Capítulo 2: O NÚCLEO DOS DESEJOS

Do livro “Interesse Próprio vs. Altruísmo na Era Global”

A importância da descoberta de Abraão não reside tanto em sua inovação científica ou conceitual, embora, em seu tempo, ambas tenham sido absolutamente radicais. Em vez disso, o principal significado de sua descoberta reside no seu aspecto social.

Na verdade, a motivação de Abraão para fazer as perguntas que no final levaram a sua descoberta foi tanto social como intelectual. Ele notou que o povo da cidade estava se tornando cada vez mais alienado. Por um longo tempo, os babilônios nutriram uma sociedade próspera que permitiu que vários sistemas de crenças e ensinamentos coexistissem em harmonia. No tempo de Abraão, porém, as pessoas estavam ficando intolerantes, vaidosas e alienadas umas das outras, e Abraão perguntava-se por quê.

A partir de suas perguntas e observação da natureza, ele percebeu que o mundo que aparece aos nossos sentidos é apenas uma cobertura superficial que cobre uma interação complexa e magnífica de forças. Quando essas forças se entrelaçam de certa forma, induzem determinado tipo de realidade física ou emocional a aparecer, tais como nascimento, morte, guerra, paz e todos os estágios que permeiam isso. Essa interação não existe apenas em grande escala como entre os países, mas em cada elemento da vida, desde o subatômico até o interestelar, desde o pessoal ao internacional. Na última parte deste livro vou explorar as implicações sociais das descobertas de Abraão, mas para isso precisamos entender mais acerca da natureza das descobertas em si mesmas.

O processo de pensamento de Abraão para descobrir essas forças é evidente em suas perguntas, que para ele foram, como Neil Postman coloca em O Fim da Educação, “os principais instrumentos intelectuais disponíveis para os seres humanos.”38 Nos escritos de Maimônides, Abraão pergunta: “Como foi possível para esta roda [da realidade] sempre girar sem condutor? Quem a está movendo, já que não pode girar sozinha?”39 Mais tarde, suas percepções ajudaram a derrotar Nimrod no debate, quando Nimrod continuava lhe ordenando que servisse este ou aquele elemento, e Abraão continuava mostrando-lhe que esses elementos eram todos ramos de algo maior, sem poder real em neles próprios.

“Assim, a partir de repetidas reflexões e observações, Abraão percebeu o que realmente faz o mundo girar” e, como todas as grandes verdades, era muito simples: desejos, dois desejos, para ser exato. Um deles é o desejo de doar e o outro, o desejo de receber. “A interação entre esses desejos é o que faz o mundo girar”, é a roda que move todas as coisas e a  força que cria todos os fenômenos.  Na terminologia cabalística,  o  desejo de doar é referido  como  “Seu desejo  [do  Criador] de fazer o  bem a Suas criações”40, e  o desejo de receber é descrito como “o desejo de receber deleite e prazer”41. Para encurtar, os Cabalistas se referem a eles como “desejo de doar” e “desejo de receber”.

Essa constatação simples é o que Abraão estava tentando transmitir a seus colegas babilônios, mas Nimrod procurou impedi-lo de fazer isso ao tentar matá-lo. E quando não conseguiu o que queria, mandou-o embora.

Infelizmente, com a deportação de Abraão, o espírito de camaradagem e união da Babilônia não foi restaurado. Finalmente, “O Senhor [Criador, Natureza] confundiu a linguagem de toda a terra e dali o Senhor os espalhou sobre a face de toda a terra” (Gênesis 11:9).

Isso não aconteceu aos babilônios, porque um vingativo e poderoso velho homem chamado “O Senhor” nutria rancor contra eles. Isso aconteceu a eles, porque os desejos que Abraão descobriu possuíam determinado sentido de evolução. Não há interação aleatória aqui, mas um conjunto de regras que se desdobram por uma ordem rígida de causa e efeito.

Quando Abraão descobriu essas regras, percebeu que seu povo local estava indo na direção errada, o que só poderia levá-los à futura destruição, por isso ele tentou o seu melhor para avisá-los. Como veremos, esses desejos são tão perpétuos e tão rígidos quanto a gravidade ou os polos positivo e negativo de um ímã. Como a gravidade e os polos do ímã, porém, ambas as forças podem ser usadas para trabalharem em nosso benefício.

Para entendermos a semelhança entre o estado atual da humanidade e o estado da sociedade babilônica e, portanto, a relevância da descoberta de Abraão para a crise global da atualidade, precisamos entender a direção em que os dois desejos evoluíram.  E para isso precisamos começar pelo início.

A Unidade Oculta Que Prevalece

Do livro “Interesse Próprio vs. Altruísmo na Era Global”

A Cabalá não é certamente a única ciência que investiga as forças ocultas da Natureza que operam em nosso mundo nos bastidores. De acordo com a Enciclopédia Britânica, “a teoria da mecânica de Newton, conhecida como mecânica clássica, representou com precisão os efeitos das forças em todas as condições conhecidas em seu tempo. (…) A teoria já foi modificada e ampliada pelas teorias da mecânica quântica e da  relatividade.” Em outras palavras, fazendo uma generalização grosseira, a ciência do século XX já não estava satisfeita com a teoria de Newton, por ser insuficiente para explicar todos os fenômenos observados na Natureza.

Na segunda metade do século XX, os cientistas perceberam que as novas teorias também ficaram aquém de explicar todos os fenômenos da Natureza. Isso  provocou uma busca por uma Grande Teoria Unificada (GUT). “O sonho dos teóricos [da física]”, segundo a Enciclopédia Britânica, “é encontrar uma teoria totalmente unificada, a teoria do tudo, ou TOE.”ii

No que parece um paralelo com a busca do TOE, muitos proeminentes físicos teóricos começaram a postular que, no nível mais fundamental, nós e todas as partes da realidade somos realmente um. O pioneiro físico teórico Werner Heisenberg disse: “Há um erro fundamental em separar as partes do todo, o erro de atomizar o que não deve ser atomizado. Unidade e complementaridade constituem a realidade.”iii

Contemporâneo de Heisenberg, seu companheiro e cofundador da física quântica, Erwin Schrödinger afirmou em seu ensaio “A Visão Mística”: “A pluralidade que percebemos  é apenas uma aparência, não é real.” Até mesmo o grande Albert Einstein, em carta datada de 1950, declarou: “Um ser humano é parte do todo chamado por nós de universo. (…) Experimentamos a nós mesmos,  nossos pensamentos e sentimentos como algo separado do resto, uma espécie de ilusão de ótica da consciência.”iv

Para provar, no entanto, que todas as partes da realidade são manifestações de um todo único, ou desenvolvendo o TOE que se aplica a todas as partes da realidade, seria necessário um paradigma que funcionasse em todos os níveis da vida física, mental e intelectual. E aqui os físicos estão fora de sua alçada. Mesmo os físicos teóricos mais inovadores não conseguem explicar todos os fenômenos observados da Natureza.

Em particular, uma explicação completa do fenômeno chamado “consciência” ilude cientistas de todos os campos. A consciência, porém, não está somente presente, mas, invariavelmente, afeta os resultados de experimentos científicos. A esse respeito, Dr. Johnston Laurance, ex-diretor do Instituto Nacional de Saúde Infantil  e Desenvolvimento Humano, publicou a seguinte declaração em um ensaio online, intitulado “Ciência Objetiva: Um Oxímoro Inerente”: “Todas  as  observações científicas, mesmo em seu nível mais fundamental, são afetadas pela consciência do observador. Assim, a declaração ‘ver para crer’ faz mais sentido do que aparenta. Numerosos estudos têm mostrado que a consciência exerce uma influência significativa

em muitas questões diferentes, que vão desde o crescimento de bactérias até a evolução de pacientes cardíacos.”v

Nesse ensaio, Dr. Laurance citou vários outros cientistas e pensadores que  compartilham essa visão, como o neurologista Jean Martin Charcot, do século XIX, considerado o pai da neurologia moderna: “Em última análise, vemos apenas o que nós estamos prontos para ver, o que temos sido ensinados a ver. Eliminamos e ignoramos tudo o que não faz parte de nossos preconceitos.”

Nesse sentido, se a observação científica afeta, distorce ou elimina completamente o fenômeno a ser observado, como a ciência pode ser considerada cem por cento  precisa?

Além disso, algum fenômeno pode ser plenamente compreendido se pelo menos um fator chave de influência, a consciência, não é sujeito de estudo e observação?

É aí que a filosofia entra para complementar a ciência e preencher as lacunas da incerteza. Muitos grandes pensadores fizeram isso ao expressar o  conceito  de “unicidade da realidade”. Zenão de Cício, o grande filósofo grego do século IV a.C., declarou: “Todas as coisas são partes de um único sistema, que é chamado Natureza.”vi

Da mesma forma, o filósofo e matemático alemão WG Leibniz expressou-se assim, em Escritos Filosóficos de Leibniz: “A realidade não pode ser encontrada exceto em uma única fonte, por causa da interligação de todas as coisas entre si.”vii

Certamente seria muito bom poder acreditar nessa imagem perfeita de unidade e interligação entre todas as coisas. Apesar da grande eloquência dos filósofos, um autêntico pesquisador da verdade dificilmente aceitaria uma ideia apenas porque “soa” bonita ou verdadeira. No final, o único teste verdadeiramente válido para uma teoria ou um conceito é a experiência pessoal de cada um.

Afinal, o que parece válido e verdadeiro para um pode parecer  completamente falso  para outro. Se você projeta um raio de luz através de um prisma, ele irá separar a luz em todas as cores do arco-íris. Se, no entanto, a pessoa para quem você está mostrando isso é monocromática, não farão diferença os nomes que você dá aos tons de cinza que ela verá. Para essa pessoa, todos eles serão cinzas. Da mesma forma, tão certos como os físicos e filósofos podem estar em suas observações sobre a unicidade e indivisibilidade da realidade, para aceitar essa unidade como um fato, as pessoas devem experimentar por si próprias.

Enquanto experimentar a unidade da realidade pode parecer mística para muitos, as citações acima provam que muitos proponentes dessa visão são reverenciados cientistas, alguns até ganhadores do Prêmio Nobel. Na verdade, a necessidade de uma visão mais completa e uniforme da realidade não surgiu com o advento da física quântica, nem mesmo com Einstein. Em 1879, o químico e físico inglês William Crookes declarou: “Nós temos realmente tocado a fronteira onde a matéria e a força parecem se fundir (…) Atrevo-me a pensar que os maiores problemas científicos do futuro serão encontrar a solução  nessa  região  fronteiriça,  e  mesmo  além;  aqui  me  parece  residirem  as mais recentes realidades, sutis, longe do alcance, maravilhosas.”viii

Na verdade, a partir de minhas pesquisas na ciência em geral e na Cabalá em particular, descobri que a intuição de Crookes foi por água abaixo, porque, como expliquei anteriormente, a Cabalá observa o objetivo final em primeiro lugar e só então explica a estrutura. E porque a realidade é o veículo com o qual atingimos esse objetivo, a Cabalá é inerentemente uma Grande Teoria Unificada, uma Teoria do Tudo, que tanto nos permite compreender o escopo completo da realidade, como de fato experimentar sua unidade.

