O Que Torna O Sal Tão Importante?

“Nem vos faltará o sal da aliança de vosso Deus de vossa oferenda.” Porque é o sal tão importante? Isso é porque ele purifica e perfuma o amargo, e o torna saboroso. Sal são Dinim [juízos] na Masach [tela] de Hirik, sobre a qual a linha média emerge, que une a direita com a esquerda. Ele purifica, perfuma e adoça os Dinim da esquerda, que são amargos, com as Chasadim [misericórdias] na linha direita. Não houvesse sal, a linha média não teria sido estendida e o mundo não seria capaz de tolerar a amargura.

A Experiência da Leitura no Zohar

“A linguagem de O Zohar remedeia a alma, até quando um não compreende o que ele diz de todo. É similar ao que entra numa perfumaria, até quando ele não leva uma única coisa, ele ainda absorve a fragrância.”

– Rabi Moshe Chaim Ephraim de Sudilkov, 

Dégel Machanê Efraim [A Bandeira do Acampamento de Efraim], Excertos

 

O Livro do Zohar é uma ferramenta maravilhosa. Ele consegue abrir um mundo inteiro de revelações maravilhosas e surpreendentes perante nós O Zohar é como um portão para a verdadeira realidade, presentemente oculta dos nossos sentidos. Porém, para usar o poder dentro dele eficientemente, devemos aprender como ler adequadamente em O Zohar. As cinco regras abaixo resumirão o conteúdo inteiro do livro e vão ajudá-lo a se preparar para a grande jornada nos caminhos de O Zohar.

 

PRIMEIRA REGRA—O CORAÇÃO COMPREENDE.

Não Procure Entendimento Intelectual

O Livro do Zohar ié estudado com o coração, ou seja através da vontade e emoção. O que significa isso? Ao contrário das formas vulgares de estudo, que são baseadas em processamento intelectual de factos e dados, aqui devemos adoptar uma abordagem completamente diferente. Estudar O Zohar visa evocar uma mudança interior em nós e nos preparar para receber a realidade oculta.
A medida do nosso sucesso depende somente da medida do nosso anseio para descobrir e sentir essa realidade. Logo, não há necessidade de conhecimento prévio, habilidade ou qualquer inteligência especial. Tudo o que é requisitado é ter um desejo genuino de abrir bem os seus olhos, de abrir o coração e “devorar” tudo.

 

SEGUNDA REGRA—O HOMEM É UM PEQUENO MUNDO

Interprete as Palavras Correctamente

O Livro do Zohar contém muitas descrições e conceitos com que estamos familiarizados do nosso mundo, tais como “mar,” montanhas,” “árvores,” “flores,” “animais,” “pessoas,” e “viagens.” É importante compreender que todos esses detalhes, imagens e eventos mencionados no livro não falam do mundo exterior ao nosso redor, mas somente sobre o que ocorre dentro de nós.
Logo, enquanto lendo O Zohar nós devemos tentar interpretar as palavras dentro dele como expressões dessas acções internas que tomam lugar na alma, de ver o texto como uma ponte para os nossos desejos e qualidades mais profundas.

 

TERCEIRA REGRA—A LUZ NELE REFORMA

Procure a Luz

Escutamos frequentemente que há uma qualidade especial em O Zohar. Esta qualidade é uma lei natural de desenvolvimento que age em todos os processos da vida e não certo poder místico e imaginário.
Os Cabalistas explicam que o mundo corpóreo é inteiramente governado pelo desejo egoísta de explorar os outros, quanto no mundo espiritual, somente a intenção de amar e dar opera. Assim, é nos dado um meio especial cuja função é conectar entre os mundos opostos, direccionar as nossas qualidades de acordo com a qualidade de amar e dar do mundo espiritual—“a luz que reforma.”
A maneira como a luz nos afecta está presentemente escondida do nosso entendimento. É por isso que nos referimos a ela como um Segula [poder, remédio, virtude] ou como um milagre. Contudo, para os Cabalistas, que conhecem o mundo espiritual, não há milagres lá de todo, apenas um processo perfeitamente natural.
Eles explicam que tudo o que precisamos é de ler O Livro do Zohar e desejar que o poder dentro dele nos afecte durante o estudo. Gradualmente, começamos a sentir a mudança interior a tomar lugar dentro de nós graças a essa luz. O mundo espiritual será aberto e o que primeiro nos parecia um milagre se tornará uma regra clara e directa.

 

QUARTA REGRA—NADA DERROTA A VONTADE

Todos sabemos que esforços são requisitados para que os bebés comecem a tomar os primeiros passos no mundo e com que persistência inspiradora eles o fazem. Eles nunca desistem, repetidamente tentando até que tenham sucesso. Similarmente, devemos continuar a estudar O Zohar com paciência e persistência até que comecemos a “caminhar” por nós mesmos e descubramos o mundo espiritual. O sistema requisitado para o avanço já foi preparado para nós em avançado e a única coisa que devemos trazer é o nosso grande desejo.

 

QUINTA REGRA—COMO UM HOMEM COM UM CORAÇÃO

União é a Chave

O Livro do Zohar foi escrito por um grupo de dez Cabalistas que construiram um Kli perfeito entre eles, uma vontade unida para descobrir a força mais elevada da realidade, o Criador. Somente a conexão interna entre eles, o amor e a conexão, os permitiu romper as fronteiras do mundo corpóreo e se elevarem ao nível da existência eterna de que O Zohar fala. Se os desejamos seguir, devemos tentar construir um laço similar entre nós, procurar o poder da conexão que existia entre os estudantes de Rabbi Shimon Bar Yochai. O Zohar nasceu de amor, daí sua renovada divulgação hoje será possível somente por amor.

 

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Para este capítulo, que resume o livro, seleccionámos excertos especiais de O Zohar. Entre os excertos acrescentámos explicações, orientação para como com a intenção certa durante a leitura e mais para o ajudar a conectar com a luz ímbuida em O Zohar.
É recomendado que leia esta selecção lentamente. O Livro do Zohar, o nosso guia para o desenvolvimento espiritual, não foi feito para leitura superficial, mas para uma leitura relaxada juntamente com uma profunda busca interior.

 

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“Nós não criamos nada de novo. O nosso trabalho é somente iluminar o que está escondido no interior.”

Menachem Mendel de Kotzk

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Parte II: O Mundo Foi Criado para Mim. Capítulo 6: O Exterior É Interior

 Todos aqueles que maculam, maculam com o seu próprio defeito.

Talmude Babilónico, Kidushin 70b

Não é coincidência que tenhamos sido feitos para percepcionar a realidade como dividida em duas partes, eu e o que está fora de mim. Se a nossa percepção fosse só interior nunca seríamos capazes de nos elevar acima dos nossos egos em direcção à qualidade de amor e doação. Estaríamos cunhados num lugar, “perseguindo as nossas próprias caudas.”

Aqui está um exemplo para clarificar o que isto significa. Cada um de nós tem uma certa quantia de tendências egocêntricas tais como desejos por dominação ou orgulho. Quando nos examinamos a nós mesmos, não reparamos realmente nelas. Mas quando vemos outros a agirem por um desejo de dominar ou de sobressair, na maioria isso incomoda-nos. Fomos predestinados com ódio e repulsa aos outros para nos permitir não sermos tendenciosos e definirmos a nossa atitude para estas tendências de uma maneira sábia e crítica. Como um rigído de perceptivo, o nosso ego ajuda-nos a examinar o mal que aparece perante nós nos outros, o julgar meticulosamente, profundamente e em grande detalhe.

