A Reshimo

Do livro “Cabala, Ciência e o Sentido da Vida”

A percepção que nós temos de nós mesmos e da realidade determina como sentimos a nós mesmos e a realidade. Esta é a base para toda nossa investigação. Nós precisamos entender o que é um ser humano, e se nós temos qualquer existência dentro dele. Os físicos quânticos podem estar certos quando argumentam que o homem, como toda a matéria, é apenas um “emaranhado de ondas”. Talvez a verdadeira realidade seja muito diferente daquilo que nós vemos no momento. Portanto, se nós pudermos estabelecer um princípio objetivo e fundamental que não dependa de nossas sensações subjetivas, um princípio que defina a “nós” e a “realidade”, nós tenhamos um critério com o qual acessar nossa percepção atual.

Muitos investigadores acreditam que quanto mais nós progredimos em nossa investigação, mais obscuras e incertas achamos as coisas. Eles sentem que nós estamos tateando no escuro. Nossa incompreensão de nós mesmos e do mundo está no cerne da atual crise global que estamos enfrentando. Sem dúvida, a abordagem cientifica de investigar as profundezas da realidade é muito boa, mas nós que há um limite, um impasse que não conseguimos penetrar.

A natureza humana, a percepção humana e tudo que a ciência tem descoberto não facilitarão um movimento para frente. Nós perceberemos que depois de certo ponto em diante, tudo se torna “intangível” e “evapora”. É isso que a física quântica já esta começando a descobrir: que a matéria é “perdida” inesperadamente, deixando os investigadores num tipo de vácuo.

Uma sensação desse tipo decorre de termos perdido o sentido da realidade atual, antes de termos percebido a realidade Superior que “se aproxima”. Isso acontece quando a pessoa não possui as ferramentas para perceber a “outra” realidade. O Baal HaSulam cita (em seu artigo, A Essência da Sabedoria da Cabala) que o único jeito de obter esse método é aprendendo com um Cabalista que já o tenha dominado totalmente.

 

Um Blecaute

Nossa situação nesse mundo está longe de nossa situação real, do padrão que nós mencionamos acima, chamado Ein Sof, onde todos nós estamos conectados como um único desejo preenchido com a Luz Superior. A separação, ou “exclusão”, ocorreu para permitir-nos subir do nível do desejo para um nível mais alto do que o próprio desejo, isto é, o nível da intenção. Isto nos possibilita fazer livres escolhas e adquirir discernimentos e revelações com os quais poderíamos transcender o nível da criatura-receptora e alcançar o nível do Criador-doador.

A descida do estado de Ein Sof para o estado desse mundo desenvolve-se ao se dividir o Kli individual em muitas partículas. Na espiritualidade, “exclusão” significa “diferença em qualidades”. Aproximando-se do verdadeiro estado de forma independente, nós começamos a entender o Pensamento da Criação, acima do estado de Ein Sof. Desse modo, nós aprendemos como retornar ao estado de Ein Sof por nós mesmos.

Mas, para retornar a Ein Sof, nós precisamos primeiro conhecer a essência desse estado. Nós estamos todos no estado de Ein Sof, o estado de amor e garantia mútua, formando um Kli para a Luz Superior. Para retornar desse mundo a Ein Sof, nós devemos tratar de construir um estado

semelhante em nossas conexões. Ein Sof é o verdadeiro estado existente, apesar de que ora nós estamos num estado imaginário com respeito aos nossos sentidos embaçados. Em outras palavras, nós estamos no estado de Ein Sof mesmo agora, mas nossos sentidos estão “velados” com poeira, que confunde a nossa percepção. Nós precisamos “limpar” nossos sentidos. Portanto, o estado de Ein Sof é o padrão que estamos trabalhando para alcançar.

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Nós nunca conseguimos entender um estado de forma clara enquanto ainda estamos nele. O estado atual só se torna mais claro à medida que ascendemos a um estado mais elevado. O método da Cabala proporciona uma nova imagem e percepção que nos possibilita entender a nossa realidade anterior. Curiosamente, nós não encontramos muitos obstáculos quando lidamos com o inanimado, vegetal e animal. Mesmo assim, quando cuidamos da matéria em nosso próprio nível (o falante) nós falhamos, invariavelmente. A nossa impotência em resolver nossos problemas familiares e sociais de nossa época é apenas um dos muitos testemunhos desse estado.

O método da Cabala nos ascende a um estado mais elevado do que nosso estado atual. Dessa nova perspectiva, nós podemos ver nosso estado anterior e analisá-lo. Esta é a diferença fundamental entre o estilo Cabalístico de investigação e o método cientifico comum. Na investigação científica, o investigador tenta penetrar a mesma realidade em que ele se encontra, como uma criança tentando estudar o que significa ser uma criança. Entretanto, na Cabala os investigadores Cabalísticos ascendem acima do nível atual e estudam o nível anterior e inferior.

Os Cabalistas não se ocupam com o estudo da realidade da maneira cientifica comum. Eles não tentam expandir suas percepções limitadas para uma perspectiva mais ampla, porque eles não pensam que isso seja possível. Somente a investigação correta da realidade poderá facilitar o nosso progresso em direção a conquista dos próximos níveis. Sem a investigação apropriada, nós simplesmente permaneceremos no nível de estudo da matéria.

A investigação apropriada eleva o investigador ao nível das Forças que agem por trás da matéria. Quando nós percebemos essas Forças, percebemos também o que acontece na matéria, já que essas Forças tornam-se nossas. O investigador sente essas Forças como condutoras de sua própria vida, ao seu dispor, percebidas tangível por meio dos sentidos, em vez de intelectualmente.

A pessoa não consegue investigar a realidade num grau mais elevado que a natureza percebida pelos cientistas, usando apenas a percepção racional e sensorial. Para mudar para uma realidade mais elevada, a pessoa deve mudar seus sentidos. Ferramentas sofisticadas de investigação não ajudarão aqui.

Ao estudar a natureza, nós podemos imaginar uma realidade superior oposta à nossa, onde tudo está direcionado à doação em vez da recepção. Nós também podemos assumir que acima de nossa natureza egoísta, tudo age com o amor e a interconexão, que tudo é realmente um único Pensamento.

Os cientistas descobriram que todas as partes da realidade estão conectadas harmoniosamente, que cada parte ajuda as demais partes e é vital para o sistema coletivo. As partes da realidade “consideram-se” mutuamente, como se fossem células de um único corpo. Essa descoberta levou os investigadores a teorizar que a lei geral para cada parte da realidade é a lei do amor. O único problema é que os investigadores não conseguem se elevar até esse nível e existir nessa natureza.

Se os cientistas pudessem mudar sua natureza de acordo com o que eles acreditam estar presente além do nível físico, eles descobririam que além da “matéria oculta” reside uma realidade muito real e sólida como uma rocha, tão real quanto aquela que eles conhecem agora. Eles poderia m perceber as Forças, suas interconexões e sistemas. Mas para que um investigador descubra tudo isso, deve haver concordância de forma entre ele e o nível dessas Forças.

Nós podemos comparar isso a caminhar dentro de uma sala totalmente escura. Primeiro, nós não enxergamos os objetos dentro da sala, mas se acendermos a luz, conseguiremos vê-los. É claro que os objetos já estavam lá, para começar, mas nossa capacidade de percebê-los era insuficiente para essa tarefa. Desse modo, o que nós devemos fazer é nos combinar com essas Forças que já existem na realidade; e o meio para combinar com elas é o método da Cabala.

 

Realidade Virtual

Numerosas teorias proclamam que existem infinitas realidades existindo simultaneamente. A Cabala declara que existe somente uma. Essa realidade é chamada de Malchut de Ein Sof, isto é, Malchut do Mundo de Ein Sof. Nada mais existe. O termo, Malchut de Ein Sof, designa a criatura no seu estado eterno e perfeito. Qualquer coisa além de Malchut de Ein Sof é chamada de “realidade virtual”.

A realidade virtual consiste de várias imagens que aparecem diante de Malchut de Ein Sof à medida que ela desce vários níveis de “consciência”. Como conseqüência, Malchut de Ein Sof sente cada vez menos a si mesma sua satisfação.

O processo de perda de consciência se intensifica até que Malchut de Ein Sof alcança seu estado mais baixo, mais denso e desprendido, chamado “este mundo”. Nesse estado, Malchut de Ein Sof toma a forma das almas humanas que se sentem desconectadas umas das outras. É dessa imagem da realidade que nós devemos almejar retornar ao estado de Malchut de Ein Sof.

Ao dizer que a nossa realidade é virtual, nós nos referimos ao discernimento que fazemos quando descobrimos que é esta a situação. Perceber tal realidade como virtual não nos impede de trabalhar com ela; nós só precisamos compreender que esta é uma das fases que devemos experimentar.

Isto pode ser comparado a uma criança cheia de fantasias. As fantasias não anulam o mundo da criança, e nós sabemos que essas fantasias são apropriadas para a fase de crescimento da criança. Igualmente, quando entramos numa realidade superior, nós nos relacionamos com a realidade anterior como se ela fosse fictícia, mas ela é bem real para aqueles que ainda estão naquele nível.

Existe certa barreira entre a realidade espiritual e a material. Nós não podemos ver as Forças por trás desse mundo até atravessarmos essa barreira, mas essas Forças descrevem a imagem do mundo dentro de nós do mesmo modo que vetores elétricos criam imagens na tela da TV ou no computador. Quando nós olhamos para a tela, nós vemos uma imagem colorida e tridimensional, mas, na verdade, é somente uma combinação de forças elétricas que podem ser processadas, transferidas e guardadas. A verdade é que nós, também, existimos numa imagem semelhante, exceto que a tela está dentro de nós.

Aqueles que se elevam ao nível dessas Forças percebem quão reais elas são, enquanto que a imagem que eles criam é imaginaria. Essas Forças criam constantemente imagens diferentes, embora as próprias Forças permaneçam as mesmas.

Contudo, existem 125 degraus de realização. Quanto mais alto nós ascendermos, mais verdadeiro e corretamente perceberemos como essas forças se conectam. No final da escada, a pessoa percebe a unificação total dessas Forças, chamada de Ein Sof.

O principio que surge disso é que somente quando alcançamos e percebemos algo é que conseguimos defini-lo. Por essa razão, todos os Cabalistas aderem a uma lei inabalável proclamada pelo Baal HaSulam: “Aquilo que nós não alcançamos, nós não definimos por nome ou palavra”.

 

Meditação Em Massa

Muitas pessoas tendem a acreditar que a humanidade pode melhorar sua situação quando ela quiser. Um bom exemplo é a meditação em massa, muitas vezes praticada em todo o mundo com o intuito de elevar nossa qualidade de vida. Sem dúvida, conectar pessoas num único pensamento influencia a realidade. O poder da mente é sem dúvida tremendo. Porém, nós devemos entender que simplesmente pensar nisso não causará nenhum tipo de benefício na realidade, por mais que quiséssemos isso.

Já que a nossa natureza é egoísta, os nossos melhores pensamentos continuarão sendo focalizados em receber melhores resultados para nós mesmos. A nossa situação só começará a melhorar quando percebermos que a nossa natureza fundamentalmente egoísta é má. Se nós entendermos que somente ao adquirir uma nova natureza altruísta poderemos ser felizes, então nós teremos êxito e prosperidade. Tal reconhecimento nos forçará a substituir nossa natureza.

Ações como meditação em massa não elevam a humanidade até o Criador, isto é, à natureza altruísta. Elas se baseiam em sermos capazes de maximizar o uso de nossas forças egoístas; portanto, nenhum plano da humanidade ajudará a melhorar o nosso mundo. Essas ações nos levarão, finalmente, a revelar mais rapidamente o mal em nosso egoísmo. De fato, qualquer vínculo de várias pessoas para alcançar uma meta comum, positiva ou negativa, acelera a revelação do mal, mas essa não é a forma mais conveniente para o progresso.

A evolução mais desejada ocorre somente quando a pessoa atrai a “Luz do Alto”. A Força espiritual também expõe as falhas e as corrige, mas para fazer isso, deve haver um método de correção. Na ausência desse método, a humanidade será forçada a se desenvolver através de tormentos e aflições. Finalmente, o sofrimento acumulado fará a humanidade perceber que ela não consegue fazer nada sozinha.

Atrair a Luz do Alto é o resultado do esforço de ser semelhante ao estado de Ein Sof — o único estado que realmente existe, no qual estamos todos conectados em um diante do Criador. Nós não precisamos imaginar nada num esforço para se assemelhar ao estado final, pois já estamos nele. Tudo o que precisamos é querer receber a Força da correção daquele estado, e essa Força nos levará a estar nele realmente.

Os textos Cabalistas descrevem o estado corrigido. Se nós lermos esses textos e quisermos estar no estado corrigido, nós “atraímos” a Luz do mesmo jeito que uma pessoa inconsciente recebe uma infusão. A Luz age no leitor, desperta, e o ajuda a subir.

No entanto, nós vemos que o significado de tais termos como “Luz” e “Alto” é esse: “Luz” é a Força Superior que corrige e preenche a criatura; “Alto” significa “de um estado mais corrigido, isto é, um estado de maior doação ao Criador.

 

O Que é o Criador?

O Criador é o que a pessoa descobre ser o Nível Superior. O termo hebraico Boreh (Criador), indica um convite para “vir e ver” (Bo significa “venha”,e Reh significa “veja”). A pessoa que alcança o nível mais elevado está num estado de adesão com o Criador. Antes de alcançar esse nível mais elevado, uma falha sempre surgirá nessa adesão, apesar de que isso não é realmente uma falha, mas um novo desejo não corrigido que surgiu na pessoa.

Esses desejos surgem de modo que nós os corrigiremos, e através da correção aumentaremos nossa adesão com o Criador. Para cada novo desejo que surge, o Criador parece estar mais alto  do que antes. À medida que a pessoa descobre a oposição do Nível Superior e seu nível de altruísmo, ela deve reunir forças para elevar-se até ele.

Desse modo, antes do estado de Ein Sof, onde todos os fins se reúnem, não existe o Criador absoluto. A única definição que podemos dar ao termo “Criador” é (até alcançarmos Ein Sof) “mais elevado do que eu”. O Nível Superior constrói, cria, gera, corrige, e preenche o nível inferior.

O Criador surge como uma mistura de qualidades mais elevadas do que aquelas que a pessoa possui atualmente. As Reshimot que despertam fazem a pessoa imaginar um nível mais elevado a todo instante. Todavia, a descrição do Criador é sempre uma projeção das atuais qualidades da pessoa na Luz Abstrata. A pressão da Luz Abstrata é constante; as mudanças e movimentos são somente internos. Embora apenas as Reshimot mudem dentro de nós, nos parece como se o Criador estivesse mudando.

 

Entendendo as Reshimot

A pessoa que não é Cabalista percebe o surgimento das Reshimot involuntariamente. Essa pessoa reage de acordo com a condição onde ela foi colocada: educação, ambiente, forças internas, saúde, e assim por diante. Dessa maneira, a pessoa é “tomada” por várias emoções e impressões e finalmente chega ao desejo pela espiritualidade.

Enquanto progride “apesar do eu”, a pessoa acumula impressões das alegrias e tristezas da vida, recolhendo discernimentos e usando-os ao longo do caminho. Esta é uma fase preparatória, onde a pessoa acumula inúmeras impressões a respeito do seu desejo de receber, e experimenta a realização (entendimento) das Reshimot internamente.

Embora nós não tenhamos consciência disso, todas essas impressões permanecem no cérebro, e quando surge certa Reshimo, as Reshimot necessárias para realizá-la também despertam. Nós não podemos controlar esse processo; os eventos que nós experimentamos muitos anos atrás surgem de forma súbita e nós não conseguimos entender o porquê.

Além disso, como as almas estão interconectadas num único sistema, cada impressão “pessoal” da pessoa, ou de um grupo de pessoas, afeta todas as outras almas. Processos que se desdobram em determinado lugar na Terra afetam todos os seus habitantes, mesmo que eles não tenham consciência disso. Atualmente, nós somos incapazes de entender como essa informação é transmitida, mas isso ficará muito claro quando alcançarmos o estado de Ein Sof. Nós aceleramos o surgimento das Reshimot porque somos parte de um sistema único.

Todos nós existimos como uma única criatura em relação à Luz Superior; cada um de nós é composto de todos os outros. Cada um é como um único Kli que o Criador criou como um holograma, e cada pessoa é constituída do “eu” e sua incorporação, ou existência, em todas as outras almas. A incorporação de uma pessoa em todas as outras almas é bidirecional, isto é, a pessoa está dentro das outras almas e as almas estão dentro dessa pessoa. É por isso que o desejo de receber contém tantos discernimentos e mudanças.

Sempre existe contato entre a Luz Superior e o indivíduo, mas a conexão dele com esse contato varia. A Luz Superior brilha sobre os desejos dentro de nós, provocando uma sensação que nós chamamos de “a imagem do meu mundo”, seja deste mundo ou do mundo espiritual. Essa sensação muda constantemente sob a influência da Reshimo da pessoa, e também com a integração da pessoa nas Reshimot das outras almas. A soma dessas mudanças cria a imagem dinâmica da vida da pessoa.

 

Escolhendo o Futuro

Nós acreditamos que temos vários futuros a escolher. Mas escolher significa ver o futuro. Portanto, no que se baseiam essas escolhas? Como a pessoa sabe qual futuro é o melhor? Se nós pudéssemos ver os resultados de escolher uma opção e o resultado de escolher outra opção, nós saberíamos qual delas seria melhor. Mas, na verdade, não existe nenhuma opção para escolher.

Certa Reshimo desperta dentro de certo desejo de receber, isto é, dentro de certa pessoa localizada num determinado ambiente. Posteriormente, essa pessoa realiza a Reshimo, acumulando assim mais impressões dos eventos da vida.

Se nós percebêssemos que somos somente marionetes, e que ao mesmo tempo podemos mudar nosso futuro, estaríamos então num ponto de escolha. Em outras palavras, nós poderíamos então escolher um ambiente que nos influenciasse positivamente e nos assistisse em nosso desenvolvimento espiritual. Tal ambiente nos ajudaria a realizar essa Reshimo na mesma direção e na mesma escada preexistente, mas nós faríamos isso de bom grado, em vez de sob pressão.

Em qualquer estado, a Reshimo no desejo de receber despertado e o ambiente são predeterminados. Mesmo que a pessoa tivesse um impulso para realizar a Reshimo, esse impulso teria se originado de dentro. E mesmo que a pessoa usasse o ambiente para acelerar a revelação dessa Reshimo, isto somente encurtaria o período predeterminado de revelação.

Entretanto, os nossos esforços em fazer parte de um ambiente que está interessado na evolução espiritual, e de ser estimulado por ele a evoluir, nos oferece um novo intelecto – “o intelecto abrangente”, o qual pertence à intenção do Criador com relação à criatura. Adquirir esse intelecto significa descobrir essa intenção e a subseqüente ascensão ao nível do Criador. Esse é o grande prêmio.

Nós precisamos entender que, por nós mesmos, nós podemos querer qualquer coisa, exceto avançar no caminho certo com a meta certa. Uma pessoa sozinha é como um cego: incapaz de enxergar corretamente o caminho do progresso. Nós não conseguimos ver a saída deste mundo para o Mundo Superior, do desejo de receber para o desejo de doar. Nós nem conseguimos ver que essas coisas existem e que a nossa salvação está aqui.

Conseqüentemente, o ponto de livre escolha é muito, muito sutil. Nós podemos escolher um ambiente que nos levará a um estado onde a Luz Superior muda nossas qualidades, e através da ação dessa Luz, nós seremos capazes de entrar no reino espiritual. Mas sozinhos, sem um método ou ambiente social, nós não poderemos avançar para a espiritualidade.

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Termos como “mundos paralelos” e “universos paralelos” estão cada vez mais na moda. Muitos encontram a possibilidade de escolher seu futuro encantador. Existem meditações que oferecem a capacidade de escolher logo de manhã os eventos do dia seguinte. Psicologicamente falando, dessa maneira a pessoa está se “programando” e predeterminando uma maneira especifica de aceitar a Reshimot que surgirá naquele dia. Todavia, a pergunta que permanece é se nós podemos ou não criar uma realidade diferente fazendo isso.

Nós não podemos dizer que essa pessoa é excepcional, à medida que todos nós temos nossas predisposições sobre a vida. Todos nós temos hábitos com os quais começamos nosso dia, sejam eles exercícios físicos ou a visita a um terapeuta.

Se nós planejamos nosso dia de forma consciente ou inconsciente, a verdade é que a nossa imagem da realidade é totalmente determinada pela Reshimo dentro de nós. A Reshimo nos situa nessa imagem e cria nela todas as decisões. Do mesmo modo, os nossos esforços conscientes para “escolher” o que acontecerá é resultado da revelação da Reshimo, e nada mais.

 

A Memória

Todas as imagens que compõem a nossa vida estão interconectadas. Portanto, evocar certa Reshimo muitas vezes nos faz lembrar experiências passadas. Nos não gerimos nossa memória, nem conseguimos extrair algo delas ou esquecê-las. A Reshimo determina absolutamente tudo. Nós apenas nos movemos “por cima” das experiências que despertam e agem dentro de nós. Se a percepção da Reshimo exige isso, as memórias passadas surgirão por si mesmas.

Tudo que nós experimentamos permanece dentro de nós; nada desaparece. Uma Reshimo que desperta no desejo da pessoa é percebida contrária à Luz e produz um discernimento sobre o que está acontecendo naquele momento. Posteriormente, outra Reshimo desperta, e como as Reshimot estão conectadas, essa nova Reshimo usa a Reshimo antiga conforme a sua necessidade.

Quando muitas outras Reshimot tiverem ido e vindo, a primeira Reshimo é perdida da memória e a imagem que ela criou desaparece das sensações. Essas sensações devem reaparecer mais tarde se forem necessárias para a percepção de uma nova Reshimo. Assim, nós discernimos uma cadeia de experiências na qual as Reshimot tornam-se ativas e passivas, e à medida que essas Reshimot são percebidas, elas acumulam impressões dentro de nós.

Esse processo se desenvolve “Acima” de nós; por isso nós não podemos abordar nossa memória e atrair imagens especificas dela. Por exemplo, quando caminhamos numa rua nós podemos encontrar um cheiro familiar que nos faz lembrar brevemente uma cena da nossa infância. Assim como a cena aparece, ela desaparece, e nós não conseguimos entender o propósito disso. No entanto, nada no mundo é por acaso; todas as memórias surgem somente de acordo com sua necessidade de realização da atual Reshimo.

Todas as almas estão conectadas dentro de um sistema único e abrangente. No entanto, nós podemos dizer que essa memória também é comum a todas elas. Isto se torna cada vez mais claro à medida que nos tornamos mais conectados com todas as outras almas. Quanto mais nós trabalhamos de forma consciente em direção a esse sistema, mais memórias surgirão em nos, e junto com elas, capacidades e realizações. Se nós subirmos ao nível de conexão com os outros e trabalharmos com seus vasos como se fossem nossos, certamente utilizaremos tudo dentro deles.

 

O Poder do Pensamento

O pensamento é uma força muito poderosa. No documentário “What the Bleep Do We Know?” (Quem somos nós?), o Dr. John Hagelin falou de um experimento de meditação em massa realizado em Washington. De acordo com o Dr. Hagelin, a meditação em massa reduziu o nível de criminalidade em Washington, produziu um resultado impressionante e o nível de criminalidade caiu 25% naquele verão.

Mesmo assim, nesse ato ainda não há liberdade de escolha, visto que é a Reshimo que realiza todo o processo: a decisão de realizar a meditação em massa e também a posterior diminuição no nível de criminalidade. Não obstante, agora nós desejamos trabalhar somente com o modus operandi dos desejos humanos e não com o nível acima dele, que nos “controla”.

Reunir um grupo de pessoas com uma meta única cria uma grande energia. Isto ocorre porque todos usam, inconscientemente, o sistema que já existe, onde eles já estão conectados. Mesmo que as pessoas se unam pela pior das metas, elas despertarão energias tremendas.

O pensamento muda a realidade porque ele é a expressão dos desejos. Ao querer que a realidade seja de um jeito ou de outro, nós aparentemente canalizamos o nosso futuro na direção desejada.

Se os níveis de criminalidade aumentam e milhares de pessoas se unem numa meditação para diminuí-los, eles diminuirão porque os participantes do experimento colocaram seus desejos naquela Reshimo. A Reshimo é puro potencial, e a atitude da pessoa em relação a essa Reshimo pode afetar a forma que ela tomará.

