A Reshimo
Do livro “Cabala, Ciência e o Sentido da Vida”
A percepção que nós temos de nós mesmos e da realidade determina como sentimos a nós mesmos e a realidade. Esta é a base para toda nossa investigação. Nós precisamos entender o que é um ser humano, e se nós temos qualquer existência dentro dele. Os físicos quânticos podem estar certos quando argumentam que o homem, como toda a matéria, é apenas um “emaranhado de ondas”. Talvez a verdadeira realidade seja muito diferente daquilo que nós vemos no momento. Portanto, se nós pudermos estabelecer um princípio objetivo e fundamental que não dependa de nossas sensações subjetivas, um princípio que defina a “nós” e a “realidade”, nós tenhamos um critério com o qual acessar nossa percepção atual.
Muitos investigadores acreditam que quanto mais nós progredimos em nossa investigação, mais obscuras e incertas achamos as coisas. Eles sentem que nós estamos tateando no escuro. Nossa incompreensão de nós mesmos e do mundo está no cerne da atual crise global que estamos enfrentando. Sem dúvida, a abordagem cientifica de investigar as profundezas da realidade é muito boa, mas nós que há um limite, um impasse que não conseguimos penetrar.
A natureza humana, a percepção humana e tudo que a ciência tem descoberto não facilitarão um movimento para frente. Nós perceberemos que depois de certo ponto em diante, tudo se torna “intangível” e “evapora”. É isso que a física quântica já esta começando a descobrir: que a matéria é “perdida” inesperadamente, deixando os investigadores num tipo de vácuo.
Uma sensação desse tipo decorre de termos perdido o sentido da realidade atual, antes de termos percebido a realidade Superior que “se aproxima”. Isso acontece quando a pessoa não possui as ferramentas para perceber a “outra” realidade. O Baal HaSulam cita (em seu artigo, A Essência da Sabedoria da Cabala) que o único jeito de obter esse método é aprendendo com um Cabalista que já o tenha dominado totalmente.
Um Blecaute
Nossa situação nesse mundo está longe de nossa situação real, do padrão que nós mencionamos acima, chamado Ein Sof, onde todos nós estamos conectados como um único desejo preenchido com a Luz Superior. A separação, ou “exclusão”, ocorreu para permitir-nos subir do nível do desejo para um nível mais alto do que o próprio desejo, isto é, o nível da intenção. Isto nos possibilita fazer livres escolhas e adquirir discernimentos e revelações com os quais poderíamos transcender o nível da criatura-receptora e alcançar o nível do Criador-doador.
A descida do estado de Ein Sof para o estado desse mundo desenvolve-se ao se dividir o Kli individual em muitas partículas. Na espiritualidade, “exclusão” significa “diferença em qualidades”. Aproximando-se do verdadeiro estado de forma independente, nós começamos a entender o Pensamento da Criação, acima do estado de Ein Sof. Desse modo, nós aprendemos como retornar ao estado de Ein Sof por nós mesmos.
Mas, para retornar a Ein Sof, nós precisamos primeiro conhecer a essência desse estado. Nós estamos todos no estado de Ein Sof, o estado de amor e garantia mútua, formando um Kli para a Luz Superior. Para retornar desse mundo a Ein Sof, nós devemos tratar de construir um estado
semelhante em nossas conexões. Ein Sof é o verdadeiro estado existente, apesar de que ora nós estamos num estado imaginário com respeito aos nossos sentidos embaçados. Em outras palavras, nós estamos no estado de Ein Sof mesmo agora, mas nossos sentidos estão “velados” com poeira, que confunde a nossa percepção. Nós precisamos “limpar” nossos sentidos. Portanto, o estado de Ein Sof é o padrão que estamos trabalhando para alcançar.
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Nós nunca conseguimos entender um estado de forma clara enquanto ainda estamos nele. O estado atual só se torna mais claro à medida que ascendemos a um estado mais elevado. O método da Cabala proporciona uma nova imagem e percepção que nos possibilita entender a nossa realidade anterior. Curiosamente, nós não encontramos muitos obstáculos quando lidamos com o inanimado, vegetal e animal. Mesmo assim, quando cuidamos da matéria em nosso próprio nível (o falante) nós falhamos, invariavelmente. A nossa impotência em resolver nossos problemas familiares e sociais de nossa época é apenas um dos muitos testemunhos desse estado.