A nossa percepção exterior abre os nossos olhos e permite-nos detectar coisas más fora de nós. Posteriormente, percebemos que na verdade, está tudo dentro de nós. Diz-se que, “Todos os que culpam, culpam o seu próprio defeito.” Contudo, estamos destinados a descobrir que não é que “ele seja arrogante” e “ela seja uma snob,” mas que somos nós que estamos a vê-los desta maneira devido aos nossos próprios desejos mimados.

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A desejada meta do Criador para a criação que Ele criou é doar sobre Suas criaturas para que elas conheçam Sua veracidade e grandeza e recebam todo o deleite e prazer que Ele preparou para elas.

Baal HaSulam, “Introdução a O Livro do Zohar,” Item 39

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Como afirmado acima, é o desejo que forma a nossa percepção da realidade. Agora tentamos compreender que partes perfazem o desejo, porque fomos criados expecificamente como somos e como podemos mudar a nossa realidade para o melhor.

Durante o caminho, descobriremos porque tais emoções como ódio e amor para os outros aparecem em nós; o que nos faz ficar alegres quando vemos que outra pessoa está a sofrer e porque somos invejosos quando o vizinho compra um novo carro.

Pergunta: se o propósito da criação é ser deleitado, porque é que parece que as coisas estão constantemente a piorar? O Livro do Zohar explica que na verdade, nós existimos num sistema perfeito que foi criado pelo Criador. Toda a substância da criação é a vontade de receber e o sistema perfeito é na realidade a vontade abrangente que foi criada. Esta é também chamada “a alma geral” ou “a alma de Adam HaRishon.” Porém, o Criador quebrou a alma geral em muitos pedaços e em cada um de nós há somente uma minúscula fracção da alma geral.

Antes da quebra, todos nós nos sentiamos como órgãos de um único corpo no sistema. Tudo era perfeito e ilimitado, assim, nessa altura, o sistema era chamado “o mundo de Ein Sof [infinito].”

No mundo de Ein Sof, todas as partes do sistema estão conectadas com amor e estão preenchidas de luz. Contudo, o Criador colocou 125 “filtros” sobre este sistema, que oculta os mundos para que agora não possamos sentir que há qualquer luz lá.

É como uma bela imagem coberta com nylon manchado, em cima do qual há outro lençol manchado e outro, então a imagem original torna-se cada vez mais escondida. Nós estamos na camada mais exterior e não temos sensação que se pareça das camadas anteriores, assim a conexão entre nós está completamente distorcida. Em vez de sentir o amor que nos conecta no mundo de Ein Sof, há ódio e repulsa entre nós. Não sentimos a conexão abrangente entre nós, em vez disso, estamos separados e desconexos.

O Criador quis que voltássemos ao estado bom e iluminado por nós mesmos, ao mundo de Ein Sof. Este é o programa da criação que se divide em três fases:

  • Fase um: o estado inicial (o mundo de Ein Sof);
  • Fase Dois: o estado quebrado (este mundo);
  • E Fase Três: o estado perfeito, que temos de criar por nós mesmos (regressar ao mundo de Ein Sof).

É muito similar à maneira como nos comportamos com as crianças. Nós tiramos uma fotografia, cortamos-a em pedaços então deixamos-as voltar a reunir os pedaços. O processo de reunião desenvolve a criança.

Como resultado da quebra, a vontade (conhecida como Kli [vaso]) de cada pessoa foi dividida em duas partes principais: Kelim internos [vasos], conhecidos como “raiz,” “alma,” e “corpo,” e Kelim externos, conhecidos como “vestes” e “palácio.” Eu percepciono os meus Kelim internos como “eu,” desta forma eu cuido deles e eu percepciono os Kelim externos como estranhos, não meus. Os Kelim internos e os Kelim externos contradizem-se uns aos outros, quanto mais eu amo os meus Kelim internos, mais eu odeio os meus Kelim externos.

Há uma fronteira entre esses dois tipos de Kelim, a margem da quebra. Ela é uma espécie de partição que me faz olhar para fora só com uma mentalidade de “O que posso eu receber de lá para melhorar a minha situação? O que é que isso me dá?” Ela compele-me a me relacionar sempre aos outros de maneira egoísta, desejando os explorar.

Eu avalio sempre a minha situação pela diferença entre mim mesmo e o resto do mundo. Assim, por muito surpreendente como estranho que possa soar, quanto pior é para o mundo, melhor é para mim, desde que isso não coloque a minha segurança pessoal em qualquer perigo.

Eu não consigo tolerar o preenchimento dos Kelim externos. Eu não consigo permanecer indiferente para outro ou me comportar como se não me preocupasse com ele ou ela. Quando outra pessoa tem sucesso, é me muito doloroso, isso destrói-me realmente. Eu comparo constantemente. Se, por exemplo, eu ganho 100 mil dólares por ano e as pessoas ao meu redor ganham 50 mil, eu sinto grande satisfação. Eu não me consigo livrar a mim mesmo deste pensamento e acomodo-me ao que tenho porque é tão importante para mim que os outros tenham menos que eu.

Eu simplesmente não consigo ignorar esses Kelim externos porque nós os sentimos como nos pertencendo. Se não houvesse conexão entre nós, isso seria outra estória. Porém, a quebra criou uma conexão negativa entre nós para que se até se não fizéssemos nada de mau uns aos outros, a força da quebra torna-nos de facto inimigos.

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Mas o lado igual em todas as pessoas do mundo é que cada um de nós encontra-se pronto para abusar e explorar todas as pessoas pelo seu próprio benefício privado com todos os meios possíveis, sem tomar qualquer consideração que ele se vai edificar a si mesmo sobre a ruína do seu amigo.

Baal HaSulam, “Paz no Mundo”

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Compreender como estas questões funcionam é extremamente importante porque isso serve como um meio para mudar, uma alavanca para o desenvolvimento. Examinemos outro exemplo que, precisamente por ser extremo, nos ajuda a compreender o problema com mais precisão.

Todos os vilões da humanidade agiam sobre o mesmo impulso interno para expandir a fenda entre os seus próprios Kelim internos e os seus Kelim externos. A alemanha Nazi, por exemplo, não se ficou por realizar o grande potencial humano do povo alemão de criar um país próspero. Em vez disso, um impulso apareceu nela de ser superior aos outros, de os governar, de os destruir. Apenas então sentiria ela que era verdadeiramente grande.

O egoísmo humano sente que matar outras pessoas, explorá-las e as dominar é prazenteiro para ele. Este é o resultado da quebra, o homem está a magoar-se a si mesmo, aos seus próprios Kelim externos, mas ele não o sabe. Quando descobrirmos que todo o mal que temos tentado infligir aos outros foi na realidade inflingido em nós mesmos, experimentaremos imensa desilusão e dor. Todavia, é precisamente esta dor e desilusão que nos ajudam a levar a cabo a própria correcção.

Não estamos acostumados a discutir estas matérias e temos tendência a esconde-las, mas onde é distintamente visível é na política. Até encontrámos um nome respeitável para este mundo de mentiras, “diplomacia.” Cada lado se esforça por dominar o outro, mas pela falta de outras escolhas, assina uma aliança com o outro lado. Na sociedade humana, construímos muitos sistemas para nos permitir viver com a fricção mínima entre os Kelim internos e os Kelim externos de cada um. Compreendemos que caso contrário seremos todos prejudicados. Estabelecemos a Segurança Social, sistemas de bem-estar e caridades porque estamos todos aterrorizados que amanhã nós, também, estaremos nesse estado de carência. Logo, preparamos a cura antes do golpe.

