CAPÍTULO 8

Do livro “Sabedoria Maravilhosa”

Introdução

Antes de conhecermos os mundos espirituais, tudo o que sabemos sobre eles é a partir de textos escritos, de pessoas que atingiram esta mesma tarefa antes de nós. Nestes textos, eles escreveram sobre toda a estrutura dos mundos espirituais em grande detalhe. Estas maravilhosas pessoas que nos deram um presente tão magnífico são chamados de, Cabalistas. Felizmente, nas suas obras incluem também, como estabelecer esse mesmo tipo de contato, entrar em locais que atualmente não conhecemos e, em seguida, experimentar exatamente as mesmas coisas que eles experimentaram.

Acontece que esses textos podem ser vistos de duas maneiras: primeiro, como um modelo daquilo que é o espiritual e segundo, como um manual de instruções que nos permite confirmar pessoalmente, tudo o que eles escrevem. O resultado final deste legado Cabalístico maravilhoso que tão generosamente nos foi dado, é que somos capazes de adquirir o mesmo conhecimento e perceber a perfeição, exatamente da mesma forma que eles fizeram. Seguindo esta “auto-estrada espiritual”, que eles nos deram, podemos alcançar um entendimento completo do objetivo da criação e somos capazes de captar o seu propósito, enquanto vivemos todos neste mundo.

As seguintes oito lições são baseadas num curso ministrado pelo Dr. Michael Laitman, meu professor e Cabalista. Ele projetou o seu curso com base em três fontes: no Zohar de Rabbi Shimon Bar Yochai escrito no século II DC; as obras do Ari, Rav Y. Luria, e Cabalista que viveu em Safed, no século XVI e, finalmente, as obras de Rav Yehuda Ashlag, conhecido como Baal HaSulam, que viveu em meados do século XX.

Na verdade, estas três fontes escreveram exatamente sobre a mesma coisa, mas em épocas totalmente diferentes, e usando uma linguagem que se enquadrava aos alunos da sua respectiva época. Para mais informações sobre estas fontes, consulte o Capítulo 5, Materiais de Pesquisa da Cabala.

Na Cabala, a maioria do material estudado é escrito em hebraico, uma linguagem que Abrão desenvolveu com a única finalidade de descrever o espiritual. Embora grande parte da seguinte informação dada nas lições, seja apresentada num formato que não requer verdadeira compreensão do hebraico, alguns dos termos hebraicos mais importantes, foram mantidos como são e é fornecido uma definição precisa de cada termo. Você notará que todos eles estão em itálico e a primeira letra é sempre Maiúscula. Diagramas originais com legendas em Inglês, foram também inseridos para ajudá-lo a compreender os conceitos com clareza e de uma forma mais simplificada, se apenas os termos em Hebraico fossem dados. Alguns dos diagramas podem parecer ao contrário para leitores do Inglês, porque o Hebraico é lido da direita para a esquerda.

Estas lições são uma explicação para uma única coisa, o processo de criação. Isto é exatamente o que a Cabala descreve, e nada mais. A razão é simples. Se nós sabemos de onde viemos, se temos um plano, podemos seguir esse mesmo plano, de baixo para Cima, passo a passo, para uma revelação total e completa do Criador.

O nome dado a Yehuda Ashlag, Baal HaSulam, significa “Dono da Escada”, por causa da Sulam (Escada) comentário sobre o Zohar. Por outras palavras, os textos que estudamos certamente proporcionam a quem está apenas à procura de conhecimento, informações necessárias para responder a perguntas sobre, de onde viemos. Mas este não é o seu propósito. As grandes obras que estudamos não são para conhecimento, mas sim para proporcionar a nós experiências desses mundos.

Você também vai notar que a palavra “fase” é usada. Deve pensar nela como uma diferente parte do processo, já que nós passamos por diferentes fases de desenvolvimento em nosso crescimento, desde a infância até á idade adulta. Há muitas fases neste processo, e nós mudamos certamente, mas continuamos sendo “nós”.

É muito importante perceber que este material é simplesmente uma visão geral. Não é uma explicação completa e detalhada da Criação. De fato, não é nem um prefácio para esse processo incrível, mas antes, um prefácio do prefácio.

O verdadeiro estudo da Cabala entra num incrível pormenor do processo de criação, fornecendo os mínimos detalhes.

Para aqueles que estudaram ciências na faculdade, você pode comparar este capítulo a oito lições rápidas em Física ou Química. Embora estas oito lições forneçam uma idéia geral sobre o assunto, não é possível de maneira nenhuma, explicar um assunto tão vasto como a Criação, em tão poucas páginas.

Finalmente, este material não deve ser lido rapidamente ou esquadrinhado. Leve seu tempo. Permita-se o luxo de absorver o que está escrito para além do que simples conhecimento. Você pode até querer voltar a ler estas lições várias vezes, para assim compreender o que pode ter perdido. Com isso em mente, vamos começar.

 

LIÇÃO 1

Em seus textos, o Rav Yehuda Ashlag nos explica que a Luz emanada do Criador, designa o desejo de criar seres e agradá-los. Você deve se lembrar que a Luz é a sensação do Criador, o prazer. Na Cabala, nós chamamos isto a Fase da Raiz, cujo número é zero (0). Em Hebraico, nós chamamos Fase Shoresh ou Keter. Recebe o número zero porque é considerada a fase preliminar, que antecede a criação de qualquer coisa. É simplesmente, o desejo de agradar e criar algo ao qual possa dar prazer.

Portanto, neste momento, tudo o que podemos dizer sobre a Fase 0 (Keter) é que o Criador deseja agradar, que tem um desejo de doar, de dar, iniciando o processo de criar algo que possa receber o que Ele deseja dar, ou seja, o prazer. Enquanto a lição continua, poderá ajudá-lo consultar a Figura 1.

Na segunda etapa, denominada Fase 1, em Hebraico – Fase Aleph (Hochma) – esta Luz cria um Recipiente (Kli, em Hebraico). O Kli é algo que tem a capacidade de conter uma substância. Ele tem limites. E assim como o soprador de vidro cria um copo para reter a água ou outras bebidas, este Recipiente (Kli) é criado para conter algo dentro dele, sendo o prazer.

O Kli é criado de tal maneira, que é perfeitamente adequado para cumprir esta finalidade. Em outras palavras, o Kli é o desejo de receber prazer, de uma maneira perfeita. Para entender a relação entre a Luz e o Kli, a pessoa pode pensar num carimbo e na impressão que ele faz.

Outra analogia pode ainda ser mais simples se imaginarmos que estamos numa praia. Se pressionarmos as nossas mãos na areia molhada e, em seguida, retirarmos as mãos, deixaremos boas impressões das nossas mãos. Se a areia for fina o suficiente, poderemos até mesmo ver as linhas da palma da mão na impressão.

A Bíblia nos diz que Deus criou o homem à Sua imagem. É exatamente isso a que eu me refiro. O Kli é projetado exatamente dessa maneira, onde o Kli, o desejo de receber prazer, se une perfeitamente com a Luz que o preenche completamente e o agrada.

A Luz em si tem uma característica única, um atributo, que é agradar, deleitar, dar prazer. O atributo do Kli é exatamente o oposto: é o desejo de receber, o desejo de experimentar o prazer.

Figura 1. Cinco Behinot

Nota: Este diagrama foi reproduzido a partir de um texto em Hebraico. O Hebraico é lido da direita para a esquerda, portanto, a sequência pode parecer de trás para frente para os leitores de língua portuguesa.

Então, a Luz cria o Kli e, em seguida, preenche-o completamente. Porém, quando o Kli está cheio, não só sente prazer, mas também sente como o Doador é; sente o atributo de doação do Doador. Esta experiência de sentir quem está dando o prazer provoca o surgimento da próxima fase da criação.

A experiência de sentir não só o prazer, mas também o atributo do Doador, ou seja, a doação pode ser vista como a transferência. O que é transferido ao Kli é aquele atributo do Criador. Esta transferência faz com que o Kli, agora, queira ser como a Luz. Por outras palavras, o Kli sente esse atributo do Doador e quer fazer o que a Luz faz: dar sem restrição, ser como o Doador. Mas o Kli não tem absolutamente nada para dar. Ele foi construído para receber. Assim, para chegar o mais perto possível de dar, ele pára completamente de receber. Esta etapa se chama Fase 2 – Fase Bet (Bina).

Agora, temos uma situação preocupante. O Kli, que agora está vazio de Luz porque sentiu o Criador e desejou ser como a Luz, se recusa a receber. A Luz não pode realizar aquilo que devia fazer, e o Kli não pode fazer aquilo que devia fazer. Se o Kli tivesse alguma coisa para dar, daria. Porém, a única coisa que ele pode fazer é o seguinte: recusar receber qualquer prazer. Isto nos leva diretamente à fase seguinte, que a Cabala chama de Fase 3 — Guimel (Zeir Anpin). O Kli sabe que o objetivo da Luz é criar e dar-lhe prazer. Ele também sabe que a sua existência se baseia em receber prazer, que deve receber certa porção da Luz ou deixará de existir. Em resumo, a recepção é a natureza do Kli.

Como pode o Kli satisfazer o que necessita e, ao mesmo tempo, satisfazer o seu desejo de ser como o seu Criador? A Fase 3, Zeir Anpin (ZA), fornece a resposta. Na verdade, ela é uma fase mista, e a única resposta possível para este problema. O Kli decide que receberá uma parte da Luz, mas com uma pré-condição. Ele só receberá a Luz, se for para dar prazer Aquele que o criou. Vamos repetir. O Kli sabe que deve receber e irá fazê-lo, mas apenas se realizar a sua função com a intenção de agradar ao Doador.

O que acontece aqui é muito importante. O Kli, o desejo de receber, tem agora dois atributos diferentes que, podem ser comparados um com o outro. Sabe o que o desejo pelo Doador é, e sabe qual é a sua própria natureza: receber. Ele tem o desejo de ser como o seu Criador (dar), e tem o desejo de receber prazer. Mas também sabe, que a sua verdadeira natureza é uma total e completa recepção, algo que não pode mudar. Percebe que, para ele, é muito mais natural receber do que dar, pois é exatamente assim que foi criado. O que aconteceu aqui foi uma descoberta. Antes, este Kli não tinha percebido que a sua própria natureza era oposta a do seu Doador, e agora percebe. Isto nos leva à 4ª fase, que a Cabala denomina fase Dalet (Malchut).

Esta percepção da sua verdadeira natureza leva o Kli á decisão de que ele deve se comportar como foi projetado, e receber todo o prazer que a Luz traz, na sua totalidade. Algo especial aconteceu aqui: uma decisão independente. Nas três fases anteriores, o Kli apenas reagia sob a influência da Luz. Porém, na quarta fase, o desejo de receber, outra vez a totalidade da Luz, é uma decisão totalmente independente. É isso que distingue esta fase (Fase 4) da Fase 1, Fase Aleph (Hochma). Em ambas as fases, o Kli só recebe, mas, nesta última fase, o Kli tem o seu próprio desejo independente. Esta independência é que nos permite chamá-lo de “criatura” ou “Criação”. Por outras palavras, a recepção do prazer foi uma escolha do Kli, e não do Criador.

Ele agora pode ser chamado de “a criatura”, porque o desejo realmente veio do seu interior, e não diretamente da Luz, onde a Luz simplesmente o preenchia sem qualquer decisão por parte do Kli. Quem lhe deu esta distinção foi a escolha. Ele pode receber ou não. Que decisão tomou? Escolheu receber, aceitar tudo outra vez. Antes, ele era preenchido somente porque era o que o Criador queria. Por outras palavras, o primeiro desejo independente de receber prazer da Luz, nasceu agora totalmente do interior da criatura.

Este conceito é fundamental para o nosso trabalho! Vejamos um exemplo. Considere o processo do nascimento. Não importa o que fazemos antes de nascermos, nós recebemos toda a nossa alimentação quer queiramos quer não; toda a necessidade é atendida pelas nossas mães. Nós não temos absolutamente nenhuma escolha no assunto. Todos os nossos sistemas são influenciados por aquilo que as nossas mães nos fornecem dentro do útero.

Contudo, uma vez feita aquela longa viagem pelo canal do nascimento e anunciado a nossa presença ao mundo, geralmente com um grito de arrepiar os cabelos, tudo muda. No momento em que o cordão umbilical é cortado, os nossos sistemas começam a agir de forma independente. Nós começamos a respirar o ar por nós mesmos. O nosso fornecimento de sangue é independente. A nossa alimentação vem de uma fonte externa, até nossas bocas. Certamente, os nossos pais ainda nos podem obrigar a muitas coisas nas nossas vidas, mas agora, quando estamos com fome, choramos. Quando precisamos ser mudados, fazemos com que os nossos pais saibam disso. O processo de uma criação independente aconteceu.

Agora, vamos examinar um pouco a forma como a Cabala designa a Luz. Isto será mais fácil se consultar a lista abaixo. Nós temos cinco fases:

Fase zero – Shoresh, chamada Keter

Fase um – Aleph, chamada Hochma

Fase dois – Bet, chamada Bina

Fase três – Gimel, chamada Zeir Anpin

Fase quatro – Dalet, chamada Malchut

Uma verificação rápida num dicionário Inglês-Hebraico irá confirmar que Aleph, Bet, Gimel e Dalet são as primeiras quatro letras do alfabeto Hebraico. É importante observar que os nomes Keter, Hochma, Bina, Zeir Anpin, e Malchut não são nomes de criaturas, mas sim os nomes das fases do processo de criação. Assim, quando dizemos Malchut, falamos da criatura tal como está neste estágio.

Em cada fase, há um tipo diferente de Luz, pelo menos da nossa perspectiva. Na realidade, não há nada além de uma só Luz; sentimo-la assim única e exclusiva, devido à nossa própria percepção. A Fase Raiz, Fase Zero, Shoresh, corresponde à Luz chamada Keter. A fase um, Hochma, corresponde à Luz chamada Hochma. A fase dois, Bina, corresponde à Luz chamada Hassadim. A fase três, Zeir Anpin, corresponde à combinação das duas primeiras Luzes, Hochma e Hassadim.

A fase quatro, Malchut, corresponde novamente à Luz de Hochma.

Fase Behina/

Sefira

Tipo de Luz Mundo Desejo
Shoresh

(raiz; zero)

Keter Ohr Keter Adam

Kadmon

Doar
Níveis Acima              da Criação Aleph (um) Hochma Ohr               Hochma (Sabedoria)

Ohr Haya (Vida)

Atzilut Desejo

inconsciente   de receber

KLI Bet

(dois)

Bina Ohr     Hassadim

(Misericórdia)

Beria Desejo   de  doar

sem receber Luz

Gimel (três) Zeir               Anpin (ZA) /

Tifferet

Grande (90%) Ohr Hassadim Pequeno  (10%)

Ohr Hochma

Yetzira Desejo              de receber ao doar
Dalet (quatro) Malchut / Olam Ein Sof (Mundo      do

Infinito)

Ohr               Hochma alcança

Ohr Hassadim

Assiya (Reino       de desejos) Desejo expresso de receber

Tabela 1.

A palavra Hebraica para Luz é Ohr. Veremos a correlação entre Ohr Hochma e o Criador dando prazer, bem como Ohr Hassadim, a criatura rejeitando o prazer.

Toda a nossa existência é baseada num único fato. Tudo o que existe  no universo inteiro é o desejo do Criador em nos dar prazer e o nosso desejo por esse prazer.

Figura 2. Quatro Fases da Emanação da Luz

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Figura 2. Quatro Fases da Emanação da Luz

Tudo       no      universo

acontece por causa desta lei. Nós estamos completa e totalmente sob esta regra.  Todos os diferentes tipos de existência sejam eles, inanimado, vegetativo, animado ou falante querem receber prazer, para receber uma centelha da Luz.

Nós fomos criados com um único propósito: que quando recebêssemos a Luz         do        Criador,

sentiríamos            prazer infinito e duradouro, não de forma egoísta, mas sim de forma perfeita e absoluta. Se a Luz entra no Kli e o enche completamente, então este Kli não pode mais receber, porque o  desejo foi saturado pela Luz; e na ausência de um desejo, o prazer desaparece. É um círculo vicioso. Nós queremos              prazer, recebemos prazer, o prazer mata o desejo e então, o prazer não é mais sentido. Este é o problema que o sistema espiritual da Cabala cura. Nós só podemos receber infinitamente quando não recebemos para  nós  mesmos,  i.e.,

nós desfrutamos pelo prazer do Doador.

Então, a Luz que entra no Kli não neutraliza o desejo de receber. Por experiência, sabemos que quando estamos com fome e começamos a comer, após algum tempo não sentimos mais fome, mesmo que o prato mais delicioso esteja disponível.

O prazer é experimentado no limite entre o prazer em si, e o desejo por ele. No entanto, logo que o prazer entra no desejo e começa a satisfazê-lo, o desejo desaparece lentamente. E, se o prazer é mais forte que o desejo, pode até levar a repulsa.

Então nós temos um problema, mas a boa notícia é que também temos uma solução. O Criador concebeu um sistema que desse à Sua criatura um remédio para a sua situação desagradável. Se escolhermos sentir prazer ao satisfazermos os outros, em vez de senti-lo para satisfazermos a nós mesmos, o prazer nunca termina. Assim, vemos que este prazer depende do quanto  você dá. Quanto mais prazer você dá às pessoas, mais prazer sente. Em  outras palavras, eu vivo fora de mim, fora do meu próprio desejo de receber. Esta condição produz uma existência eterna, o estado de perfeição, que é um dos atributos do Criador. É exatamente a este estado que o Criador quer nos conduzir.

Num primeiro momento, esta idéia parece totalmente irracional. Mas pense nela por um momento. Suponha que tudo o que sabe está na verdade invertido, e em vez de experimentar prazer quando alguém faz algo para si, fosse o inverso. Imagine que cada vez que faz algo por alguém, você  recebesse este incrível prazer que ultrapassa de longe qualquer prazer já recebido ao ter feito algo só para si ou recebido de outra pessoa.

Neste caso, estaríamos nos enfileirando para dar e a quem não faria nenhuma diferença. Quanto mais dermos, mais recebemos prazer. Num piscar de olhos, o nosso mundo mudaria. E, tão louco quanto parece, este é o destino exato para o qual nos dirigimos.

Se a criatura, o Kli, escolhe apenas receber, ela fica presa numa armadilha. O problema é que, recebendo apenas para si, ela só sente o que está dentro dela. Se a criatura pudesse sentir o prazer do Criador em deleitar a criação, ela experimentaria o prazer infinitamente, como uma mãe, que dá de forma desinteressada ás suas crianças. Mas no seu estado atual, todos perdem.

Felizmente, nós temos um sistema perfeito para existirmos, mas, infelizmente, escolhemos não existir nele. Temos em nossas mãos, um conhecimento ilimitado, uma existência infinita, uma sensação de eternidade e harmonia. Dentro deste sistema, o Criador despeja Luz constantemente sobre as suas criaturas. Mas a criatura só recebe Luz se o fizer para agradar ao Criador. A Cabala chama a este sistema de Luz de Retorno (Ohr Hozer), por oposição à Luz Direta (Ohr Yashar) que o Criador envia. Ver Figura 3.

Mas, para que este sistema exista, a criatura deve ter um desejo que atraia aquela Luz Direta para ela. Anteriormente, falamos sobre uma tela que reflete como o tímpano ou a retina. É aqui que a tela entra. A tela deve ser colocada entre aquela Luz Direta e a criatura.

Esta tela, conhecida na Cabala como Massach, impede a criatura de receber para proveito próprio. Ela, apenas permite que a criatura aceite uma quantidade de Luz na proporção da sua própria força; aceita-a apenas por causa do Criador. A Cabala chama esta ação “receber para dar”. Desta forma, a criatura pode assemelhar-se ao Criador, ser como Ele. Noutras palavras, ocorre a seguinte troca: o Criador envia prazer à criatura, que o aceita sob a condição de que ao fazê-lo, agradará ao Criador.

Baal HaSulam cita o simples e eterno exemplo do convidado e do anfitrião. O anfitrião presenteia o seu convidado com uma mesa cheia de delícias. O convidado senta-se, mas não ousa comer, porque ele não quer  estar na posição de receber e não está certo se o anfitrião é sincero no seu desejo de lhe agradar. O convidado está envergonhado porque ele não tem nada para oferecer em retorno e só pode receber enquanto o anfitrião der. É por isso que o convidado recusa o que lhe é oferecido, para entender o verdadeiro desejo do anfitrião.

Se o anfitrião insistir, pedindo ao convidado para honrar a comida, assegurando-lhe que ficará muito satisfeito se o fizer, aí o convidado começará a comer. Ele fará isso porque está convencido que isto irá agradar ao anfitrião, e não sentirá que está recebendo do anfitrião, mas sim dando a ele, i.e.: ele dá prazer ao seu anfitrião.

Os papéis se inverteram. Mesmo que tenha sido o anfitrião a preparar toda a comida e se comporte como o que convida, ele entende claramente que o preenchimento do seu desejo de agradar depende unicamente do seu convidado. O convidado detém a chave para o sucesso do jantar e consequentemente domina a situação.

O Criador fez a criatura de tal maneira, que sob a influência da Luz ela se sentirá envergonhada por só receber. A criatura, usando livremente a sua liberdade de escolha, alcançará por fim um nível, onde não experimenta o prazer egoisticamente, mas sim para agradar o Criador. Estes atributos divinos, estes sentimentos, estão além da descrição e nós não podemos entendê-los. A entrada nos mundos espirituais, por adquirir apenas um grau de semelhança com o Criador já significa a eternidade, o prazer absoluto e a realização.

A ciência da Cabala estuda o desdobramento da Criação. Ela descreve  o trajeto ao longo do qual, o nosso mundo e todos os outros mundos — na verdade o universo inteiro — deve seguir enquanto realiza a sua correção progressiva (Tikkun) para alcançar o nível do Criador, o último grau de perfeição e eternidade. Nós devemos realizar este trabalho de correção enquanto vivemos neste mundo, nas nossas circunstâncias diárias,  e revestidos em nossos corpos.

Os Cabalistas já alcançaram este grau de perfeição e descrevem-no  para nós. Todas as almas sem exceção devem alcançar este último nível no seu devido tempo. Cada um de nós tem que começar do ponto inicial e eventualmente alcançar o ponto final. Não há livre-arbítrio para isto. Nem há livre escolha para alterarmos o caminho, porque todos temos que atravessar todas as fases e sentimentos e progressivamente integrá-los. Em outras palavras, nós devemos “viver” o caminho.

Retornemos às fases da Criação. As fases do desenvolvimento da criatura são divididas pelo que a Cabalá chama de Aviut. A espessura ou a grossura do desejo por prazer é chamada Aviut.

O que é espessura ou grossura? Quanto mais distante a criatura está do Criador, mais desejo ela sente, e mais Aviut ela tem. Por exemplo, na fase 0, Keter, e na fase 1, Hochma, não há nenhum (ou quase nenhum) desejo. Não há quase nenhuma grossura, nenhuma Aviut. Tudo está sob o poder do Criador, como um bebê que está para nascer, e que tem tudo pronto para ele. Mas, na última fase, que é a mais distante do Criador, Malchut, a criatura, tem  o desejo de receber mais intenso. É bom recordar que este desejo de receber vem da sua própria decisão e, por isso, é egoísta, voltado para si mesma.

Agora, a criatura está naquela fase quatro, Malchut. Na 1ª fase,  Hochma, a criatura simplesmente recebe, e recebe 100%. Você se lembra que durante o estágio Hochma, a criatura também é capaz de sentir os atributos do Criador. Isso é o que acontece novamente. Malchut começa a sentir o Doador.

Mas esta sensação, de quem está dando prazer, é diferente do primeiro caso. Há uma grande diferença entre a fase 1-Hochma e a fase 4-Malchut. Malchut é uma criatura independente, tomando a sua própria decisão de receber, enquanto que em Hochma, o Criador controla tudo.

Da combinação de sentir o Criador e tomar a sua própria decisão de receber, uma sensação totalmente nova é sentida pela primeira vez, a  sensação de vergonha. Malchut sente que o seu atributo de recepção é completamente oposto à Luz e ele tem consciência do seu próprio egoísmo. Agora, esta não é uma vergonha habitual, como quando sentimos ao sermos apanhados a fazer algo mau, mas uma vergonha imensa e intensa. Esta vergonha é sentida tão intensamente que Malchut decide parar de receber a Luz, e isto é o que ele realmente faz.

Esta rejeição da Luz por Malchut é chamada Primeira Restrição. Restrição em Hebraico é Tzimtzum. As letras Hebraicas também são números; assim 1 é Aleph, ou “primeiro.” Assim, a Cabalá chama a este ato Tzimtzum Aleph. Agora, mais uma vez, tudo está em equilíbrio, mas em sentido contrário, visto que Malchut não recebe e o Criador não dá.

Neste momento, eu sei o que vocês estão pensando, “Aqui vamos nós de novo!” Mas eu posso assegurá-los que ajuda está a caminho. Se tentarmos retratar isto em nossa mente, pode parecer como que algum tipo  de entusiasmo excessivo do desejo, querendo e querendo e querendo, mas ele não pode ter o que ele quer, devido à tortura que ele traz à pobre e miserável besta quando ela recebe.

A nossa criatura pondera infinitamente, surgindo finalmente com uma solução. Ela imitará o nosso exemplo do convidado e do anfitrião. Malchut afasta toda a Luz que entra, porque não quer se sentir como um receptor. Então, ela estabelece a condição de que aceitará uma parcela da Luz, não para o seu próprio prazer, mas porque quer agradar o Criador, porque sabe que o Criador deseja dar-lhe prazer.

Receber desta maneira é como dar; assim, Malchut está agora na posição de Doador. Lembre-se que Malchut primeiro rejeita tudo, depois  calcula quanto pode receber para o Criador. Somente após este cálculo ser feito, é que Malchut recebe mesmo a minúscula quantidade de Luz, e naturalmente, só com a intenção de agradar ao Criador.

O que tudo isto nos diz? O que temos descrito, o nascimento do desejo. Se um verdadeiro desejo é trazido à vida, vemos que a Luz precisa se submeter a quatro fases diferentes. Nós não contamos a fase de Raiz. Isto é exatamente o que acontece com cada desejo que você experimenta. Antes que os desejos sejam sentidos dentro de nós, este processo ocorre e atravessa todas as fases do desenvolvimento da Luz vinda do Criador até que por último nós os sentimos. É totalmente impossível que um desejo surja sem que antes surja a Luz. Isto é importante: A Luz vem primeiro, depois o desejo.

Agora vamos dar uma olhada na estrutura da criatura, como ela é em Malchut, Fase 4. A criatura é o Recipiente (Kli). No diagrama abaixo, há diversos tipos de Luz. A Luz Direta, que brilha diretamente do Criador, é chamada Ohr Yashar. A Luz que a Criatura (Malchut) rejeita inicialmente é chamada Ohr Hozer. É também conhecida como a Luz de Retorno, a Luz que a tela não deixa entrar.

Finalmente, a Luz que Malchut deixa entrar é chamada Luz interna, ou Ohr Pnimi, porque a força da sua tela é suficientemente forte que a aceita para o bem do Criador.

Figura 3. O Recipiente (Kli)

Nós falaremos da Luz Circundante, chamada Ohr Makif, mais tarde. Estude este diagrama até que você esteja familiarizado com os termos e o que eles significam.

Lembra-se da nossa história sobre o convidado e o anfitrião? Quando o convidado se depara com o anfitrião e a mesa cheia de delícias, ele primeiro recusa tudo, depois decide comer um pouco a fim de satisfazer o anfitrião, embora gostasse de devorar tudo de uma vez. Isto significa que a pessoa deve usar os seus desejos egoístas, mas de maneira altruísta. Á medida que o convidado começa a ponderar as coisas, ele compreende que não pode aceitar todo o jantar por causa do anfitrião; ele só pode aceitar uma pequena parcela.

Figura 4. O Partzuf

A nossa criatura aplica este conceito após fazer Tzimtzum Aleph, a Primeira Restrição. Lembre-se que, devido à intensa vergonha que Malchut sentiu após decidir receber 100% de Luz, ele realizou Tzimtzum Aleph e não recebeu nada. Mas se aplicar a idéia acima, ele aceita apenas uma pequena parcela de Luz, digamos 20 por cento, e então rejeita os restantes 80 por  cento.

Agora, vamos olhar para a criatura que existe no momento  em que decide aceitar só uma quantidade de Luz que recebe para o bem do Criador. Nós chamamos á combinação de um Kli e da Luz, um Partzuf, um ser emanado, uma criatura que tomou a decisão de restringir tudo o que não pudesse aceitar com a intenção de agradar ao Criador. Tal como com os nomes anteriores, Partzuf é o nome de uma condição da criatura, mas uma condição muito importante.

A Cabalá divide o Partzuf em três áreas principais: o Rosh, o Toch, e o Sof. A parte do ser criado que toma a decisão de quanta Luz ele pode aceitar dentro de si, para o bem do Criador é chamada Rosh (Cabeça). Pense nela como a parte que calcula, a parte que olha os dados e determina o que pode ser aceite baseado nesses dados. A parte que aceita a Luz é chamada Toch (parte interna). A última parte, que permanece vazia, é chamada Sof (Fim).  Este é o lugar onde o ser criado realiza uma restrição e já não aceita a Luz.

Você também pode observar que dentro de cada parte, há as sub partes que correspondem na globalidade às cinco fases da criação, Keter, Hochma, Bina, Zeir Anpin, e Malchut. Cada parte do Partzuf tem um pouco do todo em si mesmo. Isto será muito importante mais tarde, mas por agora, é bom recordar que cada coisa tem aquelas partes em si. Não importa como nós dividimos cada parte, ela contém sempre as suas partes interiores, e assim por diante e assim por diante até á infinidade!

Quanto ao modo como a Cabalá nomeia coisas, termos diferentes são atribuídos às várias partes da criação usando nomes de várias partes do corpo humano. Não há termos, marcas ou números nos mundos espirituais. Não obstante, é mais fácil e compreensível usar palavras.

Os Cabalistas escolheram se expressar numa língua muito simples porque tudo em nosso mundo resulta dos mundos espirituais, de acordo com as conexões diretas que descendem de Cima para baixo. Estas conexões vão de cada objeto espiritual para cada objeto em nosso mundo. Para tudo o que tem um nome em nosso mundo, nós podemos usar o nome de um objeto de nosso mundo, e usá-lo para designar o objeto espiritual que o origina.

Nenhum dos manuscritos da Cabalá autêntica menciona o nosso  mundo, nem uma palavra, embora eles possam usar a linguagem de nosso mundo. Cada objeto do nosso mundo refere-se a um objeto análogo nos mundos espirituais, mas a Cabalá fala somente do espiritual. Assim, quando nós falamos sobre a parte do Partzuf que é responsável pelo pensamento, cálculo e análise de dados, ela é chamada Cabeça, ou Rosh.

A tela, Massach, encontra-se entre Rosh e Toch num local chamado Boca ou Peh. Essa parte onde a Luz pode entrar é chamada Corpo, ou Guf. Há uma parte onde a Luz não é permitida, porque a criatura determinou aceitar apenas uma determinada quantidade. Essa parte é chamada Sof. A parte que divide Toch e Sof no Guf é chamada Tabur, ou Umbigo. A parte mais baixa do Partzuf onde não há absolutamente Luz nenhuma, é chamada Sium, significando conclusão. A totalidade da criatura é chamada Malchut.

Vejamos o exemplo de uma pedra em nosso mundo. Há uma Força de Cima que gera esta pedra: consequentemente, ela será nomeada “pedra.” A única diferença é que “a pedra espiritual” é uma raiz espiritual dotada de atributos específicos, que por sua vez corresponde a um ramo em nosso mundo, classificado como “pedra,” um objeto material. Foi assim que a linguagem dos ramos foi criada. Por meio de nomes, de denominações e de ações em nosso mundo, nós podemos nos reportar aos elementos e às ações nos mundos espirituais. Assim, o que está em Cima, é como o que está em baixo.

 

LIÇÃO 2

Parabéns! Você já concluiu a primeira lição. Mas a pergunta persiste: “O que tudo isso tem a ver comigo?” A resposta é simples: “literalmente  tudo”. Veja, nós fomos criados por uma única razão: receber prazer absoluto,  completo e ilimitado. Mas para que isso ocorra, devemos saber como funciona este sistema chamado “mundos espirituais”. Cada lei sob o qual o  nosso mundo opera descende do mundo espiritual. É onde as nossas almas estavam antes de nascermos, e é para onde elas retornam após o fim de nossas vidas.

Contudo, só estamos interessados na parte intermediária, entre aqueles dois eventos, aquele período onde somos encerrados dentro deste corpo físico e temos um batimento cardíaco. É nisto que a Cabalá nos auxilia — como usar tudo nesta vida para cumprir o objetivo de experimentar o Criador. Para ascender espiritualmente, precisamos saber tudo e usar todas as  possibilidades que nos são oferecidas.

Primeiro, devemos aprender sobre tudo o que está à nossa volta neste mundo em que vivemos. Nós precisamos compreender as diferentes categorias de existência: inanimada, vegetativa, animada e falante, e como elas  funcionam. Depois, devemos compreender-nos a nós mesmos. Eu não falo do animal no qual estamos encerrados, mas da alma dentro desse animal. Nós precisamos compreender como ela cresce, que parte podemos ativar para o seu desenvolvimento e, então, fazer tudo o que pudermos para avançarmos  em nossa ascensão espiritual.

Isto acontece naturalmente, mas o processo é extremamente lento, sangrento, doloroso e termina exatamente onde você está hoje – aprendendo como acelerar o processo de forma consciente. Deste modo, terminamos com uma escolha. Nós podemos tomar a responsabilidade em nossas  próprias mãos e fazer de boa vontade o que o Criador nos reserva, ou podemos ser coagidos pelo Criador através do sofrimento. Este último caminho é chamado  “o caminho da dor.” Particularmente, eu prefiro o caminho menos doloroso e concordarei em fazer o que for preciso para evitá-lo.

A Sabedoria da Cabalá não nos diz como devemos cuidar de nossos problemas neste mundo. Não cura as nossas dificuldades financeiras nem nos ajuda a encontrar um cônjuge. Mas nos diz exatamente como atingirmos as nossas responsabilidades espirituais e, não sermos forçados a avançar através de mais problemas. Desta maneira, ela nos ajuda a resolver o problema principal a partir do qual todos os nossos problemas diários nos são enviados. Todos os nossos sofrimentos e dores de cabeça são atirados para a nossa frente por uma única razão: para nos levar ao ponto de partida da nossa ascensão espiritual.