A união de pessoas num pensamento comum cria uma congruência com o estado de Ein Sof, onde todas as almas já estão conectadas. Nós deveríamos dizer que essa congruência existe mesmo quando a união não é realizada para se aproximar do Criador, isto é, da doação. Em outras palavras, a congruência com o sistema funciona apesar de sua conexão com o Criador. A união atrai força do “Alto”, que muda a maneira como a Reshimo parece se revelar. Mesmo assim, nós devemos lembrar que as nossas atitudes em relação à Reshimo são também predeterminadas dentro da Reshimo.

Vamos usar o exemplo da meditação em massa para esclarecer essa questão sutil da liberdade de escolha. Dois pontos precisam ser salientados:

  •  Depois do despertar do desejo de usar a força coletiva, a pessoa aplica essa força e alcança um resultado impressionante.
  • A ativação do desejo produz um resultado substancial porque a pessoa utilizou a Reshimo, o sistema, e a Luz.

Sinceramente, não existe um único ato em tudo isso que seja oriundo do indivíduo, já que a Reshimo empurrou essa pessoa à ação. Como qualquer outra máquina, a pessoa realizou um ato e produziu certo resultado. O único envolvimento do indivíduo no processo foi a documentação das causas e das conseqüências. De fato, como nós adquirimos uma existência independente na espiritualidade, o nosso conhecimento nada mais é que o registro das causas e conseqüências.

 

A Cadeia das Reshimot

A nossa percepção da realidade é a nossa sensação da Luz Superior. Os meios de detecção da Luz são chamados de “este mundo” ou “mundo espiritual”. Este mundo pertence à sensação da Luz Superior através de uma intenção egoísta, enquanto que a sensação do mundo  através de uma intenção altruísta é chamada de “mundo espiritual”. Estas descrições expressam  duas formas de relação para com a Luz Superior.

A nossa atitude em relação à Luz Superior define o nosso estado; ela determina em qual mundo e em qual nível estamos situados. Essa atitude é determinada pelas Reshimot que se desenvolvem a partir do nível zero. Essas Reshimot se desenvolvem por certa ordem, começando com o inanimado, vegetal, animal e falante (ou humano). O nível falante continua se desenvolvendo através dos níveis internos do inanimado, vegetal, animal e falante (espiritual). A cadeia das Reshimot determina tudo, e não existe nada além disso.

As Reshimot provocam em nós desejos cada vez mais fortes, começando com desejos físicos e existenciais (por sexo, comida e família), até desejos por riqueza, honra, poder, e terminando no desejo por conhecimento.

Os cientistas trabalham com os desejos mais elevados da espécie humana – desejos (Reshimot) por conhecimento e erudição. Assim que nós esgotamos todas as Reshimot no desejo egoísta de receber, somos obrigados a começar nossa correção a fim de avançar.

A Cabala começa onde a nossa capacidade de investigar a realidade termina. Isto acontece porque a sabedoria da Cabala permite que a pessoa mude uma Reshimo de egoísta para altruísta. Realizar uma Reshimo altruisticamente permite ao investigador transcender o nível de realização das Reshimot que despertam nele, o qual nos leva ao nível das Forças que coordenam a obtenção das Reshimot no mundo espiritual. No mundo espiritual, o investigador explora as Forças que formam as Raízes da realidade virtual da pessoa, as mesmas Forças que os cientistas buscam tão desesperadamente.

Os cientistas estão no mais alto nível evolutivo dos desejos deste mundo. Esta é precisamente a sua situação: eles não conseguem encontrar a raiz de tudo ou aprender o que acontece além da matéria. Eles são bem sucedidos em assumir que existe um Pensamento para além da matéria, e que esse Pensamento é provavelmente um pensamento de amor e doação. Eles chegarão até mesmo a declarar abertamente que deve existir uma forma diferente de investigar a realidade; aliás, eles não serão capazes de encontrá-la. É impossível mudar a abordagem inata da realização das Reshimot sem a sabedoria da Cabala.

Sem dúvida, a humanidade teve que realizar todas as Reshimot até o seu estado atual sem ser consultada sobre o assunto. Mas hoje, a humanidade encontra dentro de si um desejo de saber a razão de seu estado desesperador; o clamor que emerge do coração da humanidade invoca a revelação da sabedoria da Cabala. A Cabala ajudará a humanidade a realizar as Reshimot espirituais de acordo com as quais ela está agora mudando; as Reshimot que induzem a intensificação da busca espiritual de tantas pessoas.

Se a humanidade esperar até que seus investigadores alcancem a verdade por eles mesmos, sem a assistência da sabedoria da Cabala, ela poderá se encontrar numa avalanche de crises, fracassos e desastres sem precedentes. É isso também os que os Cabalistas têm tentado explicar à humanidade antes que ela caia nessas situações difíceis.

 

Descrevendo a Realidade

Do livro “Cabala, Ciência e o Sentido da Vida”

Nós poderíamos comparar o ser humano a uma caixa fechada com sensores: olhos, ouvidos, nariz, boca e mãos, representando os cinco sentidos: visão, audição, olfato, paladar e tato.

Como nós dissemos anteriormente, o principio fundamental na percepção da realidade é o da “equivalência de Forma”, o que significa equilíbrio de pressões. Os sentidos funcionam como sensores, cada um com reações diferentes a essa pressão, dependendo da composição do sensor. O sentido da visão evoca uma reação à luz, escuridão e cores; o sentido da audição evoca sons; o olfato evoca odores; o paladar, sabores; e o tato, sensações como macio, duro, quente e frio.

A reação dos sentidos é transferida ao centro de controle do cérebro, onde a informação é comparada com a informação que já existe na memória, o reservatório das impressões anteriores. Dessa maneira, nós processamos o que os nossos sentidos acumulam, determinamos a reação mais vantajosa e analisamos onde estamos e como agimos melhor em nosso ambiente. Quando o processo é completado, a informação é “projetada” numa “tela”, dentro do cérebro, retratando o que está ostensivamente à nossa frente (Figura 15).

Figura 15

Nesse processo, a parte circundante desconhecida se torna “conhecida”, e a imagem da realidade externa é criada. Todavia, a imagem não é a da realidade externa, mas apenas uma imagem interna, um resultado da estrutura dos sentidos humanos e dos dados preexistentes. Se nós tivéssemos sentidos diferentes, produziríamos uma imagem totalmente diferente. Provavelmente, se nós percebêssemos através de sentidos diferentes, que o que parece ser luz parecesse escuridão, ou mesmo algo tão fundamentalmente diferente que não podemos nem imaginar como isso pareceria para nós.

A ciência conhece esses fatos há algum tempo. Hoje, nós podemos substituir os sentidos usando recursos feitos pelo homem, como aparelhos eletrônicos. Apesar da ciência ainda ter que dominar totalmente essas técnicas, com o tempo ela será capaz de expandir o alcance dos nossos sentidos, de criar novos órgãos e até mesmo produzir um corpo completamente novo. Apesar disso, mesmo com um corpo novo, as imagens permanecerão internas. A ciência tem provado há muito tempo, que as sensações de estar em certos lugares e situações podem ser provocadas por estímulos elétricos no cérebro, em conjunto com o armazenamento de dados na memória.

Isso nos ensina que tudo o que nós sentimos vem de dentro, independente da realidade à nossa volta. Nós nem podemos ter certeza que existe uma realidade externa. Como a imagem do mundo “externo” está dentro de nós, os Cabalistas se referem ao mundo que vemos como “o mundo imaginário”.

Tudo é composto do desejo de desfrutar. Nos seres humanos, esse desejo geral de desfrutar perpetuamente, provoca desejos de tirar prazer de certas coisas, que mudam a qualquer momento. Combinado com as informações armazenadas na memória, esse desejo opera nossos sentidos em direção ao que desejamos momentaneamente. A evolução do desejo por prazer através das gerações, finalmente nos leva ao desejo por algo desconhecido, chamado “o ponto no coração”. Hoje, esse desejo está despertando em muitos de nós.

O problema com esse desejo é que não há dados correspondentes que se relacionem com ele em nossa memória. Mesmo os nossos sentidos não conseguem localizar uma fonte que satisfaça esse novo anseio. Quando esse desejo desperta em nós, nós ficamos impotentes, porque não há nada no mundo à nossa volta que possa satisfazê-lo. Mas quando este desejo desperta, ele torna nossas vidas anteriores à sua aparição parecerem repulsivas.

O ponto no coração é o início de um sistema sensorial totalmente novo, completamente desconectado do atual sistema natural. Quando esse sistema novo estiver totalmente desenvolvido, ele será chamado de “alma”. A alma conterá um cérebro novo, uma nova memória e uma nova “tela”. Usando-a, a pessoa vê uma imagem completamente nova do mundo, a imagem do mundo espiritual. Por isso, existem dois sistemas sensoriais separados que operam igualmente: o sistema natural corpóreo, e o sistema espiritual.

No sistema natural, a imagem do mundo surge no momento do nascimento. Nós não precisamos fazer nada para criá-la, o que já é uma diferença substancial do sistema espiritual. Nós experimentamos muitas coisas na vida, experiências que enriquecem e desenvolvem nossa memória, aumentam nossa capacidade de processar maiores sutilezas e fazer inúmeras conexões e conotações. Como resultado, a imagem criada em nossa mente torna-se cada vez mais lúcida. Essa é a diferença entre a percepção de mundo do bebê e a percepção do adulto.

Para que o ponto no coração se desenvolva num sistema de percepção espiritual, a pessoa deve adquirir um grande desejo por isso. Como o mundo espiritual está oculto, o único jeito de intensificar o desejo por ele é através do ambiente apropriado. Quando a pessoa quer progredir espiritualmente, ela é levada a um ambiente apropriado, conforme a medida do desejo de receber. Este é um processo natural que acontece como resultado da lei de equivalência de Forma, na qual a pessoa está situada no sistema espiritual de acordo com seu desejo de participar dele.

Esse ambiente compreende três elementos: um guia Cabalista, textos Cabalísticos e uma sociedade de pessoas com desejos semelhantes. A partir de agora, a evolução da pessoa depende do seu desejo de utilizar esse ambiente corretamente, ou seja, para aumentar o desejo pela espiritualidade. Quando, e somente quando, o desejo pela espiritualidade crescer até a intensidade exigida para criar outro sistema sensorial, é que a imagem do mundo espiritual será criada nela.

Este é o único propósito pelo qual os textos Cabalísticos foram escritos. Ao estudar corretamente esses textos, a construção da alma é facilitada. O Baal HaSulam (Cabalista Rabbi Yehuda Ashlag) descreve isso da seguinte maneira:

Portanto nós devemos perguntar: Por que os Cabalistas obrigam cada pessoa a estudar a sabedoria da Cabala? Certamente existe uma grande importância nisso, digno de ser publicado: existe um remédio maravilhoso e inestimável para aqueles que se empenham na sabedoria da Cabala. Apesar deles não entenderem o que estão aprendendo, através do anseio e de um grande desejo de entender o que estão aprendendo, eles despertam sobre si mesmos a Luz que circunda suas almas.

…quando a pessoa se ocupa com essa sabedoria, mencionando os nomes das Luzes e dos vasos relacionados com a sua alma, estes imediatamente brilham sobre ela em certa medida. Porém, eles brilham para ela sem revestir o interior de sua alma, por falta de vasos capazes de recebê- los. Apesar disso, a iluminação que a pessoa recebe continuamente durante o empenho atrai sobre si bênçãos do alto, transmitindo-lhe abundancia de santidade e pureza, que a aproximará de alcançar a perfeição.

–Baal HaSulam, Introdução ao Estudo das Dez Sefirot, item 155

Uma vez que a primeira imagem da nova realidade surge, o restante da evolução se revela num processo que os Cabalistas chamam de “a alma da pessoa a ensina”. A imagem do  mundo corpóreo torna-se mais nítida à medida que a pessoa amadurece e acumula impressões. Aqui também a pessoa acumula sensações e impressões do mundo espiritual que enriquecem a nova memória e as capacidades analíticas da nova mente. Conseqüentemente, a imagem do mundo criada dentro do novo sistema sensorial se torna muito mais clara.

A morte do corpo biológico significa que o sistema natural deixou de funcionar. Os sentidos não transferem as informações para o cérebro, e o cérebro pára de projetar as imagens do mundo corpóreo na “tela” dentro dele. Como nem os desejos ou satisfações no ponto do coração – a partir do qual evolui o sistema espiritual – pertencem a esse mundo, esse ponto continua existindo depois da morte do corpo.

Se a pessoa chega a perceber sua existência no sistema espiritual e se identifica com ele antes da morte do seu corpo, ela continuará sentindo sua existência espiritual depois da morte do corpo. Este é o significado de existência na alma.

*

De acordo com os Cabalistas Baal HaSulam e o Santo Ari, para citar apenas dois, tudo que existe fora de nós é a Luz que preenche toda a realidade, e que está em completo repouso. Apesar de nós estarmos dentro dessa Luz, nós sentimos como se existíssemos dentro de um corpo situado dentro de um universo circundante.

Todavia, como declarado anteriormente, as impressões nos preenchem através dos cinco sentidos. Portanto, se tudo que existe a nossa volta é a Luz imutável, o que é que nos faz perceber mudanças constantes?

Para responder essa pergunta, nós devemos retornar às Reshimot (recordações). Como nós dissemos antes, dentro do desejo de receber existe uma cadeia de Reshimot, uma cadeia que evoca continuamente novas Reshimot. A imagem interna do mundo que nós experimentamos é, na verdade, uma manifestação da diferença, das contradições entre a atual Reshimo ativa (singular de Reshimot) e a Luz.

A Luz fora de nós não muda; somente as Reshimot dentro de nós mudam. Nossa percepção de nós mesmos, e do mundo a nossa volta, resulta da projeção das mudanças internas que se revelam em nosso desejo sob a Luz constante e em repouso. A renovação das Reshimot e a forma como a pessoa as percebe cria nossas imagens mutáveis do mundo.

 

Recobrando a Consciência

Do livro “Cabala, Ciência e o Sentido da Vida”

Nós e o Mundo

Desde o nascimento, nós possuímos as ferramentas para perceber a realidade física. Dentro dessas ferramentas estão “bits de informações” sobre os estados e condições que estamos destinados a realizar — as Reshimot. Por meio da influência da educação e do ambiente em que vivemos, nossas ferramentas se desenvolvem até que tenhamos uma percepção “normal” da realidade física.

Porém, este não é o caso no que se refere à percepção da realidade espiritual. Nós não possuímos nenhum “padrão” pelo qual possamos testar se estamos construindo nossos vasos interiores corretamente, de forma a revelar o atributo de doação e a descoberta da realidade espiritual.

Nós não sabemos o que fazer com os nossos desejos, como dar forma a eles, e com que intenção devemos prepará-los. Para nos ajudar nesta tarefa, os Cabalistas nos fornecem as definições necessárias. Eles nos ensinam como podemos calibrar nossas ferramentas de percepção para percebermos a realidade espiritual.

Nós percebemos a realidade física de forma predeterminada; nós nascemos e crescemos sem sermos questionados sobre a nossa opinião a respeito desse assunto. Os padrões de percepção física que foram formados em nós durante o nosso amadurecimento, nos fazem sentir a Luz do Mundo de Ein Sof. Essa Luz, na realidade, está oposta a nós o tempo todo: a realidade física  dentro da qual nós e o mundo a nossa volta existem.

Apesar disso, no que diz respeito à realidade espiritual, nada é pré-determinado. Nós temos que encontrar nossas próprias formas de percepção da espiritualidade, e somente as ferramentas que nós construirmos fornecerão a cada um de nós o entendimento sobre o Criador, a Força Superior que tudo constrói e influencia.

Nós deveríamos ter em mente que a realidade é formada dentro de nós. Nossas qualidades interiores refletem uma “sombra” sobre a Luz abstrata, criando assim nossa imagem do mundo, tanto espiritual como físico. Assim, a maneira com a qual nós perceberemos o Criador dependerá somente de nossas próprias qualidades.

*

A sabedoria da Cabala tem mantido sua posição em relação à percepção da realidade por milhares de anos. Inversamente, a ciência cultivou sua abordagem através de diversos estágios muito importantes.

A percepção clássica, cujo protagonista foi Isaac Newton, declara que o mundo existe por si mesmo, sem considerar se estamos ou não lá para percebê-lo. Assim que a ciência biológica se desenvolveu, ela possibilitou que víssemos o mundo através dos olhos de outras criaturas. Nós descobrimos que diversos animais percebem o mundo de maneira muito diferente.

Por exemplo, a abelha vê milhares de imagens, que se misturam para criar uma imagem do mundo a sua volta. O cachorro percebe o mundo, O cachorro percebe o mundo, antes de tudo, como “borrões de aroma”. Por isso, Einstein descobriu que a mudança da velocidade do observador produzia uma imagem completamente diferente da realidade.

Essas descobertas revelaram uma segunda abordagem, a qual afirma que a imagem do mundo depende do observador. Observadores com qualidades e sentidos diferentes percebiam uma imagem diferente do mundo. Portanto, como na primeira abordagem, o mundo continuava existindo independente dos seus observadores. A diferença entre a primeira e a segunda abordagem é que o mundo parece diferente aos olhos de observadores diferentes.

Uma terceira abordagem desenvolvida sugeria que o observador afeta o mundo, e, portanto, afeta a imagem percebida. De acordo com a terceira escola, a percepção da realidade é como uma média da imagem entre os atributos do observador e os atributos do objeto observado.

Em outras palavras, o observador percebe algo de certa maneira porque é assim que ele é formado, comparado à qualidade real do mundo. Essa abordagem afirma que existe uma relação entre o individuo e o mundo, no sentido que o observador influencia a imagem do mundo que ele percebe.

A diferença entre a segunda e a terceira abordagem é a seguinte: a segunda abordagem declara que nós não afetamos o mundo, e que a imagem do mundo muda aos nossos olhos porque nós mudamos. Entretanto, a terceira abordagem declara que nós afetamos o mundo, que a nossa percepção do mundo é uma combinação das qualidades do individuo e aquelas do mundo. Atualmente, alguns proclamam que existem infinitas possibilidades, e que o observador “escolhe” qual delas perceber, de acordo com os seus atributos.

Esta ultima abordagem é a mais próxima da abordagem Cabalística. A diferença fundamental entre elas está na definição da “existência do mundo”. Afirmar que o mundo possui infinitas formas possíveis baseia-se na teoria de que se eu agir de um determinado modo o mundo “reagirá”.

A abordagem Cabalística declara que o mundo é totalmente abstrato; ele não assume forma alguma, seja ela qual for. Não existe nada fora de nós, apenas a Luz abstrata e imutável. Mesmo quando nós mudamos em relação à Luz e percebemos um pouco Dela, nenhuma mudança é causada na Luz propriamente dita. Tudo que nós percebemos é nossa medida de congruência interna com a Luz, nada mais.

De tudo que nós temos dito até agora podemos ver que a nossa vida real é muito diferente daquilo que percebemos. A imagem da realidade para cada um de nós depende totalmente dos nossos atributos internos. Esta imagem é formada de projeções dos nossos próprios atributos sobre a Luz abstrata.

Na verdade, o fato de que nossas vidas são uma conseqüência natural do que acontece dentro de nós, traz implicações profundas: todos os processos que experimentamos, incluindo a vida e a morte, são resultados diretos das percepções dos nossos vasos. Além disso, depende de nós a mudança dessas percepções. A mudança em nossos vasos permitirá com que passemos de mundo para mundo e de realidade para realidade. Assim, nós poderemos alcançar o nível mais alto de existência, onde estamos totalmente incorporados na Luz abstrata.

 

Experimentando Ein Sof (Infinito)

A única diferença entre os vasos que percebem a realidade corpórea daqueles que percebem a realidade espiritual está na intenção. Os vasos corpóreos são egoístas e os vasos espirituais são altruístas. A intenção está relacionada à nossa atitude em relação ao uso que fazemos de nossos desejos.

O único estado que realmente existe é o estado de Ein Sof (Mundo Infinito). Nesse estado, a Luz está presente dentro do Kli. Todavia, esse estado está oculto e esse ocultamento nos impede experimentar o estado de Ein Sof. A intenção altruísta remove gradualmente esse ocultamento e expõe a Luz que preenche de forma permanente o Kli.

Se nós tivermos em mente essa imagem, lembraremos que nunca revelamos qualquer Luz fora do vaso. Quando os Cabalistas dizem que as Luzes entram e saem dos vasos, eles querem enfatizar como nós nos aproximamos da realização do estado constante. Em termos Cabalísticos, Ein Sof é  o estado de “repouso absoluto”, isto é, imutável. O nosso trabalho é preparar gradualmente nossas ferramentas de percepção, de modo a percebermos esse estado. Assim, a única mudança está na nossa capacidade de perceber.

Quando a Luz “veste” a pessoa, e a pessoa sente como a Luz entra de forma gradual, o estado constante torna-se gradualmente mais nítido à medida que a pessoa desperta para senti-lo. A Luz, na verdade, nunca entra ou sai. Ela apenas fica mais evidente e evidente, isto é, mais revelada e menos oculta.

À medida que a Luz torna-se mais evidente no Kli, ela nos mostra que, na realidade, estamos no mundo de Ein Sof, no estado constante, e que devemos descobrir que este é o nosso único estado de existência. Desse modo, a Forma Abstrata não existe. A Luz que criou o Kli, preencheu-o imediatamente. Não existe intervalo de tempo entre a criação do Kli e seu preenchimento. Quando os Cabalistas dizem que a Luz emana do Criador, eles querem dizer que já existe o Kli que é preenchido por Ela.

Não devemos nos esquecer disso, que diferente da nossa linguagem relacionada com o tempo, não existe tempo na espiritualidade. É por isso que dizemos que o Kli foi primeiro criado e depois preenchido. Mas na espiritualidade, essas fases são simultâneas: o princípio e o fim ocorrem no mesmo instante.

Portanto, a Forma Abstrata realmente não existe, visto que a Forma, ou Luz, já está revestida no vaso. A nossa imaginação pode separar a Luz do Kli. Nós também podemos supor que a Luz dentro do Kli provavelmente exista fora do Kli, apesar de não termos a percepção do que está fora do Kli.

Vamos tentar demonstrar esse conceito: suponha que exista um Kli no qual eu percebo toda a realidade. Suponha também, que exista outro Kli onde eu percebo algo dessa realidade, e mais um Kli em que eu não possa perceber nada. Corrigir meus vasos refere-se à expansão dos meus vasos, dos menores aos maiores, e muito mais. Se eu digo que a Luz preenche meu vaso, isso não significa que Ela não o preencheu anteriormente, mas que agora eu descobri essa realidade de fato.

Nós podemos comparar esse processo a um paciente inconsciente que readquire a consciência lentamente. Seus parentes e amigos o cercam, esperando que ele acorde. Assim que abre lentamente os olhos, ele começa a reconhecer sua situação. Da perspectiva do paciente, a realidade “veio até ele”, e preencheu seus vasos de sensação, pois nós medimos tudo da perspectiva do receptor.

O termo Ein Sof, não se refere a nada fora das criaturas. Ele se refere ao Pensamento da Criação. A Forma final das criaturas já está presente no Pensamento da Criação. Todas as criaturas, sem exceção, já estão nesse estado com todos seus sentimentos. Portanto, o nosso estado atual é portanto chamado de “estado imaginário”. Nós somos esse paciente inconsciente; pensamos que existimos de certa maneira, e estamos gradualmente despertando para perceber a realidade atual. No fim do processo, toda criatura estará totalmente consciente de sua verdadeira condição.

Em sua Introdução ao Livro do Zohar, o Baal HaSulam descreve três estados que as almas experimentam no seu processo de despertar para o seu verdadeiro estado. O primeiro estado é o começo da Criação e contém tudo que mais tarde se desenvolverá. O segundo estado é o nascimento das almas. O terceiro estado é quando as almas obtêm o que já estava presente no primeiro estado. Em outras palavras, o primeiro estado refere-se à existência potencial das almas; no segundo, elas estão inconscientes, e no terceiro elas retornam ao seu estado original.

Nós estamos acostumados a um “modus operandi’ (modo de ação) no qual primeiro nós decidimos fazer alguma coisa, depois executamos nossa decisão, e obtemos o resultado planejado no fim da execução da nossa decisão. Contudo, o Criador é completo. Desta forma, para Ele não existe diferença entre a decisão e a execução. O conceito de tempo não se aplica ao Criador. É por isso que nós dizemos que no Pensamento da Criação fazer o bem às Suas criaturas, no começo, no meio, e no final estão integrados de forma inseparável. Apenas a nossa percepção é que divide esse Pensamento em três camadas.