O Precursor da Babilônia

Antes de nos aprofundarmos nos princípios desta Grande (e de fato) Unificada Teoria chamada Cabalá, devemos primeiramente entender como ela se originou e dar o devido crédito a seu “progenitor”. Vamos, por um momento, fazer uma viagem de volta no

tempo para a Mesopotâmia antiga, o berço da civilização. Há cerca de quatro mil anos atrás, situada em uma faixa de terra vasta e fértil entre os rios Tigre e Eufrates no que hoje é o Iraque, uma cidade-estado chamada Babel foi palco de uma civilização florescente. Movimentada com vida e ação, ela era o centro do comércio de todo o mundo antigo.

Babel, o coração da civilização dinâmica que hoje chamamos de “antiga Babilônia”, era um caldeirão e o cenário ideal para sistemas de crenças e ensinamentos diversos. Seu povo praticava a adoração de ídolos de muitos tipos e, entre as pessoas mais reverenciadas em Babel, havia um sacerdote chamado Abraão, que era uma autoridade local na prática da adoração de ídolos, como era seu pai, Terah.

Abraão, no entanto, possuía uma qualidade muito especial: ele era invulgarmente perspicaz e, como todos os grandes cientistas, zelava pela verdade. O grande estudioso do século XII, Maimônides (também conhecido como Rambam),  descreveu  em seu livro A mão poderosa a determinação de Abraão e seus esforços para descobrir verdades da vida: “Desde que este homem vigoroso foi desmamado, ele começou a se perguntar. (…) Ele começou a refletir sobre o dia e a  noite e ele se perguntou como era possível  que essa roda sempre rodasse sem condutor. Quem a faz rodar, já que não pode rodar sozinha? E ele não tinha nem professor, nem um tutor. Em vez disso, ele estava recluso em Ur dos Caldeus entre adoradores de ídolos analfabetos, com sua mãe e seu pai e todo o povo adorando estrelas, e ele adorando junto a eles.”ix

Em sua busca, Abraão soube o que existe além da fronteira que Crookes descreveu tantos séculos mais tarde. Ele encontrou a unidade, a unidade da realidade que Heisenberg, Schrödinger, Einstein, Leibniz e outros sentiram intuitivamente. Nas palavras de Maimônides, “Ele [Abraão] alcançou o caminho da verdade e entendeu a linha de  justiça com sua própria e  correta sabedoria. E ele sabia que  lá  há um só Deus que conduz (…) e que Ele criou tudo, e que em tudo o que existe, não há outro Deus senão Ele.”x

Para interpretar esses trechos corretamente, é importante notar que, quando os  Cabalistas falam de Deus, o termo não possui o mesmo significado religioso de um ser todo-poderoso que se deve adorar, satisfazer e apaziguar e que, em recompensa, dá aos crentes saúde, riqueza, vida longa ou tudo isso. Em vez disso, os Cabalistas identificam Deus com a Natureza, toda a Natureza. As declarações mais inequívocas sobre o significado do termo “Deus” foram feitas por Baal HaSulam, cujos escritos explicam que Deus é sinônimo de Natureza.

Por exemplo, em seu ensaio “A Paz”, ele escreve (em um trecho ligeiramente editado): “Para evitar ter de usar as duas línguas a partir de agora, Natureza e um Supervisor, entre os quais, como já demonstrado, não há diferença (…) é melhor para nós (…) aceitarmos as palavras dos Cabalistas que HaTeva (A Natureza) é o mesmo (…) que Elokim (Deus). Então, eu vou ser capaz de chamar as leis de Deus ‘mandamentos da

Natureza’, e vice-versa, porque são uma e a mesma coisa, e não precisamos discutir o assunto mais.”xi

“Aos 40 anos de idade”, escreve Maimônides, “Abraão veio a conhecer o seu Criador”,  a única lei da Natureza, que cria todas as coisas. Abraão, porém, não guardou isso para  si mesmo: “ele começou a dar respostas ao povo de Ur dos Caldeus e a conversar com eles e a dizer-lhes que o caminho em que eles estavam andando não era o caminho da verdade.” Como Galileu, depois dele, e muitos outros grandes precursores ao longo da história, Abraão foi confrontado pelo que estava estabelecido, que, em seu caso, era Nimrod, o rei de Babel.

Midrash Rabbah, um antigo texto escrito por sábios hebreus na século V d.C., apresenta uma vívida descrição de um confronto de Abraão com Nimrod, bem como uma  divertida passagem acerca do elevado fervor de Abraão. “Terah [pai de Abraão] era um adorador de ídolos [que também ganhava a vida construindo e vendendo as estátuas na loja da família]. Uma vez ele foi para um determinado lugar e disse a Abraão para se sentar ali com ele. Um homem entrou e quis comprar uma estátua. Ele [Abraão] lhe perguntou: ‘Quantos anos você tem?’ E o homem respondeu: ‘cinquenta ou sessenta’. Abraão lhe disse: ‘Ai daquele que tem sessenta anos e adora uma estátua com apenas  dias de vida.’ O homem ficou envergonhado e saiu.”

“Em outra ocasião, uma mulher chegou com uma tigela de semolina. Ela lhe disse: ‘Eis aqui o sacrifício perante as estátuas.’ Abraão levantou, pegou um martelo,  quebrou  todas as estátuas e colocou o martelo nas mãos da maior delas. Quando seu pai chegou, lhe perguntou: ‘Quem fez isso com elas?’ Ele [Abraão] respondeu: ‘Uma mulher veio com uma tigela de semolina e me disse para sacrificar perante elas. Eu sacrifiquei, e  uma delas disse: ‘Vou comer primeiro’, e a outra disse: ‘Vou comer primeiro.’ A maior se ergueu, pegou o martelo e quebrou as outras.’ Seu pai disse: ‘Você está me enganando? O que elas sabem?’ E Abraão respondeu: ‘Será que seus ouvidos ouvem aquilo que a sua boca está dizendo?’

Nesse momento, Terah sentiu que não podia mais disciplinar seu filho impertinente.  “Ele [Terah] levou [Abraão] e entregou-o a Nimrod [que não era apenas rei de Babel, mas também proficiente nas práticas e crenças locais]. Ele [Nimrod] lhe disse: ‘Adore o fogo.’ Abraão respondeu: ‘Eu deveria adorar a água, que extingue o fogo?’ Nimrod respondeu: ‘Cultue a água!’ Ele lhe disse: ‘Então eu deveria adorar a nuvem, que transporta a água?’ Ele lhe disse: ‘Cultue a nuvem!’ Ele [Abraão] lhe disse: ‘Nesse caso, eu deveria adorar o vento, que dispersa as nuvens?’ Ele lhe disse: ‘Adore o vento.’ Ele [Abraão] lhe disse: ‘E se nós adorarmos o homem, que se submete ao vento?’ Ele [Nimrod] lhe disse: ‘Você fala demais, eu adoro só o fogo. Eu vou jogá-lo nele e deixar que o Deus que você adora venha salvá-lo!’

Haran [ irmão de Abraão] estava lá. Ele disse: ‘Em qualquer caso, se Abraão vencer, eu vou dizer que concordo com Abraão, e se Nimrod tiver a vitória, vou dizer que  concordo com Nimrod.’ Desde que Abraão desceu ao forno e foi salvo, perguntaram a ele [Haran]: ‘Com quem você está?’ Ele lhes disse: ‘Eu estou com Abraão.’ Eles o levaram e o  jogaram no  fogo, e ele  morreu na  presença de  seu pai.  Assim foi dito: ‘E morreu Harã, na presença de seu pai, Terah’”.xii

Assim, Abraão resistiu com sucesso a Nimrod, mas foi expulso da Babilônia e partiu para a terra de Haran (pronuncia-se  Charan,  para distinguir de  Haran,  filho  de Terah).

Abraão, o precursor de Babilônia, porém, não impediu a circulação de sua descoberta só porque foi exilado da Babilônia. Descrições elaboradas de Maimônides nos dizem: “Ele começou a falar para o mundo inteiro, para alertá-los de que há um só Deus para o mundo inteiro (…) Ele contava para todos, vagando de cidade em cidade e de reino em reino, até que chegou à terra de Canaã (…)

E uma vez que elas [as pessoas nos lugares em que ele vagava ] se reuniam em torno dele e lhe perguntavam sobre suas palavras, ele ensinou a todos (…) até que ele as  trouxe de volta ao caminho da verdade. Por fim, dezenas de milhares reunidos em torno dele, e eles são as pessoas da casa de Abraão. Ele plantou esse princípio em seus corações, escreveu livros sobre isso e ensinou ao seu filho, Isaac. E Isaac sentou-se e ensinou e advertiu e informou Jacob e nomeou-o professor para se sentar e ensinar (…)  E Jacó, o Patriarca, ensinou a todos os seus filhos e separou Levi e nomeou-o como cabeça e mandou-o sentar-se e aprender o caminho de Deus (…)”xiii

Para garantir que a verdade fosse levada através das gerações, Abraão “ordenou a seus filhos para não cessarem de fazer nomeação após nomeação, dentre os filhos de Levi, de modo que o conhecimento não fosse esquecido. Isso continuou e se expandiu nos filhos de Jacó e naqueles que os acompanhavam.”xiv

O resultado surpreendente desses esforços foi o nascimento de uma nação que sabia as mais básicas leis da vida, a Teoria de Tudo: “E uma nação que conhece o Criador foi feita no mundo”xv

De fato, Israel não é apenas o nome de um povo. Em hebraico, a palavra Israel (Ysrael) consiste de duas palavras: Yashar (reto, direto) e El (Deus). Israel designa a mentalidade de querer descobrir a lei da vida, o Criador. Em outras palavras, Israel não é uma atribuição genética, é sim o nome ou a direção do desejo que levou Abraão a suas descobertas. Geneticamente, os israelitas eram em sua maioria babilônios, bem como membros de outras nações que se juntaram ao grupo de Abraão. Isso era óbvio para os antigos israelitas. Como Maimônides escreveu, eles tinham os seus professores,  os Levis, e foram ensinados a seguir as leis essenciais da vida.

Hoje, no entanto, não estamos cientes do fato de que “Israel” refere-se ao desejo de conhecer a lei básica da vida, o Criador, e não a uma linhagem genética. Quase 2000 anos de ocultação da verdade, desde a ruína do Segundo Templo, praticamente eliminaram a verdade de que a Cabalá, a ciência que ensina a Natureza (de Deus), ou seja, a unidade, é para todas as pessoas no mundo, assim como Abraão direcionou esse conhecimento para todo o povo em Babel e mais tarde “começou a falar para o mundo inteiro”, como descrito por Maimônides.

