O Início do Ego
Do livro “Interesse Próprio vs. Altruísmo na Era Global”
As palavras acima citadas de Ashlag marcam um ponto decisivo não só na história da evolução humana, mas tambem na evolução do universo. A (exclusivamente humana)- evolução por inveja mudou a direção da evolução. Até o surgimento do ego humano, as criaturas evoluíram com sucesso se seus órgãos internos cooperavam, seguindo o princípio de renúncia pelo interesse próprio em favor do interesse do sistema, e deixando que o sistema cuidasse do bem estar deles.
No entanto, é importante notar que a regra de Renúncia de Interesse próprio em favor do interesse do sistema não se aplica apenas aos órgãos e tecidos dentro de uma criatura. Os organismos não existem no vácuo, eles são ramos, como dissemos no capítulo anterior, de raízes que apareceram no reino espiritual. Por esta razão, eles operam da mesma forma que os sistemas espirituais operam – rendendo o auto-interesse perante o interesse do sistema hospedeiro ou sucintamente: altruisticamente. O sistema hospedeiro deles – os ecosistemas em que organismos vivem, – observa a mesma regra, já que nenhuma outra regra permite a perpetuação da vida.
Por esta razão, a regra de auto-interesse que mencionamos ao longo do livro aplica-se tão rigorosamente à funcionalidade da criatura dentro de seu ambiente. Assim, se o físico de uma criatura funciona bem sob certas condições ambientais, mas as condições mudam, o físico desta criatura pode tornar-se inadequado e até mesmo inferior ao das criaturas com uma estrutura interna menos sustentável, porém com uma maior adaptabilidade aos seus ambientes.
Aparentemente, tal era o caso com a extinção dos dinossauros. Durante 165 milhões de anos, os dinossauros dominaram a Terra. Mas cerca de 65 milhões de anos atrás, eles desapareceram dentro de um prazo relativamente curto. Teorias sobre a razão para seu desaparecimento são muitas, mas nenhuma resposta conclusiva foi encontrada.
Uma possibilidade é a teoria do meteorito. De acordo com o Serviço Geológico dos EUA (USGS), “Há agora uma evidência comumente aceita de que o impacto de um meteorito foi, pelo menos, a causa parcial desta extinção.” Mas, enquanto não há consenso científico em torno da causa ser o impacto de meteorito, há de fato um consenso de que, conforme publicado pela University of California Museum of Paleontology, “Houve uma alteração climática global, o ambiente mudou de quente e suave na era Mesozóica [era dos dinossauros] para mais frio e mais variado na era Cenozóica [era dos mamíferos]”.
Assim, se foi um meteorito ou qualquer outra coisa que mudou o clima, houve uma mudança brusca de ambiente à qual os dinossauros (e cerca de cinquenta por cento das espécies vivas na Terra, na época) não poderiam se adaptar. E assim, elas se extinguiram.
Para sobreviver, os dinossauros e quase todos os outros animais devem cumprir a mesma lei em relação a seu meio ambiente como os seus órgãos internos o fazem: ceder o interesse próprio em favor de interesse do sistema, em troca do atendimento do sistema para eles. Quando a regra é violada em todo o ecosistema, mesmo que não intencional por parte dos animais, a extinção ocorre em uma escala colossal, simplesmente porque eles não se adaptaram rápido o suficiente.
Um exemplo mais recente, e muito mais bem-sucedido de adaptação do animal à mudança das circunstâncias foi relatado por Swanne Gordon, da Universidade da Califórnia, em um ensaio intitulado “A evolução pode ocorrer em menos de dez anos”, publicado na Science Daily. “Gordon e seus colegas estudaram guppies – pequenos peixes de água doce (Imagem número 4) que biólogos têm estudado por muito tempo. Eles introduziram os guppies no rio mais proximo, o Damier , em uma seção acima de uma barreira de cachoeira que excluía todos os predadores. Os guppies e seus descendentes também colonizaram a porção inferior do rio, abaixo da barreira da cachoeira, que continha predadores naturais. Oito anos mais tarde …, os pesquisadores descobriram que os guppies que se encontravam no ambiente de baixa predação tinham se adaptado ao seu novo ambiente produzindo descendentes maiores e em menor quantidade, a cada ciclo reprodutivo. Tal adaptação não foi vista nos guppies que colonizaram o ambiente de alta predação … “As fêmeas do ambiente de alta predação investem mais recursos na reprodução atual, porque a alta taxa de mortalidade, causada pelos predadores, significa que essas fêmeas podem não ter outra oportunidade de se reproduzir,” explicou Gordon. “As fêmeas do ambiente de baixa predação, por outro lado, produzem embriões maiores porque os filhotes maiores são mais competitivos em ambientes de recursos limitados, típicos de lugares de predação baixa. Além disso, as fêmeas de predação baixa reproduzem menos embriões não só porque elas têm embriões maiores, mas também porque elas investem menos recursos na reprodução atual. ”
Imagem No.4: O Guppy Trinidad, o tipo usado para a experiencia do Rio Damier (Imagem: Photobank Lori)
Em alguns casos, quando necessário, a fim de aumentar suas chances de sobrevivência, os organismos (embora apenas um vírus, neste caso) podem até “devolver” a si mesmos. Tal foi o caso com o vírus Mixoma e os coelhos europeus na Austrália (Imagem No.5) Cerca de 150 anos atrás, duas dúzia de coelhos foram liberadas na selva na Austrália, na esperança de que eles iriam se reproduzir o suficiente para ser caçados por esporte. Mas os coelhos se reproduziram com tanto sucesso que dentro de algumas décadas, eles ameaçaram romper o equilíbrio da vida selvagem em todo o continente australiano. Wendy Zukerman, uma repórter da New Scientist Magazine, publicou uma descrição detalhada do episódio na ABC Science. Em seu relatório, ela escreve: “Por volta de 1920, a população de coelhos da Austrália havia aumentado para 10 bilhões.”