O conceito de tempo se aplica às criaturas porque nós não estamos corrigidos. Existem três estados para nós: (1) corrupção, (2) preparação para a correção e correção, (3) equivalência de Forma, e preenchimento. Esta seqüência de ações cria a nossa sensação de tempo.

À medida que as Reshimot emergem em nós, elas nos fazem querer e pensar em várias coisas. Quando as Reshimot mudam, meus pensamentos também mudam. A diferença entre o meu pensamento de um minuto atrás e o meu pensamento atual cria a sensação de que o tempo está passando. Quando nossos pensamentos e desejos mudam lentamente, sentimos que o tempo está se “arrastando”. Inversamente, quando novos pensamentos e novos desejos emergem rapidamente em nossa mente, sentimos que o tempo esta’ “voando”.

Ao adquirirmos o primeiro nível espiritual, nós sentimos que estamos num processo espiritual, isto é, num tempo espiritual. Nesse estado, nós não sentimos mais o tempo corpóreo e nos identificamos complemente com o processo espiritual, onde o tempo é medido pelas mudanças e ações relativas ao nosso contato com o Criador.

A freqüência desse vaivém de “sinais”, de nós (agora Cabalistas) até Ele, cria a sensação de tempo. Isso não é mais uma questão do número de anos que passamos em nosso corpo físico. Quando todas as Reshimot emergem, elas são corrigidas e preenchidas com todas as Luzes, a alternância de estados acaba. Como não existem mais deficiências para se preencher e nós estamos num estado de perfeição, as sensações de tempo, espaço, e movimento, também acabam.

 

Para Construir Uma Casa

A compreensão da formação da Criação pode ser simplificada através de um exemplo: uma pessoa que deseja construir uma casa, primeiro vai imaginá-la na forma final. Depois, ela deve, cuidadosamente, planejar os estágios e, então, executá-los.

Isso não ocorre com o Criador. No minuto em que o Criador pensou em criar as criaturas, isso foi feito, e elas surgiram na sua forma corrigida. Desse modo, da perspectiva do Criador, estamos na nossa forma corrigida. Não faz diferença que descubramos nossa verdadeira condição de forma gradual.

Por isso, quando nós queremos receber força, nos dirigimos ao estado de Ein Sof (Infinito), que chamamos de “Criador”. Para receber força e discernimentos, nós nos dirigimos à realidade corrigida, onde já existimos, e que devemos almejar. Ein Sof é o Pensamento (ou Idéia), e o  mundo de Atsilut é o projeto detalhado: estas são as duas fases que precedem a execução do Pensamento. Isto se parece com o modo como a pessoa pensa quando constrói uma casa ou  mesmo quando coloca suas idéias no papel sem ter os materiais.

Abaixo do mundo de Atsilut está o Parsa, a separação entre Atsilut e o mundo abaixo dele. As criaturas começam do Parsa para baixo. No entanto, o Criador não tem que esperar pelas ações das criaturas. Para Ele, o Pensamento e o Projeto são a totalidade da realidade. Abaixo do Parsa estão os mundos de Beria, Ietsira, Assia, e abaixo deles está Este Mundo (Figura 14).

Figura 14

A Luz desce do mundo de Atsilut para baixo de acordo com o desejo de cada pessoa de “construir a casa”. Este desejo, que a pessoa eleva em direção à Luz, é a sua intenção de agradar ao Criador e assemelhar-se a Ele. Em outras palavras, é a intenção de obter a equivalência com o Criador.

O processo de doar ao Criador consiste de um princípio e um fim. Não só o começo e o fim pré- existem, mas também cada um dos estágios intermediários. A pessoa sabe antecipadamente os estágios que deve passar, porque conforme o projeto, a definição prévia de cada estágio origina-se do Kli ter que se submeter a uma correção gradual.

Existem diversos desejos no Kli, os quais estão todos interconectados. Eles podem ser comparados aos órgãos de um corpo, onde a cada órgão é solicitado que desenvolva a intenção de doar. A correção de um desejo influencia todos os outros, que devem se desenvolver em seus devidos lugares na ordem de correção. Não existe nada na vida de uma pessoa que não seja pré- determinado pela estrutura do desejo de receber, do mesmo modo que o caminho da correção é predefinido e dividido em ordens predeterminadas.

Nós estamos sempre num estado perfeito, mesmo agora. À medida que as Reshimot  emergem e nos colocam em situações variadas, tudo que fazemos é perceber cada uma delas. Não podemos escolher as situações que vamos experimentar, mas podemos ser assistidos pelo ambiente de modo a perceber os estágios de forma mais efetiva. Dessa maneira, avançaremos de uma situação para a outra.

Além disso, até a maneira com a qual percebemos os estados em que nos encontramos é predeterminada. Nada é novo na perspectiva do Criador; isso só está oculto de nós para que possamos escolher nos desenvolver espiritualmente de forma independente. Depois, quando isso não afetar mais os nossos esforços, descobriremos que nossos sucessos e fracassos em atingir esses estados também eram pré-determinados. Quando isso ocorrer, estaremos absolutamente integrados na orientação perfeita do Criador.

Se nós nos corrigíssemos além do nosso interesse nos resultados que sentimos em nossos vasos, não seríamos mais influenciados pelo que acontece no início, meio e fim. Semelhante ao Criador, o início, meio e fim seriam igualados em nós, tornando-se um só estagio. É por isso que aqueles que se corrigem transcendem o tempo e o efeito dos estágios temporários. A correção que devemos realizar consiste essencialmente em nos desligarmos de nosso auto-interesse.

Nós podemos definir a criatura como “algo” que sente a si mesmo separado do Criador, e que está aparentemente em seu próprio direito. Do ponto de vista da criatura, a casa ainda não está terminada. A criatura sente que pode contribuir com alguma coisa na construção dela.

Quando a criatura começa a querer descobrir o projeto com o intuito de completar a construção da casa, considera-se que ela voltou a Ein Sof por si mesma. Esse esforço de buscar conselho e força para entender o projeto do Criador e percebê-lo, traz à criatura uma familiaridade constante e profunda com o plano, e à subseqüente inclusão na casa terminada.

Todavia, esse processo se desenvolve exatamente quando a criatura está aparentemente adicionando cada parafuso, prego, tijolo e cimento na construção. Essa adição, constitui o desejo da pessoa de estar incorporada na casa, e não a construção real dela. O material bruto, os metais, a madeira, e os tijolos, são os desejos. A pessoa só precisa querer colocar cada desejo no seu devido lugar, de acordo com o Plano do Criador. Ao construir uma casa feita de desejos, a pessoa adquire o Pensamento do Criador. Esta é a recompensa da criatura.

O Pensamento da Criação só pode ser alcançado nesse mundo. Enquanto existe neste mundo, o Cabalista estuda gradualmente as ações do Criador diretamente d’Ele, e começa a querer fazer o mesmo. Os Cabalistas chamam esse processo “de suas ações nós o conhecemos”. O resultado desse processo é a obtenção da Mente do Criador, o Seu Pensamento.

O Pensamento do Criador precede a criação da criatura. Desse modo, ao obter isso, a pessoa não somente retorna ao local de seu nascimento, como também se eleva ainda mais, transcendendo o nível de “criatura” e alcançando o nível real do Criador. Nesse ponto podemos dizer que eles são uma só mente, em adesão, ou equivalência de Forma.

Para ser exato, o projeto surge no primeiro contato com a espiritualidade. Isto porque cada nível espiritual é uma estrutura completa de dez Sefirot. O material do prédio, sua estrutura, mesmo o seu construtor, tudo se torna conhecido com o surgimento da primeira imagem.

Depois da admissão no mundo espiritual, a pessoa torna-se muito mais familiarizada com a sua estrutura, porque a espiritualidade é construída somente com o consentimento dela, em todos os passos do processo. O consentimento pertence à intenção da pessoa de doar, a intenção altruísta. A independência e a liberdade escolha da pessoa, o seu “local de trabalho”, está em concordância com a intenção altruísta. Este é o acréscimo que o Criador nunca acrescentou, nem pode acrescentá-lo.

O Mundo de Ein Sof é a casa que o Criador dá à criatura com tanto amor, mas a pessoa deve devolver o mesmo amor a Ele; ao fazer isso, ela aparentemente constrói a mesma casa para o Criador. Desse modo a criatura devolve as ações do Criador, iguala-se a Ele e, conseqüentemente, eleva-se ao Pensamento da Criação.

 

Os Mundos Estão Dentro

Os Mundos Superiores e seus níveis existem somente em relação a nós, não neles mesmos. Os mundos existem em potencial, esperando que nós os corrijamos e descubramos suas formas espirituais. Nesse estado, nós seremos imediatamente apresentados com todos os níveis entre nós e Ein Sof, começando com o próximo nível adjacente.

Uma carga elétrica num campo magnético “sente” a influencia do campo sobre ela e, desse modo, “sabe” que esse campo existe. Se a carga não estivesse dentro do campo, ela não teria “sentido” o efeito do campo magnético; de fato, ela nem saberia que o campo existe.

Igualmente, quando deixamos a atmosfera da terra, descobrimos que o espaço distante e’ escuro. Isso pode soar estranho , considerando que os raios solares se espalham através do espaço, mas se não existe nada que fique no caminho desses raios e os “capte”, não poderemos detectar a existência dessa luz.

Outro bom exemplo desse principio pode ser observado quando nós assistimos à luz solar entrar num quarto por uma janela aberta quando existe alguma poeira no ar. Nós só podemos detectar os raios por seus reflexos na poeira do ar. Em outras palavras, se a criatura não sente nada, ela não pode dizer existe algo lá fora. Em tal estado, nós dizemos que tudo que existe é o Pensamento da Criação, que deseja fazer o bem para aquilo que foi criado.

A criatura, que está em Ein Sof, descobre Ein Sof de acordo com sua relativa correção ou corrupção. O grau de intensidade no qual ela sente a Luz em cada nível espiritual, de Ein Sof até a criatura, só depende dela mesma. Por essa razão, nós dizemos que todos os mundos estão dentro de cada criatura, e somente depois de percebermos certas partes do Pensamento da Criação nos tornamos cientes da existência desse Pensamento. Nós não podemos falar de Criador, realização ou satisfação, quando isso não vem de dentro do individuo realizado, isto é, se não há Kli, não há Luz. Em outras palavras, sem a criatura não existe o Criador.

 

Acelerando o Desenvolvimento

A Luz de Ein Sof preenche toda a realidade e todo desejo de receber que Ela criou. Ela age dentro dele para fazê-lo igualar sua forma com Ela. A pressão da Luz no desejo de receber é constante, imutável em quantidade e na qualidade. Como conseqüência, mudanças permanentes se revelam no desejo de receber, que nós chamamos de “providência geral”. Como essa atitude é permanente e imutável, ela é chamada de “o Ein Sof que está em repouso absoluto”.

O termo “Ein Sof” enfatiza que o Criador é imutável e que o Seu propósito é também imutável: levar a criatura ao Gmar Tikun (Fim da Correção). O progresso em direção ao Gmar Tikun é realizado através da pressão da Luz sobre o Kli, que no final fará com que Kli sinta que está em contradição com o estado da Luz.

Por causa da pressão que isso causa, os Cabalistas se referem a esse caminho como “o caminho da dor”. Enquanto nós trilhamos esse caminho, tudo acontece no devido tempo, a pressão constante da Luz no Kli induz a formação de muitas formas no Kli até que elas são exauridas e o Kli alcança seu Gmar Tikun.

No final da evolução natural do desejo de receber nos humanos, depois de muitos ciclos de vida, a pessoa começa a sentir que existe algo superior, um Doador. Nessa fase, ela começa a acumular discernimentos que não pertencem ao desejo de receber, mas ao desejo de doar que se infiltrou no desejo de receber na quebra dos vasos.

Em tal estado, a pessoa está entre duas forças: o desejo de doar e o desejo de receber. Tal estado permite que a pessoa acelere o seu desenvolvimento e progrida mais rápido do que a pressão natural da Luz sobre o Kli permitiria.

Todavia, a aceleração da evolução em direção aos atributos da doação não pode ser feita de dentro do ego da pessoa. O único jeito de adquirir o atributo da doação é recebê-lo do  Criador.  O trabalho do indivíduo é achar um jeito de receber a Forma da doação “do Alto”, sem experimentar totalmente os infortúnios no Kli, os quais forçariam o indivíduo a fugir da recepção para a doação pela dor e o sofrimento.

A escolha desse caminho é chamada de “evolução de baixo para cima”. Nela, nós caminhamos em direção à pressão da Luz e sistematicamente atraímos sobre nós todos os estados, um por um. Tomando esse caminho, nós queremos progredir em direção ao Criador, em direção à aquisição da Forma de doação, e ao fazê-lo, nós escapamos dos outros estados.

O grande benefício desse caminho alternativo, chamado de “caminho da Luz”, é que a pessoa experimenta os mesmos estados, todo e qualquer desejo, e sua oposição ao Criador, mas não devido à pressão da Luz por trás, mas devido ao anseio pela Luz. Esse caminho permite que a pessoa experimente rapidamente o discernimento necessário e de uma maneira mais controlada. O caminho da Luz é como descobrir que nós estamos doentes, e tomar o remédio adequado antes da doença piorar. Por isso, o nosso próprio anseio pode nos poupar grandes sofrimentos e problemas.

Se nós formos atraídos pela Luz por nossa própria iniciativa, isto é, pelas Formas de doação acima do desejo de receber, nós escaparemos de muitas aflições. É por isso que a sabedoria da Cabala foi dada ao ser humano. Sem ela, a humanidade progrediria de forma natural, passo a passo, cada fase durando até que sua negatividade fosse totalmente exposta, e fôssemos forçados a entrar no próximo estado. Ensinar a sabedoria da Cabala, e como usá-la para atrair a Luz, nos ajudará a evoluir de um jeito muito diferente, de forma agradável e rápida.

 

Construindo o Criador Interiormente

Como já havíamos explicado antes, todas as mudanças se revelam dentro de nós, apesar delas parecerem estar ocorrendo fora de nós. Nós devemos entender que sem experimentar que as mudanças estão ocorrendo fora de nós, nos não seríamos capazes de fazer contato com o Criador ou mesmo pensar que o Criador existe ou tem qualquer relação conosco. É exatamente essa ilusão que nos possibilita perceber a Luz como algo que existe fora de nós.

Quando nós relacionamos o que acontece dentro de nós com a existência de um Criador externo, nós podemos construir uma atitude em relação a isso e entender quem é o Criador e como Ele quer doar para nós. Se nós não relacionássemos nossas experiências internas ao Criador, não conseguiríamos perceber nada Dele. Além disso, teríamos sido incapazes de construir a intenção de doar ao Criador.

À medida que nós nos desenvolvemos, nós construímos gradualmente uma imagem verdadeira do Criador. No final do processo de construção nós alcançamos a Luz Simples, o Doador, O Bem Supremo, Aquele que esta num estado de amor eterno e imutável.

A sensação ilusória de que existe uma conexão entre o Criador e a criatura muda de acordo com as mudanças na criatura. Isto permite que a pessoa imagine o Criador de acordo com o seu próprio atributo. De fato, ao fazer isso, a pessoa constrói o Criador interiormente; não existe outra forma de sentir o Criador.

Projetar os atributos da pessoa sobre a Luz abstrata ilumina o nível acima do nível atual da pessoa, que é o nível que a pessoa imagina como o Criador. Por isso, nós atribuímos o nível logo acima do nosso, que atingiremos depois, como o Criador. Uma vez que nós alcançamos a equivalência com os atributos de doação naquele nível, “tomamos” o lugar do Criador. Agora, essa pessoa está no lugar onde o Criador estava antes (aos nossos olhos).

Assim, à medida que evoluímos, nós sempre imaginamos o próximo nível através de nossas qualidades corrompidas. Nós construímos a imagem do Criador, à qual aspiramos nos tornar, em relação às nossas próprias qualidades. Essa é a única maneira de nós percebermos qualquer Forma do Criador, a única maneira de nos aproximarmos da Luz abstrata.

Esta sensação imaginária nos ajuda a construir o nível atual e também o próximo. Ela facilita o nosso entendimento para onde devemos nos voltar quando queremos reunir forças. Apesar disso se revelar interiormente, a imagem do Criador que nós construímos demonstra a diferença entre nosso estado atual e o próximo. Desse modo, nós percebemos a diferença entre o Criador e nós. Esta é a única maneira de aprendermos o que está Acima, pois o Criador não tem uma Forma que possamos perceber. Por essa razão, nós construímos o Criador dentro de nós.

Padrões De Percepção

Do livro “Cabala, Ciência e o Sentido da Vida”

Modos De Aprendizagem

Nossas ferramentas de percepção nunca podem perceber a Essência, independente do nosso nível. Embora o que nós percebemos é de fato a Essência, só podemos percebê-la através da Matéria, e não podemos sequer imaginar como ela se parece. Além disso, nós não podemos nem mesmo querer perceber a Essência.

Por exemplo, nenhum de nós sente que um sexto dedo adicional seria bem vindo. No entanto, se nós pudéssemos imaginar que tínhamos alguma vez um sexto dedo, e que podíamos fazer algo com ele que não fazemos hoje, então poderíamos falar da necessidade de um sexto dedo. Mas se nós nunca tivermos um dedo adicional, não poderemos nem mesmo imaginar como ele nos beneficiaria. É por isso que nunca vamos querer um sexto dedo.

Da mesma forma, uma vez que nós nunca sentimos a Essência, não podemos querer percebê-La. A realização da Matéria, a manifestação das ações da Essência que está presente na matéria, é bastante satisfatória.

A discussão acima levanta uma questão importante: Se nós não podemos perceber a Essência, como é que os Cabalistas sabem que ela existe? Por enquanto, nós deixaremos esta questão sem resposta, mas nós prometemos voltar a ela mais tarde.

*

O desejo de receber é a Matéria. Ele é dividido em cinco níveis. Quando o desejo de receber é integrado  à  intenção  de  doar,  ele  adota  diversas  Formas,  desde  a   mais   oposta   ao   Criador até a Forma do próprio Criador. Enquanto nós evoluímos espiritualmente , nós gradualmente estudamos todas as qualidades que a Matéria pode assumir. Isso é chamado de “Aprendizagem Formativa”.

Nós temos um desejo genuíno de adquirir as Formas de doação que estão revestidas na Matéria. Um desejo genuíno significa que este é um desejo que decorre de se ter tido essa Forma anteriormente e não tê-la agora.

A nossa matéria, o desejo de receber, foi criado em uma Forma corrigida, ou seja, na Forma de doação, que foi depois invertida em recepção. Readquirir a Forma de doação através de nossos próprios esforços é a essência da nossa correção. Este processo deve ser realizado utilizando-se o mesmo padrão que foi criado enquanto nós tínhamos a Forma de doação, e ele é inteiramente baseado na experimentação prática. Portanto, este processo é totalmente confiável.

A Filosofia, no entanto, se ocupa com ideais abstraídos da Matéria. Ela é completamente oposta ao método da Cabala, porque se baseia no estudo das Formas Abstratas. A Filosofia  discute  atributos como verdade, falsidade, raiva e coragem, enquanto estes não estão revestidos na Matéria, atribuindo títulos às Formas Abstratas, tais como “a verdade é boa, mentir é ruim”. Isso cria uma preocupação de que as pessoas se identificarão com essas declarações como ideais e irão se unir a elas fanaticamente.

O Baal HaSulam demonstra isso com uma parábola sobre uma pessoa que tinha um respeito tão grande pelo atributo da verdade, que quando confrontada com a oportunidade de salvar as pessoas da morte, ela escolheu não fazê-lo porque isso envolveria mentir.

Esta parábola demonstra o erro de se ocupar com Formas Abstratas, porque nós não possuímos meios para julgar certo atributo como sendo bom ou ruim se ele não estiver revestida do Matéria. Somente quando a Forma está revestida na Matéria é que nós podemos determinar se ela é benéfica para a evolução da Matéria ou prejudicial. O único critério é a evolução da Matéria em direção à realização do propósito da Criação.

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Embora nós possamos imaginar erroneamente Formas Abstratas, a Essência é algo completamente inimaginável para nós. De forma lógica, nós assumimos que por trás da Forma que reveste a Matéria e a Forma Abstrata, existe uma base que sustenta todas as outras Formas, que chamamos de “Essência”.

Assim, nós percebemos que a nossa capacidade é limitada, que nós só conseguimos compreender  a Matéria e a Forma que está revestida nela. Todavia, nós não podemos evitar perguntar por que o Criador não nos criou com a capacidade de perceber a Forma Abstrata e a Essência.

A resposta é simples: se nós pudéssemos alcançar a Forma Abstrata e a Essência, veríamos a Essência revestida em tudo, operando tudo, desde o primeiro ao ultimo estado. Essa imagem clara nos tiraria a sensação de livre-arbítrio; ela nos impediria de estudar e criar a imagem do Criador dentro de nós.

Ao demonstrar que nada existe fora do nosso Kli, nós podemos definir os termos “este mundo” e “Mundo Superior”, como uma maneira de descrever os tipos de percepção da realidade. “Este mundo” é a percepção da realidade dentro do Kli quando agimos com o intuito de receber. O “Mundo Superior” é a percepção da realidade dentro do Kli quando agimos com o intuito de doar, altruisticamente.

 

A Imagem Completa

Os Cabalistas somente descrevem o que eles alcançaram com precisão dentro dos seus vasos, isto é, a Forma na Matéria e a Matéria. A Matéria é o desejo de receber e a Forma na Matéria é a Forma de doação revestida no desejo de receber. De fato, a criatura sempre alcança a imagem completa, mas a questão é: como nós podemos ter certeza daquilo que é revelado?

Por exemplo, quando nós observamos certa imagem, como sabemos o que estamos percebendo? Qual parte da nossa percepção é correta e qual não é? Como as nossas ferramentas são limitadas, nós não podemos ter certeza. Talvez os óculos que usamos para observar a realidade estejam mostrando um plano à nossa frente, quando, de fato, existe um abismo bem a frente de nossos pés. Poderia o nosso próximo passo nos jogar nesse abismo?

Se os exemplos acima parecem improváveis, o próximo esclarecerá a questão: sem um medidor de radiação, como nós seríamos capazes de detectar a radiação? Nós poderíamos facilmente caminhar em áreas contaminadas sem perceber.

Nós somos incapazes de construir ferramentas que nos ajudem a determinar o que é confiável e o não é confiável na espiritualidade. A diferença entre o que nós podemos e não podemos confiar reside na diferença entre as várias ferramentas que temos a nossa disposição.

Alcançar a Forma Abstrata e a Essência não é considerado uma aquisição segura. Isto porque elas são percebidas através de “vasos externos”, e não através de “vasos internos”, embora nós possamos sentir neles algo chamado de “luminescência remota”. Essa luminescência induz a sensação de que algo existe, mas não é claramente percebido por nossos sentidos. Esta é a resposta à pergunta de como os Cabalistas sabem sobre a existência da Forma Abstrata e da Essência.

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Nós devemos enfatizar que localizar a passagem desse mundo para o mundo espiritual não é uma ação direta. É como procurar uma saída num círculo fechado. Embora a entrada esteja em algum lugar, ela só pode ser vista depois de termos procurado por todos os 360 graus.

Para construirmos a Forma do Criador dentro de nós, devemos primeiro conhecer todas as Formas opostas a Ele. Se o Criador tivesse uma imagem fora de nós, seríamos capazes de adotá-la imediatamente, e assim terminar o processo. Entretanto, essa imagem não existe fora de nós; nós devemos construir a imagem do Criador dentro da nossa própria Matéria. Primeiro, nós devemos aprender sobre as Formas opostas ao Criador, e somente então poderemos construir Formas similares a Ele. A soma das imagens cria nossa imagem do Criador.

 

Criando Modelos

Vamos voltar brevemente aos navios de Colombo. O xamã não podia detectar os navios porque não possuía o modelo de tal “casa flutuante” em sua mente. Em termos Cabalísticos, nós diríamos que ele não tinha o Kli para detectar essa Forma. Para que o xamã detectasse o navio, sua forma teria que preexistir em sua mente, a qual ele compararia com a forma sendo observada. Assim, ele a reconheceria como um navio com base na equivalência de forma entre o modelo preexistente e o navio que ele viu do lado de fora.

Entretanto, para sermos capazes de sentir a realidade espiritual, nós deveríamos encontrar alguém que falasse sobre ela. Por essa razão, os Cabalistas escrevem seus livros. Nós podemos usar esses livros para descrever o que está fora de nós e construir gradualmente as Formas ou padrões espirituais dentro de nós.