Através dos anos, apenas Cabalistas mantiveram essa verdade viva. Cabalistas como Elimelech de Lizhensk,xvi Shlomo Ephraim Luntschitz,xvii Chaim ibn Attar,xviii Baruch Ashlagxix e muitos outros escreveram em palavras claras: Ysrael significa Yashar El (Israel significa direto para Deus).

Além disso, a necessidade de descobrir essa força, que descreveremos nos capítulos seguintes, é tão  pertinente hoje como  sempre. Nada mudou  na Natureza desde a época de Abraão, e a lei de unidade e unicidade ainda é a única força que cria, rege e sustenta  a vida.

Na verdade, a nossa necessidade de saber é, hoje, mais pertinente do que nunca, porque, no tempo de Abraão, a humanidade teve inúmeras estradas pelas quais se dispersou e terra de sobra para habitar. Hoje, no entanto, temos uma comunidade global,  e cada  crise ocorre em uma escala global. Os erros que cometemos cobram seu preço em todo  o mundo. A descoberta de Abraão nos ajuda a adicionar força de vida aos  nossos cálculos e planos, o que a torna fundamental, a informação que salva vidas.

A força que Abraão descobriu e descreveu a seus alunos é a própria força que levou Napoleão a conquistar mais do que ele poderia governar e que ainda está conduzindo a China a se globalizar ao invés de se isolar. Essa força, no entanto, também está por trás das vozes que saúdam o protecionismo e a separação. Em um mundo global, o protecionismo pode significar o fim da nossa civilização. Nossa única esperança é unir- nos, porque a unidade é a direção da força que impulsiona toda a vida. Nosso desafio, portanto, é aprender a nos unir. É possível e plausível, mas, em um momento de crise, será necessário reconhecer a força de vida, gerar um esforço mútuo de cooperação e colaboração e viver pelos ditames dessa  lei.

Capítulo 1: A Busca do Homem pela Unidade

Do livro “Interesse Próprio vs. Altruísmo na Era Global”

Quando a pior crise financeira desde a Grande Depressão eclodiu em agosto de 2008, muitos políticos e financistas em posições-chave enfatizaram a necessidade de unidade   e cooperação. Eles expressaram a necessidade de conter o quadro egocêntrico da mente dominando Wall Street e expressaram um medo de tendências separatistas e protecionistas. Manchetes como a de The Economic Times, “Líderes  Mundiais  Procuram a Unidade para o Combate à Crise Financeira”, prevaleceram em jornais de todo o mundo, sinalizando uma disposição geral para a união e cooperação diante da incerteza econômica.

À primeira vista, esse espírito é compreensível, senão necessário. Afinal, financistas do mundo sabiam que suas instituições estavam ligadas entre si tão firmemente que, se  uma falhasse, as outras falhariam também, e os políticos foram advertidos de que, se  não salvassem os bancos em seus países, suas próprias economias entrariam  em colapso, precipitando um efeito dominó que faria  a economia global despencar.

Frente a uma crise, no entanto, é natural fazer o oposto da união: fechar-se e proteger o que é seu. Essa parece ser uma rota mais segura do que unir forças com “estrangeiros”, especialmente quando os estrangeiros podem ser considerados culpados ou, pelo menos, colaboradores na ocorrência dessa situação.

Assim, os Estados Unidos ─ país geralmente considerado como principal perpetrador do surto e da rápida escalada da crise financeira ─ não sofrem de isolamento, porque a interconexão da economia mundial obriga economias como a da China a  comprar dólares e, dessa forma, prover o sustento da economia americana.

Para os políticos, parece mais natural colocar seus países em primeiro lugar, como revelam as tarifas British Corn Laws, do século XIX, e o ato Buy American, do Presidente Hoover, de 1933. Como o delicado equilíbrio entre cooperação e interesses próprios ocila para frente e para trás, investigamos a destruição causada pela crise financeira e descobrimos que a maioria das vozes clama por união e denuncia o protecionismo e a separação. Por que isso acontece?

Se considerarmos essa questão por um aspecto puramente econômico ou psicológico, não chegaremos a uma resposta conclusiva. Quando a analisamos a partir da perspectiva da ciência da Cabala, vemos, no entanto, que as forças envolvidas nas relações internacionais, e na verdade em qualquer relação, são forças de integração, não de isolamento. Elas são muito mais poderosas do que qualquer processo racional ou irracional na tomada de decisão e determinam os nossos movimentos “nos bastidores”.

Em nível internacional, essas forças determinam comércio globalizado, política,  tratados, conflitos e ecologia. Em nível nacional, determinam tendências em educação, política social, mídia e economia local. Em nível pessoal, elas determinam nossas relações com nossas famílias e, no nível mais profundo da existência, determinam a evolução ─ a nossa e a de todos os outros elementos da Natureza.

Quando compreendermos essas forças, entenderemos por que Napoleão, por exemplo, mordeu mais do que podia mastigar quando tentou conquistar a Rússia,  por que Hitler fez o mesmo  (e no  mesmo  país), e por que Bernard Madoff não parou até ser detido. A síndrome da “ponte longe demais” é uma armadilha tipicamente humana a que os maiores líderes do mundo e os futuros líderes não conseguem resistir. De fato, as forças que nos levam a nos comportar como o fazemos são tão parte de nós e de nosso mundo que não reconhecê-las é um risco que não devemos correr.

Para compreender as forças e os elementos que criam a realidade e alteram seu curso, é preciso primeiramente conhecer suas origens e seus destinos finais. Caso contrário, tentar compreender a realidade é como tentar compreender o funcionamento interno do motor de um carro, a conexão com a embreagem, a maneira como a embreagem muda a velocidade das rodas, e assim por diante, sem explicar que um carro é uma máquina construída para transportar pessoas com segurança, conforto e rapidamente de um lugar A para um lugar B. Sem explicar o propósito do carro, de que adianta discutir sua estrutura?

Como a ciência, a Cabalá investiga o funcionamento interno da realidade. Diferentemente da ciência, porém, que observa os fenômenos e oferece teorias quanto a seu objetivo final, a Cabalá vê primeiro o objetivo e, a partir daí, explica a estrutura.  Esse objetivo, como explica a Cabalá, é que cada pessoa no mundo descubra a força única e fundamental que cria e governa toda a vida. Em outras palavras, o objetivo da Cabalá é que cada pessoa descubra a força criativa da vida, a obtenha e colha todos os benefícios que essa descoberta implica.

O Cabalista do século XX, Yehuda Ashlag, conhecido como Baal HaSulam (Dono da Escada) por seu Sulam (Escada), comentário sobre O Livro do Zohar, descreveu a Cabalá e o propósito da vida da seguinte maneira: “Esta sabedoria é nada mais, nada menos do que uma sequência de raízes, que pendem por meio de causa e consequência, por regras fixas e determinadas, entrelaçadas com um objetivo único e elevado, descrito como ‘a revelação do Criador para as criaturas neste mundo’”.

Nossas vidas são o veículo para alcançarmos esse propósito. Por isso os Cabalistas respeitam os fenômenos do nosso mundo físico, histórico e social como fases  em direção a um objetivo final, e é dessa perspectiva que este livro irá discutir a história da humanidade e seu estado atual.

Introdução

Do livro “Interesse Próprio vs. Altruísmo na Era Global”

No momento em que estas palavras são escritas, o mundo ainda está se recuperando da mais longa recessão desde a Segunda Guerra Mundial. Dezenas de milhões de pessoas em todo o mundo perderam seus empregos, suas economias, suas casas, mas, o mais importante,                suas                esperanças para o                      futuro. Nossa saúde, ao que parece, não é mais saudável do que a nossa riqueza. A medicina moderna, orgulho e alegria da civilização ocidental, está às voltas com o reaparecimento de doenças que se acreditavam extintas. De acordo com um relatório publicado pelo Conselho de Saúde Global, “Doenças que se acreditava estarem sob controle têm novamente voltado como grandes ameaças globais. O surgimento de cepas resistentes  de bactérias, vírus e outros parasitas coloca novos desafios para o controle das doenças infecciosas. Coinfecção com múltiplas doenças cria obstáculos para prevenção e tratamento                                                  de                      infecções.” A Terra, também, não é tão hospitaleira como antes. Livros como os de James  Lovelock, A Vingança de Gaia, Ervin Laszlo, O Ponto do Caos, e filmes como o de Al Gore, Uma verdade inconveniente, são apenas três exemplos de uma cavalgada de relatórios    alarmantes    sobre    a     deterioração     do     clima     da     Terra     .   Como o aquecimento global derrete as calotas polares, o nível do mar sobe. Isso já causou mudanças dramáticas e trágicos acontecimentos. Um relatório da Stephan Faris na revista Scientific American lista alguns dos locais já afetados  pela  mudança climática. Em Darfur, os confrontos entre tribos nômades e sedentárias que estourou devido a uma seca de décadas se transformou em uma rebelião contra o descaso do governo sudanês. Posteriormente, a crise se espalhou para o Chade e a República Centro-Africana.

Também nesse relatório, a nação insular Kiribati, do Pacífico, declarou suas terras inabitáveis e pediu ajuda para evacuar sua população. Em março de 2009, Peter  Popham, escritor de The Independent, forneceu outro ângulo para a situação do  clima: “O aquecimento global está dissolvendo as geleiras alpinas tão rapidamente que a Itália e a Suíça decidiram que devem novamente desenhar suas fronteiras nacionais para ter em conta a nova realidade.”.

Um resultado mais trágico da mudança climática é a fome, causada por secas prolongadas em algumas áreas e inundações constantes em outras. De acordo com o Programa Alimentar Mundial, cerca de um bilhão (1.000.000.000) de pessoas em todo o mundo está constantemente com fome. Pior ainda, mais de nove milhões (9.000.000) de pessoas morrem anualmente de fome e de causas relacionadas, mais da metade são crianças. Isso significa que hoje, na era mais avançada tecnologicamente da história da humanidade, uma criança morre a cada seis segundos devido à falta de comida e água.

Em nossas casas, os problemas são muitos também. O New York Times anunciou que,  de acordo com um censo divulgado pelo American Community Survey, as taxas de divórcio aumentaram a tal ponto que hoje há mais casais não casados nos Estados Unidos do que casados. É a primeira vez na história que as famílias monoparentais são a norma,           as           de           mãe           e           pai           são           a           exceção. Muitos cientistas, políticos, ONGs e organizações ligadas à ONU alertam que a humanidade  está enfrentando  um risco  de catástrofes  sem precedentes em uma escala global. Qualquer coisa, desde a mutante gripe aviária até uma guerra nuclear ou um terremoto, poderia acabar com milhões e bilhões seriam levados à miséria.