Mas, depois que descobrirmos como tudo funciona — as leis dos mundos espirituais, quem as envia até nós e porquê — podemos usar os nossos  desafios diários para ajudar a nos comportarmos corretamente e a nos dirigirmos mais adiante em direção ao Criador.

Entre a parte mais inferior do último mundo espiritual, o mundo de Assyia, e o nosso mundo, este mundo corporal em que nós existimos fisicamente, encontra-se uma barreira conhecida na Cabalá como Machsom. Quando cruzamos esta barreira e entramos nos mundos espirituais, nós começamos um caminho de 6.000 degraus em direção ao resultado final chamado o Fim da Correção – Gmar Tikkun. Cada vez que subimos um degrau nesta escada, isso representa a remoção de uma camada da ocultação do Criador.

O Fim da Correção resulta na correção de todos os nossos desejos. O primeiro estágio no estudo da Cabalá consiste em ler o máximo possível de livros apropriados e “digerir” o máximo de conhecimento. O próximo estágio é o trabalho em grupo, quando os desejos do estudante e do grupo se fundem. O Kli do estudante amplia-se proporcionalmente ao número de membros no grupo.

No estágio do trabalho em grupo, é o grupo que simboliza o Criador, visto que tudo o que está situado fora de nós, é o Criador. Desde sempre, os Cabalistas tiveram grupos. Somente dentro da estrutura de um grupo, baseado nos laços mútuos nutridos por seus membros, é que os estudantes avançam  na sua compreensão dos mundos espirituais.

O estudo da Cabalá é, de fato, um processo de duas partes. Na primeira parte, nós estudamos a Criação e a sua descida desde o pensamento inicial do Criador até o nível do Nosso Mundo. A segunda parte é o estudo da viagem de ascensão, pelo mesmo caminho, a partir de nosso estágio atual até o nível  mais elevado. É importante notar que o corpo físico não vai a nenhum lugar; nós permanecemos onde estamos. Nós ascendemos de uma  forma  espiritual, que surge a partir de nossos esforços e do desenvolvimento resultante desses esforços.

Na primeira lição, nós estudamos os estágios iniciais do processo da criação e as partes da criatura. Agora que aprendemos um pouco sobre a anatomia da criatura, vamos continuar. Você se recordará que a criatura  decidiu não absorver toda a Luz, mas somente uma parte dela, digamos 20%. Os outros 80% foram deixados de fora. Esta Luz é chamada de Luz Circundante ou Ohr Makif.

A Luz que é aceite está localizada no Toch, o corpo, e a Luz Circundante, o Ohr Makif, começa agora a influenciar a criatura. Ela diz, “Você vê como é agradável aceitar uma parcela da Luz? Você não  sabe  quanto prazer permanece de fora, tente pelo menos aceitar mais um pouco”. Nós compreendemos que é melhor não experimentar qualquer prazer do que experimentar apenas uma minúscula porção dele. O prazer exerce uma pressão tanto externa quanto interna, e assim, ele se torna muito mais difícil de ser combatido. Você já tentou comer só um pedaço de batata frita?

É mais fácil não comer nenhuma batata se só pudermos comer uma.  Nós podemos estar dias, semanas, ou meses sem uma batata, mas conseguiremos comer apenas uma? O Partzuf é a mesma coisa. Quando ele não absorvia nenhuma Luz, ele podia permanecer nesse estado por muito tempo. Mas agora, essa Luz está dentro; é como você apreciar o gosto da batata no momento em que a come, e também olhar e ver o saco inteiro ali. Há pressão dos dois lados. Você está apreciando-a no interior, e vê que ainda há muito mais.

Agora, o Partzuf está sendo pressionado tanto de dentro quanto de fora. Mas ele já calculou quanto ele pode aceitar para o bem do Criador. Se ele aceita até mesmo a menor porção de Luz extra, esta minúscula porção de Luz  o sentencia a receber para si mesmo e a sentir a terrível vergonha, que é muito pior do que não ter o prazer.

Só há uma coisa que ele pode fazer. Ele só pode rejeitar a Luz que tem dentro, de modo a que possa retornar ao seu estado inicial de vazio, antes de aceitar qualquer Luz. E é exatamente isto que a nossa criatura, o Partzuf, faz.  A Luz que foi aceite para o bem do Criador é chamada Ohr Pnimi. A Luz Circundante que era a Luz não permitida no interior é chamada Ohr Makif.

A pressão que estas duas luzes exercem ao mesmo tempo sobre a tela (Massach) e o umbigo (Tabur), é o limite no Partzuf que separa o Toch e o Sof, é chamada de “batida (golpe) dentro e fora.” Em Hebraico ela é chamada  Bitush Pnimi. Em outras palavras, estas duas Luzes exercem pressão no limite que divide as áreas onde a criatura aceitou o prazer e não aceitou o prazer.

O que está realmente ocorrendo dentro do Partzuf? A Luz foi aceita dentro da boca, Peh, e empurrou a tela para baixo até ao nível do Tabur que igualou aqueles 20% que a criatura calculou que poderia aceitar para o bem do Criador. O Tabur (o Umbigo) é o lugar no Guf (o corpo), onde a criatura decide que não deve aceitar nenhuma Luz abaixo do Guf. Quando a criatura  determina que não possa suportar a pressão e que deve expelir a Luz de seu corpo, a Massach (tela) sobe de volta até a boca (Peh), empurrando a Luz para fora. Na verdade, não significa que a criatura não possa suportar a pressão. Significa, que o que a criatura descobre é que isto não satisfaz o objetivo: receber apenas com a finalidade de satisfazer o Criador.

Então, como a criatura sabe o quanto ela deve aceitar? Como ela chegou à medida de 20%? Este é o departamento da Rosh. Antes que a criatura deixasse entrar qualquer Luz dentro do Toch, ela já tinha toda a informação necessária para tomar a decisão. Ela sabia que tipo de Luz era que tipo de prazer traria, qual era o seu desejo, e quão forte a sua força é, oposta ao prazer para seu próprio bem.

Lembre-se que a primeira coisa que o Partzuf faz, é recusar a Luz, rejeitando-a completamente. Esta Luz é chamada Ohr Hozer (Luz de Retorno). Dentro desta Luz está toda a informação necessária para a Rosh calcular. De acordo com esta informação, assim como da informação resultante do estado quando o Partzuf foi preenchido com a Luz, e do estado seguinte à restrição da Luz, o Partzuf mantém uma memória do passado, uma marca chamada Recheio.

Então, o que realmente existe no espiritual? Somente o desejo de se deleitar e os prazeres que satisfazem esse desejo. Você deve se lembrar do termo Aviut, toda a informação sobre o desejo que a criatura tem. A Rosh tem esta informação, assim como a informação sobre a Luz. O processo de expansão desta Luz dentro do Partzuf é chamado Hitlabshut (vestir). A pessoa pode realmente dizer que há somente o Criador e a Criação.

Cada vez que a criatura expele a Luz e começa então a calcular, ela tem a informação do seu estado anterior. Tem uma memória do desejo e uma memória de como a Luz era.

Figura 5. Cinco Partzufim: Galgalta, AB, SAG, MA, BON

Em termos Cabalísticos, ela tem Reshimo de Aviut (o desejo) e Hitlabshut (a Luz). Isto é tudo o que ela precisa a fim de saber exatamente o que ela sentiu quando a Luz foi aceita pela última vez. Agora, pode fazer cálculos apropriados sobre o que fazer em seguida e como executá-los.

A primeira vez que a Luz é trazida para o interior do Partzuf, recebe o nome de Galgalta. Depois que a criatura rejeita a Luz (porque a pressão é muito grande para suportá-la), ela tenta, mais uma vez, aceitar a Luz, digamos 15%. Mas, para isso, o Toch deve encolher, e é exatamente isso que ele faz. O Toch (Interior) diminui em tamanho, permitindo à Rosh (Cabeça) atingir somente onde a Peh (boca) estava antes. O novo local da Peh está num local chamado Quase (Tórax) do Partzuf anterior, Galgalta. Este novo Partzuf é chamado AB. Nós falaremos mais sobre este processo, adiante.

Na verdade, existem cinco Partzufim (plural de Partzuf) diferentes no mundo espiritual. Os nomes são Galgalta, AB, SAG, MA e BON. Lembre-se,  um Partzuf é uma fase espiritual, um mecanismo de cálculos que calcula de forma independente, como se corrigir e onde receber para dar ao Criador. Em cada Partzuf, menos e menos Luz é aceita.

Então, como são determinados os níveis de Aviut (desejo) e de Hitlabshut (Luz)? Na verdade, isto começa quando Galgalta tem um Aviut de nível 4 e um desejo de nível 4. Lembre-se, que ela aceitou toda a Luz, e depois a rejeitou. Ela tinha os níveis máximos da Luz e do desejo. Para abreviamos o modo como isto é escrito (Luz, Desejo) e neste caso (4,4) quando falamos sobre estes fatores determinantes para os cálculos.

O Partzuf seguinte, neste caso chamado AB, mantém estes dados e reduz o seu nível para igualar o nível (4,3) – nível de Luz 4 e nível de desejo de apenas 3. Deste modo, ele sabe que pode aceitar a Luz com segurança.

Para SAG, o nível será (3,2) e assim por diante. Cada  Partzuf reduz cada vez mais e mais a sua capacidade de encher o seu corpo (Guf) com a Luz, para o bem do Criador. É importante notar que nada se perde na espiritualidade. Cada parte precedente está dentro da parte atual. Na realidade, o que está sendo descrito aqui é um sistema, não uma evolução.

Como foi dito anteriormente, há cinco Partzufim para cada mundo e há cinco mundos: Olam Adam Kadmon (Olam significa mundo),  Olam  Atzilut, Olam Beria, Olam Yetzira, e finalmente Olam Assiya. Cinco mundos, com cinco Partzufim cada um, significa que há 25 Partzufim, que surgem de cima para baixo.

O nosso mundo é um estado de Malchut (vontade absoluta de receber), que é caracterizado pela ausência de uma tela, significando que falta a exigência básica para ser considerado um Partzuf.

Retorne ao diagrama (figura 4) da lição anterior e dê uma rápida olhada. No Partzuf mostrado, há realmente duas condições diferentes que podem ocorrer nele. A primeira condição é quando ele aceita a Luz do Criador e aprecia o prazer. Esta condição é chamada Hochma. Lembra-se da primeira fase (Fase Aleph), chamada Hochma, quando a Luz do Criador entrou no Kli e o satisfez? Podemos pensar se há alguma correlação entre esta fase e esta condição. Eu posso assegurar que isto não é uma coincidência.

A segunda condição ocorre quando o Partzuf só quer dar e ser como o Criador, e também aprecia esse estado. Esta condição é chamada Bina. Lembra-se da segunda fase, conhecida como Fase Bet, também é chamada Bina. É óbvio que estas duas condições, Hochma e Bina, são exatamente opostas. A primeira tem a haver com recepção e a segunda com doação.

Na verdade, há uma terceira condição. É uma condição mista onde a criatura só aceita um pouco de Luz, apenas na quantidade que ela  pode receber a fim de satisfazer o Criador. O resto do Partzuf permanece vazio. Eu tenho a certeza, que você já adivinhou que esta condição é chamada Zeir Anpin.

É importante saber que há dois tipos de Luz. A Luz de Hochma é a Luz do prazer. A Luz de Hassadim é a Luz da correção. É a luz que constrói a Massach, a tela.

Como exemplo, digamos que nós temos 10% da Luz de Hochma e 90% da Luz de Hassadim. Esta condição cairia na categoria de “mista” e seria chamada Zeir Anpin.

O estágio final é a nossa criatura bestial, Malchut. É o verdadeiro vale- tudo, o estágio de 100% “me-dá-isso-porque-eu-quero”, do desejo de receber. Esta condição tem outro nome: Ein Sof, que significa o “Mundo do Infinito”. Infinito aqui não é como o termo científico, infinito, mas relaciona-se à recepção ilimitada, a característica de Malchut. Isto é o que aconteceu antes da primeira restrição; Malchut engoliu tudo por sua própria vontade. Mas, também sofreu  as conseqüências: o terrível sentimento de vergonha.

Na verdade, esta aceitação inicial de cada porção da Luz é uma necessidade absoluta. A fim de sentir a vergonha espiritual resultante da recepção sem dar nada em retorno, é, antes de mais nada necessária para perceber o Criador, perceber as Suas propriedades, senti-Lo como o Doador, para então ver a Sua glória. Depois, a comparação entre as Suas propriedades e a natureza egoísta da criatura causará o sentimento de vergonha.

Nós não somos diferentes. A nossa primeira tarefa é simplesmente perceber o Criador. Mas isto requer muito esforço. A glória do espiritual, o Criador, não acontece de uma vez; ela se revela diante de nós. Ao fazê-lo, a primeira coisa que aparece em nós é um desejo de fazer algo para Ele.

Nós vemos isto a todo o momento em nosso mundo. Quando alguém tem a oportunidade de fazer algo para uma pessoa muito famosa, tal como  uma estrela de cinema ou um líder de governo, ela irá fazê-lo com prazer e alegria. Se o presidente dos EUA ou a nossa estrela de cinema favorita nos pedisse um favor pessoal, não importa qual seja a nossa filiação política, nós provavelmente correríamos para fazê-lo, simplesmente por causa da importância da pessoa que está pedindo. Este tipo de trabalho é considerado um privilégio, não trabalho, porque recebemos muito prazer ao sermos permitidos fazer a tarefa.

O objetivo de nosso trabalho é a revelação do Criador, Sua Glória, e Seu Poder. Uma vez este nível alcançado, o que nós testemunhamos servirá como fonte de energia para fazer algo em benefício do Criador. Deve-se enfatizar  que esta revelação do Criador só ocorrerá quando a pessoa tiver adquirido um desejo definitivo de usar a revelação somente para fins altruísticos, isto é, alcançar os atributos altruísticos, ou de doação.

Agora, voltemos á nossa criatura. Malchut rejeitou toda a Luz (100%) e, na verdade, ainda quer receber Luz, mas não quer usar a sua própria vontade de devorar tudo. Ela sabe que, se agir com a sua própria vontade e receber para o seu próprio proveito, distancia-se mais do Criador. Então, ela faz a Primeira Restrição, chamada Tzimtzum Aleph. Ao fazer isto ela retorna ao estado de vazio, mas também equivale ao Criador.

Este ato de dar causa um sentimento de ser absoluto e completo. Pode parecer que estar vazio e completo seja uma contradição. Mas não falamos de vazio como quando estamos com fome. Este vazio é a falta da necessidade do prazer. No nosso mundo, isto corresponderia a estar satisfeito. Isto é, porque o prazer recebido não desaparece. A pessoa que está dando sente a  outra pessoa que está recebendo, enquanto está dando e enviando prazer. Assim, a criatura é capaz de sentir constantemente o prazer de duas maneiras, na qualidade e na quantidade.

O Criador criou Kelim (Kli no plural) de uma maneira totalmente engenhosa. Eles são organizados de tal forma  que  absorvem progressivamente  o  atributo  da  Luz  –  de  dar  inexoravelmente.  Através  do processo de absorção, eles se tornam similares à Luz. Mas como pode Malchut se assemelhar à Luz e ainda receber prazer?

Anteriormente, nós falamos sobre como Malchut colocou uma Massach, uma tela, em todos os seus desejos, tornando impossível receber para seu próprio proveito. Assim, quando a Luz chega a Malchut, a Criatura afasta cada porção de prazer. Em seguida, decide que só absorverá a quantidade de Luz que pode, para agradar ao Criador. Se ela recebe deste modo, é o mesmo que dar sem restrição.

A partir da condição de Malchut no Mundo de Ein Sof, onde Malchut ainda devora tudo o que pode e, então, faz o Tzimtzum Aleph, permanece uma memória, uma Reshimo. Esta Reshimo é composta de: (I) nível 4 de Hitlabshut (informação sobre a qualidade e quantidade de Luz) e (II) nível 4 de Aviut (informação sobre a força do desejo). Usando estes dois tipos de memória, Reshimo da Luz e Reshimo do desejo, Malchut realiza um cálculo em sua Rosh (cabeça). Ela determina que pode receber os primeiros vinte por cento da Luz para o bem do Criador.

Vamos reduzir isto a percentagens. Observe o que está acontecendo e veja para onde toda esta Luz vai. Os 100% da Luz que vem até Malchut é chamada Ohr Yashar (Luz Direta). Toda esta quantidade de Luz é rejeitada, recebendo o nome de Ohr Hozer (Luz de Retorno). Malchut decide absorver 20% da Luz. Esses vinte por cento da Luz que entram é chamada Ohr Pnimi (Luz Interna). A maior parte da Luz, os restantes 80%, é chamada Ohr Makif (Luz Circundante).

Você recordará que há cinco Partzufim em cada mundo no plano espiritual. Os Partzufim são chamados Galgalta, AB, SAG, MA e BON. Galgalta foi o primeiro Partzuf a receber uma porção da Luz. Depois que a criatura decidiu que a pressão tanto de dentro quanto de fora para aceitar mais Luz era demais, ela expeliu toda a Luz. Isto porque, mesmo se ela absorvesse a menor porção de Luz adicional, ela sentiria uma imensa vergonha.

À medida que a Luz entra no Partzuf, a tela desce da Peh até o Tabur. À medida que Galgalta afasta a Luz, a tela retorna à Peh (boca) que divide a  Rosh (cabeça) e o Toch (Interior) e, mais uma vez, o Partzuf está vazio. Neste momento tudo está novamente perfeito, porque nenhum prazer pode ser sentido neste estado. À medida que a tela sobe de volta à Peh, ela enfraquece e o Aviut diminui.

Todo este processo de retirada da Luz de um Partzuf é conhecido como Refinamento, Hizdakchut em Hebraico. Mas, por outro lado, durante o Hitpashtut (expansão da Luz no Partzuf), a tela se torna mais espessa. Em outras palavras, o Aviut aumenta realmente.

Este Aviut (desejo) crescente e decrescente tem sentido se, realmente olharmos o que acontece. À medida que a Luz entra no Partzuf e baixa a tela, uma maior pressão é colocada sobre a tela que mantém a Luz do lado de fora. Isto porque, a tela está sendo pressionada pela Ohr Pnimi, a Luz interna, e também pela Ohr Makif, a Luz externa. Como a pressão aumenta o desejo também. Mas, quando a tela sobe e empurra a Luz para fora, a pressão  diminui. Á medida que a pressão do exterior e do interior enfraquece, o desejo (Aviut) diminui.

Uma vez que toda a Luz foi rejeitada de Galgalta, a criatura ainda tem memórias. Estas Reshimot (plural para Reshimo) referem-se à qualidade da Luz, assim como a quantidade aceita (nível 4 – Hitlabshut), e Reshimot sobre a força do desejo que Galgalta tinha (Aviut).

Mas o nível do desejo registrado não era nível 4; era nível 3. Por quê? Uma medida de Aviut desapareceu, porque o Partzuf percebeu que é impossível trabalhar com um desejo nesse 4º nível. Assim, agora as Reshimot são descritas (4,3), Luz de nível 4, mas força do desejo no nível 3.

Assim, pelo Aviut ter diminuído para o nível 3, a tela, Massach, desce de sua posição anterior, tornando-se a Peh de Rosh, num nível mais inferior, que corresponderá a uma força do desejo igual ao nível 3. Lembre-se dos níveis de: Keter – Fase 0, Hochma – Fase 1, Bina – Fase 2, Zeir Anpin – Fase 3, e  Malchut

– Fase 4. Quando você voltar atrás, à figura 4, estes níveis interiores dentro do Toch do Partzuf tornar-se-ão mais claros.

Após a Hizdakchut, a retirada da Luz, a tela é baixada de um nível, uma seção. Isto significa que a tela desce para, entre as seções de Keter e de Hochma no Toch. Em Galgalta, este local é conhecido como Chazeh, o local do nível 3.

Agora, todo o processo recomeça. Mais uma vez, a Luz pressiona a Massach (tela) de cima. Primeiro, a tela rejeita 100% da Luz como antes. Depois, a criatura faz um cálculo para aceitar um pouco da Luz, mas, novamente, somente até o Tabur de Galgalta. Mas lembre-se, a tela desceu  um nível; assim, haverá menos Luz entrando. O processo de Hitpashtut (expansão da Luz) está acontecendo de novo.

Assim que a Luz alcança o Tabur (o umbigo), a tela começa a sentir a pressão tanto de dentro quanto de fora, como antes. A criatura deve se livrar  da Luz como da primeira vez. A tela sobe, perdendo Aviut. Finalmente, quando a tela retorna ao Rosh, a cabeça, novas memórias, Reshimot, enchem o Partzuf. Desta vez os níveis são (3,2). Lembre-se, isto significa que o registro da Luz diminuiu em um grau, para o nível 3 de Hitlabshut e a memória do Aviut diminuiu para o nível 2.

Como antes, a tela diminui para um nível correspondente ao seu nível  de Aviut e o Partzuf encolhe mais uma vez. Agora, a tela está no nível entre Hochma e Bina, de Galgalta, onde Chazeh existe em AB, o segundo Partzuf. Este novo Partzuf é conhecido como SAG.

Mais uma vez, a tela diminuiu e, novamente acontece o que aconteceu nos primeiros dois Partzufim. A tela sobe de volta até Peh do Rosh de SAG, e as Reshimot diminuem para (2,1). O novo Partzuf criado no processo é chamado MA. Após, o mesmo processo acontecer como em MA; as Reshimot de (1,0) surgem da Hiztakchut (retirada da Luz) de MA e o Partzuf final, BON, é formado.

Cada Partzuf consiste de cinco partes: Shoresh – Keter (raiz, 0), Aleph – Hochma (1), Bet – Bina (2), Gimel – Zeir Anpin (3) e Dalet – Malchut (4). Não há um desejo que você tenha tido, tem, ou terá, que não contenha estes níveis. Nenhum desejo surge sem eles. Esta formação é um sistema rígido que nunca muda.

Este último nível, Dalet ou Malchut, sente todos os outros quatro desejos precedentes. Estes desejos são os que o Criador usou para criar. Malchut nomeia cada um destes desejos e são estes nomes que descrevem como a criatura percebe o Criador seja qual for o momento.

É exatamente por isso que o Kli é chamado pelo nome do Criador: “Yod- Hey-Vav-Hey”  –  Y-H-V-H.  Estas  letras  representam,  os  desejos  dos  quais somos feitos, são estudados exaustivamente na Cabalá. Eles formam algo parecido com o esqueleto de uma pessoa. Esta pessoa pode ser grande ou pequena, magra ou obesa, mas ela permanece sempre uma pessoa.

Antes de terminarmos esta lição, vamos esclarecer algumas coisas. Os Partzufim que são preenchidos com a Luz de Hochma são chamados Galgalta e AB. Se eles forem preenchidos com a Luz de Hassadim (Misericórdia), eles serão chamados SAG, MA e BON. Todos os diferentes nomes dos Partzufim são baseados na combinação destas duas Luzes que existem dentro de um particular Partzuf. Tudo o que está escrito na Cabalá, assim como na Torá nada mais é do que Partzufim espirituais que estão preenchidos ou com a Luz de Hochma ou com a Luz de Hassadim, ou com ambas, mas em proporções diferentes.

Após o nascimento dos cinco Partzufim: Galgalta, AB, SAG, MA e BON, todas as Reshimot desaparecem. Todos os desejos que poderiam ser preenchidos com a Luz, para o benefício do Criador, foram esgotados. Neste estágio, a tela perde completamente a habilidade de receber a Luz para o Criador e só pode resistir ao egoísmo se não receber nada.

Então, o que acontece aqui é que Malchut faz a Primeira Restrição e então, pode receber cinco porções da Luz. Você recordará que nós falamos sobre os mundos espirituais. Que o primeiro mundo mencionado, Adam Kadmon, é composto pelos cinco Partzufim que foram recém-criados. Malchut completou todas as suas cinco Reshimot.

No início, no Mundo de Ein Sof (Infinidade), Malchut foi completamente preenchido com Luz. Após a Primeira Restrição, e por causa deste sistema dos Partzufim, ele absorverá a Luz somente até ao nível do Tabur. Agora, Malchut deve preencher a parte que está abaixo do Tabur, chamada Sof (Fim) e disseminar a Luz por ele abaixo, até Sium (Conclusão).

O Criador quer preencher Malchut com prazer ilimitado. Tudo o que é preciso para que isto aconteça é criar as condições para que Malchut tenha o desejo e o poder para encher a parte restante, ou, em outras palavras: enviar o prazer de volta ao Criador.

 

LIÇÃO 3

Certamente existem muitos conceitos novos nos dois primeiros capítulos e apesar de um considerável esforço ter sido feito para simplificar o material, você pode estar com uma sensação de estar confundido com estes novos termos. Por essa razão, você pode querer rever os dois primeiros capítulos algumas vezes. O material nas lições é apresentado de uma forma bastante técnica e seca, mas são projetados desta forma de propósito.

Para todos vocês, com esse ponto no coração exigindo respostas, e que têm um desejo sincero para conhecer esta grande Sabedoria, esse mesmo desejo que os motiva a continuarem os seus esforços, também desperta o que a Cabalá chama de Ohr Makif. Você deverá se lembrar que se trata de Luz Circundante. Esta Luz especial aumenta ainda mais o desejo de um aluno em perceber o Criador. Quando chegar a hora certa, você receberá mais ajuda de um professor qualificado, bem como através do trabalho com os outros,  que têm o mesmo desejo ardente dentro deles.

Vamos recomeçar. Tínhamos terminado no ponto em que a Luz entra e sai do Partzuf. Refiro-me aqui, a um desejo que está sendo ou não preenchido. Quando a Luz entra no Partzuf, é como um desejo que está sendo preenchido, deixando-nos com um sentimento de totalidade e prazer. Quando a Luz sai do Partzuf, acontece o contrário, e nos sentimos frustrados, como se faltasse algo. Este sentimento surge em nós, embora não exista este sentimento de vazio ou de falta no mundo espiritual.

Assim, se o prazer, Ohr Hochma, sai do Partzuf, então a Ohr Hassadim permanece. Quando esse prazer (Ohr Hochma) é expulso do Partzuf, o Partzuf sabe exatamente o que acontecerá ao recusar essa quantidade de prazer. Em outras palavras, se tem uma tela que rejeita a satisfação egoísta, esta é substituída pela Ohr Hassadim, ou prazer altruísta. Este prazer é mais elevado e mais forte do que o prazer egoísta. A nossa tarefa é aprender a sentir este prazer.

Se o Partzuf, a alma, compreender que não pode receber sob a  condição de satisfazer o Criador, mas apenas para satisfazer a si mesma, ela recusará o prazer. É óbvio que para tomar essa decisão, ela deve ter alguma ajuda. Esta ajuda virá de uma força oposta – algo que tenha o poder de rejeitar o prazer. É aqui que entra a tela – a Massach.

Então, se tivermos uma tela para impedir que a Luz entre, o  Kli começará a perceber a Luz, e não a escuridão. Se não houver nenhuma tela, então a luz simplesmente entrará. Em tal estado não há nenhuma oposição, e qualquer percepção é impossível. Isto seria igual à chama de uma vela que fosse anulada pela luz de uma tocha. Outro exemplo: uma pessoa sem  tímpano. Sem essa tela na orelha, todos os sons entram, mas não há nenhuma “audição”. O que torna o Kli capaz de construir uma tela é a ausência da Luz durante a Primeira Restrição realizada pelo Kli.

Nós possuímos vários desejos, mas um desejo só pode ser considerado espiritual quando uma tela é colocada na entrada do Partzuf. A tela opera como que uma espécie de válvula, permitindo a entrada da Luz somente sob a condição de satisfazer o Criador.

Assim, o nosso principal objetivo é receber essa Luz na alma, no  Partzuf. Assim que a Luz entra no Kli, começa a afetá-lo, transferindo os seus próprios atributos ao Kli. Logo que isto acontece, nós sentimos a diferença  entre as nossas propriedades (receber) e as propriedades da Luz (dar). Este processo nos faz sentir envergonhados de receber a Luz, e ao mesmo tempo, faz com que queiramos nos assemelhar à Luz.

É importante notar que a Luz Espiritual (prazer a partir da percepção do Criador) não pode mudar a natureza do Kli: de receptor para doador. Ela só  tem a capacidade de mudar para quem o Kli recebe o prazer, ou a intenção. Eu estou recebendo porque eu quero o prazer para mim, ou eu estou recebendo a fim de satisfazer o Criador?

Se o Kli escolhe usar-se a si mesmo deste modo, ele é chamado “recebendo para o propósito de dar.” É uma situação onde todos ganham. O  Kli, Malchut, começa a apreciar receber a Luz. Ao mesmo tempo, Malchut também retorna prazer ao Criador. Este circuito de prazer é interminável (contínuo).

Para explicar isto melhor, vamos voltar atrás, até á Fase Um (Hochma). Este é o local onde a Luz Direta (Ohr Yashar) entra no Kli. Malchut recebeu o prazer desta Ohr Yashar. Naturalmente, a sensação de Doador cancela esta Luz.

Mas em nossa condição onde a Luz descende até ao nosso mundo, e desta vez retornada usando uma tela, a Massach, Malchut faz a mesma coisa, enche-se toda com a Luz, mas desta vez a sua intenção é agradar ao Criador. Isto permite que ela alcance a Luz Infinita. Não há nenhum cancelamento. Graças a este processo, todos os seus desejos, tanto o menor quanto o maior, conduzem ao prazer infinito. Isto é conhecido pela expressão “sentimento de totalidade e unidade”.

Lembra-se que nós temos cinco Partzufim: Galgalta, AB, SAG, MA, e BON. Quando Galgalta encheu e depois rejeitou a luz, AB foi criado e assim  por diante até BON. Mas este não é o fim da história. Lembra do local chamado Tabur onde era impossível receber a Luz em Malchut? O nosso objetivo agora é remediar essa situação.

O problema é que os desejos abaixo do Tabur não têm uma tela; então eles não podem ser preenchidos com Luz. A boa notícia, é que há uma parte desta máquina espiritual projetada para fazer isso. É um novo Partzuf chamado Nekudot de SAG. O que isso significa? Significa que o Partzuf Nekudot é um tipo de sub-Partzuf que surge quando a Luz está saindo do Partzuf SAG. Este Partzuf é único e pode realmente ir abaixo do Tabur, corrigindo aí  todos aqueles desejos extremamente poderosos.

Para compreender o porquê, é importante recordar os nomes dos diferentes Partzufim: Galgalta – Keter, AB – Hochma, SAG – Bina, MA – Zeir Anpin, e BON – Malchut. Lembra o Estágio 3 chamado Fase Bet? Neste estágio o Kli só quer dar, e esta é a característica exata de SAG, chamada Bina. Bina não se importa mesmo nada com receber; quer somente dar, dar Ohr  Hassadim sem restrição, para ser como o Criador. Isto a torna absolutamente perfeita para se expandir abaixo do Tabur e lidar com aqueles Kelim que não podem receber a Luz atualmente.

Você também se deve lembrar que todos os Partzufim são construídos de memórias (Reshimot ou registros) do Partzuf precedente. Há dois tipos de Reshimot: Reshimo da Luz, chamada Hitlabshut e Reshimo do desejo, chamada Aviut.

A separação ocorre assim: Galgalta é construído sobre Reshimot (4,4); AB é construído sobre (4,3); SAG é construída sobre (3,2); MA é construído sobre (2,1) e BON é construído sobre (1,0). Agora, vejamos SAG. Este Partzuf é construído sobre uma memória do prazer (Luz) com uma força de 3 e uma memória do desejo construída com uma força de 2.

No momento em que a Luz sai do Partzuf SAG, ela ascende através daqueles estágios do Partzuf que nós já aprendemos (veja a figura 4). Quando a luz sai do interior do nível Bina desse Partzuf, as Reshimot deixadas são (2,2): a combinação exata de doação (dar), necessária para descer abaixo do Tabur. E é exatamente isso que acontece.

Abaixo do Tabur, o Partzuf Nekudot de SAG começa a expandir-se e a preencher esta seção de Galgalta com a Luz de Hassadim, a Luz do Prazer de dar. O propósito deste Partzuf é elevar os desejos não corrigidos  ao  seu próprio nível e corrigi-los. É importante lembrar que a finalidade agora,  é corrigir o Kli para que ele possa receber em qualquer parte, incluindo na área abaixo do Tabur.

Abaixo do Tabur, naquele local dos desejos mais fortes, o Nekudot de SAG enche Galgalta com a Luz de Hassadim, ou seja, com os prazeres de dar. Estes prazeres podem então, ser difundidos sem restrição para qualquer  desejo no Partzuf. Abaixo do Tabur, o Nekudot de SAG forma um  novo Partzuf que contém as suas próprias dez Sefirot: Keter, Hochma, Bina, Hesed, Gevura, Tifferet, Netzah, Hod, Yesod e Malchut.

Este Partzuf carrega o nome de “Nekudot de SAG”, e é de extrema importância em todo o processo da correção, pois é uma parte de Bina, que eleva os desejos não corrigidos ao seu nível, corrige-os e eleva-os acima de Bina.

Do topo até ao Tabur, Galgalta compreende: No nível Rosh: as Sefirot Keter, Hochma e Bina.

No nível Toch: Hesed, Gevura e Tifferet.

Abaixo do Tabur, no Sof: Netzah, Hod, Yesod e Malchut.

Quando Nekudot de SAG desce abaixo do Tabur e começa a transmitir  a Luz de Hassadim ao Sof de Galgalta, eles são sujeitos a uma forte reação  por parte das Reshimot que ficaram no Sof de Galgalta a partir da Luz que preencheu previamente estes Kelim (plural para Kli).

Você se deve lembrar que a primeira coisa que a criatura (Estágio 4) fez foi aceitar a Luz completamente e encher Galgalta.

Estas Reshimot são de força Dalet-Gimel (4,3). A força de Dalet-Gimel (Hitlabshut de nível 4, Aviut de nível 3) é maior que a força da Massach do Nekudot de SAG (Hitlabshut de nível 2, Aviut de nível 2). Consequentemente, SAG não pode se opor a Luz-Desejo tão poderoso, e começar a  desejar receber para si mesmo.

Agora, podemos examinar a fase de Bina na disseminação da Luz Direta de cima para baixo (veja Figura 6).