Os padrões que nós construiríamos internamente seriam, sem dúvida, falsos, mas o próprio esforço e o desejo intenso fariam com que a Luz nos influenciasse. A Luz constrói progressivamente formas similares à sua própria forma, até que a pessoa começa a ver a Luz verdadeira. Este é o único modo de avançar, já que somente a Luz pode construir o vaso (Kli) dentro de nós. Na verdade, nós não podemos imaginar o que está acontecendo a nossa volta, mesmo agora. Nós estamos cercados por mundos e forças que não podemos sentir por falta de equivalência de Forma.

 

Um Homem das Cavernas no Mundo de Hoje

Se nós pensássemos um pouco mais sobre os Indígenas e o navio de Colombo, perguntaríamos: se um homem das cavernas nascesse no mundo de hoje, ele enxergaria os carros e prédios? A resposta é que ele não enxergaria. Então ele se chocaria com os prédios ou seria atingido por um carro assim que saísse da calçada?

Antes de respondermos a essas perguntas, nós devemos entender que nós só percebemos tais Formas que os nossos sentidos são equipados a detectar. Por exemplo, o ar a nossa volta, que parece vazio, pode na realidade ser mais condensado e sólido que o cimento. Nós estamos acostumados a ver esse mundo como um lugar por onde podemos nos mover livremente. Porém, se nós construirmos ferramentas de percepção apropriadas, nós perceberemos que o mundo é na verdade preenchido com uma enorme energia do Criador, que não permite que façamos nenhum movimento livre. Se isso acontecesse, nos sentiríamos totalmente controlados pelo Criador, como se estivéssemos “plantados” no cimento, incapazes de fazer um único gesto livre.

Como o nosso homem das cavernas não teria o sentido que percebe a parede como Matéria ou como Forma na Matéria, ele seria capaz de atravessar paredes como se elas fossem ar. Os Cabalistas desejam orientar nossas observações, de modo que possamos perceber o mundo de forma correta. Se nós nos afastássemos apenas um pouco de nossa habitual percepção do mundo, e nos colocássemos dentro da percepção real que os Cabalistas descrevem, este mundo pareceria muito estranho para nós.

Atualmente, muitos físicos quânticos estão descobrindo que o mundo tem uma “estranha” regularidade de tempo, espaço e movimento. Por exemplo, eles dizem que os objetos podem estar em mais de um lugar ao mesmo tempo. Esta peculiaridade os leva a pensar que tudo é medido com respeito ao observador. Isto significa que a existência ou ausência da parede do homem das cavernas, bem como a capacidade de mover-se através dela, são medidas somente pelo estado dos vasos (Kli) do observador.

Nós nascemos neste mundo com cinco ferramentas de percepção (os cinco sentidos naturais), que se desenvolvem de geração a geração. O ambiente cerca cada criança recém-nascida. Como resultado, quando crescemos nós percebemos as coisas a nossa volta como fatos reais, como Formas na Matéria percebidas por nossos cinco sentidos.

Todavia, mesmo a nossa percepção com os cinco sentidos reflete o que os nossos  próprios sentidos projetam, e nada mais. Eu sou o criador dos prédios, dos carros, da Terra, do universo, e toda a minha realidade. Eu os criei em meus vasos, em minhas sensações. Fora de mim, eles são amorfos.

É muito difícil desvincular-nos de nossas percepções naturais. Parece que uma perspectiva diferente da realidade só é possível depois de atravessarmos a barreira para o mundo espiritual. Somente então nós entenderemos que as coisas podem ser diferentes do que pareciam antes.

Por exemplo, nós não podemos atravessar paredes porque somos controlados pelas mesmas regras que criamos. Mas a Luz Superior é abstrata; somos nós que A limitamos. Existe somente uma lei na realidade: “a lei da equivalência de Forma”. Quanto mais nós igualamos a nossa própria forma com a da Luz, mais livres e ilimitados nos tornaremos.

O nosso desejo de receber está dividido em 613 desejos. De acordo com a nossa diferença de Forma com a Luz, nos erguemos barreiras em torno de cada um desses desejos. A soma de todos esses limites cria a forma de nossa ferramenta de percepção, e essa ferramenta produz a nossa representação da realidade.

Será mais fácil para nós entendermos a Lei da equivalência de Forma se considerássemos como funcionam os receptores de rádio. Um receptor pode captar ondas somente quando cria ondas idênticas dentro de si. Do mesmo modo, nós “captamos” coisas que aparentemente existem do  lado de fora – mas somente de acordo com o que criamos interiormente.

A Lei da equivalência de Forma é constante e limita toda a realidade. Ela é valida tanto para os vasos altruístas quanto egoístas. Em outras palavras, nós percebemos a realidade física e a realidade espiritual exatamente do mesmo modo: através da equivalência de Forma. A única diferença entre os dois tipos de vaso está na direção deles: um está dirigido para o ego, o outro  para o Criador. Porém, a existência nos vasos egoístas permite que um número bem limitado de vasos seja sentido.

Os físicos quânticos estão começando a descobrir que além de certo limite da investigação, o mundo parece “desaparecer”. Os Cabalistas escreveram sobre tais “descobertas” há milhares de anos. Eles explicaram que além desse limite, a matéria física e seus contornos desaparecem, e somente forças e formas que estão acima da Matéria permanecem. A continuidade do estudo além desses limites só será possível depois que os investigadores adquirirem os vasos altruístas apropriados.

Os Cabalistas descrevem as regras básicas para a correta atitude em relação à realidade com muito mais profundidade que os cientistas. Somente quando essas regras forem aplicadas, será possível progredir nas investigações e na percepção da realidade.

A Cabala foi mantida oculta até recentemente porque a humanidade não estava pronta para entendê-la corretamente. Os avanços da ciência contemporânea nos prepararam para entender a sabedoria da Cabala. É por isso que a Cabala esta sendo revelada nos dias de hoje.

Vamos retornar por um instante ao homem das cavernas que “caiu” em nosso tempo. Nós temos a tendência de pensar que os nossos vasos são mais ricos que os dele porque podemos ver Formas que para ele não existem.

Entretanto, isso é um erro: embora nós tenhamos realmente evoluído e adquirido impressões de mais Formas do que o homem das cavernas, construindo muito mais vasos, esses vasos nos limitam muito mais. As Formas na Matéria que nós percebemos, eram Formas Abstratas para o homem das cavernas; elas não existiam para ele, e, portanto, não o limitavam.

No futuro, nós descobriremos que quanto mais “adquirimos”, mais nos limitamos. Nós progredimos ao adquirirmos formas e construirmos cada vez mais estruturas, mas no final essas estruturas nos limitam em cada nível da realidade, mostrando-nos que não somos de modo algum livres.

À medida que nós nos desenvolvemos, nós absorvemos várias impressões do nosso meio: nossos pais, professores, amigos, e experiências. Essas impressões nos fazem olhar para a realidade de acordo com nossa “autoprogramação”. Desse modo, a realidade é somente uma projeção do nosso software interior; ela não existe fora de nossos vasos internos. A realidade é uma invenção de nossa imaginação, mas a nossa mente retrata essas imagens como se existissem do lado de fora.

Assim como a realidade física, a realidade espiritual não existe fora de nós, mas é a Luz revestida no Kli. Fora do Kli existe apenas a Luz abstrata e sem forma, e tudo o que falamos é sobre a aplicação de Formas no desejo de receber.

Os Cabalistas declaram que na realidade espiritual o desejo de receber pode adotar um número finito de Formas discretas. Juntando-se todas essas Formas, nós podemos perceber a influência contínua da Luz, que é a imagem exata do Criador.

A materialidade é uma réplica, uma projeção da espiritualidade, como um ramo de uma raiz. Portanto, o processo que se revela na materialidade é muito parecido com o processo espiritual. O desejo de receber egoísta pode assumir um número limitado de Formas, e depois a matéria desaparece – parecido com o que os pesquisadores estão descobrindo atualmente.

Depois que a pessoa constrói um grande número de Formas, essas se tornam uma imagem simples de “uma” doação ou de “uma” recepção. Essa é uma projeção do estado espiritual chamado Gmar Tikkun (Fim da Correção). O Gmar Tikkun é o estado espiritual que ocorre depois que o Kli revestiu-se com todas as Formas de doação da Luz. Nesse estado, a Luz e o Kli se equivalem completamente.

O único modo pelo qual o vaso pode acelerar a construção das Formas que atualmente lhe faltam é escolhendo o ambiente apropriado para o progresso espiritual. Esse ambiente o faria “imaginar” as formas descritas nos livros de Cabala, e assim induzir a ação da Luz sobre a alma. A Luz, em troca, construiria “sensores” para detectar as Formas de doação.

De fato, essa Luz é a mesma Forma Abstrata onde tudo “desaparece”, como os físicos quânticos têm descoberto. Essa Forma Abstrata projeta a Forma de doação sobre o desejo de receber, e como resultado, os “sensores” para percebê-La começam a formular dentro de nós.

Os Cabalistas definem essa Luz como “a Luz que Corrige”, porque ela cria a Forma de doação dentro de nós, e nos aproxima do nosso estado perfeito.

Hoje, muitos pesquisadores acreditam que no nível mais básico, nós somos todos um só, e que a conexão entre nós deveria ser de amor. Porém, esses pesquisadores não acharão um jeito de perceber esse ideal, pois a Força para fazer essa correção deve ser atraída do “outro lado”, do lado do amor. Isto só pode ser feito através do estudo da Cabala.

Finalmente, os pesquisadores descobrirão que a matéria desaparece totalmente, e que a única coisa que existe é o pensamento puro, mas eles não serão capazes de progredir além disso. Eles sentirão que existe outra existência além da nossa, onde a nossa Matéria é oposta a nossa atual Matéria, e que estamos conectados em perfeita união. Todavia, o modo de se obter essa Forma de existência, o reino do “outro lado” da lei quântica, só pode ser ensinado por aqueles que já estão “lá” — os Cabalistas.

É impossível quebrar essa barreira sem atrair a Luz encontrada nos livros de Cabala, pois eles são os únicos textos que escritos do “outro lado”. O desejo pessoal de “chegar lá”, junto com o estudo dos textos Cabalísticos corretos, atrai a Luz sobre a pessoa e constrói dentro de sua alma as Formas com que ela percebe o reino espiritual. Assim como o xamã teve que construir as formas corretas para ver os navios, nós temos que construir Formas de doação para estar no reino espiritual.

Construindo o Kli (Vaso/Ferramenta) Espiritual

Do livro “Cabala, Ciência e o Sentido da Vida”

Criando o Kli

A essência do nosso trabalho é criar o Kli. Se nós soubermos construir corretamente a nossa ferramenta de percepção, entenderemos onde realmente estamos. Como dissemos na  seção anterior deste livro, a nossa substância é constituída de um desejo de receber deleite e prazer.

Se nós conseguirmos tornar essa substância sensível às percepções relativas à recepção e à doação, seremos capazes de usá-la para perceber o mundo espiritual. É semelhante à maneira como um bloco de ferro bruto é derretido para criar peças para motores. Quando juntadas corretamente, elas permitem que o motor funcione.

Da mesma forma, nós devemos trabalhar com nós mesmos para percebermos a espiritualidade. Construir o Kli espiritual é muito parecido com esculpir – você deve entalhar a matéria-prima e poli-la até que surja a forma desejada. A matéria-prima, neste caso, consiste de nossos desejos, pensamentos e intenções.

O Criador criou a Criação com a intenção de fazer o bem às Suas criaturas. Para concretizar Seu objetivo, Ele criou o Kli – o desejo de receber – que receberia Seu benefício. Inicialmente, esse desejo não tem forma. Modelar o desejo de receber é o trabalho de todos nós, até que ele esteja revestido com sua forma final – a doação, a forma do Criador.

A substância em si permanece como no princípio – o desejo de receber prazer – mas mudar a intenção para doação assemelha o seu modo de ação com o do Criador. Assim, a intenção é a forma.

Os livros Cabalísticos descrevem as formas que a pessoa deve criar no desejo de receber, degrau por degrau, para finalmente sentir os benefícios que vêm do Criador. O desejo de receber geral consiste de 613 desejos e cada um deles é coroado ou por um desejo de receber, ou por um objetivo de dar. Essas formas de recepção ou doação que “cobrem” cada desejo determinam o grau de realização espiritual de cada pessoa.

Um degrau é certo nível de resistência da Forma de doação. Isso permite que os benefícios do Criador se manifestem dentro do desejo de receber. Os diversos preenchimentos dentro do desejo de receber são a origem dos muitos nomes do Criador. É a percepção individual que nomeia o Criador conforme o sabor que a pessoa sente dentro da doação do Criador.

Uma vez que os Cabalistas atingiram a natureza da realidade e a estudaram, eles dividiram a forma do reconhecimento da realidade em quatro níveis: Matéria, Forma na Matéria, Forma Abstrata, e Essência. A Cabala é um método de estudo prático que conduz os investigadores de forma profunda e sistemática ao longo do caminho evolutivo. Como em qualquer outro método científico, a Cabala ensina o investigador o que deve ser feito, que resultados devem ser  esperados, e comenta as razões de cada resultado. A Cabala não se ocupa em descrever estados teóricos que a pessoa não pode realizar de forma independente e sem plena consciência.

A Cabala define os limites dentro dos quais a realidade pode ser corretamente percebida: Matéria e Forma na Matéria. Os Cabalistas percebem os discernimentos adicionais (Forma Abstrata e Essência) apenas vagamente e sem certeza; portanto, a Cabala não se ocupa dessas formas.

Estes limites se aplicam à investigação em ambos os mundos, corporal e espiritual, de forma que a alma percebe o mundo espiritual exatamente como percebe o mundo físico. Mesmo no nosso mundo, investigadores e cientistas responsáveis não estudam Formas Abstratas ou a Essência, mas exploram apenas a Matéria e Forma na Matéria.

 

A Reação dos Sentidos

Nós existimos no mundo, mas não sabemos o que está fora de si. Por exemplo, nós não sabemos o que existe fora dos nossos ouvidos, não podemos identificar esse “algo” que pressiona nosso tímpano. Tudo aquilo que sentimos é a nossa própria reação a esse “algo”.

Portanto, o nome que nós damos a um fenômeno exterior é, na verdade, o nome de nossa própria reação a ele. Muito provavelmente, existem freqüências ou fenômenos diferentes daqueles que nós criamos dentro nossos ouvidos. No entanto, os nossos ouvidos reagem de uma forma única em relação ao “algo” desconhecido que está do lado de fora, e é através dessa reação que nós definimos esse fenômeno. Tudo o que podemos fazer é estudar as nossas próprias reações aos fenômenos, ou seja, o que acontece dentro de nós.

Resulta que a nossa percepção do mundo é muito limitada. Se nós começarmos a compreender que aquilo que vemos não é o que está realmente acontecendo fora de nós, poderemos abordar a investigação sobre como percebemos a realidade de uma forma totalmente nova. Na verdade, existe certa Essência que atua sobre nós, mas nós nunca a sentimos em sua forma verdadeira. Tudo o que podemos sentir é a nossa reação interior a ele. Nossa imagem do mundo é a soma das nossas reações internas, mas não temos como saber o que está realmente presente fora de nós.

Se nós queremos nos relacionar corretamente com a realidade, devemos reconhecer os limites de nossa percepção. Nós não podemos nos iludir pensando que percebemos a imagem real, pois não temos nenhuma percepção verdadeira de sua Essência ou Forma Abstrata. Nós só podemos reconhecer a Forma que reveste a nossa própria Matéria. Embora seja lamentável que nós precisemos nos limitar, é assim como as coisas são.

Como já dissemos, nós não podemos perceber a imagem completa, só a nossa reação a ela. Nós também não podemos saber o quão perto a Forma percebida em nossa Matéria está da Forma Abstrata que existe fora da nossa Matéria, e a afeta.

Da mesma forma que sentimos o que está a nossa volta, o Kli espiritual percebe a realidade espiritual. Este Kli só consegue sentir a sua própria reação à Luz que está dentro dele, mas não pode dizer nada sobre a Luz que está fora.

É através de sua reação intrínseca que o Kli compreende e determina o que é a Luz, o que ele é, o que a Luz quer dele, e o que o Kli quer da Luz. Todas essas representações não têm nenhuma conexão com o fenômeno, pois ele ocorre fora do Kli.

O Baal HaSulam insiste bastante em explicar estas questões em seu Prefácio ao Livro do Zohar, uma vez que a Cabala lida exclusivamente com a construção de um Kli para a percepção da realidade:

Por exemplo, o sentido da visão nos oferece apenas sombras da essência visível, de acordo com a forma como elas são formadas em oposição à Luz. Da mesma forma, o sentido da audição não é mais que uma força de golpe de alguma essência no ar. O ar é rejeitado por causa de sua força, bate no tambor dos nossos ouvidos, e nós ouvimos que há certa essência próxima a nós.

O sentido do olfato não é mais que o ar que surge da essência, bate nos nervos do olfato, e nós cheiramos. Além disso, o sentido do paladar não é mais que o resultado do toque de alguma essência em nossos nervos do paladar.

Assim, tudo o que estes quatro sentidos nos oferecem são apenas manifestações das operações que se originam de uma essência, e nada da essência em si.

Mesmo no sentido do tato, o mais forte dos sentidos, que separa o quente do frio, o sólido e o líquido, tudo isso não é mais que a manifestação de operações dentro da essência; são incidentes da essência. O quente pode ser esfriado, o frio pode ser aquecido, o sólido pode ser transformado em líquido através de operações químicas, e o líquido em ar, isto é, apenas gás, onde qualquer discernimento em nossos cinco sentidos termina. No entanto, a essência ainda existe, porque você pode transformar o ar em líquido, e o líquido em sólido.

Assim, você vê que, evidentemente, os cinco sentidos não nos revelam qualquer essência, mas apenas os incidentes e manifestações de operações da essência.

– Rabino Yehuda Ashlag (Baal HaSulam), Prefácio ao Livro do Zohar, item 12

Assim, uma percepção adequada da realidade é de fundamental importância para nós. Os limites não são fixados para limitar ou diminuir o nosso conhecimento, ou para nos impedir de participar de algum assunto proibido. Pelo contrário, quando nós nos afastamos das partes que não controlamos, poupamos a nós mesmos de uma confusão. Se limitarmos o nosso campo de visão ao intervalo que podemos controlar, nós perceberemos a verdadeira imagem da realidade. Ao seguir rigorosamente esta condição poderemos progredir corretamente.

Em nosso estado atual, nós não temos nenhuma percepção da Luz Superior. Isto ocorre devido à oposição entre os nossos vasos egoístas e a Luz altruísta. Se os nossos vasos combinassem com a Luz, ou seja, se nós combinássemos o desejo de receber com a Luz, nós seríamos capazes de percebê-la. Tal “combinação” chama-se “vestir” (ou revestir). Vestir significa atingir a intenção de doar acima do desejo de receber, uma intenção que a pessoa só pode receber da luz.

Para receber essa intenção da Luz, é preciso ter “o ponto no coração”, um fragmento de Luz dentro do desejo de receber. Usando isto, a pessoa pode começar a cultivar a combinação entre o seu Kli e a Luz. O ponto no coração é um fragmento da intenção de doar, e com ele a pessoa pode começar a usar o resto do “coração”, ou seja, o resto do desejo de receber. Se ela conseguir usar o desejo com a intenção de doar, isso será considerado “vestir a Luz”.

Voltemos por um minuto para a maneira como o nosso sentido da audição funciona: para ouvir, nós devemos sempre manter o equilíbrio das pressões entre nós e nosso entorno. Para equilibrar a pressão que vem do exterior sobre o nosso tímpano, um delicado mecanismo cria igual pressão na direção oposta, do interior. Por isso, nós aparentemente medimos a pressão do lado  de fora, mas na verdade, medimos a pressão que criamos dentro, em resposta à pressão externa.

Todas as nossas ferramentas de medição funcionam de acordo com este princípio. Nós podemos demonstrar isso usando um peso mecânico. Vários objetos participam desta demonstração: uma mola, um mostrador e o objeto a ser pesado. Colocando o objeto sobre o dispositivo cria- se uma pressão para baixo (figura 13). Para equilibrar a pressão, a mola puxa para cima. Então, o mostrador mede a pressão ascendente que a mola está aplicando, e apresenta-a como o peso do objeto.

Medir a pressão do nosso mecanismo interno é definido como “medir a Forma na Matéria e a Matéria”.

Figura 13

Agora vamos voltar ao Kli espiritual. Na espiritualidade, a Forma na Matéria é a reação do Kli ao que está fora dele. Ela é chamada de “intenção”. A intenção com a qual a substância (o desejo de receber) é usada equilibra o que vem do Alto, ou seja, do Criador. Com isso, um Cabalista pode medir a equivalência de intenção com a intenção do Criador em relação a ele.

Um Cabalista percebe toda a extensão do desejo de receber deleite e prazer. Se o Cabalista pudesse usar parte dele com a intenção de doar, isso seria um ato espiritual. Isso ocorre porque a utilização de qualquer parte do desejo de receber com a intenção de doar demonstra que ele equilibrou a pressão do Criador. Tal ato é chamado de “construir um Partzuf espiritual” (face), um termo que indica a medida de equivalência entre o Criador e a criatura, entre a Luz e o Kli.

Os Cabalistas usam os Partzufim (plural de Partzuf) para testar o quanto o Criador quer dar prazer e o quanto eles podem dar de volta ao Criador. Por exemplo, se a força da intenção de doar com a qual uma pessoa pode trabalhar reveste vinte por cento da Luz, os restantes oitenta por cento da Luz serão rejeitados sem ser recebidos. Em outras palavras, a pessoa só pode se equilibrar com o Criador em vinte por cento de seu desejo de receber, sua substância. É por isso que essa pessoa não ativará os oitenta por cento restantes do desejo de receber, e os restringirá.

A nossa percepção do Criador depende do poder de nossa intenção sobre a nossa Matéria. Assim como o peso e a mola, nós só conseguimos medir a nossa própria intenção. A intenção de doar é a Forma que medimos, daí o termo “Aprendizagem Formativa”, que os Cabalistas usam para descrever como nós aprendemos.

Nós geralmente chamamos a intenção de doar de “sexto sentido”. Este termo enfatiza que com a intenção de doar, a pessoa pode sentir o que está presente para além dos nossos cinco sentidos naturais.

O nosso sexto sentido funciona exatamente como os nossos cinco sentidos. A única diferença entre eles é que os cinco sentidos originais estão naturalmente presentes em nós, enquanto que o sexto sentido é aquele que nós temos que construir por nós mesmos. Embora a sensibilidade dos sentidos naturais possa variar com a idade ou outros elementos, em geral é verdade que para nós é natural termos os cinco sentidos funcionando corretamente.

Como foi mencionado acima, somos nós que devemos construir o sexto sentido. Isso ocorre porque o sexto sentido não é um sentido na acepção habitual da palavra, mas sim uma intenção. Nossa tarefa é estudar as formas pelas quais o Criador doa, e quando fazemos isso de forma independente, nós nos desenvolvemos como “criaturas” que existem por direito próprio. Esta é a diferença entre a humanidade e todas as outras partes da Criação.

 

Construindo As Formas Corretas

O mundo espiritual nós é oculto. Portanto, nós não podemos entender como sintonizar nossos instrumentos de percepção corretamente; nós simplesmente não sabemos o que devemos perceber. Por esta razão os Cabalistas vêm em nosso auxílio e nos aconselham sobre a forma como devemos posicionar nossos instrumentos de percepção para que possamos perceber a Luz Superior.

Os Cabalistas dizem que a Luz Superior é abstrata. No entanto, isso não significa que qualquer forma que os seres humanos possam criar lhes permitirá perceber algo da Luz Superior. A percepção da Luz Superior só é possível quando ajustamos nosso próprio Kli a uma das 125 Formas destinadas exatamente para esse propósito.

Assim, a escada espiritual consiste de 125 degraus. Cada degrau indica uma forma mais avançada de receber a Luz em nosso Kli. Os Cabalistas descrevem como podemos localizar estas formas, estudá-las, e aplicá-las à nossa Matéria. Eles também nos ensinam como devemos projetar nosso desejo de receber de tal maneira que possamos “apresentar-nos” diante da Luz Superior em formas que são “adequadas” à Luz.

Há um fenômeno semelhante que se manifesta no nível corpóreo. Muitos pesquisadores afirmam que o ser humano não pode perceber um fenômeno externo enquanto ele não estiver presente de forma semelhante na mente dessa pessoa.

