Um Entre Dois Caminhos
Do livro “Interesse Próprio vs. Altruísmo na Era Global”
A seção acima descreveu os benefícios pessoais da colaboração. Johnson e Johnson provaram que é mais gratificante trabalhar em grupo do que sozinho. Então, por que nós não agimos cooperativamente todo o tempo? Se nós somos feitos de desejo de receber e podemos receber mais a partir da colaboração, por que, então, não estamos agindo de maneira colaborativa? O que há em nossa natureza que, a despeito dos 1200 estudos que provam ser melhor trabalhar em conjunto do que sozinho, nós ainda não implantamos esse método em nosso sistema educacional? E por que as escolas (e todo o sistema educativo), a mídia, os esportes, a política ainda promovem um comportamento competitivo e individualista, exaltando os indivíduos bem sucedidos? Por que não exaltar as pessoas que promovem união e reciprocidade, se a evidência prova que isso iria beneficiar a todos?
A razão pela qual isso acontece é porque no Estágio Quatro já não ficamos tão satisfeitos apenas em acumular muito. Acumular muito era o que queríamos no Estágio Três. No Estágio Quatro, nosso desejo primário é conseguir mais do que os outros. Queremos ser únicos e superiores, como o Criador. Assim, poderemos fornecer provas incontestáveis de que é melhor trabalhar juntos que sozinho, mas sem a sensação de que isso é dessa forma, nossos egos não vão sucumbir à ideia. No Estágio Quatro, as soluções devem, em primeiro lugar, saciar o ego antes de implantarmos táticas de vida diária para melhorar nossas conquistas.
Em relação ao parágrafo acima, em “Paz no Mundo”, Baal HaSulam desenvolve uma ideia sobre o nosso sentido de unicidade: “A natureza de cada pessoa deve explorar as vidas de todas as outras pessoas do mundo em benefício próprio. E tudo o que ela dá ao outro é apenas em caso de necessidade; e mesmo assim há exploração dos outros nessa ação, mas isso acontece de maneira ardilosa, para que seu vizinho não perceba e ceda voluntariamente.” A razão para isso ele explica: como “a alma do homem descende do Criador, que é Uno e Único [referindo-se à lei única de doação que cria e sustenta o mundo], (…) o homem (…) sente que todas as pessoas do mundo devem estar sob seu domínio e para seu uso privado. E essa é uma lei inquebrável. A única diferença está nas escolhas das pessoas: uma pessoa escolhe explorar as outras para satisfazer desejos inferior e outra pessoa escolhe obter poder, enquanto uma terceira escolhe obter respeito. Além disso, se uma pessoa pudesse fazê-lo sem muito esforço, ela escolheria explorar o mundo com todos os três combinados — a riqueza, o poder e o respeito. Ela, no entanto, é forçada a escolher de acordo com suas possibilidades e capacidades. Esse direito pode ser chamado ‘a lei da singularidade no coração do homem’. Ninguém escapa dela, e cada um leva sua parte nessa lei.”173
Em 15 de Outubro de 2006, Sam Roberts, do The New York Times, publicou um artigo intitulado “Estar Casado Significa Estar em Desvantagem”,174 em que ele se refere ao censo que nós discutimos na Introdução. O texto revela que “pares casados, cujo número declinou por décadas em proporção às famílias americanas, caíram finalmente para a minoria. (…) O American Community Survey, divulgado (…) pela Agência do Censo, (…) revelou que 49,7% [das] famílias em 2005 eram formadas por pares casados (…) caindo em mais de 52% cinco anos antes.” Além disso, revela Roberts, “O número de pares não casados está crescendo. Desde 2000, o número daqueles que se declaram como casais de sexos opostos não casados subiu em torno de 14%; casais masculinos em torno de 24%; e casais femininos, 12%.”
Baal HaSulam escreveu extensivamente sobre o tipo de vida que ele vislumbrava para as pessoas durante o período de correção, a qual começou no final do século XX, como notamos no capítulo anterior. Em seu “Ensaios Sobre a Última Geração”, Baal HaSulam descreveu duas formas pelas quais a humanidade pode revelar a lei da doação (à qual ele se refere como “completude” neste texto) – o caminho da luz (doação) e o caminho do sofrimento. Em suas palavras, “Eu já disse que existem duas maneiras de descobrir a completude: o caminho da luz e o caminho do sofrimento. Então, o Criador (…) deu à humanidade a tecnologia [que ele não diz se é boa ou má em si mesma], até que inventaram as bombas atômica e de hidrogênio. Se a ruína total que elas estão destinadas a trazer ainda não for evidente ao mundo, elas [as pessoas] podem esperar pela terceira guerra mundial ou pela quarta e assim por diante. As bombas cumprirão seu papel e os sobreviventes, após a ruína, não terão outra escolha além de assumir esse trabalho, os indivíduos e as nações não trabalharão para si mesmos mais do que o necessário para seu sustento, mas farão, sim, de tudo para o benefício dos outros [de acordo com a lei de abdicar do interesse próprio em prol do interesse do sistema]. Se todas as nações do mundo concordarem com isso, não haverá mais guerras no mundo, ninguém vai mais se preocupar com seu próprio bem- estar, mas apenas com o bem-estar dos outros.”175
Ashlag conclui essa seção com as seguintes palavras: “Se você segue o caminho da luz, tudo estará bem e, se não, você trilhará o caminho do sofrimento. Em outras palavras, o mundo será arrasado pelas bombas, atômica e de hidrogênio, e procurará por um salvador para escapar da guerra. Então eles virão até o Messias [a força que os retira do egoísmo, como explicado no Capítulo 8] (…) e ele lhes ensinará sobre essa lei [da doação].176
Em resumo, nós temos de nos tornar semelhantes ao Criador! A única questão é “Como nós pretendemos alcançar isso?”