Esta fase é composta de duas partes:

  1. Na primeira parte, ela não quer receber nada, enquanto dá sem restrição. Esta parte é chamada Gar de Bina e é dotada de atributos altruísticos.
  2. Na segunda parte já considera receber a Luz a fim de transmiti-la mais além. Embora esteja recebendo, ela não o faz para seu próprio benefício. Esta parte de Bina é chamada Zat de Bina. A mesma coisa ocorre no Partzuf do Nekudot de SAG, que possui os atributos de Bina:

As primeiras seis Sefirot chamam-se Gar de Bina e as últimas quatro Sefirot são nomeadas Zat de Bina. A poderosa Luz de Hochma que alcança Gar de Bina não a afeta; ela é indiferente a esta Luz. Esta parte de Bina só deseja dar. Entretanto, Zat de Bina, que deseja receber a fim de dar aos níveis mais inferiores, apenas pode receber somente aquela Luz que se relaciona ao Aviut Bet.

Se os desejos que alcançam Zat de Bina forem de um Aviut mais forte, o desejo de receber só para si, aparece. Em outras palavras, Bina é dividida em duas partes, uma parte que só deseja dar, não importa o quê, e outra parte que receberá, mas só para passar Luz às partes abaixo dela. Isto significa, que Zat de Bina só receberá para passar essa Luz às Sefirot de baixo.

Figura 6 – Partzuf de Nekudot de SAG

O problema é que, ainda que Zat de Bina queira somente receber a fim de dar, ele ainda receberá. Então, quando estes enormes desejos abaixo do Tabur, aparecem, Zat de Bina não pode resistir. Mas nós temos uma restrição aqui que não permite tal recepção. Após o Tzimtzum Aleph (Primeira  Restrição), Malchut não pode receber para si próprio. Por isso, assim que um desejo de tal  magnitude aparece no Zat do Nekudot de SAG, Malchut eleva-se e posiciona-se no limite entre os desejos altruístas e egoístas, no meio de Tiferet, entre Gar de Bina e Zat de Bina.

Este até de Malchut é chamado Tzimtzum Bet, a Segunda Restrição.  Um novo limite para a disseminação da Luz está sendo formado ao longo desta linha: o Parsa. Antes, este limite estava localizado no Sium de Galgalta. Embora, antes a Luz fosse capaz de se espalhar só até ao Tabur, ainda que tentasse penetrar sob ele, com a disseminação do Partzuf do Nekudot de SAG abaixo do Tabur, a Luz de Hassadim penetra lá, e pavimenta o caminho para a disseminação da Luz de Hochma do Parsa.

Um “lugar” é uma Sefira (singular para Sefirot) dentro da qual outra Sefira, menor em dimensão, pode ser ajustada. Um exemplo disso é o Olam Nekudim, dentro do qual estão os Olamot (mundos) ABYA (Atzilut, Beria, Yetzira, Assiya). O nosso mundo existe em um “lugar.” Se você pudesse remover absolutamente tudo o que o universo contém, então o “lugar” permaneceria. As nossas mentes finitas não podem compreendê-lo, mas isto é simplesmente, um vazio que não pode ser medido, visto que está localizado noutras dimensões. Além do nosso mundo existem mundos espirituais que são impossíveis de distinguir ou sentir porque eles se referem a outras dimensões. Posteriormente, o Mundo de Atzilut surge no lugar do Gar de Bina, abaixo do Tabur. O Mundo de Beria é formado sob o Parsa, na seção mais inferior de Tiferet.

O mundo de Yetzira aparece no lugar das Sefirot Netzah, Hod, e Yesod. O mundo de Assiya, cuja última porção é chamada nosso mundo, é formado no lugar da Sefira Malchut.

Como se pode obter dez Sefirot de cinco: Keter, Hochma, Bina, Zeir Anpin e Malchut? Zeir Anpin é composto por seis Sefirot: Hesed, Gevura, Tifferet, Netzah, Hod, Yesod.

Se em vez de Zeir Anpin, alguém colocar as suas seis Sefirot, então junto com Keter, Hochma, Bina e Malchut, as dez Sefirot serão obtidas. Esta é a razão porque às vezes são mencionadas cinco ou dez Sefirot.

 

LIÇÃO 4

Para alguém que está sendo introduzido à Cabalá, a nova terminologia pode ser um tanto complicada, mas há uma razão para isso. Os termos Cabalísticos foram mantidos, para os leitores que desejarem prosseguir os estudos. Se começarmos a usar os termos agora, os esforços futuros serão muito mais frutíferos, e isso poupará tempo. Vamos começar a lição com uma breve revisão do que aprendemos.

Luz inicialmente emanada do Criador na fase 0, Keter, é o desejo de dar prazer. Esta é a fase da raiz do processo da Criação. Pode-se pensar nesta fase como algo latente, semelhante ao pensamento de construir uma casa. A casa existe em potência na sua mente. Esta Luz, faz surgir a substância inicial que será um dia, a Criação, denominada o desejo de receber prazer. A criação do desejo de receber é chamada Fase 1, Hochma. Pode-se pensar como a construção de um Kli e o enchimento desse Kli com prazer.

Depois que o Kli é preenchido com Luz, não apenas sente o prazer, mas sente também o atributo do Doador. Esse atributo do Doador é o desejo de dar. Desejando não apenas receber, mas também se relacionar com o Doador, o Kli adota este atributo. Este desejo de dar prazer corresponde à fase 2, Bina.

A criatura tem aqui um problema: ela não tem nada para dar. Mas a criatura também se apercebe que há uma maneira de dar prazer ao Doador se aceitar, somente uma parcela da Luz para o bem do Doador. Este ato antecipa a fase 3, Zeir Anpin. Agora, a nossa criatura tem duas propriedades: dar e receber.

O que realmente aconteceu? A criatura distinguiu dois tipos de prazer.

Mas nesta fase, ela sente que receber é melhor do que dar.

Este era o seu atributo natural, a natureza inicial da Fase 1, Hochma.  Em seguida, a criatura toma a decisão de receber toda a Luz, para ser completamente preenchida. A diferença entre esta nova Fase 4, Malchut, e a Fase 1, Hochma, é que ela tomou esta decisão de livre vontade. Na Fase 1, o Criador controlou tudo.

Na verdade, nas primeiras três fases da Criação (não contando a Fase  0, a fase da raiz), a nossa criatura não é considerada uma criatura. Ela é mais uma criatura em potencial. Somente na última Fase, chamada Malchut do mundo de Ein Sof (Infinidade), pode a criatura ser  considerada verdadeiramente uma entidade separada do Criador. A chave para esta mudança de status foi a criatura tomar a sua própria decisão independente.

O processo da Criação entrou agora na quarta fase, chamada Malchut do mundo de Ein Sof, a única e verdadeira Criação. Ela combina duas condições: sabe com antecedência o que deseja, e desses dois estados, escolhe a recepção. O que a Criação realmente fez, foi desenvolver um sentido de, si mesma. Conhece o atributo do Criador, e agora conhece os seus.

A diferença entre a Fase 1 e a Fase 4 pode parecer pequena, mas é fundamental, e terá grandes efeitos a partir da fase 4. O fato da criatura ter tomado uma decisão independente de aceitar todo o prazer para si, e de ser preenchida completamente com a Luz, causa um incrível sentimento de vergonha. Este sentimento de vergonha é a diferença entre o que a criatura sente como sua própria natureza, e a natureza do Criador. Por que isto não aconteceu na Fase 1? Porque a criatura não teve nenhum desejo independente de receber prazer; ela foi simplesmente preenchida pelo Doador. Ela não teve como comparar a diferença entre as suas propriedades.

Este imenso sentimento de vergonha leva novamente a criatura a tomar a decisão de tornar-se como o Criador. Surge a Primeira Restrição, Tzimtzum Aleph. É importante compreender que esta restrição não foi feita no desejo de receber prazer, mas na intenção de receber prazer para si. Na Fase 1, a criatura simplesmente parou de receber.

Agora, a Primeira Restrição significa que a criatura pode certamente receber prazer, mas não para si.

O resultado final é que ela pode receber prazer, mas somente até ao ponto em que recebe para o bem do Doador. Isto significa que, é a força da  sua intenção que regula se ela receberá ou não. Se a intenção for fraca, ela mal recebe Luz. Contudo, se tiver uma forte intenção de não receber para si, ela pode-se preencher até ao nível onde a intenção já não pode  ser  sustentada.

Nós vemos que a recepção da Luz, somente, com a intenção de beneficiar outro é o mesmo que dar. Isto é o que separa o nosso mundo do mundo espiritual. Lá, tudo é definido pela intenção, não pela ação. Aqui, é exatamente o oposto. Também é importante notar que no espiritual não há meio-termo. A Primeira Restrição significa que a criatura nunca receberá prazer para si. A Primeira Restrição torna-se uma lei e é impossível violá-la.

A primeira tarefa de um ser criado é neutralizar o desejo de receber prazer para si. O primeiro ser criado, a criatura na Fase 4 conhecida como Malchut, mostra como receber prazer, a partir da Luz do Criador. Mas a Primeira Restrição significa que tudo o que preenche Malchut jamais será recebido como prazer para seu proveito. Veremos como este princípio pode ser executado.

Você pode pensar em Malchut após a Primeira Restrição como um Kli com uma tampa. Agora, essa tampa é substituída por uma tela que afasta toda a Luz que entra. Este primeiro ato acontece todas às vezes, e cada porção da Luz é rejeitada. Dentro de Malchut, há um grande desejo de receber essa Luz. Em outras palavras, Malchut coloca inicialmente uma tela acima de seu egoísmo, que afasta toda a Luz que entra. Sim, ela consegue afastar todo o prazer e não se deleita nele.

Mas ainda há um problema. O Kli (Recipiente) está separado da Luz. Como se pode alcançar uma situação onde o prazer não seja apenas afastado, mas, alguma porção dele seja recebida para o bem do Criador? Para que isto ocorra, a Luz Refletida pela tela (Ohr Hozer) deve de algum modo vestir a Luz Direta (Ohr Yashar), e junta entram no Kli, o desejo de receber.

Podemos imaginar a tela como um tipo de válvula, abrindo apenas sob uma determinada condição. No nosso caso, essa condição é aceitar a Luz apenas para dar prazer ao Criador.

Ohr Hozer serve como condição anti-egoísta, uma tela que aceita e permita na Ohr Yashar, o prazer, mas somente se está recebendo para o bem do Criador. A Ohr Hozer age como uma intenção altruísta. Antes de aceitar estes dois tipos de Luz, um cálculo é realizado na Rosh, a parte calculadora da alma. Quanta Luz pode ser recebida para o bem do Criador? Esta quantidade passa para no Toch.

O primeiro Partzuf pode receber, por exemplo, 20% da Luz, de acordo com o poder de sua tela. Esta Luz é chamada Luz Interna – Ohr Pnimi. A parcela da Luz que não entra no Kli, permanece fora e é chamada Luz Circundante, Ohr Makif. A recepção inicial de 20% da Luz é chamada Partzuf Galgalta.

Depois da pressão das duas Luzes, Ohr Makif e Ohr Pnimi sobre a Tela no Tabur, o Partzuf expele toda a Luz. Então, a tela eleva-se gradualmente, do Tabur à Peh, perdendo o seu poder anti-egoísta e alcançando o nível da tela  na Peh de Rosh.

É muito importante lembrar que nada desaparece no mundo espiritual; cada ação consecutiva inclui a precedente. Assim, os 20% de Luz, recebidos  da Peh ao Tabur, permanecem no estado precedente do Partzuf.

Mais tarde, vendo que não pode controlar os 20% da Luz, o Partzuf  toma uma decisão de aceitar novamente a Luz. Desta vez ele não aceita 20%, mas somente 15%. Para isso, ele tem que baixar a tela do nível de  Peh ao nível do Chazeh do Partzuf Galgalta, reduzindo-se assim a um nível espiritual inferior.

Se, no início o seu nível era definido pelas Reshimot: Hitlabshut de nível 4 e Aviut de nível 4, agora elas são apenas 4 e 3 respectivamente. A Luz entra da mesma maneira e forma um novo Partzuf: AB. O destino do novo Partzuf é o mesmo; ele também afasta a Luz. Seguindo esta sequência, o terceiro Partzuf, SAG, espalha-se, e após isso, MA e BON.

Todos os cinco Partzufim enchem Galgalta da sua Peh ao seu Tabur. O mundo que eles formam é chamado Adam Kadmon. Galgalta é similar à Fase 0, Keter, pois enquanto recebe do Criador ela dá o que pode. AB recebe uma porção menor para o bem do Criador, e é chamada Hochma, Fase 1. SAG trabalha somente para dar e é chamada Bina, Fase 2. MA é similar a Zeir Anpin, Fase 3, e BON corresponde a Malchut, Fase 4.

SAG, tendo as propriedades de Bina (somente quer dar), é capaz de se estender sob o Tabur e encher a parte mais inferior de Galgalta com a Luz de Hassadim. Assim, abaixo do Tabur, à exceção dos desejos vazios, permanecem os prazeres induzidos pela similaridade com o Criador.

Tudo isto acontece porque a parte NHY (Sefirot: Netzah, Hod e Yesod) de Galgalta abaixo do Tabur, recusou absorver a Luz de Hochma. Lembre-se que esta é a Luz da Recepção. Elas apreciam a Luz de Hassadim, o prazer da similaridade com o Criador, dar.

O sub-Partzuf Nekudot de SAG tem Aviut Bet, e só pode apreciar a doação da Luz neste nível. O NHY já não pode resistir ao prazer do nível Dalet; doutro modo começará a receber a Luz para si mesmo.

Normalmente, o NHY deve ser capaz de receber, mas Malchut, no fundo de Galgalta (Sium em Hebraico), ascende até metade de Tifferet do Partzuf Nekudot de SAG e forma um novo Sium (conclusão). Esta é Restrição da Luz, chamada Parsa, abaixo da qual a Luz não pode ir. Com isto, Malchut faz a Segunda Restrição na disseminação da Luz, chamada Tzimtzum Bet, em analogia à primeira.

Para dar um exemplo de nossa vida diária: imagine um homem educado e com boas maneiras que nunca roubaria mais do que $1000. No entanto, se $10.000 fossem colocados diante dele, a sua educação poderia não “funcionar” porque neste caso, a tentação, do prazer em perspectiva, é muito forte para ser resistido.

O Tzimtzum Bet é a continuação do Tzimtzum Aleph, mas nos Recipientes de recepção, os Kelim de Cabalá. Estes são os Kelim abaixo do Tabur com o desejo do nível mais forte – nível 4.

É interessante notar que no Partzuf Nekudot de SAG, o Partzuf, que é altruísta por natureza, revelou suas propriedades egoístas; imediatamente Malchut, ascendendo, cobre-o e forma uma linha, chamada Parsa, para limitar  a propagação descendente da Luz.

O Rosh do Partzuf SAG, como toda cabeça, consiste em cinco Sefirot: Keter, Hochma, Bina, Zeir Anpin e Malchut. Estas, por sua vez, são divididas em Kelim de Hashpa’a (Kelim de Doação — Keter, Hochma e metade de Bina) e Kelim de Cabalá (Kelim de recepção–do meio de Bina a Malchut).

Kelim de Hashpa’a (Kelim de Doação) são também chamados Galgalta ve Eynaim (GE). Os Kelim de Cabalá (Kelim de recepção) são Awzen (pronuncia-se Ózen), Hotem, e Peh: AHP. A restrição de Tzimtzum Bet significa que a partir deste ponto, um Partzuf não deve ativar qualquer Kli de recepção.  É proibido usar o AHP; assim decide Malchut, quando se elevou até meio de Tifferet.

Depois do Tzimtzum Bet, todas as Reshimot subiram até a Rosh de SAG, pedindo aí para formar um Partzuf exclusivamente no nível dos Kelim  de doação. Isto permite que o Partzuf receba alguma Luz do contato com o Criador.

Isto significa que agora a tela deve estar localizada não na Peh da Rosh, mas no Nikvey Eynaim da Rosh, a parte que corresponde à linha do Parsa no meio de Tifferet, no Guf. Cada parte do Partzuf, a Rosh, o Toch e o Sof têm cinco níveis de Keter, de Hochma, de Bina, de Zeir Anpin e de Malchut. O Nikvey Eynaim, que é a metade de Tifferet na Rosh, corresponde à metade de Tifferet no Guf. Lembra Gar de Bina e Zat de Bina?

Após um Zivug (acoplamento) na Rosh de SAG, um Partzuf emergirá a partir deste ponto e disseminará abaixo do Tabur e para baixo do Parsa, naquele local que Malchut levantou na Segunda Restrição. O novo Partzuf, que se expande abaixo do Tabur até o Parsa, veste o Partzuf precedente de Nekudot de SAG, mas apenas em sua parte superior, Gar de Bina (Kelim altruístas), os Recipientes de doação.

O nome do novo Partzuf é Katnut de Olam Nekudim (Pequenez do Mundo de Nekudim). Este Partzuf surge no nível das Reshimot restritas de Bet- Aleph (2.1). Na realidade, nos cinco mundos mencionados previamente (Adam Kadmon, Atzilut, Beria, Yetzira e Assiya), tal mundo não existe.

Durante a existência deste mundo, as Sefirot Keter, Hochma, Bina, Hesed, Gevura e um terço de Tifferet (o terço superior) são divididas em dez e têm os nomes usuais. Além disso, há nomes especiais para as Sefirot Hochma e Bina: Abba ve Ima (Pai e Mãe), e também para as Sefirot Zeir Anpin e Malchut: Zeir Anpin e Nukva (Fêmea). Quando se fala de Zeir Anpin e de  Nukva juntos, eles se chamam ZON. Estes nomes adicionais designam que estas peças são do mundo de Nekudim.

Depois do Zivug de Hakaa no Nikvey Eynaim em Rosh de SAG, a  pedido das Reshimot do Partzuf inferior, SAG executa um segundo Zivug nas Reshimot de Gadlut (Grandeza) no Peh de Rosh. Em outras palavras, SAG executa um Zivug no nível 4 do desejo, o nível o mais forte.

O que realmente aconteceu? Lembre-se que Zivug é um acoplamento de Reshimo. O Nikvey Eynaim é a linha divisora entre a porção de pura doação e a porção dos Kelim que receberão, mas apenas com o propósito de dar na Rosh. Assim, a primeira coisa que acontece é um Zivug no que chamamos Katnut – apenas nos Kelim de doação. O segundo Zivug é na grandeza, ou em todos os Kelim na Rosh, tanto para doação e Kelim que receberão a fim de dar. À medida que ocorre este segundo Zivug, uma grande Luz começa a se espalhar a partir de SAG e tenta descer abaixo do Parsa, onde estão os desejos mais fortes. É certo que o Partzuf Nekudim será capaz de receber a Luz para o bem do Criador, e que ele tem a força suficiente para isso, apesar do Tzimtzum Beth. Mas no momento em que a Luz toca o Parsa, ocorre o Shevirat ha Kelim (Quebra dos Kelim), porque se torna claro que o Partzuf quer receber prazer somente para si. Imediatamente, a Luz sai do Partzuf, e todos os Kelim, mesmo aqueles acima do Parsa, são quebrados.

Assim, a partir do desejo do Partzuf em usar os Kelim de recepção para o bem do Criador, para formar o Mundo de Nekudim em Gadlut, usando todos os dez Kelim, ocorre a quebra de todas as suas tela-intenções. No Guf do Partzuf Nekudim, isto é, em ZON acima do Parsa (Hesed, Gevura, Tifferet) e abaixo do Parsa (Netzah, Hod, Yesod e Malchut) há oito Sefirot. Cada uma delas  consiste  de  quatro  fases  (à  parte  a  fase  zero).  Estas,  por  sua vez, carregam dez Sefirot, rendendo um total de 320 Kelim (4 x 8 x 10), que foram quebrados.

Dos 320 Kelim quebrados, somente Malchut não pode ser corrigido e  isto representa 32 partes (4 x 8). As 288 partes restantes (320 – 32) podem ser corrigidas. As 32 peças são chamadas Lev ha Even (literalmente, Coração de Pedra). Estas serão corrigidas somente pelo próprio Criador no Gmar Tikkun (Fim da Correção).

Os desejos altruístas e egoístas foram simultaneamente quebrados separadamente e misturados. Como consequência, cada elemento dos Kelim quebrados consiste de 288 partes que estão prontas para a correção, e 32 que não estão. Agora, a realização do objetivo da Criação depende somente da correção do Mundo quebrado de Nekudim. Se tivermos sucesso em nossa tarefa, a Fase Dalet será preenchida com a Luz. Olam ha Tikkun (Mundo da Correção) é criado para construir um sistema coerente, que corrija os Kelim do Mundo de Nekudim.

Este novo mundo é também chamado Mundo da Emanação, em Hebraico – Olam Atzilut.

LIÇÃO 5

Nós temos um total de 125 níveis entre nós e o Criador. Primeiro, há os cinco mundos entre o Criador e o nosso mundo. Estes mundos são Olam Adam Kadmon, Olam Atzilut, Olam Beria, Olam Yetzira, e finalmente Olam Assiya. No final de Olam Assiya está o nosso mundo.

Cada mundo consiste de cinco Partzufim (plural para Partzuf) denominados Galgalta, AB, SAG, MA e BON. Cada Partzuf contém  cinco Sefirot – Keter, Hochma, Bina, Zeir Anpin e Malchut. Para Malchut, fase 4 (Dalet), alcançar o nível o mais elevado, deve mover-se através de todos estes níveis. Assim, Malchut, a única Criação, funde-se com as quatro fases precedentes.

À medida que Malchut se eleva através destes níveis, absorve todas as propriedades de cada fase e iguala os seus atributos aos atributos do Criador. Este é o Objetivo da Criação. Agora, a primeira coisa que deve acontecer é que Malchut deve-se misturar com as outras nove Sefirot.

Para esta tarefa, um Partzuf muito especial é criado. Este Partzuf contém Malchut e as nove Sefirot desde Keter a Yesod. O seu nome é Adam  ha Rishon, ou simplesmente Adam. Se você estiver se questionando se este Adam é o mesmo do Gênese da Bíblia, pode estar certo disso, é o mesmo Adam.

No princípio, as nove Sefirot e a décima, Malchut, não estão conectadas, de forma nenhuma. É por isso que foi dito que, no princípio Adam estava proibido de comer a fruta da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal. Com a queda de Adam e a quebra de seus Kelim (Recipientes), as quatro fases superiores (as primeiras nove Sefirot), caem dentro de Malchut.

Todos os movimentos espirituais de cima para baixo, de Malchut de Ein Sof ao nosso mundo e de volta para o Mundo de Ein Sof, são predeterminados. Nada é planejado que não esteja de acordo com o objetivo da Criação. Este objetivo é alcançado quando a quarta fase se torna similar às fases 3, 2, 1 e 0, que estão todas contidas na quarta fase.

Todos os mundos surgem como descida do Criador, de cima para baixo, através  dos   125   níveis  dos   cinco  mundos.   Isto   é  como   uma  restrição permanente do Criador, fazendo com que toda a criação retroceda Dele até  que a Criação alcance o nível de nosso mundo, em que já não o Sente.

Quando a criação se eleva, ela o faz através dos mesmos 125 níveis  dos cinco mundos, que foram formados para esta finalidade específica.  Avançar um único nível nos dá o poder para darmos o salto até ao nível seguinte.

A descida de cima para baixo é o processo da regressão da alma, mas a ascensão é a sua progressão. Durante a descida, o poder de cada nível diminui porque ele esconde da Sua Criação, mais e mais, a Luz do Criador. Mas o movimento inverso nos revela cada vez mais a Luz do Criador e nos concede o poder de superar obstáculos.

Vejamos o que acontece quando a quebra dos Kelim (Shevirat ha Kelim) ocorre no mundo de Nekudim. As nove Sefirot altruístas, sendo Malchut a parte egoísta tenta usar para seu próprio bem, caem em Malchut. No  capítulo anterior nós escrevemos que o Zivug (4,3) feito em Nekudim causou a quebra dos Kelim. Este Zivug era um pedido de Malchut pela Luz. Malchut desejou usar a Luz para seu próprio prazer, mas a tela, tendo somente o poder de (2,2) não poderia resistir. Nesse momento, o altruísmo e o egoísmo misturam-se em consequência da quebra, e nós também vemos esta mistura em nosso mundo.

Um ponto interessante que os observadores astutos verão imediatamente é que a queda de Adam, como está escrita na Bíblia não foi nenhum acidente. Foi uma necessidade. Sem essa queda, não haveria mistura dos atributos do Criador com Malchut, e sem esta mistura não haveria  correção.

Agora, se uma forte Luz ilumina esta mistura e desperta Malchut, fazendo-a compreender sua própria natureza e o que é o Criador, Malchut  pode se esforçar para ser como as Sefirot Superiores, isto é, a Luz do Criador. Mesmo que a quebra dos Kelim pareça ser uma ação anti-espiritual, na  verdade ela é o único processo possível que permite a Malchut se unir às propriedades altruístas do Criador, e de se elevar ao Seu nível, num estágio posterior.

Após a quebra, dois sistemas paralelos dos mundos, Assiya, Yetzira, Beria e Atzilut são construídos como dois sistemas: altruísta e egoísta. Estes mundos são construídos com base na quebra dos Kelim, e é por isso que o seu sistema compreende especificamente a alma de uma pessoa. A alma de Adam também consiste de Kelim egoístas e altruístas. A queda de Adam misturou estes dois tipos de Kelim e o seu Partzuf foi quebrado.

Quando ascende ao nível apropriado no sistema dos mundos, cada  parte quebrada pode descobrir aí o seu lugar.

Shevirat Neshamot (quebra das almas) de Adam e Shevirat Olam ha Nekudim (quebra dos Kelim no mundo de Nekudim) são construídos sob a mesma base. Os mundos são uma espécie de invólucro ou capa externa da alma. Em nosso mundo material, é o Universo, a Terra e tudo à nossa volta  que dá forma à cobertura exterior, incluindo a humanidade.

Ao examinar como o Mundo de Atzilut está projetado, nós podemos notar que a sua estrutura iguala completamente o Mundo de Nekudim. De fato, Nekudim é um modelo para Atzilut. O Partzuf Nekudot de SAG após Tzimtzum Beth (Segunda Restrição) ascende à Rosh (cabeça) de SAG com três tipos de Reshimot (reminiscências).

Das Reshimot restritas de (2,1) Bet-Aleph, o Mundo de Nekudim é formado na Katnut (pequenez), nos Kelim Galgalta ve Eynaim (somente nos Kelim de doação). Este se espalha para baixo do Tabur (umbigo – o limite original que dividiu os desejos do nível 4 de Aviut) até ao Parsa, a divisão em Tifferet que divide os Kelim de doação e os Kelim de recepção.

Este novo Partzuf, como qualquer outro, é composto de Rosh e de Guf.  A sua Rosh é dividida em três porções: a primeira Rosh é chamada Keter, a segunda Abba (Hochma) e a terceira Ima (Bina). Abba significa literalmente “Pai” e Ima significa “Mãe”, em Hebraico.

O Guf do Mundo de Nekudim é chamado ZON – Zeir Anpin e Nekva. Acima do Parsa está Gar de ZON, abaixo do Parsa nós encontramos Zat de ZON. O Gar de ZON são Kelim de doação, e Zat de ZON são Kelim de recepção.

Depois disto, o Mundo de Nekudim almeja entrar no Gadlut, isto é, juntar os AHPs para si. Lembre-se que AHP são Kelim de pura recepção para si mesmo. O Nekudim quer corrigir estes. Mas quando a Luz Superior alcança o Parsa e tenta atravessá-lo, o Mundo de Nekudim quebra-se.

Rosh Keter e Rosh Abba ve Ima permanecem, pois as Cabeças não se quebram. Mas ZON, isto é, o Guf, quebra-se completamente, ambos acima e abaixo do Parsa. Agora, há 320 partes quebradas, sendo 32 delas (Lev ha Even) impossíveis de corrigir por vontade da pessoa. As 288 peças restantes estão sujeitas a correção.

Em seguida, e a fim de corrigir os Kelim quebrados, o mundo da Correção (Olam ha Tikkun também chamado Olam Atzilut) é criado. As Reshimot da quebra de todas as 320 partes ascendem à Rosh de SAG. No início, a Rosh de SAG seleciona as partes mais puras, as mais luminosas com respeito à capacidade de serem corrigidas.

Esta é a Lei da Correção: primeiro, as partes mais fáceis são corrigidas  e depois, com a ajuda delas, as partes seguintes são trabalhadas. Fora dos Kelim corrigidos, Rosh de SAG cria os Partzufim do Mundo de Atzilut, similar a um pequeno Mundo de Nekudim:

  • Keter do Mundo de Atzilut, também chamado Atik
  • Hochma, também chamado Arich Anpin
  • Bina, também chamado Abba ve Ima
  • Zeir Anpin
  • Malchut, também chamado Nukva

O Mundo de Atzilut é uma réplica do Mundo de Nekudim: Atik está localizado entre o Tabur de Galgalta e o Parsa; Arich Anpin do Peh de Atik até ao Parsa; Abba Ve Ima, de Peh de Arich Anpin até ao Tabur de Arich Anpin; Zeir Anpin situa-se desde o Tabur de Arich Anpin até ao Parsa; e Malchut está na forma de um ponto sob o Zeir Anpin (veja figura 7).

Cada Partzuf é composto de duas partes: Galgalta Ve Eynaim (GE), Kelim de Doação, e AHP, Kelim (Recipientes) de Recepção. Após ser quebrado, o Kli não consiste de duas partes, mas de quatro: GE, AHP, GE dentro de AHP e AHP dentro de GE. Tal combinação pode ser encontrada em cada um dos 320 Kelim quebrados. O objetivo aqui é quebrar cada partícula e separar o GE (Kelim de doação) do AHP (Kelim de recepção).

Figura 7. O Mundo de Atzilut e os Mundos de BYA

Eis como isso acontece. As Reshimot dos estágios corrigidos levam os Kelim quebrados a atrair Ohr Makif, que por sua vez separa a Galgalta ve Eynaim do AHP, elevando-a à espiritualidade, enquanto que AHP permanece e espera a sua vez para a correção.

Depois de o Mundo de Atzilut corrigir todos os Kelim de doação, Malchut do Mundo de Atzilut ascende a Bina, isto é, sob a Rosh do Mundo de Atzilut. A Rosh do Mundo de Atzilut é Atik, Arich Anpin, e Abba ve Ima. Lá, Malchut executa as seguintes ações:

  1. Zivug (acoplamento, união) no nível 2 do desejo (Bet de Aviut), criando o Mundo de Beria.
  2.  Zivug no nível 1 do desejo (Aleph de Aviut), criando o Mundo de Yetzira.
  3. Zivug no nível 0 do desejo (Aviut Shoresh), dando à luz o Mundo de Assiya.

A ascensão a Bina move o Mundo de Atzilut dois níveis para cima, movendo por sua vez tudo abaixo dele, dois níveis para cima, também. Tudo  se move em conjunto. Agora, Malchut está no lugar de Abba ve Ima, Zeir Anpin no lugar de Arich Anpin, e Arich Anpin e Atik ascendem proporcionalmente. O Partzuf Malchut do Mundo de Atzilut, que está nesta ascensão equivalente a Bina, a Abba ve Ima, pode criar, ou “dar à luz”.

O resultado desta ascensão é que o Mundo de Beria nasce a partir de Malchut de Atzilut e ocupa um novo local em vez de Zeir Anpin do Mundo de Atzilut, sob o Rosh, que lhe deu à luz. O recém-nascido está geralmente um nível abaixo de sua mãe.

Após isto, o Mundo de Yetzira é trazido à vida. Suas primeiras quatro Sefirot, i.e., sua parte superior, ocupa agora o lugar de Malchut do Mundo de Atzilut. Em sua parte inferior, seis Sefirot inferiores, estão localizadas na posição das primeiras seis Sefirot, o lugar do Mundo de Beria.

O próximo mundo, Assiya, cobre metade do Mundo de Beria e metade do Mundo de Yetzira. As quatro Sefirot do Mundo de Yetzira e as dez Sefirot do Mundo de Assiya permanecem vazias. Este lugar vazio é chamado Mador ha Klipot, a Seção das Cascas.

Se você se sente um pouco confuso sobre os últimos parágrafos, entenda que há uma diferença entre o local onde estes mundos estavam durante a sua criação, e onde estão agora. Será mais fácil “encontrar o seu caminho” se você fizer uso da figura acima.

A fim de realçar a sua importância, nós podemos considerar mais uma vez todo o processo:

O Mundo de Nekudim surgiu em Katnut com uma Rosh de três partes, Keter e as outras duas Roshim (plural para Rosh), sendo Abba ve Ima. ZON é  o seu Guf. Tudo isto é chamado Galgalta ve Eynaim e estende-se do Tabur ao Parsa. Após isto, a Gadlut (Grandeza) do Mundo de Nekudim começa a emergir, a qual tem dez Sefirot, tanto em Rosh quanto em Guf.

Gadlut surgiu em Keter, em Abba ve Ima, mas quando ZON quer  receber Gadlut, o Mundo de Nekudim se quebra. É importante lembrar, que Gadlut é a disseminação da Luz não somente nos Kelim de doação, mas também nos Kelim de recepção. Mas os Kelim de recepção têm Aviut (espessura) de nível 4, muito maior do que a tela. Todos os Kelim do Guf se quebram em 320 partes; eles caem sob o Parsa e se misturam uns com os outros, produzindo quatro grupos:

  1. Galgalta ve Eynaim (GE)
  2. AHP
  3. Galgalta ve Eynaim em AHP
  4. AHP em Galgalta ve Eynaim

Para corrigir os Kelim quebrados, é criado o Mundo de Atzilut. Primeiro, surgem os seus três Partzufim: Atik, Arich Anpin e Abba ve Ima, que correspondem inteiramente aos Partzufim: Keter e Abba ve Ima no Mundo de Nekudim.

Zeir Anpin e Malchut correspondem aos mesmos Partzufim no Mundo de Nekudim. Neste estágio, conclui-se assim a correção dos Kelim de Doação extraídos, Galgalta ve Eynaim, de todas as 320 partes. Além disso, temos Galgalta ve Eynaim dentro do AHP.

Atzilut quer fazer a correção em AHP. Malchut ascende até Bina e cria as dez Sefirot do Mundo de Beria, que estão no local de Zeir Anpin de Atzilut, porque Malchut do Mundo de Atzilut está agora em Abba ve Ima. Lembre-se, que Zeir Anpin estava logo abaixo de Abba ve Ima.

Neste estágio, as dez Sefirot do Mundo de Yetzira são criadas; a última sobrepõe parcialmente, o Mundo de Beria. A parte do Mundo de Yetzira está sob o Parsa, no local da metade superior do Mundo de Beria.