O filme, What the Bleep Do We Know? (Quem somos nós?), oferece um bom exemplo desse conceito com uma história sobre os Indígenas da América que viram a armada de Colombo chegar ao litoral da América. A história conta que os índios que estavam à beira-mar não podiam realmente ver os navios que ancoravam não muito longe da terra. O xamã, um homem  imaginativo, foi perturbado pelo movimento estranho das ondas, sem qualquer razão aparente. Por muitas horas ele olhou fixamente para a água tentando descobrir o que causava as ondulações.

Através de seus esforços, ele finalmente conseguiu discernir a forma do corpo que produzia as ondulações e assim foi capaz de ver as embarcações. Posteriormente, ele descreveu o que tinha visto aos homens de sua tribo, e como confiavam  nele,  eles  também  conseguiram  criar  a  forma dos navios, até que todos viram os navios de Colombo.

A Cabala afirma que nada existe fora da mente humana. Criando o modelo do navio na mente do xamã constrói-se a imagem do navio para ele, que o xamã pensava existir fora dele. Na verdade, o navio não existe fora, em absoluto; somente nós é que estamos condicionados a relacionar a realidade como existindo de forma independente em uma realidade exterior, na qual fazemos descobertas diariamente. Os Cabalistas, no entanto, dizem que todas as inovações são apenas novos modelos dentro das nossas mentes.

Uma vez que nós adquirimos uma visão verdadeira da realidade, sentimos que a visão anterior era completamente fictícia, como um sonho. Se nós quisermos perceber a verdadeira realidade, temos de construir modelos reais dentro de nós. Este é o significado da ascensão do mundo fictício para  o mundo real. É realmente por isso que foi dada à humanidade a sabedoria da Cabala, o que evoca estes modelos dentro de nós.

A Estrutura Da Realidade

Do livro “Cabala, Ciência e o Sentido da Vida”

Durante toda a sua existência, a humanidade tem utilizado seus cinco sentidos para investigar a realidade na qual vive, e coletar os achados para formular ciências. O propósito da ciência e do conhecimento humano acumulado é melhorar as nossas vidas e nos ajudar a usar o mundo onde vivemos de forma mais efetiva.

A sabedoria da Cabala, diferente de todas as outras ciências, investiga um reino cuja existência engana a pessoa comum. Para investigar este reino, a pessoa precisa estar equipada com outro sentido, um sentido que percebe o “Mundo Superior”. Com essa capacidade sensorial adicional, a pessoa pode coletar informação sobre o Mundo Superior e experimentá-lo. Como qualquer cientista comum, o Cabalista pode anotar as reações às ações. Os Cabalistas são investigadores do Mundo Superior, e como tais, eles têm anotado suas descobertas ao longo de milhares de anos de investigação. O conjunto dos seus registros constitui a sabedoria da Cabala.

A sabedoria da Cabala descreve as ações que se originam no Criador e descendem ao nosso mundo através dos Mundos Superiores. Ela também descreve como elas se expandem através da realidade corporal que todos nós podemos perceber com os nossos cinco sentidos.

O nosso mundo é uma conseqüência dos Mundos Superiores. Assim, a sabedoria da Cabala contém conhecimento sobre os Mundos Superiores e o nosso mundo. Os Mundos Superiores pertencem a um nível mais elevado de existência que o nosso mundo, onde tempo, espaço e movimento não existem, mas somente forças abstratas. Conseqüentemente, a Cabala contém a existência de todos os tempos conforme eles são expressos em nosso mundo.

A Cabala é um meio que nos ajuda a investigar todos os estágios da existência. Esta seqüência de estágios inclui o estágio antes de nossa alma revestir os corpos físicos, todas as nossas fases enquanto existimos neste mundo, e a situação quando a alma deixa o corpo e retorna às suas raízes no Mundo Superior.

A Cabala lida com tudo que se expande do Criador para a realidade que Ele criou, e a qual Ele conduz ao Seu objetivo desejado. A Cabala não lida com o próprio Criador.

Devido à crise que a humanidade está enfrentando e a crescente sensação de desespero e vazio, chegou o momento da sabedoria da Cabala aparecer. A Cabala explica que o propósito da realidade é elevar a humanidade ao nível de igualdade com o Criador. O propósito do declínio da humanidade a este mundo é para que possamos nos elevar de forma independente ao nível mais alto – o nível do Criador.

Enquanto nós estamos neste mundo e ascendemos em direção ao Criador, nós mantemos ambos os lados da realidade, à medida que estamos em nosso mundo fisicamente e nossas almas no nível do Criador. Este é o propósito de nossa existência, predeterminada pelo Criador, que conduz a todos nós a Ele.

No final de todas as nossas encarnações físicas neste mundo, nossas almas alcançarão o nível do Criador. Este processo é similar a qualquer outro processo gradual na realidade. Do ponto de vista do Criador, o início do processo e seu fim são o mesmo ponto. Porém, enquanto não existe conceito de tempo para o Criador, para nós o processo se estende por milênios, um período longo  o suficiente para que nós adquiramos o discernimento e as qualidades necessárias para evoluir. Gradualmente, isso nós ajudará as nos tornarmos mais semelhante ao Criador, para finalmente nos tornarmos parceiros com Ele.

Basicamente, o processo é de desenvolvimento gradual. O processo evolutivo da humanidade é como o amadurecimento de uma fruta: seca e azeda enquanto está verde, e doce e suculento no final. Se nós não soubéssemos como a fruta amadurece, nós teríamos erroneamente pensado que a acidez da fruta amadureceria para uma fruta ainda mais ácida. Mas como nós sabemos o final feliz do processo desde o início, nós podemos justificar todo o processo. Assim, somente aqueles que sabem o final do processo podem justificá-lo; se nós, também, pudéssemos ver nosso estágio futuro, nós entenderíamos e justificaríamos as ações do Criador.

 

Na Escada De Degraus

“Escalando os degraus dos Mundos Superiores” é um termo genérico usado para todos os novos discernimentos coletados ao longo do caminho espiritual, o perpétuo desenvolvimento interno e as novas qualidades que a pessoa assume a todo instante.

Como mencionado anteriormente, a criatura é composta de um desejo de receber prazer. Este desejo é dividido em cinco partes elementares, chamadas “os cinco níveis de Aviut (espessura)”. Eles são classificados do Aviut zero (raiz) até o Aviut quatro. Assim, o termo Aviut serve para medir a intensidade do desejo.

Cada um dos níveis básicos de Aviut é dividido em cinco subníveis, e cada um deles é dividido mais uma vez em subdivisões. Assim, o desejo de receber é dividido em 125 níveis (ou degraus) e nós devemos corrigir todos eles.

A correção do desejo significa usar o desejo por prazer para trazer prazer a outro. Tal uso é chamado de “doação” ou “outorgamento”. O atributo do Criador é a doação, e a abundância que se expande Dele às Suas criaturas é uma expressão do Seu desejo de dar a elas.

Portanto, corrigir o ego humano do “querer satisfazer a si mesmo” para o “querer doar” é considerado uma ascensão em níveis. A cada nível a pessoa adquire mais desejo de doar e, conseqüentemente, sente-se mais semelhante ao Criador. A cada ascensão a pessoa fica mais próxima do atributo do Criador e do propósito da vida. O processo persiste até que ela adquira o atributo do Criador por completo e se torne idêntica a Ele.

Para permitir que os seres humanos se corrijam, o Criador criou os mundos e seus níveis antes de criar a humanidade. Somente depois é que a humanidade foi criada e reduzida a este mundo. A partir daqui nós humanos precisamos subir de volta às nossas raízes. Conseqüentemente, a Cabala trata com duas sucessões: “de Cima para baixo”, relacionada com a descida gradual dos mundos e seus níveis, e “de baixo para Cima”, relacionada à ascensão da alma através dos mesmos níveis.

Os mundos que se originam do Criador são: Ein Sof, Adam Kadmon, Atsilut, Beria, Ietsira, Assia, e, finalmente, o nosso mundo (Figura 12). A Cabala descreve a criação dos mundos e como a alma desce do Criador, através de todos os mundos, até o nosso. Entre os Mundos Superiores e o nosso mundo existe “a barreira” que separa o mundo material do mundo espiritual.

Figure 12

processo de correção neste nível. A partir deste mundo a alma ascende através do acúmulo de conhecimento da realidade espiritual, atravessando os mundos de Assia, Beria, Ietsira, Atsilut, Adam Kadmon, e, finalmente, retornando ao mundo de Ein Sof. Lá, no estado chamado de Gmar Tikkun (O Fim da Correção), a alma está completamente reunida com o Criador.

A sabedoria da Cabala abrange toda a realidade abaixo do Criador: os mundos, tudo dentro deles,  a descida da alma a este mundo e o seu retorno para o alto. Em outras palavras, a sabedoria da Cabala contém todos os estados e situações da humanidade.

Todos os mundos, incluindo o nosso, situam-se um abaixo do outro. Assim, todos os mundos englobam os mesmos elementos. A Luz emerge do Criador e atravessa todos os mundos descendo até este mundo. Conseqüentemente, cada elemento que está presente no mundo de Ein Sof também está presente em todos os mundos. Os Cabalistas definem essa relação como “raiz e ramo”:

Portanto, não há uma só coisa ou evento da realidade encontrado no mundo inferior que você não encontre sua imagem no mundo acima dele, tão idêntico como duas gotas no lago, e eles são chamados de “Raiz e Ramo”. Isso significa que este item encontrado no mundo inferior é considerado um ramo do seu padrão encontrado no mundo superior, sendo a raiz do item inferior, como este é o local onde esse item no mundo inferior foi impresso e feito para existir.

—Baal HaSulam, A Essência da Sabedoria da Cabala

 

Vemos, assim, que todo elemento ou detalhe neste mundo, com todas as suas conexões, está presente também nos Mundos Superiores, de Assia a Ein Sof. O universo, o Planeta Terra, o inanimado, vegetal, animado e falante também são encontrados nos mundos acima deste mundo.

 

Só há uma diferença entre os elementos deste mundo e os elementos do Mundo Superior: nos Mundos Superiores os elementos são forças, e em nosso mundo são matérias.

Alcançar os Mundos Superiores capacita a pessoa a ver as forças que operam acima de cada elemento deste mundo. Quando alcançamos o Mundo Superior, nós nos damos conta dos tipos de comportamento de cada elemento da realidade daquele mundo, a razão para esse comportamento e suas qualidades. A sabedoria da Cabala facilita a nossa ascensão para o Mundo Superior e permite que a pessoa observe do alto o comportamento de cada objeto a partir desse mundo.

Cruzar a barreira é um processo gradual. Estudar Cabala com o objetivo de aproximar-se do atributo do Criador – o atributo da doação – aumenta o discernimento da pessoa. Percepções mais sutis emergirão progressivamente, relacionadas à realidade na qual a pessoa vive. A pessoa começa a sentir as operações nos “bastidores” da matéria, as forças que operam a matéria visível e perceptível.

Um Cabalista continua a sentir a mesma realidade que sentia antes com os cinco sentidos comuns, mas ao mesmo tempo percebe as forças além dos limites da percepção dos cinco sentidos com a ajuda do sexto sentido. A realidade oculta torna-se cada vez mais compreensível, e a existência de outra realidade além da imagem deste mundo torna-se aparente.

A revelação da realidade espiritual divide-se em três fases, chamadas Ibur (gestação), Katnut (infância) e Gadlut (maioridade). Na primeira fase (Ibur) nós podemos perceber o nosso estado, mas não compreendê-lo. Na segunda fase (Katnut) nós compreendemos que algo está acontecendo, mas ainda não conseguimos participar independentemente da ação espiritual. Na terceira fase (Gadlut) nós obtemos a força e a sabedoria para participar na ação espiritual e afetar a realidade espiritual.

No terceiro nível, nós começamos a determinar o fluxo das forças desde o Mundo Superior até o nosso, e vice-versa. Como indivíduos, nós nos tornamos participantes ativos, condutores através dos quais o fluxo viaja desde o alto até embaixo e de baixo para cima. No nível de Gadlut, nós entendemos a nossa parte e operamos como conectores entre os mundos. Esse é o nosso estado corrigido, e cada pessoa precisa atingi-lo.

Cada pessoa pode chegar a sentir cada item e elemento de todos os mundos. Tudo o que nós precisamos é de um sentido especial e sutil, a capacidade de discernir e sentir. Mesmo neste mundo, nós discernimos diferenças consideráveis entre as sensações de uma criancinha, um jovem, um adulto e um cientista. O estudo da Cabala constrói continuamente novas percepções e discernimentos em nós, e ao final, conduz à percepção dos Mundos Superiores.

Do que foi dito, podemos entender que a Cabala contém todos os ensinamentos e ciências deste mundo. Sem explicações apropriadas, nós poderíamos nos perder e pensar que Cabala é um ensinamento místico de feitiçaria e milagres.

Há quem a relacione com o Judaísmo, mas, na verdade, a sabedoria da Cabala não qualquer conexão com misticismo, religião ou qualquer outra fantasia imaginada pelo homem. O propósito da sabedoria da Cabala é apenas um: levar a humanidade à equivalência com o Criador através da correção gradual.

A Cabala é um método eficaz para a correção do egoísmo da humanidade, exatamente porque foi escrita por aqueles que se corrigiram. O desejo da pessoa de se aproximar dos estados descritos nos livros de Cabala faz com que esses estados “projetem uma força corretora” sobre o estado atual da pessoa. Essa força é chamada “Luz Circundante”. Ela muda as qualidades da pessoa, permitindo que indivíduos sintam seu estado corrigido através da formação gradual das qualidades altruístas neles.

O estudo da Cabala foca o mundo de Atsilut. O mundo de Atsilut, chamado “O Mundo da Correção”, está acima do Parsa. Ele é o sistema projetado especialmente para corrigir a pessoa, desde que ela o deseje. A Luz que preenche a alma corrigida de uma pessoa no mundo de Atsilut brilha sobre o seu estado atual como Luz Circundante, uma força que corrige a natureza humana, do egoísmo para o altruísmo. A Luz Circundante eleva a alma através de todos os mundos, até que ela retorne à sua raiz. Portanto, o mundo de Ein Sof é a meta final, nosso mundo é o ponto de partida, e o aperfeiçoamento dos atributos humanos é chamado de “ascensão nos níveis dos mundos”.

A Cabala é para aqueles que se perguntam sobre o propósito de suas vidas, aqueles que não estão satisfeitos com prazeres mundanos, como sexo, riqueza, honra ou conhecimento. Quando toda a humanidade acordar para perguntar sobre o propósito da vida, a sabedoria da Cabala emergirá. Os Cabalistas apontaram o ano de 1995 como o início dessa época, donde a necessidade de sua disseminação.

 

Quatro Linguagens Na Sabedoria Da Verdade

Os Cabalistas, como foi mencionado anteriormente, investigam o Mundo Superior, o mundo além da percepção de uma pessoa comum. Por isso, as descrições das conquistas dos Cabalistas se relacionam com o Mundo Superior, mas como nós não estamos conscientes da existência de um mundo espiritual além do nosso, nós relacionamos suas palavras com o nosso mundo, em um fenômeno chamado “materialização”.

Quando a Torá (os Cinco Livros de Moisés) foi escrita, o povo de Israel estava em um nível espiritual. Mas após dois mil anos de afastamento da espiritualidade, desde a ruína do Segundo Templo, as histórias da Torá parecem referir-se a episódios históricos ou à conduta moral.

Porém, este não é o caso. Cada elemento no mundo está conectado ao mesmo elemento em todos os outros mundos por uma conexão de “raiz e ramo”. Com base nesse princípio, os Cabalistas desenvolveram uma linguagem que se apóia no paralelismo entre os Mundos Superiores e o nosso próprio mundo. Nela, os processos que se desenvolvem no mundo espiritual são descritos usando nomes dos ramos, tomados do nosso mundo.

Os Cabalistas usam quatro tipos diferentes de linguagem para explicar como nós podemos atingir o nível do Criador e como podemos atrair até nós a Força de Correção que inverterá a nossa natureza do egoísmo para o altruísmo. Essas linguagens são a linguagem da Bíblia, a linguagem das leis, a linguagem das lendas, e a linguagem da Cabala.

Em seu ensaio, A Sabedoria da Cabala e sua Essência, o Baal HaSulam escreveu que existem quatro linguagens na sabedoria da verdade, e a essência da sabedoria da Cabala não é diferente da essência da Bíblia. Porém, as leis, as lendas e a linguagem da Cabala são mais convenientes e apropriadas para o uso.

A diferença entre as linguagens está em sua precisão. A linguagem da Cabala é mais precisa em descrever a conexão entre a raiz no Mundo Superior e o ramo no mundo inferior. Quanto mais exata for a conexão da pessoa com sua Raiz Superior, maior a Força de Correção que ela recebe.

A linguagem da Cabala aplica-se a termos que não existem em nosso mundo, tais como “mundos” e “Sefirot”, diagramas e fórmulas. Essa linguagem torna mais fácil evitar a confusão e a materialização, e facilita uma abordagem clara e ordenada do estudo. A linguagem da Cabala é essencialmente diferente de outras linguagens devido ao modo claro e inequívoco com que descreve o propósito da Criação – a similaridade da criatura em relação ao Criador, isto é, a inversão do egoísmo em altruísmo.

Atualmente, o principal livro da Cabala são os seis volumes do Talmud Esser Sefirot (O Estudo das Dez Sefirot) do Baal HaSulam, baseado nos escritos do Ari. Em 2000 páginas, o Talmud Esser Sefirot esclarece a estrutura dos Mundos Superiores, acompanhando de diagramas, glossários e tabelas de questões e respostas para revisão do material. Na introdução do livro, o Baal HaSulam acrescenta detalhes sobre as razões pelas quais a linguagem da Cabala é preferencial às outras linguagens em nossa geração.

Hoje, a humanidade chegou à última fase na evolução do desejo de receber. É por isso que o Baal HaSulam adaptou o método do Ari à estrutura das almas da nossa geração – para torná-lo acessível a todos.

 

Mudar A Si Mesmo

Muitas pessoas, equivocadamente, relacionam a sabedoria da Cabala à religião Judaica. Na verdade, a Cabala e a religião são essencialmente diferentes. O propósito da religião é acalmar as pessoas; ela nutre a esperança de que se eu rezar, a atitude do Criador para comigo mudará.

A Cabala adota uma abordagem bem diferente: a raiz da palavra “oração” (Tefila, em hebraico) significa “sentenciar” ou “julgar” (Palal, em hebraico). Em outras palavras, a pessoa sentencia a si mesma, examina a diferença de qualidade entre ela e o Criador, e pede para receber a força para corrigir seus próprios atributos.

A sabedoria da Cabala explica que o Criador é imutável. Sua atitude para com Suas criaturas é absoluta – Ele é bom e faz o bem, tanto para o bem quanto para o mal.

Todos sentem a pressão constante da Força Superior segundo sua distância Dela. Quando a pessoa está longe da Força superior, a pressão é intensa, e quando ela está perto da Força Superior, a pressão alivia.

Embora a Força Superior empregue diversos meios para atrair-nos para perto Dela, Seu propósito é sempre o mesmo – levar cada ser humano à perfeição. Se nós quisermos mudar para melhor, somos nós que devemos mudar. Nós temos que ascender a um nível superior, e em cada ascensão vamos nos sentir mais próximos do Criador e nossas almas estarão preenchidas e satisfeitas. Não há outro modo de induzir mudanças em nossas vidas.

Através da história, a humanidade implorou por uma mudança que viesse da Força Superior, mas a mudança nunca veio. A Força Superior espera que a mudança venha de nós. Enquanto nós não nos desenvolvermos por meio da sabedoria da Cabala, nossos caminhos permanecerão cheios de aflição. Os golpes que nos empurram por trás nos obrigam a encontrar outro lugar que pareça melhor. Mas isso dura pouco, até nós percebermos que o novo lugar não é tão bom quanto parecia. Assim, nós nos mudamos para outro lugar e a cena se repete.

Porém, se nós nos desenvolvermos através da Cabala, o nosso estado corrigido se projetará sobre o estado presente e o iluminará. Com essa Luz, nós saberemos como avançar. Se nós soubermos o objetivo correto, para começar, nós seremos atraídos a ele com satisfação. Esta é a diferença entre a evolução humana comum e a evolução de acordo com a sabedoria da Cabala.

Hoje, o mundo está se desenvolvendo inconscientemente, sem compreender as razões para sua existência. A humanidade não sabe para onde está sendo conduzida e por que cada pessoa nasce, vive e morre. A sabedoria da Cabala abre nossos olhos e nos guia para a perfeição e a eternidade que vêm ao obtermos o grau do Criador.

Quando nós começamos a examinar a nossa posição na realidade usando a sabedoria da Cabala, descobrimos que a atitude do Criador para conosco é intencional. Torna-se evidente que pedir ao Criador para mudar Sua atitude é inútil. Se nós avançarmos com a ajuda da Luz, o nosso ritmo excederá os sofrimentos e nós progrediremos mais rápido. Esse é todo o benefício do estudo da Cabala: acelerar o progresso espiritual para vencer o sofrimento.

Hoje, no início do século XXI, a humanidade está à beira do abismo: o abuso de drogas está em ascensão, e o desespero e o medo da destruição total não deixarão outra escolha à humanidade senão fugir do sofrimento que a incitará por trás.

De tudo o que foi dito, nós podemos ver claramente que descobrir que a atitude do Criador para conosco é intencional é de suma importância. Essa atitude do Criador nos capacita a nos dirigirmos a Ele como a um companheiro de viagem, e pedir-Lhe ajuda, sabedoria e força para progredirmos em Sua direção. Tal pedido é respondido pelo Criador instantaneamente. Ele revelará os Mundos Superiores, e nos ensinará como progredir.

Assim como nós ensinamos nossas crianças a usar a realidade circundante de forma sábia, o Criador ensina os Cabalistas. Ele revela os mundos espirituais a eles, e os aceita dentro desses mundos. Nesse estado, os Cabalistas sentem as Forças que agem na realidade e começam a participar do processo de forma independente e sábia.

A sabedoria da Cabala muda a pessoa, do progresso através da força negativa que nos impulsiona por trás, para um progresso mais fácil e rápido através da Força Positiva que nos puxa pela frente. A Cabala é única porque desenvolve nossa capacidade de reconhecer o mal e admiti-lo. Ela desenvolve percepções sutis e precisas do bem e do mal.

A dificuldade em discernir o bem do mal é que o verdadeiro mal – nosso ego – parece ser bom para nós. Nós estamos acostumados a tratar nossos egos como meios para nos desenvolvermos. De fato, nossos prazeres, nossas existências, nossa própria essência e nosso “eu” pessoal são sentidos em nossos egos.

A Cabala ajuda a discernir o que causa sofrimento, como ele pode ser reparado, e nos permite progredir em cada fase da evolução. A diferença entre um indivíduo altamente evoluído e um menos evoluído está na capacidade de discernir o bem do mal.

Nós podemos comparar isto a um medidor. Quanto menor for a unidade que o medidor mede, maior a precisão desse instrumento. O estudo da Cabala nos torna progressivamente sensível ao discernimento entre o espiritual e o material, entre a doação e a auto-recepção.

Se uma pessoa moderna tiver a oportunidade de conhecer a Cabala e as possibilidades que ela oferece, tal pessoa pode compreender seu propósito da criação: ascender através de todos os mundos até Ein Sof enquanto vive neste mundo físico.

 

A Atitude Correta Perante A Realidade

Cabala em hebraico significa “recepção”. Como o nome indica, a Cabala ensina como receber. Com a atitude correta perante a realidade, é possível experimentar uma satisfação infinita. Essa satisfação infinita não vem do sexo, da comida, de um novo carro, de uma casa grande, ou outros prazeres transitórios e mundanos. Ao contrário, ela vem daqueles prazeres que podem nos preencher com tanta felicidade que transcenderemos toda a sensação de tempo ao recebê-los.

Nós sentimos a passagem do tempo através de oscilações entre sentimentos bons e maus, ou sensações de satisfação ou ausência de satisfação. Porém, quando nós estamos em um estado de júbilo, tornamo-nos inconscientes do tempo. A sabedoria da Cabala nos diz que podemos eliminar o tempo, assim como a sensação de distância e quaisquer outros limites ou fronteiras. Aquele que atingiu tal estado está claramente vivendo em um mundo infinito e ilimitado.

As nossas vidas sempre conterão dois elementos opostos – prazer e desejo, positivo e negativo. O prazer que impregna o desejo sacia-o e o anula. Nós nos deparamos com esse fenômeno em cada área da vida. Quando o positivo neutraliza o negativo, nós acabamos não sentindo mais nada.

Enquanto estivermos nesse curto-circuito de prazer e desejo, permaneceremos presos numa equação cujo resultado é zero. Porém, coloque um resistor entre esses opostos e eles trabalharão perfeitamente, criando uma satisfação perpétua.