Crises, no entanto, têm ocorrido ao longo da história. Nossa época não é a primeira em que a humanidade tem estado em risco. A pandemia da Peste Negra do século XIV e as duas Guerras Mundiais facilmente superam o perigo que a nossa situação atual apresenta. O que distingue a atual crise das anteriores, porém, é a tensão que caracteriza o estado atual da humanidade. Nossa sociedade tem ido ao extremo em duas direções que parecem entrar em conflito: a globalização e a interdependência de um lado, e o aumento da alienação e o narcisismo pessoal, social e político de outro. E isso é uma receita para um desastre como o mundo jamais viu, seja no setor financeiro  ou para  além dele.

Hoje a globalização nos diz respeito muito mais que a interdependência financeira. Tornamo-nos globalmente interligados em todos os domínios da vida: os computadores  e TVs que usamos para nos entreter vêm (principalmente, mas não exclusivamente) da China, de Taiwan e da Coreia. Os carros que dirigimos são montadas (mais uma vez, principalmente) no Japão, na Europa e nos Estados Unidos, mas suas peças são  feitas em muitos outros países. As roupas que vestimos muitas vezes chegam da Índia e da China, enquanto a comida em nossos refrigeradores vem de todo o mundo.

Além do mais, em todo o mundo as pessoas assistem a filmes de Hollywood e  aprendem inglês aos milhões. De fato, dos cerca de 1,4 bilhões de falantes de inglês a nível mundial, apenas 450 milhões são falantes nativos, e só a China produz mais de 20 milhões de novos falantes de inglês a cada ano, relata o Asia Times em uma reportagem do dia15 de setembro de 2006, intitulada “Inglês nativo está perdendo seu poder”.

Em 8 de março de 2009 o economista da Wachovia Corp, Mark Vitner, fez uma descrição bastante palpável da situação globalizada do mundo, quando descreveu a interconexão dos mercados de crédito na MSNBC: “É como tentar desembaralhar ovos mexidos. Isso não pode ser feito facilmente. Eu não sei se isso pode ser feito de alguma maneira.”i

O problema com a globalização, no entanto, não é apenas que nos torna interligados, também nos torna interdependentes, e em vez de usarmos essas interconexões para prosperar, nos engajamos em um constante cabo de guerra. O que aconteceria com os países ricos em petróleo se o mundo de repente mudasse para as energias eólica e solar? O que aconteceria se a China parasse de comprar dólares dos Estados Unidos? O que aconteceria com China, Japão, Índia, Coreia se os americanos não tivessem dólares para comprar os bens produzidos na Ásia? E se os turistas ocidentais deixassem de viajar, o que seria das centenas de milhões de pessoas em todo o mundo que sustentam suas famílias graças ao hedonísmo ocidental ?

O jornalista Fareed Zakaria eloquentemente descreveu esse emaranhado em um artigo  da Newsweek, intitulado “Saindo das carteiras: o mundo precisa dos norte-americanos gastando”: “Se os deuses da economia me dissessem que eu poderia ter a resposta a uma pergunta sobre o destino da economia global (…) gostaria de perguntar ‘Quando o consumidor americano começará a gastar novamente?'” Na verdade, nós nos tornamos uma aldeia global, totalmente dependentes uns dos outros para o nosso sustento.

A interdependência, no entanto, é apenas uma parte do quadro complicado de hoje. Embora estejamos crescendo cada vez mais globalizados, estamos também nos tornando cada vez mais centrados em nós mesmos ou, como os psicólogos Jean M. Twenge e Keith Campbell descrevem, “cada vez mais narcisistas”. Em seu livro perspicaz, A epidemia do narcisismo: vivendo na Era do Direito, Twenge e Campbell falam sobre ao que eles se referem como “o aumento incessante do narcisismo em nossa cultura” e os problemas que ele causa. Eles explicam que “Os Estados Unidos estão atualmente sofrendo de uma epidemia de narcisismo. (…) traços de personalidade narcisista aumentaram tão rápido quanto a obesidade.” Pior ainda, “O aumento do narcisismo está se acelerando, com pontuações crescendo mais rápido na década de 2000 do que em décadas anteriores. Em 2006, 1 em cada 4 estudantes universitários concordou com a maioria dos itens em uma medida padrão de traços narcísicos. Hoje, como o cantor  Little Jackie coloca, muitas pessoas sentem que “sim senhor, todo o mundo deve girar em torno de mim.'” No dicionário Webster, o narcisismo é definido como “egoísmo” e isso, claramente falando, significa que nos tornamos insuportavelmente egoístas.

Assim, nosso problema é duplo: por um lado, somos interdependentes; por outro lado, estamos nos tornando cada vez mais narcisistas e alienados. Estamos tentando levar  duas formas de vida que simplesmente não se encontram: a interdependência e a alienação. Talvez seja por isso que passemos incontáveis horas conversando com “amigos virtuais” em redes sociais online, mas sejamos muitas vezes frios e insensíveis com nossos parentes em casa. Se fôssemos simplesmente interdependentes, gostaríamos de nos unir, apoiar uns aos outros e ser felizes. Alternativamente, se fôssemos simplesmente egoístas, separar-nos-íamos e viveríamos por nós mesmos. Mas se nós somos interdependentes e egoístas, nenhuma das duas formas funciona!

E esta é, em essência, a raiz da crise: a nossa interdependência exige de nós que trabalhemos juntos, mas o nosso egoísmo nos leva a enganar e explorar uns aos outros. Como resultado, os sistemas de cooperação que trabalhamos tão duro para construir se quebram, levando a contínuas crises.

Assim, o objetivo deste livro é duplo: 1) lançar luz sobre a causa da nossa interdependência, por um lado, e nosso egocentrismo, por outro, e 2) descrever brevemente um modus operandi viável para combinar essas características aparentemente conflitantes em nosso benefício. Para abordar o primeiro objetivo, vou explicar o que eu aprendi na Cabalá sobre a estrutura da Natureza e, particularmente, sobre a natureza humana. Para abordar o segundo objetivo, vou combinar as ideias do grande Cabalista do século 20, Yehuda Ashlag, assim como as de outros grandes Cabalistas, com sugestões de cientistas contemporâneos e estudiosos de outras disciplinas.

Na Sabedoria da Cabalá, descobri o que eu acredito ser uma solução viável para os problemas globais atuais e me sinto grato por me ter sido dada a oportunidade de apresentá-la. É minha esperança e, posso dizer, convicção de que, a partir dos conceitos que a Cabalá oferece, possamos salvar a nós mesmos, bem como a Grande Bola Azul na qual vivemos.

 

Prefácio

Do livro “Interesse Próprio vs. Altruísmo na Era Global”

Acho que todas as crianças passam por um período de fazer as “grandes” perguntas. As minhas foram: “De onde nós viemos?”, “Para onde nós vamos quando já não estamos aqui?” e, especialmente, “Qual é o propósito da vida?”. Talvez devido ao fato de que meus pais fossem médicos, eu me sentia naturalmente inclinado a buscar as respostas na ciência. E talvez porque eu estivesse procurando na ciência, as respostas que encontrei tinham natureza mais abrangente e geral.

Minha opção científica foi a Biocibernética médica, para ser exato. Isso se tornaria minha ferramenta de pesquisa. Na época, a Cibernética era um campo de novas e inovadoras pesquisas, permitindo aos cientistas explorar sistemas  complexos  e encontrar os mecanismos para controlá-los. Eu estava particularmente interessado no corpo humano e seus sistemas de controle. Com a Cibernética, eu tinha tentado desvendar o segredo da existência humana: o corpo e a alma que (assim eu acreditava) o habitava.

Minhas esperanças, porém, foram frustradas. Sim, a ciência me ensinou muito sobre a vida, ou melhor, sobre como uma nova vida começa e como é sustentada. Não me ensinou, no entanto, nada sobre as questões mais fundamentais do significado que conduziu    minha     pesquisa:     o     que     é     a     vida     e     para     que     serve?    O desejo de decifrar o significado da vida me manteve interessado, sondando cada fragmento de dados que eu pude encontrar. Eu continuei minha busca na ciência, na filosofia e até mesmo na religião, até ganhei uma infinidade de novos conhecimentos e compreensão da vida. Assim como na minha experiência inicial com a cibernética, nada disso, porém, parecia resolver questões mais profundas de significado e propósito.

 

E então um dia, de repente, cheguei à conclusão da minha longa busca, quando inesperadamente me deparei com o que, eu descobri mais tarde, seria uma ciência chamada “Cabalá”. Em retrospecto, nenhuma parte da minha pesquisa foi redundante ou lamentável. Ciência, filosofia e religião foram todas “paradas” necessárias no meu caminho para a Cabalá, embora eu nunca tivesse parado em qualquer uma delas. Cada uma contribuiu para a minha compreensão acerca do sentido da vida e do propósito da existência humana; cada uma agora tem o seu lugar de direito na totalidade, e eu poderia acrescentar, como resultado de uma salutar visão de mundo que a Cabalá me ajudou a estabelecer.

Além disso, eu descobri uma conexão entre a finalidade da existência humana e as múltiplas crises globais que o mundo enfrenta agora. A partir da Cabalá, eu reconhecia a inevitabilidade dessas crises, a sua resolução inevitável em paz e prosperidade e a escolha livre que temos de fazer para resolvê-las ─ colaborando e cooperando, mas principalmente nos tornando conscientes de nossa unidade e interdependência. Mais importante que tudo isso, eu descobri que antigos conceitos cabalísticos sobre as relações humanas fornecem uma plataforma sobre a qual é possível construir sociedades viáveis                   que              promovam           tais         relações           amigáveis. O conceito de que as atuais ameaças globais são predeterminadas não é meu. Nem é

 

minha a ideia de que as crises são um trampolim para uma realidade que ultrapassa nossos sonhos mais loucos. Ambas as noções têm existido por milênios, mas só agora começaram a vir à tona, porque é a primeira vez que certa condição necessária dupla foi atendida: as pessoas estão desesperadas o suficiente para buscar uma solução e há uma explicação bastante clara de que a solução está disponível. Quanto ao meu papel no desenrolar desses conceitos é o de servir como apresentador e facilitador. Por mais que eu acredite na validade dessas ideias, de modo algum, no entanto, posso  reclamar direitos de propriedade sobre elas. São soluções e ideias que eu aprendi com meus professores ao longo dos anos.

Como eu espero mostrar nos próximos capítulos, a ciência contemporânea e o pensamento moderno agora tornam possível satisfazer essas condições e desvendar o paradigma antigo explicado na ciência da Cabalá. Graças à física quântica, que se atreveu a desafiar o paradigma newtoniano da realidade, podemos achar dignos de consideração conceitos como a “unidade da realidade”. E graças à filosofia, que devotamente cultivou a ideia do pensamento livre, podemos agora compartilhar ideias e aprender                    uns                       com  os        outros. Assim, embora os conceitos que estou prestes a introduzir sejam inteiramente cabalísticos, vou mostrar que muitos deles têm paralelo com a ciência moderna.  A minha esperança é de que, no espírito do pluralismo, eles sejam recebidos com mente e coração abertos. E se os pontos de vista aqui apresentados invocarem contemplação em apenas um leitor, serei totalmente recompensado.