Finalmente, o Mundo de Assiya situa-se desde a metade do local do Mundo de Beria, até à metade do local do Mundo de Yetzira. Começando a meio do local do Mundo de Yetzira, e terminando no local do Mundo de Assiya, está o vazio, Mador ha Klipot.

Em breve, veremos que os mundos podem subir e descer, mas movem- se sempre juntos em relação à sua posição inicial. Tudo o que foi discutido neste capítulo está descrito nas 2100 páginas do Talmud Eser ha Sefirot (O Estudo das Dez Sefirot) pelo Rav Yehuda Ashlag. Você pode imaginar quão abrangente este trabalho é, descrevendo até mesmo, os  mínimos detalhes. Este importante trabalho fornece diretrizes para o nosso progresso espiritual e nos ajuda a manter a concentração no objetivo correto. Não é mais, que um guia para alcançar o espiritual.

A nossa correção, pertence à Segunda Restrição, Tzimtzum Bet. Como consequência, nós não podemos ver além de Tzimtzum Aleph, a Primeira Restrição. Efetivamente, não é humanamente possível imaginar a natureza da realidade que existe naquele domínio. Estes são chamados de “os segredos da Cabalá.”

 

LIÇÃO 6

Como foi mencionado anteriormente, o mundo de Atzilut é muito parecido com o Mundo de Nekudim. O primeiro Partzuf do Mundo de Atzilut, Atik, surge inicialmente nas Reshimot de Aleph-Shoresh (Hitlabshut de nível 1, Aviut de nível 0) em Katnut (pequenez), do Tabur ao Parsa. Então ele se espalha no Gadlut (grandeza) até ao nosso mundo, nas Reshimot de Dalet- Gimel (4.3).

É o único Partzuf por meio do qual, a Luz pode iluminar no nosso  mundo. Nós não vemos ou sentimos esta Luz, mas ela brilha e nos guia. Quem quer que ascenda do nosso mundo até abaixo do Parsa, onde os  mundos Beria, Yetzira e Assiya (BYA) estão localizados, é chamada uma pessoa justa, em Hebraico – Tzadik, um Cabalista.

É importante notar que o Partzuf Atik se espalha, não apenas até ao Parsa para transmitir Luz aos outros Partzufim do Mundo de Atzilut, mas também abaixo do Parsa. Como Atik está em Tzimtzum Aleph, este Partzuf, é capaz de se espalhar por toda parte, e quando estiver abaixo do Parsa, ilumina a alma do justo que quer ascender ao Mundo de Atzilut.

Estar nos Mundos de BYA significa “dar para o propósito de doação”, enquanto que estar no mundo de Atzilut significa “receber para o propósito de doação”. O Partzuf seguinte, Arich Anpin (Hochma) surge em Katnut (pequenez – somente Kelim de Doação). Após este Partzuf, o Abba ve Ima (Bina) nasce, a seguir o Partzuf Zeir Anpin, e finalmente nasce Malchut sob a forma de um ponto. Os AHPs dos cinco Partzufim do Mundo de Atzilut são os Kelim de Cabalá, Kelim para receber. Estes últimos devem ser restaurados e corrigidos.

O Mundo de Atzilut é o único mundo que nós estudamos. O estudo dos outros  Mundos  é  limitado  até  ao  ponto  em  que  eles  se  relacionam com o Mundo de Atzilut. O nosso objetivo final é elevar todas as almas até Atzilut. Partzuf Arich Anpin envolve-se em muitas coberturas diferentes, chamadas Se’arot, ou cabelos, análogo aos cabelos do corpo humano.

Os três primeiros Partzufim do Mundo de Atzilut, surgiram nas Reshimot de Rosh (Cabeças) do Mundo de Nekudim. Zeir Anpin do Mundo de Atzilut é chamado Ha Kadosh Baruch Hu (O Santo, Bendito Seja Ele).

Malchut dos Mundos de Atzilut é chamada Shechina – o conjunto de todas as almas.

Todos os nomes, incluindo os nomes dos personagens mencionados  nos primeiros cinco livros da Bíblia, têm origem no mundo de Atzilut. E aqueles personagens dos Mundos de BYA são os mesmos, sob o controle do Mundo de Atzilut.

O Mundo de Atzilut não permite nenhuma Luz abaixo do Parsa além de um raio minúsculo de Luz chamada Ohr Tolada. Esta minúscula Luz é o que nos permite sentir os pequenos prazeres que sentimos neste mundo. Como são os AHPs que estão situados sob o Parsa corrigidos? Eles são iluminados por uma poderosa Luz por meio da qual vêem como diferem do Criador.

Então, eles desejam melhorar e se aplicar ao Partzuf localizado acima que para eles, é o Criador. Eles pedem a propriedade de dar, ou uma Masach (tela). Se o pedido vindo do AHP for autêntico, o Partzuf localizado acima os eleva fora dos Mundos de BYA até ao Mundo de Atzilut.

O preenchimento com a Luz só ocorre no Mundo de Atzilut. AHPs nos Mundos de BYA são realmente, as sete Sefirot de Zeir Anpin e as nove Sefirot inferiores de Malchut do Mundo de Atzilut. Isto porque, os Kelim de doação (Galgalta ve Eynaim) de Zeir Anpin e a Sefira (singular para Sefirot) de Keter  de Malchut, estão no Mundo de Atzilut.

O pedido de ajuda ascende às AHPs de Zeir Anpin e de Malchut, localizadas nos Mundos de BYA. Se, estas Sefirot forem elevadas e unidas às Sefirot correspondentes do Mundo de Atzilut, então é possível enchê-las com Luz. Tal condição é chamada Gmar Tikkun (Fim da Correção).

Qual é então a diferença entre os AHP ascendentes (Kelim de recepção) e aqueles que são alcançados pela Luz vinda abaixo do Parsa? A diferença é qualitativa: quando o AHP se eleva, é usado como um Kelim para doação e  não para recepção. A sua principal característica de recepção é removida durante a ascensão.

Em outras palavras, em vez de ser usado como um Kli de Recepção (AHP) é usado como Galgalta ve Eynaim (Kelim de Doação). Isto acrescenta algo ao Mundo de Atzilut, mas não corrige o AHP. Enquanto ascende, o AHP não usa a sua própria Luz, mas a Luz do Galgalta ve Eynaim.

Além dos AHPs que podem ser elevados ao Mundo de Atzilut, há muitos Kelim (Recipientes) em BYA que não podem ser elevados. Isto  porque, eles não estão misturados com Galgalta ve Eynaim. O que pode ser feito a fim de corrigir estes Kelim? Tal como em Shevirat ha Kelim (quebra dos Kelim) nos mundos, ocorre um Shevirat ha Kelim nas almas.

Com esta finalidade, Malchut de Ein Sof (nada mais do que  um ser criado puramente egoísta, desprovido de altruísmo e num estado de restrição que ele aceitou para si mesmo) é acrescentada aos Kelim de Galgalta ve Eynaim do ZON do Mundo de Atzilut.

Aqui, haverá tal combinação de Kelim de Cabalá (Kelim de recepção) com Kelim de Ashpa’a (Kelim de doação) que naturalmente, tal Partzuf se quebrará em partículas menores. Além disso, centelhas separadas de  altruísmo e egoísmo se combinarão, pavimentando o caminho para a correção de Malchut por meio destas mesmas partículas.

Assim, depois do Mundo de Atzilut entrar no estado de Katnut, Malchut do Mundo de Atzilut ascende ao nível de Ima (Bina) do Mundo de Atzilut e, uma vez aí, dá à luz o Mundo de Beria, fazendo um Zivug na Aviut Bet (nível 2).

Após o segundo Zivug de Malchut no Aviut Gimel (nível 3), nasce o Mundo de Yetzira. Depois, o Mundo de Assiya surge após o terceiro Zivug de Malchut no Aviut Dalet (nível 4). No fim de tudo isto, é fundamentalmente  criado um novo Partzuf em Katnut com Galgalta Eynaim, os Kelim de Doação. O AHP deste novo Partzuf na futura Gadlut será a Malchut de Ein Sof.

Este Partzuf é chamado Adam ha Rishon (Primeiro Homem). Mas, por que foram estes Mundos adicionais de BYA, criados? Para construir o  ambiente necessário para este Partzuf, no qual ele existiria e receberia de todo o lado, a Luz requerida para satisfazer os seus desejos sempre em mudança. Como no Mundo de Nekudim, o Partzuf de Adam ha Rishon nasce em Katnut com Kelim Galgalta ve Eynaim.

Tal como todos Partzufim, ele deseja entrar em Gadlut. Mas, no momento em que ele começa a receber a Luz para Gadlut, nos  Kelim de Cabalá (AHP) de Malchut do Ein Sof, ele se quebra em pequenas partículas.

Quando Adam nasceu, ele era totalmente justo (um Tzadik), ele já era circuncidado (seus Kelim eram de doação pura), e desprovido de Kelim de Cabalá. Então, ao se desenvolver, ele quis corrigir todo o Jardim do Éden, isto é, todos os seus desejos. Isto, apesar das instruções estritas do Criador para não fazer Zivug em Malchut de Malchut (estes são os meninos maus,  os desejos mais fortes de recepção somente para nós), a qual é incapaz de absorver intenções altruístas, qualquer Kelim de Hashpa’ A.

Adam não teve qualquer escrúpulo sobre a sua capacidade em executar uma correção em Malchut do Ein Sof, porque era o seu próprio AHP. Mas no momento em que a Luz começou a descer do Mundo de Atzilut abaixo do Parsa, Adam ha Rishon quebrou-se em 600.000 partes.

Cada uma destas partes tem que passar 6.000 anos (6.000 estágios de correção) tentando realizar a sua correção individual. A parte do egoísmo que a pessoa corrige à semelhança com o Criador, é chamada “a alma.” No instante da quebra, todos os desejos de Adam caíram para o nível mais baixo do egoísmo. Neste ponto, todos os fragmentos estão separados, e cada partícula separada se esforça para extrair prazer e deleite deste mundo.

Isto explica, porque condições especiais foram criadas para ajudar o homem a fortalecer a sua ligação com o Criador e receber a Luz corrigida de Cima. Ao submeter-se à correção, a pessoa deve enviar um pedido ao Criador que a auxilie a corrigir todos os desejos. A Luz do Criador desce, e 6.000 ações consecutivas devem ser feitas para corrigir a alma.

Quando isto acontece, a alma torna-se semelhante em seus atributos, a Malchut de Ein Sof. Então, ela recebe toda a Luz para o bem do Criador. Tudo o que revelamos relaciona-se ao Mundo de Atzilut e ao Partzuf de Adam ha Rishon.

 

Tudo o que está escrito na Cabalá, faz referência a algumas partes deste Partzuf ou do mundo do qual ele surge.

A percepção do mundo circundante em qualquer circunstância depende do nível a que uma pessoa ascendeu, e de que parte do Partzuf de Adam ha Rishon. A fim de, unirmos com o mundo espiritual, nós devemos alcançar uma similaridade de atributos com esse mundo.

Mesmo se, um só desejo combina com o inexorável atributo espiritual de dar, então se estabelece neste estágio, uma conexão com o Criador. No entanto, é muito difícil estabelecer este primeiro contato. Quando nos abrimos para o espiritual, compreendemo-lo claramente e não o confundimos. Nós precisamos então, transformar os nossos desejos. O Criador, por Sua vez, quer que alcancemos a correção e espera o nosso pedido.

A Luz divina existe em absoluto repouso, somente as almas são transformadas. Em qualquer estágio de transformação, elas recebem nova informação da Luz. O Criador só responde a preces / desejos sinceros. Se Ele não responde, isso significa que essa prece ainda não é verdadeira para ser atendida. Quando estivermos preparados, a resposta virá imediatamente, porque a Luz sempre quer preencher o Kli.

LIÇÃO 7

O nascimento dos cinco mundos: Adam Kadmon, Atzilut, Beria, Yetzira e Assiya é na verdade a realização das cinco Sefirot: Keter, Hochma, Bina, Zeir Anpin e Malchut que se encontravam na própria Malchut. A propagação dos mundos de Cima para Baixo iguala o aumento progressivo de Aviut dos quatro desejos ou fases de 0 a 4.

Os mundos são como uma esfera que circunda Malchut. Como analogia, vislumbre uma pessoa cercada por esferas concêntricas, usando os seus órgãos dos sentidos para perceber apenas, a esfera mais próxima dela: o Mundo de Assiya. Aguçando os nossos órgãos dos sentidos e modificando as nossas qualidades, começamos gradualmente a perceber a esfera seguinte, e assim por diante.

Todos os mundos são uma espécie de filtro, colocado no trajeto da Luz, uma tela especial que obstrui a Luz Circundante: Ohr Makif. Assim que sentirmos a presença destes mundos, removemos as “telas-filtro.” Isto atrai-nos para mais perto do Criador.

Se a Luz nos alcançasse sem ser filtrada, ela causaria a Shevirat ha Kelim dos nossos recipientes. Removendo todas as “telas-mundo” permitimos que todos os mundos nos penetrem. Neste estágio, adquirimos a Luz e possuímos os atributos similares àqueles da Luz. Tal estado é associado ao Gmar Tikkun – o Fim da Correção.

No início, nós como criaturas, estamos localizados dentro dos mundos e percebemos o seu poder e as restrições impostas sobre nós. Como podemos nós, superar estas restrições? Executando uma correção interna, correspondendo, por exemplo, aos atributos do Mundo de Assiya. Isto significa ser um altruísta no nível zero.

Quando adquirimos os atributos do altruísmo no nível zero, o mundo de Assiya penetra e pode ser sentido por nós. A fim de sentirmos o Mundo de Yetzira, devemos adquirir atributos similares àqueles deste mundo, e permitir que este mundo nos penetre. Neste estágio nos tornamos altruístas no nível  1.

O nosso objetivo é deixar entrar todos os mundos, e nos tornarmos similares a estes mundos de acordo com os seguintes níveis de Aviut: 2, 3, 4.

Por estes meios, Malchut é totalmente corrigida e absorve as primeiras nove Sefirot, enquanto nos movemos além dos limites de todos os mundos e alcançamos o Mundo da Infinidade (Olam Ein Sof). Para começar a correção, precisamos reconhecer os nossos próprios atributos, bem como aspirar aos atributos do Criador.

Cada Partzuf novo do Mundo de Atzilut começa da Peh do Partzuf anterior, com exceção do Partzuf de Zeir Anpin e Malchut; Zeir Anpin começa do Tabur de Abba ve Ima e Malchut começa do Tabur de Zeir Anpin.

Os três Partzufim de Atik, Arich Anpin e Abba ve Ima são chamados Keter, Hochma e Bina, que correspondem a Keter, a Hochma e a Bina do Mundo de Nekudim. A Rosh do Mundo de Atzilut corresponde às duas  Cabeças do Mundo de Nekudim e cumprem a mesma função. A Rosh do Mundo de Atzilut, que são Atik, Arich Anpin e Abba ve Ima, foi a primeira a emergir nas Reshimot dos Kelim não-quebrados do Mundo de Nekudim.

Entretanto, Zeir Anpin e Malchut são gradualmente restaurados. Apenas Galgalta ve Eynaim são restaurados de Zeir Anpin, e um único ponto de Malchut. Os AHPs de Zeir Anpin e Malchut estão nos Mundos de BYA. Se  estes AHPs forem corrigidos, então, todos os mundos serão corrigidos. A correção é realizada com a ajuda do Partzuf de Adam ha Rishon.

Como é este Partzuf de Adam ha Rishon? Malchut do Mundo de Atzilut  é elevada ao nível de Bina. Isto acontece em três fases. Todo o Mundo de Atzilut ascende então em três níveis. A condição normal do Mundo de Atzilut é chamada “um dia de semana.” Durante tais dias, o Mundo de Atzilut é  iluminado por uma Luz incompleta, que se expande para baixo até ao Parsa.

Após isto, uma Luz maior vem de Cima e confere maiores atributos ao Mundo de Atzilut, fazendo-o mover-se para um nível acima. Agora, Malchut está localizada no local de Zeir Anpin. Zeir Anpin alcança agora o nível de  Abba ve Ima. Abba ve Ima substitui Arich Anpin, o qual por sua vez eleva-se ao nível de Atik, que se eleva ainda mais, até SAG.

A primeira elevação do Mundo de Atzilut ocorre na noite de sexta-feira, Erev Shabbat. Tal progressão é chamada “despertar de Cima,” (Aramaico: Itaruta de Lai’la). Em nosso mundo isto corresponde aos dias, às semanas, ao tempo e a tudo o que não é dependente de nós, mas é dependente das leis da natureza em cima das quais não temos nenhum controle.

A próxima fase eleva o mundo de Atzilut um nível acima. Malchut está agora no nível de Abba ve Ima, onde é dotada com um atributo adicional: a intenção de dar. Neste estágio Malchut pode receber para o bem do  Criador. Ela agora tem uma tela e pode executar um Zivug de Hakaa, criando assim novos Partzufim. Baseado nos atributos de Abba ve Ima, por um lado, e nos atributos do Malchut de Ein Sof, por outro, Malchut cria um novo Partzuf: Adam ha Rishon.

Para um Cabalista, os estados espirituais, chamados Erev Shabbat (Noite de Sexta-Feira), Shabbat (sábado), Motzei Shabbat (Noite de Sábado) podem ser experienciados em dias, não tendo nenhuma conexão com o calendário. Para um Cabalista, seis dias podem durar um segundo, enquanto Shabbat pode durar vários dias.

Tudo o que ocorre neste mundo relaciona-se com os nossos  corpos, mas o que ocorre no mundo espiritual relaciona-se com a alma. De momento, podemos testemunhar que a nossa alma e o nosso corpo não estão sincronizados. Mas no futuro, o nosso mundo funcionará pelos mesmos princípios dos mundos espirituais, que acontecerá quando o Gmar Tikkun for alcançado. Então, todas as ações dos dois mundos, bem como todos os tempos, se fundirão.

Se você mudou e a mudança levou um segundo, e as mudanças seguintes levarão cinco anos, isto significa que o seu próximo segundo terá durado cinco anos. No mundo espiritual, o tempo é medido pela transformação de nossos atributos. Mil anos podem expirar em nosso mundo, antes que a pessoa comece a estudar Cabalá. Ao entrarmos no espiritual, podemos viver em um dia o que costumamos viver em várias vidas. Este é um exemplo de transformação e de encolhimento do tempo.

Os anos espirituais correspondem aos 6.000 graus, níveis de BYA e não podem ser igualados ao nosso tempo material referencial. A ascensão dos Mundos de BYA ao Mundo de Atzilut é chamada Shabbat (sábado). A porção que varia entre o Tabur de Galgalta e o Parsa é chamada Shabbat.

A primeira ascensão é a ascensão do Mundo de Beria ao Mundo de Atzilut, a segunda é a ascensão do Mundo de Yetzira ao mundo de Atzilut, e a terceira relaciona-se ao Mundo de Assiya. A ascensão dos Mundos de BYA e do mundo de Atzilut ocorre simultaneamente.

Quando a terceira fase da ascensão ocorre, o Mundo de Atzilut abrange Zeir Anpin e Malchut de Atzilut e os Mundos de BYA. Neste momento, a Rosh do Mundo de Atzilut: Atik, Arich Anpin, Abba ve Ima, cruza os limites do mundo de Atzilut e entra no Mundo de Adam Kadmon. A Rosh de Galgalta ascende  por sua vez (Fase 1 da ascensão) junto com a Rosh AB (Fase 2 da ascensão), e com a Rosh de SAG (Fase 3 da ascensão) e entra no Mundo de Ein Sof.

A direção do tempo espiritual é sempre de baixo para cima. Todas as almas, toda a humanidade, sem estarem cientes do processo, estão constantemente ascendendo, aproximando-se do Criador a fim de se unirem a Ele. Isto é chamado “o fluxo direto do tempo espiritual”. Tempo é sempre medido na direção positiva, mesmo se experimentarmos o processo como negativo.

Nós somos egoístas, por isso é que a espiritualidade é percebida como negativa. No entanto, nunca nos degradamos quando andamos no caminho do progresso espiritual. Neste mundo, não devemos procurar aumentar o nosso ego. Pelo contrário, devemos desejar com ardor nos aproximar do Criador. Ao trabalhar com este objetivo, e até que terminemos a nossa correção, nós sentiremos cada vez mais o nosso egoísmo crescendo. Em outras palavras, o nosso egoísmo natural parecerá pior, comparado aos Seus atributos divinos.

O estudo correto da Cabalá atrai a Luz Circundante (Ohr Makif) cuja função, é revelar os nossos verdadeiros atributos. Estes parecem ainda mais negativos, embora tenham permanecido imutáveis. De fato, só se torna mais ciente da verdadeira natureza de seus atributos sob a influência da Luz divina. Esta consciência demonstra-nos que progredimos, mesmo que sintamos isso de outra maneira.

Como são os Mundos de BYA? Eles são os Kelim altruístas que caíram no AHP abaixo do Parsa. Estes mundos também são divididos em Galgalta ve Eynaim e  AHP.  Seus  Galgalta  ve  Eynaim  terminam no  Chazeh  (Tórax)  do Mundo de Yetzira, isto é, após as dez Sefirot do Mundo de Beria e as seis Sefirot do Mundo de Yetzira.

As quatorze Sefirot inferiores, do Chazeh de Yetzira e abaixo (quatro Sefirot do Mundo de Yetzira e dez Sefirot do Mundo de Assiya) são o AHP dos Mundos de BYA. O Mundo de Atzilut ilumina com a sua Luz os Mundos de BYA descendo até ao Chazeh do Mundo de Yetzira. O Mundo de Atzilut é chamado Shabbat.

As dezesseis Sefirot superiores dos Mundos de BYA (Galgalta ve Eynaim), do Parsa ao Chazeh, são chamadas “fronteira do Shabbat” (Tehum Shabbat), mas o próprio Mundo de Atzilut é chamado Ir (cidade). Mesmo quando todos os mundos de BYA ascendem ao Mundo de Atzilut, ainda é possível trabalhar com os desejos localizados abaixo do Parsa até o Chazeh  do Mundo de Yetzira (Galgalta ve Eynaim).

É por isso que, em nosso mundo, é permitido durante o Shabbat cruzar os limites da cidade, mas somente nos limites da cidade dentro dos limites do Tehum Shabbat. Esta distância é medida como 2000 Ama (aproximadamente 3000 pés – 914 metros) e 70 Ama. Como esta distância é dividida?

Do Parsa ao Chazeh do Mundo de Beria é chamado Ibur e equivale 70 Ama. Esta distância é incluída no Mundo de Atzilut embora esteja localizada fora dele. É uma faixa exterior que cerca a cidade. A distância do Chazeh do Mundo Beria ao Chazeh do Mundo de Yetzira equivale a 2000 Ama.

A distância total entre o Parsa e o Sium é de 6.000 Ama. A porção dos Mundos de BYA que se estende do Chazeh de Yetzira ao Sium é chamada de “Seção da Casca” – Mador ha Klipot (o local das Cascas). Este Mador ha Klipot é composto dos AHPs dos Mundos de BYA, que envolvem as quatro Sefirot do Mundo de Yetzira e as dez Sefirot do Mundo de Assiya. É um lugar totalmente desprovido de santidade (Kedusha). Não se pode ir lá durante Shabbat.

As almas são elevadas ao Mundo de Atzilut para mostrar-lhes quais limites inerentes existem lá, de modo a que possam se manter dentro deles. Quando nos impomos limites, nós não os notamos. Nós estamos acima destas limitações, e elas não estão nos constrangendo. Então, as ações que empreendemos originam-se dos nossos próprios atributos. O objetivo da  criação implica uma ascensão pessoal, e o Shabbat existe a fim de nos mostrar o que existe nos Mundos Superiores, o que há para se esforçar.

A correção é alcançada quando a Luz do Criador brilha diretamente, não mais através dos mundos que agem como filtros. O brilho da luz é ilimitado e traz prazer desenfreado para cumprir o objetivo da Criação.

 

LIÇÃO 8

Resumindo o que estudamos até aqui:

Há cinco filtros ao nosso redor que oculta a Luz do Criador, ou cinco mundos. Se agirmos naturalmente, para nós mesmos, ficaremos debaixo da influência destes filtros. Todos eles se encontram acima de nós. Se alguém decide se corrigir de acordo com as propriedades de, somente  um desses filtros, mesmo que seja o menor, essa pessoa ascenderá. Ele ou ela permanecerá acima do filtro, e os seus atributos igualarão os atributos desse mundo. Mais ainda, se os atributos dessa pessoa se tornarem idênticos  àqueles dos outros dois mundos, ela neutralizará também a ação desses dois filtros e encontrar-se-á acima deles.

Nós estamos agora experimentando Tzimtzum, e parece-nos que o Criador não quer que O percebamos, e é por isso que Ele se oculta. Na verdade, se fizermos uma correção igual à do Mundo de Assiya, significa isto que estamos neste mundo. Nós removemos o filtro que não necessitamos  mais, e podemos agora reter a Luz e recebê-la com o propósito de dar. Então, percebemos que para o Criador não importa se fazemos a restrição com o propósito de receber para Ele ou para nós.

Simplesmente, a pessoa atinge um nível onde não há distinção entre receber ou dar, verdade ou mentira, boas ações ou transgressões. Nós escolhemos o que preferimos. Mas, do lado do Criador só existe um desejo, nos deleitar. O tipo de deleite depende do receptor.

O objetivo principal é, sem quaisquer condições impostas pelo Criador, escolher a ascensão altruística, mesmo que não incorra nenhuma recompensa ou punição, para si. Esta escolha não está ao nível de recompensa-punição, mas ao mais alto nível espiritual, onde abnegação e indiferença predominam.

O Criador coloca cinco filtros à nossa frente, para nos selar da Luz divina. Por detrás do quinto e último filtro, o Criador não é sentido, de forma alguma. Aqui, é onde o nosso mundo material está localizado. Aqui, neste mundo, a vida é suportada por uma minúscula centelha de Luz (Ner Dakik),  que é o significado da nossa vida, a soma de todos os nossos desejos de todas as gerações, nas nossas almas, desde o início da humanidade.

Esta Luz é tão diminuta que as ações levadas a cabo pelas almas, não são consideradas transgressões, mas simplesmente uma vida animal mínima. Não há restrições em receber estes prazeres mínimos. Viva e aprecie……..

No entanto, se você quer mais, tem de se tornar idêntico ao espiritual. Cada prazer espiritual significa praticar uma ação de dar, completamente altruística, independente de si mesmo.. Para realizar isto, tem de alcançar certo nível e agir como o próprio filtro, proteger a Luz.

O filtro deixa de existir, e assim a pessoa é capaz de repelir a Luz que  se esforça para entrar no Kli. Esta pessoa mais tarde receberá, mas para o  bem do Criador. A alma de Adam conformada às 30 Sefirot dos três Mundos de BYA, que representa o mesmo Mundo de Atzilut, mas localizado dentro dos desejos egoístas com Aviut Bet, Aviut Gimel, e Aviut Dalet.

Quando Adam corrige as suas ações e as espiritualiza, ele ascende junto com os mundos para o Mundo de Atzilut. Após atravessar os 6.000 níveis de correção, Adam ha Rishon ascende completamente até ao Mundo de  Atzilut. Cada alma, sendo um fragmento do Partzuf de Adam ha Rishon, segue o mesmo caminho.

Nós, não podemos escolher o que precisa ser corrigido, mas corrigimos o que nos é enviado de Cima, o que nos é revelado. E assim por diante até ao nível mais alto.

Capítulo 7

Do livro “Sabedoria Maravilhosa”

O MÉTODO DE ESTUDO DA CABALA

Uma vez reconhecida dentro de si, aquela ardente pergunta que exige respostas, você também deve ter um desejo inicial pelo Criador. Se ele está lá, você não precisa de mais nada! Se você foi dotado com esse desejo, desse momento em diante todo o processo está nas suas mãos, porque todas as forças que lhe são necessárias já se encontram na sua alma. Só é preciso desenvolvê-las, e esse é o seu trabalho. Fazer isso está em seu poder, porque o seu próprio corpo foi criado especificamente para permitir que você atinja o propósito da criação. Portanto, ninguém pode dizer que é incapaz, que circunstâncias o impediram de atingir o objetivo para o qual nasceu, neste mundo.

Se você está nos estágios iniciais de seus estudos, deve ler bastante, mas apenas o que pode entender. Leia bastante e não pare. Evite partes difíceis, porque aquilo que você pode entender com facilidade hoje, irá ajudá-lo mais tarde a entender as partes mais difíceis.

O material de aprendizagem da Cabala é dividido em duas partes:

1. O estudo da criação dos mundos, os Partzufim e as Sefirot, a gradação dos níveis de ocultação do Criador. Esta parte é crucial para o nosso entendimento do sistema da criação e suas ações. É estudada na seguinte ordem: Prefácio à Sabedoria da Cabala, O Estudo das Dez Sefirot, trechos selecionados do Zohar e do livro A Árvore da Vida. Este material deve ser estudado de maneira sistemática.

2. A ascensão da alma através dos níveis dos Mundos Espirituais, de baixo para cima. O estudante deve ler e reler livremente as partes que são de maior interesse. São estudadas por meio de artigos e cartas. Não foram escritas na mesma linguagem do livro O Estudo das Dez Sefirot, mas na linguagem das emoções, da ética, da análise das ações, etc. Não é a sabedoria da Cabala realmente, mas como é utilizada para a ascensão da alma. Você irá ler sobre isso nos livros de Baal HaSulam e de Rabash, como também nos livros de Dr. Michael Laitman.

O estudo inclui uma familiaridade com o material, ou seja, um examinar sistemático do material para ser capaz de encontrar referências. Isto é necessário, porque as pessoas que estudam a Cabala e ascendem espiritualmente estão sob contínuas mudanças, e devem selecionar o material que lêem de acordo com o estado em que se encontram no momento.

Milhares de livros foram escritos durante a história da Cabala, mas o Rabash nos instruiu a estudar apenas por meio destas fontes:

Os escritos de Rav Shimon Bar-Yochai

Os escritos de Ari

Os escritos de Baal HaSulam

Sugiro que os novos estudantes comecem a estudar estas fontes. Depois, quando tiver absorvido o material, você será capaz de entender outros escritores. Isto lhe dará uma base sólida, a partir da qual você examinará outras fontes para ver se elas também lhe servem.

No Bnei Baruch, os novatos são fortemente recomendados a utilizar apenas um determinado número de fontes selecionadas. Isto é assim, porque, apesar de tudo no mundo apontar para o Criador, nós somos incapazes de ver isso. A fim de vermos isso, nós devemos conhecer a direção certa e ter uma abordagem correta em relação à realidade, aprender os princípios do Plano Universal e as leis de seu desenvolvimento, seu objetivo, e as limitações da nossa percepção.

É importante notar que não desvalorizamos outras fontes, de maneira nenhuma. Muitos Cabalistas estavam num nível ainda mais alto do que o de Rav Shimon Bar-Yochai ou o do Ari. Contudo, eles não tinham permissão para escrever, ou se tinham, era com menores implicações, destinando-se aqueles que já se encontravam nos Mundos Superiores.

Os artigos que estudamos baseiam-se muito no comentário chamado de Escada. O Rav Yehuda Ashlag (Baal HaSulam) chamou aos seus comentários de Zohar de HaSulam (A Escada), porque lendo-os, somos ajudados em nosso mundo a subir a escada rumo ao Criador, abrangendo todos os níveis entre os degraus. Esse é o propósito da criação. Note que os comentários do Zohar apenas podem ser entendidos, após estudarmos todas as suas introduções.

Alguns estudam a Cabala apenas por causa do conhecimento. Aspirar simplesmente por “conhecer” é maravilhoso, embora não deva ser apenas uma aspiração pelo conhecimento, mas por sentir: para compreender o material estudado a partir do seu interior, de descobrir quem o seu “eu” é, e onde se situa dentro de si aquilo que os livros descrevem. Afinal de contas, tudo o que é escrito, é escrito de dentro, a partir da compreensão pessoal dos escritores.

Nenhum raciocínio no mundo nos ajudará a entender a espiritualidade porque ela se encontra acima da nossa razão e das nossas mentes. É por isso que não podemos senti-la. Os nossos sentidos podem apenas examinar coisas que eles captam e analisam um conhecimento que geralmente chamamos de “este mundo”. Para sentirmos o Mundo Superior devemos obter outros sentidos, que chamamos de “tela”. Apenas com uma tela podemos sentir o que está acima de nós, além das nossas sensações materiais, que os nossos sentidos naturais não podem detectar. Quando somos capazes de sentir o Mundo Superior, também recebemos uma mente e uma razão diferentes.

Primeiro, obtemos a sabedoria e a razão do Mundo Superior. Depois, começamos a senti-lo. A única maneira de obtermos uma tela é através da sabedoria da Cabala.

Portanto, quando lemos livros sobre a Cabala, os autores falam-nos exatamente a partir do nível que estão descrevendo. Não existe tempo na espiritualidade. Como diz o maior cabalista do nosso tempo, Rav Yehuda Ashlag: “… mas, como resultado do grande desejo e anseio por entender o que estão aprendendo, eles despertam sobre si mesmos, as luzes que circundam as suas almas” (Introdução ao Estudo das Dez Sefirot, item 155).

Como resultado do grande desejo de sentir o que estão estudando, os leitores despertam neles mesmos uma Luz circundante dos mesmos níveis espirituais sobre os quais estão lendo. O que é importante é a intenção. Mas o problema é que não podemos nos impor a intenção correta. Essa intenção deve vir do coração, desde que o coração a queira. Isto ocorrerá se houver uma necessidade por sentir algo superior, se as nossas almas tiverem se desenvolvido até ao ponto em que precisam do Criador, e não das coisas materiais deste mundo.

Por vezes, simplesmente não queremos estudar. Mas, na verdade é bom estudar quando você não sente vontade para isso. Nesses momentos, é melhor estudar a estrutura dos mundos. Estudar “contra você mesmo”, contra o seu estado de espírito atual, pode trazer bastantes benefícios.

Por exemplo, se estou desesperado, devo ler artigos sobre a ânsia pelo Criador. Temos de experimentar todas as emoções. Afinal de contas, somos feitos a partir de combinações de todos os sentimentos e atributos que existem no mundo. Na Cabala, você faz experiências em si mesmo.

Só a alma pode sentir os seus verdadeiros desejos. Nós mesmos não os sentimos. Podemos pensar que um determinado desejo está ardendo dentro de nós, mas na verdade podemos estar nos enganando a nós mesmos. Contudo, a alma é o que finalmente nos conduzirá ao nosso objetivo, assim como nos conduziu até aqui. Não foi por meio da nossa sabedoria ou do pensamento consciente que viemos a aspirar pela Luz Superior.