O método da Cabala nos ascende a um estado mais elevado do que nosso estado atual. Dessa nova perspectiva, nós podemos ver nosso estado anterior e analisá-lo. Esta é a diferença fundamental entre o estilo Cabalístico de investigação e o método cientifico comum. Na investigação científica, o investigador tenta penetrar a mesma realidade em que ele se encontra, como uma criança tentando estudar o que significa ser uma criança. Entretanto, na Cabala os investigadores Cabalísticos ascendem acima do nível atual e estudam o nível anterior e inferior.
Os Cabalistas não se ocupam com o estudo da realidade da maneira cientifica comum. Eles não tentam expandir suas percepções limitadas para uma perspectiva mais ampla, porque eles não pensam que isso seja possível. Somente a investigação correta da realidade poderá facilitar o nosso progresso em direção a conquista dos próximos níveis. Sem a investigação apropriada, nós simplesmente permaneceremos no nível de estudo da matéria.
A investigação apropriada eleva o investigador ao nível das Forças que agem por trás da matéria. Quando nós percebemos essas Forças, percebemos também o que acontece na matéria, já que essas Forças tornam-se nossas. O investigador sente essas Forças como condutoras de sua própria vida, ao seu dispor, percebidas tangível por meio dos sentidos, em vez de intelectualmente.
A pessoa não consegue investigar a realidade num grau mais elevado que a natureza percebida pelos cientistas, usando apenas a percepção racional e sensorial. Para mudar para uma realidade mais elevada, a pessoa deve mudar seus sentidos. Ferramentas sofisticadas de investigação não ajudarão aqui.
Ao estudar a natureza, nós podemos imaginar uma realidade superior oposta à nossa, onde tudo está direcionado à doação em vez da recepção. Nós também podemos assumir que acima de nossa natureza egoísta, tudo age com o amor e a interconexão, que tudo é realmente um único Pensamento.
Os cientistas descobriram que todas as partes da realidade estão conectadas harmoniosamente, que cada parte ajuda as demais partes e é vital para o sistema coletivo. As partes da realidade “consideram-se” mutuamente, como se fossem células de um único corpo. Essa descoberta levou os investigadores a teorizar que a lei geral para cada parte da realidade é a lei do amor. O único problema é que os investigadores não conseguem se elevar até esse nível e existir nessa natureza.
Se os cientistas pudessem mudar sua natureza de acordo com o que eles acreditam estar presente além do nível físico, eles descobririam que além da “matéria oculta” reside uma realidade muito real e sólida como uma rocha, tão real quanto aquela que eles conhecem agora. Eles poderia m perceber as Forças, suas interconexões e sistemas. Mas para que um investigador descubra tudo isso, deve haver concordância de forma entre ele e o nível dessas Forças.
Nós podemos comparar isso a caminhar dentro de uma sala totalmente escura. Primeiro, nós não enxergamos os objetos dentro da sala, mas se acendermos a luz, conseguiremos vê-los. É claro que os objetos já estavam lá, para começar, mas nossa capacidade de percebê-los era insuficiente para essa tarefa. Desse modo, o que nós devemos fazer é nos combinar com essas Forças que já existem na realidade; e o meio para combinar com elas é o método da Cabala.
Realidade Virtual
Numerosas teorias proclamam que existem infinitas realidades existindo simultaneamente. A Cabala declara que existe somente uma. Essa realidade é chamada de Malchut de Ein Sof, isto é, Malchut do Mundo de Ein Sof. Nada mais existe. O termo, Malchut de Ein Sof, designa a criatura no seu estado eterno e perfeito. Qualquer coisa além de Malchut de Ein Sof é chamada de “realidade virtual”.
A realidade virtual consiste de várias imagens que aparecem diante de Malchut de Ein Sof à medida que ela desce vários níveis de “consciência”. Como conseqüência, Malchut de Ein Sof sente cada vez menos a si mesma sua satisfação.
O processo de perda de consciência se intensifica até que Malchut de Ein Sof alcança seu estado mais baixo, mais denso e desprendido, chamado “este mundo”. Nesse estado, Malchut de Ein Sof toma a forma das almas humanas que se sentem desconectadas umas das outras. É dessa imagem da realidade que nós devemos almejar retornar ao estado de Malchut de Ein Sof.