Tomando a Lei da Natureza como Guia
Supondo que uma guerra mundial, muito menos que uma guerra atômica, é quase uma opção desejável a ser considerada, é muito melhor explorar a outra possibilidade — o caminho da luz. No Capítulo 2, dissemos que o termo “luz” refere-se a uma ampla sensação de prazer que o desejo de receber (que é nossa essência) experimenta quando está repleto de prazer. Agora podemos acrescentar que o prazer é sentido quando nós atingimos a qualidade do Criador, porque isso é o que queremos na nossa atual fase do desejo.
Para obter a luz, nós não precisamos em absoluto estudar Cabalá. Nós precisamos imitar a lei de doação, sabendo o que é isso que estamos imitando e o que nós queremos alcançar quando assim agimos. Exatamente como as crianças aprendem ao imitar os adultos, para adquirir a qualidade de doação nós precisamos imitá-la em nossos relacionamentos.
O livro Shamati (Eu Escutei) contém palestras que Yehuda Ashlag realizou em várias ocasiões, que foram copiadas por seu filho e grande Cabalista, Rabash, em seu próprio estilo. No discurso nº 7, intitulado “O Hábito Torna-se uma Segunda Natureza,” Baal HaSulam declara: “Ao se acostumar a alguma coisa, essa coisa se torna uma segunda natureza para a pessoa. (…) Isso significa que, embora não se tenha nenhuma sensação do fenômeno [referindo-se à lei da doação], ao se acostumar a ele, pode-se ainda experimentá-lo.”177
Imitar a qualidade de doação com o objetivo de obtê-la pode parecer simplista ou ingênuo, mas, em nosso atual nível de egocentrismo, rapidamente está se tornando impossível relacionar-se positivamente com qualquer pessoa, exceto, como acima citamos Ashlag, “em caso de necessidade; e mesmo assim há exploração dos outros nessa ação, mas isso acontece de maneira ardilosa, para que seu vizinho não perceba e ceda voluntariamente.”178
A solução, de acordo com Baal HaSulam em A Nação, o livro que ele publicou em 1940 (ver Capítulo 2, “Estágios Zero e Um”), é “Frequentar a escola uma vez mais”.179 Em outras palavras, nós precisamos aprender sobre as leis básicas da Natureza e sobre o objetivo da vida:
- na base de toda a realidade encontra-se um desejo de doação, também conhecido como “o Criador”.
- No fundo do coração do homem encontra-se um desejo de receber aquilo que o desejo de doar deseja transmitir – total poder, total consciência e total controle.
- Para receber as dádivas descritas no item anterior, deve-se tornar-se semelhante ao desejo de doação – o Criador – e assim automaticamente ter o que o Criador tem. Esse é o objetivo da vida.
Ao tomarmos consciência de que a recompensa que advém da conduta cooperativa é maior do que a recompensa que advém da conduta individualista, será fácil colaborarmos e compartilharmos, como descrito no ensaio de Johnson e Johnson. Sem essa compreensão, nossos egos tornarão isso cada vez mais difícil e eventualmente impedirão qualquer possibilidade, a despeito de seus óbvios benefícios.
Em uma representação bastante pitoresca do controle do ego sobre nós, Baal HaSulam escreveu que o egoísmo é a inclinação do mal, e que ele se aproxima de nós empunhando uma espada com a ponta envenenada. Ele descreve como a pessoa fica encantada pela espada e se torna um escravo do seu próprio ego, embora sabendo que “(…) no final, a gota amarga da ponta da espada a fere e assim completa a separação [do Criador] em sua centelha de suspiro de vida.”180
O parágrafo anterior pode induzir à conclusão de que Baal HaSulam acredita que tudo está perdido e que estamos condenados a sofrer. Não é esse o caso, porém. Nós temos meios altamente eficazes que podemos usar em nosso favor: a sociedade. Nós já comentamos brevemente sobre a influência da sociedade, mas, na verdade, a sociedade tem tamanho poder sobre nós que pode moldar-nos em qualquer coisa que ela queira.
Em Os escritos de Baal HaSulam, Ashlag afirma: “O maior de todos os prazeres imagináveis é ser favorecido pelas pessoas. Vale a pena empregar toda nossa energia e nossos prazeres corpóreos para obter uma pequena quantidade dessa coisa maravilhosa. Esse é o ímã para o qual os maiores em todas as gerações têm sido atraídos e pelo qual eles banalizam a vida da carne.”181
Para modificar nosso comportamento, portanto, precisamos mudar de um ambiente social que promove a individualidade para um que promove a reciprocidade. Falando praticamente, podemos usar a mídia para mostrar como grupos de trabalho produzem resultados melhores do que o trabalho individual, como a concorrência é prejudicial para a carreira, para a saúde e até mesmo, em última análise, para riqueza pessoal. Se pensarmos que é impossível, é porque a mídia está regularmente nos dizendo que é impossível. E se ela nos dissesse o contrário? Precisamos agir de acordo com o estado corrigido e o estado corrigido irá se manifestar.
A natureza humana é egoísta, então naturalmente tendemos ao isolamento e à competição. A essência da Natureza, no entanto, é holística, naturalmente inclinada à cooperação. Agindo de acordo com o restante da Natureza, a despeito de nossa tendência inata para não agir assim, é nossa livre escolha e é isso que nos tornará similares à Natureza (ao Criador). Usar o ambiente social para nos encorajar a seguir essa direção é a chave que nós não podemos nos permitir perder.
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