Os Cabalistas explicam que o prazer tem origem na Força Superior. Essa Força nos envia prazer porque nos ama. Quando nós tentamos receber o prazer diretamente, o prazer anula o nosso desejo de aproveitá-lo, e assim, o prazer acaba.

Porém, existe outra maneira de nos relacionarmos com o prazer: se nós pudéssemos descobrir o amor da Força Superior para conosco e devolver Seu amor com o nosso, nós nos tornaríamos equivalentes à Força Superior. Cada parte desejaria satisfazer a outra, e o desejo de satisfazer a outra seria o prazer de cada parte. Então, o prazer teria origem em cada parte, como conseqüência do amor dessa parte pela outra. É por isso que o prazer do amor não extingue o desejo por ele, e a criatura recebe uma sensação infinita de prazer, que é sentida como vida infinita.

Vamos esclarecer isto com um exemplo: quando uma mãe dá um doce à sua filha, a filha experimenta o prazer do sabor do doce. Assim que o doce acaba, o prazer desaparece. Porém, se a filha se relaciona com sua mãe, em vez de se relacionar com o próprio doce, ela pode pensar no amor de sua mãe por ela, que é a razão pela qual ela lhe deu o doce. Assim, ela poderá decidir receber o doce não porque ele é gostoso e agradável, mas porque ela quer retribuir o amor de sua mãe.

O modo pelo qual ela poderia expressar amor por sua mãe seria receber o doce que sua mãe quis lhe dar. Portanto, a filha não se relacionaria com o prazer do doce, mas com a alegria que sua mãe recebeu do prazer da filha com o doce.

Isso cria uma relação completamente nova entre o doador e o receptor. Agora, eles devem se igualar. Portanto, o problema do positivo e do negativo que se neutralizam é resolvido porque o receptor – o negativo – tornou-se um doador – o positivo. Se o vaso recebe a Luz somente para retribuir o amor do Superior, ele se equivale completamente ao Doador, o Superior. O prazer não mais extingue o desejo, e o prazer permanece.

Não importa quem dá ou quem recebe. Somente a intenção é que interessa, o modo pelo qual nós nos relacionamos com o dar e o receber. Nós podemos nos relacionar com a Força Superior de tal modo que não seremos receptores em relação a Ela, mas doadores. Tal intenção nos capacitará a receber não porque desejamos o prazer, mas porque queremos agradar a Força Superior.

No fim do processo, e porque nós agimos do mesmo modo que a Força Superior, nós adquiriremos gradualmente Sua razão, estatura, e nível. Quando conseguirmos executar esse processo internamente, começaremos a sentir uma conexão com a Força Superior; nós sentiremos que adquirimos Sua razão, que estamos aprendendo a receber Dela e como podemos doar-Lhe prazer. Basta esse simples ato de mudar a intenção, para que nos tornemos progressivamente equivalentes à Força Superior eterna e ilimitada.

Para fazer isto, nós precisamos da revelação da Força Superior, da sensação de que há uma Força Superior, que Ela nos ama e quer nos preencher abundantemente. Se nós sentirmos tudo isso, começaremos a sentir a relação entre nós e a Força Superior. Portanto, a única dificuldade diante de nós é encontrar um modo de descobrir a Força Superior, senti-La e manter contato com Ela.

O estudo da Cabala ajuda qualquer pessoa a desenvolver essa espécie de contato. Essa relação entre o ser humano e a Força Superior começa assim que a pessoa sente que há um “campo” que sustenta toda a realidade, uma Força Superior, e que ela está dentro dele. Se nós apenas começamos a sentir que essa Força existe, e que Ela se relaciona conosco de uma forma amorosa, desejando que nós a conheçamos e nos aproximemos Dela, nós começaremos a desenvolver esse tipo de relação de forma natural.

Pessoas que experimentaram a morte clínica falam de uma Luz sublime que nos espera, e muitos cientistas também estão começando a considerar conceitos similares. Mas não é necessário experimentar tais apuros para sentir essa Luz. O estudo da Cabala pode, gradualmente, capacitar- nos a sentir a Força superior. Nós começamos a investigar a realidade e a agir de acordo com o que descobrimos e percebemos.

Quando nós sentimos essa Força fora de nós, descobrimos que a Força Superior nos ama; então, nós começamos a sentir que a Força Superior existe para nos beneficiar, e que Ela quer que sintamos prazer. Nós desenvolvemos nossas atitudes de modo recíproco.

Não há fantasia aqui; essas coisas são bem reais e mensuráveis. Os Cabalistas medem a forma e o poder com que essa Força chega até eles, a pressão que Ela faz sobre eles, a resistência correspondente que eles precisam aplicar, como eles podem se conectar a Ela, assemelhar-se a Ela, em qual dos seus desejos eles já podem ser como Ela, e em quais eles ainda não podem.

Os Cabalistas são influenciados pela Força Superior e retribuem seu amor na medida em que a Força Superior se apresenta a eles como amorosa, como desejosa de beneficiá-los.

Nós somos “vasos que sentem”; portanto, tudo começa com nossa sensação da Força Superior. Todos nós queremos algo. Se nós pudéssemos sentir que esse algo veio de alguém, nossa atitude em relação à realidade mudaria drasticamente; agora, nós teríamos alguém com quem nos relacionarmos. O estudo da Cabala pode nos ajudar a sentir a Força Superior, a sensação do Doador.

 

A Realidade Exterior

Quando nós começamos a sentir a Força Superior e construímos um relacionamento com ela, também começamos a sentir a realidade exterior. Os Cabalistas dizem que não há nada à nossa volta exceto a Força Superior, e que nós estamos em um campo que preenche toda a realidade. Quando nós começamos a sentir esse campo, nossos corpos tornam-se completamente insignificantes. Nós começamos a sentir onde existimos de forma permanente, sem fim, com ou sem nossos corpos. Em tal estado, nós não dependemos mais das sensações que recebemos através de nossos cinco sentidos.

Nós começamos a perceber a realidade exterior além dos cinco sentidos, em adição à nossa percepção sensorial natural. Quando isso acontece, a vida ou a morte física não importam mais. Esse estado está acima da sensação de vida que experimentamos enquanto estamos em nossa “caixa”; tornamo-nos conectados à corrente infinita da vida que nos cerca. Embora continuemos a existir neste mundo, nós vivemos simultaneamente em todos os mundos, para sempre.

Tal sensação é provocada pela percepção das duas formas da realidade: a realidade percebida em nossos cinco sentidos, e a realidade exterior. De fato, a sensação da realidade exterior ofusca a sensação da realidade percebida em nossos cinco sentidos, porque ela é muito mais intensa, vasta e ilimitada.

 

Cruzando A Barreira

Quando a Força Superior se apresenta para uma pessoa como amorosa, e evoca a Forma de doação nessa pessoa, ela “cruza a barreira” e entra no “mundo espiritual”. Esse processo é muito semelhante ao modo como foram desenvolvidas as fotografias. Quando eu era criança, nós tirávamos fotos em um filme e mergulhávamos o filme em produtos químicos para desenvolver as imagens. Quando o filme era imerso nos produtos químicos, podíamos ver como a imagem gradualmente se tornava mais clara.

Nós estamos acostumados a tratar o mundo como uma realidade onde as pessoas, organizações e instituições públicas influenciam o curso de nossas vidas, tal como nossos vizinhos, empregadores e o governo. Lenta e gradualmente, através de ações dirigidas a descobrir a Força Superior, nós começaremos a sentir o que realmente está por trás de cada coisa que acontece no mundo. Nós começaremos a perceber como essa Força maneja as pessoas como marionetes presas a fios, e compreenderemos o que Ela quer de nós.

Lentamente, através de nossas experiências de vida, nós começaremos a perceber que tudo vem de uma única atitude de alguém, dessa Força Superior que age sobre nós. Esse é o ponto onde a sabedoria da Cabala realmente inicia.

Tudo o que acontece antes disso é chamado de “período de preparação”, anterior ao cruzamento da barreira. A partir do instante que a pessoa começa a sentir a Força Superior, e entra em contato com ela, começa a entender as instruções contidas nos livros de Cabala que são escritos especialmente para o leitor. Esses livros dizem aos Cabalistas o que eles devem observar, fazer, e que reações devem esperar.

Esse processo é semelhante ao modo como adultos ensinam crianças a se comportar. Como as crianças não conhecem as regras de conduta neste mundo, nós as advertimos sobre coisas que podem prejudicá-las e sugerimos como elas devem se comportar. Os Cabalistas escreveram suas instruções para nós exatamente da mesma maneira. Os livros de Cabala são, de fato, manuais que nos informam como podemos avançar mais rapidamente e melhorar nossa relação com a Força Superior, uma relação que chamamos “o mundo espiritual”.

 

Equivalência De Forma

Até aqui, nós estabelecemos que a natureza da Luz é oposta à do vaso: uma é doadora e a outra receptora. Quando a Luz preenche o vaso, ela o anula. Em outras palavras, o desejo de desfrutar é neutralizado pelo prazer que o satisfaz. Como resultado, as pessoas estão ocupadas com uma busca constante por novos prazeres, mas nunca conseguem mantê-los. Nenhum prazer real é possível enquanto o contato entre a Luz e o indivíduo for baseado no fato do indivíduo ser um receptor.

Para receber o prazer verdadeiro, a pessoa precisa receber com a intenção de agradar a Força Superior. Se mantiver essa intenção, ela será satisfeita e será sempre doadora. A vantagem de tal recepção é dupla: a pessoa é satisfeita tanto com o prazer quanto com o reconhecimento do Doador. Se a pessoa recebe com o objetivo de agradar a Força Superior, ela começa a conhecer essa Força Superior, a qual, por sua vez, dá à pessoa que recebe uma sensação da realidade exterior.

Se nós recebermos apenas com interesse egoísta, sentiremos somente a nós mesmos. Receber com a intenção de doar à Força Superior, permite-nos conhecê-La. Através de tal recepção, nós transcendemos nossa própria “caixa” e experimentamos a realidade à nossa realidade.

A sensação da realidade exterior leva-nos a um nível de existência que supera a existência da vida e da morte neste mundo. A recepção com interesse egoísta, chamada “recepção corporal” é desqualificada, e a pessoa transcende para a recepção na alma, chamada “recepção para doar” à Força Superior.

Para que a pessoa comece a receber para doar, ela precisa sentir a Força Superior. A sensação da Força Superior como Doadora provoca vergonha no receptor, resultando na decisão da pessoa de receber apenas sob a condição de que ela possa retribuir prazer ao Doador.

Porém, a Força Superior está oculta em nosso mundo. Se ela fosse revelada, nós desfrutaríamos um duplo prazer egoísta, do prazer e do contato com o Superior. Tal estado, nos “prenderia” egoisticamente à Força superior, extraindo prazer Dela, e jamais seríamos capazes de mudar, devolvendo amor ao Doador.

Portanto, a primeira condição para a sensação da Força superior é livrar-se do egoísmo. A sensação da existência da Força Superior não pode ser percebida no ego humano. Se nós percebêssemos a Força Superior com nosso desejo egoísta, nos tornaríamos uma Klipa (casca). A Klipa é um desejo egoísta tão intenso que a pessoa é incapaz de fugir. O único modo de livrar-se do ego é igualar-se em forma com a Alma Coletiva.

 

A Alma Coletiva

Todos nós fomos criados como um Kli (vaso) chamado Adam ha Rishon (O Primeiro Homem). Nós estamos unidos nesse Kli como partes de um sistema único. Para permitir que o Kli seja corrigido, a estrutura espiritual de Adam ha Rishon fragmentou-se em numerosas partículas. Essas partículas são as almas individuas que revestem nossos corpos neste mundo. O resultado da fragmentação é que cada pessoa está confinada em seu desejo egoísta, inconsciente dos outros e sentindo apenas a si mesma.

Atualmente, após um longo período evolutivo, as pessoas estão começando a sentir os pontos em seus corações, os pontos que as levam a se reconectar com a Força Superior, a buscar a espiritualidade. Nesse estágio, nós precisamos obter a força para superar o nosso egoísmo e transcendê-lo, pois assim seremos capazes de nos conectar com a Força Superior e nos aproximar Dela à medida que nos igualamos a Ela.

O modo de nos conectarmos a Força Superior é nos unirmos com aqueles que compartilham a mesma meta espiritual. Embora cada um esteja subjugado ao seu desejo de receber individual, todos querem transcendê-lo. Tal ambiente social é definido como “ambiente espiritual”. Com isto, a pessoa consegue quebrar o muro que a separa dos demais.

Embora os que estão em um “ambiente espiritual” ainda possam ser egoístas, eles ainda assim estão dando o melhor de si para criar uma estrutura semelhante à estrutura corrigida da alma de Adam ha Rishon. Sozinhos, nós não teremos sucesso nessa tarefa, pois ela contradiz a natureza humana. O que nós podemos fazer é adquirir um desejo intenso e nos unirmos aos outros.

É aí que entra a sabedoria da Cabala. Os livros Cabalísticos descrevem o estado corrigido das almas e a diferença entre estes e os estados corrompidos. A principal diferença está na intenção com a qual usamos nossa natureza. A correção significa que nós mudamos o propósito para o qual usamos nosso desejo: de causar autogratificação, para beneficiar aos outros.

Quando nós estudamos corretamente a Cabala genuína, chegamos a imaginar o nosso próprio estado corrigido. Essa imagem estimula a Luz que já preenche o nosso estado corrigido a corrigir nossa alma. Uma vez que essa Luz corrige nossa alma, Ela a preenche, e nós começamos a experimentar o mundo espiritual.

*

Não existe tempo no mundo espiritual, nem espaço, nem movimento. Os Mundos Superiores não estão acima de nós no sentido físico do mundo. “Ascensão” na verdade significa “recuperar a consciência”. O estudo da Cabala exige que nos libertemos de nossas vestimentas corporais das sensações e percepções familiares mundanas, e penetremos dentro da matéria, nas Forças por trás dela.

Na espiritualidade, nós nos transformamos de observadores da realidade, em conhecedores das Forças que a descrevem. Nós começamos a entender como é feita a realidade, adquirimos a capacidade de nos conectarmos com as Forças que criaram a imagem e que, no final, governam- na. A Cabala é a nossa chave para a “Sala de Controle” da realidade.

 

Lutando pelo Equilíbrio

Do livro “Cabala, Ciência e o Sentido da Vida”

Quando crianças, muitos de nós acreditavam que o mundo estava repleto de todos os tipos de forças, tais como fantasmas nos contos de fadas. À medida que nós crescemos, nós gradualmente abandonamos essa crença, mas de vez em quando ainda sentimos o quão forte essas forças realmente existem.

Na verdade, nós estamos buscando por elas a todo o momento. Nós queremos saber sobre o mundo em que vivemos, porque se não o fizermos, nós nunca seremos libertados dessa sensação de incerteza, para vivermos em paz e confiança. Nós sentimos curiosidade em entender o mundo em que vivemos para melhorarmos nossa condição de vida. Esta curiosidade evoca  questões como: “Quem sou eu?”, “Onde estou?”, “O que será de mim?”. Tais questões nos estimulam a buscar conhecer a realidade em que vivemos.

A realidade é dividida em duas partes: o ser humano e seu ambiente. Alguns dizem que nós só devemos estudar e mudar a nós mesmos, afirmando que fazendo assim, nós nos sentiremos tranqüilos e atentos ao mundo mais positivamente. Outros, entretanto, dizem que nós devemos permanecer como somos, tirar o máximo proveito do que o mundo nos dá, e mudar o mundo para que se ele se ajuste às nossas necessidades. De qualquer maneira, isso não significa que nossas vidas estão indo muito bem.

O melhor estado no qual nós podemos nos entender com o mundo é através do equilíbrio.  Se  todos me entendessem e quisessem exatamente o que eu quero, este seria o estado de equilíbrio. Não existe estado mais perfeito que o sentimento de estar em equilíbrio com o mundo. Isto só pode ser comparado ao estado de feto dentro do útero da minha mãe: tudo existe somente para cuidar de mim; não há necessidade de se erguer quaisquer defesas.

A ciência se refere a esse estado como “homeostase”. A palavra grega homo” significa mesmo  ou similar, e stasis” significa condição. Este é o estado de existência que qualquer objeto na realidade busca alcançar.

As leis da física, química e biologia explicam que a única razão para qualquer movimento da matéria, seja ela inanimada, vegetativa, animada ou falante, está em seu desejo de estar em equilíbrio com seu ambiente. Para nós, como seres humanos, estarmos em equilíbrio com nosso ambiente, nós precisamos conhecer a natureza do mundo à nossa volta e como podemos nos igualar a ela.

Somente então nós saberemos como alcançar o estado onde todos desejarão aquilo que nós queremos, terão os mesmos pensamentos e não guardarão nenhum rancor contra os outros. Assim, todos revelariam a paz e o amor. Este é o objetivo pelo qual a Cabala existe; ela nos ensina como obter a paz entre toda a humanidade, e entre a humanidade e a natureza.

Todas as nossas investigações do mundo e de nós mesmos são realizadas pela ciência. Lamentavelmente, o progresso da ciência e da tecnologia não nos tem feito mais felizes. Graças a todos os esforços para se alcançar um estado de tranqüilidade, plenitude e felicidade, a nossa realidade está se tornando mais dura e ameaçadora a cada dia que passa.

Mas se todos nós estamos nos esforçando pelo melhor, por existem problemas? Os problemas existem porque nós não conhecemos toda a realidade, como ele se comporta, sua estrutura ou como ela age sobre nós. Nós não sabemos o que precisamos igualar.

Parece que quanto mais nós investigamos a matéria, quanto mais tentamos entender nossa própria natureza e a natureza do mundo exterior, mais falhamos em enxergar o que a natureza quer de nós, por que ela existe, e qual o propósito de cada elemento na natureza.

Alguns pesquisadores investigam a camada externa da matéria; outros pesquisam a fundo sua estrutura, até o nível molecular e os relacionamentos entre os átomos e as partículas subatômicas. Os mais avançados pesquisadores afirmam que, em certo nível, a matéria se torna evasiva. Desse ponto em diante eles não entendem o que acontece. Entretanto, a razão pela qual eles falham em entender a existência abaixo do nível subatômico não está na falta de ferramentas de pesquisa mais sofisticadas, mas na incapacidade do ser humano de perceber a realidade de forma geral.

Enquanto nós contamos apenas com os nossos cinco sentidos, nós sentimos que podemos fazer com a realidade o que queremos. Ao entrarmos no mundo espiritual, entretanto, nós percebemos que, de fato, é a realidade que faz conosco aquilo que ela quer. De certo nível da espiritualidade em diante nós entendemos que somos nós que estamos construindo nossa própria realidade. Em outras palavras, nós reconhecemos que a realidade é uma espécie de projeção de nós mesmos.

Este último nível é o que os pesquisadores contemporâneos descrevem. Eles afirmam que existe certo limite além do qual nós não podemos perceber. Este ponto entre o mundo físico e perceptível e o que se estende além da nossa percepção é o ponto de encontro entre a ciência e a Cabala.

A Cabala explica que existe um estilo de pesquisa que nos permite penetrar no “nível das causas”. Ao usá-lo, a pessoa pode entender com certeza o motivo no qual o mundo existe, o que ele quer de nós, e como nós podemos existir em equilíbrio com ele, um equilíbrio que nós experimentaremos como paz e tranqüilidade. Aqueles que já pesquisaram esse reino são chamados “Cabalistas” e seus escritos descrevem o resultado de suas pesquisas.

Os Cabalistas dizem que além da matéria visível encontra-se o desejo e a deliberação da Natureza, que envolve toda a realidade. Esse desejo e deliberação circundam a realidade, protegem-na, e a operam para poder beneficiarem-se dela. Além disso, esse desejo e deliberação constituem a lei geral da realidade. Em outras palavras, a lei geral da realidade é a doação absoluta, e toda a matéria na realidade precisa igualar-se a ela.

A sabedoria da Cabala nos ajuda a perceber e a sentir a verdadeira atitude da Natureza em relação a nós. Dessa forma, nós podemos tratar a Natureza com a mesma atitude e, assim, nos igualarmos a ela.

Os níveis de revelação da verdadeira realidade são chamados “mundos”. Assim como os cientistas examinam a estrutura dos materiais com microscópios, ou investigam as profundezas do espaço com telescópios, os Cabalistas também penetram no pensamento que envolve a realidade usando a sabedoria da Cabala.

O nosso progresso na pesquisa da realidade é uma verdadeira aventura. Nós podemos começar a sentir o nosso passado e o futuro, e descobrir que o tempo na verdade não existe; que, de fato, tudo já existe. Um Cabalista pode viajar no tempo, tal como o percebemos agora, e progredir ou regredir além do estado atual.

As pessoas que são capazes de tais “saltos no tempo” são chamadas “profetas”. Elas não prevêem ou imaginam o futuro, mas simplesmente se deslocam vários níveis à frente, em direção a um  nível específico da realidade que o resto da humanidade um dia alcançará. Elas nos falam “de lá” e nos dizem o que sentem em suas “épocas presentes”. Elas poderiam com a mesma facilidade serem grandes historiadores, regredindo a estados que a humanidade uma vez experimentou, revivê-los, e nos falar sobre eles.

Muitas vezes, nós podemos encontrar escritos Cabalísticos que descrevem eventos antes do seu próprio tempo, tal com Abraão vagando de um lugar ao outro, encontrando pessoas, aprendendo o que elas diziam e o que faziam. Para saber tudo isso, o pesquisador Cabalístico precisa voltar no tempo para alcançar o mesmo estado que Abraão alcançou, isto é, um nível específico, e nos dizer sobre aquela realidade estando totalmente presente nela. Um Cabalista pode colher impressões daquela época e transmiti-las a nós.

O Baal HaSulam descreve isso da seguinte maneira: Porém, como aqueles que alcançaram o nível onde Abraão estava, ou qualquer um, eles vêem e sabem o que Abraão viu e sabia. Por essa razão eles sabem o que Abraão diria, e da mesma forma em todos os dizeres dos nossos sábios quando eles interpretaram os versos da Torá. Tudo isso porque eles também atingiram o nível, e cada nível na espiritualidade é uma realidade. Todo mundo vê a realidade, como aqueles que chegam à cidade de Londres na Inglaterra vêm o que está na cidade o que é dito nela.

–Baal HaSulam, Shamati, artigo 98: A Espiritualidade É Aquilo Que Nunca Será Perdido.

Além da capacidade de se mover no tempo, os Cabalistas descobrem outras forças na realidade. Não é por coincidência que as lendas falam de fantasmas, demônios e anjos. Embora elas realmente tenham um significado muito diferente daquilo que nós atualmente atribuímos a elas, tais forças existem. Um Cabalista que investiga as profundezas da natureza começa a ver suas forças operativas, conecta-se a elas, e utiliza-as beneficiar a si próprio e toda a humanidade.

A admissão ao estudo da realidade requer certos esforços, mas isso também absorve toda a vida interior da pessoa e provê uma realização plena. A pessoa que estuda a realidade descobre a razão da nossa existência, sabe onde todos nós temos que chegar, e entende as razões de nossos múltiplos problemas.

Portanto, a Cabala não é uma mera pesquisa científica. Pelo contrário, ela é um método prático destinado a nos ajudar em todos os momentos de nossas vidas. Através da Cabala, a pessoa descobre o futuro, o passado, seus atributos quando ela desceu pela primeira vez a este mundo há muitas vidas, e o caminho que ainda precisa ser transposto.

Vendo ambos os lados da moeda, a pessoa entende o que fazer e como fazer da melhor forma. Os Cabalistas também conseguem perceber as forças agindo sobre eles a todo instante, tal como o porquê alguém deveria casar com certo indivíduo, ou porque as crianças de alguém são com elas são. Todos esses detalhes são pré-determinados. De fato, atualmente até mesmo a ciência reconhece que esta informação é determinada nos genes.

Existe uma famosa história sobre gêmeos que foram separados quando eram muito jovens e perderam contato um com o outro. Trinta anos depois eles se reuniram e descobriram que ambos tinham a mesma ocupação, suas esposas tinham o mesmo nome, eles tiveram filhos com os mesmos nomes, e até mesmo as casas em que viviam eram do mesmo número. As coisas se desenrolam dessa maneira por causa de nossa informação interna, que define tudo que acontecerá conosco e cada um dos estados que nós experimentaremos na vida.

A Cabala denomina essas predefinições internas que guiam a vida de uma pessoa, Reshimot. As Reshimot existem em cada pessoa, e cada estágio que ela vivencia tem a intenção de ensinar algo que estimulará a pessoa a avançar em direção à conquista do objetivo final.