Para desenvolver os atributos necessários ao crescimento interno, é aconselhado: “Seja o que for que a sua mão alcance para fazer pela sua força, faça-o”. Isto significa que você deve fazer tudo o que puder para absorver o máximo de material possível. Leia, mesmo que seja apenas para enriquecer o seu conhecimento e vangloriar-se diante de seus amigos com relação a isso. Com o tempo, a grande quantidade de seus estudos dará frutos.

Isto também é verdadeiro no que se refere ao primeiro estágio de seus estudos. Para absorver o máximo de informação possível, é aceitável mentir para si mesmo e determinar objetivos, especificando benefício próprio. Mas depois, você compreenderá que os seus resultados dependem da qualidade do material, ou seja, da sua mentalidade e das suas intenções. É por isso que é dito: “A Luz nela corrige”. A intenção apropriada é o que nos leva à percepção.

Tudo o que atingimos e falamos, é sobre aquilo que sentimos dentro de nós. O que ouvimos, vemos e sentimos não são objetos externos, mas as nossas próprias reações àqueles objetos. Quando percebemos o Criador, compreendemos que, fora de nós, nada muda realmente. Nós é que mudamos internamente, e nos relacionamos com essas mudanças como se fossem externas.

As pessoas fazem todo o esforço para absorver tudo à sua volta e para entender o máximo que podem com o mínimo de esforço possível.

Neste estado como completos egoístas, experimentamos apenas as nossas reações internas. Mas, quando obtemos êxito em restringir as nossas intenções de agradar a nós mesmos, começamos a querer agradar ao Criador, a sentir o que está fora de nós, ou seja, o Criador, sem nos focar em nós mesmos.

Então, na medida em que desejamos “não para nós mesmos,” sentimos a Luz do Criador. Na medida em que vamos conhecendo o Criador, sentimos um desejo de dar a Ele, o que resulta no desenvolvimento de um laço recíproco entre nós e o Criador. Esta medida da revelação do Criador é chamada de “nível.” Nas nossas emoções, estes níveis são organizados em cinco grupos chamados de “mundos”. São as medidas da revelação e ocultação do Criador.

Ás vezes ao estudarem o sistema dos mundos, os estudantes chegam ao ponto da criação de Malchut e da primeira restrição. Depois disso, eles param de entender e não conseguem fazer nenhum outro progresso. Na realidade, é um bom sinal se você não consegue entender as coisas mais simples. Isto significa que a sua alma pede para ser preenchida com a sensação do Criador. Isto suprime a necessidade por entendimento intelectual. Como resultado, você não preenche o seu cérebro porque a sua alma não deixa!

Contudo, sem uma tela, a alma não pode ser preenchida também. Como resultado, você tenta aprender, mas não consegue entender nada. De fato, este é outro bom sinal que mostra a sua necessidade interna por desenvolvimento espiritual.

Aqueles, cujas almas não os motivam rumo às sensações internas, mas rumo ao conhecimento, estudarão bem e ganharão uma quantidade tremenda de conhecimento. Contudo, as suas almas permanecerão vazias. Ao mesmo tempo, o conhecimento deles mostra-se superficial; não entendem os processos internos porque o Criador fez um Kli (recipiente) de desejo, e não um Kli de entendimento, assim o conhecimento da Cabala só pode resultar da análise emocional.

Na Introdução ao Estudo das Dez Sefirot, Rav Yehuda Ashlag escreve que, ao contrário de algo que exige talentos, memória, habilidades técnicas, agilidade, senso rítmico e força, o estudo da Cabala não exige talentos, porque todos os talentos são atributos do corpo que se encontra neste mundo. Por outras palavras, estes atributos pertencem à natureza deste mundo, que não está envolvida no alcance do Superior.

As pessoas muitas vezes desejam saber se ao estudarem a Cabala se tornarão mais espertas. Quando uma pessoa nasce, os seus desejos são muito pequenos. Depois, eles começam a se desenvolverem ligeiramente. A medida do desenvolvimento destes desejos determina a medida do desenvolvimento da mente. O cérebro pode se desenvolver apenas na medida necessária para satisfazer os nossos desejos. Mas, quando embarcamos no estudo da Cabala, os nossos desejos crescem e nos tornamos cada vez mais egoístas, e, portanto mais espertos. Mas não há necessidade para se preocupar: quando estuda, você obtém de Cima tudo o que precisa para o seu desenvolvimento. Você na verdade sentirá algo novo dentro de si – uma dádiva do Criador.

Por vezes, e após anos de estudo da Cabala, o objetivo das nossas vidas torna-se “rotina”. Aqueles pensamentos especiais parecem desaparecer, e às vezes é como se não houvesse movimento ou realizações. Às vezes, o próprio objetivo desaparece. Isto, na verdade, é temporário. É quando sentimos um vazio absoluto, o qual ocorre apenas quando nos esforçamos por compreender com toda a nossa força, que fazemos o verdadeiro progresso.

A nossa luta pode ocorrer debaixo das situações mais desesperadoras, e após anos de desapontamentos e de constantes despertares das nossas aspirações pelo objetivo. Então, gradualmente, torna-se claro que só o Criador pode mudar as nossas situações. Tal mudança pode ocorrer apenas pela nossa total devoção, apesar das cascas, ou seja, dos nossos desejos egoístas de obter prazer na Luz do Criador, nos dizem constantemente que ainda podemos fazer as coisas por nós mesmos. Só então, e sem nenhum aviso, vem a ajuda do Criador, como um sonho que se torna realidade, no momento menos esperado.

A coisa mais importante na Cabala é conseguir a tela, que você começa a cultivar por sua própria conta. A tela nasce e desenvolve-se em nós sem nenhuma intenção da nossa parte, porque não sabemos o que é. Todas as coisas novas que aparecem em nós são somente consequência direta dos nossos estudos.

Nós não conseguimos saber o que vai aparecer em nós no próximo instante. Será sempre algo estranho e novo, então como vamos saber disso antecipadamente? Como podemos prever?

“Novo” significa algo de um nível mais alto do que meu nível atual.

Portanto uma tela não pode ser cultivada intencionalmente.

Se, depois de algum tempo, lhe faltar prazer no seu ambiente de estudo, lembre-se que esse é um estado temporário. Continue estudando e a sua alienação da sociedade logo será substituída pela situação oposta: você sentirá que existem mais prazeres à sua volta do que jamais sentiu. Então, descobrirá um desejo de receber, maior do que antes dentro de você. Isto acontecerá para lhe dar algo para você corrigir.

Quando sentir falta de desejo por sucesso espiritual, leia bastante, e leia apenas o material que o seu professor sugerir, aquelas partes que o seu coração deseja. Em momentos assim, o meu professor sugeriu que eu dividisse o estudo entre o Prefácio à Sabedoria da Cabala, os artigos e cartas. Estude tudo o que é convidativo à sua alma.

Os estados de espírito mudam freqüentemente no decorrer do caminho. Isto é natural e mostra que você está progredindo. Os artigos que você ler, mostrarão que os seus sentimentos e pensamentos são típicos de alguém que está progredindo. De manhã, antes do trabalho, estude A Ciência da Cabala (Pticha) durante uma hora e antes de dormir leia as cartas e artigos que falam do trabalho interno.

Quando você, como estudante da Cabala, sentir falta de entusiasmo, o que está sentindo é o começo da recepção dos seus novos valores e da sua reação a este fenômeno. Este período demora algum tempo; você não pode realizar mudanças significativas de uma só vez, porque a sua mente, os seus sistemas fundamentais, o seu sistema nervoso, e os relacionamentos recíprocos com o seu ambiente, fazem com que seja muito difícil fazer isso.

Se você sentir isso, a boa notícia é que você já começou o processo inicial de mudança interna. Continue estudando e fazendo perguntas. Você é apenas como qualquer outra pessoa que sente os efeitos iniciais do estudo correto no seu mundo interno. A pessoa que estuda a Cabala não desce de um estado anterior, mas sobe para um mais alto, portanto não há razão para desespero, muito menos para depressão.

Existe uma lei na natureza chamada de “a lei da equivalência de forma”. Esta lei faz com que objetos com atributos similares se aproximem, e objetos com atributos opostos se distanciem uns dos outros. Quando indícios de atributos espirituais surgem, esta lei começa a agir sobre nós na medida em que alcançamos estes atributos. Se você estudar o material de maneira correta, verá que várias pequenas mudanças acontecem dentro de si. Verá que está sendo conduzido, que existe uma alma dentro de si, e que algo o está afetando do exterior.

Verá que a sua alma e a Luz do Criador, que a afetam, estão conduzindo você, e não o seu cérebro físico. A sua mente contém conhecimento do presente, ao passo que, o futuro permanece desconhecido. Porém, mesmo antes do futuro lhe ser revelado, você quer fazer mais do que apenas fantasiar sobre ele; você quer agir como se estivesse nele, como se tivesse ascendido ao próximo nível de consciência.

Às vezes, após estudar por algum tempo, a pessoa pode desejar largar determinadas coisas em sua vida e devotar mais tempo ao seu trabalho espiritual. Mas externamente, você deve continuar a trabalhar e não mudar nada! Não importa o quanto o seu interesse diminui, você não deve seguir os seus desejos, mas o seu dever.

Quando estudamos a Cabala de maneira correta, a Luz circundante que é despertada trabalha as nossas almas e inicia o próximo estado espiritual. Esse estado irá chegar por si só, e substituirá o estado presente. Ao fazer esforços consideráveis no estudo da Cabala, a pessoa pode acelerar mudanças pessoais. Esta é de fato, a única liberdade de escolha que temos neste mundo.

Baal HaSulam escreve na Introdução ao Estudo das Dez Sefirot que o Criador repousa a nossa mão na boa sorte e diz-nos: “Escolha isto para você.” Portanto, onde está então a escolha? A escolha na verdade, é que, ou somos empurrados por trás, o qual sentimos como dor, ou corremos adiante por nós mesmos, á frente da dor. Esta é a nossa única liberdade de escolha.

Tudo o que acontece no nosso mundo, tudo o que as pessoas fazem, é tudo predeterminado, porque todas as nossas características e o nosso ambiente, tanto interno como externo, são predefinidos pelo Criador. A liberdade de escolha existe apenas para aqueles que desejam a espiritualidade, e apenas por meio de seus esforços pessoais.

Todo o estudante quer saber como acelerar o seu progresso espiritual e ao fazer isso, evitar a agonia. Você pode fazer isso das seguintes maneiras:

Leia os livros do Baal HaSulam, do Rabash e do Dr. Laitman.

Faça parte de um grupo cujo propósito é descobrir o objetivo da criação. Seja ativo e faça algo para os membros do grupo e para o líder espiritual.

Comece a escrever tudo o que você sabe sobre espiritualidade. Dessa maneira, você pode corrigir o seu nível espiritual atual de maneira mais rápida e criar uma necessidade por alcançar o próximo nível.
Faça parte de maneira ativa da disseminação da sabedoria da Cabala. Este é o meio mais eficaz de todos.

As pessoas frequentemente perguntam sobre as, assim chamadas, “más situações”. Na verdade, do ponto de vista Cabalístico, más situações não existem. O Criador nos dá todas as coisas com o único propósito de nos corrigir. Existe o Criador, nós e o que recebemos Dele.

É dito que “A Luz do Criador nos cansa”. A Luz mostra-nos quem e o que somos, que somos apenas minúsculos egoístas. Contudo, ela nos mostra as nossas fraquezas – a nossa escravidão ao nosso ego – apenas na medida que só suportamos o que vemos. Quanto mais nos desenvolvemos e nos corrigimos, mais óbvio se torna em como somos vis, e bem diferentes do Criador. Isto nos é mostrado para nos corrigir, para simplesmente reconhecer a nossa própria natureza, e rejeitá-la de seguida. Cada vez que lemos os livros certos, compreendemos mais e mais profundamente quem somos e quem é o Criador.

Qual é o propósito do estudo da Cabala? Quando começamos os nossos estudos, de acordo com o nosso progresso na vida, começamos a focar as nossas ações rumo ao objetivo, que é alcançar contato espiritual com o Criador. Ficamos sob a Sua Providência particular exatamente nessa medida, que é o propósito da nossa busca, apesar de a nossa busca ainda ser uma busca inconsciente.

Se lemos apenas livros autênticos sobre o mundo espiritual, se é isso que achamos interessante, já estamos sob a Providência particular do Criador. O Criador guia a todos, mas Ele guia-nos pessoalmente. Cada alma recebe a Luz do Alto com intensidade crescente, e, portanto se desenvolve de acordo com o propósito da criação. Isto é chamado de “Providência geral”. Mas quando ele nos tira do meio das massas para nos promover de maneira mais rápida e nos atrair em direção a Ele, isso é chamada de “Providência particular”.

Num estado de Providência particular, começamos a sentir ascensões e descidas. Estas serão expressas em nossa sensação do Criador ou em sua ausência, de acordo com os nossos atributos. Nós deixamos de ver a vida como os outros. Enquanto os outros dizem: “Graças a Deus, mais um dia se passou. Permaneci saudável e fiz algumas coisas”; nós, por outro lado, começaremos a avaliar-nos em grande detalhe.

Perguntaremos a nós mesmos: “Estou mais próximo do Criador hoje? Tenho um desejo por Ele?” Mesmo que as nossas respostas sejam negativas, elas serão, no entanto, um testemunho do nosso progresso.

Ao contrário de todas as religiões e filosofias, a Cabala afirma claramente e de forma inequívoca que a ascensão espiritual implica prazeres ampliados. O início do caminho inclui o estudo da Cabala, enquanto o leitor mantém um estilo de vida normal sem mudanças ou limitações. Mas, já que os nossos desejos influenciam os nossos atos, se queremos alcançar algo sublime, devemos agir de maneira adequada.

Assim, vemos que a correção é um processo que envolve o efeito da Luz Superior em nós. Não é um processo de restrição por coerção. Esta é precisamente a diferença entre a Cabala e a religião: a Cabala ativa o poder do Criador – não é uma força opressora do exterior. Portanto, quando recebemos mais e mais força do Alto, ela abre os canais para desejos maiores, que podem então, ser corrigidos e usados apropriadamente.

Nós não podemos viver sem prazer. Afinal de contas, a nossa própria essência é o desejo de receber deleite e prazer, e o propósito da criação é alcançar o prazer perfeito. Não há nada de errado com o prazer em si; devemos corrigir o seu objetivo, e não o desejo em si. Então, o que é que faço com os meus desejos? Quero uma casa grande e bonita; embora uma pequena sirva bem. Quero um carro novo, embora o velho ainda ande. Com relação ao meu emprego, ainda estou interessado em um que me traga mais responsabilidades. Tenho de remover estes desejos para criar espaço para mais estudo?

Tudo nas nossas vidas – nossas escolhas, os passos que damos nossas preferências, e o jeito como avaliamos as nossas vidas – são definidas pelo quão necessário sentimos que estas coisas são. É dito que “Tudo quanto o homem tem dará pela sua vida” (Jó 2:4). Por um lado, esta citação pode ser interpretada desta maneira: a pessoa sacrificaria tudo pela vida, pela saúde e pela possibilidade de continuar viva. Por outro lado, você pode dizer que

abriríamos mão de tudo (inclusive da vida) por algo sem o qual a nossa vida não teria sentido. Encontramos exemplos disto por toda a história. Mesmo na nossa época materialista, tudo depende da nossa apreciação pelos valores materiais como pelos espirituais. Estes valores mudam com o nosso desenvolvimento, fazendo a auto-coerção desnecessária.

Na Introdução ao Estudo das Dez Sefirot, Rav Yehuda Ashlag explica que no passado, no despontar da história, alguém que quisesse estudar a Cabala e iniciar-se na espiritualidade tinha de se restringir e viver miseravelmente a pão e água. Mas hoje, e após correções feitas no mundo por Cabalistas mais recentes, juntamente com o desenvolvimento das almas geração após geração, tudo o que é preciso para se alcançar o Mundo Superior, é o estudo da Cabala.

Portanto, o ascetismo e as restrições que as pessoas costumavam praticar, hoje não são mais necessárias. Os Cabalistas atraíram a Luz Superior na nossa direção, sobretudo desde a época do Ari (século XVI). Como se diz: “A Luz nela corrige”; o que significa que o estudo da Cabala desperta uma iluminação invisível da Luz Superior que nos corrige.

Os Cabalistas explicam que o estudo da Cabala desperta esta iluminação dentro do discípulo, de maneira mais intensa do que qualquer outro estudo. Portanto, eles aconselham a quem queira alcançar a espiritualidade e o propósito da criação, a estudar a Cabala. É claro que você pode continuar construindo casas, comprando carros e dando presentes caros, mas é importante estudar regularmente, ler sempre que puder, e ler apenas os escritos de Cabalistas autênticos. Este estudo trará a você novas situações internas e novos valores, por meio dos quais você tomará futuras decisões.

Os interesses primários e secundários em sua vida mudarão gradualmente, mas esta mudança deve vir de dentro de si, e não por meio da coerção. Não deve haver coerção na espiritualidade, e a origem da coerção no nosso mundo são as cascas. A solução é continuar a estudar a Cabala, e ser você mesmo em todos os momentos. Com o tempo, a sua alma irá guiá-lo e dizer-lhe quanta energia aplicar na espiritualidade e quanto gastar nas atividades mundanas.

Quando começamos a estudar, por vezes sentimo-nos miseráveis porque não sabemos como mudar a nossa intenção. Não tenho pista alguma em como inverter isto, para que nada do que eu faça seja para meu ganho pessoal. Tais sentimentos são bons no começo de nossos estudos. Eles mostram que estamos progredindo rumo à espiritualidade, rumo à barreira, rumo às sensações do Mundo Superior.

Cada nível e cada situação espiritual que experimentamos, devem morrer ou desaparecer. Por outras palavras, devemos rejeitar o nível de crescimento anterior, como indigno do nosso novo estado. O mesmo se aplica às almas: uma nova vida só se inicia, depois da morte ter ocorrido e do processo de decomposição se ter completado.

Assim, a nossa situação atual termina quando se torna intolerável. O desejo de prosseguir para a próxima fase é formado a partir da intolerância do presente estado. Discordância com a situação atual traz com ela uma nova situação. Portanto, a nossa solução está em focar exclusivamente na quantidade e na qualidade de nossos estudos. Devemos ler bastante (quantidade), com o pensamento de que cada uma das palavras nos traga novos poderes e nos transforme de dentro (qualidade).

Apenas aqueles que descobrem a Luz na Cabala vêem que a sua força enfraquece. Isto é porque eles a estudam para receber força de Cima, para serem corrigidos, e para se assemelharem ao Criador. Não querem ficar no nível em que simplesmente satisfazem as suas necessidades corpóreas. Como dizem os nossos sábios: “Você é chamado de homem, e não aqueles que cometem idolatria”.

Aqueles que cometem idolatria são aqueles que adoram as suas más inclinações e que se curvam diante de seus egos. Você pode se curvar diante do Criador, ou diante de seu ego, porque existem apenas essas duas possibilidades. Curvar-se diante de alguma coisa indica o desejo por ela, ou pelo atributo que ela simboliza. Curvar-se diante do ego significa que a pessoa coloca o ego acima de si mesma; não existe desejo de suprimi-lo, mas de se alimentar dele. A rendição ao ego é chamada de “curvar-se diante de um deus estranho”. Na Cabala, isto é chamado de “idolatria”.

Se o estudante estuda a Cabala para se tornar um “humano”, a má inclinação vê que não encontrará nada aqui e as forças naturais enfraquecem. Mas nesse momento, a pessoa ainda não possui os poderes espirituais de doar, e, portanto ainda não é atraída pelo Criador, como não há ainda o conhecimento de quem Ele é.

Estar entre os dois mundos é o estado que causa a indiferença. É uma fase necessária. Após essa fase, o Criador aparece gradualmente. Objetivos espirituais mais elevados aparecem e a pessoa avança. Se um estudante sente cansaço que provém da falta de desejo genuíno pela espiritualidade, é importante entender que existem os trabalhos Lo Lishma (não para o nome Dela – não para o Criador) e Lishma (para o nome Dela – para o Criador). Trabalhar Lo Lishma é trabalho espiritual que primeiro envolve o trabalho com a intenção de para si mesmo. Para sentir que está trabalhando Lo Lishma (e nem todos conseguem sequer isso), você sente pelo menos levemente – como se à distância – o sentido de trabalhar Lishma, para que possa comparar os dois e compreender que está trabalhando Lo Lishma.

Contudo, estas são apenas ações mecânicas. Não nos devemos enganar a nós mesmos pensando que alcançamos algo substancial. Então, gradualmente, devemos pedir ao Criador que plante em nós o poder de realizar uma ação espiritual autêntica, somente para Ele.

Tudo isto acontece gradualmente. Uma fraqueza física temporária é o resultado da transição de fazer coisas para si mesmo para, fazê-las para o Criador.

Às vezes, temos um forte desejo de compartilhar alguns dos nossos sentimentos recém-adquiridos com um amigo. Os estudantes nunca devem compartilhar as suas sensações e emoções internas com ninguém além do Criador ou do seu professor. Isto é porque as outras pessoas, mesmo sem querer, projetarão os seus egos em nós, e perderemos a nossa força mental por algum tempo. Embora devamos sentir um alívio temporário, perderemos temporariamente a nossa habilidade de subir a um nível mais elevado quando partilharmos as nossas sensações.

É bastante natural, nós falarmos apenas de nós mesmos. De qualquer forma, em nossas palavras, sempre incluímos nossos egos. Não importa se o ego está escondido ou descoberto: a coisa mais importante é não falar sobre as nossas sensações espirituais relativas ao Criador. Podemos falar sobre Sefirot, Partzufim e sobre a sabedoria da Cabala sem limites, contanto que não mostremos as nossas sensações, porque, ao fazê-lo, podemos prejudicar tanto a nós como aos nossos amigos. O mesmo se aplica aos nossos cônjuges, filhos, e até pessoas totalmente desconhecidas. Estude os livros, mas nunca fale sobre as suas sensações.

O estudo da Cabala não inclui apenas o trabalho com os livros. Ações físicas para beneficiar o grupo, organizar palestras e grupos de estudos de Cabala são mais benéficas do que o estudo em si. Servir o professor é mais benéfico do que estudar com ele. No seu “Discurso da Conclusão do Zohar”, Rav Yehuda Ashlag cita os antigos sábios Cabalistas: “Faça um Rav para si e compre um amigo”.

Em outras palavras, escolha uma pessoa que você acha importante e faça dela seu professor. Então, tente agradar a ele ou a ela. Seu professor é bastante importante para você. Ao agradar o seu professor, você vai se acostumar a fazer algo para os outros, e por meio da força do hábito você será capaz de fazer o mesmo pelo Criador. Ao ser espiritualmente próximo do seu professor, você receberá o nível no qual o professor aprecia o Criador. Isto lhe dará uma oportunidade de ao menos fazer alguma coisa pelo Criador, e de entrar no mundo espiritual desta maneira. Ao mesmo tempo, você obterá a sensação da grandeza do Criador e será capaz de avançar até à adesão completa com Ele.

Notar os pedidos de seus professores com o intuito de satisfazê-los, permite que você atinja semelhança espiritual com eles. Você será capaz de receber os pensamentos e o conhecimento deles, e acima de tudo, atingir o amor e atração deles, pelo Criador, que lhe darão a capacidade de se desenvolver e progredir espiritualmente. Porém, o estudo com o seu professor é sempre motivado pelo desejo de conseguir conhecimento individual, para si. Como resultado, o estudo não traz com ele, a proximidade espiritual do Criador. Por outras palavras, ao fazer coisas para o professor, você obtém os seus pensamentos, e ao estudar você obterá apenas as suas palavras.

Você só pode obter os seus pensamentos se a motivação de servir o professor vier do desejo de agradar ao professor, e não a si mesmo. Na situação oposta, quando a nossa motivação é o nosso desejo por gratificação própria, o objetivo é estudar e torna-se mais importante do que servir o professor.

Se o ambiente à nossa volta não enaltece a glória do Criador, como deveria, nunca seremos capazes de atingir um nível espiritual. Portanto, é sempre recomendado que nós, como estudantes, consideremos a nós mesmos como os mais baixos (espiritualmente), comparados ao nosso grupo. Isto permite ao estudante adotar o estado de espírito coletivo. Nosso ambiente é necessário para atingirmos o propósito da criação, é por isso que você deve “comprar um amigo”.

Esforços na circulação da Cabala ajudam a acelerar as mudanças mais do que qualquer coisa. As coisas vão mudar de qualquer jeito; a única questão é o quanto o processo vai demorar – um dia, um mês, a nossa vida inteira? O próximo nível está logo ali, e está em seu poder voar para ele agora mesmo! Isso só depende de nós e de ninguém mais!

Quando estudamos para alcançar o Mundo Espiritual, o tempo é de crucial importância, pois devemos nos acostumar com os conceitos e definições espirituais, e depois viver neles. Por “tempo”, queremos dizer que mudanças ocorrem em nós de uma maneira consistente e a uma grande velocidade. Não as sentimos, de fato, podemos sentir como se não estivesse acontecendo nada. Apenas depois, subitamente e de maneira bem profunda, compreenderemos todas as mudanças que ocorreram.

Este é o resultado daquelas pequenas mudanças internas que não sentimos. O nosso limiar de sensibilidade é bastante alto, e apenas de um determinado nível em diante começamos a sentir essas mudanças. Tudo o que passa por nós, deixa a sua marca em nossas almas, e, após algum tempo, a mudança aparece subitamente. Portanto, a coisa mais importante a se fazer é ler, o tempo todo, não importando o quanto absorvemos do texto.

Existem textos que devem ser lidos e relidos de acordo com o currículo geral, e existem textos que devemos ler apenas quando estivermos com disposição. Tais como as cartas ou artigos sobre a sensação do espiritual. É dito que, quando ascendemos, quando nos sentimos próximos do conteúdo, é bom ler apenas as coisas que tocam os nossos sentimentos; isto é, das quais o entendimento virá por meio de nossos corações. O problema para alcançar o espiritual é que não possuímos os sentidos corretos para fazê-lo. O espiritual pode ser obtido lentamente e gradualmente quando o coração o permite. Assim, existe o momento de usar o cérebro, e existe o momento de usar o coração.

Às vezes, quando simplesmente pegamos num livro de Cabala, imediatamente surgem vários tipos de distrações que “rastejam” pelas nossas mentes, até querermos largar nossos estudos. Mas assim que do Alto nos é enviada dor, devemos pegar um livro de Cabala, e nessa altura não teremos nenhum problema em nos concentrar nas suas palavras.

O desejo por prazer é tudo o que o Criador criou. Nos humanos, esse desejo é mais desenvolvido do que em todos os outros animais. O objetivo do Criador é que a humanidade seja como Ele: completa e eterna. Mas esse objetivo só pode ser alcançado através da influência do prazer ou da dor. Por sermos feitos para nos deleitar e sentir prazer, não podemos não sentir nada. Sentimos a falta de prazer como agonia. Quando o prazer vem, o aceitamos como natural, e o tomamos como adquirido, pensando: “Eu mereço”. Quando a dor vem, nos ressentimos e sentimos: “Não mereço isto”. Novamente, isto provém do fato de que nascemos de uma substância chamada de “desejo por prazer”.

Porque o Criador tem um desejo de doar às Suas criaturas, Ele nos criou com um desejo por prazer. Mas se fossemos influenciados apenas pelo prazer, por sermos exclusivamente feitos a partir de um desejo por prazer, seríamos tão egoístas que nos tornaríamos estúpidos. Assim, apenas a busca por prazer nos obriga a desenvolver. Para sermos levados ao desenvolvimento completo, ou seja, sermos como o Criador, há apenas uma opção: doar.

Quando recebemos prazer, achamos que o merecemos, mas logo que sentimos dor, começamos a procurar a sua origem. Deste modo, chegamos ao Criador gradualmente, a origem tanto do prazer como da dor. A dor cria em nós um desejo de encontrar a sua origem, de conhecer o Criador. De outra maneira, nunca conheceríamos o Criador e nunca seríamos capazes de nos igualar a Ele.

Se nos dizem que estudar a Cabala é bom para nós, como podemos nos fortalecer ao longo do caminho? O Criador nos envia perturbações para que ao superá-las aprendamos como nos aproximar Dele. E se as perturbações não nos trazem força suficiente para superá-las, são-nos enviadas mais agonias para nos obrigar a fazer um esforço extra para superá-las. Neste ponto, as perturbações não nos assustam mais, porque o medo da dor nos força a estar em alerta constante. E este é o caminho! Afinal de contas, você quer alcançar a coisa mais importante que existe, não apenas em nosso mundo, mas em qualquer lugar!

Ao estudarmos, surgem várias perguntas. É importante entender que uma pergunta é um Kli (recipiente), e o que importa é o Kli. Assim que estiver completo, a Luz (a resposta) o preencherá imediatamente. Se estamos prontos para a resposta, sentimos a Luz Superior na medida do amadurecimento do nosso desejo. Se não estamos prontos para a resposta, não sentimos a Luz.

A Luz Superior está em constante repouso. Está sempre dentro de nós. Apesar do fato da Luz e o Kli terem atributos opostos, quando a Luz preenche o Kli, eles se tornam como um todo, único. As respostas chegam precisamente onde existem perguntas.

O Criador e a criatura fundem-se num só atributo, embora a criatura não sinta isso. Os Cabalistas não escondem esta fusão; pelo contrário, eles a enfatizam. Fazem isso para que os outros compreendam que os seus esforços servem para ajudá-los a descobrir por eles mesmos o que está sempre no interior, mas que está oculto por causa do nosso atual estado corrompido.

CAPÍTULO 6

Do livro “Sabedoria Maravilhosa”

ESTUDAR CABALA

A importância de estudar esta sabedoria maravilhosa é que há um grande poder no estudo da Cabala, que pode ser benéfico para todos. A alma inicia a sua existência no mundo de Ein Sof (lit. Sem Fim). Ela então desce através de cinco níveis de ocultação que a Cabala refere como “Mundos Superiores” antes de, finalmente vestir os nossos corpos físicos. Os nomes deste sistema de mundos superiores são: Adam Kadmon, Atzilut, Beria,  Yetzira, e Assiya.

A lei principal dos Mundos Superiores é o altruísmo. Esta lei age quer estejamos conscientes ou não, e nós devemos segui-la, quer queiramos ou não. Desobedecer a esta lei leva a catástrofes e tragédias, tanto individuais como coletivas. Esta lei não é cancelada, apesar de pararmos assim que a quebramos. Só seremos capazes de entender quando e como esta lei  funciona, estudando a sabedoria da Cabala.

O resultado da nossa descida a este mundo é que estamos completamente dependentes dos componentes e características deste sistema espiritual. Assim, para funcionarmos de acordo com as suas leis, temos que estudar este sistema em vez de deambularmos cegamente pelo nosso mundo, perdendo tempo, e sem sabermos porquê. Quando estudamos Cabala, mesmo se não entendemos nada do que estudamos, mas simplesmente temos  o desejo de compreender, despertamos dentro de nós uma influência da Luz que nos corrige. É a necessidade da alma para recuperar a Luz que outrora a preencheu, antes de descer ao nosso mundo.

Quem pode estudar esta sabedoria? Qualquer um que incansavelmente pergunta “Qual é o sentido da minha vida?” pode estudar Cabala. Esta grande sabedoria só pode ser estudada quando há uma necessidade interior e não através da coerção. Quando Rav Kook foi questionado sobre a quem era permitido estudar Cabala, ele respondeu: “Qualquer um que queira”. Se uma pessoa realmente quer estudar, é um sinal de que ele ou ela está pronta.

Quando uma pessoa realmente quer algo, ela procura e faz. Portanto, se a sua alma está pronta para a ascensão, você vai estudar Cabala. E se a sua alma ainda não está pronta, você vai permanecer por algum tempo na periferia da Cabala. Depois de algum tempo, você vai afastar-se e vai amadurecer num outro lugar. Tenha em mente, que você não encontra a Cabala por si mesmo, você é levado até ela de Cima. (do Alto)

Proibições relativas ao estudo da Cabala só existiram até ao tempo do Ari. Os próprios Cabalistas as forçaram (porque as almas ainda não  precisavam da Cabala para o seu progresso em direção ao propósito da criação. Mas desde o tempo do Ari (final do século XVI), ele e outros Cabalistas suspenderam a  proibição  que haviam criado.  Isso  foi  feito  porque as  almas chegaram a tal nível de desenvolvimento que elas começaram a sentir dentro de si a necessidade de conteúdo espiritual, exaltado.

Se no passado, as pessoas eram passivas no processo, agora somos obrigados a participar no processo. A única condição é que temos de mostrar um desejo para participar na liderança. Caso contrário, a Força Espiritual nos forçará a isso. Não há um lugar calmo na terra. Não haverá ninguém calmo, em lugar algum especialmente aquelas com um ponto no coração, porque a Lei Espiritual que nos leva ao centro da criação afeta em primeiro lugar, essas pessoas.

Devemos usar os mesmos meios com que nascemos para nos  aproximar do Criador e acreditar que em cada momento, os meios à nossa disposição são os melhores que existem. Apesar disso, não devemos nunca parar de procurar por outros melhores. A Cabala é uma compreensão do Criador, da finalidade da criação, a revelação da Luz Superior (dentro de si,  nas suas emoções) alterando as suas intenções. É muito parecido  com o Bíblia, no sentido em que, também, não é um conto histórico, mas uma descrição do universo e um método para compreender o Criador.

Na Cabala, a expressão “proibido” na verdade significa “não pode ser feito”. Por exemplo, quando foi dito que é proibido ver o Criador, isso significa que é proibido receber a Luz, com o fim de se agradar a si mesmo. Portanto, a expressão “proibido estudar Cabala”, na verdade quer dizer “não pode ser estudada por falta de vontade”. A declaração é correta, ainda hoje, no que diz respeito ao público em geral, mas as almas que descem ao nosso mundo, hoje, irão alcançar tal nível de desenvolvimento espiritual que todos os seus pensamentos e desejos mundanos se tornarão suas aspirações para seu Criador.