Ao dizer que a nossa realidade é virtual, nós nos referimos ao discernimento que fazemos quando descobrimos que é esta a situação. Perceber tal realidade como virtual não nos impede de trabalhar com ela; nós só precisamos compreender que esta é uma das fases que devemos experimentar.
Isto pode ser comparado a uma criança cheia de fantasias. As fantasias não anulam o mundo da criança, e nós sabemos que essas fantasias são apropriadas para a fase de crescimento da criança. Igualmente, quando entramos numa realidade superior, nós nos relacionamos com a realidade anterior como se ela fosse fictícia, mas ela é bem real para aqueles que ainda estão naquele nível.
Existe certa barreira entre a realidade espiritual e a material. Nós não podemos ver as Forças por trás desse mundo até atravessarmos essa barreira, mas essas Forças descrevem a imagem do mundo dentro de nós do mesmo modo que vetores elétricos criam imagens na tela da TV ou no computador. Quando nós olhamos para a tela, nós vemos uma imagem colorida e tridimensional, mas, na verdade, é somente uma combinação de forças elétricas que podem ser processadas, transferidas e guardadas. A verdade é que nós, também, existimos numa imagem semelhante, exceto que a tela está dentro de nós.
Aqueles que se elevam ao nível dessas Forças percebem quão reais elas são, enquanto que a imagem que eles criam é imaginaria. Essas Forças criam constantemente imagens diferentes, embora as próprias Forças permaneçam as mesmas.
Contudo, existem 125 degraus de realização. Quanto mais alto nós ascendermos, mais verdadeiro e corretamente perceberemos como essas forças se conectam. No final da escada, a pessoa percebe a unificação total dessas Forças, chamada de Ein Sof.
O principio que surge disso é que somente quando alcançamos e percebemos algo é que conseguimos defini-lo. Por essa razão, todos os Cabalistas aderem a uma lei inabalável proclamada pelo Baal HaSulam: “Aquilo que nós não alcançamos, nós não definimos por nome ou palavra”.
Meditação Em Massa
Muitas pessoas tendem a acreditar que a humanidade pode melhorar sua situação quando ela quiser. Um bom exemplo é a meditação em massa, muitas vezes praticada em todo o mundo com o intuito de elevar nossa qualidade de vida. Sem dúvida, conectar pessoas num único pensamento influencia a realidade. O poder da mente é sem dúvida tremendo. Porém, nós devemos entender que simplesmente pensar nisso não causará nenhum tipo de benefício na realidade, por mais que quiséssemos isso.
Já que a nossa natureza é egoísta, os nossos melhores pensamentos continuarão sendo focalizados em receber melhores resultados para nós mesmos. A nossa situação só começará a melhorar quando percebermos que a nossa natureza fundamentalmente egoísta é má. Se nós entendermos que somente ao adquirir uma nova natureza altruísta poderemos ser felizes, então nós teremos êxito e prosperidade. Tal reconhecimento nos forçará a substituir nossa natureza.
Ações como meditação em massa não elevam a humanidade até o Criador, isto é, à natureza altruísta. Elas se baseiam em sermos capazes de maximizar o uso de nossas forças egoístas; portanto, nenhum plano da humanidade ajudará a melhorar o nosso mundo. Essas ações nos levarão, finalmente, a revelar mais rapidamente o mal em nosso egoísmo. De fato, qualquer vínculo de várias pessoas para alcançar uma meta comum, positiva ou negativa, acelera a revelação do mal, mas essa não é a forma mais conveniente para o progresso.
A evolução mais desejada ocorre somente quando a pessoa atrai a “Luz do Alto”. A Força espiritual também expõe as falhas e as corrige, mas para fazer isso, deve haver um método de correção. Na ausência desse método, a humanidade será forçada a se desenvolver através de tormentos e aflições. Finalmente, o sofrimento acumulado fará a humanidade perceber que ela não consegue fazer nada sozinha.
Atrair a Luz do Alto é o resultado do esforço de ser semelhante ao estado de Ein Sof — o único estado que realmente existe, no qual estamos todos conectados em um diante do Criador. Nós não precisamos imaginar nada num esforço para se assemelhar ao estado final, pois já estamos nele. Tudo o que precisamos é querer receber a Força da correção daquele estado, e essa Força nos levará a estar nele realmente.