Ódio entre os Kelim internos e externos é um fenómeno humano que não existe no reino animal. Quando um leão come uma zebra, ele não a odeia e a zebra não odeia o leão. O leão considera a zebra como alimento e a zebra tenta não ser comida. Mas não há ódio entre eles. A Natureza governa ambos perfeitamente.

Se não houvesse conexões entre nós, não seríamos capazes de descobrir a razão para o que está mal nas nossas vidas. Porém, porque estamos a descobrir que as conexões entre nós são más, podemos então torná-las boas.

Examinemos o presente estado da humanidade. No passado, laços entre países praticamente não existiam. Cada país estava conectado só a alguns poucos outros países. Quando estávamos longe uns dos outros, não havia muito contacto, logo o mal não era tão evidente. Mas quando o mundo se tornou globalizado, todos se tornaram conectados, afectando todos os outros. Subitamente, não havia lugar para onde fugir. Não temos outra terra, logo o ódio entre nós está a vir à superfície. Todavia, é precisamente este ódio que nos compelirá a corrigir os nossos relacionamentos.

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Mesmo que vejamos tudo como estando na realidade à nossa frente, toda a pessoa razoável sabe de certeza que tudo o que vemos está somente dentro dos nossos próprios cérebros.

Baal HaSulam, “Prefácio a O Livro do Zohar”

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Agora que a imagem das nossas relações com os outros se tornou um pouco mais clara, podemos avançar. Como dissemos acima, a força que divide a nossa imagem da realidade em duas partes, interna e externa, é a força da quebra. Antes da quebra, parte dos nossos desejos (os nossos Kelim externos, “vestes” e “palácio”) não eram sentidos como sendo nossos. É como uma pessoa que recebeu um anestésico na perna e enquanto a sua perna era amputada, ela ria-se e falava, comportando-se como se nada lhe estivesse a acontecer porque ela não sentia nada.

Nestas partes da vontade, “vestes” e “palácio,” nós sentimos tudo o que não somos nós, ou seja o mundo exterior. Ao nosso redor estão pessoas, processos em desenvolvimento e o mundo inteiro quando na realidade, eles são todos partes do nosso próprio desejo.

Estamos a viver numa longa metragem na qual os nossos desejos são projectados perante os nossos olhos e o que determina a imagem que vemos em cada momento do filme são os Reshimot [recordações].

Como mencionado no capítulo 2, Reshimot são pedaços de informação que definem o nosso plano pessoal de desenvolvimento. Revejamos o que dissemos antes para restaurar alguma ordem.

A realidade consiste de três elementos: a luz, o poder do amor e dar (o Criador), a vontade de receber (a criatura) e os Reshimot (o plano de desenvolvimento da criatura). Primeiro, o Criador criou a criatura, ou seja um desejo de receber prazer. Então o Criador quebrou o desejo numa parte interna (raiz, alma, corpo) e uma parte externa (vestes, palácio), e criou nela uma sensação egoísta de “eu versus o mundo.”

Dentro do desejo está o seu plano de desenvolvimento, que consiste de Reshimot. Cada tal Reshimo [singular de Reshimot] constitui um certo estado que a criatura tem de experimentar até que ela corrija a quebra, se equalize com as qualidades do Criador e realize o propósito da criação.

Se regressarmos ao filme, o que vejo agora é uma realização dos Reshimo que eu sinto nas cinco partes do meu desejo e não há mais nada senão isso.

Em cada momento, novos Reshimot despertam no meu desejo e evocam novas impressões em mim, que imediatamente me fazem ver um mundo diferente. A minha vida inteira, o todo da realidade são Reshimot que passam através de mim e se tornam realizados. A luz afecta-me, ao meu desejo, através do qual os Reshimot começam a atravessar numa corrente como se em frames de uma película de celulóide.

Eu sinto que a minha vida é o que estou a viver, mas sou realmente eu a vivê-la? Se eu olhar anos atrás, acreditarei que era realmente eu? Parece como se um filme de cinema me tivesse atravessado. Muitas pessoas se sentem dessa maneira, que a vida passa por elas como se num sonho, que não eram elas a fazerem e a experimentarem, mas certa projecção, um filme que foi projectado e elas estavam a desempenhar os seus papeis nele.

O Zohar explica que não há nada senão Reshimot, luz e desejo. Cada Reshimo que passa divide o desejo em dois, interno e externo. Nós experimentamos-nos a nós mesmos e a outro algo, que parece estar fora de nós, árvores, sol, lua, pessoas. Temos filhos, estamos no trabalho, há sempre nós e outra coisa. Porquê?

A sensação da realidade foi como que dividida em dois que nos permite reconhecer que além de nós há outra força, a luz, o Criador, que nos compele a procurá-la.

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Todos os mundos, Superiores e inferiores, estão incluídos no homem.

Baal HaSulam, “Introdução ao Prefácio à Sabedoria da Cabala,” Item 1

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O Livro do Zohar está escondido no sentido que as pessoas não sabem como ler e compreender o que está escrito nele porque a chave para o ler está na percepção da realidade. O Zohar exige que compreendamos que a realidade que percebemos está a acontecer dentro, não fora. Até o mundo superior, para o qual O Zohar nos está a levar, será experimentado dentro de nós. É inútil procurar o letreiro para o mundo superior além do horizonte. Em vez disso, ele é somente uma mudança nas nossas qualidades internas.

O Zohar fala de uma realidade que existe “acima” do que sentimos neste momento, “acima” do tempo, espaço e movimento. Esta realidade externa que ele descreve e que parece estar fora de nós não se encontra em lado algum. Está tudo dentro da nossa vontade. Todos os fenómenos, sensações do passado, presente e futuro são retratadas dentro dela. História é meramente um processo que visualizamos como algo que ocorreu algures no passado, quando na verdade, não há tempo de todo, nem movimento e todos os lugares são imaginários. Há somente um lugar onde tudo ocorre, o desejo.

O curso natural das coisas, as diferentes partes do nosso desejo (interno e externo, eu e os outros) colidem uma com a outra. O Livro do Zohar assiste-nos a corrigir a conexão entre elas, ao as juntar até que elas se tornem uma e não sintamos qualquer diferença entre elas. Esta é a almejada mudança na nossa percepção da realidade.

É assim que descobrimos o mundo superior, também conhecido como “o mundo vindouro.” Não é que nos preparemos a nós mesmos aqui e subsequentemente alcancemos certo outro lugar. Em vez disso, quando mais mostramos amor uns para os outros em vez de ódio, mais começamos a sentir o que é chamado “o mundo superior” ou “o mundo vindouro.” Todos os mundos estão aqui na conexão entre nós e no que presentemente nos parece estar fora de nós, afastado.

Desejos que nos parecem como outros estão divididos em vários círculos em respeito ao nosso ego. No círculo mais próximo são família, familiares e amigos. No próximo círculo são pessoas que nos ajudam e que nos beneficiam pela sua existência, tais como médicos. Então são pessoas que só queremos usar, prejudicar, mas as mantermos vivas. E no mais afastado são pessoas que odiamos verdadeiramente e podemos até estar preparados a matar.

Todavia, todas elas são os nossos próprios desejos. Quando os reconectarmos a nós mesmos, iremos tornar-nos a alma geral que o Criador criou e regressaremos ao mundo de Ein Sof.

É importante salientar que o processo da correcção da percepção da realidade não é suposto ser levado a cabo artificialmente. Se o meu vizinho me gritasse amanhã, eu não responderia com algo como, “Relaxa, meu amigo. Afinal, somos todos uma vontade.” Não é uma mudança simplista de “interior em vez de exterior.” Em vez disso, é uma profunda transformação e para a executar precisamos de O Livro do Zohar para nos ajudar a construir essa nova percepção dentro de nós, bem como da companhia das pessoas que nos apoiarão no processo de correcção.