Segredos não são ensinados na Cabala. A sabedoria da Cabala é chamada de “Sabedoria do oculto”, não porque é um segredo em si,  mas porque revela coisas que estavam ocultas antes de começarmos a estudar. Ela revela tudo o que nos rodeia. No entanto, a sabedoria da Cabala é composta por duas partes, “sabores da Torah” e “segredos da Torah”. Os sabores da Torah investigam a estrutura do mundo espiritual, a alma, e como deve-se corrigir a si mesmo. A qualquer pessoa é permitido estudar esta parte. Este material é descrito nos livros da Cabala, vendidos em todo o mundo, e traduzidos em Inglês, Russo, e muitos outros idiomas. Qualquer pessoa pode provar os sabores da Torah.

Os “segredos da Torah” são a parte oculta da Torah. Nada está escrito sobre isto, em livro algum. Esta parte é ensinada apenas após uma pessoa adquirir os sabores da Torah, atingir a estrutura dos mundos espirituais, bem como a sua própria estrutura espiritual. Uma pessoa que tenha atingido este nível, onde a vida física e a morte não existem, ela vê todo o processo do início ao fim e está acima do nosso mundo. Aí, os segredos abrem-se como fontes mais íntimas, e nós compreendemos as leis rudimentares desse sistema.

As pessoas perguntam muitas vezes se existe um pré-requisito para o estudo da Cabala. A resposta simples, é que você não tem de estudar nada antes de começar a estudar a Cabala, uma vez que a Cabala é o contato com  o Criador. Uma pessoa que quer estudar a Cabala é como um bebê  que emerge molhado e despido do ventre de sua mãe. O que um infante necessita saber neste ponto? Quando queremos saber mais sobre o Mundo Superior,  não precisamos de nada do que nós aprendemos neste mundo, porque é no Mundo Superior que queremos entrar. Para se interessar pela Cabala, você  não precisa de outras pré-condições, a não ser encontrar as verdadeiras fontes de informação.

O nosso desenvolvimento genuíno, de material para espiritual, deverá evoluir gradualmente, na medida em que entendemos o mundo em que vivemos. Quanto mais descobrimos a verdadeira situação no nosso mundo, mais estaremos prontos para uma mudança interna. A lei do Mundo Superior define-o nas palavras: “Não há coerção na espiritualidade”. Só o Criador pode mudar os nossos desejos e intenções, por isso, se estudarmos diligentemente, a mudança virá.

Nós nos movemos através do nosso mundo, totalmente alheios a qualquer coisa fora da realidade que percebemos, até decidirmos estudar Cabala e atingir o conhecimento necessário para compreender e trabalhar com o sistema da criação. Este é considerado o grau mais alto, o último grau que qualquer pessoa, qualquer alma pode e deve atingir, eventualmente. O método da Cabala nos prepara para entrar no Mundo Superior com conhecimento e competência, sem nos prejudicar a nós mesmos ou aos outros. Entramos no mundo espiritual apenas pela extensão da nossa correção. Por conseguinte, não pode ser uma situação em que uma pessoa entra prematuramente e inflige danos. A medida da nossa correção é a medida da nossa penetração  no Mundo Superior, bem como o grau de cooperação com a Providência.

Cabala é um sistema muito real e exato pelo qual nós começamos gradualmente a sentir o Criador na mente e no coração, numa extensão ainda maior do que sentimos o nosso ambiente atual. O Criador é sentido mais claramente, sem qualquer ilusão, através de ações controladas e sistematicamente repetidas. Esta sabedoria está sujeita a todas as exigências que as ciências exatas estão sujeitas. Podemos medir emoções e traduzi-las em números, também podemos realizar experiências, repeti-las e transferir o conhecimento adquirido aos outros. Devido a tudo isto, a Cabala é considerada uma ciência.

Nós usamos livremente, tudo o que nos é dado neste mundo. Nós não sentimos de onde e de quem provém. Se estivéssemos sentindo o Doador mesmo que ligeiramente, iríamos receber imediatamente uma sensação diferente, uma posição diferente, e um relacionamento diferente com tudo e com todos. Isto, imediatamente nos colocaria numa situação completamente diferente. O nosso problema todo é a falta da sensação do Criador. É por isso que o único objetivo mais importante no nosso mundo é sentir a existência do Criador, estabelecer algum tipo de contato com ele.

Após isso, o contato irá tornar-se muito mais fácil. Quando você atingir mesmo que seja um pouco da sensação do Criador, agarre-se a ela, e poderá voltar uma e outra vez para aprofundá-la e a alargar. Depois de ter conseguido a capacidade de se voltar ao Criador, você poderá entender o tipo de resposta que terá. Isto é o que se quer dizer com a frase: “A alma nos ensina”. Isto significa que somos conduzidos pela nossa alma. Os nossos próprios sentimentos nos dizem como devemos proceder.

Muitas pessoas tentam dissuadir os outros da Cabala: podem ser elas religiosas, seculares, estranhas ou parentes. Eu tentei lutar contra a ânsia de saber o propósito da minha vida, não conseguia imaginar um dia em que me levantava de manhã, sem fazer a mesma assombrosa pergunta mais e mais vezes. Eu não conseguia imaginar um dia pacífico, sem pensamentos, onde eu podia sentar-me calmamente e gozar a minha vida.

Se não há cura para ela, é como uma maldição. Mas a cura existe. Se você sente que esta questão queima as suas entranhas, deixando-o inquieto, você pode estar perdendo tempo precioso a ouvir os conselhos dos outros e a viver pela razão deles, porque, no final você vai voltar ao que a sua alma anseia.

Está escrito: “Aprende-se com a alma”, então escute a si mesmo e saberá o que é que quer. Se você puder, suba acima do nível dos que desaconselham o estudo, não há nada que possa impedi-lo. Mais cedo ou mais tarde você vai chegar à Cabala.

Muitas vezes, as pessoas querem saber quanto tempo demora um curso de Cabala ou exatamente quanto tempo dura este processo. A sociedade de hoje prefere tudo embalado e pronto para ser consumido. Mas atingir a sabedoria espiritual requer um pouco mais de esforço. A sabedoria da Cabala é uma ciência e uma forma de vida que nos permite viver corretamente. Quanto tempo leva para aprender a viver corretamente? Isso depende da alma. Mas quando começamos a estudar, sentimos logo que já não podemos passar sem ela, porque a vida sem os nossos estudos é tão estranha e limitada, que não conectando a vida ao Mundo Superior, para a alma, e para a eternidade, ela perde o seu significado. Quando nós começamos a sentir assim, já não é possível separar-nos da Cabala e permanecer confinados no nosso mundo.

Hoje em dia, nós deparamos com inúmeros sistemas diferentes que se auto denominam Cabala. De um modo geral, existiam dois sistemas no estudo da Cabala: um foi chamado de “A Cabala do RAMAK” (Rav Moshe Kordoviro),  o outro é “A Cabala do Ari”. O primeiro esteve em uso até ao século XVI, quando no início desse século, a Cabala do Ari foi estabelecida. O Ari descreveu-a nos seus livros, e todos os Cabalistas após ele, seguiram os seus passos. Baal HaSulam, cujos escritos estudamos, é estritamente um Cabalista do sistema de Ari conhecido como “Cabala Lurianica”.

As almas que desceram ao nosso mundo antes do Ari eram do “tipo velho”. Mas a partir do seu tempo, houve uma mudança drástica nas almas que desceram,  e  algumas  delas  começaram  a  exigir  elevação  espiritual.  Nos tempos modernos, muitas pessoas pensam que a Cabala só é estudada por aqueles que são Judeus (ou seja, aqueles que seguem os caminhos do Judaísmo). Cabala é um método de conexão com o Criador, que é Único. Na Cabala, um gentio que progride em direção ao Criador é chamado de “Judeu” e um Judeu que não o faça é chamado de “gentio”.

Também é importante notar que não há limite de idade para o estudo da Cabala. Bnei Baruch tem um aluno com oitenta anos de idade, e também tem alunos que ainda não concluíram o ensino médio. Quando você estuda, não existem diferenças entre idade ou origem. A alma não faz tais distinções.

Cabala é quase sempre estudada em grupos, através da internet, em grupos locais, e existem até mesmo alguns grupos internacionais. O estudo em grupo acelera o progresso espiritual de uma pessoa que estuda milhões de vezes, sozinha. Aquele que estuda sozinho só pode usar o seu próprio recipiente para receber a Luz do Criador, que significa espiritualidade.

As pessoas que estudam num grupo criam uma espécie de Recipiente espiritual que consiste de todos os participantes, e todos começam a desfrutar da iluminação do grupo. Vamos supor que há dez participantes. A iluminação que é recebida não é dez vezes mais do que um único indivíduo pode receber, mas milhões de vezes mais forte. A razão é a incorporação, significando que a alma de cada um dos participantes é constituída por 620 partes, em que cada parte se liga aos outros. A mistura das partes umas com as outras, cria um Recipiente coletivo.

Ainda mais importante, o grupo deve ter um professor. Estudar sem um professor é impossível. O professor deve explicar sobre a estrutura espiritual, como funciona, como abordá-la e como elevar-se a ela. Os professores devem também explicar como é que nos podemos erguer a um grau espiritual superior e como controlar esse grau espiritual. Quase não há um caso na história em que alguém se ergueu sem assistência. Foi quase sempre um caso de um professor e um aluno trabalhando juntos.

Dr. Laitman é muitas vezes questionado: “Como pode você me provar que é o professor que eu preciso?”. Esta é uma muito boa e justa questão. Dr. Laitman normalmente responde da seguinte maneira: “É a sua vida. Foi dada a si apenas uma vez e você quer tirar o melhor proveito da mesma. Mas como pode um professor provar que é melhor do que ninguém?”.

A Cabala tem uma resposta muito simples: Cada um deve estudar onde o seu coração deseja, onde sente que pertence. Não deve ser um lugar onde deve ser persuadido a sentir que aquele é o “seu lugar”, ou que está sendo pressionado a aceitar. Quando você se desliga de pressões, de qualquer coisa externa, da sua educação e de tudo o que você ouviu falar em toda a sua vida, e sinta em seu coração que é o lugar para você, então você deve ficar. Esse é o único teste!

Para corrigir outro engano, também não há discriminação entre homens ou   mulheres  quanto  ao  estudo  da   Cabala.   Ambos   os   sexos   devem se desenvolver espiritualmente. A única diferença reside no método. O início do processo de aprendizagem é o mesmo. É por isso que nos nossos cursos introdutórios não há diferença entre o método previsto para homens e para mulheres.

Mais tarde, se uma pessoa se aprofunda no estudo efetivo da Cabala, a diferença no método se torna aparente. Homens e mulheres começam a perceber o mundo de forma diferente, porque os homens e as mulheres são de fato, dois mundos diferentes e têm uma percepção diferente da criação. Na verdade, as almas dos homens são mais corruptas e necessitam de maior correção do que as das mulheres. Desculpem rapazes!!!!

 

CAPÍTULO 5

Do livro “Sabedoria Maravilhosa”

OS MATERIAIS DE PESQUISA DA CABALA

A Cabala sempre foi ensinada através de livros. Os primeiros livros  sobre a Cabala foram escritos há milhares de anos. Adão escreveu o livro Raziel Hamalaach (O Anjo Raziel), e o Patriarca Abraão escreveu o livro Sefer Yetzira (Livro da Criação). O Zohar foi escrito por volta de 1.900 anos atrás. Todos estes livros estão disponíveis até os dias de hoje.

O principal livro, fundamental, que estudamos é chamado Talmud Eser Sefirot (O Estudo dos 10 Sefirot). Consiste de seis volumes e mais de 2.000 páginas que representam as leis do sistema da criação em termos científicos. Quando as estudamos, recebemos uma iluminação especial, uma Providência especial do Alto.

O motivo para o estudo desta grande obra é o fato de ela ter sido escrita de uma maneira dirigida para as pessoas desta geração. Ao longo da história, os Cabalistas escreveram materiais que eram dirigidos a gerações específicas. Os materiais das diferentes gerações na verdade apresentam o mesmo conteúdo, mas foram apresentados de uma forma que era mais fácil para que aquela geração compreendesse.

Mas mesmo que não compreendamos uma única palavra do que lemos, mesmo que não tenhamos idéia alguma sobre o mundo espiritual, a aproximação ao Criador começa com a primeira lição. Quando os Cabalistas escrevem livros, é porque já alcançaram um determinado nível espiritual. Quando lemos os livros, desejando de algum modo ter contato com  esse mundo a partir do qual o Cabalista escreveu, somos envolvidos em uma iluminação desse lugar. Não a sentimos, mas ela aos poucos nos prepara para a fase em que começamos a sentir mais e mais aquilo que os  livros  descrevem.

É assim que uma pessoa inicia o processo de ingresso no mundo espiritual. Claro que, não é tão simples como apresentado aqui. Por exemplo, no Bnei Baruch, existe todo um sistema que abrange o estudo de artigos e lições específicas e o cumprimento de um conjunto específico de conteúdos.

Sucintamente, temos todo um sistema, o Sistema da Criação, nos aguardando. O sistema da criação é tudo à nossa volta: o que é percebido, e o que não é percebido. As nossas emoções contém aquilo que percebemos com os nossos cinco sentidos, bem como algo mais. Esse algo mais é aquilo que não podemos sentir hoje – um “sexto sentido” – um sentido adicional que será desenvolvido em nós no futuro. Chamamos à informação percebida por esse sentido, “O Sistema da Criação.”

O texto do livro genuíno de Cabala descreve precisamente como funciona o mecanismo que opera a realidade. Usando gráficos e fórmulas, ele apresenta a “sala de comando da realidade”, muito parecido com um manual de usuário. Estas orientações visuais nos ensinam como as leis funcionam na espiritualidade, e como podemos influenciá-las com a mente e a vontade, consequentemente afetando os resultados que voltarão a afetar-nos.

 

O ZOHAR

Em hebraico, Zohar significa “esplendor,” como em: “Os justos sentam- se com suas coroas em suas cabeças, e regozijam no  esplendor  da Divindade.” A sensação do Criador (a Luz) na alma coletiva, é chamada “Divindade,” de acordo com o Zohar. Sempre que os livros de Cabala digam, “Assim foi escrito no livro…” referem-se ao Zohar.

Aparentemente, todos os outros livros não são considerados livros, porque a palavra “livro” (Sefer em hebraico) vem da palavra Sefira, que por sua vez vem da palavra “safira”, radiância, uma revelação (da Luz, O Criador). Isto só se encontra no Zohar.

O Zohar é um importante livro Cabalista, mas é escrito de uma maneira oculta, tornando a sua compreensão impossível até que uma pessoa tenha atingido o mundo espiritual. Por esta razão, não iniciamos com o Livro  do Zohar. Em vez disso, existem introduções e livros escritos por Yehuda Ashlag (conhecido também como Baal HaSulam) que nos ensinam como entender o que está escrito no Zohar.

O Livro do Zohar não é um livro através do qual se alcança a espiritualidade; ele foi escrito para aqueles que já a alcançaram. Para compreendê-lo adequadamente, precisamos estudar primeiro diversos outros livros, tais como: A Ciência da Cabala, Introdução ao Livro do Zohar, Prefácio ao Livro do Zohar e Introdução ao Livro do Zohar. Sem antes adquirir o conhecimento claro e correto destes materiais introdutórios, o livro nos permanecerá incompreensível.

Baal HaSulam leva em consideração esta questão na Introdução  ao Livro do Zohar (item 61): “Devemos indagar também por que o comentário ao Zohar não foi revelado antes da época do Ari. Por que não foi revelado aos  seus predecessores? E, o mais desconcertante de tudo, porque não foram as palavras do Ari e o comentário ao Zohar revelados até aos dias de hoje?”

Em primeiro lugar, porque o Zohar foi ocultado? A resposta é que, o mundo passou por três fases de desenvolvimento durante 6.000 anos da sua existência. Os primeiros 2.000 anos são denominados Tohu, os 2.000 seguintes, Torah, e os últimos 2.000, Os Dias do Messias. É importante observar aqui que os 6.000 anos de existência nada têm a ver com a idade do mundo. Eles dizem respeito ao período durante o qual os seres humanos evoluíram espiritualmente.

Durante os primeiros 2.000 anos, as almas que desceram eram sublimes, com desejos pequenos e Luzes pequenas. O desejo era apenas limitado à existência física. Não lhes foi dada a Torah, pois para essas almas a simples existência era suficiente para a sua correção.

Nos 2.000 seguintes, as almas desceram com desejos mais evoluídos, em que precisavam de Luz maior para a sua correção, a Luz da Torah. Mais para o final do período dos 6.000 anos, no terço restante, desceram as almas mais grosseiras. Tais almas necessitam das maiores Luzes para a sua  correção – a Luz da Cabala. Antes desse período, a Cabala não foi necessária, do mesmo modo que a Torah não foi necessária nos primeiros dois mil anos.

Durante a época do Ari (final do século XVI), nos aproximamos do final da correção da parte principal, a terceira e última fase do desenvolvimento das almas. Como resultado, a sabedoria sublime foi revelada através da alma do Ari. As almas das primeiras gerações estavam num nível mais alto do que as  da última, mas quanto maior é a correção necessária, consequentemente maior é o alcance e a adesão ao Criador.

Durante os últimos 2.000 anos, principalmente a partir da época do Ari, as almas que desceram a este mundo tornaram-se cada vez mais grosseiras e egoístas. Elas devem, portanto, estudar e implementar a Cabala para a sua correção. Isto é fácil de ver, pois hoje os nossos desejos manifestam-se de  uma forma galopante, comparado a algumas centenas de anos atrás.

O Zohar foi escrito da forma que foi, propositadamente, como o próprio livro lhe dirá. Apenas aqueles que já compreenderam a realidade espiritual podem saber o que está escrito nele e olhar o texto como uma representação das situações espirituais. Eles vêem as representações e as identificam com estados espirituais a que pertencem. Nós não podemos fazer isso, pois ainda não temos a visão espiritual.

Os escritos do Ari, porém, apontam para almas mais desenvolvidas de ciclos posteriores, e, portanto para nós parecem diferentes. Mas o mais adequado para nós são os escritos de Yehuda Ashlag, Baal HaSulam. Estes são destinados à nossa geração, motivo pelo qual nos parecem como livros- texto sistemáticos, tal como em qualquer outra ciência, muito parecidos com os textos que estudamos em uma faculdade.

Oferecem perguntas e respostas, interpretações do significado das palavras, e uma clara divisão das matérias, diferenciados por tópicos. Também nos mostra como executar o tópico pertinente a discussão. Existem artigos especiais que acompanham esses livros, os quais especificam como devemos nos relacionar com o nosso próprio estudo.

A nossa geração não tem problema nenhum em abordar o estudo imediato da Cabala. Ao contrário de todas as outras ciências, esta sabedoria não requer estudo prévio. É suficiente para que uma pessoa sinta que a vida é difícil, tenha um sentimento de inquietação, veja a vida como não tendo sentido, ou simplesmente comece a questionar o sentido da vida. A pessoa pode então iniciar a estudar os livros e começar a avançar.

No segundo item da sua Introdução ao Estudo das Dez Sefirot, o texto mais complexo do estudo da Cabala, Baal HaSulam especifica a pessoa para quem ele escreve o livro. Ele o dirige apenas, aqueles que sentem o ardor da questão, “Qual o sentido da minha vida?”

Ele acrescenta ainda no item 155 que, ao estudar, mesmo o aluno não compreendendo o conteúdo do livro, o texto lhe revelará formas de se comportar a fim de alcançar a espiritualidade.

 

O ESTUDO DAS DEZ SEFIROT

O livro, Shaar HaGilgulim, descreve como o Ari, em seu leito da morte, proibiu a todos os seus discípulos, exceto Chaim Vital, de estudar Cabala. Chaim Vital, na aquela época, não alcançou completamente a Cabala, e assim decidiu não editar ou publicar os escritos do Ari.

Três gerações mais tarde, Rav Tzemach, Rav Paprish e Shmuel, filho de Chaim Vital, começaram aos poucos a desenterrar os escritos do Ari, a separá- los e a publicá-los em forma de livro. Porém, nenhum deles tinha a obra completa, e assim não puderam entender e compilar corretamente, o sistema da Cabala do Ari.

Foi somente no Estudo das Dez Sefirot, que o sistema foi processado de forma completa. Por essa razão, nós não estudamos os outros livros que Rav Tzemach, Rav Paprish, e Shmuel Vital publicaram, embora às vezes retiremos excertos dos mesmos, como foi feito pelo Baal HaSulam no Estudo das dez Sefirot. Além do Estudo das dez Sefirot, nenhum outro livro (aqui não me refiro a artigos e cartas sobre o trabalho espiritual) contém qualquer outra compilação sistemática da ciência da Cabala.

 

CAPÍTULO 4

Do livro “Sabedoria Maravilhosa”

UM PONTO NO CORAÇÃO – A ALMA

Então, qual é o grande mistério da alma, e o que é exatamente?

A alma é um desejo criado pelo Criador para desfrutá-lo (a Luz). Ela está realmente em perfeita aderência com o Criador, assim como quando foi criada. Mas a alma precisa de realizar esta situação por seu próprio direito, para de fato obter uma equivalência de forma independente, e ao fazê-lo tornar-se como o seu Criador. Para realizar esta tarefa, o Criador separa completamente a alma de Si. Isto acontece dando à alma um atributo exatamente oposto ao que Ele possui novamente a vontade de receber.

Através desta disparidade de forma, a alma perde a percepção do Criador e é revestida de um corpo físico com a vontade de receber prazer puramente para seu próprio bem. Portanto, se a alma não sente o Criador, o que é que sente? Sente o “nosso mundo”, o lugar que nós consideramos ser a totalidade da nossa existência. Para atingir novamente o estado original, quando era completa e sentia o Criador, a alma deve assumir a tarefa de alcançar os atributos do Criador. Ela faz isso através de um processo que se assemelha a dar à luz a eles, criando-os.

A alma, como ela existe no “nosso mundo”, não é mais do que um ponto. Deste único ponto, nós só podemos perceber a nossa própria vontade, que é dar prazer aos nossos corpos físicos nos quais residimos. No entanto, a partir deste ponto, tão remoto quanto possível do Criador, nós encontramos o lugar perfeito para começar a nossa viagem de volta ao Criador. È importante aqui não confundir a alma com o desejo de receber para nós mesmos, nossa condição atual. Lembre-se que a alma é um desejo único para desfrutar o Criador. De certa maneira, a alma é como uma parte do Criador. Só que o Criador é o todo, e a alma é uma parte.

Toda a pessoa tem uma alma dentro dela. Quando nos tornamos cientes disso, a alma é sentida como um ponto no coração, o centro de todos os desejos do nosso ego. Mas em que nível está essa alma? Isso é algo que devemos todos descobrir. Vemos milhões de pessoas em todo o mundo, com nenhum desejo absolutamente reconhecível, exceto o de satisfazer os seus próprios desejos. Dentro destas pessoas existe também a alma, mas ainda em estado embrionário. A Cabala chama a esta alma, “um ponto no coração”.

Neste caso, o coração é o desejo de ter prazer em tudo em torno de nós. E esse ponto é o único desejo de todos os outros desejos que uma pessoa possui que não é um desejo de prazeres mundanos. Ele é o desejo de revelar o seu Criador.

Os seres humanos desenvolvem desejos por prazeres físicos e, em seguida por riqueza, poder, controle e conhecimento. Após esses desejos por prazeres mundanos, geralmente chamados de “coração”, está o desejo por espiritualidade. Este desejo é o fim da linha, onde nada neste mundo pode, eventualmente, cumprir essa carência.

O desejo por espiritualidade parece surgir de dentro dos desejos animais, daí o nome, “o ponto no coração”. Naturalmente, estes desejos não têm nada a ver com o coração dos nossos corpos. Se nós transplantarmos um novo coração em alguém, isso não mudará uma única característica nessa pessoa – mesmo que implantemos um novo cérebro. A esfera espiritual não tem nada a ver com o nosso corpo biológico.

O ponto no coração não é considerado realmente a alma, mas a “alma em potencial”. Nesta fase, ele se assemelha a uma carência que simplesmente não pode ser preenchida. Nós sabemos que queremos algo, nós sabemos que está faltando alguma coisa, mas por nada neste mundo, não conseguimos descobrir o que precisamos. O ponto no coração é como uma gota de desejo, um anseio por realização suprema, pelo Criador. Se uma pessoa começa a desenvolvê-lo, ele cresce como o esperma que fertilizou um óvulo humano e que agora se transformou num feto. Quando se torna independente, isso é chamado de “alma”.

O processo do desenvolvimento e do nascimento da alma pode ser favoravelmente comparado ao mesmo processo que ocorre nos seres humanos. A alma nasce de uma semente espiritual, que é desenvolvida pela Luz que desce sobre uma pessoa quando esta estuda Cabala. O ponto no coração começa assim a crescer e expandir sob a influência dessa Luz, e finalmente evolui em dez atributos completos que a Cabala chama de Sefirot; a estrutura completa da alma é chamada de Partzuf, ou um Guf (corpo) de uma alma. A Luz Superior (a sensação do Criador pela criatura) é capturada por estes dez atributos, ou Sefirot. Esta é a maneira como uma pessoa começa a sentir o mundo espiritual, o Supremo, o Criador.

A alma é o desejo de deliciar-se com o Criador. Por outras palavras, é o desejo de receber a Luz que vem d’Ele. O desejo de receber é chamado de Recipiente, ou Kli. O propósito do Criador é satisfazer esse desejo de prazer dentro da alma, desde que a própria alma queira. Quando isso acontece, ela vai sentir prazer. O Criador resolveu o problema da alma que quer sentir prazer, ao distanciar a alma d’Ele. Quando a alma se afasta do Criador, ela começa a querer aproximar-se d’Ele por sua própria vontade. Isso cria gradualmente um desejo por Ele.

A alma criada é chamada Adam. É, na verdade, a única criação, o desejo de receber prazer do Criador. A alma original foi dividida em 600.000 partes. Um holograma funciona como um bom exemplo para mostrar que aleatoriamente cada parte usada do reino espiritual, é constituída por todas as outras partes, apenas em proporções diminutas de acordo com o nível da parte.

Cada parte da alma evolui gradualmente, do ponto inicial que está escondido, em um Recipiente espiritual (620 vezes maior), ao longo de 6.000 correções consecutivas, chamado de “anos” ou “graus”. Mais uma vez, é importante não confundir o termo “ano” com a nossa expressão terrestre, é uma medição de correções, e não de tempo. Nós falaremos mais tarde sobre estes números.

No início da viagem espiritual neste mundo, há uma mudança nos desejos de uma pessoa: o desejo de deliciar-se dos prazeres mundanos se transforma no desejo de deliciar-se com o Criador. Este é o maior desejo egoísta de todos.

Há um nível inicial de egoísmo que a espiritualidade esconde de nós, chamado “a barreira”. Uma vez para (passando) além da barreira e dentro do mundo espiritual, cada parte da alma passa por uma transformação da intenção para mim, para a intenção “para o Criador”. A esta transformação a Cabala chama uma “correção”. A grandeza desta correção é o grau de satisfação da Luz do Criador, até que a alma esteja definitiva e completamente cheia. Esta sensação não pode ser descrita em palavras, é uma sensação de eternidade, plenitude, equivalência de forma com o Criador. É o propósito da criação.

Todos nascemos com os mesmos cinco sentidos: visão, audição, tacto, paladar e olfato. Uma vez que temos os mesmos sentidos, todos nós vemos este mundo corpóreo da mesma forma. Mas o que estamos realmente sentindo através destes sentidos? Estamos sentindo o nosso desejo de desfrutar, o desejo de prazer. Este desejo manifesta-se ao mesmo tempo em todos os cinco sentidos e é experienciado em cinco níveis diferentes:

  1. Os prazeres animais do sexo, da família e dos alimentos.
  2. O prazer de riqueza e status social.
  3. O prazer de poder (controle) e da fama.
  4. O prazer do conhecimento.
  5. O prazer do Criador.

Claro que, todos nós somos construídos um pouco diferentes, todos nós aspiramos a diferentes formas de prazer. Uma pessoa pode querer ser um professor, outro pode querer ser um advogado, e outro ainda pode querer dirigir um caminhão. Estas diferenças todas são baseadas em diferentes combinações desses desejos aparecendo dentro de cada um de nós. E de acordo com a proporção de desejos dentro do nosso desejo coletivo, cada um de nós experimenta sentimentos diferentes.

É daqui que a singularidade das pessoas vem.

Agora vamos voltar aos Sefirot por um momento. Sefirot são atributos que são dados à criatura, através dos quais irá sentir o Criador. É por isso que os Sefirot expressam supremacia. São atributos que o Criador quer que as Suas criaturas alcancem, para que O sintam. Todo o universo é composto de dez Sefirot, cada um é por sua vez composto por dez Sefirot internas, e assim indefinidamente. Por esse motivo, todas as partículas no universo são sempre compostas por dez partes, ou Sefirot. Mas as proporções entre as partes são sempre únicas para essa partícula.

Pense um pouco sobre como chegamos a conhecer alguém. Obviamente, ao início só estamos em contato com uma pessoa visualmente. Mas à medida que formos conhecendo os seus modos e atributos internos, descobrimos o que é que está por trás do seu corpo externo, quais são os seus atributos internos. A parte externa de uma pessoa só é necessária a fim de fornecer uma espécie de indumentária externa para esses atributos internos.

Podemos dizer que só conhecemos verdadeiramente uma pessoa depois de conhecermos todos os seus atributos e as suas reações a diferentes situações. A Cabala chama ao processo de conhecer o Criador, “alcançar o Criador”. Uma pessoa alcança o Criador através do Sefirot, ou seja, através das aparências exteriores do Criador e de Seus atributos. Através dos Sefirot acabaremos por conhecer a realidade, que é uma indumentária para o Criador, como os nossos corpos são uma indumentária para as nossas almas.

O Criador labora dentro de nós, em nossas almas. Então, se nós aprendermos a alcançar o Criador, nós fazemo-lo, descobrindo as suas ações na nossa alma. Por outras palavras, alcançamos o Criador pela ação da Luz sobre o nosso ponto no coração, o desejo de revelar o Criador. Esse ponto não está vazio, embora se sinta dessa maneira, mas sim cheio de bondade. Contudo, para sentirmos isso, nós precisamos experimentar todas as emoções, e só então aprendemos a sentir a Luz conforme entra num ponto específico da alma. Isto traz um sentimento muito especial que só pode ser descrito como “plenitude”.

Plenitude é um prazer que só é percebido quando há apetite para alguma coisa e escassez da mesma. Ontem eu comi um biscoito e me lembro de seu sabor. Hoje eu quero outro, e este desejo é vivido como incompletude. Por outras palavras, eu lembro-me do prazer de comer o biscoito e agora eu sinto falta. Eu só posso preencher esta falta na extensão da incompletude que sinto, antes de devorar outro biscoito, hoje.

Claro, amanhã, provavelmente eu vou querer outro biscoito. Isto acontece porque a natureza providenciou necessidade e realização, fome e satisfação, que não ocorrem ao mesmo tempo. Esta é a situação exata em que o Criador colocou as nossas almas, para sentir a falta, para se sentir incompleta e, assim, desejar o prazer. Como resultado, aprendemos que podemos certamente satisfazer a necessidade ou a fome, mas nunca estamos saciados. Não importa quantos sacos de biscoitos eu vou comprar, quando o saco de biscoitos acabar, eu vou com certeza correr até a loja para comprar outro.

Felizmente, o Criador tem uma solução para esta situação. Ele quer deleitar-nos, e é por isso que Ele nos envia uma satisfação muito especial. Nossas almas tentam não estragar esta satisfação por passar dos limites e devorar o saco inteiro. É somente desta maneira que a alma chega à perfeição. A fome e o desejo, não vão embora, antes pelo contrário. Como resultado desta satisfação especial, a alma prolonga mais a efetivação da plenitude que não desaparece, uma plenitude eterna.

Como funciona esta satisfação especial? Eu gosto de comer este biscoito porque antes de abrir o saco, eu sinto uma fome, uma falta, uma sensação de escassez. Por outras palavras, eu quero um biscoito. Depois de eu comer alguns biscoitos, eu já não quero mais porque a falta foi preenchida. Mas no espiritual, o Criador deu às nossas almas um truque “notável” que a impede de estar saciada, apesar de receber prazer. Quanto mais cheia a nossa alma se sentir, mais esfomeada se torna. Esta é a perfeição da ação do Criador.

Verdadeiro prazer, prazer real, dura enquanto durar o desejo, é insaciável. Mas no plano espiritual, quando o desejo de desfrutar recebe, ele sente vergonha. Veja, a alma não sente apenas o prazer, mas sente também os atributos do Doador. No momento em que sente o Doador, ela descobre que não só não quer o prazer, como também deseja se relacionar com o Doador, ser como Ele. No instante em que o prazer é sentido, quando recebe, o prazer começa a desaparecer. No próprio ato de receber para si, a alma restringe o prazer. É por isso que não podemos alcançar deleite eterno, recebendo, porque receber restringe a Luz, mesmo apagando-a, praticamente anulando-a.

A Cabala chama á sensação espiritual da vergonha, de “inferno”. Não há nada pior do que esta sensação de vergonha, porque é o mesmo que ser totalmente oposto ao Criador. O Criador propositadamente relacionou receber com vergonha. Ele poderia ter evitado isso, mas o fenômeno da vergonha foi criado especificamente para que pudéssemos aprender a receber Dele, nos deleitar sem vergonha.

Para desalento da nossa alma, o próprio ato de receber, o que ela mais quer, seja o motivo com que o prazer recebido, se evapore. Mas o Criador forneceu uma solução maravilhosa. Acontece que o único caminho para a alma receber o prazer, é não desfrutar do prazer em si, mas do contato com o Doador do prazer. Se o prazer do contato com o Doador, é o que você recebe Dele, então o seu prazer não vai desaparecer e não irá diminuir o seu desejo de prazer. Pelo contrário! Quanto mais você recebe, quanto mais você dá, mais você desfruta. Este processo dura indefinidamente!!!

Pense na primeira vez que você encontrou alguém e caiu de amor por ela. No início, nada do que você fez ou do que ela lhe fez importou, simplesmente você recebia prazer por estar com ela. A presença dessa pessoa, simplesmente fez você se sentir maravilhosamente bem. Esta é uma vaga semelhança com o que está sendo descrito, aqui.

Há ainda outra surpresa maravilhosa no espiritual. O prazer que recebemos por sentir Aquele, que dá, é infinitamente maior do que o prazer que sentimos quando recebemos para nós mesmos. Isto acontece, no primeiro caso, porque o receber liga-nos ao Doador Pleno, Eterno, ao Criador.