Se nós conhecêssemos as forças que agem sobre nós e a nossa estrutura interior, nós poderíamos nos preparar para cada estágio futuro. Se nós soubéssemos como estar em equilíbrio com a lei geral da realidade, a realidade nos pareceria totalmente oposta à aparência atual.

A sabedoria da Cabala não tem o propósito de nos ensinar sobre a realidade de uma maneira simplesmente científica, de modo que nós possamos filosofar sobre os “habitantes” dos Mundos Superiores. Mais do que isso, ela nos ensina a controlar nosso destino a cada momento. Todas as forças e eventos que nos pressionam têm a intenção de nos ajudar a nos tornarmos líderes de nossa própria realidade. “Líderes da realidade” significa que nós estamos em equilíbrio com a realidade em cada momento da existência. Portanto, a nossa tarefa é descobrir o que significa “estar em um estado de equilíbrio”.

Controlando o Mundo Material

Os investigadores Cabalísticos da realidade descobriram que a realidade é composta pelo nosso mundo e os mundos superiores. O mais inferior de todos os mundos é o nosso mundo material; o resto são mundos espirituais. Nos mundos espirituais, não existe tal coisa como a matéria física na forma que existe no nosso mundo material. A substância dos mundos espirituais contém somente desejos, forças e pensamentos.

Nós pensamos que podemos controlar os problemas do nosso mundo, mas quando nós  ascendemos a um nível superior, nós imediatamente entendemos que o problema é só uma conseqüência. A matéria é operada pelas Forças Superiores, os Mundos Superiores. Como nós ainda não estamos nestes mundos, não estamos aptos a controlá-la.

Se nós quisermos mudar alguma coisa, nós precisamos ascender ao nível acima do nosso, onde as preparações são feitas antes de serem implantadas em nós. Somente neste nível nós adquirimos certo nível de entendimento e habilidade para mudar qualquer coisa. A vida seguidamente nos prova que não controlamos nada, e, na maioria dos casos, nós estamos na 3ª idade antes de percebermos que a vida simplesmente passou.

Apesar do progresso tecnológico, a humanidade está totalmente confusa em relação ao seu progresso. Nós estamos em um estado terrível porque estamos o mais longe possível do equilíbrio, e até que nós adquiramos o conhecimento e a força para mudarmos qualquer coisa em um nível mais elevado do que a matéria, nós não teremos um momento de descanso. Somente quando nós nos elevarmos ao nível e às forças que operam o nosso mundo é que alcançaremos o equilíbrio tão desejado.

 

Abrindo Nossos Olhos

Toda a realidade é um pensamento simples e imutável de doação e outorga. Os Cabalistas se referem a esse pensamento pelo nome de “O Pensamento da Criação”. Eles dizem que  sua essência é o desejo do Criador de fazer o bem às Suas criações. Se nós não nos relacionarmos de forma semelhante a esse abrangente pensamento da realidade, nós estaremos em desequilíbrio com ele, o qual nós experimentaremos como sofrimento.

Obviamente, nós não o sentimos. E mesmo que depois venhamos a senti-lo, nós acharemos difícil entendê-lo. Mas se nós percebêssemos que era assim que a realidade funciona, nós mudaríamos nossos hábitos.

Assim, o nosso único objetivo seria abrir os nossos olhos e ver que de fato é assim. A sabedoria da Cabala nos ajuda a perceber isso; quando o fizermos, nós certamente mudaremos.

Se eu percebesse que alguma coisa poderia melhorar a minha situação, eu a perseguiria de todas as maneiras possíveis. E se eu tivesse que dar alguma coisa para melhorar, eu a daria, desde que ela melhorasse meu estado de ser. Entretanto, a dificuldade primordial é abrir nossos olhos e perceber o que está atualmente oculto de nós.

Todos os nossos estágios evolutivos são pré-ordenados no pensamento da Criação, mas o caminho e a velocidade com que nós os atravessamos dependem inteiramente de nós. De fato, nós podemos andar por todo o caminho hoje, e nos equivalermos ao Pensamento da Criação.

A Credibilidade da Teoria Quântica

Do livro “Cabala, Ciência e o Sentido da Vida”

Qualquer teoria pode provar-se errada. Do mesmo modo, a teoria quântica é só uma teoria que pode resultar em um equívoco. Além disso, ainda hoje existem cientistas que a consideram errada e estão à procura de alternativas.

No mundo da ciência, é comum que uma teoria caia para outra subir em seu lugar. No entanto, existe uma sutil distinção a ser feita aqui. Deixe-me explicar, comparando a Teoria Newtoniana com a teoria da relatividade de Einstein. Primeiro, vamos supor que existe uma vara que se move no espaço. De acordo com Einstein, se nós fizermos a vara se mover extremamente rápido, ele começará a encolher. Segundo Newton, independentemente da velocidade, a vara permanecerá como está. Assim, nós temos duas teorias concorrentes.

Alguns dirão que a teoria de Newton é completamente falsa e que a de Einstein é correta. De fato, se olharmos para a questão superficialmente, esta será uma afirmação verdadeira. No entanto, o fato é que essa afirmação é falsa.

A maneira exata de se decidir entre as duas teorias é dizer que a teoria de Newton é um caso limite da teoria de Einstein. Isto significa que na maioria das circunstâncias habituais, as varas não podem se mover tão rápido quanto dura para nós vê-las encolher. Portanto, na maioria dos casos, a explicação de Newton é verdadeira.

No entanto, a percepção de Einstein está geralmente correta. Não apenas ela é verdadeira em relação às velocidades habituais, mas também seria verdadeira se nós acelerássemos a velocidade a uma velocidade tal que pudéssemos realmente ver a vara encolhendo.

Se a ciência descobre uma nova teoria que diga que a representação atual da realidade pela mecânica quântica seja um caso delimitador, então tudo aquilo que temos dito sobre a teoria quântica permanecerá verdadeiro. Se você afirma que ela é incorreta, então você terá que mostrar que ela é total e essencialmente falsa. Esta possibilidade sempre existe, teoricamente, mas a mecânica quântica tem provado até aqui como esta teoria científica é bem sucedida na história da ciência, passando por mais testes rigorosos do que qualquer outra teoria até hoje. Por isso, é altamente improvável que ela venha a ser, essencialmente, refutada.

*

Na sua origem, a ciência era baseada em uma visão religiosa, que percebia o mundo como uma entidade viva, onde diversas forças espirituais agiam, tais como fantasmas e demônios. Mais tarde veio a ciência mecânica moderna que determinou que a teoria anterior fosse uma falácia completa, e que o mundo poderia ser mais bem entendido utilizando-se os princípios mecânicos da física e  da química.

A Ciência mecânica determinou que não houvesse fantasmas ou demônios habitando e operando a matéria. Em vez disso, ela postulou que a matéria é operada por causa e efeito. As reações químicas não acontecem de acordo com os fantasmas da alquimia, mas de acordo com as reações químicas quantificáveis que podem ser mecanicamente controladas pela matemática.

 

Essa abordagem mecânica tornou possível o nosso enorme progresso na compreensão da matéria e seu modo de ação. Isso também conduziu a inúmeras inovações tecnológicas que nos beneficiaram por muitos anos. Como dissemos anteriormente, a medicina moderna é fundamentalmente baseada nessa visão de mundo mecânico.

Até a década de 1930, a crença predominante era de que a biologia era diferente de todas as outras ciências. Acreditava-se que, embora um organismo vivo fosse feito de produtos químicos, ele era, no entanto, operado por uma entidade viva que não era uma simples matéria.

No entanto, a evolução da biologia contemporânea só pôde ocorrer depois que se decidiu descartar a idéia da entidade viva. Os professores que insistiam no apoio ao velho conceito foram descartados de universidades. Assim, a moderna engenharia genética, a biologia molecular e a farmacologia progrediram através da abordagem mecanicista inanimada de reduzir biossistemas vivos a nada mais do que máquinas complexas.

Há um ponto muito interessante sobre a relação entre a física e as outras ciências. Todas as  ciências (química, biologia, zoologia, antropologia, sociologia e qualquer outra ciência) conceberam seus modelos de acordo com a percepção mecanicista da ciência real, a física. Na verdade, esse processo continua hoje.

Em muitas universidades por todo o mundo, várias ciências têm ainda que adaptar seus modelos aos modelos da física do século XIX. O problema é que a física já abandonou esses modelos. Mesmo a biologia molecular, que estuda o objeto mais minúsculo, ainda tem que recorrer ao caminho que a revolução quântica pavimentou.

Cerca de um ano atrás, eu dei um curso no Departamento de Bioquímica da Universidade de Toulouse, França. O chefe do departamento não tinha conhecimento do fato de que para compreender o processo evolutivo da proteína, a pessoa precisava levar em consideração os efeitos quânticos, e que é por isso que o mesmo não pode ser entendido em termos da mecânica clássica. Este é apenas um exemplo de como até mesmo ciências “fundamentais” como a bioquímica não internalizaram as implicações da mecânica quântica.

Mesmo em seu tribunal de origem, na física, a maioria dos físicos ainda não se deparou com as implicações da descoberta de que os acontecimentos se desenrolam no universo físico, sem serem completamente determinados por eventos anteriores no universo físico. Este conceito ainda é chocante para a percepção científica predominante em todo o mundo

Nós estamos no meio de uma revolução conceitual que progride lentamente. Cada vez mais, físicos, biofísicos e cientistas biomoleculares estão começando a entender o impacto da mecânica quântica. No entanto, apenas poucos reconheceram que a evolução incorpora efeitos quânticos no processo de concepção dos organismos. Quando estes cientistas começaram a enfrentar esta revolução conceitual, alguns deles compreenderam a implicação de longo alcance: que a visão mecanicista foi ultrapassada, e que algo tinha vindo para substituí-la.

Em nota pessoal, eu gostaria de dizer que mesmo quando era jovem, eu sentia que os mistérios do mundo físico escondiam um profundo mistério. Mesmo antes que eu soubesse do que se tratava a física quântica, eu acreditava que mergulhar em suas profundezas me levaria ao mundo espiritual. Além disso, eu sempre fui atraído intuitivamente pela Cabala. Sempre me deparei com ela na sua forma genuína, eu sentia que ela manifestava uma verdade inerente.

 

Teoria Quântica

Do livro “Cabala, Ciência e o Sentido da Vida”

Palestra do Dr. Jeffrey Satinover no Congresso Internacional de Cabala, Israel, abril de 2005

Esta palestra se concentrará em um campo que é considerado “ciência avançada”, mas que, em comparação com a Cabala, é na verdade bastante primitivo. Pense em uma pessoa que não sabe o que é uma noz e, de repente, vê uma casca de noz. Ela perde muito tempo estudando-a e por muitos anos assume que ela é um objeto completamente sem vida. Finalmente, após longos e extenuantes anos de pesquisa, ela examina os símbolos complexos na parte interna da casca e conclui que esta deve ser a casca de um objeto vivo, provavelmente contendo dentro dela um organismo vivo em desenvolvimento que não é a casca em si.

Assim como essa pessoa, a ciência moderna tem tido sucesso pesquisando o mundo físico por centenas de anos, assumindo que este mundo é toda a realidade. A premissa era de que o mundo físico era uma entidade sem vida, e que não havia nada além dele. A ciência concluiu recentemente que se nós examinássemos detalhadamente o mundo puramente físico, seríamos capazes de encontrar uma prova sutil de que o mundo físico é apenas uma casca que cobre uma entidade viva em seu interior.

Deixe-me tentar explicar a razão pela qual, especificamente, a teoria quântica moderna é um tipo de “ciência delimitador”. Há um amplo debate em torno da teoria quântica, por isso eu  apresentarei apenas o que eu penso que está correto. Eu também recomendo que vocês estudem este tema por conta própria para saberem o que os outros pesquisadores encontraram, e depois tirem suas próprias conclusões.

Eu gostaria de salientar que a mecânica quântica e a ciência moderna não falam nada sobre a Cabala ou a espiritualidade. No entanto, elas falam que o mundo físico não é o fim. Elas provaram que existe algo além, mas não conseguem dizer nada sobre sua natureza. Eu penso que é de suma importância definir este ponto com precisão.

Todo o nosso conhecimento, juntamente com o imenso poder da teoria quântica e suas deduções sobre o mundo físico, faz-nos deduzir duas coisas:

  1. Deve haver algo além do mundo físico.
  2. Nós não sabemos nada sobre esse “algo” e não conseguimos pesquisá-lo através da ciência.

Muitas vezes nós queremos que a ciência sirva de instrumento na pesquisa da espiritualidade. Mas os melhores cientistas já perceberam que isto é impossível. A ciência pode servir de instrumento intelectual, levando-nos a concluir que há outra coisa. Em termos Cabalísticos, ela pode ser um barco que nos leva a conhecer o ponto no coração. A matemática mais complexa da mecânica quântica pode ser uma ferramenta que nos permite reconhecer a existência do ponto no coração. Mas a ciência não pode ir além desse ponto.

Deixe-me tentar fazer uma introdução fácil e breve da teoria quântica. Eu não usarei a matemática sofisticada e apresentarei somente termos que vocês provavelmente já ouviram antes. Se estes termos não faziam sentido antes, eu quero felicitá-los, porque eles não deveriam fazer sentido.

Os antigos Cabalistas diziam que é impossível imaginar a verdadeira natureza da realidade. A mecânica quântica contemporânea chegou a uma conclusão muito parecida. É impossível usar quaisquer termos ou imagens para compreender corretamente a natureza da realidade física. Por exemplo, muitos de vocês devem estar cientes da famosa declaração de que quando você entende a matéria corretamente, você entende que ela é ao mesmo tempo uma onda e uma partícula. Esta é uma declaração muito moderna, e talvez vocês estejam imaginando algo sobre ela, ou estejam estabelecendo uma pequena equação mental.

Na verdade, entretanto, esta não é senão uma linha de símbolos totalmente sem sentido. Não há como torná-los lógicos.

Eu já declarei anteriormente que a teoria quântica permite-nos compreender os limites da ciência contemporânea e declara que há “algo” além do próprio mundo físico. Para explicar isso, eu descreverei mais tarde um fenômeno surpreendente, cuja pesquisa está atualmente sendo desenvolvida, chamada “computação quântica”.

Além disso, eu relatarei um experimento genial que foi descrito de forma conceitual pela primeira vez na década de 1960, por Richard Feynman (1918-1988), um dos maiores físicos do século XX  e prêmio Nobel em Física. Esta representação é, ainda hoje, a descrição mais concisa do mistério que rodeia a mecânica quântica. Mais tarde, este experimento foi executado com vários tipos de partículas. Eu oferecerei a minha explicação do porque que esta ciência demonstra o limite da Ciência, e porque ela aponta diretamente para a existência de “algo” além do mundo material objetivo.

Por gerações, a perspectiva fundametal da ciência era compatível com aquela de Einstein. A percepção de Einstein ainda prevalece entre muitos cientistas, afirmando que não há nada além do mundo físico. Considerando que o cérebro é construído exclusivamente de partículas físicas, qualquer evento específico, ou seja, a interação de uma partícula com outra, é definido totalmente pela localização das partículas e seus movimentos no momento anterior. A mesma perspectiva se aplica a todos os eventos no mundo físico, incluindo os eventos em nossos corpos, mentes, pensamentos, e interconexões.

Em outras palavras, todo o universo físico é um mecanismo mecânico sem vida, desdobrando-se inevitável e fatalmente. Qualquer percepção que nós achamos ser nossa, a nossa própria percepção de nós mesmos como seres humanos conscientes e sensíveis, com nossas próprias intenções, (tudo aquilo que fazemos agora e no resto da nossa vida humana) é apenas uma ilusão. Não há amor, ódio, paixão ou satisfação. Nós somos partículas sem vida dentro de composições complexas que se desenvolvem ao longo do tempo.

Todo o nosso progresso na medicina se baseia inteiramente nessa perspectiva e, graças a ela, teve êxito. Muitos de nós devemos nossas vidas a ela. Esta perspectiva é muito atraente e não pode ser facilmente descartada.

No entanto, este princípio ataca brutalmente não apenas a nossa percepção de nós mesmos, mas a nossa necessidade de atribuir propósito e significado à vida. No entanto, por mais irritante que seja, uma grande parte do mundo funciona justamente dessa maneira mecanicista.

Muitos filósofos contemporâneos reconheceram que, embora esta visão tenha proporcionado grandes benefícios, ela impôs uma alarmante aflição sobre nós devido à crença de que a vida é, no final das contas, sem sentido.

Por exemplo, os nazistas aplicaram rapidamente esta perspectiva em diversas áreas e tornaram-se muito eficientes tanto como assassinos quanto cientistas. Muitas vezes, a atitude da medicina moderna para com as pessoas é fria e cruel, principalmente por causa da eficiência da perspectiva de que a vida não tem sentido.

A ciência da computação é um tipo de destilação extrema da perspectiva mecânica até a matemática e a lógica das interações mecânicas. A base científica para a ciência da computação moderna é a idéia de que uma entidade física pode existir em vários estados simultaneamente. O computador é composto de componentes que são baseados em “bits”, e contém uma quantidade enorme deles. O “bit” é uma entidade física que pode existir em um dos dois estados.

A mecânica quântica moderna leva em conta um fenômeno com implicações de longo alcance. Ela sustenta que pode haver entidades físicas existindo em dois estados simultaneamente. Acreditem em mim por um só momento – tal coisa realmente existe. Isto significa que se um computador padrão pode estar em n estados, um computador quântico pode estar em 2n estados ao mesmo tempo.

Figura 8

No laboratório da Universidade de Yale, nós construímos um dispositivo que contém 400 componentes desse tipo. Isto pode parecer um número relativamente pequeno, mas esse dispositivo pode gerar uma memória de 2400 bits. Este é um número tão grande que nem sequer podemos nem mesmo percebê-lo. Portanto, nós estamos falando sobre a construção de computadores com poder tão fantástico que poderiam literalmente fazer magia.

Como surgiu a hipótese de que dois estados diferentes poderiam existir simultaneamente? Aqui devemos mencionar um experimento conduzido por Richard Feynman cerca de cinqüenta anos atrás. Supondo que exista um tanque cheio de água contendo um dispositivo que se move para cima e para baixo. Esta ação cria ondas de duas fontes diferentes, fazendo com que as ondas cruzem seus caminhos.

Finalmente, o caminho de cruzamento das ondas criará um padrão conhecido como “padrão de interferência” (Figura 8). Este padrão é uma coleção do caminho de passagem das ondas. É um fenômeno muito bem conhecido e nós podemos facilmente calcular onde serão estes pontos de passagem.

Agora, deixe-nos imaginar um experimento semelhante, mas com partículas em vez de ondulações. Imagine uma pistola disparando partículas semelhante a projéteis em uma tela. Se nós colocássemos uma divisão entre o projétil da pistola e a tela, com uma pequena fresta nela, e atirássemos em direção à tela, apenas um fino raio de partículas penetrará a tela através da fenda. Conseqüentemente, as partículas sempre aparecerão em certo ponto previsível (Figura 9).

Figura 9

Se nós mudássemos o experimento um pouco e fizéssemos dois cortes na divisão em vez de um, nós esperaríamos que as partículas alcançassem dois pontos distintos na tela, assim como nós tínhamos um ponto distinto na tela quando havia apenas uma fenda. No entanto, se nós construíssemos o experimento corretamente, em uma determinada relação entre o tamanho das partículas e o tamanho das fendas, o resultado seria bastante diferente: descobriríamos que as partículas surgiriam ao longo de toda a tela, e não apenas em dois pontos previsto.

Como resultado, as partículas surgiriam até mesmo em espaços ao longo de toda a tela e em ambos os sentidos, indefinidamente. A quantidade de partículas em cada ponto diferiria, sendo mais abundante no centro e diminuindo gradualmente à medida que nos afastássemos do centro. A proporção entre o número de partículas surgindo em cada ponto cria um padrão de onda (figura 10). Como resultado, pode-se dizer que as partículas quânticas são tanto ondas quanto partículas, simultaneamente.

Figure 10

Isso levanta a questão: “O que é uma onda?”. Para simplificar como isso funciona, eu explicarei primeiro com precisão limitada, e depois corrigirei a imprecisão. Uma onda é a divisão de probabilidades para encontrar uma partícula em um determinado ponto ao longo da tela. Na verdade, a partícula da pistola projeta uma “onda de probabilidades móvel”, a probabilidade de  que certa determinada partícula estará em um determinado local.

Agora, permitam que eu me corrija: quando nós medimos os números que descrevem a quantidade de partículas que surgiram em cada ponto da tela, nós obtemos um resultado matemático que não combina perfeitamente com uma onda de probabilidades móvel. Pelo contrário, ele é a raiz quadrada da probabilidade.

De fato, algumas raízes quadradas são negativas. A probabilidade de que algo aconteça no mundo real pode oscilar entre 0 e 1, mas não pode ser negativo. Em outras palavras, esta “coisa” que se expande no espaço não existe no mundo físico, mas ela ainda cria um impacto.

Mesmo se nós disparássemos uma partícula por semana, a probabilidade da distribuição permaneceria idêntica ao padrão de interferência das duas ondas que mencionamos acima. Na verdade, mesmo se disparássemos uma única partícula, desmontássemos o equipamento, o montássemos novamente anos mais tarde, e disparássemos outra partícula isolada, nós ainda teríamos exatamente o mesmo resultado (figura 11).

Figura 11

Este padrão de probabilidade é construído com precisão mecânica absoluta. Ele é tão surpreendente que parece estender-se além do tempo e do espaço. A estrutura desse fenômeno é predeterminada em um mecanismo perfeito, a sua matemática é conhecida com precisão total, e hoje este fenômeno nos auxilia na construção de surpreendentes e precisos dispositivos de computação.

Se nós disparássemos uma única partícula, seríamos capazes de prever com absoluta precisão matemática a probabilidade dessa partícula atingir um determinado ponto na tela. No entanto, a mecânica quântica diz, e este é o meu ponto principal, que nada no universo físico pode determinar exatamente onde essa partícula baterá.

Em outras palavras, quando você está olhando para milhões de partículas, algumas questões são determinadas com absoluta certeza matemática. No entanto, o local específico onde cada partícula pousará permanece indefinido por alguma coisa no universo físico.

Como resultado, alguns dos maiores físicos deduziram que há um elemento determinista no universo que opera exatamente como nós temos pensado. No entanto, há outro elemento operativo desconhecido delicadamente misturado na textura do universo que não interfere com o desdobramento da mecânica. É por isso que tudo parece mecânico aos olhos de quem não está observando de modo suficientemente aguçado.

No entanto, se observarmos com muito cuidado, veremos que qualquer desdobramento particular no universo é afetado por algo que não faz parte do universo. Além disso, já que a própria teoria requer um elemento que é essencialmente extra-universal, nós ficamos com um limite.

É por isso que alguns físicos proclamaram que a física quântica fosse uma ciência delimitadora, uma ciência que aponta para o limite que os seres humanos podem chegar ao pesquisar o universo físico. Em outras palavras, esses físicos afirmam que há algo além desse limite que a ciência nunca será capaz de identificar.

Entre Cabala e Ciência

Do livro “Cabala, Ciência e o Sentido da Vida”

Uma conversa entre o Dr. Jeffrey Satinover e Michael Laitman, PhD, Israel, Abril de 2005

O Conceito de Liberdade na Física Quântica

Rav Laitman: Quais são as perspectivas atuais da ciência em relação ao tema da liberdade de escolha?

Dr. Satinover: A ciência moderna como um todo, e eu estou usando o termo “como um todo” porque apresentarei em breve uma significativa correção dele, percebe a realidade como uma simples realidade material. Ela observa a realidade material como uma máquina integral e complexa. Eu demonstrarei este conceito usando o modelo do trem de brinquedo. Se nós  ativarmos o trem, ele vai andar nos trilhos e pessoas imaginárias darão um giro nele. Este modelo  é apenas uma máquina.

Você certamente dirá que no modelo do trem de brinquedo, cada uma das suas partes não tem liberdade de escolha. Da mesma forma, a maioria dos cientistas contemporâneos dirá a você que o universo físico é exatamente como o trem de brinquedo, e que a ação de cada parte do universo é determinada totalmente por eventos anteriores no universo. Eles ainda insistirão que não há outro modelo. A realidade é feita exclusivamente de um universo e um “trem de brinquedo” dentro dele; não há construtor ou engenheiro que projeta e constrói o trem de brinquedo.

