Capítulo 8: O Renascimento e Mais Além
Do livro “Interesse Próprio vs. Altruísmo na Era Global”
Antecedendo cada nova etapa na evolução dos desejos, o precursor adequado aparece. Primeiro houve Abraão, ele foi a Raiz. Depois Moisés, representando o Estágio Um, seguido pelo Rabino Shimon Bar-Yochai (Rashbi), que corresponde ao Estágio Dois. E agora chegou a hora do Estágio Três.
O surgimento do Terceiro Estágio na evolução dos desejos corresponde aproximadamente ao advento do Renascimento na Europa. Seu precursor foi o maior dos Cabalistas desde Rashbi: Isaac Luria (o Ari) ─ fundador da Cabalá Luriânica, a escola mais sistemática e estruturada da Cabalá. Hoje, é o método de ensino predominante, graças aos comentários feitos no século XX por Baal HaSulam, que interpretou os escritos e adaptou-os à mentalidade científico-acadêmica dos séculos XX e XXI.
Apesar de sua curta vida, o Ari (1534-1572) produziu numerosos textos com a ajuda de seu principal discípulo, Rav Chaim Vital. O Ari não escreveu seus textos. Em vez disso, ele falava e Chaim Vital anotava suas palavras. Após a morte precoce do Ari, Vital e vários de seus parentes compilaram as palavras do Ari em textos coesos. Por essa razão, muitos estudiosos têm atribuído os escritos do Ari a Chaim Vital e não a seu professor. Mesmo que Vital seja o escrivão, o fornecedor da informação, no entanto, é indiscutivelmente o Ari.
No capítulo 2, descrevemos o Terceiro Estágio como sendo um modus operandi “invertido”, em que o ato é recepção, mas a intenção é doação. Isso foi verdade para os primeiros quatro estágios do desejo. Após a quebra da alma de Adão, no entanto, a intenção prevalecente na alma coletiva ─ da qual todos nós somos partes ─ inverteu e regrediu de doação para recepção. E por sermos todos partes da alma de Adão, a intenção escondida em todos os seres humanos é receber também. Claramente, o fato de que todos desejam receber e ninguém deseja doar leva a uma situação insustentável.
Todas as fases, porém, aparecem para que possamos corrigi-las. Em todos os níveis da Natureza, essa correção ocorre naturalmente, porque a única maneira de sustentar qualquer coisa ─ minerais, vegetais ou animais ─ é ter todos os elementos contribuindo para a sobrevivência do mineral, do vegetal ou do animal. Em humanos, como explicamos no capítulo 6, esse estado sustentável (Estágio Um), no entanto, deve ser alcançado a partir da consciência do homem. Sem consciência, vamos para onde nos levam os nossos desejos, e, na Terceira Fase, eles começam a tomar um rumo sinistro.
De fato, o período desde a Renascença até o começo do século XX presenciou dois processos que mudaram fundamentalmente a vida das pessoas. Um deles foi o desenvolvimento de armas, como fuzis e peças de artilharia, e o início das viagens de descobertas ultramarinas por intrépidos exploradores que conquistaram novas terras e, posteriormente, exploraram seus habitantes nativos e recursos naturais.
O outro foi o advento da ciência moderna, mas, mais do que isso, a “descoberta” e a exaltação do indivíduo. Essa última mudança manifestada na prosperidade da arte em todas as suas formas e, mais importante, na expansão dos movimentos humanos, como o Humanismo e o Iluminismo. O Bill of Rights, o Édito de Nantes e o Manifesto Comunista sinalizam apenas algumas das inúmeras mudanças que estabeleceram a base para o que hoje chamamos “mundo livre”.
Paralelamente a essas profundas transformações, a Cabalá necessitava de seu próprio “reformador”. No nível mais profundo da existência, as mudanças que acabamos de mencionar estavam acontecendo, porque um novo estágio de desejo havia surgido e isso exigia que alguém “desse sentido” a elas. Este foi o papel do Ari: introduzir o método de correção para a Terceira Fase. É por isso que o método do Ari é o mais sistemático e estruturado em comparação com todos os métodos de seus antecessores, combinando o pensamento racional e científico de seu tempo.
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