Os textos Cabalistas descrevem o estado corrigido. Se nós lermos esses textos e quisermos estar no estado corrigido, nós “atraímos” a Luz do mesmo jeito que uma pessoa inconsciente recebe uma infusão. A Luz age no leitor, desperta, e o ajuda a subir.
No entanto, nós vemos que o significado de tais termos como “Luz” e “Alto” é esse: “Luz” é a Força Superior que corrige e preenche a criatura; “Alto” significa “de um estado mais corrigido, isto é, um estado de maior doação ao Criador.
O Que é o Criador?
O Criador é o que a pessoa descobre ser o Nível Superior. O termo hebraico Boreh (Criador), indica um convite para “vir e ver” (Bo significa “venha”,e Reh significa “veja”). A pessoa que alcança o nível mais elevado está num estado de adesão com o Criador. Antes de alcançar esse nível mais elevado, uma falha sempre surgirá nessa adesão, apesar de que isso não é realmente uma falha, mas um novo desejo não corrigido que surgiu na pessoa.
Esses desejos surgem de modo que nós os corrigiremos, e através da correção aumentaremos nossa adesão com o Criador. Para cada novo desejo que surge, o Criador parece estar mais alto do que antes. À medida que a pessoa descobre a oposição do Nível Superior e seu nível de altruísmo, ela deve reunir forças para elevar-se até ele.
Desse modo, antes do estado de Ein Sof, onde todos os fins se reúnem, não existe o Criador absoluto. A única definição que podemos dar ao termo “Criador” é (até alcançarmos Ein Sof) “mais elevado do que eu”. O Nível Superior constrói, cria, gera, corrige, e preenche o nível inferior.
O Criador surge como uma mistura de qualidades mais elevadas do que aquelas que a pessoa possui atualmente. As Reshimot que despertam fazem a pessoa imaginar um nível mais elevado a todo instante. Todavia, a descrição do Criador é sempre uma projeção das atuais qualidades da pessoa na Luz Abstrata. A pressão da Luz Abstrata é constante; as mudanças e movimentos são somente internos. Embora apenas as Reshimot mudem dentro de nós, nos parece como se o Criador estivesse mudando.
Entendendo as Reshimot
A pessoa que não é Cabalista percebe o surgimento das Reshimot involuntariamente. Essa pessoa reage de acordo com a condição onde ela foi colocada: educação, ambiente, forças internas, saúde, e assim por diante. Dessa maneira, a pessoa é “tomada” por várias emoções e impressões e finalmente chega ao desejo pela espiritualidade.
Enquanto progride “apesar do eu”, a pessoa acumula impressões das alegrias e tristezas da vida, recolhendo discernimentos e usando-os ao longo do caminho. Esta é uma fase preparatória, onde a pessoa acumula inúmeras impressões a respeito do seu desejo de receber, e experimenta a realização (entendimento) das Reshimot internamente.
Embora nós não tenhamos consciência disso, todas essas impressões permanecem no cérebro, e quando surge certa Reshimo, as Reshimot necessárias para realizá-la também despertam. Nós não podemos controlar esse processo; os eventos que nós experimentamos muitos anos atrás surgem de forma súbita e nós não conseguimos entender o porquê.
Além disso, como as almas estão interconectadas num único sistema, cada impressão “pessoal” da pessoa, ou de um grupo de pessoas, afeta todas as outras almas. Processos que se desdobram em determinado lugar na Terra afetam todos os seus habitantes, mesmo que eles não tenham consciência disso. Atualmente, nós somos incapazes de entender como essa informação é transmitida, mas isso ficará muito claro quando alcançarmos o estado de Ein Sof. Nós aceleramos o surgimento das Reshimot porque somos parte de um sistema único.
Todos nós existimos como uma única criatura em relação à Luz Superior; cada um de nós é composto de todos os outros. Cada um é como um único Kli que o Criador criou como um holograma, e cada pessoa é constituída do “eu” e sua incorporação, ou existência, em todas as outras almas. A incorporação de uma pessoa em todas as outras almas é bidirecional, isto é, a pessoa está dentro das outras almas e as almas estão dentro dessa pessoa. É por isso que o desejo de receber contém tantos discernimentos e mudanças.