Michael Laitman

Nota do Editor

Do livro “Interesse Próprio vs. Altruísmo na Era Global”

O livro Interesse próprio versus altruísmo na Era Global, que visa explicar a evolução da existência, originalmente parecia um objetivo irreal. Parecia ser especialmente desafiador o ângulo que o livro iria tomar, em função da comunidade científica, bem como da cabalística. Com a ajuda de muitos amigos de todo o mundo, porém, concluímos a tarefa com êxito.

Eu sinto que é meu dever agradecer a cada um que contribuiu no projeto e peço desculpas se alguém foi omitido inadvertidamente. Na minha opinião, este livro é a criação de um grupo, ao invés de trabalho de alguns indivíduos proficientes, e é aí que reside o seu mérito.

Abaixo está a lista (em ordem alfabética) das pessoas que contribuíram com seu tempo, esforço  e  muitas   vezes   dinheiro   para   a   realização   deste   livro   global:   Pesquisa e Revisão (ambos): Anastasia Cherniavski, Annabelle Fogerty, Asaf Ohayon, Asta Rafaeli, Avraham Cohen, Beth Shillington, Christiane Reinstrom, Crystlle Medansky, Daniel Lange, Eli Gabay, Geoffrey Best, James Torrance, Jonathan Libesman, Julie Schroeder, Kimberlene Ludwig, Loredana Losito, Markos Zografos, Marlene Bricker, Michael R. Kellogg, Michal Karpolov, Pete Matassa, Peter LaTona, Sandra Armstrong, Shari L. Kellogg, Veronica Mengana, Yehudith Sabal, and Zhanna Allen.

Editores: Alicia Goldman, Brad Hall, Charles Bowman, Dan Berkovitch, Eric Belfer, Gilbert Marquez, James Torrance, Keren Applebaum, Noga Burnot, Rachel Branson, Riggan Shilstone, and Tom Dorben.

Produção: Leah Goldberg

Administração: Avihu Sofer, Alex Rain (imagens).

Gostaria de expressar minha profunda gratidão a Profª Valeria Khachaturian, Profº Itzhak Orion, Dr. Yael Sanilevich, Dr. Eli Vinokur e Mr. Ronen Avigdor pela revisão das informações científica, histórica e financeira contidas neste livro.

E, finalmente, a Baruch Khovov, designer que se reportava a Claire Gerus, editora cujo trabalho sempre foi símbolo de qualidade para mim, e, logicamente, a Uri Laitman, nosso editor, cuja dedicação e diligência são inspiração para todos os que trabalham com ele.

Atenciosamente, Chaim

 

O Livro Aberto

Michael Laitman, PhD

O Livro Aberto apresenta os princípios da antiga e científica sabedoria da Cabala autêntica, com as explicações de suas regras básicas.

 

 

 

Índice de Conteúdos

INTRODUÇÃO AO ZOHAR – QUEM É O CULPADO?

Do livro “O Livro Aberto”

Partes selecionadas da Introdução ao Zohar, palestra dia 19/10/2000

 

Em sua Introdução ao Zohar, Baal HaSulam diz:

66) Conserve em sua lembrança que tudo possui parte interna e parte externa. Israel, os descendentes de Abraão, Isaque e Jacó, é geralmente considerado a parte interna do mundo, e as setenta nações são consideradas sua parte externa. Dentro de Israel há também a parte interna, que são os adoradores sinceros do Senhor, e a parte externa, os quais não se devotam inteiramente à obra de Deus. E entre as nações do mundo também existem partes internas, que são os Justos das Nações, e uma parte externa, que são os rudes e destrutivos entre eles.
E também dentro dos adoradores do Senhor que estão dentro de Israel, existe uma parte interna, que são aqueles que são dotados com a compreensão da essência da parte interna da Torah e seus segredos, e uma parte externa, que são aqueles que meramente observam a parte vigente da Torah. E em cada homem de Israel há uma parte interna, que é Israel dentro dele, sendo o ponto no coração, e uma parte externa, que é as Nações do Mundo dentro dele, sendo o corpo em si. Mas, mesmo as Nações do Mundo dentro dele são consideradas prosélitos, porque elas, ao se apegarem à parte interna dele, se tornam como prosélitos das Nações do Mundo, que se unem a todo Israel.
67) Quando um homem de Israel intensifica e dignifica sua parte interna, que é Israel nele, mais que sua parte externa, que são as Nações do Mundo nele, o que significa que ele dedica a maior parte do seu tempo e esforços para intensificar e exaltar sua parte interna, para o bem de sua alma, e um menor esforço, por mera necessidade, para sustentar suas Nações do Mundo, ou seja, suas necessidades corpóreas, como é dito (Avot 1) – “faça sua Torah permanente e seu trabalho transitório”, com isso ele faz com que – na parte interna e externa do mundo – os Filhos de Israel elevem-se e as Nações do Mundo, que são a parte externa geral, reconheçam e admitam o valor dos Filhos de Israel.
E se, Deus não permita, o contrário ocorrer, de um homem de Israel intensificar e dar atenção à sua parte externa, que é as Nações do Mundo nele, mais que Israel nele – como é dito (Deuteronômio 28) “O estrangeiro que está no meio de ti”, a parte externa nele se elevará, e você, que é a parte interna, o Israel em você, submergirá profundamente. Isso faz com que a parte externa do mundo em geral, que são as Nações do Mundo, se eleve ainda mais e domine Israel, rebaixando-os ao máximo, e com que os Filhos de Israel, a parte interna do mundo, afunde, Deus não permita, ao mais profundo.
68) Não se surpreenda que uma só pessoa cause com sua ação uma descida ou uma ascensão ao mundo todo. Pois essa é uma lei rígida: que o geral e o particular são tão iguais como duas gotas numa lagoa. E tudo que é habitual no geral é habitual no particular também. Além do mais, os particulares formam tudo que há no geral. Pois o geral não pode vir a ser a não ser depois que os particulares foram revelados, de acordo com a quantidade e a qualidade dos particulares.
Evidentemente, o ato do particular, de acordo com seu valor, eleva ou rebaixa o todo. Isso esclarecerá as palavras do Zohar: que através do estudo do Zohar e da Sabedoria da Verdade eles serão redimidos do exílio em completa libertação. Mas qual é na verdade a conexão entre o estudo do Zohar e a libertação de Israel dentre as nações?
69) Foi esclarecido detalhadamente que a Torah também possui sua parte interna e sua parte externa, como o mundo todo possui. Portanto, aquele que esquadrinha a Torah também possui dois níveis. E ao aumentar seu labor na parte interna da Torah e seus segredos, nessa medida ele faz com que a virtude da parte interna do mundo, que é Israel, ascenda sempre mais alto acima da parte externa dele, ou seja, as Nações do Mundo. E todas as nações do mundo reconhecerão e admitirão a ascendência de Israel sobre elas, até que se tornem realidade, as palavras: “Os povos os tomarão e os levarão aos lugares deles, e a casa de Israel os possuirá na terra do Senhor (Isaías 14:2)” “Assim diz o Senhor Deus: Eis que levantarei a mão para as nações e ante os povos arvorarei a minha bandeira; e eles trarão os teus filhos nos braços, e as tuas filhas serão levadas sobre os ombros (Isaías 49:22)”.
Mas se, Deus não permita, o contrário acontecer, que o homem de Israel rebaixe a virtude da parte interna da Torah e de seus segredos, que lidam com as ações de nossas almas e seus níveis, e também a parte da razão das mitzvot (preceitos) em relação à virtude da parte externa da Torah, que lida exclusivamente com a parte prática apenas, e mesmo se ele dedica algum tempo à parte interna da Torah, mas apenas um pouco do seu tempo, quando não é noite nem dia, como se isso fosse, Deus não permita, redundante, com isso ele causa a degradação e o declínio da parte interna do mundo, que são os Filhos de Israel, e intensifica a dominação da parte externa do mundo – ou seja, as Nações do Mundo – sobre eles, e elas humilharão e desgraçarão os Filhos de Israel, e considerarão Israel redundante, como se o mundo não precisasse dele, Deus não permita.
E além do mais, com isso eles fazem que até a parte externa do mundo domine sua parte interna. Pois as piores das Nações do Mundo, que o destroem e prejudicam, ascendem mais alto sobre a parte interna delas (as Nações do Mundo), e então causam a ruína e o massacre horripilante que nossa geração testemunhou. Que Deus nos proteja de agora em diante!
Portanto, você vê que a redenção de Israel e de fato sua ascensão depende do estudo do Zohar e da parte interna da Torah. E vice versa, toda ruína e declínio dos Filhos de Israel resultam do seu abandono da parte interna da Torah, degradando e transformando-a em algo aparentemente redundante, Deus não permita.

Como alguém pode identificar dentro de si, ou de seu povo, ou do mundo à sua volta, quais partes são internas e quais são externas?

As nações do mundo no homem são atributos, desejos (vasos) que não devemos usar até o final da correção. Mas podemos trabalhar com os desejos chamados “Israel”. Israel são os vasos, ou atributos, que são caracterizados por  seu desejo de doar, de conceder. Os “gentios” são os vasos com atributos egoístas, que desejam somente receber. Após a correção de todos os atributos do homem, todos seus vasos, Israel e os gentios se unirão, e o homem sentirá o Criador com perfeição. Mas até atingir essa situação, a correção repousa sobre os ombros do povo de Israel, a representação de Israel neste mundo, que deve ser o primeiro a  se corrigir, antes de todos outros. Por isso, na medida em que corrigimos a nós mesmos, traremos as nações do mundo à sua correção.

O que é interno e o que é externo?

Isso depende do que a pessoa faz e o que ela estuda. Se estiver ocupada aperfeiçoando seus desejos para satisfaze-los com toda sorte de prazer, então é chamada de “gentio”. Se essa pessoa deseja aperfeiçoar seus atributos para se assemelhar ao Criador, então é chamada de “judeu” ou “Israel”, das palavras Yasher (direto, em linha reta) El (a Deus), ou seja, em linha reta até Deus.

A pessoa nasce com um desejo de deleitar a si mesma, mas deve chegar ao oposto, o desejo de ter os mesmos atributos que o Criador. Não construímos esse desejo, que é o oposto completo do desejo natural da pessoa, a partir do nada, mas de um desejo oposto. Ele se desenvolve em cima desse desejo egoísta com o qual nascemos.