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O mais escondido é dado aos sábios de coração.

Zohar para Todos, Lech Lechá [Vai em Diante], Item 96

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Tudo É Alcançado Pela Equivalência De Forma

Baal HaSulam, “Introdução ao Livro do Zohar“, Item 41: Tenha em mente que a realidade de todos o mundos é geralmente dividida em cinco mundos, chamados: a) Adam Kadmonb) Atzilut, c) Beria, d) Yetzira, e e) Assia.

Esses “mundos” são os níveis da minha proximidade interna com o Criador, com a doação. É como se eu olhasse através do prisma deles. Ao mesmo tempo, eu posso aceitar a doação em certo nível de Aviut (espessura), de zero a quatro. Em geral, estes são todos os níveis de realização até a adesão total.

Pergunta: Para que nós precisamos desses mundos, dessas ocultações?

Resposta: Para que descubramos gradualmente o Criador de acordo com a nossa equivalência de forma com Ele. É uma lei: cada fenômeno na realidade só pode ser alcançado de acordo com uma equivalência de forma. Enquanto eu, de acordo com a minha natureza egoísta, sou externo a ele e não sou compatível com ele, eu não posso senti-lo. Quando o ponto no coração desperta em mim, eu começo a sentir minha oposição ao Criador, e posso crescer, aumentar meu ponto e minha proximidade com Ele. Mas até então, eu estou desconectado Dele pelo meu ego: Ele é doação total e eu sou recepção total, e eu não tenho nenhuma conexão com Ele. É assim que funciona a lei da equivalência de forma.

 

 

Pergunta: Podemos dizer que os níveis de equivalência refletem minha sensibilidade para com os outros?

Resposta: Sim. Minha atitude para com os outros ou para com o Criador é, na verdade, a mesma coisa. O mais importante é a direção de mim para fora.

Nós devemos entender que estamos num estado chamado “mundo de Ein Sof (Infinito)”, ou “Malchut de Ein Sof“. Mas nós estamos separados por cinco níveis de opacidade dos sentidos. Masachim (telas) especiais os enfraquecem como filtros que são vestidos na percepção do mundo de Ein Sof. Como resultado, nós sentimos apenas o “mundo externo”, embora tudo realmente aconteça dentro.

 

 

A realidade é fixa, mas ela é descrita para nós sob a forma deste mundo. A única diferença é a imprecisão, no embotamento dos sentidos.

Pergunta: Como podemos aguçar nossos sentidos?

Resposta: Depende da sua sensibilidade para com os outros em sentir o outro e se eu posso sentir que ele é tão importante como eu sou. Portanto, diz-se: “Ama o teu amigo como a ti mesmo”.

 

– Da 4ª parte da Lição Diária de Cabalá 14/04/13, “Introdução ao Livro do Zohar“

Descobrir a Lei Geral da Natureza

A vontade de receber é a substância inteira da Criação do principio ao fim.

Baal HaSulam, “Prefácio à Sabedoria da Cabala,” Item 1

Quando queremos ser impressionados por algo, seja emocional, intelectualmente, ou de outra forma, devemos estar no mesmo “comprimento de onda” com isso e assim possuir a mesma qualidade. Por exemplo, para detectar ondas de rádio, o receptor tem de produzir o mesmo comprimento de onda, e somente então conseguimos nós detectar a onda no exterior.
A força geral da Natureza é um “desejo de dar,” de doar, de conceder abundância. Reciprocamente, nossa natureza é uma de “desejo de receber deleite e prazer,” um desejo de desfrutar somente para nós mesmos. Nossa natureza é egocêntrica; foi assim que fomos feitos, como a Cabala nos conta. Por outras palavras, estamos em contraste com a força superior, opostos a ela, e logo não a conseguimos sentir.
Há alguma coisa que possamos fazer para a sentir? Não podemos destruir nossa natureza e nossa vontade de receber, nem precisamos de o fazer. Devemos continuar com nossas vidas como costume, e ao mesmo tempo adquirir novas ferramentas de percepção.
Mas onde podemos encontrar tal instrumento que nos suplemente com a nova natureza — de dar — em acréscimo à nossa natureza original — de receber? Aqui, a sabedoria da Cabala vem à nossa ajuda. Neste momento, somos receptores. Absorvemos. E se damos alguma coisa a alguém, e somente depois de termos calculado que é vantajoso para nós o fazer. Nossa natureza previne-nos de dar sem receber algo em retorno. Ela simplesmente nos nega a energia de realizar uma acção que não produza lucro.
Estamos dispostos a dar $50 se recebermos $100 em retorno. Podemos também dar $80 em retorno por $100. Mas se tentarmos dar $101 em retorno por $100 é impossível. Este modus operandi é verdadeiro não só com dinheiro ou uma acção para os outros, mas para qualquer coisa, como Baal HaSulam o explicou:

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É bem sabido aos investigadores da Natureza que um não consegue realizar sequer o mais ligeiro movimento sem motivação, sem de algum modo se beneficiar a si mesmo. Quando, por exemplo, um movimenta sua mão da cadeira para a mesa, é porque este pensa que ao colocar a mão na mesa isso será mais prazenteiro. Se ele não o pensasse, ele deixaria sua mão na cadeira para o resto da sua vida sem a movimentar de todo. É tanto quanto o mais com esforços maiores.

Baal HaSulam, “A Paz”

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Até pessoas que assistem outras pessoas mais que a maioria, tais como voluntários em hospitais ou algures, só o fazem porque, no fim do dia, isso lhes dá prazer.
Baal HaSulam explica que dentro da humanidade, há sempre até dez porcento de “altruístas naturais.” Tais pessoas respondem aos outros um pouco diferentemente que a maioria. Eles simpatizam com os outros e sentem sua dor como se fosse a sua própria, e esta sensação os impele a tentar ajudar os outros. Naturalmente, esta inclinação altruísta repousa sobre uma base egocêntrica que requer correcção, também, mas ela está escondida do olho, como estudos sobre genética comportamental demonstram.  [1]

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A própria essência do homem é somente receber para si mesmo. Por natureza, somos incapazes de fazer até a mais pequena coisa para beneficiar os outros. Em vez disso, quando damos aos outros, somos impelidos a esperar que no final, recebamos uma recompensa vantajosa.

Baal HaSulam, “Um Discurso pela Conclusão de O Zohar”

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Quando um bebé nasce, ele começa a escutar, a ver, e a reagir. Ele aprende e desenvolve a partir dos exemplos que lhe apresentamos.
Se deixarmos o bebé para crescer no bosque, ele imitaria os animais e cresceria como um animal. Com a excepção de alguns instintos e reflexos, tudo acerca de nós vem da aprendizagem.
Podemos nós aprender o sistema superior da mesma maneira se não o sentimos? Como podemos ser como esse bebé, ou até uma gota de sémen que só deseja nascer numa nova qualidade chamada “dar”?
Por outras palavras, uma criança humana evoluí a partir de uma gota de sémen corpóreo. Ela aprende dos exemplos e eventualmente se torna um adulto. E agora, uma gota de semente espiritual, chamada “o ponto no coração,” aparece nessa pessoa, um novo desejo — de saber para que ele ou ela está a viver, para alcançar o que existe além da vida, a força que nos afecta e opera. No crescimento corpóreo, o ego desenvolve-se e a qualidade de recepção para si mesmo se torna melhorada. No processo de crescimento espiritual, a qualidade de dar desenvolve-se dentro de nós.
Então do que precisamos em prol de começar o processo? Precisamos de exemplos — professores espirituais. Foi por isso que O Livro do Zohar foi escrito. Tal como crianças olham com olhos esbugalhados e boquiabertas, desejando devorar o mundo e aprender tudo sobre ele, devemos abordar O Livro do Zohar, que nos fornece os exemplos da qualidade de dar.
Quanto mais aprendermos a dar, mais nos assemelharemos ao poder abrangente da Natureza, o poder do amor e dar. Na terminologia da Cabala, isso é chamado “equivalência de forma,” que é um processo gradual que nos conduz a sentir a força geral da Natureza à extensão que nos tornamos similares a ela.