Imagem no.5: coelho europeu na Austrália (Imagem: Photobank Lori)
As autoridades da Austrália fizeram grandes tentativas para conter a população de coelhos, mas só foram bem sucedidas em 1950. Naquele ano, continua Zukerman, “o agente de controle biológico, o vírus Myxoma foi introduzido no continente da Austrália.” Como resultado, “Mixomatose [a doença causada pelo vírus] causou enormes reduções no número de coelhos. Em algumas áreas 99 por cento dos coelhos foram mortos.”
Mas, em vez de extinguir os coelhos europeus na Austrália, a sua população se estabilizou gradualmente e até cresceu em algumas áreas. Claramente, o vírus tornou-se menos eficaz. Quando os investigadores procuraram a razão de menor impacto do vírus, eles descobriram que havia sofrido mutação para uma forma mais branda, que matou apenas 40 por cento dos coelhos infectados. Assim, os pesquisadores concluíram que, porque os coelhos foram os unicos hospedeiros do virus, ele se transformou em um tipo menos agressivo, o que garantiu a sobrevivência dos coelhos, e como resultado, a persistência do vírus, também.
Ao enfraquecer-se, o vírus aparentemente agia contra seu próprio interesse, dando ao sistema imunológico dos coelhos uma melhor chance de combatê-lo. Mas o resultado real de seu enfraquecimento auto-induzido foi a garantia de que ele teria um hospedeiro para as gerações vindouras. Na verdade, até hoje, mixomatose é responsável por muitas mortes entre os coelhos, mas não o suficiente para extingui-los por completo. Parece que os coelhos e o vírus alcançaram um equilíbrio e, portanto, uma co-existência.
O homem- a única exceção
Na seção anterior, vimos como o estado de ceder o auto-interesse em prol do interesse do sistema, em troca de atendimento do sistema, aplica-se não só a todos os organismos, mas também à funcionalidade do organismo no seu habitat (ecosistema). No entanto, há uma exceção à regra: o homem. Para entender por que o homem é diferente de todos os outros animais, precisamos refletir sobre as quatro fases. Os Estágios Um a Três refletem desejos de receber prazer de um doador, seja por receber prazer diretamente ou por retornar o seu prazer. Mas Estágio Quatro é essencialmente diferente: ele reflete um desejo de ser o doador.
Em outras palavras, o Estágio Quatro deseja alcançar um objetivo que é, por definição, inatingível. Assim como um filho não pode ser seu pai, o Estágio Quatro não pode ser o Estágio Zero. Mas, assim como um filho pode ser parecido com seu pai, o Estágio Quatro pode ser parecido com Estágio Zero.
Sendo um desejo de receber, e sabendo que ser como o Estágio Zero, a Raiz, é a recompensa mais alta possível, isto é o que o Estágio Quatro deseja alcançar. Como resultado, nós – a sua personificação corpórea- nos esforçamos para alcançar o mesmo.De forma subconsciente, nossos desejos de fama, poder, riqueza, erudição, e imortalidade são realmente desejos de nos assemelharmos a Deus. Nenhuma pessoa escapa a esses desejos, pois somos todos partes do Estágio Quatro, que foi quebrado, junto com a alma de Adam. As únicas variações entre os seres humanos estão na intensidade e proporção desses desejos, mas não em seus componentes.