Esse desejo natural no homem, o desejo de satisfazer a si mesmo, é um alicerce necessário, e provavelmente o mais benéfico para se atingir o objetivo, principalmente para atingi-lo por si mesmo, se tornando um participante ativo na sua obtenção. Você continua a receber, mas com um propósito diferente,  recebendo apenas na condição de que com isso você deleita o doador. No final do processo de equivalência, chamado de “fim da correção”, a alma-vaso, a Malchut da infinidade (Ein Sof) deseja apenas se unir com o Criador, e com isso ela se  iguala ao atributo de doação do Criador.

É por isso que devemos passar por todas essas situações que criam um desejo de doar, o vaso real para a luz superior, a necessidade de se parecer com o atributo do Criador. É uma lei coletiva que existe para trazer todas as criações ao estado corrigido de semelhança ao Criador. Essa lei governa a todos e em todos os níveis: inanimado, vegetativo, animal e falante (homem).

Quanto mais desenvolvida a criatura é, mais forte ela sente a força que a compele a se assemelhar ao Criador. É por isso que, de todas as criações, o homem é o que sofre mais. E, entre os diversos níveis de seres humanos, Israel sofre mais que todos os outros. E dentro de Israel, aqueles que estão no nível mais íntimo. É porque a luz, a força da vida, que nos atrai para ela, começa a se expandir do  ponto mais íntimo da criação, a partir daqueles desejos que são os mais próximos  à essência da lei, os atributos de doação, de outorga. Após isso, junto com o distanciamento da luz do centro, a luz diminui rumo às camadas exteriores.

A luz da correção brilha a partir do centro. A resposta do vaso a ela  depende da situação do vaso. Se as correções são realizadas voluntariamente, esse é um sinal de que a pessoa está tomando o “caminho da Torah”. Se as correções  são realizadas involuntariamente, não pelo desejo do Criador ou da criatura, os tormentos não diminuem mas aumentam e se acumulam para fazer o  homem odiar a origem do tormento, a má inclinação dentro dele.

Pelo fato do homem ser apenas um “desejo por prazer”, a única maneira de influencia-lo é fazer com que ele sinta um vazio, a sensação da ausência do “desejado” dentro do egoísmo, que chamamos de “sofrimento”.

Por que acontece isso do vaso interno, que é mais corrigido, sentir maior dor, afinal, ele é um vaso menos egoísta que o exterior?

O motivo é que o vaso interno está mais próximo da correção, e o vaso externo está mais distante da correção. Mas em todo caso, tanto o vaso interno como o externo, estão não corrigidos até agora. O vaso interno – “Israel” – possui um egoísmo menor, que é o porquê de Israel ser uma nação pequena.

Os vasos dos gentios são bem maiores do que aqueles de Israel, mas a despeito disso, os outros povos sentem menos desejo que Israel, porque seu vaso ainda não foi aberto completamente. O vaso surge apenas na medida em que pode ser corrigido. Mas, quando o desejo deles desperta, eles começam a odiar Israel imediatamente, até que mesmo povos que nunca estiveram em contato com Israel começam a odiar judeus, apesar deles nunca terem nada a ver com estes. Isso é porque os gentios são aqueles que têm de fazer Israel realizar correções. E, apenas depois da correção do nível de Israel no mundo é que as outras nações serão capazes também de lidar com a correção e desta maneira trazer a correção  coletiva.

Essa é natureza da singular conexão entre Israel e as nações do mundo. A nação israelita deve ser cuidadosa, pois quando eles não realizam as correções necessárias, as nações do mundo tornam-se ávidas para destruí-la, porque não há necessidade de vasos tais como Israel se não podem preencher os vasos das nações do mundo, o que é, de fato, o papel de Israel.

É por isso que o Rabino Yehuda Ashlag, o Baal HaSulam, avisa que o povo de Israel deve se apressar e começar a realizar a tarefa que foi dada a ele. E isso pode ser realizado apenas através da sabedoria da Cabalá, porque é o método para a correção coletiva e não existe outro método.

A correção começa a partir das almas mais puras, as menos egoístas, aquelas que podem ser corrigidas mais rápido, que são Israel. A correção é uma tarefa própria de uma pessoa só, de sua própria alma, e nenhuma outra pessoa é considerada aqui. A pessoa desce ao mundo com esta única finalidade e essa é a única coisa com a qual ela deve lidar. É por isso que ela nasceu, foi criada, e todas as outras coisas que ela faz são consideradas como nada.

Se o povo de Israel lidar com as correções, o ódio das nações contra ele irá crescer ou diminuir?

Se todos de Israel encararem seus inimigos internos, os inimigos externos desaparecerão, porque o que acontece dentro determina o que acontece fora.

A parte externa depende completamente da parte interna, assim como o (nível) inferior depende do superior, o nível inferior nasce e é sustentado pelo superior, assim o comportamento das nações do mundo depende do nosso comportamento.

Mude a intenção dentro de você e verá como a realidade começa a mudar. É assim que você pode determinar eventos futuros.

Que força de doação os Cabalistas deviam ativar para levarem o mundo à  melhor via de correção?

O nível inanimado segue o coletivo, ou seja, leva em consideração aquilo com o qual o público geral pode lidar – isso define o nível das exigências dele, e os limites de quanto pode ser influenciado. O público possui seus próprios limites naturais, porque observa os preceitos e costumes por si mesmo.

Mas na espiritualidade deve-se seguir o indivíduo. No desenvolvimento espiritual é o indivíduo quem decide, através de sua alma, o que fazer e como. Ele determina a conexão entre ele e o Criador, e como se relaciona com a vida. Temos de despertar a nós mesmos não só para mudar um pouquinho a situação do mundo, para termos mais chuva, mais paz, mais felicidade, mas devíamos agir na direção do objetivo espiritual, para levarmos tudo ao fim da correção.

Todos nós devemos chegar lá por nós mesmos, de acordo com a raiz de nossas almas, ou despertamos o interesse de todos por isso?

Como aprendemos dos escritos do Baal HaSulam, as massas devem ser cúmplices nisso. Ele trata sobre um processo de correção coletivo, sobre um grande número de almas que estão para ser parte desta correção. Não foi por  acaso que há dois mil anos atrás o Criador dividiu o povo der Israel em seculares e religiosos, em uma parte que continua a observar Torah e mitzvot por educação, e uma parte que se tornou livre disso. Cada uma delas possui sua própria missão, porque tudo nos é enviado de cima, da providência. Essas duas partes devem trabalhar juntas. Não teria sobrado nada da parte secular se não fosse a parte ortodoxa próxima a ela. Contudo, se continuássemos a trabalhar apenas pela linha de pensamento ortodoxa, provavelmente não seríamos capazes de atingir o propósito da criação.

De fato, vemos que são aqueles que não receberam nenhuma criação ortodoxa que são adequados para a correção através da Cabalá, porque apenas eles sentem imperfeição e são portanto dignos de “receber a Torah”. É por isso que eles conduzirão todos adiante, para a correção, enquanto que a parte ortodoxa provavelmente permanecerá no nível chamado de “inanimado sagrado”, imóvel.

Quanto mais Israel progredir na correção, mais as perturbações  aumentarão, porque estas não são perturbações, mas na verdade  ajuda que  vem de cima em forma de obstáculos?

As ascensões e descidas ocorrem apenas em indivíduos, apenas naquelas almas que passam pelo seu próprio processo de correção. A conexão com o Criador é particular, apesar da liberdade de escolha do homem estar apenas na escolha do grupo do qual ele toma seu caminho na vida, cada pessoa tem sua escolha.

Almas corrigidas normalmente levam outras almas com elas – outros desejos que não foram corrigidos, mas apenas na medida em que podem trazer uma correção coletiva. Isso é chamado de “uma luz para as nações”. Israel leva os gentios junto com ele e ascende com eles através de uma ligação chamada de “inclusão” (hitkalelutI).

Em todo caso, o progresso espiritual de um indivíduo é diferente daquele do todo. A correção é realizada no indivíduo por subidas e descidas pessoais, enquanto que para o todo a correção é realizada ao ligar-se com o indivíduo. As nações do mundo sentem o déficit em seu progresso, sentem-se dependentes de Israel, mas apenas as primeiras correções dependem de Israel, porque as correções que virão depois disso dependerão apenas delas.

Da Introdução ao Zohar:

70) As correções do Zohar dizem (correção 40): “Desperta e levanta a Divina Presença, pois o seu coração está vazio, sem a sabedoria para a conhecer e atingir, apesar dela estar em você.” E o segredo disso é, como é dito: que uma voz ressoa dentro do coração de cada um de Israel, para orar pela elevação da Divina Presença, que é a assembléia das almas de Israel. Mas a Divina Presença diz: “Não tenho força para levantar-me do pó, pois toda a carne é apenas pasto. Eles são todos como animais que se alimentam do pasto. O que significa que eles cumprem os preceitos de maneira irracional, assim como animais, e toda a sua graça é como a flor do campo, todos os bons atos que realizam são apenas para eles que os realizam.
Isso significa que, com as boas ações que realizam, eles não pretendem agradar seu criador, mas apenas agradar a si mesmos. E mesmo os melhores deles, que dedicaram o tempo todo deles à Torah, fizeram isso apenas para o benefício de seus próprios corpos, ausentes da intenção desejada, de agradar seu criador.
É dito sobre a geração daquela época: “um espírito se vai para nunca mais voltar, esse é o espírito do Messias, aquele que deveria livrar Israel do exílio e da tribulação para a completa redenção, para cumprir as palavras: pois a terra se encherá do conhecimento do Senhor. Esse espírito se foi e não paira sobre o mundo.”
Que pesar! Estas pessoas, que fazem com que o espírito do Messias desapareça do mundo para nunca mais voltar, fazem que a Torah seque, sem o mosto da mente e do conhecimento, pois confinam a si mesmos à parte prática da Torah e não desejam experimentar e compreender a sabedoria da Cabalá, saber e educar a si mesmos nos segredos e na razão por detrás da Torah e dos preceitos. Ai! Por seus feitos, eles causam a pobreza, a ruína e o roubo, a pilhagem, os assassinatos e a destruição no mundo.
71) E o motivo para isso é, como dissemos, que pelo fato de todos que se envolvem na Torah depreciarem sua própria parte interna, e a parte interna da Torah, deixando-a como se fosse desnecessária no mundo, e estudando apenas numa hora que não é dia nem noite. E são como cegos procurando um muro, causando com isso a proliferação de sua própria parte externa, ou seja, o benefício de seu próprio corpo, e consideram a parte externa da Torah superior à parte interna dela – assim causando a expansão de cada aspecto externo do mundo sobre suas partes internas, cada um de acordo com sua própria essência.

Por causa disso, a parte externa de todo Israel, isto é, as Nações do Mundo entre eles, se intensifica e anula a parte interna de todo Israel, que são os Grandes da Torah. E a parte externa dentro das Nações do Mundo também, que são os destruidores entre eles, se intensificam e anulam a parte interna entre eles, que são os Justos do Mundo. E a parte externa do mundo todo, sendo as Nações do Mundo, se intensificam e anulam os Filhos de Israel, que são a parte interna dele.