 

Notas

[1] Mudar certas sequências de genes afecta a habilidade da pessoa de ser boa para as outras, Prof. Ebstein e uma equipa de investigadores da genética comportamental descobriram. Os pesquisadores assumem que há uma recompensa imediata para o comportamento altruísta na forma de um químico chamado “dopamina,” libertado no cérebro do benfeitor e promovento uma sensação agradável.

M. R. Bachner, I. Gritsenko, L. Nemanov, A. H. Zohar, C. Dina & R. P. Ebstein, “Dopaminergic Polymorphisms Associated with Self-Report Measures of Human Altruism: A Fresh Phenotype for the Dopamine D4 Receptor”, Molecular Psychiatry10 (4), April 2005, pp. 333-335

Natureza e Nós

É melhor para nós aceitarmos as palavras do Cabalista, que HaTeva [a natureza] é igual [em Gematria] a Elokim [Deus].

Baal HaSulam, “A Paz”

O Livro do Zohar explica que existimos num único, vasto sistema, chamado “Natureza” ou Elokim [Deus], todavia sentimos somente uma fracção desse sistema, uma fracção chamada “este mundo.”
O propósito da nossa existência é nos elevarmos acima das fronteiras deste mundo e sentirmos a inteireza do sistema conhecido como “Natureza,” a força superior. Quando alcançarmos este grau, seremos preenchidos de abundância, prazer infinito e luz, com sublime percepção e entendimento, um sentido de equilíbrio, completude e harmonia como elas existem na Natureza geral.
Para compreender ao que devemos fazer para chegar a todo este tesouro, O Zohar recomenda que examinemos a conduta da Natureza de um angulo ligeiramente mais amplo que o normal.
O nosso mundo é um mundo fechado. Existimos num único sistema geral cujas todas partes estão interligadas. Não nos podemos considerar a nós mesmos acima da Natureza e omnipotentes; isso é uma maneira certa de nos destruirmos a nós mesmos. Não podemos escapar à Natureza porque somos uma parte integral dela. Logo, devemos estudar a lei geral da Natureza e andar mão-a-mão com ela.
Nosso impulso de evoluir é maravilhoso, mas devemos fazê-lo da maneira certa, na direcção de uma conexão saudável entre nós e o resto da Criação de uma maneira que isso não viole a harmonia e o equilíbrio geral da Natureza. Isto, na realidade, é a base da sabedoria da Cabala.
Observar a Natureza ensina-nos que todos os organismos vivos estão construídos sobre a base de se preocuparem com os outros. Células num organismo conectam-se umas às outras através de doação mútua pelo propósito de sustentar o organismo inteiro. Cada célula no corpo recebe o que ela precisa para sua existência e gasta o resto dos seus esforços ao cuidar da totalidade do organismo. Uma célula desconsiderada que não toma seu meio ambiente em consideração e o domina para o seu próprio bem é uma célula cancerígena. Tal acto egoísta eventualmente conduz à morte do organismo inteiro.
Nos níveis do inanimado, vegetativo, e animado, o específico age para o bem do geral e encontra sua completude nisso. Sem tal actividade harmoniosa, a existência não seria possível. A única excepção é a sociedade humana. Porquê? Porque ao contrário dos outros graus, onde a lei da Natureza aplica equilíbrio e harmonia, a Natureza deu aos seres humanos livre arbítrio, um lugar para sua participação consciente na harmonia geral da Natureza.
Se tomarmos parte no sistema incorrectamente, a corrupção que infligirmos se reflecte em nós e experimentamos-a como sofrimento. Assim, gradualmente, durante milhares de gerações, a Natureza está a conduzir-nos a compreender que devemos estudar sua lei geral e eventualmente agir de acordo.
O problema é que não sentimos a força abrangente da Natureza a nos afectar — a força de amor e doação — também conhecida como o “Criador.” Contudo, a ciência de hoje está a avançar para descobrir que a Natureza tem uma “mente,” “emoção,” e o poder de grande sabedoria que sustenta e governa tudo. E todavia, nossos egos não desejam que o vejamos.
O presente estado do mundo prova que tamanha cegueira e inconsciência do sistema da Natureza não podem perdurar. Baal HaSulam escreveu sobre isso nos anos 30:

“Agora é vitalmente importante para nós examinarmos os mandamentos da Natureza, saber o que ela exige de nós, caso contrário ela nos punirá sem misericórdia.”

(Baal HaSulam, “A Paz”)

Rabi Yehuda Leib HaLevi Ashlag (Baal HaSulam) (1884-1954)

Rabi Yehuda Ashlag é mais conhecido como Baal HaSulam (Dono da Escada) pelo seu comentário Sulam (Escada) ao Livro do Zohar. Baal HaSulam passou sua vida inteira interpretando a sabedoria da Cabala, inovando e espalhando-a por Israel e pelo mundo no geral. Ele adaptou a Cabala Lurianica do Ari à nossa geração e fazendo isso permitiu a que qualquer um estudasse as raízes da realidade na qual vivemos e assim percepcionar o propósito derradeiro da vida.

Porque Baal HaSulam nasceu quando o mundo já estava pronto para saber sobre a Cabala, os seus escritos carregam uma natureza “multinacional” distinta. Ele previu processos tais como a queda do comunismo russo e a globalização muito antes de se tornarem evidentes ao resto de nós e os apresentou contextualizados com a correcção espiritual da humanidade.

Baal HaSulam nasceu em Varsóvia, na Polónia e estudo Cabala com Rabi Yehoshua de Porsov. Em 1921, ele imigrou com a sua família para Israel (então chamada Palestina) e estabeleceu-se na Cidade Velha de Jerusalém.

O rumor da sua chegada rapidamente se espalhou pela cidade e rápido ele ficou conhecido pelo seu conhecimento em Cabala. Gradualmente um grupo de estudantes se formou ao seu redor. Estes viriam a sua casa nas breves horas matinais para estudar a Cabala. Passado algum tempo, Baal Hasulam mudou-se da cidade velha de Jerusalém para outro bairro de Jerusalém, Givat Shaul, onde serviu como rabino do bairro durante vários anos.

 

AS SUAS OBRAS PRINCIPAIS

Os seus dois principais trabalhos, frutos de longos anos de empenho são O Estudo dos Dez Sefirot, baseado nos escritos do Ari e O Comentário Sulam (Escada) ao Livro do Zohar. A publicação das 16 partes do Estudo dos Dez Sefirot teve inicio em 1937. Em 1940 o seu livro Beit Shaar HaKavanot (A Portaria das Intenções) foi publicado, contendo comentários a selectos escritos do Ari. O Comentário Sulam no Livro do Zohar foi publicado em 18 volumes entre 1945-1953. Subsequentemente, Baal HaSulam escreveu três volumes adicionais nos quais ele interpretou O Novo Zohar. Esta ultima interpretação foi completada em 1955, depois da sua partida.
 Na introdução ao seu comentário sobre o O Livro do Zohar, ele explicou por que lhe chamou “A Escada.”  “Eu chamei à minha interpretação O Sulam, para mostrar que o propósito do meu comentário é como o propósito de qualquer escada. Se você tem um sótão cheio de abundância, precisa apenas de uma escada para lá trepar e toda a abundância do mundo está nas suas mãos.”