Evidentemente, há pessoas cujos desejos de fama, fortuna e brilho são muito pequenos, estas são pessoas simples, satisfeitos com um abrigo, uma família e um sustento muito básico. Em tais pessoas, os desejos do Estágio Quatro são menos dominantes, daí, elas terão metas menos ambiciosas. Porém, mesmo no indivíduo mais calmo existe um “diabo” que deseja um pouco mais do que o seu vizinho possui. Estes são os desejos do Estágio Quatro- o senso de apossamento sobre o qual Twenge e Campbell escreveram – e eles são quase que exclusivamente humanos.
Estes desejos são também o que nos faz de exceção à regra que governou a evolução até o surgimento do Homo sapiens. Porque os seres humanos possuem uma aspiração inata para se tornarem como o Criador, nós tendemos a ser ativos na nossa abordagem aos desafios, ao invés de nos adaptarmos passivamente às condições, como os outros animais. Assim, em vez de adaptarmos o nosso corpo da melhor forma que pudermos para as mudanças climáticas ou a ameaças, tentamos mudar o clima ou eliminar as ameaças.
Um desses esforços foi mudar o nosso “microclima pessoal”, nosso entorno imediato, cobrindo nossas peles com as de animais, cuja pele nos dá melhor proteção contra os elementos do que a nossa. E, em vez de confiar em nossa força física (claramente insuficiente) para conseguir o nosso alimento, desenvolvemos ferramentas cada vez mais sofisticadas para nos ajudar na caça, bem como para proteger-nos contra animais predatores. Hoje há evidências inequívocas de que os primatas, alguns mamíferos, e até mesmo pássaros usaram ferramentas tais como pedras, ramos e galhos para ajudá-los em adquirir alimentos e para lutar. Mas a produção sistemática de ferramentas e de armas, tais como entalhar pedras e ossos para lanças, é uma habilidade exclusivamente humana (Imagem no.6)
Imagem no. 6: machados de mão de Kent (Inglaterra), feitos durante o período Paleolítico Inferior (Idade da Pedra Lascada), 2,5 milhões e 200 anos atrás.
Outra descoberta muito importante que os primeiros seres humanos (Homo erectus) fiseram foi o controle do fogo. O fogo permitiu aos humanos manter o seu habitat quente, afastar animais predadores, e até mesmo cozinhar. A descoberta de maneiras de fazer e de controlar o fogo marca uma mudança drástica na evolução. O homem era agora um animal que podia mudar seu ambiente para adaptá-lo às suas necessidades, em vez de mudar a si mesmo para se ajustar ao ambiente.
De acordo com um documento intitulado “A Grande Era Glacial”, lançado pelo Serviço Geológico dos EUA, “A Grande Era Glacial … começou há cerca de um milhão ou mais de anos atrás. ” Os vastos lençóis de gelo permitiram aos humanos migrar da África e, aos poucos, se se espalharem por todo o mundo. Com fogo e roupas, eles poderiam se sustentar em climas menos hospitaleiros e, assim, tornaram-se os mamíferos mais adaptáveis e onipresentes na terra.
O Corpo versus a mente
Um aspecto mais profundo e muito mais importante da mudança na evolução que o aparecimento do homem representa é que, diferentemente de outros animais que desenvolvem os seus corpos, os seres humanos desenvolvem as suas mentes. Para lidar com o perigo ou para obter alimento, os animais tentam fugir ou combater seus atacantes ou presas.
Os seres humanos, em vez disso, construíram armas. Para enfrentar o frio, os animais criam uma pele grossa e camadas de gordura hipodérmica. Humanos acendem fogueiras.
O uso do intelecto em vez do corpo para obter o que desejam também permite aos seres humanos planejar o futuro. Enquanto alguns animais armazenavam alimentos para o inverno, somente os seres humanos cultivavam alimentos e se livravam da vegetação indesejável limpando a terra para dar espaço para as plantas que lhes serviriam de alimento. De acordo com a maioria dos pesquisadores, a agricultura começou entre
10.000 e 15.000 anos atrás no Crescente Fértil (apesar de novos dados coletados por uma equipe liderada pelo Dr. Robin Allaby da Universidade de Warwick que encontrou provas de que a agricultura de plantas começou na Síria algo como 23 mil anos atrás ).
Embora a capacidade do homem para cultivar alimentos possa parecer muito barulho por nada hoje, foi quando os humanos começaram a cultivar a terra, que, em certo sentido, tornaram-se criadores – eles começaram a mudar seu meio ambiente. Este é um feito que apenas o desejo de Estágio Quatro pode conceber.
No entanto, junto com o progresso chegam os problemas. Todas as criaturas, com exceção do homem, devem aderir às regras do seu ecossistema, ou perecerão. O homem é o único organismo que pode planejar e executar a mudança em seu ambiente conforme sua própria vontade. Quando isso acontece, o homem deve aprender as regras pelas quais os ecosistemas funcionam, ou as alterações podem revelar-se desastrosas para o ecosistema e, consequentemente, para seus habitantes, incluindo o homem.
