos experimentos: você envia este e aquele sinal e obtém esta e aquela reação. É assim que um dicionário científico é criado. É assim também que Cabalistas- cientistas agem. Eles realizam experimentos com o efeito da luz do Criador (a única fonte de todas as emoções) sobre eles mesmos, e depois descrevem suas reações.

O Cabalista é tanto o pesquisador como o objeto sendo pesquisado ao mesmo tempo. É por isso que ele pode descrever seus sentimentos nos termos de uma ciência exata, e não apenas através de uma expressão emocional tal como  uma poesia ou uma música. É por isso que a Cabalá é chamada de “a sabedoria da verdade”, ou a “Torah da verdade”.

Em uma pessoa em nosso mundo que ainda não atingiu o mundo espiritual existe um vaso espiritual em seu coração chamado de “ponto negro”. É um ponto espiritual que não está fisicamente no coração, mas é apenas sentido através dele. Se uma pessoa estuda Cabalá com os professores corretos, ela lentamente começa  a desenvolver aquele ponto para se tornar um vaso completo, um partzuf espiritual. É como se ela expandisse aquele ponto, o inflasse e criasse um espaço nele, no qual depois ela receberá a luz espiritual – a sensação do Criador. A sensação do Criador é chamada de “luz” e o partzuf espiritual é o “vaso” que pode recebe-la. O tamanho do partzuf determina o nível espiritual do Cabalista. Um nome na Cabalá tal como Moisés é usado para indicar um nível, que Moisés, o Cabalista, atingiu. Qualquer um que atingir aquele nível também será chamado por aquele nome. A Cabalá não lida de maneira alguma com uma descrição do corpo físico. Apenas a medida da revelação do Criador determina a estatura do nível espiritual de um Cabalista. Quando um Cabalista lê um livro de Cabalá, ele sabe o que precisa fazer para se elevar espiritualmente. As ações que ele realiza no corpo espiritual são chamadas de “mitzvot”. Elas são ações espirituais – “desejos do Criador” que precisamos seguir para atingirmos a luz e sentirmos o Criador.

É por isso que os livros do Baal HaSulam podem ser estudados sem nenhum perigo de se materializar os conceitos espirituais, sem se imaginar objetos físicos que agem um sobre o outro. Não afetamos o mundo espiritual através do cumprimento físico das mitzvot. Não existe conexão entre nossas ações físicas e o mundo espiritual. A severidade da proibição da idolatria se refere à materialização da espiritualidade e não ao curvar-se diante de algum pedaço de madeira ou pedra. Tais coisas sequer são um tópico para discussão. A idolatria é a materialização dos termos espirituais, como se forças espirituais se vestissem em nosso corpo, ou num pedaço de carne. Por causa desse perigo houve a proibição do estudo da Cabalá. Baal HaSulam transmitiu a sabedoria em seus livros de uma tal maneira que qualquer um pudesse entende-la sem materializar os conceitos espirituais. Antes da sua época, as pessoas ainda não estavam prontas para aceita- la, e a Cabalá foi escondida. De fato, o propósito do desenvolvimento da humanidade é leva-la a sentir e a aceitar que existem coisas que não podemos sentir, mas que existem; que são invisíveis, contudo grandiosas, que pode haver existência além do tempo e do espaço.

Isso preparará a humanidade para o pensamento de que uma coisa como a espiritualidade, que não é sentida e nem pode ser descrita, pode todavia existir. Nossa experiência coletiva é tão grandiosa neste momento que estamos mais dispostos do que nunca a aceitar que tudo é possível.

SENTINDO UM OUTRO MUNDO

Do livro “O Livro Aberto”

Os conceitos espirituais são independentes de tempo, espaço e movimento. É por isso que não podemos imagina-los, porque tudo que sentimos existe num contexto de tempo e espaço, e em algum tipo de movimento. Nosso universo, por exemplo, existe em um determinado espaço. Imaginemos: se removermos tudo do universo, o que sobrará? Na espiritualidade não existem corpos, não existe tempo, movimento ou espaço. É por isso que não existe nada em comum entre a espiritualidade e a estrutura de nossa natureza ou nossa emoção. Podemos examinar algo que não sentimos? Por que os Cabalistas dizem que a Cabalá é uma ciência ou uma sabedoria, se o tópico do qual ela trata é inconcebível aos nossos sentidos? Como podemos falar de algo que sequer podemos imaginar? Como podemos compreender o que está escrito nos livros de Cabalá, se a espiritualidade é algo que não podemos começar a imaginar, e como os Cabalistas no entanto a explicam, e com termos do nosso mundo?

Os Cabalistas são pessoas que foram dotadas com a oportunidade de sentir um outro mundo. Apenas aqueles que vêem, sentem e o entendem, são chamados Cabalistas, porque recebem conhecimento e sensações “daquele” mundo.