Baal HaSulam compoz uma série de introduções para preparar os estudantes a adequado estudo da Cabala e para explicar o método de estudo. Estes escritos incluem “O Prefácio ao Livro do Zohar,” “Introdução ao Livro do Zohar,” “Prefácio à Sabedoria da Cabala ,” “Prefácio ao Comentário Sulam,” “Um Prefácio Geral à Árvore da Vida,” e “Introdução ao Estudo das Dez Sefirot.”

Em 1940, Baal HaSulam publicou um jornal a que chamou A Nação. Nos seus últimos anos, ele escreveu “Os Escritos da Ultima Geração,” no qual ele analisou diferentes tipos de governo e delineou um plano detalhado para a construção da sociedade corrigida para o futuro.

 

ESPALHAR A PALAVRA

Baal HaSulam não se ficou por colocar as suas ideias no papel. Em vez disso, ele trabalhou arduamente para as promover. Como parte dos seus esforços, ele encontrou-se com figuras proeminentes em Israel tais como David Ben Gurion, Chaim Nachman Bialik, Zalman Shazar e muitos outros.
David Ben Gurion escreveu nos seus diários que se tinha encontrado com Baal HaSulam variadas vezes e que estes encontros o surpreendiam porque “Eu queria falar-lhe de Cabala e ele, de socialismo.”

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“Certamente já chegamos a tal grau que o mundo inteiro é considerado um colectivo e uma sociedade. Significando, porque cada pessoa no mundo suga sua medula da vida e sua vivacidade de todas as pessoas do mundo, ela está coagida a servir e cuidar do bem-estar do mundo inteiro. … A possibilidade de realizar condutas boas, felizes e pacíficas num único estado é inconcebível quando isso assim não for em todos os países do mundo.”

–Baal HaSulam, “Paz no Mundo”

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Um excerto do jornal Haaretz, publicado a 16 de Dezembro, 2004: “Um dia em Jerusalém do principio dos anos 50, Shlomo Shoham, pais tarde premiado em Israel, autor e criminologista, partiu para investigar o Cabalista Rabino Yehuda Ashlag. ..Ashlag naquele tempo estava a tentar imprimir HaSulam (literalmente, A Escada), a sua tradução Hebraica e comentário aoLivro do Zohar… Sempre que conseguisse reunir um pouco de dinheiro, de pequenas doações, ele imprimiria partes do seuHaSulam.

‘Encontrei-o em frente a um edifício em ruínas, quase uma barraca, que albergava uma velha máquina de imprensa. Ele não se podia dar ao luxo de pagar a um tipógrafo e ele próprio estava a fazer a tipografia, letra a letra, em pé sobre a máquina de imprensa horas de cada vez, apesar de se encontrar nos seus sessenta e muitos. Ashlag era claramente um Tzadik(homem justo) – um homem humilde, com uma cara radiante. Mas era uma figura completamente marginal e terrivelmente pobre. Mais tarde ouvi que ele tinha passado tantas horas a topografar que o chumbo do processo de impressão tinha danificado a sua saúde.'”

Levou mais de meio século para que a sua grandeza fosse reconhecida, mas hoje as suas concretizações são bem conhecidas. Em recentes anos, o seu ensinamento atraiu uma grande dose de atenção e centenas de milhares de pessoas pelo mundo fora estudam os seus trabalhos, que foram traduzidos para muitos idiomas diferentes. Agora, qualquer pessoa que deseje verdadeiramente trepar para o mundo espiritual consegue facilmente fazê-lo.

Baal HaSulam foi um indivíduo complexo e fascinante, de mente aberta e bem educado. Ele estava muito envolvido nos acontecimentos globais bem como nos eventos que ocorriam em Israel, onde ele vivera. Suas visões são consideradas revolucionárias e de extensas consequências na sua audácia, até hoje

Baal HaSulam partiu em 1954, mas o seu caminho foi continuado pelo seu sucessor, o seu primeiro filho, Rabino Baruch Shalom Ashlag.

Isaac Luria (o Sagrado Ari) (1534-1572)

No espaço de mero ano e meio, Isaac Luria (o Sagrado Ari) revolucionou a Cabala e tornou-a acessível a todos. Desde o seu tempo, a sua “Cabala Lurianica” tornou-se a abordagem predominante ao estudo da Cabala
Rabi Isaac Luria (O Sagrado Ari) foi o maior Cabalista na Tsfat do século XVI, uma cidade a norte de Israel famosa pela sua população Cabalistica.
A vida do Ari esteve envolta em mistério e lendas. Uma tal lenda é a de que quando ele nasceu, foi dito a seu pai que o seu filho estava destinado à grandeza. A partida súbita aos trinta e oito, quando este estava no seu apogeu, permanece um mistério até hoje.

 

UM HOMEM DE MISTÉRIO E LENDA

O Ari nasceu em Jerusalém no ano de 1534. Aos oito anos, este perdeu seu pai e a sua família foi deixada desamparada. Levada pelo desespero, a sua mãe decidiu enviar o seu jovem Isaac para ir viver com o seu tio no Egipto, onde ele passou muitos anos até à sua chegada a Tsfat.
Enquanto jovem, o Ari confinaria-se ao seu quarto durante horas ou até dias nessa altura. Ele submergia-se no Livro do Zohar, o mais importante livro da Cabala, tentando compreender as suas subtilezas. Muitos contos descrevem como o Ari recebeu a “revelação de Elias” (uma revelação espiritual única), e de que este teria estudado o Zohar “dele.” Para o Ari, O Livro do Zohar representava o mundo inteiro.

Enquanto capital dos estudos cabalísticos do século XVI, Tsfat atraia muitos praticantes de longe e de perto. Adicionalmente, Tsfat está localizada não longe de Monte Meron, o lugar de enterro de Rabi Shimon Bar-Yochai e nas imediações da gruta de Rashbi, a Idra Rába.

No ano de 1570, um duro inverno atingiu o Egipto. Chuvas torrenciais criaram inundações tropicais massivas, vendavais separaram telhados das casas e o Nilo transbordou sobre suas margens, inundando aldeias inteiras num dilúvio de lama e água.

Uma das lendas conta que numa das noites mais tempestuosas deste terrível inverno, o Profeta Elias foi revelado ao Ari. Elias, como clama a lenda, disse ao Ari, “Teu fim está próximo. Parte, sai daqui; leva a tua família e vai para a cidade de Tsfat , onde és avidamente esperado. Lá, em Tsfat , irás encontrar teu discípulo, Chaim Vital. Irás transmitir-lhe tua sabedoria, unge-o para que te siga e ele irá tomar teu lugar.” Elias também revelou ao Ari: “Não vieste a este mundo que não para corrigir a alma de Rabi Chaim, pois ele é uma alma preciosa.”
Então, no ano de 1570, ao fim do inverno, o Ari foi para Tsfat , na terra de Israel. Ele tinha trinta e seis nesta altura e tinha dois anos de vida.