Sempre existe contato entre a Luz Superior e o indivíduo, mas a conexão dele com esse contato varia. A Luz Superior brilha sobre os desejos dentro de nós, provocando uma sensação que nós chamamos de “a imagem do meu mundo”, seja deste mundo ou do mundo espiritual. Essa sensação muda constantemente sob a influência da Reshimo da pessoa, e também com a integração da pessoa nas Reshimot das outras almas. A soma dessas mudanças cria a imagem dinâmica da vida da pessoa.
Escolhendo o Futuro
Nós acreditamos que temos vários futuros a escolher. Mas escolher significa ver o futuro. Portanto, no que se baseiam essas escolhas? Como a pessoa sabe qual futuro é o melhor? Se nós pudéssemos ver os resultados de escolher uma opção e o resultado de escolher outra opção, nós saberíamos qual delas seria melhor. Mas, na verdade, não existe nenhuma opção para escolher.
Certa Reshimo desperta dentro de certo desejo de receber, isto é, dentro de certa pessoa localizada num determinado ambiente. Posteriormente, essa pessoa realiza a Reshimo, acumulando assim mais impressões dos eventos da vida.
Se nós percebêssemos que somos somente marionetes, e que ao mesmo tempo podemos mudar nosso futuro, estaríamos então num ponto de escolha. Em outras palavras, nós poderíamos então escolher um ambiente que nos influenciasse positivamente e nos assistisse em nosso desenvolvimento espiritual. Tal ambiente nos ajudaria a realizar essa Reshimo na mesma direção e na mesma escada preexistente, mas nós faríamos isso de bom grado, em vez de sob pressão.
Em qualquer estado, a Reshimo no desejo de receber despertado e o ambiente são predeterminados. Mesmo que a pessoa tivesse um impulso para realizar a Reshimo, esse impulso teria se originado de dentro. E mesmo que a pessoa usasse o ambiente para acelerar a revelação dessa Reshimo, isto somente encurtaria o período predeterminado de revelação.
Entretanto, os nossos esforços em fazer parte de um ambiente que está interessado na evolução espiritual, e de ser estimulado por ele a evoluir, nos oferece um novo intelecto – “o intelecto abrangente”, o qual pertence à intenção do Criador com relação à criatura. Adquirir esse intelecto significa descobrir essa intenção e a subseqüente ascensão ao nível do Criador. Esse é o grande prêmio.
Nós precisamos entender que, por nós mesmos, nós podemos querer qualquer coisa, exceto avançar no caminho certo com a meta certa. Uma pessoa sozinha é como um cego: incapaz de enxergar corretamente o caminho do progresso. Nós não conseguimos ver a saída deste mundo para o Mundo Superior, do desejo de receber para o desejo de doar. Nós nem conseguimos ver que essas coisas existem e que a nossa salvação está aqui.
Conseqüentemente, o ponto de livre escolha é muito, muito sutil. Nós podemos escolher um ambiente que nos levará a um estado onde a Luz Superior muda nossas qualidades, e através da ação dessa Luz, nós seremos capazes de entrar no reino espiritual. Mas sozinhos, sem um método ou ambiente social, nós não poderemos avançar para a espiritualidade.
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Termos como “mundos paralelos” e “universos paralelos” estão cada vez mais na moda. Muitos encontram a possibilidade de escolher seu futuro encantador. Existem meditações que oferecem a capacidade de escolher logo de manhã os eventos do dia seguinte. Psicologicamente falando, dessa maneira a pessoa está se “programando” e predeterminando uma maneira especifica de aceitar a Reshimot que surgirá naquele dia. Todavia, a pergunta que permanece é se nós podemos ou não criar uma realidade diferente fazendo isso.
Nós não podemos dizer que essa pessoa é excepcional, à medida que todos nós temos nossas predisposições sobre a vida. Todos nós temos hábitos com os quais começamos nosso dia, sejam eles exercícios físicos ou a visita a um terapeuta.
Se nós planejamos nosso dia de forma consciente ou inconsciente, a verdade é que a nossa imagem da realidade é totalmente determinada pela Reshimo dentro de nós. A Reshimo nos situa nessa imagem e cria nela todas as decisões. Do mesmo modo, os nossos esforços conscientes para “escolher” o que acontecerá é resultado da revelação da Reshimo, e nada mais.