Mas, porque somos incapazes de sentir qualquer coisa que esteja fora do tempo, espaço e movimento, não podemos sentir o mundo espiritual, e portanto vivemos como cegos. É como se o mundo espiritual existisse sem conexão com nossas emoções. Contudo, está aqui! E, apesar de não podermos imaginar um mundo sem tempo, espaço e movimento, precisamos no entanto aceitar o fato de que esses termos não existem no mundo espiritual. Mas, como então podemos dizer algo sobre o mundo espiritual? Como que um Cabalista pode nos contar   algo sobre o mundo espiritual, se este não possui nenhuma das coisas que temos em nosso mundo? Além do mais, sentimos o nosso mundo apenas através do tempo, espaço e movimento, e todos os nossos termos provém de nossos cinco sentidos.  É  assim  que  criamos  nosso  vocabulário.  Não  podemos  medir nossos sentimentos, que são algo pessoal, particular; não podemos saber se é bom ou mau, abundante ou insignificante; nós medimos tudo isso em relação a nós mesmos, em relação a nossos desejos pessoais no momento da medição, desprovidos de qualquer valor absoluto.

Além disso, sabemos por experiência que nossos sentimentos podem mudar, e qualquer criatura sente seu mundo de maneira diferente. Estou enfatizando “seu mundo” de propósito, porque cada um de nós tem seu próprio mundo e não podemos comparar e ver quão idênticas são nossas emoções. Todas as criaturas – inanimadas, vegetativas, ou animais – sentem o mundo de maneira diferente. Cientistas descobriram que cada tipo de animal tem sua própria estrutura sensorial, cada espécie vê uma imagem do mundo completamente diferente. Se, por exemplo, pudéssemos nos conectar com extraterrestres, como poderíamos comparar nossas impressões do mundo? Todo nosso discurso é baseado no que sentimos, que já inclui nossos valores subconscientes de “bom e mau” com relação a cada objeto. Representamos algo como “bom” ou “mau” dependendo de como sentimos nós mesmos. Isso é suficiente para nosso “pano de fundo”; compreendemos um ao outro.

Podemos conversar apenas se sentimos que a diferença de pensamento e cultura, ou de modo de vida, não excedem os limites de um consenso geral baseado em percepções comuns. Mas, além dessas limitações em nossos sentidos, porque existem impressões pessoais, mesmo aquilo que podemos sentir é apenas invenção de nossa imaginação e não há como dizermos quão absoluto isso é.

Nossa visão, por exemplo, retrata algo que afeta nossos olhos, então esta impressão limitada e pessoal é incrementada na cabeça, e o que recebemos de  volta de nossas mentes já é sentido como algo que existe fora de nós. É assim que percebemos tudo que podemos ver.

Todas as outras impressões externas também são aceitas em relação aos nossos sentidos, na dependência de suas limitações. Não podemos conhecer e sentir o mundo exterior dentro de nós; apenas uma determinada quantidade de influência em nossos sentidos, mas isto não é nada mais do que o reflexo de nossos sentidos a alguns dos fatores externos que eles sentem. Temos de entender que nossa linguagem bela, rica e criativa descreve apenas uma minúscula porção da realidade, pela qual somos impressionados de alguma maneira. Mas se este é o caso, como podemos descrever em nossa própria linguagem, que é baseada em sensações individuais de nosso mundo, os vários conceitos do mundo espiritual? Mesmo se tomarmos a palavra mais pura de nosso mundo – luz – que parece estar mais perto da espiritualidade, veremos que ela também se refere a uma idéia corpórea tal como a luz do sol, ou a uma mente iluminada, que não tem nada a ver com a Divindade.

A propósito, a luz é o fenômeno mais mal interpretado até em nosso mundo, a despeito de todas as teorias físicas. Foi o RAMBAM que escreveu que todo o nosso universo está abaixo da velocidade da luz, e que acima daquela velocidade existe um outro mundo. Numa outra explicação dessa palavra, a descrevemos como prazer, ou como a iluminação da mente. Mas, se escolho minhas palavras de acordo com minhas emoções e as passo para outra pessoa, que por sua vez as interpreta de acordo com sua compreensão, como podemos comparar as sensações que atribuímos à mesma palavra? Qual é a base comum através da qual podemos comparar nossas informações sensoriais? E, porque não podemos comparar nossas emoções com precisão alguma (e quem sabe se a psicologia e a psiquiatria chegarão alguma vez a essa compreensão), somos compelidos a utilizar termos sem antes comparar as emoções que trazem a nós. Não é necessário que minhas emoções sejam as mesmas que as suas. O que eu faço desperta algo similar em você… e essa é toda a linguagem dos Cabalistas.