 

PREPARAÇÃO PARA A REVELAÇÃO

Os Cabalistas mantiveram a sabedoria da Cabala oculta por 1500 anos antes do Ari. Estes levantariam-se pela meia-noite, acenderiam uma vela e fechariam as janelas para que as suas vozes não pudessem ser ouvidas no exterior. Então estes abririam os livros de Cabala com reverência e mergulhariam neles, esforçando-se por compreender as suas ocultas verdades. Naqueles tempos, a Cabala era um estudo secreto, ensinado perante portas fechadas. Os Cabalistas eram relutantes em publicitar o seu trabalho pois temiam que fosse mal interpretado. “A geração,” eles diziam, “ainda não está pronta.”
A humanidade tem esperado por séculos pelo guia adequado para abrir as portas da sabedoria da Cabala ao público. Finalmente, com a chegada do Ari a Tsfat e a exposição subsequente do público ao Livro do Zohar, aparentando que esse era o tempo de apresentar os segredos da Cabala às massas.

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Curiosamente, no tempo do Ari e sem qualquer contacto directo, muitas pessoas, especialmente artistas e intelectuais, desenvolveram um agudo interesse na Cabala. Uma destas pessoas foi Giovanni Pico della Mirandola (1463-1494), um académico italiano. Seu livro, Conclusões, contém a seguinte afirmação: “Esta verdadeira interpretação da lei … que fora revelada a Moisés na tradição divina é chamada Cabala… a qual significa para os hebreus o mesmo que para nós significa ‘receber'”

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É extremamente difícil conseguir exagerar a importância e estatura do Ari. Em meros dezoito meses, ele teria deixado um enorme marco na história do pensamento Cabalístico. Seus ensinamentos introduziram uma nova apresentação sistemática do conhecimento espiritual. Usando o método do Ari, qualquer um na era cientifica de hoje consegue alcançar aquilo que somente alguns poucos conseguiam no passado.

Entre os principais escritos que o Rabi Vital publicou foi o livro, Etz Chaim (A Árvore da Vida). Este livro apresenta os ensinamentos do Ari num estilo claro e simples. Com os anos, A Árvore da Vida tornou-se um dos textos essenciais na Cabala, equiparável somente ao Livro do Zohar.

O Ari partiu na idade dos 38 depois de adoecer de uma epidemia que surgiu no verão de 1572. O seu surgimento foi precursor de uma nova era, um estado humano e espiritual. Ele não estava apenas entre os maiores cabalistas, mas também entre os primeiros a receber “permissão do Alto” para revelar a sabedoria da Cabala às massas. A sua habilidade transformou a Cabala de um método para uns poucos escolhidos a um método para todos, tornou-o um gigante espiritual durante décadas. Hoje, muitas mais almas estão prontas para a elevação espiritual e estas precisam do seu método – a Cabala Lurianica.

Rabi Shimon Bar-Yochai (Rashbi)

Rabi Shimon Bar-Yochai (Rashbi) recebera, através do seu mentor, Rabi Akiva, 3000 anos de conhecimento espiritual acumulado — todo adquirido pelos Cabalistas anteriores a ele. Depois de ele o ter escrito, ele o escondeu, pois a humanidade ainda não estava pronta para isso. Hoje, segundo Cabalistas notáveis tais como Rabi Yehuda Ashlag e o Gaon de Vilnius (GRA), nós estamos certamente prontos para a revelação do Livro do Zohar.

Rashbi, autor do Livro do Zohar (O Livro do Esplendor) era um Tana — um grande sábio nos primeiros séculos da Era Comum. Ele também foi discípulo directo de Rabi Akiva. Numerosas lendas foram contadas sobre Rashbi, que foi mencionado repetidamente no Talmude e no Midrash, os textos hebraicos sagrados do seu tempo.

Rashbi nasceu e foi criado na Galileia. Ele viveu em Sidon (uma cidade no Líbano de hoje) e em Meron (no norte de Israel) e estabeleceu um seminário na Galileia Ocidental, não muito longe de Meron.

Até enquanto criança, ele era diferente das outras crianças da sua idade. Perguntas tais como, “Qual é o sentido da minha vida?” “Quem sou eu?” e “Como é feito o mundo?” o atormentavam, exigindo que ele descobrisse as respostas.

Nesses dias, a vida na Galileia era dura: os romanos que haviam morto seu professor, Rabi Akiva, ainda perseguiam judeus e continuamente inventavam novas leis para os punir. Entre estas leis havia uma que proibia os judeus de estudarem a Cabala.

Mas apesar da proibição dos romanos, Rashbi se submergiu nos estudos da Cabala e tentou entender suas complexidades. Ele sentia que por baixo das histórias bíblicas se encontrava um profundo e oculto significado que continha as respostas para as suas perguntas persistentes.

Gradualmente, Rashbi veio a perceber que ele tinha de achar um professor que já tivesse atravessado o caminho espiritual, ganho experiência e o pudesse guiar pela escada espiritual acima. Isto o promoveu a se juntar ao grupo de Rabi Akiva, uma decisão que seria um ponto de viragem na vida de Rashbi.

DE ESTUDANTE A FUGITIVO

Rashbi era um estudante ávido, devotado e ardente com o desejo de descobrir a Força Superior. . Ele estudara com Rabi Akiva durante treze anos e alcançou o mais alto grau na escada espiritual.

A revolta de Bar-Kokhba contra o governo romano na terra de Israel abruptamente terminou com os grandes dias do seminário de Rabi Akiva. Rashbi juntou-se à revolta a se tornou um dos seus líderes e depois dele saber como seu professor, Rabi Akiva, havia sido executado, sua resistência se tornou ainda mais feroz.

O Talmude diz que uma vez, quando Rashbi falou contra o governo romano, alguém o escutou e notificou as autoridades romanas. Os romanos julgaram Rashbi na sua ausência e o condenaram à morte. Mas para executar Rashbi, eles primeiro tinham de capturá-lo. O imperador romano enviou homens para o procurar, mas para sua desilusão, Rashbi parecia ter desaparecido completamente.

A GRUTA DE PEKI’IN

Segundo a tradição, Rashbi e seu filho fugiram para Peki’in, uma aldeia no norte de Israel, onde se esconderam numa gruta mergulharam nos segredos da sabedoria da Cabala, onde descobriram o inteiro sistema da criação.

 Passados treze anos na gruta, Rashbi escutou que o imperador romano havia morrido. Finalmente, ele podia dar um suspiro de alívio. Depois de deixar a gruta, Rashbi reuniu nove estudantes e foi com eles para outra pequena gruta, conhecida como A Idra Rába (A Grande Assembleia), não longe da aldeia de Meron. Com sua ajuda, ele escreveu O Livro do, o mais importante livro da Cabala.

O Cabalista Rabbi Yehuda Ashlag descreveu Rashbi e seus estudantes como as únicas pessoas que alcançaram a perfeição — os 125 degraus espirituais que completam a correcção da alma. Quando ele terminou o seu comentário sobre O Livro do Zohar, Ashlag deu uma refeição festiva para celebrar a sua conclusão. Nessa celebração, ele declarou que “…antes dos dias do Messias, era impossível ser recompensado com todos os 125 graus… excepto para Rashbi e seus contemporâneos, os autores do Livro do Zohar. Eles foram recompensados com todos os 125 graus na totalidade, embora tivessem vivido antes dos dias do Messias.”

Por isso está escrito com frequência no Livro do Zohar que não haverá uma geração tal como a de Rashbi até “à geração do Rei Messias,” (o tempo em que toda a humanidade é corrigida. Foi por isso que a composição de Rabi Shimon deixou tamanha marca no mundo, uma vez que os segredos espirituais nela se expandem a todos os 125 graus.