A Memória
Todas as imagens que compõem a nossa vida estão interconectadas. Portanto, evocar certa Reshimo muitas vezes nos faz lembrar experiências passadas. Nos não gerimos nossa memória, nem conseguimos extrair algo delas ou esquecê-las. A Reshimo determina absolutamente tudo. Nós apenas nos movemos “por cima” das experiências que despertam e agem dentro de nós. Se a percepção da Reshimo exige isso, as memórias passadas surgirão por si mesmas.
Tudo que nós experimentamos permanece dentro de nós; nada desaparece. Uma Reshimo que desperta no desejo da pessoa é percebida contrária à Luz e produz um discernimento sobre o que está acontecendo naquele momento. Posteriormente, outra Reshimo desperta, e como as Reshimot estão conectadas, essa nova Reshimo usa a Reshimo antiga conforme a sua necessidade.
Quando muitas outras Reshimot tiverem ido e vindo, a primeira Reshimo é perdida da memória e a imagem que ela criou desaparece das sensações. Essas sensações devem reaparecer mais tarde se forem necessárias para a percepção de uma nova Reshimo. Assim, nós discernimos uma cadeia de experiências na qual as Reshimot tornam-se ativas e passivas, e à medida que essas Reshimot são percebidas, elas acumulam impressões dentro de nós.
Esse processo se desenvolve “Acima” de nós; por isso nós não podemos abordar nossa memória e atrair imagens especificas dela. Por exemplo, quando caminhamos numa rua nós podemos encontrar um cheiro familiar que nos faz lembrar brevemente uma cena da nossa infância. Assim como a cena aparece, ela desaparece, e nós não conseguimos entender o propósito disso. No entanto, nada no mundo é por acaso; todas as memórias surgem somente de acordo com sua necessidade de realização da atual Reshimo.
Todas as almas estão conectadas dentro de um sistema único e abrangente. No entanto, nós podemos dizer que essa memória também é comum a todas elas. Isto se torna cada vez mais claro à medida que nos tornamos mais conectados com todas as outras almas. Quanto mais nós trabalhamos de forma consciente em direção a esse sistema, mais memórias surgirão em nos, e junto com elas, capacidades e realizações. Se nós subirmos ao nível de conexão com os outros e trabalharmos com seus vasos como se fossem nossos, certamente utilizaremos tudo dentro deles.
O Poder do Pensamento
O pensamento é uma força muito poderosa. No documentário “What the Bleep Do We Know?” (Quem somos nós?), o Dr. John Hagelin falou de um experimento de meditação em massa realizado em Washington. De acordo com o Dr. Hagelin, a meditação em massa reduziu o nível de criminalidade em Washington, produziu um resultado impressionante e o nível de criminalidade caiu 25% naquele verão.
Mesmo assim, nesse ato ainda não há liberdade de escolha, visto que é a Reshimo que realiza todo o processo: a decisão de realizar a meditação em massa e também a posterior diminuição no nível de criminalidade. Não obstante, agora nós desejamos trabalhar somente com o modus operandi dos desejos humanos e não com o nível acima dele, que nos “controla”.
Reunir um grupo de pessoas com uma meta única cria uma grande energia. Isto ocorre porque todos usam, inconscientemente, o sistema que já existe, onde eles já estão conectados. Mesmo que as pessoas se unam pela pior das metas, elas despertarão energias tremendas.
O pensamento muda a realidade porque ele é a expressão dos desejos. Ao querer que a realidade seja de um jeito ou de outro, nós aparentemente canalizamos o nosso futuro na direção desejada.
Se os níveis de criminalidade aumentam e milhares de pessoas se unem numa meditação para diminuí-los, eles diminuirão porque os participantes do experimento colocaram seus desejos naquela Reshimo. A Reshimo é puro potencial, e a atitude da pessoa em relação a essa Reshimo pode afetar a forma que ela tomará.
A união de pessoas num pensamento comum cria uma congruência com o estado de Ein Sof, onde todas as almas já estão conectadas. Nós deveríamos dizer que essa congruência existe mesmo quando a união não é realizada para se aproximar do Criador, isto é, da doação. Em outras palavras, a congruência com o sistema funciona apesar de sua conexão com o Criador. A união atrai força do “Alto”, que muda a maneira como a Reshimo parece se revelar. Mesmo assim, nós devemos lembrar que as nossas atitudes em relação à Reshimo são também predeterminadas dentro da Reshimo.