Numa geração assim, todos os destruidores pertencentes às Nações do Mundo levantam suas cabeças e desejam principalmente destruir e matar os Filhos de Israel, como é dito: (Yebamot 63) “Nenhuma calamidade vem ao mundo senão por Israel”, assim como é dito nas correções acima, que eles causam pobreza, ruína, roubos e assassinatos no mundo todo.
E uma vez que, através de nossas muitas falhas, testemunhamos o supracitado nas correções, e não apenas isso, mas a calamidade atingiu o melhor de nós, como é dito: (Baba Cama 60) “E não começa, a não ser pelos justos”. E de toda a glória que Israel teve nas regiões da Polônia, Lituânia, etc. permaneceu apenas alguns remanescentes em nossa sagrada terra. Agora, “relíquias” estão conosco para corrigir aquele erro terrível. E cada um de nós que restamos se responsabilizará, com o coração e a alma, por intensificar deste dia em diante a parte interna da Torah, e dar a ela seu devido lugar, acima da parte externa da Torah.
Então, cada um será recompensado com a intensificação de sua própria parte interna, ou seja, o Israel nele, que são as necessidades da alma acima do aspecto da própria parte externa daquele, sendo as Nações do Mundo nele, que são as necessidades do corpo. E essa força virá a todo povo de Israel, até que os povos do mundo reconheçam o valor dos Grandes de Israel sobre eles, e os ouçam e obedeçam. E a parte interna das Nações do Mundo também, que são os Justos do Mundo, dominará sua parte externa e reduzirá estes que são os destruidores. E a parte interna do mundo também, que é Israel, se elevará com toda exaltação e virtude sobre a parte externa do mundo, que são as nações. Então, todas as Nações do Mundo irão reconhecer e admitir a supremacia de Israel sobre elas.
E elas cumprirão as palavras: “Os povos os tomarão e os levarão aos lugares deles, e a casa de Israel os possuirá na terra do Senhor (Isaías 14:2)”. E também: “e eles trarão os teus filhos nos braços, e as tuas filhas serão levadas sobre os ombros (Isaías 49:22)”. E é isso que o Zohar diz: “Que através desta obra, que é o livro do Zohar, eles serão libertos do exílio com clemência (Nasah 124)”. Amém, que assim seja.

A pergunta mais importante é: Por que estudamos? Você pode estudar Cabalá para obter sucesso, relaxamento, para adquirir paz e confiança, e você  pode estudar porque você sente que você deve corrigir seus “vasos”, corrigir a situação. É uma diferença enorme na abordagem. E aqui não podemos andar sozinhos, mas, antes, necessitamos de orientação espiritual.

O Baal HaSulam descreve que todos devem atingir o nível de  Moisés. Todos devem retornar à raiz de sua alma. Isto é exigido de todos. Hoje,  alcançamos uma posição onde devemos corrigir nossa sociedade ativamente.  Antes de nossa geração, apenas umas poucas almas escolhidas obtinham correção. Eram Cabalistas ocultos, e a correção não era uma necessidade para todas as pessoas e todas as nações do mundo.

O Baal HaSulam descreve que antes do povo do Israel retornar para a terra de Israel, a nação israelita não era obrigada a se igualar com a terra, para que toda a nação corrigisse a si mesma, até a obtenção do nível espiritual chamado de “a Terra de Israel”. A palavra “terra” (Heb. Eretz) vem da palavra “desejo” (Heb. Ratzon), um desejo dirigido ao Senhor.

Mas, uma vez que o Criador nos trouxe de volta a esta terra, querendo ou não, nós, a nação toda, devemos nos igualar aos atributos espirituais desta terra. Enquanto estamos fisicamente na terra de Israel, devemos também atingir o nível interno, a Terra de Israel espiritual. De outra maneira, não temos o direito de estarmos aqui, porque os níveis interno e externo estão desequilibrados.

Estivemos nesta situação mais de uma vez. Toda vez que o povo de Israel parava de se igualar com a nação de Israel espiritual, que significa o povo que vive diretamente a partir da Terra de Israel, ou seja, o desejo dirigido ao  Senhor, éramos expulsos de nossa terra. Agora estamos de volta novamente, a terra de Israel nos foi dada novamente, mas nós ainda não a recebemos, nós ainda não a merecemos.

Se não aceitarmos isso espontaneamente, como o Baal HaSulam descreve, isto é, se não nos assemelharmos a ela em nosso nível interno-espiriual, por mais que esta terra não nos expulse como antes, ela vai, contudo, nos forçar a nos corrigir e a nos tornamos dignos dela por meio de tormentos horrendos.

Hoje, a missão dos Cabalistas é tentar disseminar a necessidade de correção entre a nação de toda maneira possível, criar um método apropriado a todos, publicar livros e preparar professores. Há muito a ser feito, mas, mesmo um só pensamento sobre correção, mesmo o princípio daquele pensamento, cria mudanças grandes e positivas na terra, e evita sofrimentos terríveis.

A ATUAL GERAÇÃO DA CABALÁ

Do livro “O Livro Aberto”

Muitos Cabalistas escreveram através dos tempos sobre a importância da circulação da Cabalá, começando com os livros de Cabalá mais antigos: “O Anjo Raziel”, escrito pelo primeiro homem, o “Sefer haYetzira”, escrito pelo patriarca Abraão, e o livro do Zohar, escrito pelo Rabino Shimon Bar-Yochay no terceiro século DC. Entre “O Anjo Raziel” e o Zohar, e após o Zohar, muitos livros de Cabalá foram escritos, mas foram publicados apenas entre Cabalistas e nunca foram abertos ao público geral. A Cabalá é a ciência mais importante para o homem. Mas, os Cabalistas são os que a esconderam no passado, e são os Cabalistas que a permitem hoje.

Está escrito no Zohar que quando retornarmos do último exílio – ou seja, em nossa geração – chegaremos a um estado chamado de “os dias do Messias”, e apenas então realmente começaremos a precisar da Cabalá e a usa-la.

O Motivo do Exílio

O motivo de nosso exílio entre as nações e o estabelecimento de outras nações aqui em nosso lugar foi que nosso nível espiritual não combinou com o nível espiritual chamado de Terra de Israel. É impossível viver na terra de Israel enquanto se tem ambições que pertencem a um outro lugar, em outras palavras, desejos materiais ao invés de espirituais.

Cada parte do planeta possui uma força espiritual singular agindo sobre  ela. A força espiritual que age sobre a terra de Israel necessita que os judeus, através de sua influência, adaptem seu nível espiritual e moral a ela. De outra maneira, há uma discrepância entre Israel e a força, resultando em tormentos, guerras, doenças e preocupações. Se a discrepância aumenta além de um determinado ponto, ela nos fará abandonar o lugar no qual age, ou seja, ela nos expulsará da terra de Israel.

É por isso que toda vez que há um declínio no nível espiritual de Israel o templo é arruinado, isto é, um declínio espiritual traz com ele um declínio moral e social na realidade material também.

Hoje, estamos no final do quarto exílio, o último exílio. E, assim como em todos os exílios e retornos anteriores, devemos também retornar dele agora e atingir o retorno espiritual. Temos de sair do exílio espiritual e chegarmos à redenção espiritual, retornarmos ao mundo espiritual, e ascendermos ao nível espiritual no qual somos iguais ao nível espiritual da terra de Israel, para que nossos atributos espirituais, nosso vaso espiritual, combinem com aqueles da terra espiritual de Israel. Todos os tormentos e nossos problemas ocorrem com o propósito único de obrigar-nos a corrigirmos a nós mesmos e trazer-nos à igualdade com a força espiritual que age na terra de Israel.

Assim o Zohar explica, assim os Cabalistas dizem, e eles apontam para  nossa geração como a geração na qual a Cabalá deve ser aberta a todos. Porque é apenas através do estudo da Cabalá e da autocorreção que podemos viver em paz e felicidade. É por isso que a Cabalá está se tornando cada vez mais popular e moderna.

Crescentes Ambições

Em gerações anteriores as pessoas tinham desejos mais simples que ainda não tinham se desenvolvido. Os desejos do homem eram principalmente desejos corpóreos-animais. Em gerações mais recentes, desejos por riqueza, glória, poder e conhecimento começaram a surgir.

Essas fases de desenvolvimento ocorrem por toda parte. Elas ocorrem em todas as nações e em cada indivíduo. A realização destes desejos traz com ela o progresso tecnológico. Mas a humanidade entenderá gradualmente que todos os seus esforços para realizar seus desejos não trarão satisfação, felicidade, ou uma resposta à pergunta: “Qual é o sentido de nossas vidas?” Mas esse entendimento virá apenas depois…

Quando a humanidade começar a perguntar sobre o sentido da vida, ela começará a buscar, e então chegará a vez da sabedoria da Cabalá –  a sabedoria  que foi mantida secreta por milhares de anos. Hoje, assim como escrito no Zohar, a sabedoria da Cabalá está sendo revelada, e é precisamente através da Cabalá, através das forças espirituais escondidas no Zohar, que o retorno do exílio espiritual será feito possível.

De acordo com o Zohar, a humanidade passa por quatro fases de desenvolvimento, que correspondem aos quatro exílios pelos quais o povo de Israel teve de passar. A descoberta da Cabalá ocorrerá no fim do quarto exílio, que começou no início do século XX, quando os primeiros colonos chegaram à terra de Israel.  Em  nossa  época,  no  fim  do  século  XX  e  no  começo  do  século  XXI,  a colonização será concluída, e este será o fim de nosso retorno físico do exílio. Acontecerá então que o estudo da Cabalá se tornará uma necessidade para retornarmos do exílio espiritual também.

Temos de culpar apenas a nós mesmos! Não faz sentido culpar os outros, apenas nós mesmos. A maneira que o mundo nos trata depende apenas de nós, e isso não tem nada a ver com o jeito que nos relacionamos com outros povos, mas com como nos posicionamos em relação às forças espirituais.

Vemos claramente que todos nossos esforços de se amigar com outras nações, apenas trazem desrespeito em relação à nós, porque elas inconscientemente esperam algo diferente de nós, e elas nos desprezam devido  aos nossos esforços para nos tornarmos amigos delas de outras maneiras.

Todos os povos, até o maior deles, são como marionetes. Eles são ativados de cima. O Criador é o único que desperta as nações do mundo para nos tratarem desse jeito. É dito na Torah que “Os corações dos ministros e reis estão na mão de Deus”. Isso significa que não existe outra força que controla todos, e não temos nenhum motivo para culpar nossos inimigos por nos odiarem (isso não significa que temos de ama-los). Devemos entender que a causa do comportamento deles é o próprio destino deles e que o motivo deles nos tratarem do jeito que tratam está dentro de nós.