Mas a alma não começa por ser capaz de fazer isso. A alma, um ponto no coração de cada um de nós, começa por apenas um ponto, um desejo de desfrutar do prazer do Criador. Ela se desenvolve num “Recipiente” para receber este prazer. Ao Recipiente a Cabala chama Kli. Mas, neste estado inicial, é apenas um mero desejo de receber e não é considerado um Recipiente, pois não está apto para a recepção.

Neste momento, estamos tão distantes do Criador como podemos estar, envoltos num duro revestimento de desejo de receber. Na nossa atual existência, esta dissimulação não é evidente para nós, como pessoas. Nós continuamos a nossa vida do dia-a-dia, neste mundo. Trabalhamos, comemos, dormimos, brincamos, procriamos, e experienciamos a nossa vida corpórea, sem qualquer indício de que existe algo além do que experienciamos neste mundo. No entanto, para um ponto no coração que despertou e ultrapassou a barreira para o espiritual, torna-se imediatamente óbvio o que essa “barreira” está bloqueando, o que ela esconde.

Após o despertar deste ponto no coração, descobrimos que é apenas um Recipiente para dar. Um “Recipiente doador” não consegue receber com o objetivo de agradar ao Criador, somente pode abster-se de receber. Está neste estado, porque se o Recipiente recebesse, seria só para si. A alma pode existir sem receber a Luz do Criador, porque a sensação de vergonha causada por receber para si extingue o prazer no momento em que é recebido, tornando o prazer de recepção um tormento.

A solução que permite à alma começar a receber, ao início parece ridícula, quase como em sentido contrário. A alma descobre que só deve receber prazer com a finalidade de agradar o Criador. Vamos repetir. A alma deve ter tal atitude, que não receberá a menos que o ato da sua própria recepção traga prazer ao Criador. A sua própria recepção já não é a força motriz, ela só irá receber se o objetivo desse ato não tiver nada a ver consigo própria, mas apenas com o Criador. É importante que você entenda que estamos a falar de prazer espiritual. A gota de prazer que sentimos no nosso mundo, simplesmente é suficiente para garantir a nossa existência, para vivermos e divertirmo-nos.

O resultado desta descoberta é na verdade uma mudança na intenção da alma, de querer receber para si mesma, para querer receber com o fim de deleitar o Criador. Na Cabala, esta nova e revolucionária intenção é chamada de “barreira”. Só, se houver uma barreira sobre o desejo de desfrutar (uma vontade de ter prazer apenas na medida em que deleita o Criador), fará com que a alma se torne digna de recebimento. Este ponto no coração pode então ser chamado de “Recipiente”.

Então, tudo que temos de fazer é adquirir uma barreira! Na verdade, resume-se a uma mudança na nossa intenção, de querer receber para o de querer dar. Mas como é que esta barreira funciona, e como é que ela nos permite sentir o Criador? A resposta é simples, ela funciona exatamente como os nossos outros sentidos.

Por exemplo, vamos dar uma olhada no processo de audição. Como ouvimos? As ondas de ar atingem uma espécie de barreira do nosso ouvido chamado de tímpano. O tímpano está ligado a órgãos especializados de audição que transformam as vibrações do tímpano em impulsos elétricos que o nosso cérebro interpreta como som.

O sentido da visão não é diferente. A luz atinge uma espécie de barreira, a retina, onde os nervos são estimulados e transferem os sinais elétricos para o cérebro que interpreta como visão, o que vemos. Se você remover uma das “barreiras” destes órgãos sensoriais, não importa a quantidade de ar que é transformado em ondas sonoras, ou quanta luz entra no olho, nós não vamos ouvir ou ver. Os nossos outros sentidos têm os mesmos tipos de mecanismos de barreira. A barreira espiritual não é diferente. A luz é refletida fora da barreira e os sinais são enviados para dentro de nós o que nos permite sentir o Criador.

Vejamos este processo em termos espirituais. Quando o desejo para desfrutar recebe e também sente o Doador, tanto sente prazer como vergonha. A vergonha acontece porque ao receber a alma sente-se oposta ao Criador. A presença do Doador faz com que o receptor sinta vergonha, e essa vergonha impede-nos de desfrutar. Na espiritualidade, quando recebemos, achamos que temos de dar algo de volta ao Doador, para nos igualar ao Doador, de modo a que não sintamos que estamos só recebendo.

Digamos que há anos Betty e Bob saem para jantar todas as sextas à noite com outro casal. Mas se Bob perde o emprego, ele não já não tem dinheiro para isso. Quando Bob liga para o outro casal para lhes dizer que eles já não têm dinheiro para poderem sair, como bons amigos eles entendem a situação e até convencem Betty e Bob em deixá-los pagar a conta. É claro que, Betty e Bob ainda podem desfrutar, mas talvez não tanto quanto eles normalmente fariam. Quando a conta é colocada na mesa, um sentimento constrangedor surge.

E na semana seguinte, quando Bob ainda está desempregado? A certo momento, qualquer um de nós simplesmente diria “não, obrigado”, derivando principalmente, desse sentimento de vergonha, daquele sentimento de que não estamos fazendo a nossa parte. Nós declinamos porque nesse momento o tamanho da vergonha nos faria infelizes. Multiplique esse sentimento de vergonha em vários milhões de vezes, e começa-se a entender que tipo de vergonha está envolvida no que diz respeito a receber prazer do Criador, para nossa própria satisfação e enquanto sentimos Ele. Nossas almas simplesmente não o podem fazer.

Pode-se perguntar, se a presença do Criador evoca tal sensação em nós, como podemos nós dizer que a decisão é realmente para o Criador?

Portanto, a fim de fazermos uma decisão independente de receber para o Criador, e podermos assim assemelhar-nos com Aquele que nos criou, para nos deleitar, o Criador tem de estar oculto, assim como Ele está para nós, hoje. Desta forma, a nossa decisão não será obrigatória, como não pomos as nossas mãos no fogo porque sabemos que o fogo vai queimar.

Na verdade, nós necessitamos da ocultação original. É a nossa garantia de que, até que estejamos prontos para receber apenas para O agradarmos, simplesmente não o podemos fazer. A fim de nos dar essa oportunidade, terá de haver uma situação em que nós, as criaturas sintamos que somos as únicas, aqui. Depois, todas as decisões serão nossas.

A alma não é aparente ou desperta em nós desde o início. Em cada um de nós existe um “embrião” de alma, mas se a alma chega ou não, ao ponto em que está pronta para começar a crescer é uma história totalmente diferente. Se a alma ainda não chegou a esse estado, uma pessoa não vai sentir qualquer desejo de espiritualidade, para o Criador. Mas assim que o ponto no coração começa a se agitar e a interrogar, nós começamos a sentir uma débil pergunta que se transforma num apelo desesperado para saber o propósito das nossas vidas. Essa ardente pergunta torna-se tão intensa, que chegamos a um ponto em que, sem a resposta a essa pergunta, nós simplesmente não podemos continuar a viver.

Quando chegamos a uma fase em que o ponto no coração começa a se agitar, e começamos o processo de revelação do Criador, nós de repente sentimo-nos atraídos para algo elevado. Essa atração é mal interpretada. Todos sentimos essa sensação preliminar, mas após experimentar essa sensação diversas vezes, ela diminui, porque começamos a aprender corretamente, a criar dentro de nós aquelas barreiras que nos ajudarão a sentir sensações espirituais.

Deixamos de ser como os embriões no útero e nos tornamos mais e mais maduros. As nossas emoções são então redefinidas e analisadas, e crescemos mais distantes da nossa situação inicial. Em vez de querermos estar “envolvidos” em algo maior do que um embrião começamos a aspirar atingir o Supremo Criador, para conscientemente nos envolvermos em Seus atributos, e tentar avançar de forma independente. Isso só é possível se começarmos a adquirir esse Recipiente espiritual para progredirmos para o que chamamos de “Barreira”. Isto é exatamente o que a Cabala ensina.

A alma só cancela a sua primeira restrição, por uma razão. Que sensação temos, quando sentimos o Criador? Nós sentimos o Seu intenso desejo de dar, para nos agradar. Se nós sentimos o desejo do Criador para nos agradar, podemos decidir que, apesar da sensação de vergonha, aceitaremos o prazer porque é isso que o Criador quer. Portanto, ao fazê-lo, podemos dar prazer ao Criador, em Seu nome, e não para nós mesmos. O ato continua como antes, e continuamos a receber tal como fazíamos quando sentíamos vergonha, mas a intenção da nossa recepção, agora mudou.

A decisão foi tomada apenas pelo desejo de agradar ao Criador, apesar da sensação de vergonha. Mas nós como criaturas, descobrimos que, agindo pelo Criador, não nos sentimos como receptores, mas como doadores. Como criaturas, e através da nossa equivalência de forma com o Criador, nós sentimos total plenitude, eternidade e infinito amor e prazer.

Mas a decisão de restringir a recepção da Luz (a Primeira Restrição), e receber a Luz só para o Criador, só virá se nós sentirmos o Criador, o Doador, porque só a sensação do Criador pode despertar em nós tal resolução. Desse ponto em diante, o nosso avanço depende somente de nós.

CAPÍTULO 3

Do livro “Sabedoria Maravilhosa”

DESEJO – O COMBUSTÍVEL QUE NOS PROPULSIONA

Nós comemos porque estamos com fome ou porque não queremos ficar com fome? Nós coçamos nossos narizes por comichão ou porque nós queremos que eles parem de ter comichão? Quando éramos adolescentes, nós limpávamos os nossos quartos ao invés de fazer algo divertido porque nós queríamos limpar nossos quartos, ou porque nós não queríamos os nossos  pais bravos conosco? Eu poderia seguir por diante com estas questões retóricas, mas eu penso que a maioria dos leitores saberá onde tudo isto nos leva.

Cada ato que fazemos, nasce de um desejo. Do menor, mais insignificante e consciente ato, às ações que requerem vastas quantidades de energia, todos eles são feitos por uma única razão: um desejo entrou em nós e nos afetou o suficiente para agirmos de forma a preenchê-lo. A Cabala chama a Força que nos propulsiona ao preenchimento destes desejos de “a vontade de receber”.

Nós somos completamente controlados por desejos; sem um desejo, nós permanecemos perfeitamente imóveis, sem nos mexer um centímetro sequer. Mas qual é a meta? O que nós estamos tentando alcançar através de consciente ou inconscientemente seguir os nossos desejos? A resposta é prazer. Nós os perseguimos a fim de receber prazer de uma forma ou de outra.

Às vezes aquele prazer pode ser a sensação de fazer algo que nós acreditamos ser a coisa certa a ser feita. Outras vezes isto pode ser às custas da felicidade de outrem. Mas não importa qual é o desejo, é o desejo de receber que é a força basilar, que literalmente nos guia pelo nariz de forma a agirmos de uma maneira que satisfaça o desejo.

Este desejo de receber é tão complexo e perspicaz que na melhor das hipóteses, nós raramente percebemos que somos escravos dele. Claro que ninguém no seu perfeito juízo admite que seja escravo de alguém ou de algo. Mas, se a pessoa pára para refletir seriamente porque ele ou ela faz certas coisas, até mesmo ações da mais alta moral, existe somente uma conclusão que explica todas as ações. Nós agimos somente para receber prazer para nós mesmos…… ponto final.

Este é um conceito excepcionalmente difícil de entender.  Como professor de Cabala, eu noto que, a maioria dos estudantes ao início debate-se com tal conceito. Eu, imediatamente recebo uma litania de exemplos de alunos tentando mostrar que o descrito acima está absolutamente errado. Alguns desses exemplos incluem os milhões de pessoas que doam para caridades todos os dias, um homem se joga em cima de uma Granada durante  uma guerra  para  salvar  crianças.  A  Madre  Teresa  construindo  orfanatos  para crianças, a lista é virtualmente sem fim. Ainda assim, quando eu pergunto porque pensam eles que essas pessoas fizeram o que fizeram, a resposta final não é “para salvar a vida das crianças.” É porque a pessoa que fez tal ação sentiu que era a coisa certa a fazer.

Em outras palavras, no julgamento destas pessoas, o ato correto foi determinado por ser exatamente o que eles fizeram. De fato, cada pessoa em cada exemplo fez algo que talvez possa até ter tido um impacto negativo causando grandes sacrifícios a elas mesmas, mas elas não seriam felizes com nenhuma outra ação. Por exemplo, no caso da granada de mão, o soldado colocou o valor da vida das crianças acima da sua própria vida, tornando assim impossível não realizar a ação que fez.

O desejo de receber prazer é tão poderoso que pode até mesmo cancelar a gratificação imediata, tais quais como segurança ou dinheiro, para que no futuro um prazer maior possa ser recebido. No final das contas, se nós tivermos alguma participação em algum resultado, se nós calcularmos maneiras de atingir este resultado, o nosso desejo de receber tomou aquela decisão.

Então, o que acontece realmente com o desejo de receber e por que causa tais ações quando o desejo se apresenta? A resposta é simples – um juízo é feito. Um cálculo ocorre respeitante ao prazer que uma ação pode trazer versus ações alternativas e o prazer que elas podem talvez trazer. Este cálculo ocorre a uma velocidade relâmpago, e nem sempre requer um pensamento consciente. Que ferramenta engenhosa tem tal capacidade para realizar estes cálculos e fazê-los literalmente milhões de vezes ao dia? A resposta está bem entre as nossas orelhas: a maravilha de um computador biológico ao qual nós chamamos cérebro. Nós iremos falar mais sobre esta miraculosa máquina de calcular, mais adiante.

A vontade de receber está desenvolvida de tal modo perfeito em nós, que isto perturba a mente ao considerar quantas ações controla a cada segundo. Cada função do corpo opera através deste meio ambiente. Todos os sistemas agem de maneira coordenada para assegurar a mais alta eficiência para a sobrevivência mínima de uma pessoa, num nível inconsciente; todos os cálculos que requerem um processo cognitivo consciente ocorrem simultaneamente.

Cada segundo, ou cada movimento que fazemos, seja balançando na cadeira do escritório para ajudar a acalmar o estresse ou trazer flores para as nossas esposas depois do trabalho, é o desejo de receber que é deliberado, analisado e calculado antes que qualquer ação aconteça. A maior parte deste processo passa completamente despercebido, sem qualquer esforço cognitivo. Sente-se de braços cruzados e pense por um momento quantos movimentos individuais são necessários para se levantar e pegar num copo de água  quando estamos com sede.

Claro que, aí existe também um cálculo. Entre no cérebro. Os nossos sistemas biológicos detectam o desejo por água, então nós sentimos sede. Nós agora podemos ou não ir buscar um copo de água. Isso depende dos cálculos do cérebro. Por exemplo, se nós estamos sentados em frente á televisão assistindo ao nosso programa preferido ou a um jogo de bola particularmente interessante, nós talvez abriremos mão daquele desejo, pelo menos até o próximo anúncio comercial.

O que aconteceu? O cérebro fez o cálculo, pesando o prazer que nós iríamos receber ao sair da poltrona agora, e ir pegar água em oposição ao prazer que nós sentimos com o que estamos assistindo. Se o indivíduo aqui é um homem, e a sua esposa assiste á sua novela preferida, ele não irá hesitar em levantar-se e pegar água. Mas se for o Campeonato do Mundo e a sua seleção está jogando, a água pode esperar.

O cálculo feito a, como e quando se executar uma ação é um cálculo de trabalho. Esta é a fórmula fundamental que ocorre no cérebro: possível prazer recebido versus o trabalho necessário para receber o prazer. Se estivermos muito doentes, deitados na cama dormindo e o telefone toca à noite, nós provavelmente não iremos sair da cama para atendê-lo. Mas se a casa está pegando fogo nós podemos estar literalmente no nosso leito da morte, mas nós iremos sair de casa, de alguma maneira. O cérebro dá prioridade. Ele corresponde, compara, avalia e toma uma decisão baseado no resultado da sua análise. Uma vez a decisão feita, então somente existe uma ação.

No caso de desejo como sede por água, é fácil ver como o desejo de receber funciona. A confusão acontece quando nós começamos a considerar ações onde a pessoa está aparentemente dando aos outros, assim como pessoas que apóiam caridades, ou Escoteiros que ajudam a velhinha a atravessar a rua. A resposta é que existem duas maneiras de receber para si mesmo.

A primeira é a mais simples: o desejo de receber com a finalidade de receber. A segunda é o desejo de dar para receber. Assim como mencionado anteriormente, o desejo de receber é excepcionalmente perspicaz. Não só encontra maneiras de receber simplesmente para si mesmo, como pode até mesmo encontrar maneiras de receber por dar aos outros.

Na superfície, isto não faz qualquer sentido. Que prazer pode uma pessoa possivelmente receber ao dar? Claro que, quem já foi a uma festa de aniversário, e levou um presente para o amigo e o colocou na mesa com os restantes presentes, está bem ciente de como mal pode esperar para que o  seu amigo abra o presente que trouxe. De fato, é da mais alta importância que o presente que levou seja apreciado pelo aniversariante. Caso contrário, existe um profundo sentimento de tristeza, um desapontamento que é muito difícil de explicar. De fato, nós também sentimos certo tipo de prazer por um ato de doação.

Algumas pessoas descobriram quão agradável este tipo de recepção pode ser, e literalmente dão milhões de dólares para caridades pelo mundo todo. Não é que eles gostem necessariamente de gastar o seu dinheiro ganho através de trabalho duro, é que simplesmente eles recebem um prazer que é maior ao dar do que poupar e gastar só com eles mesmos. De fato, algumas pessoas são tão dependentes deste tipo de prazer que se você fosse de alguma maneira proibi-los de continuar com isso, eles considerariam que não vale mais a pena viver.

É importante esclarecer aqui, que a Cabala não diz que as pessoas que recebem com a finalidade de receber, ou dão com a finalidade de receber são de alguma maneira, más. De fato, é bem ao contrário e existe uma razão especial para isto. Veja, aqueles desejos que causam tais ações vêem diretamente do Criador. Diariamente, as pessoas seguem simplesmente o programa sob o qual elas foram criadas. Assim como um computador sofisticado que diz “se sim, faça isto, se não, faça aquilo”, elas caminham  felizes no dia a dia, recebendo desejos, calculando, e satisfazendo – ou não – dependendo dos resultados do cálculo.

As pessoas recebem os seus desejos de dois lugares distintos. Primeiro, existem os desejos animais, que são os mesmos de qualquer outro animal biológico. Estes desejos por comida, descanso, abrigo e procriação são genéticos e evidentes, não importa se a pessoa vive em sociedade ou não. O que nós precisamos realmente? Precisamos de um pedaço de comida para mastigar, uma caverna para nos abrigarmos dos elementos atmosféricos e  para descanso, um parceiro para satisfazermos os desejos físicos e de procriação, tal como qualquer outro animal.

Depois a sociedade assume o controle. Existem desejos, tais como dinheiro, honra, conhecimento e poder que nós dependemos da  sociedade para obtê-los. O que estes nos oferecem? O dinheiro determina se nós comemos aquele pedaço de comida ou se nós saboreamos um filé mignon nalgum restaurante caro. Este determina também se nós ficamos na caverna  ou se vivemos numa mansão de 20 quartos, ou qualquer coisa pelo meio. Por vezes, o dinheiro determina até mesmo, o parceiro que nós escolhemos.

Todos querem se sentir bem com eles mesmos, e se não incomodá-los, isto não exige muito esforço.

Todavia, é aqui que a sociedade começa realmente a entrar em jogo. Como? A nossa opinião a respeito do nosso valor pessoal, é drasticamente influenciada por como somos considerados pela sociedade na qual vivemos. Não é de admirar que o mendigo, desempregado e todos aqueles com problemas de droga têm pouca, ou nenhuma auto-estima. Tudo o que é preciso fazer é observar como a sociedade vê tais pessoas.

Depois, existe o nosso meio ambiente mais próximo. Todos nós já experienciamos a síndrome de “fazer ou ter como o vizinho”. Se o nosso meio ambiente mais próximo nos ditar que é importante ter certo tipo de carro, você verá garagens cheias deles. Se há certo estilo de cabelo, toda a mulher o estará usando. Se caçar é o que determina a masculinidade de um indivíduo em certa área, caçar será um esporte popular. Por outras palavras, a nossa sociedade fornece-nos com o que ela considera importante nestas áreas.

Hoje, uma formação universitária é uma necessidade virtual ou real. De fato, o seu valor mais se compara ao valor de uma formação do segundo grau alguns anos atrás, quando o diploma do segundo grau era considerado uma “vantagem”. No mundo atual da tecnologia, o diploma de pós-graduação é a vantagem.

Mas, se uma pessoa se muda para um país atingido pela pobreza e é deixada lá sem posses, as mais simples questões de sobrevivência serão consideradas da mais alta importância. Comer, beber e ter abrigo pode ser considerado honroso, enquanto educação não significará virtualmente nada, exceto talvez para se escapar deste ambiente desafiador.

Claro, que nós temos alguma liberdade de escolha. As modas atuais oferecem uma variedade de cores e formas, o último tipo de carro virá em modelos diferentes, feito por diferentes companhias, e nós temos uma variedade de escolhas para aquele diploma universitário. Mas mesmo nestes, as nossas escolhas serão baseadas em desejos, o que compreendemos dar- nos-á maior prazer. Se algo em mim prefere o verde, a probabilidade é que o meu carro será verde. Por quê? Porque eu me sinto melhor com um carro verde.

Para resumir, toda a ação é predeterminada pelos nossos desejos e de cada um de nós. Nós recebemos estes desejos de duas fontes diferentes: da nossa genética e do nosso meio ambiente. Nós somos pressionados de uma maneira ou de outra a satisfazer o que nós calculamos que nos irá trazer maior prazer, baseados nos desejos que nós recebemos. Contrariar estas pressões é praticamente impossível.

Os desejos da sociedade entram em nós através dos nossos cinco sentidos. Quando nós cheiramos uma torta de maçã, um desejo que anteriormente não estava lá aparece. Existe alguém que só comeu uma batata frita e não estendeu a mão para pegar outra? O sentido do paladar imediatamente é aguçado e de repente, nós sentimos que a nossa vida será incompleta sem a próxima batata frita.

Mas existe mais um desejo; o desejo mencionado no primeiro capítulo deste livro. Qual é este desejo e de onde vem ele? Por que ele primeiro nos provoca, depois nos irrita, e finalmente nos leva a procurar respostas? Qual é a base fundamental para este desejo e como o realizar? Quem somos nós, realmente? A resposta está na descoberta singular daquela entidade espiritual chamada “a alma!”

 

CAPÍTULO 2

Do livro “Sabedoria Maravilhosa”

ESPIRITUALIDADE

Espiritualidade. A própria palavra provoca uma cavalgada de descrições, que varia entre o que encontramos no fundo de uma garrafa de tequila, a religião, a cultos, a fantasmas e a gnomos. Mas o que é essa coisa a que chamamos de “espiritualidade?” É um lugar como o céu? É uma religião como o Cristianismo, o Judaísmo ou o Islã? É uma condição? É um estado de espírito? Ou é uma combinação?

Se considerarmos a carência do qual sofremos, nós podemos resumi-la. Seja o que a espiritualidade for, não é definitivamente daqui, deste mundo em que vivemos, comemos, dormimos, respiramos e satisfazemos uma quantidade generosa dos nossos desejos. O tema tem sido discutido, refutado, pontificado, enterrado, e ressuscitado mais vezes do que pode ser enumerado. Contudo, qualquer que seja a razão, uma definição única de “espiritualidade” ainda nos escapa.

Tendo sido examinada de vários sentidos, a maioria das pessoas concorda com um fato: a espiritualidade é onde a “alma” reside. Em outras palavras, é o meio ambiente da alma. Isto é tudo muito bom, mas não define nada até sabermos o que é uma alma. É como dizer a alguém de outro planeta que “isto é uma casa de cachorro” sem saber o que é um cachorro.

Em geral, existem quatro atitudes comuns acerca da alma, bem como da nossa existência física e espiritual. Essas quatro atitudes são religiosa, secular, científica e filosófica. A seguinte descrição é retirada de “Attaining the Worlds Beyond” e oferece uma breve explicação de cada uma:

 

DEFINIÇÃO RELIGIOSA DE ESPIRITUALIDADE

Vestida dentro de cada um dos nossos corpos físicos, há uma entidade eterna chamada de “alma”. A alma é eterna, e como objeto não tem praticamente nada a ver com o mundo em que vivemos fisicamente, salvo se habita um corpo. Tem uma existência completamente independente do corpo físico e existe antes, durante e depois da existência do corpo físico.

A alma não é um “corpo”, como o conhecemos, não tem órgãos ou atributos físicos, e pode ser considerada “una” ou indivisível. É como dividir a água de um cântaro por três copos, a água em cada um dos copos contém todos os elementos da substância original, não faltando nada. A alma contém certas qualidades que ela expressa, quando vestida em um corpo físico. Mais ainda, o corpo físico assume as qualidades espirituais da alma, enquanto esta  o habita.

O próprio corpo é simplesmente uma substância física e biológica sem características próprias até que a alma o habite. O domiciliar de uma alma num corpo é chamado de “nascimento” físico e a saída de uma alma de um corpo é chamada de “morte” física. Sem a alma, o corpo não se move ou interage de forma nenhuma, porque a alma é responsável pela vida e movimento do corpo.

 

SECULAR

Esta abordagem também é conhecida como abordagem “dualista”, para explicar a existência da alma, bem como para explicar a  nossa  existência física. A maior parte dos estudantes universitários que tiveram aulas de biologia está muito familiarizada com uma experiência que foi repetida muitas vezes. Sob as condições correta, químicos, gasosos e sólidos são misturados dentro de uma câmara de vácuo, uma faísca elétrica é induzida e pronto, a vida instantânea aparece. A descoberta de tal ciência levou a uma expansão da  idéia religiosa inicial. Ela é algo como isto:

Com certeza as almas habitam os corpos, mas não necessitam fazê-lo para que o corpo físico exista. O corpo biológico pode existir como uma unidade totalmente independente, capaz de executar todas as funções da vida. Ele exibe qualidades próprias, apesar de nenhuma ser espiritual. Mas aqui é que está a questão. A fim de possuir realmente qualidades espirituais, a alma deve habitar o corpo, tal como no conceito original religioso. E, uma vez que a alma é uma entidade espiritual, o corpo é o destinatário das boas qualidades unicamente quando habitado pela alma. Caso contrário, ele é simplesmente como qualquer outro animal, até ao momento em que é habitado pela alma.

Mas a alma é a força controladora atual, porque é o que faz o corpo nascer e o mantém também.

 

CIENTÍFICA

Esta abordagem também é conhecida como a atitude “descrente”.

Basicamente esta idéia nega completamente a existência de uma alma ou espiritualidade. Na verdade, a única coisa que existe é o que está aqui, o que pode ser visto ou detectado fisicamente. Todo o evento que o corpo realiza é uma função dos cálculos do cérebro no que diz respeito à dor e prazer. Os dados são recebidos através dos nossos sentidos e analisados pelo cérebro, que então determina se o que está sendo percebido causa dor ou prazer.

O cérebro também tem a capacidade de armazenar informações sobre o que ele tem vivido como dor ou prazer. Ele tenta recriar as situações de prazer repetidamente. O inverso também é verdadeiro no que diz respeito à dor. Portanto,  neste  conceito,  quase  tudo  funciona  por  exemplos  e  memória.

Naturalmente, o cérebro é capaz de adivinhar o que percebe como prazer e  que algo semelhante vai também produzir prazer.

Então, nesta visão, o que nos separa dos animais? A diferença  entre nós e digamos, o dedicado animal de estimação que está deitado a seus pés, é simplesmente o desenvolvimento avançado do cérebro humano. O cérebro humano analisa e atua em centenas de milhares de vezes mais dados do que o seu companheiro animal. Esta enorme quantidade de análise é a nossa “razão” e é a responsável pela nossa superioridade sobre qualquer outra criatura.

Esta razão decorre tanto da quantidade de dados que podemos processar e da velocidade com que os processamos. Assim, os animais são categorizados pelo volume e velocidade com que analisam e processam. Evidentemente, esta abordagem é de longe a mais científica. Ela se baseia totalmente no que temos diante de nós, o que podemos ver ou detectar através de experiências científicas. A base para toda a ação ou não ação do que fazemos, é o tratamento de dados que chega até nós através do nosso ambiente.

A desvantagem desta abordagem é que retira qualquer conceito romântico de humanidade e relega-nos a meros escravos do nosso ambiente, constantemente calculando prazer versus dor. Qualquer conceito de  livre arbítrio vai direto pela janela fora, sendo todas as nossas ações apenas uma combinação da nossa composição genética inicial e do nosso ambiente. Deste grande enigma, que não atrai a maioria dos cientistas, veio a tentativa final de criar uma abordagem mais saborosa que nós referimos como “filosófica”.

 

FILOSÓFICA

O conceito “filosófico” ou “moderno” retira o melhor de todos os três conceitos e tenta fornecer uma explicação para a nossa existência física e espiritual. Sim, a alma existe. Sim, a alma é o verdadeiro “nós”. Sim, a alma é um ser eterno e espiritual. Sim, a nossa composição genética e o ambiente afetam fortemente a nossa maneira de ser. Claro que, e mais uma vez, levantamos muitas questões, mais do que as que respondemos, mesmo que combinemos estas três definições.

No fim de contas, os três conceitos que aceitam a existência da alma não nos conseguem explicar como ela se relaciona ao corpo, neste mundo.  Nós sentimo-nos mais confortáveis com o que podemos ver, ouvir, cheirar, tocar e sentir. No entanto, a versão científica da espiritualidade deixa completamente sem resposta, esta sensação de carência, incrivelmente forte. O que a maioria de nós acaba fazendo é fantasiar sobre o espiritual, simplesmente assumir que ele existe. Aqueles que acreditam que não há nada para além do que temos aqui são muito poucos, pois quem quer acreditar que  a sua existência termina com a morte física?

Aqui estamos nós, lutando contra uma velha dicotomia. Nós queremos acreditar em espiritualidade e na alma, mas não temos por base, absolutamente nada de concreto. Se aplicarmos o nosso raciocínio normal para o problema, a nossa conclusão lógica é muito dolorosa para a maioria de nós engolirmos. Para resumirmos o problema ao básico, não podemos logicamente dizer que “aceitamos” a existência de algo a não ser que realmente a experimentemos. Nossa única solução seria, de alguma forma, experienciar a percepção de algo espiritual, ainda que não tenhamos nenhuma idéia concreta de perceber o que definimos como “espiritual”… ou temos?

Quase todo mundo tem uma opinião sobre o que a espiritualidade é,  mas quase ninguém tem qualquer ligação com o mundo espiritual ou qualquer idéia como ele funciona. As pessoas têm argumentado que o espiritual pode ser entendido através das artes, como música, ou através da ciência, da religião, até mesmo psicologia. Mas a espiritualidade realmente só pode ser compreendida quando experimentada. Isto significa que uma pessoa precisa  de algum modo ser capaz de entrar no “local do espiritual”, de pesquisá-lo e determinar quais as suas propriedades. Por outras palavras, devem empreender um processo de descoberta. A ferramenta para este processo é chamada de “Cabala”.

Cabala é um sistema claro e conciso, que nos ajuda a descobrir essa misteriosa carência, e fornece-nos então um método comprovado para preenchê-la. Não se pode atingir o espiritual através do psicológico ou qualquer outro meio terrestre. Métodos que envolvem meditação ou música especial, certamente produzem fenômenos psicológicos que nos fazem sentir bem, mas que não é a espiritualidade a que me refiro.

O mundo espiritual a que me refiro só pode ser revelado através de uma sabedoria que se apresente como um ramo, uma tábua de salvação, uma conexão entre o “aqui” e o “lá”. O nosso mundo, bem como o espiritual, operam através de forças. O estudo do método da Cabala é um sistema complexo composto do trabalho da pessoa, que atrai sobre si uma força muito especial e única.

A esta força especial a Cabala refere-se como “Luz” que desperta o desejo espiritual em nós, o desejo de preencher a carência que originalmente nos trouxe em busca de respostas. Esta carência é o nosso desejo de  continuar a viver neste mundo, mas essencialmente no corpo animal a partir de uma perspectiva física. O que muda é tudo o que tem a ver com as nossas mentes e os nossos desejos; devem operar numa frequência totalmente diferente, como que rompendo uma barreira invisível para outro mundo.

Este tipo de descoberta espiritual que geralmente cunhamos de “realização” não pode ser vista, apresentada ou dada a conhecer a ninguém.  As pessoas que não a experimentaram, não podem sentir ou compreender as explicações para tal. Realização é um sentimento único, completamente íntimo, uma sensação que é alcançada através do estudo desta sabedoria  maravilhosa.

Colocado de uma maneira simples, a Cabala é um método que permite uma pessoa experienciar e investigar o espiritual. Ao fazê-lo, descobre e atinge diversos graus espirituais e estados. O processo que nos permite ter estes discernimentos    incríveis    deriva     de     um    conceito    espiritual    chamado “Equivalência da forma”, que será descrito em detalhe neste livro.

Para começar, vamos fazer um breve resumo do que está exatamente contido no espiritual. Basicamente, existem dois elementos e um processo. Estes dois elementos são o Criador e a criatura. O processo é um método semelhante a uma máquina que começa com estes dois elementos, afastados um do outro como o oeste do leste. Através de uma sucessiva série de etapas espirituais, a criatura lentamente se aproxima do seu Criador. Ao fazer isto, mais e mais, o Criador é revelado gradualmente.

O CRIADOR

A Sabedoria da Cabala, a nossa ferramenta de pesquisa, utiliza a sua própria linguagem específica, a fim de descrever certos aspectos da vida espiritual. Por exemplo, termos como Deus, Criador e Emanador são realmente os rótulos de forças específicas e graus. Os diferentes nomes de Deus usados dentro da Sabedoria simplesmente descrevem a nossa percepção  de  uma única Força de uma perspectiva diferente do experimentado anteriormente. Por outras palavras, a diferença entre um grau espiritual e outro, não significa que o Criador tenha mudado, é só que um pouco mais Dele nos foi revelado porque nós mudamos.

Muitos, quando começam os estudos, estão sob o equívoco que a Cabala é mais do que uma Força, mas não é. Eles perguntam: “Quer isto dizer que não existe uma única Força, uma Força suprema em todo o universo?”  Pelo contrário, é a nossa mudança de perspectiva que provoca esta ilusão de que há mais do que uma Força e diferentes Luzes – estas são diferentes percepções do Criador.

Nós experimentamos um grau de cada vez, assim, tudo o que nós experimentamos como o grau imediatamente superior, percebemos sempre como o Criador. Na verdade, quando descobrimos um grau, ele vai parecer tão perfeito, tão certo, que achamos virtualmente impossível que haja qualquer outra coisa, exceto este grau. A nossa experiência é “É isto, eu encontrei tudo”. No entanto, com o passar do tempo, outra camada será adicionada, desde que continuemos a trabalhar nesse sentido.