Vamos usar o exemplo da meditação em massa para esclarecer essa questão sutil da liberdade de escolha. Dois pontos precisam ser salientados:
- Depois do despertar do desejo de usar a força coletiva, a pessoa aplica essa força e alcança um resultado impressionante.
- A ativação do desejo produz um resultado substancial porque a pessoa utilizou a Reshimo, o sistema, e a Luz.
Sinceramente, não existe um único ato em tudo isso que seja oriundo do indivíduo, já que a Reshimo empurrou essa pessoa à ação. Como qualquer outra máquina, a pessoa realizou um ato e produziu certo resultado. O único envolvimento do indivíduo no processo foi a documentação das causas e das conseqüências. De fato, como nós adquirimos uma existência independente na espiritualidade, o nosso conhecimento nada mais é que o registro das causas e conseqüências.
A Cadeia das Reshimot
A nossa percepção da realidade é a nossa sensação da Luz Superior. Os meios de detecção da Luz são chamados de “este mundo” ou “mundo espiritual”. Este mundo pertence à sensação da Luz Superior através de uma intenção egoísta, enquanto que a sensação do mundo através de uma intenção altruísta é chamada de “mundo espiritual”. Estas descrições expressam duas formas de relação para com a Luz Superior.
A nossa atitude em relação à Luz Superior define o nosso estado; ela determina em qual mundo e em qual nível estamos situados. Essa atitude é determinada pelas Reshimot que se desenvolvem a partir do nível zero. Essas Reshimot se desenvolvem por certa ordem, começando com o inanimado, vegetal, animal e falante (ou humano). O nível falante continua se desenvolvendo através dos níveis internos do inanimado, vegetal, animal e falante (espiritual). A cadeia das Reshimot determina tudo, e não existe nada além disso.
As Reshimot provocam em nós desejos cada vez mais fortes, começando com desejos físicos e existenciais (por sexo, comida e família), até desejos por riqueza, honra, poder, e terminando no desejo por conhecimento.
Os cientistas trabalham com os desejos mais elevados da espécie humana – desejos (Reshimot) por conhecimento e erudição. Assim que nós esgotamos todas as Reshimot no desejo egoísta de receber, somos obrigados a começar nossa correção a fim de avançar.
A Cabala começa onde a nossa capacidade de investigar a realidade termina. Isto acontece porque a sabedoria da Cabala permite que a pessoa mude uma Reshimo de egoísta para altruísta. Realizar uma Reshimo altruisticamente permite ao investigador transcender o nível de realização das Reshimot que despertam nele, o qual nos leva ao nível das Forças que coordenam a obtenção das Reshimot no mundo espiritual. No mundo espiritual, o investigador explora as Forças que formam as Raízes da realidade virtual da pessoa, as mesmas Forças que os cientistas buscam tão desesperadamente.
Os cientistas estão no mais alto nível evolutivo dos desejos deste mundo. Esta é precisamente a sua situação: eles não conseguem encontrar a raiz de tudo ou aprender o que acontece além da matéria. Eles são bem sucedidos em assumir que existe um Pensamento para além da matéria, e que esse Pensamento é provavelmente um pensamento de amor e doação. Eles chegarão até mesmo a declarar abertamente que deve existir uma forma diferente de investigar a realidade; aliás, eles não serão capazes de encontrá-la. É impossível mudar a abordagem inata da realização das Reshimot sem a sabedoria da Cabala.
Sem dúvida, a humanidade teve que realizar todas as Reshimot até o seu estado atual sem ser consultada sobre o assunto. Mas hoje, a humanidade encontra dentro de si um desejo de saber a razão de seu estado desesperador; o clamor que emerge do coração da humanidade invoca a revelação da sabedoria da Cabala. A Cabala ajudará a humanidade a realizar as Reshimot espirituais de acordo com as quais ela está agora mudando; as Reshimot que induzem a intensificação da busca espiritual de tantas pessoas.
Se a humanidade esperar até que seus investigadores alcancem a verdade por eles mesmos, sem a assistência da sabedoria da Cabala, ela poderá se encontrar numa avalanche de crises, fracassos e desastres sem precedentes. É isso também os que os Cabalistas têm tentado explicar à humanidade antes que ela caia nessas situações difíceis.