UM EM MILHÕES

Rashbi foi uma alma única, cuja tarefa foi ajudar toda a criatura a se conectar à Força Superior. Este tipo de alma desce ao nosso mundo e se veste nos maiores Cabalistas. Cada vez que uma alma assim aparece, ela promove a humanidade para um novo grau espiritual e deixa a sua marca nos livros de Cabala, que servem às gerações seguintes.

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“Esta composição, chamada O Livro do Zohar, é como a Arca de Noé: haviam muitas espécies, mas estas espécies e famílias não podiam existir senão entrando na arca. …Assim o justo entrará no segredo da Luz desta composição para persistir e é esta a virtude da composição, que imediatamente quando se envolve nela …ela o atrai como um íman atrai o ferro. E ele entrará nela para salvar sua alma e espírito e a sua correcção.”

–O Rav Kook, Ohr Yakar (Luz Preciosa)

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O Livro do Zohar é indubitavelmente uma das composições mais reconhecidas do mundo. Ele foi o tema de milhares de histórias e embora tenha sido escrito há quase dois mil anos atrás, o livro ainda está envolto em mistério. O fascínio à volta dele é tão grande que embora o livro seja completamente incompreensível para a nossa geração sem interpretação adequada, milhões de pessoas tentam diligentemente examinar os seus segredos.

Rabi Akiva

Rabi Akiva viveu no primeiro e segundo séculos EC; ele foi o sábio mais notável do seu tempo. Ele foi um pedagogo líder, o principal Cabalista do seu tempo e participou na escrita dos textos espirituais essenciais do seu tempo — o Mishná e a Halachá. Ao mesmo tempo, ele foi o líder espiritual da revolta de Bar-Kokhba e foi o homem que revelou ao mundo a lei do amor.

Até aos quarenta anos de idade, Rabi Akiva era um pastor iletrado que levava uma vida vulgar. Ele nunca sonhara que um dia tudo isto mudaria dramaticamente.

O PONTO DE VIRAGEM

Até esse ponto de viragem, Rabi Akiva trabalhava como pastor de Kalba Savua. Perto dos quarenta anos, ele começou a sentir um impulso incontrolável de conhecer o sentido da vida e descobrir as regras que a governam. Nesse tempo, ele estava envolvido romanticamente com Rachel, a filha de Kalba Savua, um dos mais ricos e respeitados homens de Jerusalém desse tempo. O pai da menina não estava feliz com a paixão da sua filha por um “simplório.” Mas tal como com as melhores histórias, o amor prevaleceu e os apaixonados casaram contra a vontade do pai dela.

Segundo o Talmude (um comentário sobre o Mishná), foi Rachel que encorajou Rabi Akiva a deixar sua casa e ir estudar Cabala dos maiores Cabalistas desse tempo. Seu coração lhe disse que esta era a única maneira do seu marido achar a resposta para as suas perguntas. Ela o fez jurar que ele não regressaria até ter alcançado as leis do Mundo Superior. E assim, com as bênçãos da sua esposa, o caminho espiritual de Rabi Akiva começou.

Rabi Akiva estudo sob três Cabalistas: Rabi Elazar, Rabi Yehoshua e Nachum, Homem do Gamzu. Ele subiu os degraus da escada espiritual degrau por degrau e lentamente superou seus professores, finalmente se tornando o Cabalista líder da sua geração.

Assim que ele aprendera tudo aquilo que pudera dos seus mentores, Rabi Akiva estabeleceu seu próprio seminário. A palavra da sua sabedoria se espalhou rapidamente e 24000 estudantes de todo o país vieram aprender com ele.

DESCOBRIR A LEI DO AMOR

Os métodos de ensinamento únicos de Rabi Akiva estabeleceram o amor fraterno entre seus estudantes. A realidade física obedece à mesma lei do amor, o Criador, que governa os reinos espirituais. Portanto, quando a pessoa opera segundo a lei do amor, ele ou ela está em equilíbrio com a Natureza e se sente tão inteira e eterna como a Natureza. Mas quando nós agimos por amor próprio em vez de amor fraterno, sofremos e nos sentimos infelizes.

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Felicidade ou infelicidade não vêm até nós de fora de nós mesmos; elas são um resultado directo da nossa semelhança com a Natureza (o Criador). O Criador não nos dá nada senão coisas boas pois Ele é uma força de amor. Mas se somos opostos a Ele, não as conseguimos receber. Esta é a causa de toda a dor e infortúnio do mundo.

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Rabi Akiva descobriu que a lei da Natureza, a lei do amor, é constante e imutável. Ele aprendeu que quando mudamos nossa atitude para os outros, subitamente sentimos o todo da realidade a mudar, também. Ele reconheceu que as relações egoístas são a causa de toda a forma de sofrimento no mundo.

O ego, ou como os Cabalistas lhe chamam, “amor próprio,” nos fecha dentro da realidade limitada que sentimos e não nos deixa entrar no reino eterno e espiritual da vida. O único modo de experimentarmos o eterno é mudando nossa atitude para os outros. Rabi Akiva resumiu os seus achados na sua mais famosa máxima, “Ama teu próximo como a ti mesmo; esta é uma grande regra na Torá (ensinamento).”

A REVOLTA DE BAR-KOKHBA

No ano 132 EC, sob a liderança de Simão Bar-Kokhba, o Reino da Judeia se revoltou contra os romanos. Parecia que teriam sucesso quando os romanos foram forçados a retirar. No desespero, os romanos chamaram ajuda e quando as novas tropas chegaram, o balanço do poder mudou. Os romanos destruíram tudo no seu caminho e conquistaram o Reino da Judeia. Dezenas de milhares de judeus foram mortos e aqueles que foram levados como cativos foram vendidos como escravos.

A aniquilação da revolta de Bar-Kokhba foi o começo de um dos mais significativos períodos da Cabala. A ruína física da Judeia foi uma manifestação do declínio espiritual do seu povo e o mais claro símbolo deste esvaecimento foi a construção da cidade pagã de  Élia Capitolina sobre as ruínas de Jerusalém.

Os Cabalistas que continuaram a ensinar apesar da ruína foram torturados até à morte e Rabi Akiva se viria a tornar uma dessas vítimas. Ele continuou a ensinar e a compartilhar a sabedoria da Cabala até que também ele, fosse capturado pelos romanos. Eles o enviaram para a Prisão de Cesareia, onde ele foi brutalmente executado pelo comissário romano.

DOIS GOLPES CONTRA A OBRA DE RABI AKIVA

Nos passados 5000 anos ou semelhante, a humanidade experimentou várias erupções de egoísmo. Cada erupção se manifestou através das pessoas quererem mais que queriam no passado e cada uma delas mudou o curso da história.

A primeira erupção ocorreu em Babel, no tempo de Abraão. A segunda foi durante o tempo de Moisés e a terceira durante o tempo de Rabi Akiva.  Como resultado desta última explosão de egoísmo, o amor fraterno entre os estudantes de Rabi Akiva foi subjugado pelo ódio infundado. Isto conduziu ao declínio espiritual dos seus estudantes, que não mais eram capazes de percepcionar o mundo espiritual, mas ficaram limitados à percepção somente deste mundo.

Depois dos estudantes terem caído no ódio infundado, eles sofreram outro golpe. Eles foram atingidos por uma praga, matando todos menos cinco dos 24000 estudantes de Rabi Akiva. Os cinco estudantes remanescentes sobreviveram porque haviam retido a sua sensação de amor fraterno. Um dos cinco sobreviventes da praga foi o homem que continuaria o ensinamento de Rabi Akiva e o colocaria na escrita. Seu nome era Rabi Shimon Bar-Yochai, que mais tarde escreveria O Livro do Zohar.