Pode-se olhar também para este processo a partir de outro ponto de vista. O Criador também pode ser considerado como a Coleção das Forças que vamos descobrindo, a Soma das partes. Esta Força Coletiva na verdade, controla todo o sistema da criação. Sob esta perspectiva, o Criador é Uno e é completamente Único. Esta força, o Criador, tem apenas uma única missão, deliciar Suas criaturas, de qualquer maneira possível, para que possam ser deliciados. Esta é considerada a lei principal dos mundos espirituais.

Todas as outras leis são um ramo dessa lei, que caem em cascata e são responsáveis por tudo o que acontece. Como devemos observar esta lei? A resposta mais simples, é que cada coisa que acontece a você a cada segundo do dia, tem um único objetivo: levá-lo ao ponto de êxtase absoluto, e ser completamente preenchido pela Luz do Criador.

A Cabala rompe a estrutura do espiritual em pedaços, depois esses pedaços em mais pedaços. Pode-se também visualizar toda a estrutura, como uma cebola com cinco camadas. No centro está o coração, o Criador. Nós, as almas, estamos na camada mais externa da cebola. Estamos ocultos do Criador por estas cinco camadas, que a Cabala chama de “mundos”.

Pode-se pensar nestas camadas como revestimentos, ou véus, que escondem o que está no interior. A primeira camada da cebola, o primeiro mundo, é chamado Adam Kadmon. Os mundos seguintes, as camadas adicionais entre o Criador e nós, a Cabala dá os nomes de Atzilut, Beria,  Yetzira e Assiya, a camada mais externa.

Do ponto mais íntimo, do coração da cebola, o Criador puxa-nos para ele. Se colocarmos uma bala de canhão na nossa cama, depois uma bola menor na beira da cama, observamos que a bola menor impulsiona-se em direção á bala de canhão. Evidentemente, todos nós já testemunhamos o efeito da gravidade. O Criador funciona de maneira muito parecida com esta força, puxando constantemente as Suas criaturas para mais perto Dele.

Quando nós, como Suas criaturas, sentimos aquele rebocar, a puxar para o interior, normalmente sentimos isso como dor. Essa dor é o resultado da nossa resistência. Mas quando começamos a colaborar com essa Força e a trabalhar com ela, com a intenção de chegarmos mais perto do Criador, nós não iremos sentir qualquer dor. Em vez disso, a Força vai se tornar uma fonte de prazer. Ela será uma boa sensação. Evidentemente, a antítese também está correta. Quanto mais nós resistimos, mais dor se sente. Esta é a fonte dos nossos problemas e dos problemas que a sociedade enfrenta como um todo

Assim, podemos olhar para a Cabala de uma maneira diferente. Sua sabedoria maravilhosa fornece-nos um método com o qual podemos ver, de modo a que não importa qual seja a situação ou circunstância, estamos sempre de acordo com essa Força. Ao fazê-lo, estamos sempre indo na direção certa, na direção do Criador. Assim, embora a Cabala não dê respostas aos nossos desejos no nosso mundo, tem um propósito ainda mais importante:  dar-nos uma percepção de uma nova realidade que se abre diante de nós, uma vida nova que nos satisfaça.

Igualar o Criador significa ser igual a Ele em todas as manifestações. Não faz referência à Força Superior em si, mas à forma como Ele se relaciona às coisas, como Ele aparece diante de nós, dentro de nós, como um Poder Supremo, como Essência, da mesma forma que Ele quer que você O sinta. Uma palavra de cautela é necessária aqui. O acima exposto não quer dizer que nos tornamos Deus ou que nós somos Deus. Significa simplesmente que quando entramos no espiritual, sejamos capazes de igualar o atributo do Criador (i.e. outorga), não a Sua essência. Esta confusão levou a equívocos graves onde as pessoas pensaram, “Nós somos Deus”.

O Criador nos criou do Seu desejo de dar, de conceder. Ele criou a nossa vontade de receber exatamente na mesma quantidade que ele queria dar. É por isso que temos de alcançar tudo o que Ele nos quer dar – a eternidade, a força, a perfeição, o controle total. Portanto, a nossa meta é obter as mesmas características.

A principal lei da criação é a singularidade do Criador – Um só e único Poder que controla tudo.

A segunda lei da criação é que o Criador é totalmente benevolente.

Nós não podemos resolver a contradição entre estas  duas leis, como elas aparecem na nossa concepção da realidade. Se nós explorarmos o mundo que nos rodeia, certamente não parece que o Criador está sendo benevolente. Mas as pessoas que alcançam a equivalência da forma irão dizer-lhe que não é teoria, mas puro fato. Como eles sabem isso? Eles descobrem este fato dentro dessa sensação do Criador. As pessoas, que entram no espiritual e trabalham para a obtenção de equivalência da forma são chamadas de “Cabalistas”.

O trabalho que eles executam é chamado de “correção”. Esta correção não é como a correção de uma criança que se tenha comportado mal, mas  mais como a correção feita quando se sintoniza a estação no rádio, recebendo assim a estação mais claramente. Haverá muito mais sobre isto mais tarde.

A CRIATURA

Como criaturas, nós estamos no centro da criação do Criador.  Nós fomos criados para um único propósito: primeiro, para estabelecer contato com Ele, depois começar um relacionamento com Ele. Evidentemente, nosso objetivo final é realizar, ou seja, transformar em realidade o Seu único propósito, o deleite da Sua criação. Nós realizamos esta tarefa através de um processo chamado de “correção”, que significa conseguir a equivalência da forma.

A correção de uma pessoa torna possível, ela ser preenchida com a Luz do Criador, que significa sentir o Criador. Esta sensação é exatamente onde experienciamos o mundo espiritual. Para realizar a nossa tarefa, devemos estar completamente preenchidos com o Criador. Partimos de um estado que a Cabala chama de “este mundo”, onde o Criador está totalmente oculto de nós.

Os mundos espirituais são medidas de ocultação do Criador de Suas criaturas. A fim de esclarecer este ponto, deixe-me repetir que os mundos espirituais não são mundos como pensamos deles na corporalidade. Eles são apenas ferramentas de medição, os seus rótulos são semelhantes a sinais de diferentes níveis de ocultação do Criador.

A nossa percepção inicial, aquele primeiro contato, é considerada a ascensão da alma ao primeiro grau espiritual. O que acontece depois? A alma continua  o  processo  de  correção,  tornando-se  mais  e  mais  semelhante ao Criador. Claro que, em cada grau atingido, nós sentimos muito mais fortemente o Criador. Então, a certo ponto, chegamos a uma etapa final da nossa correção pessoal. A Cabala chama a isso de Gmar Tikkun, ou o “fim da correção” da alma.

A CORREÇÃO

O desejo de apreciar o que foi criado pelo Criador é chamado de “criatura”, ou “substância” da criação. No entanto, este desejo não pode ser preenchido na sua forma primitiva, porque assim que é preenchido com prazer, a alegria desaparece. Qualquer um, que já mergulhou numa enorme fatia da sua sobremesa favorita experimentou este fenômeno. Quanto mais comemos, a mais deliciosa das sobremesas, menos nos deliciamos. Na verdade, se nós comermos demais, vamos acabar doentes.

Portanto, há um problema. Os desejos que experimentamos são incompletos. A intenção do Criador desde o início foi fazer o desejo completo. No entanto, isto só acontece quando a nossa intenção é semelhante ao atributo de outorga do Criador, pelo nosso livre arbítrio. Uma vez que este atributo não é limitado na sua utilização pelas emoções, podemos alcançar a perfeição e a eternidade. Uma pessoa pode se cansar da sobremesa, mas se sente prazer dando-a a mais alguém, então o prazer simplesmente continua a  crescer, nunca negando o desejo.

Correção, significa que cada pessoa é obrigada a transformar a vontade de auto-prazer em vontade de agradar ao Criador. Ao executar esta simples tarefa, o resultado é que o nosso desejo de desfrutar iguala justamente o  desejo do Criador em nos dar prazer. O principal ponto aqui é que o Criador está levando a Sua criação a um ponto, onde ela pode realmente usar o seu único atributo, o desejo de receber, de uma maneira correta.

Assim, a correção pertence apenas à correção do objetivo, acima dos desejos que aparecem numa pessoa. Por outras palavras, para cada desejo único que aparece numa pessoa, ele ou ela deve, eventualmente, utilizá-lo  para beneficiar os outros. É importante notar que estas correções não podem ser realizadas pela criatura, mas sim pelo Criador. Por outras palavras, elas  são realizadas num grau espiritual mais elevado, do que o nosso atual. Nós nunca temos a força para realizar auto-correções. Devemos simplesmente cultivar o desejo de sermos corrigidos, que é uma oração para a correção, até certa intensidade. O Criador vai cuidar do resto. O próximo grau superior irá executá-lo. Aqueles que estão sendo ou que tenham sido submetidos a este processo de correção são chamados de “Cabalistas”.

Para uma verdadeira correção, temos de escolher um lugar que sentimos no nosso coração, ser exatamente o lugar certo para nós

Esta necessidade não precisa ser por causa da presença de um grande professor,  altamente  considerado  pelos  outros,  e  também não  porque esse professor é eloquente e instruído. É preciso escolher um local onde as coisas faladas, são as que se deseja saber, de coração.

Então o que devemos fazer quando começamos a perceber o nosso propósito e a necessidade de cumpri-lo? Como é que começamos este processo de revelar o Criador? Devemos procurar em nossos corações e sermos honestos com nós mesmos, não concordando com nada a menos que achemos certo. Isto inclui até mesmo a menor das coisas, porque a alma deve encontrar o local onde ela será corrigida.

A primeira pergunta que a maioria das pessoas que descobrem esta carência faz, é: “Como é ter a sensação do Criador?” A sensação do Criador não pode ser descrita com precisão, em palavras. Por quê? Nós simplesmente não temos palavras para descrevê-la, apesar de ser uma sensação muito real, de fato, conforme está escrito: “Prove e veja que o Senhor é bom”.

 

CAPÍTULO 1

Do livro “Sabedoria Maravilhosa”

Por que Escolhi este Livro?

Ao longo da história da humanidade, nós, como criaturas temos procurado encontrar uma maneira de viver esta existência incrivelmente curta que todos nós experimentamos como “nossa vida” de forma pacífica e tranquila. No entanto, por alguma razão, o processo parece andar para trás. Paz e tranquilidade parecem estar presentes apenas nos primeiros anos da nossa vida, seguido por uma longa série de situações cada vez mais intensas, que nos conduzem a um labirinto de caos a que chamamos de “vida adulta”.

Como crianças, começamos com a mais ínfima das preocupações, apenas por alimentação, sono e calor humano. No entanto, a partir do primeiro elemento de responsabilidade forçado em nós, as nossas vidas começam um lento mas persistente processo de aumento de estresse e sofrimento, embora geralmente intercaladas com pequenas pausas de alegria e felicidade.

A adolescência traz uma miríade de mudanças internas e externas, e junto com elas, um passeio de montanha-russa de altos e baixos emocionais. Estes altos e baixos são sentidos tão intensamente, que o adolescente normal pode mudar do sentimento de “meu mundo está acabando” para o de “a vida é maravilhosa”, várias vezes ao dia e normalmente o faz.

Enquanto jovens adultos trocamos uma série de problemas por outros totalmente diferentes. Conhecemos “o outro significativo” com o qual, provavelmente passaremos a maior parte das nossas vidas. Esta união geralmente leva a adicionais expressões de amor, que não só aumentam a nossa alegria, mas também as nossas dores de cabeça, preocupações e gastos mensais.

Com o passar dos anos, que aparentemente se move um pouco mais rápido, apercebemo-nos que muitos dos nossos esforços de vida originais, foram trocados por algum outro elemento de segurança, a fim de prover para a casa agora cheia de entes queridos. Uma carreira estável tornou-se uma necessidade para prover a nossa família com as suas necessidades e desejos. Escolaridade adequada é uma necessidade absoluta nesta era de alta tecnologia, e o entretenimento tornou-se a parte mais importante para fugir do estresse associado á nossa luta incansável para educar, prover e divertir.

Uma manhã acordamos, nos olhamos ao espelho e vemos alguém cujo cabelo escuro grosso, a que não dávamos a devida importância, possui agora uma tonalidade adicional, que por vezes, chamamos carinhosamente de “loira”. Aquele duro, esguio corpo tem crescido milagrosamente um pouco mais suave na cintura, e quando nos levantamos, há algumas partes que não acordam tão rápido como as outras. Descobrimos que fomos golpeados por uma condição que adquirimos após anos de conflito: a meia-idade. Novamente, as responsabilidades mudam, algumas desaparecem outras são adicionadas.

E ao vermos os anos a evaporarem-se para novos ambientes como netos e aposentadoria, os acontecimentos que dantes nos causavam a perda de cabelo alteraram-se para problemas como a saúde, segurança, e até mesmo solidão. Apercebemo-nos que a nossa paciência tem crescido mais e mais, e o nosso objetivo são agora reduzidos para empreendimentos mais realistas que não requerem décadas para serem concluídos.

Mas este processo incrível chamado “vida como a conhecemos”, pode por vezes incluir uma irritação adicional. Esta contrariedade em particular, pode surgir a qualquer momento nas nossas vidas, e sem solução aparente aos seus anseios. Geralmente é tão sutil que ao princípio nem sequer reconhecemos qual é o problema. Qual é a preocupante questão sem resposta aparente? É uma questão excepcional, uma maravilha que é ao mesmo tempo cruel, mas justa.

Esta pergunta é:

“Qual é o sentido da minha vida?”

Esta questão vem até nós numa variedade de formas.

“O que estou fazendo no planeta?”
“Porque é que a minha vida está do jeito que está?”

“O que eu deveria fazer aqui? Isto é tudo?”

Geralmente, encontramos esta pergunta a intrometer-se nos nossos pensamentos sempre que atravessamos uma crise particularmente exigente. A intensidade desta pergunta é quase sempre diretamente relacionada com o sofrimento que estamos a experimentar a um dado momento. Quanto mais sofremos, maior é a gritaria. Para alguns de nós no planeta, a questão torna-se tão nítida e exigente que, começamos a procurar uma resposta.
No início, a busca só levanta questões adicionais, tais como:

“O que procuro?”
“Por onde começo?”
“Pode realmente haver mais do que apenas… isto?”

A nossa pesquisa leva-nos por inúmeros caminhos, uma infinidade de soluções, variando de diferentes exercícios físicos a cultos estranhos, todos prometendo de uma maneira ou de outra, satisfazer o nosso desejo crescente pelo que é normalmente considerada “a verdade”.

Aquele de nós, que sofrem desta busca insaciável, nos pegou indo a este encontro ou aquela palestra, lendo um livro ou assistindo a algum vídeo, sempre em busca de algo que simplesmente não conseguimos identificar. Nós sabemos o que queremos, apenas não sabemos exatamente o que é que nós queremos. Há uma carência, um vazio, falta alguma coisa. Quanto mais se procura, quanto mais tentamos soluções prometidas para anular esta “carência”, mais frustrados ficamos, quando a solução prometida só nos tira o nosso tempo, ou pior, esvazia as nossas carteiras.

Este livro foi escrito para todos vocês que sabem exatamente do que eu estou a falar, para aqueles que experimentaram esta “carência”. Se você se encontra na descrição acima geralmente referida como “buscadores”, com toda a certeza é a razão de ter aberto este livro.

Candidatos podem ser encontrados em todas as camadas sociais. Você pode encontrá-los nas mais horríveis das circunstâncias, na miséria, tendo sofrido de calamidades numerosas demais para contar, ou pode encontrá-los na outra extremidade do espectro. Quantas vezes já ouvimos histórias de pessoas que aparentemente têm tudo, dinheiro, respeito, bens, amigos, família, e mesmo assim, acabam justamente de entrar para uma clínica de reabilitação, ou pior.

Muitas vezes aqueles que, literalmente “têm tudo” afinal não têm. Na verdade, eles trocariam tudo o que têm por algo que simplesmente não conseguem identificar. Eles sabem que falta algo, mas literalmente não têm idéia do que seja. Portanto, eles se voltam para as drogas, relacionamentos, e uma matriz de prazeres superficiais para saciar este crescimento constante de “carência”.

Finalmente, há muitos de nós que não sofreram uma grande tragédia.

Certamente, a maioria de nós teve a sua quota de sofrimento, mas em regra estamos razoavelmente confortáveis. Temos os nossos trabalhos diários, alimentamos e apoiamos a nossa família, e levamos vidas “normais”. No entanto, esta carência parece formigar dentro de nós, provocando e insultando. Ela nos impulsiona na busca e é o que fazemos.

Não importa qual a sua situação, este livro oferece-lhe ajuda, fornece algumas dessas respostas que você está procurando. Seu objetivo é duplo: primeiro, explicar-lhe a origem da carência que você sente dentro de si. Segundo, ajudá-lo a descobrir a solução para esse sentimento de carência.

Este mundo não oferece nenhuma satisfação ou solução para a sua pergunta, e nenhuma resposta para saciar a sua sede, como o que lhe falta não está disponível aqui. Por “aqui”, refiro-me ao mundo em que você vive. Seu sentimento de vazio revela não só carência, mas uma necessidade de descoberta.

Isso traz a pergunta: “O que no mundo precisa ser descoberto?” Não descobrimos já tudo? O que há para descobrir neste planeta? Não começamos a explorar os céus? Não são milagres médicos encontrados para uma enorme variedade de males todos os dias? Não são os nossos computadores tão rápidos como relâmpagos, já que podemos nos comunicar imediatamente com o mundo inteiro, graças a este novo e incrível brinquedo chamado “Internet?”

O que resta para descobrir?

O objeto da descoberta é um reino que ainda não habitamos. É o domínio das fontes, desejos, sentimentos e pensamentos. É o reino do Criador, e é simplesmente chamado de “espiritualidade”.

INTRODUÇÃO

Do livro “Sabedoria Maravilhosa”

Por toda a história do desenvolvimento social, incontáveis descobertas científicas têm sido feitas por homens e mulheres procurando soluções para uma grande variedade de problemas. Através de experiências,  combinadas com um apurado senso de curiosidade, os seres humanos trouxeram grandes benefícios para o seu mundo através destas descobertas, e o processo está na verdade acelerando.

Mas o que é realmente uma descoberta? Não é de fato a criação de alguma coisa nova; é simplesmente encontrar o que já estava lá, mesmo que isso seja um conceito básico ou uma idéia. Invenções históricas que revolucionaram as nossas vidas tais como, a impressora de Guttenberg, a máquina a vapor, e o computador foram culminações de idéias já existentes e esperando para serem postas em prática. Em outras palavras, todas as grandes inovações, sejam consideradas invenções ou conceitos, são como o último elo de uma série de elos numa corrente.

Um programa de TV chamado “Conexões” publicou a interconexão entre o que a maioria das pessoas considerava um evento único, e as origens desse evento. O narrador guiou os expectadores por uma série de eventos que, no final do programa, foram tecidos juntos para produzir um resultado final, geralmente uma invenção de algum tipo.

As origens, ou raízes de qualquer assunto são de grande importância, e como estudante da Cabala eu sinto grande responsabilidade em transmitir de onde a informação contida neste livro se originou. Assim, como tudo o que foi descoberto, as raízes da minha descoberta da Cabala não está nas palavras  de um livro, ou nem veio de alguma brilhante e independente visão compenetrada. Pelo contrário, as minhas descobertas têm sido um processo de recuperação de antigas informações, providas por escritores Cabalistas que, durante séculos, têm transmitido esta maravilhosa sabedoria a toda a humanidade.

Nas profundezas de todos e cada um de nós existe uma pergunta. É a respeito da própria natureza de nossa existência, e é geralmente precedida por uma cavalgada de questões preliminares. Esta questão permanece dormente até um dado momento, momento esse que ninguém pode prever. Mas quando esta questão evolui, até ao ponto em que demanda uma resposta, esta é sempre fornecida por um “fornecedor final” daquele conhecimento – um professor.

Meu professor, Cabalista Rav Michael Laitman, PHD, é autor de vinte e três livros no assunto da Cabala. Os seus livros são atualmente traduzidos em nove línguas. Eu posso apenas transmitir como esta sabedoria maravilhosa é transferida de professor para aluno, ao dedicar algumas páginas desta introdução à história de Dr. Laitman, assim como àqueles que foram responsáveis por passar este livro a ele.

A jornada de Dr. Laitman à sabedoria da Cabala começou como a jornada espiritual de qualquer outro indivíduo, com aquela mesma pergunta ardente no fundo: “Por que eu existo?” E como em todos nós, a pergunta de Dr. Laitman foi originalmente ignorada ou colocada de lado pelos seus esforços de levar uma vida normal, confortável, buscando interesses educacionais e de negócios. Após imigrar para Israel em 1974, Dr. Laitman, bio-ciberneticista por profissão, levava uma vida razoavelmente normal com as buscas usuais e as dificuldades vividas por muitos israelenses nos anos 70. No entanto, aquela pergunta ardente ainda voltava para assombrá-lo repetidamente.

Um dia em 1975, Dr. Laitman decidiu participar de uma palestra sobre Cabala. Depois, sentindo uma forte atração à Sabedoria, Dr. Laitman procurou um professor. No entanto, apesar de ele ter iniciado aulas com vários instrutores, a maior parte dos esforços iniciais foi descontinuada, já que ele não conseguiu encontrar um professor que pudesse prover respostas satisfatórias às suas perguntas. Assim, como ele escreveu em seu livro, Attaining  the Worlds Beyond (Alcançando os Mundos Superiores), “Eu comecei a procurar por professores de verdade. Eu procurei por todo o país e participei de muitas aulas. Mas de alguma maneira, uma voz interna continuava me dizendo que tudo o que eu me deparei não era Cabala verdadeira, porque não falava de mim, mas sobre assuntos abstratos e distantes.”

Em 1979, através de uma memorável sequência de acontecimentos que o levaram a perguntar a um total estranho onde ele pudesse talvez achar instrução em Cabala, Dr. Laitman foi direcionado ao homem que seria seu professor e mentor, Rav Baruch Ashlag. Suas aulas iniciais, agendadas entre 3 e 6 da manhã, começavam com um dos instrutores lendo um artigo, em “Introdução ao livro do Zohar.” O instrutor lia um parágrafo, e depois explicava  o que o parágrafo significava. E assim, os estudos de Dr. Laitman se iniciaram.

Um dia, meses após o inicio de suas aulas, foi perguntado a Dr. Laitman se ele poderia levar o ancião principal de seu grupo de estudos para ver um medico em Tel Aviv. Aquele ancião principal era Rav Baruch Ashlag, filho do grande Cabalista, Rav Yehuda Ashlag. Durante esta viagem e em subsequentes viagens ao médico, Rav Ashlag começou a instruir Dr. Laitman em Cabala. Até mesmo quando Baruch Ashlag foi eventualmente hospitalizado, Dr. Laitman ia ao hospital às 4 da manhã para estudar com ele. O que parecia mais como um precário início se tornou um forte relacionamento  entre Cabalista e aluno que iria durar os doze anos seguintes.

Os dois fragmentos seguintes descrevem seu professor bem como o professor de seu professor.

 

RAV BARUCH ASHLAG – RABASH – (1907 – 1991)

Rav Baruch Ashlag foi à fase seguinte na evolução da Cabala, após seu pai, Rav Yehuda Ashlag. Baruch Ashlag era o filho mais velho de Yehuda Ashlag. Nascido na Polônia em 1907, ele veio com seu pai para Israel com a idade de 15 anos. Ele sempre trabalhou em empregos simples: trabalhador de construção, em obras rodoviárias, sapateiro, ou caixa de comércio. Ele jamais teve vergonha de fazer tais tarefas subalternas, tratando-as como uma necessidade para sobreviver neste mundo.

Foram-lhe oferecidos vários cargos elevados, mas jamais aceitou nenhum deles. Ele era grande conhecedor da Tora e do Talmud, mas nunca serviu como um Rav. Pelo contrário, ele passou toda a sua vida seguindo as pegadas de seu pai e avançando no estudo da Cabala. Quando seu  pai faleceu, Baruch Ashlag tomou o seu lugar e aceitou os discípulos do pai, continuando o seu trabalho publicando o Zohar com os comentários do pai, assim como escrevendo vários outros livros.

Eu já procurava um professor há quatro anos quando eu vim ao Rav Baruch Ashlag em 1979. Eu estava estudando sozinho e com uma variedade de “Cabalistas.” Eu percorri um longo caminho sabendo que precisava estudar Cabala, mas sem saber quem iria me ensinar. Eu soube que este era o meu lugar desde a primeira aula com Rav Ashlag. Eu permaneci com ele por doze anos, até a sua morte. Quando ele faleceu, eu estava ao lado dele.

Rav Baruch Ashlag seguiu as pegadas de seu pai. Ele escreveu cinco livros de artigos, chamados Shlavey HaSulam (Os degraus da escada), onde ele expressou com sucesso, todas as situações internas de uma pessoa que está no caminho de conquistar o Mundo Superior.

Ele estudou cada situação possível, cada passo e movimento que nós fazemos no caminho, explicou o êxodo para o mundo espiritual, e como sentir e vivê-lo. Ele construiu um sistema para o indivíduo alcançar o Mundo Superior, algo que prévios Cabalistas não fizeram. A singularidade dos seus artigos é especialmente significativa para aqueles que querem alcançar o mundo espiritual. Sem estes, é impossível até mesmo imaginar uma saída para o mundo espiritual. Ele também nos deixou um manuscrito de sermões que ele ouviu de seu pai, o qual ele chamou de Shamati (Eu ouvi). Utilizando estes artigos, pode-se definir a nossa situação, suas características e como continuar a ascensão espiritual, nessa situação. O livro é base para todas as situações no mundo espiritual e suas várias combinações, todas as quais podem afetar a alma de um indivíduo que aspira obtê-las.

Os trabalhos de Rav Baruch Ashlag são essenciais para qualquer um que deseja abrir-se ao mundo espiritual. Após a morte de Rav Ashlag, um  grupo foi estabelecido levando o seu nome – Bnei Baruch (Os filhos de Baruch) – que continua estudando os seus passos.

Rav Baruch Ashlag obteve a sua grande sabedoria através de seu pai, Yehuda Ashlag, também conhecido como Baal HaSulam. O próximo fragmento de “Entrevista com o Futuro” oferece informação sobre este grande Cabalista.

 

RAV YEHUDA ASHLAG, BAAL HASULAM (1885 -1954)

Nem o Zohar, nem os escritos do Ari foram planejados para um estudo sistêmico da Cabala. Apesar da Cabala ser de fato uma ciência, antes do  século 20, não havia na verdade um livro de estudo. Com a finalidade de preencher os vazios, Rav Yehuda Ashlag, o grande Cabalista que morou em Jerusalém de 1922 até sua morte em 1954, escreveu um comentário sobre o livro do Zohar e os textos do Ari. Ele desenvolveu-se enquanto escrevia os comentários, e publicou o seu trabalho primário, Talmud Eser Sefirot (O estudo das dez Sefirot), considerado o livro de estudo predominante do nosso tempo.

É somente em nossos dias que o grande Cabalista, Rav Yehuda Ashlag, estabeleceu o compreensivo e conciso método apropriado a todas as almas que descendem a este mundo. Rav Yehuda Ashlag nasceu em Warsaw em 1885 e foi para Jerusalém in 1922. Ele foi nomeado Rav de uma das vizinhanças de Jerusalém, e começou a escrever “O Estudo das Dez Sefirot”. Ele deu à sua composição este nome porque o mundo espiritual e este mundo, as almas nos Mundos Superiores e na verdade todo o universo é composto por dez Sefirot.

Este compêndio de seis volumes contém mais de duas mil páginas.  Inclui tudo o que os Cabalistas têm escrito desde a alvorada do tempo, dos escritos de Adam (o Primeiro Homem) Abraão o Patriarca, Moisés, Rav Shimon Bar-Yochai, àqueles do sagrado Ari. Este livro mostra a Cabala de uma  maneira concisa e apropriada ao estudo. Portanto, nós temos conosco hoje, tudo o que precisamos para aprender como a criação foi formada, como ela desceu até nós e como podemos influenciá-la a partir debaixo até ao mais elevado mundo, para ter o futuro que desejamos. É por isto que os Cabalistas hoje estudam somente os livros de Rav Yehuda Ashlag.

Quando nós aprendemos do livro “O Estudo das Dez Sefirot” sobre as corretas condições, quer dizer da maneira correta e sobre a correta orientação, o Mundo Superior se abre. Há uma abordagem especial ao material deste livro, e um ponto chave que explica como ler o texto, para fazê-lo abrir corretamente. Quando nós estudamos desta maneira, começamos a sentir o universo, a ver e a sentir em cada sensação o que existe além do alcance dos nossos sentidos, porque nossos sentidos são corporais e limitados, e não podem perceber nada além de seu alcance.

Rav Yehuda Ashlag, chamado de Baal HaSulam, escreve na introdução ao “O Estudo das Dez Sefirot” que, graças à permissão que ele recebeu do Alto para escrever o livro, qualquer um pode obter o mais elevado ponto da  evolução da alma em nosso mundo, e qualquer um pode obter equivalência de forma com a Força Superior, quer dizer, o Criador. Nós podemos obter o mais elevado dos níveis espirituais enquanto vivemos neste mundo, porque o corpo já não se posiciona como uma barreira entre nós e as nossas almas. Não importa se a nossa alma está vestida num corpo ou não, porque nós podemos livremente mover-nos de mundo para mundo, existindo em todos os mundos simultaneamente, num estado de eternidade e perfeição. Então nós nos tornamos eternos, imóveis e infinitos.

Baal HaSulam escreve que ao usar este método, todas essas situações são atingíveis; ele escreve que este método, todas essas situações são adequadas a qualquer um, sem exceção. Além de “O Estudo das Dez Sefirot,” ele também escreveu um comentário sobre o livro do Zohar e sobre os escritos do Ari. Baal HaSulam escreve sobre ele mesmo, que ele é a reencarnação de uma alma que se iniciou com o Primeiro Homem, continuando com Abraão – o Patriarca, Moisés, Rav Shimon Bar-Yochai, o Ari e finalmente ele mesmo. Por tudo isto, ele pôde pegar nas composições destes Cabalistas, processá-las, e apresentá-las a nós de uma maneira apropriada à nossa geração.

Apesar de Baal HaSulam viver em nossa geração, o que aconteceu com os seus escritos foi quase o mesmo que aconteceu com o Zohar e os escritos do Ari: alguns dos seus escritos foram escondidos e somente agora estão sendo publicados. Eu, também, tenho vários manuscritos de Baal HaSulam que meus alunos e eu preparamos para publicação. São manuscritos que eu recebi como herança espiritual do meu Rav, Baruch Ashlag

E assim, o conhecimento tem passado de Cabalista a Cabalista. Através de incontáveis gerações, esta grande sabedoria tem fluído de doador a receptor, de boca em boca e de professor para aluno. Este grande legado de ensinamento de Rav para discípulo está presentemente expresso através de duas organizações, Bnei Baruch, levando o nome de Baruch Ashlag, e do Ashlag Research Institute (ARI). Eu estou imensamente honrado em pertencer a ambos os grupos.

Por que Cabala é aprendida de tal maneira, passando de professor a aluno? A resposta é simples: não existe outra maneira. A Cabala é um método e este método de instrução é um processo, não uma instrução em uma filosofia ou uma religião. Não é uma matéria de descoberta, mas antes uma matéria  para aprender este processo. Por esta razão, ninguém pode descobrir o mundo espiritual sozinho.

Através das páginas deste livro, você irá ler palavras que eu não posso reivindicar, porque os ensinamentos neste livro foram-me entregues, como foram seguramente apresentados ao meu professor pelos seus predecessores.

Este livro é feito de informações de muitos artigos, aulas, discussões particulares, e de livros do meu professor ou daqueles que o instruíram.

A verdadeira autoria de tal informação jamais pode ser reclamada, e até mesmo o estilo em que o material é apresentado, tem sido fortemente influenciado pelo estilo da fonte de informação.

Esta informação está disponível para qualquer um que tenha o desejo  de abrir um livro, virar uma página ou ouvir uma aula. Certamente um indivíduo pode pagar uma quantia pequena pelo papel em que ele foi impressa, e até mesmo pela capa que seguram as páginas dos textos Cabalistas, mas as sabedorias contidas nestes textos não têm preço. Porque é que este livro foi escrito? Uma vez, Thomas Jefferson foi questionado porque a “Declaração da Independência” foi escrita. Sua resposta – “Para colocar perante a humanidade o senso comum sobre o assunto, em tais termos quanto ao comando da sua ascensão” – descreve o exato propósito pelo seu trabalho humilde.

O leitor não deve considerar este livro como um livro acadêmico do ensino da Cabala, mas preferencialmente uma apurada introdução  à Sabedoria. Para leitores que desejem aprofundar os seus estudos da Cabala, Bnei Baruch oferece uma extensa quantidade de informação no maior site da internet no mundo,  www.kabbalah.info.

 

PREFÁCIO

Do livro “Sabedoria Maravilhosa”

Por Rav Michael Laitman, PHD.

 

Todo professor tem o seu aluno ou aluna estrela, e eu estou orgulhoso de dizer que Mike Kellogg é tal exemplo. Mike Kellogg é um aluno de muito tempo do Ashlag Research Institute (ARI), e do Bnei Baruch – Kabbalah Research & Education Institute. A sua vasta experiência em lecionar e a sua eloquência e habilidade em escrever são expressas por toda esta excelente composição.

Seu sucesso comprovado em liderar grupos de estudos lhe deu justamente um nome como professor por seus próprios méritos, eu estou contente em saber que há pessoas tão habilidosas na América, uma terra que tem passado por provas e atribulações em passado recente e remoto.

Pelo fato deste livro ter sido escrito da perspectiva de quem costumava ser um aluno, que sente a dificuldade de um novato, e ao mesmo tempo, sabe em primeira mão as intrigas das subtilezas americanas, tenho a certeza que este livro servirá bem os seus leitores ao oferecer um prefácio à sabedoria maravilhosa da Cabala. Ele contém todo o básico, e algo mais. Eu espero que você aprecie a leitura tanto quanto Mike diz ter apreciado escrevê-lo.

 

 

Rav Michael Laitman, PhD. Fundador e Presidente,
Ashlag Research Institute (ARI)
Bnei Baruch – Kabbalah Education & Research Institute