Paralelamente a esta visão, há um ramo da ciência moderna chamado de “Mecânica Quântica”. Este ramo reconhece que a teoria que acabamos de apresentar está incorreta, e que existe de fato um elemento de liberdade total no universo físico, onde partículas de átomos não se comportam mecanicamente, mas “escolhem” como se comportar. Eu estou usando a palavra “escolher” entre aspas porque nossa linguagem é muito limitada para explicá-lo suficientemente. O verdadeiro problema é que a ciência não pode dizer nada sobre a natureza do que quer que faça essas  escolhas, pois elas surgem completamente aleatórias para nós.

Se a pessoa entende corretamente a teoria quântica, a mais avançada das ciências, ela pode perceber que existe uma possibilidade de livre arbítrio autêntico nos seres humanos. No entanto, a ciência moderna não pode explicar de forma clara como e onde é usado tal livre-arbítrio.

Rav Laitman: Parece que além da natureza simples e acessível, as partículas têm algum modo de “livre escolha”, mas como será que isso afeta os seres humanos? Isso não significa que nós tenhamos livre escolha no dia-a-dia. Talvez, em algum lugar, na profundidade da matéria, existam forças adicionais ou probabilidades que obedeçam a uma regularidade que não podemos conceber no determinismo usual.

Dr. Satinover: Correto. Estes discernimentos são sutis e complexos. As maiores mentes  da ciência vêm discutindo sobre eles nos últimos oitenta anos . Parece que os elétrons individuais podem “escolher livremente” trajetórias diversas, apesar de suas limitações. Os elétrons não podem fazer muito; eles não conseguem escrever livros, se casar, ou ir para a guerra. No entanto, dentro de suas limitações, parece que eles têm certo grau de liberdade.

Quando eu digo que “o elétron escolhe”, estou usando frases soltas. A verdade é que nós não sabemos realmente quem ou o que faz a escolha. O que nós sabemos é que o comportamento de cada partícula de matéria no universo é duplo: em parte, ela se comporta de acordo com leis fixas e, em parte, ela se comporta de forma irregular, afetada por algo que não faz parte do nosso universo conhecido.

Portanto, pode-se dizer que, por exemplo, a criação do nosso Universo também é dupla: em parte, resultado de processos físicos anteriores, e, em parte, criada por uma Força Superior. Mas a ciência não pode provar isso. Tudo que ela pode provar é que nós entendemos que as ações físicas não são determinadas exclusivamente pelas ações físicas que as precedem. Pelo contrário, nós entendemos que “algo mais” afeta a matéria, mas a ciência não pode nos dizer o que é esta coisa, nem, certamente, como investigar, confirmar, ou refutá-la.

Alguns poderão argumentar que é como se os elétrons tivessem pseudocérebros que tomassem essas decisões, mas eu não endosso essa teoria. Neste momento, você é livre para acreditar em qualquer coisa que você escolher.

Quando um objeto quântico se conecta com outro objeto quântico, ele desencadeia o processo de tomada de decisão, inflamado pela conexão entre eles. Este processo pode ser com um observador que está observando a partícula, mas o observador não é obrigatório.

O verdadeiro mistério não está na questão do observador externo, mas no fato de que parece haver certa liberdade transmitida dentro da matéria. Essa liberdade aponta para “algo” que está além do universo material, sem nos dizer nada sobre a natureza deste “algo”.

Rav Laitman: Eu não consigo entender porque nós não encontramos este mistério até agora. Quando nós pesquisamos o corpo humano e a psicologia humana, nós não encontramos quaisquer forças latentes que possam causar comportamentos inexplicáveis. É estranho que tenhamos de dividir átomos em partículas minúsculas para finalmente descobrir que não há nada neles exceto uma explosão de energia minúscula, onde finalmente percebemos que não sabemos para onde eles vão se mover num instante, ou mesmo se nós estamos diante de uma onda ou partícula. Não faria mais sentido encontrar primeiro essas forças ocultas em um nível muito mais elevado, que pertença à consciência humana? Por que os físicos, que estudam átomos sem vida, são aqueles que subitamente encontram uma vida oculta entre essas partículas?

Dr. Satinover: Eu acho que esta é uma das grandes ironias do século 20. Na Física Newtoniana

,os físicos descobriram um universo sem vida. A visão de que a matéria é inerte, e percebê-la como mera máquina, evoluiu como um desdobramento da investigação na física, química, e biologia. Finalmente, os físicos também criaram a percepção de que os seres humanos nada mais são que máquinas.

No dia-a-dia, intuitiva e emocionalmente, nós sentimos a nós mesmos como criaturas livres que fazem suas próprias escolhas. Além disso, os psicólogos se apóiam na premissa de que seus pacientes podem escolher livremente. Se eu pensasse em meus pacientes como máquinas, eu teria desistido de praticar a Psicologia.

No entanto, a premissa razoável e rigorosa do início do século XVII até o século XX, premissa  que todas as ciências confiam, é que todas as coisas são máquinas.

É verdade que a maioria das pessoas não se sente como uma máquina no dia-a-dia, daí a contradição entre a compreensão científica do mundo e a forma como as pessoas realmente levam suas vidas. A medicina moderna, a psiquiatria moderna, e todas as doutrinas que investigam a mente humana e o sistema nervoso não deixam espaço para a suposição de que as pessoas têm livre arbítrio.

Rav Laitman: O que você está dizendo insinua que os físicos também não queriam lidar com um sistema que não fosse mecânico. No entanto, a descobertas que surgiram dos experimentos nos forçou a reconhecer que existe outra força que anula os resultados deterministas que havíamos previsto.

Dr. Satinover: É realmente isso que aconteceu. Isso só se tornou evidente quando foram realizados experimentos rigorosos em mecânica quântica no nível subatômico. Os primeiros resultados deixaram os cientistas perplexos. Einstein, por exemplo, apoiou a opinião de que o mundo era uma máquina sem vida. Ele pensava que a mecânica quântica era impossível e até mesmo a definiu como “insana”. A possibilidade de que pudesse existir certa liberdade na matéria fez com que ele proclamasse sua bem conhecida afirmação: “Deus não joga dados com o universo.”

Embora Eistein usasse a palavra “Deus”, ele estava usando essa palavra com cinismo. O que ele quis dizer era que este nível da matéria, não pode haver qualquer liberdade, como demonstravam os experimentos. Ele percebeu que se a liberdade existisse neste nível da matéria, isso significaria o fim da ciência, razão pela qual ele disse que a ciência não pode ser construída sobre tais posturas.

Rav Laitman: Por que é isso deve significar o fim da ciência? A investigação científica não nos estimulou sempre a progredir e mudar nossas opiniões? Por que existem tantos cientistas dizendo que nós estamos nos aproximando do fim da ciência?

Dr. Satinover: Primeiro, Einstein estava errado quando pensou que este seria o  fim da ciência. Ele também estava errado quando pensou que a mecânica quântica é falsa. A mecânica quântica demonstrou que o conhecimento científico tem seus limites. Os cientistas da teoria quântica atingiram o limite da investigação e depois a abandonaram.

Eu acredito que o fato mais importante com respeito a sua opinião é que a teoria quântica deixa muito claro que existe um limite para a capacidade da ciência, e ao mesmo tempo destaca que há algo mais, do outro lado da fronteira. Eu tenho notado que muitas pessoas esquecem esse ponto, e acabam se confundindo entre a teoria quântica e a Cabala. A teoria quântica declara de forma inequívoca que a ciência pode alcançar esse limite e provar que ele existe, mas a teoria quântica também diz que a ciência não pode dizer nada sobre o que está além dessa fronteira. Não está nas mãos da ciência descobrir isso, e neste ponto ela admite suas limitações.

Rav Laitman: A nossa percepção da realidade resulta de nossa pesquisa da realidade. Ela é criada dentro de nós de acordo com os nossos sentidos e a nossa percepção. Muito provavelmente, se nós fossemos criados com tecnologias mentais e intelectuais que nos permitissem analisar de forma diferente aquilo que vemos, nós poderíamos atravessar essa fronteira. Em outras palavras, embora este possa ser o limite de nossas qualidades atuais, talvez esta limitação exista apenas em nosso estado atual. Seria possível que nós pudéssemos encontrar alguma maneira de mudar nossos atributos e atravessar essa fronteira?

Deixe-me colocar de forma diferente: é possível que tudo aquilo que nós desconhecemos sobre partículas quânticas decorre do fato de que estamos presos dentro de uma estrutura de tempo, espaço e movimento? Se nós nos livrássemos desta limitação, nós poderíamos ter visto todo o processo de forma diferente? Será que o desconhecido se torna conhecido se nós aperfeiçoarmos nossas qualidades?

Dr. Satinover: Nesta conversa, eu escolhi deixar de lado a minha visão pessoal do mundo, da espiritualidade e da Cabala, de propósito. Eu não sou um especialista em nenhum deles. Aqui, eu estou tentando servir como um emissário do mundo científico que continua reticente sobre o que a ciência pode ou não fazer.

É possível que os seres humanos tenham sido emanados como criaturas com potencial espiritual que lhes permite atravessar a fronteira. Como ser humano, eu desejo fazer exatamente isso, e acho que todas as pessoas se esforçarão para isso. Pode ser que a Cabala seja o método científico que torna isso possível.

No entanto, a ciência exata exige que sejamos vigilantes e reconheçamos seus limites. A ciência pode conduzir a humanidade à fronteira, mas não pode nos levar a atravessá-la. Em outras palavras, um cientista não pode usar a teoria quântica como método para atravessar a  fronteira, que o próprio método aponta.

Rav Laitman: Quanto ao argumento de que existem infinitas possibilidades à nossa volta, não significa que o cientista observador é quem escolhe entre elas?

Dr. Satinover: Nós não sabemos. A teoria quântica demonstra que certas partículas escolhem uma trajetória e outras escolhem outra; mas nós não podemos dizer de onde vem essa escolha. Nada pode ser dito sobre isso do ponto de vista científico; é um completo mistério.

O truque é reconhecer o mistério e não fingir que temos uma resposta quando não temos. Tal reconhecimento pode nos levar a perceber que existe algo “além” da realidade. Este reconhecimento não nos diz o que é isso, mas pode nos levar a querer saber sobre isso.

A Unidade Familiar

Dr. Satinover: Qual é a abordagem Cabalística das relações entre homens e mulheres no início do século XXI, e qual o prognóstico Cabalístico nessa área?

Rav Laitman: Do ponto de vista da Cabala, é importante que um homem e uma mulher estejam juntos, caminhando juntos no caminho da autocorreção, alcançando equivalência com a Força Superior. Ao fazer isso, eles se complementam tanto material como espiritualmente. Tanto o homem como a mulher tem algumas correções a fazer. Ao fazer sua correção pessoal e recíproca, eles chegarão à conexão correta, de tal forma que sua relação será semelhante à Força Superior.

A diferença entre o que ocorre no século XXI, comparado ao que ocorreu ao longo da história, é que hoje nós estamos envolvidos em uma crise global. Esta crise é evidente em cada nível das relações humanas, incluindo pessoal e familiar.

A causa está na intensificação do ego e do desejo de obter prazer. Hoje, o ego humano está em seu ápice; nós não podemos mais controlá-lo. Como resultado, nós estamos perdendo a capacidade  que tínhamos antes de lidar com nós mesmos e com nosso mundo.

Nós já não queremos pertencer a alguém ou a uma família. À medida que o ego se exalta, as pessoas não conseguem suportar estarem perto umas das outras. As relações familiares em geral, e as relações conjugais em particular, são as primeiros a serem prejudicados pela explosão do ego, pois nossos cônjuges são as pessoas mais próximas a nós.

No passado, a família estava a salvo das flutuações: era uma ilha de estabilidade. Quando havia problemas no mundo, nós saíamos de casa e lutávamos, mas queríamos voltar para casa. Quando tínhamos problemas com nossos vizinhos, podíamos mudar de local, mas a nossa família continuava uma unidade considerada um lugar seguro. Mesmo quando nós não desejávamos realmente uma família, nós mantínhamos a unidade familiar viva para cuidar de nossos filhos ou pais idosos.

Hoje, porém, o ego cresceu tanto que nada pode contê-lo. Nós continuamos tentando lidar com nossos egos e falhamos repetidamente. É verdade que em alguns lugares a situação ainda não é tão extrema. No entanto, isto irá mudar em breve, devido ao despertar do ego em todo o mundo.

A solução para este problema é nós começarmos a corrigir a nossa natureza: a correção dos nossos egos. Se nós não fizermos nada para corrigir nossos egos, mergulharemos no abuso de drogas ou no suicídio, ou experimentaremos a violência do terrorismo global. Nós certamente não vamos querer ter filhos ou construir famílias, uma tendência que já estamos vendo. Mesmo sem catástrofes ecológicas, cairemos no caos e na autodestruição. A nossa situação atual exige que nos perguntemos pra que estamos realmente vivendo, e se há saída para a nossa situação.

Este é o ponto onde chegamos à sabedoria da Cabala. Os Cabalistas escreveram que em épocas como a nossa, a Cabala surge para ajudar a corrigir nossa natureza. Assim, nós podemos usar a Cabala para nos elevar a um novo nível de existência eterna e completa.

 

Destino Pessoal e Destino Coletivo

Dr. Satinover: Qual é a explicação Cabalística sobre o destino pessoal e o destino coletivo? Eu entendo a importância da união entre as pessoas, mas será que a Cabala tem uma posição com respeito a cada indivíduo, apesar do destino dos outros?

Rav Laitman: A sabedoria da Cabala, especificamente, promove o crescimento pessoal. Nós podemos demonstrar isso através da abordagem Cabalística da educação; a Cabala afirma que a educação apropriada é obtida exclusivamente por meio do exemplo pessoal. É inútil tentar mandar nas pessoas.

A educação apropriada baseia-se na construção de um ambiente correto e eficaz, além de fornecer bons exemplos pessoais. As pessoas agirão de acordo com os exemplos que observam, e os utilizarão conforme o seu nível de desenvolvimento pessoal. Nós devemos tratar cada indivíduo de acordo com a sua força individual, visto que todo e qualquer indivíduo no mundo é único.

Todos nós somos partes de uma alma coletiva, e cada um de nós possui uma parte única do todo. Mesmo que uma parte da alma geral esteja ausente, a estrutura estará incompleta e  não atingiremos o propósito da Criação. Portanto, nós devemos cuidar da parte pessoal de toda e qualquer pessoa. Nós devemos permitir que todos evoluam de uma forma adequada para se desenvolverem.

A Cabala faz uma distinção entre uma vida social adequada e a evolução individual. Para manter a sociedade, todos devem certamente obedecer às regras que ela estabelece. Mas quando se trata do crescimento pessoal, a singularidade de cada pessoa deve ser preservada com fervor. A Cabala explica em detalhes como o crescimento pessoal e a adesão às regras da sociedade devem ser misturados, e especifica como se constrói uma sociedade que permita a todos os seus membros evoluir à sua própria maneira.

A Cabala opõe-se totalmente a qualquer coerção cultural ou educacional dos países Ocidentais em relação aos países do terceiro mundo. Isso é prejudicial a ambos. A coerção destrói a singularidade desses povos, porque não os deixa evoluir em seu próprio ritmo e de acordo com suas próprias regras e cultura. Esta situação cria uma verdadeira deformidade na humanidade e produz resultados deploráveis.

 

O Tzadik (Justo)

Dr. Satinover: Qual é a natureza e o papel do Tzadik (pessoa justa)?

Rav Laitman: O termo Tzadik refere-se à pessoa que está em um grau em que Matzdik (justifica) as ações da Força Superior. O Tzadik justifica tudo o que acontece na Criação, porque ele conseguiu sentir a totalidade da Criação, e não apenas a parte acessível aos nossos cinco sentidos. O justo percebe as leis que governam o reino mais além das fronteiras dos nossos cinco sentidos: as leis que afetam o nosso mundo, criam tudo dentro dele, governam o desenrolar de cada evento, e o conduzem ao fim desejado pelo Criador.

Assim, um Tzadik é, obviamente, um Cabalista, aquele que revela o Mundo Superior, o Mundo das Forças, o nível no qual são feitos os planos relativos a este mundo, e do qual elas descem para operá-lo.

A natureza do Tzadik corresponde ao nível que o Tzadik alcançou. A Cabala explica que tudo o que sentimos na realidade adere ao princípio da “equivalência de forma”, o “princípio da congruência”.

Em cada um dos nossos cinco sentidos, nós percebemos certos lapsos de realidade. Por exemplo, o nosso sentido da audição nos permite ouvir certa gama de freqüências, e os nossos olhos podem ver um intervalo finito de cores. Se nós tivéssemos sentidos adicionais, poderíamos perceber a realidade de forma diferente e, talvez, perceberíamos outras dimensões.

Na verdade, nós não podemos sequer imaginar como poderíamos perceber a realidade se tivéssemos outros sentidos. Acontece que os nossos cinco sentidos, com seus lapsos específicos criam limites que definem o nosso sentido de realidade. Nós não podemos ultrapassar esse limite.

No entanto, existe um método que permite a percepção para além desta imagem da realidade, incluindo as forças que governam nossa realidade, que chamamos de “Mundo Superior”. O modo como somos capazes de percebê-las é baseado no mesmo princípio que se aplica à nossa percepção da realidade, ou seja, a “equivalência de forma”. Em outras palavras, nós devemos nos igualar a essas forças.

A nossa tarefa é cultivar os atributos que habitam a Esfera Superior, a qual conduz o nosso mundo. No entanto, é impossível conhecer estes atributos antes de alcançá-los. Portanto, aqui nós somos assistidos pelos Cabalistas, aqueles que já estão “lá”, que nos ensinam como adquirir esses atributos. Eles explicam como a pessoa pode desenvolver um sentido interno e adicional, uma “alma”, através de atividades especiais. Usando esse sentido nós podemos perceber uma realidade adicional que estava previamente oculta; daí o epíteto da Cabala: “a sabedoria do oculto”.

Perceber essa realidade oculta nos leva a compreender as fórmulas com as quais ela age sobre nós, a meta para a qual está nos levando, e a maneira com que está executando essas fórmulas. O Cabalista está dentro dessa realidade e é parte integrante dela, uma parte que a justifica. Nesse estado, a pessoa é chamada de Tzadik, e esta é a natureza do Tzadik.

A justificação das ações do Criador engloba 125 níveis. A concordância total com as ações do Criador é alcançada no último nível. Cada pessoa deve alcançar esse nível final. Este processo de vida e morte, que repetidamente nos “recicla” neste mundo, é que nos permite subir ao nível da retidão absoluta, daquele que justifica totalmente o Criador.

 

Sofrimento Humano

Dr. Satinover: Eu acho que o assunto que as pessoas acham mais difícil de aceitar é o sofrimento humano. Por um lado, o sofrimento motiva as pessoas a buscar a espiritualidade. Por outro lado, é muito difícil aceitar o sofrimento. Como é que a Cabala se identifica com essa questão?

Rav Laitman: Certamente, esta é uma questão que confunde a todos. Por um lado, nós estamos falando de uma Força Superior benevolente, mas se ela é “Superior”, significa que é melhor do  que nós. No entanto, o nosso mundo está cheio de angústia e sofrimento. Será que a angústia e o sofrimento também vêm dessa Força? Existe mais de uma Força? Se for assim, elas estão em guerra uma com a outra?

Dr. Satinover: Eu me refiro não só à questão filosófica da natureza do sofrimento, mas também do aspecto prático.

Rav Laitman: A realidade é feita do nosso desejo de desfrutar e do prazer que motiva este desejo a agir. Estes são os dois únicos componentes em todos os níveis da realidade: o prazer e o desejo de receber prazer. Em termos Cabalísticos podemos denominá-los “a Luz e o Kli (vaso)”.

Quando o prazer está ausente, ele cria a sensação do desejo de desfrutar. Mas, às vezes, a falta de prazer é tão intensa que cria a sensação de sofrimento. Como tudo é composto por determinada medida e qualidade do desejo de receber prazer, tudo também sofre quando ele está ausente: minerais, plantas, animais, e pessoas.

Na verdade, o sofrimento é uma sensação necessária que impulsiona a criatura a abandonar o seu estado atual e avançar para o próximo. Sem sofrimento, não há movimento. Na verdade, o movimento significa que o meu estado atual é insatisfatório, de modo que eu decido que ficarei melhor em um estado diferente. O sofrimento nos permite realizar o esforço necessário para nos movermos em direção a uma situação que parece melhor. Assim, é impossível progredir sem sofrimento.

A Força Superior não tem outra maneira de nos elevar a estados melhores, exceto através do sofrimento. Se ela nos criou egoístas, com um desejo de nos satisfazermos no prazer, então a única maneira que ela pode nos levar de um estado para o outro é através da sensação de sofrimento.

No entanto, ainda é preciso explicar porque existe muito mais sofrimento hoje do que antes. O propósito da Criação é que a humanidade alcance o grau mais elevado da realidade.

A única forma de enfrentar esse objetivo é através de um imenso impulso para alcançá-lo, ou posto de modo diferente, a partir de grandes sofrimentos. Isso não se refere necessariamente ao sofrimento físico. Aparentemente, nós temos tudo hoje, mas sentimos que algo está faltando, e essa sensação de ausência é o nível mais elevado de sofrimento.

Para avançarmos, para sairmos das fronteiras deste mundo e começarmos a buscar algo maior, nós devemos sofrer. Nós devemos sentir o sofrimento no nível mais profundo, para que possamos, respectivamente, atingir o estado mais elevado. Esse estado sublime de ser que existe em comparação a este mundo é o mundo espiritual; portanto, o sofrimento também deve ser espiritual, e não físico.

No sofrimento espiritual, a pessoa não sofre por falta de realizações mundanas. Embora existam realizações mundanas, elas não fornecem uma sensação de subsistência, ou mesmo uma sensação de estar vivo. Aqueles que especificamente lamentam a falta de “sentirem-se vivos” terão a força para pedir alguma coisa além desta vida.

Por esta razão, nós não veremos uma humanidade satisfeita no futuro próximo. Pelo contrário, o sofrimento intensificará e assumirá uma forma mais espiritual. A sensação de falta de satisfação espiritual ofuscará qualquer abundância física. Não haverá nada gratificante e prazeroso para nós. A depressão se espalhará por todo o mundo e a sensação de angústia não nos deixará viver nossas vidas em paz.

O resultado dessa angústia será o aumento de conflitos, medos, surtos de diversos problemas psicológicos e psiquiátricos. Essas coisas acontecerão especificamente com a abundância de material de base, mostrando-nos que o que nos falta em nosso mundo não é o sustento material, mas a sensação de viver. É assim que a Cabala explica o processo que se avizinha.

O caminho para enfrentar este desafio é utilizar a Cabala para entender a fonte do sofrimento. Isso suavizará o sofrimento, uma vez que veremos que existe uma razão para ele. Isto nos permitirá começar a correção antes de mergulharmos na aflição. É por isso que estamos trabalhando duro para prevenir, ao invés de curar; e prevenção, significa permitir que a humanidade se dê conta da sabedoria da Cabala antes que ela caia em depressão profunda.

Talvez seja mais fácil encarar o conceito Cabalístico e o propósito do sofrimento se nós entendermos o seu ponto de vista sobre a morte em geral. Eis o que a Cabala diz sobre a morte: nós somos peças individuais de um Kli espiritual, chamado Adam ha Rishon (O Primeiro  Homem). A alma de Adam ha Rishon foi dividida em bilhões de almas que desceram a este mundo. Este mundo é constituído por uma série de corpos, cada um com sua própria alma. O objetivo é que cada pessoa volte à mesma raiz em Adam ha Rishon do qual ela desceu.

Quando nós chegamos pela primeira vez a este mundo, nossas almas são apenas um “ponto”. Se nós não construirmos um Kli espiritual a partir deste ponto, enquanto vivemos neste mundo, as nossas almas regressarão às suas raízes em Adam ha Rishon como sementes que não evoluíram, inconscientes e sem vida. Em outras palavras, nós não sentimos nossa própria existência até que nossas almas revistam um novo corpo neste mundo.

No entanto, se nós cultivarmos este ponto por meio da intenção altruísta, até que ele se torne um Kli espiritual, esse Kli permanecerá após a morte de nossos corpos físicos, já que começamos a sentir a Força Superior enquanto vivemos neste mundo. Essa conexão permanece, pois não faz parte do nosso corpo biológico.

O Kli espiritual percebe o que está fora de nós, independentemente das nossas percepções sensoriais naturais. Uma vez que estamos fora de nós, a vida e a morte física não afetam o modo como a alma percebe. Portanto, nós não sentimos a vida e a morte neste mundo tão intensamente, já que as sensações espirituais permanecem intactas. Mais precisamente, com o tempo nós devemos transcender essa alternância biológica entre a vida e a morte a ponto de não sermos afetados por ela, em absoluto.