No Capítulo 4, dissemos que no corpo humano, como em qualquer organismo, cada célula tem um papel particular. Além disso, nós escrevemos: “Para que o organismo possa persistir, cada célula deve desempenhar sua função … e atender ao objetivo de manter a sua própria vida, antes do objetivo de manter a vida de seu organismo hospedeiro. Se a célula começa a agir de forma contrária a este princípio, os seus interesses entram logo em conflito com os do corpo e os mecanismos de defesa do corpo … a destróem. ”
Da mesma forma, quando o homem tornou-se potente o suficiente para alterar o seu ecossistema, ele teve que aprender a se comportar como uma célula de um organismo, abstendo-se de pôr em risco a sustentabilidade do sistema ao risco do sistema precisar se livrar do perigo eradicando a raça humana por completo, ou por se auto-eliminar, matando a raça humana no processo, como descrito em relação ao câncer. Hoje, eu acredito que é bastante evidente que a Natureza já está “tomando medidas compensatórias” para equilibrar as ações prejudiciais dos seres humanos.
Mas dez ou mais milênios atrás, as coisas eram muito diferentes do que são agora. O Homo sapiens estava apenas começando a desfrutar dos benefícios do conhecimento e da tecnologia e o conceito de seres humanos arriscando seu habitat não estava na mente de ninguém. O desenvolvimento da agricultura mudou os estilos de vida das pessoas, da caça e coleta para um comportamento mais sedentário, e uma das conseqüências disso foi a aceleração do desenvolvimento tecnológico.
Outra questão importante que estava na mente das pessoas naquela época (e ainda está, para muitos) é a religião. Prof Jared Diamond, autor do aclamado Armas de fogo, Germes, e Aço: O Destino das sociedades Humanas disse em uma palestra intitulada “A Evolução das Religiões” na University of Southern California, que cerca de dez mil e quinhentos anos atrás, a religião mudou suas funções. Ele explicou que a religião tinha adotado um papel de explicar as coisas. A religião começou a explicar tudo o que era desconhecido e pouco familiar, e, portanto, provia consolo e confiança nas pessoas.
Mas a coisa importante a notar sobre religião nesse ponto não é tanto a direção na qual ela se desenvolveu, mas o próprio fato de que ela se desenvolveu. A existência de uma entidade, institucionalizada organizada que fornecia respostas significava que as pessoas estavam começando a fazer perguntas – perguntas profundas sobre o propósito da vida e as leis que a regem. Isto mais tarde levou ao surgimento da Cabalá, precisamente na mesma área que o Crescente Fértil, como vimos no Capítulo 1.
Além da evolução da religião, e porque os avanços agrícolas que acabamos de mencionar encorajaram as pessoas a abandonarem seu estilo de vida nômade para um estilo mais sedentário, a população no Crescente Fértil começou a crescer. E quando os desenvolvimentos tecnológicos, como a invenção da roda, incentivaram um maior desenvolvimento e urbanização, as formas mais organizadas de governo e religião seguiram. Assim, a Mesopotâmia tornou-se gradualmente o que hoje chamamos o “berço da civilização.”
I (ibid.)
ii (ibid.) iii (ibid.) iv (ibid.)
v United States Geological Survey (USGS), “Por que os dinossauros morreram?”(17 de maio de 2001), http://pubs.usgs.gov/gip/dinosaurs/die.html
vi University of California Museum of Paleontology “, o que matou os dinossauros?”(Janeiro 2009), http://www.ucmp.berkeley.edu/diapsids/extinctheory.html
vii “A evolução pode ocorrer em menos de dez anos,” Science Daily (15 de junho de 2009), http://www.sciencedaily.com/releases/2009/06/090610185526.htm
viii Wendy Zukerman, batalha da Austrália com o coelho, a ABC Science (08 de abril de 2009), http://www.abc.net.au/science/articles/2009/04/08/2538860.htm
ix (ibid.)
x (ibid)
xi Louis L. Ray, “A Grande Era Glacial,” Pesquisa Geológica dos EUA (27 de setembro de 1999), http://pubs.usgs.gov/gip/ice_age/ice_age.pdf
xii Robin Allaby, “Investigação empurra para trás a história do desenvolvimento da cultura 10 mil anos”, Universidade de Warwick (19 de setembro de 2008), http://www2.warwick.ac.uk/newsandevents/pressreleases/research_pushes_back/
xiii Jared Diamond, Guns, Germs, and Steel: O Destino das Sociedades Humanas (NY: Norton & Company, 1997)
Jared Diamond, “A Evolução das Religiões” (Enviado por RabidApe, 26 de maio de 2009), http://www.youtube.com/watch?v=GWXr7pXoCTs