Não existem milagres, e ninguém pode ajudar uma pessoa a não ser ela mesma. Nos milhares de anos que a humanidade existiu, não foi encontrado nenhum remédio milagroso que pudesse mudar nossa situação. O motivo da dor é que vivemos no mundo como cegos num tiroteio. Não entendemos o que devemos fazer, o que será de nós amanhã, que impacto têm nossas ações e o que o mundo à nossa volta realmente quer de nós quando nos pressiona desse jeito.

Apenas ao intensificarmos nosso envolvimento com tudo que acontece no universo, ou seja, no mundo superior, aprenderemos como controlar  nosso destino. Devemos aprender a ver o mundo superior por trás de nosso mundo físico. As causas para o futuro de nossa existência são encontradas no mundo superior.

As mesmas almas se repetem e vestem os corpos deste mundo de geração a geração. Gradualmente, por milhares de anos, essas almas chegaram à situação em que descobrir o mundo superior é necessário para a existência delas. A Cabalá é a “patente” à nossa disposição para atingirmos esse objetivo.

O que é a “patente” Cabalística?

Enquanto os Cabalistas escrevem seus livros de Cabalá em nosso mundo físico, eles também sentem os mundos espirituais. Quando lemos seus escritos, apesar de não sentirmos o que eles sentiram quando escreveram, despertamos sobre nós uma iluminação do nível espiritual em que o Cabalista estava quando escreveu o livro. Essa luz superior nos purifica e nos ajuda a sentir o mundo superior como o Cabalista sentiu.

Esse atributo especial é chamado de “remédio”, ou “virtude”, e se refere ao estudo do Zohar em particular, e aos livros de Cabalá em geral. Não há nada escondido nesses livros, mas a leitura dos escritos dos Cabalistas conecta a pessoa com o que está acima e a puxa para cima. É por essa razão que estudamos os livros que são feitos para pessoas como nós, que ainda não sentem nada além de nosso mundo, mas querem vir a sentir toda a realidade, toda a criação.

Mas nem todos livros de Cabalá trazem a mesma iluminação. Os principais livros que trazem a luz são o Zohar, os escritos do ARI, e os escritos do Baal HaSulam.

A parte revelada da Cabalá, da qual depende o futuro do mundo, pode ser estudada por qualquer um, incluindo pessoas inexperientes, sem qualquer medo.

Preconceito

Mesmo hoje, muitas pessoas pensam que a Cabalá é alguma sabedoria secreta que não deveríamos ensinar nem tratar sobre ela. O Rabino Yehuda Ashlag escreve na Introdução ao Talmud Esser Sefirot que a Cabalá é composta de duas partes: a primeira é chamada de “os sabores da Torah”, que é o significado da Torah, da vida e da criação, e a segunda é chamada de “os segredos da Torah”.

A parte dos “sabores da Torah” lida com a estrutura dos mundos, a  estrutura da alma, a ascensão do homem aos mundos espirituais, a descoberta do sentido da vida pelo homem, em seus ciclos passados e futuros, o motivo da vida dele e o porquê dele nascer especificamente em sua família, especificamente com esse caráter, o que ele deve fazer nesta vida e o que deve fazer para que não tenha de voltar a este mundo. Tudo isso pertence aos sabores da Torah.

A parte dos segredos da Torah lida com o que os Cabalistas obtém dos mundos superiores. Não existe nenhum livro que fala disso, mas apenas insinuações e alusões em alguns escritos.

Todos os livros de Cabalá lidam com os sabores da Torah. Portanto, o livro do Zohar pode ser revelado, como também o “Árvore da Vida”, e todos os outros livros escritos por Cabalistas, em qualquer lugar e em qualquer livraria. Tudo que está escrito nos livros de Cabalá não tem nada a ver com a parte oculta da Cabalá, mas apenas com a parte revelada que devemos todos estudar, porque é esta parte que permite que a pessoa atinja a correção e atinja o mundo fora de si mesma, o mundo superior, porque lá encontramos as causas para tudo que acontece aqui, agora e no futuro. A Cabalá ensina ao homem como determinar seu próprio futuro por si mesmo para o seu próprio bem e para o de todos.

As conseqüências de nossas ações sobem ao mundo superior. Não posso  ver e sentir o que minhas ações fazem no mundo superior, no meu estado atual: como exatamente ele reage ao que faço, o que desce a mim e ao mundo todo como resultado delas. Eu de alguma maneira afeto a mim mesmo e ao mundo todo, mas não entendo esse circuito fechado de informação. Precisamos da Cabalá para um estado de autopercepção como esse.

É por isso que a Cabalá é chamada de “a sabedoria da Cabalá”, uma ciência, não uma religião. Ela permite ao homem ver o verdadeiro aspecto do mundo no qual ele vive, incluindo toda a criação, ou seja, todos os mundos. Apenas então, ele começa a entender o que age sobre ele e como ele deve agir.

É por isso que é um dever para todos saber sobre tudo que tenha a ver com a parte revelada da Cabalá. Estamos vivendo numa época muito especial; ainda não retornamos do exílio para a terra de Israel por nossa própria força, ou seja, nosso retorno para Israel não foi por nossa escolha, mas pela pressão da força superior – o Criador nos livrou e nos trouxe do exílio para cá.

Mas se não ascendermos ao nível espiritual da terra de Israel, sofreremos cada vez mais através de nossos inimigos, tanto externos como internos, que são  as forças pelas quais o Criador nos fará ascender ao nível espiritual chamado de “Terra de Israel”.

A propagação da Cabalá

Tenho lidado com a Cabalá por vinte e sete anos até agora, e há uma verdadeira revolução acontecendo diante de meus próprios olhos; uma revolução na maneira da humanidade ver a vida. As pessoas percebem qual é a coisa mais importante na vida, elas sentem que existem forças espirituais que agem sobre elas e que apenas se estabelecermos contato com essas forças seremos capazes de nos salvar.

Está se tornando mais claro a cada dia, mais próximo de todos nós. É por isso que estamos começando a ensinar Cabalá em tantos lugares, e estamos felizes com cada um que vem estudar. Afinal de contas, o sagrado ARI, o maior Cabalista do século XVI, e fundador da Cabalá Luriânica, escreveu em sua introdução ao  seu livro “A Árvore da Vida” que, conforme todos estudarem Cabalá, a humanidade se libertará do mal nela e atingirá a revelação do doador benevolente.

A INTENÇÃO DURANTE O ESTUDO REDUZ O PERÍODO DE CORREÇÃO

Do livro “O Livro Aberto”

Se uma pessoa reconhece um defeito em si mesma, mas ainda não consegue começar a odiar esse atributo, isso significa que ela não está completamente cônscia do mal nela, e portanto essa sensação não é chamada ainda de reconhecimento do mal. Mas isto já é um começo: ela se concentra em sobrepujar aquele defeito e vê que uma força superior a ajuda com isso.

Por exemplo: uma pessoa recebe um sinal de cima de que uma pessoa está menosprezando outra. Com isso, a força superior está tentando mostrar o atributo mau que está nela. Na mesma medida que a pessoa sente o mal, ela pode ficar longe dele. Se uma pessoa faz esforços espirituais, identifica os atributos negativos nela mesma, ela reduz o período de correção e diminui a dor. Se, no entanto, insiste, ela recebe mais pancadas, até que sucumbe e exclama: “Chega!”

Se o ladrão é pego durante o roubo começa a amaldiçoar sua vida. Mas no próximo instante se acalma, quando vê que era um falso alarme. No instante em que o medo vai embora, ele está pronto e disposto a roubar novamente.

Como é possível ser liberto desse atributo? Se o prazer é maior que a dor, estou disposto a aceitar o fato que o prazer é incompleto, impróprio? O que deve ser feito se uma pessoa quer corrigir suas características más, mas não encontra força suficiente em si para encarar isto sozinha?

Uma oração – uma súplica por correção – é respondida pelo Criador apenas se vem do fundo do coração, porque Ele responde apenas a orações sinceras, completas e eternas. Uma súplica pela correção dos atributos maus é quando o homem finalmente  admite que não pode fazer isso por sua própria conta.

Nossos mestres contam-nos que existe apenas um meio para a correção – a intenção  de  ser  corrigido  (expressada  na  oração)  durante  o  estudo  de  textos genuínos de Cabalá. Durante o estudo, a pessoa não deve esquecer o propósito de seu estudo e pedir forças espirituais continuamente para controla-lo, para pensar sobre ele. Isso irá funcionar.

Pelo fato de grandes Cabalistas terem nos dado os livros que escreveram quando estavam em um alto nível espiritual e eram capazes de ver a luz superior, quando estudamos a sabedoria da Cabalá com esses livros, expandimos essa luz sobre nós, desde que queiramos correção.

Em outras palavras, se penso sobre o problema do qual estou tentando me livrar durante o estudo, é como se eu expandisse a luz superior sobre mim mesmo, uma que cura e corrige, que me traz de volta ao Criador.

Você deve constantemente pensar sobre o que você precisa corrigir em si mesmo, durante a aula, ou quando você estuda por sua conta, ou ouve fitas. Você também pode pensar sobre saúde e outros problemas como esse, mas você deve antes de tudo se concentrar em suplicar por correção espiritual, porque ela dá ao homem muito mais do que qualquer outra súplica ou pedido.

Você não pode pedir: “corrija este ou aquele atributo”, mas você pode pensar sobre ele, enquanto estuda ou ouve uma fita. Não é necessário sentir. Se você estuda a Torah, você já se sente bem. É suficiente apenas lembrar e pensar sobre aquele problema enquanto estuda.

Se, por exemplo, eu ouço uma fita, não importa o quanto eu entendo do conteúdo sendo discutido. É suficiente que pense sobre como corrigir meus atributos. Se ouço uma fita e perco a concentração, mas o tempo todo penso na luz do Criador, sobre meu desejo de ser corrigido, de se aproximar do Criador, esse é

o uso mais eficiente das fontes de Cabalá. É, de fato, a única força que pode ajudar uma pessoa a mudar.

Eu sugiro que faça tudo simultaneamente: ouvir a fita, sentir a sabedoria, a sensação do Criador, como Ele se relaciona com você (por um lado), enquanto que por outro lado você continua a pensar sobre desejar ser corrigido. Neste caso a luz que desce sobre você durante o estudo chega no problema que você quer  consertar. É exatamente durante o estudo e durante o trabalho na disseminação da sabedoria da Cabalá que você deve orar e pedir por correção. Isso também se aplica a orações por outras pessoas.

Uma pessoa que apenas ouve a fita e tenta processar o material, expande a luz, mas não faz nada com ela. A luz vem de cima para baixo, mas não estabelece contato com o egoísmo. Ao invés disso, passa por nós e vai embora. A luz precisa adentrar o egoísmo que você põe no caminho dela, de outra maneira você não corrige seus atributos, mas apenas recebe conhecimento. Mesmo se minha oração é artificial, eu ainda sou corrigido. Com isso eu apresso o processo do reconhecimento do mal, e em seguida vem a correção.